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A CORRUPÇÃO EM NÚMEROS E A PERSEVERANÇA DE UM PAÍS MAIS TRANSPARENTE E ÉTICO JORGE MAIA 2017 JORGE MAIA DATA DE PUBLICAÇÃO 07/2017 A CORRUPÇÃO EM NÚMEROS E A PERSEVERANÇA DE UM PAÍS MAIS TRANSPARENTE E ÉTICO Por: Jorge Maia Muito se discute e se ouve dizer que o tema sobre corrupção - essencialmente aquela provinda do sistema político- empresarial - seja um fato recente. O senso comum equivoca-se, mas possui a sua compreensão. Em verdade o sistema corrupto cleptoplutocrata, ocorre desde os primórdios da colonização brasileira. De fato, é assustador, o que afirmo é que por todos os séculos nosso país fora governado por um sistema sujo, nefasto, corrupto. Cleptocracia, palavra de origem grega, significa governo de ladrões. Plutocracia, é o sistema governado pelas classes endinheiradas. O Brasil, em sua governança, sofre com o concurso de ambas: a dos ladrões (agentes públicos, políticos, também incluindo aqui a classe endinheirada) e a dos ricos (empresários, doleiros, banqueiros etc.). Somando temos a existência da cleptoplutocracia, que hoje, claramente, predomina no sistema político-empresarial brasileiro. A corrupção sempre foi presente e nunca deixará de existir. É equívoco pensar que em algum país do mundo não haja, ou que em algum tempo não tenha ocorrido. Sempre terá sua resistência, em qualquer tempo e em qualquer lugar, o que altera é a proporção em que isso ocorre em cada local sob os elevados números de instituições e de pessoas submetidas a esse crime. As estatísticas são claras neste sentido, os números são alarmantes. A organização criminosa que hoje a Lava Jato tenta combater, é a maior de todos os tempos no Brasil. Por hora, podemos compara-la com as organizações criminosas privadas, nesta temos como principal exemplo o Primeiro Comando da Capital (PCC) hoje considerado como a maior delas, possuindo um lucro entre 200 a 300 milhões por ano a partir de suas práticas; em contrapartida, a organização criminosa política-empresarial possui o dobro desse arrombo de dinheiro POR DIA. Estima-se um valor de 600 milhões diários - conforme pesquisa da Fiesp e da revista Exame. Em análise, são quantias próximas de 18 bilhões por mês, chegando a uma possível média de 200 bilhões ao ano. Duzentos bilhões, quantia anual que corresponde a uma porcentagem entre 4 a 5% do PIB (produto interno bruto) brasileiro. Exato, o que estamos querendo dizer é que, do montante do dinheiro público, a cada 20 anos, 1 ano do valor do PIB é jogado inteiramente para os bolsos desses sujeitos. Nesse contexto podemos obter uma visão - adianto que, de caráter repugnante - do que poderia ser investido com esses valores em alguns determinados setores. Por meio de dados do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU) e pelas pesquisas do ilustre procurador Deltan Dallagnol chega-se às seguintes conclusões: A) Saúde e Educação: estima-se que 67% dos desvios ocorreram nesta área. O acréscimo de 200 bilhões de reais no orçamento público, seria possível quase triplicar o investimento federal em qualquer dessas duas áreas essenciais. Em 1 ano, seria possível construir 55.700 escolas. Na saúde, se fosse investido, teríamos 7.272 novos hospitais por ano. B) Segurança Pública: poderíamos quadruplicar os investimentos federais, estaduais e municipais. Logo, teríamos um contingente 10 vezes maior de policiais na rua. C) Transporte e Infraestrutura: com os 200 bilhões daria para asfaltar 111 mil quilômetros de estradas. O valor investido no PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) poderia ser multiplicado por cinco - inclui-se aqui o programa Minha Casa, Minha Vida, o qual poderia passar a oferecer mais de 4 milhões de moradias populares anualmente. D) Ciência e tecnologia: O gasto federal nessas áreas seria 26 vezes maior e o programa Ciência sem fronteiras, 100 vezes maior. Num panorama social, 10 milhões de cidadãos sairiam da faixa da miséria (pobreza extrema). Em perspectiva liberal, poderia haver uma diminuição de toda a carga tributária em 10%. Como eu disse, repugnante! E quem mais sofre em sua maioria são os cidadãos mais pobres, mas de forma geral, todos são severamente lesados. Resultados de um dinheiro que poderia ser levado às merendas das crianças em escolas, ao bom funcionamento dos hospitais, às correções de salários de profissionais mal valorizados, mas que, em verdade infeliz, vão parar nos grandes paraísos fiscais. Obviamente, nada se generaliza, ainda há muita gente que trabalha em prol da população: senadores, deputados, ministros, professores, estudantes, pesquisadores, agentes do Poder Executivo, Judiciário e Legislativo. E mais importante, a luta do povo. Nada está perdido, muita gente ainda luta para o fim da roubalheira. Alguns por suas palavras, outros tomam ações e decisões, ambos tentados a dar fim a este sistema criminoso. Como maior exemplo temos a operação Lava Jato, esta formada por um grupo de jovens policiais, delegados (as), membros do Ministério Público, juízes (as), estagiários, agentes financeiros, entre outros. Mas por que só agora, nesses últimos anos, isso vem sendo fortemente combatido? A corrupção sistêmica sempre se ocultou ante as falcatruas dos barões-ladrões, leis foram favorecidas a eles e aos seus cúmplices, acordos foram feitos, agentes foram subornados, a justiça com seu sistema organizacional ineficaz para crimes de colarinho branco os prescrevem, enfim, um conjunto de fatores obscuros sobre a face do povo brasileiro lesados ante seus "escolhidos", empresários e servidores. Portanto, o Mensalão e a Lava Jato foram exceções, fugiram à regra da impunidade, deram uma nova cara ao sistema judiciário e aos métodos de investigação, um novo jeito mais efetivo de investigar e punir - claro que tudo deve ser dentro da lei, a todo momento e custo os agentes devem segui-la e respeita-la, ao contrário disso, não é agir legitimamente. Deltan Dallagnol - coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato - já dizia com excelência que "quem rouba milhões mata milhões". De fato, é um genocídio silencioso. Deltan ainda narra em sua obra - A Luta Contra a Corrupção - em um de seus casos que: "não se trata apenas de uma questão de funcionamento do serviço público, mas de proteger a sociedade contra desvios de dinheiro que causam morte, miséria, doença e analfabetismo. Enquanto um crime considerado bastante grave, o homicídio, ceifa uma vida cujo rosto é identificável, os crimes de colarinho branco ceifam milhares de vidas sem rosto" (página 29). Por muito tempo a sociedade brasileira foi enganada, e o sistema que está em vigência, aparentemente, foi feito para não funcionar contra os barões. Todavia, agora, com a operação Lava Jato e a luta do povo nas ruas e nas redes sociais, a transparência dos atos veio à tona. Não há como aceitar sua continuidade, cabendo a nós empenharmos cada vez mais nesse objetivo. Para tanto necessitamos, ao menos temporariamente, afastarmos de vez de nossas ideologias partidárias e combater unidos e contra todos que participam dessa barbárie. Como diz o professor Luiz Flávio Gomes, a lei é erga omnes (contra todos) e assim deve ser aplicada. Parte desse trabalho se dará pelos órgãos que estão sobre as investigações, e na outra pelo povo nas urnas. Acreditamos que seja necessário pelo menos 3/4 deles excluídos do sistema político, procurando novas lideranças comprometidascom o bem comum da sociedade, empenhados contra a corrupção e pela reconstrução de um país mais transparente e ético. Importante destacar que a luta não se limita somente nesses aspectos, muita coisa tem que ser feita ainda. Algumas ideias precisam ser providenciadas, ou, pelo menos, discutidas, como exemplos: o fim do foro privilegiado; a eliminação da indicação puramente política; o aumento do prazo prescricional; uma regulação constitucional para que crimes de corrupção e de caixa dois não sejam possíveis de concessão de anistia; promover a transparência - principalmente de partidos e fundações que recebem dinheiro público - barateamento das campanhas, com maior uso legítimo e controlado pela Justiça Federal, da Internet; fixação de um teto nos gastos da campanha; redução do parlamento; aposentadoria dos políticos de acordo com as regras gerais, entre outros. Muitos poderiam me julgar como ingênuo, mas acredito e persevero que toda a mudança é possível. Vejo em cada face do povo brasileiro mesmo descontente, desconfiado e indignado, um resquício de esperança de um país ético e bem sucedido. Poderia abranger mais o assunto, mas meu objetivo neste texto é ser o mais sucinto possível. Luiz Flávio Gomes, em seu livro o Jogo Sujo da Corrupção, e Deltan Dallagnol em sua obra A Luta Contra a Corrupção trazem a tona todos esses assuntos e muito mais, detalhados para maiores esclarecimentos. Para o feito dessa pequena resenha não há como negar que foram as principais referências. Como profere o exímio jurista Gomes, logo em epígrafe de seu livro, "pela implosão do sistema político-empresarial perverso. Em favor da Lava Jato, dentro da lei". É necessário a luta de todos, unidos, aplicando-se erga omnes.
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