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História e conceitos básicos 1 As origens da biologia do desenvolvimento ■ Um conjunto conceitual de ferramentas ■ A fi nalidade deste capítulo é fornecer uma estrutura conceitual para o estudo do desenvolvimen- to. Começamos com uma breve história do estudo do desenvolvimento embrionário, que ilustra como algumas das questões-chave na biologia do desenvolvimento foram formuladas ao princí- pio, e continuamos com alguns dos princípios essenciais do desenvolvimento. A grande questão é como uma única célula – o ovo* fecundado – origina um organismo multicelular, no qual a multi- plicidade dos diferentes tipos celulares são organizados em tecidos e órgãos para formar um corpo tridimensional. Essa questão pode ser estudada sob muitos pontos de vista diferentes, mas todos têm de se encaixar para obtenção de uma imagem completa do desenvolvimento: quais genes são expressos, quando e onde; como as células se comunicam entre si; como é determinado o destino do desenvolvimento de uma célula; como as células proliferam e se diferenciam em tipos celulares especializados e como as principais mudanças na forma do corpo são produzidas. Veremos que o desenvolvimento de um organismo é dirigido, em última análise, pela expressão regulada de seus genes, determinando quais proteínas estão presentes, em quais células e quando. Por sua vez, pro- teínas determinam amplamente como uma célula se comporta. Os genes fornecem um programa gerador para o desenvolvimento, não um projeto arquitetônico, na medida em que suas ações são traduzidas em resultados de desenvolvimento por meio do comportamento celular, na forma de sinalização intercelular, proliferação celular, diferenciação celular e movimento celular. O desenvolvimento de organismos multicelulares a partir de uma única célula – o ovo fecundado – é um triunfo brilhante da evolução. Durante o desenvolvimento embrioná- rio, o ovo divide-se para originar muitos milhões de células, que formam estruturas tão complexas e variadas como olhos, braços, coração e cérebro. Essa admirável realiza- ção suscita inúmeras questões. Como as células surgidas da divisão do ovo fecundado tornam-se diferentes entre si? Como elas se tornam organizadas em estruturas tais como membros e cérebros? O que controla o comportamento das células individuais de modo a surgirem padrões tão altamente organizados? Como os princípios organi- zadores do desenvolvimento estão embutidos no interior do ovo e, em particular, no material genético, o DNA? Muito do estimulante na biologia do desenvolvimento vem, hoje, da nossa crescente compreensão de como os genes dirigem esses processos do desenvolvimento, e o controle genético é um dos principais temas deste livro. Milhares de genes estão envolvidos no controle do desenvolvimento, mas focalizaremos somen- te aqueles que têm funções-chave e ilustram princípios gerais. O desenvolvimento de um embrião a partir de um ovo fecundado é conhecido como embriogênese. Uma das suas primeiras tarefas é estabelecer a totalidade do plano cor- poral de um organismo e veremos que organismos diferentes solucionam esse problema fundamental de vários modos. O foco deste livro é, principalmente, o desenvolvimento animal – aquele dos vertebrados, como rãs, aves, peixes e mamíferos, e de uma seleção * N. de T. O autor Wolpert usa o termo egg (ovo) em um sentido genérico, sem querer especifi car o momento intrínseco do estágio do futuro gameta. Optou-se pela tradução “ovo”, pois, quando se faz necessária uma especifi cação, o autor a faz, denominando-o “oócito” ou “óvulo”, conforme o seu estágio. 28 • LEWIS WOLPERT & COLABORADORES de invertebrados, como o ouriço-do-mar, ascídias e, sobretudo, a mosca-da-fruta, Droso- phila melanogaster (Fig. 1.1), e o verme nematódeo, Caenorhabditis elegans. É nestes dois últimos organismos que nossa compreensão do controle genético do desenvolvimento é a mais avançada, e as principais características de seus desenvolvimentos iniciais são consideradas nos Capítulos 2 e 5, respectivamente. No Capítulo 6, trataremos breve- mente de alguns aspectos do desenvolvimento de plantas, que difere, em alguns aspec- tos, daquele dos animais, embora envolva princípios similares. O desenvolvimento dos órgãos de um indivíduo, como o membro do vertebrado, o olho do inseto e o sistema nervoso, ilustra a organização multicelular e a diferenciação de tecidos em estágios embrionários mais avançados e consideramos alguns desses sistemas em detalhe nos Capítulos 8 a 10. Também tratamos do desenvolvimento das características sexuais (Capítulo 11). O estudo da biologia do desenvolvimento, porém, vai bem além do desenvolvimento do embrião. Necessitamos entender também como alguns animais podem regenerar órgãos perdidos (Fig. 1.2 e Capítulo 13) e como o crescimento pós-embrionário de um organismo é controlado, um processo que inclui metamorfose e envelhecimento (Capítulo 12). Considerando sob um ponto de vista mais abrangente, tratamos, no Capítulo 14, de como os mecanismos do desenvolvi- mento têm evoluído e como eles restringem o próprio processo de evolução. Pode-se perguntar se é necessário abranger diferentes organismos e sistemas de de- senvolvimento para entender as características desenvolvimentistas básicas. A resposta no momento presente é sim. Os biólogos do desenvolvimento acreditam, de fato, que existem princípios gerais do desenvolvimento que se aplicam a todos os animais, mas que a vida é tão admiravelmente diversa que não se pode encontrar todas as respostas em um único organismo. Assim, os biólogos do desenvolvimento tendem a focalizar seus esforços em um número relativamente pequeno de animais, escolhidos original- mente por serem convenientes para o estudo e acessíveis à manipulação experimental ou à análise genética. É por isso que alguns organismos, como a rã Xenopus laevis (Fig. 1.3), o nematódeo Caenorahbditis e a mosca-da-fruta Drosophila têm um lugar predomi- nante na biologia do desenvolvimento e são encontrados reiteradas vezes neste livro. De fato, é muito encorajador que tão poucos sistemas necessitem ser estudados para que se entenda o desenvolvimento animal. De um modo semelhante, a planta herbácea da família das Brassicaceae*, Arabidopsis thaliana, pode ser usada como uma planta-mo- delo para estudar as características básicas do desenvolvimento das plantas. Um dos mais excitantes e satisfatórios aspectos da biologia do desenvolvimento é que a compreensão de um processo do desenvolvimento em um organismo pode ajudar a elucidar processos similares em outros, como, por exemplo, em organismos muito parecidos com os seres humanos. Nada ilustra isso mais dramaticamente do que a infl uência que teve nossa compreensão do desenvolvimento de Drosophila e, em especial, da sua base genética, na biologia do desenvolvimento como um todo. Em particular, a identifi cação dos genes que controlam a embriogênese inicial em Droso- phila levou à descoberta de genes relacionados que são usados de modos similares no desenvolvimento de mamíferos e outros vertebrados. Tais descobertas encorajam-nos a acreditar na emergência de princípios gerais do desenvolvimento. A rã tem sido, há muitos anos, um dos organismos preferidos para o estudo do desenvolvimento, porque seus ovos são grandes e seus embriões são robustos, não apresentam problemas para crescer em um meio de cultura simples e são de utilização relativamente fácil em experimentação. A rã sul-africana Xenopus é o organismo-modelo para muitos aspectos do desenvol- vimento de vertebrados, e as principais características do seu desenvolvimento (Qua- dro 1A, pp. 30 e 31) servem para ilustrar alguns dos estágios básicos do desenvolvi- mento em todos os animais. O desenvolvimento inicial de Xenopus e outros modelos de vertebrados são discutidos nos Capítulos 3 e 4. * N. de R.T. Como não há uma tradução em português para o nome vulgarde Arabidobsis thaliana (em inglês, thale cress), ele foi aqui substituído pela descrição genérica da planta e citação da família à qual ela pertence. Figura 1.1 Micrografi a eletrônica de varre- dura da cabeça de um adulto de Drosophila melanogaster. Barra de escala = 0,1 mm. Fotografi a de D. Scharfe, da Science Photo Library. Figura 1.2 Fotografi a de um lagarto, o Eu- meces fasciatus*, depois de ter liberado a sua cauda como defesa. Esta espécie pode soltar a sua cauda como uma técnica para evitar a captura por predadores e depois regenerá-la. O pedaço de cauda descartado pode ser visto abaixo do lagarto. Fotografi a da Oxford Scientifi c Films. * N. de R.T. O nome científi co da espécie substitui aqui o seu nome vulgar em inglês (south eastern fi ve-lined skink), que consta no original. PRINCÍPIOS DE BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO • 29 No restante deste capítulo, primeiramente focalizaremos a história da embriologia – como foi chamado o estudo da biologia do desenvolvimento ao longo da maior parte da sua existência. O termo biologia do desenvolvimento é de origem mais recente. Introduziremos, em seguida, alguns conceitos-chave que são usados repetidamente no estudo e na compreensão do desenvolvimento. As origens da biologia do desenvolvimento Muitas questões em embriologia foram formuladas e, em alguns casos, milhares de anos atrás. Uma apreciação da história dessas idéias ajuda-nos a entender por que abordamos problemas do desenvolvimento da forma que o fazemos atualmente. 1.1 Aristóteles defi niu pela primeira vez o problema da epigenêse e da pré-formação Uma abordagem científi ca para explicar o desenvolvimento começou com Hipócrates, na Grécia, no século V a.C. Usando as idéias correntes daquele tempo, ele tratou de explicar o desenvolvimento em termos de princípios de calor, umidade e solidifi cação. Aproxima- damente um século mais tarde, o estudo de embriologia avançou quando o fi lósofo grego Aristóteles formulou a questão que iria dominar a maior parte do pensamento a respeito do desenvolvimento até o fi nal do século XIX. Aristóteles formulou o problema de como as diferentes partes do embrião eram formadas. Ele considerou duas possibilidades: uma foi a de que tudo no embrião estaria pré-formado desde o início e apenas tornava-se maior durante o desenvolvimento; a outra possibilidade era a de que novas estruturas surgiam progressivamente, em um processo que ele denominou epigênese (que quer di- zer “no curso da formação”) e que ele comparou metaforicamente à “confecção de uma rede”. Aristóteles inclinava-se pela epigênese, e sua conjetura estava correta. A infl uência aristotélica no pensamento europeu foi enorme, e suas idéias perma- neceram infl uentes até boa parte do século XVII. A visão contrária à epigênese, isto é, aquela de que o embrião estaria pré-formado desde o início, foi defendida novamente no fi nal do século XVII. Muitos não podiam crer que forças físicas ou químicas pode- riam moldar uma entidade viva como o embrião. Juntamente com a crença contempo- rânea subjacente da criação divina do mundo e de todos os seres vivos, estava a crença de que os embriões existiam desde o início do mundo e que o primeiro embrião da espécie deveria conter todos os embriões futuros. Mesmo o brilhante embriologista italiano do século XVII, Marcelo Malpighi, não pôde libertar-se das idéias do prefor- mismo. Ao mesmo tempo em que ele forneceu uma descrição extraordinariamente acurada do desenvolvimento do embrião de pinto, ele permaneceu convicto, contra as evidências de suas próprias observações, de que o embrião estava já presente desde o início (Fig. 1.4). Ele argumentava que, nos estágios mais iniciais, as partes eram tão pe- quenas que não podiam ser observadas, mesmo com o seu melhor microscópio. Outros preformistas acreditavam, ainda, que o espermatozóide continha o embrião, e alguns ainda reivindicavam ser possível ver um pequeno ser humano – um homúnculo – na cabeça de cada espermatozóide humano (Fig. 1.5). O assunto pré-formação/epigênese foi o tema de acalorados debates ao longo do século XVIII. O problema, porém, não pôde ser resolvido até o advento de um dos grandes avanços da biologia – o reconhecimento de que seres vivos, inclusive embri- ões, eram compostos por células. Figura 1.3 Fotografi a da rã sul-africana* Xenopus laevis. Barra de escala = 1 cm. Fotografi a cortesia de J. Smith. Figura 1.4 Descrição do embrião de galinha feita por Malpighi. A fi gura mostra desenhos de Malpighi, realizados em 1673, representando o embrião no estágio inicial (acima) e depois de dois dias de incubação (abaixo). Os seus desenhos ilustram acuradamente a forma e o suprimento de sangue do embrião. Reproduzido com permissão do presidente e do Conselho da Royal Society. * N. de R.T. No original, consta o nome vulgar em inglês desta espécie (South African claw-toed frog). 30 • LEWIS WOLPERT & COLABORADORES Quadro 1A Estágios básicos do desenvolvimento de Xenopus laevis Anterior Clivagem Fecundação Gastrulação NeurulaçãoOrganogênese Metamorfose Pólo animal Pólo vegetal Anterior Posterior Embrião em estágio de botão caudal (vista lateral) Embrião em estágio de botão caudal (vista dorsal com a superfície removida) Posterior Dorsal Dorsal Ventral Ventral Blástula Espermatozóide Ovo Gástrula (corte) (corte) (vista dorsal) (superfície removida para revelar a notocorda) Nêurula blastocele blastóporo futura notocorda mesoderme ectoderme futuro intestino endoderme notocorda pregas neurais Girino livre-nadador Adulto notocorda somitos medula espinal massa de vitelo cérebro Estágio 1 Estágio 2 Estágio 6 Estágio 8 Estágio 10 Estágio 13 Estágio 12 Estágio 15 Estágio 26 Estágio 45 Estágio 66 PRINCÍPIOS DE BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO • 31 1.2 A teoria celular mudou a concepção do desenvolvimento embrionário e da hereditariedade A teoria celular, desenvolvida entre 1820 e 1880 pelo botânico alemão Mathias Sch- leiden e pelo fi siologista Theodor Schwann (entre outros), foi um dos avanços mais elucidadores na biologia e teve um enorme impacto. Foi fi nalmente reconhecido que todos os organismos vivos são constituídos de células, que são as unidades básicas da vida e surgem somente por divisão de outras células. Organismos multicelulares, como animais e plantas, podiam agora ser vistos como comunidades de células. O desenvol- vimento não podia, assim, ser baseado na pré-formação, devendo ser, portanto, epige- nético, pois, durante o desenvolvimento, muitas células novas são geradas por divisão do ovo e novos tipos celulares são formados. Uma etapa crucial na compreensão do desenvolvimento foi o reconhecimento, na década de 1840, de que o próprio ovo não é nada mais que uma única célula, embora especializada. Um importante avanço foi a sugestão do biólogo alemão do século XIX August Weismann de que os descendentes não herdam as características provenientes do cor- po (o soma) dos pais, mas somente as provenientes das células germinativas – ovo e espermatozóide – e de que as células germinativas não são infl uenciadas pelo corpo Quadro 1A Estágios básicos do desenvolvimento de Xenopus laevis (continuação) Embora o desenvolvimento dos vertebrados seja muito variado, exis- tem alguns estágios básicos que podem ser ilustrados seguindo o de- senvolvimento da rã Xenopus laevis, que é um dos organismos favo- ritos para a embriologia experimental. O ovo não-fecundado é uma célula grande. Sua superfície superior é pigmentada (pólo animal) e a região inferior (pólo vegetal) é caracterizada por um acúmulo de grânulos de vitelo. Assim, mesmo no início, o ovo não é uniforme; no desenvolvimento subseqüente, as células da metade animal tornam- sea extremidade anterior (cabeça) do embrião. Após a fecundação do ovo pelo espermatozóide e a fusão dos núcleos masculino e feminino, começa a clivagem. Clivagens são di- visões mitóticas nas quais as células não crescem entre cada divisão, de modo que, com sucessivas clivagens, as células tornam-se meno- res. Depois de aproximadamente 12 ciclos de divisões, o embrião, conhecido agora como blástula, consiste em muitas células peque- nas rodeando uma cavidade cheia de líquido (blastocele) acima das células maiores vitelínicas. Nesse momento, mudanças já ocorreram dentro das células, e elas interagem entre si, de modo que alguns dos futuros tipos tissulares – os folhetos germinativos – tornaram-se parcialmente especifi cados. O mesoderme, por exemplo, que origina músculos, cartilagens, ossos e outros órgãos internos, como coração, sangue e rins, está presente na blástula como uma banda equatorial. Adjacente a ele está o futuro endoderme, que origina o intestino, os pulmões e o fígado. A região animal origina o ectoderme, que forma tanto a epiderme como o sistema nervoso. Os futuros endoderme e mesoderme, que estão destinados a formar órgãos internos, estão ainda na superfície do embrião. Durante o próximo estágio – gastru- lação – existe um rearranjo dramático das células; o endoderme e o mesoderme movem-se para o interior, e o plano básico do corpo do girino é estabelecido. Internamente, o mesoderme origina uma estrutura em forma de cilindro (notocorda) que se estende da cabeça para a cauda e situa-se centralmente sob o futuro sistema nervoso. Em ambos os lados da notocorda estão blocos segmentados de me- soderme chamados somitos, os quais originarão os músculos e a co- luna vertebral, assim como a derme da pele. Logo depois da gastrula- ção, o ectoderme acima da notocorda dobra-se para formar um tubo (tubo neural) que origina o cérebro e a medula espinal – um processo conhecido como neurulação. A essa altura, outros órgãos, tais como membros, olhos e guelras, são especifi cados nas suas futuras localiza- ções, mas somente irão desenvolver-se um pouco mais tarde, duran- te a organogênese. Durante a organogênese, células especializadas, como as de músculos, cartilagens e neurônios, se diferenciam. No espaço de 48 horas, o embrião tornou-se um girino que se alimenta, com características típicas de vertebrados. Devido ao fato de que o tempo para atingir cada estágio pode variar de acordo com as con- dições ambientais, os estágios de desenvolvimento no Xenopus e de outros embriões são freqüentemente indicados por números de es- tágio, em vez de por horas de desenvolvimento. Figura 1.5 Alguns preformistas acreditavam que um homúnculo estava enrolado na cabeça de cada espermatozóide. Um desenho imaginado de acordo com Nicholas Hartsoeker (1694). 32 • LEWIS WOLPERT & COLABORADORES que as carrega. Assim, Weismann traçou uma distinção fundamental entre células ger- minativas e células corporais ou células somáticas (Fig. 1.6). Características adquiridas pelo corpo durante a vida de um animal não podem ser transmitidas à linhagem ger- minativa. No que diz respeito à hereditariedade, o corpo é simplesmente um veículo das células germinativas. Como expressou o novelista e ensaísta inglês Samuel Butler: “uma galinha é apenas o modo de um ovo fazer um outro ovo”. Trabalhos com ovos de ouriço-do-mar mostraram que, após a fecundação, o ovo contém dois núcleos, que acabam por se fusionar; um desses núcleos pertence ao ovo, enquanto o outro provém do espermatozóide. A fecundação, portanto, resulta em um ovo carregando um núcleo com contribuições de ambos os pais. Foi concluído que o núcleo da célula deve conter as bases físicas da hereditariedade. O clímax dessa linha de pesquisa foi a demonstração defi nitiva, no fi nal do século XIX, de que os cromos- somos dentro do núcleo do ovo fecundado – zigoto – provêm em igual número dos dois núcleos parentais e o reconhecimento de que isso fornecia uma base física para a transmissão dos caracteres genéticos de acordo com as leis desenvolvidas pelo botâni- co e monge austríaco Gregor Mendel. Foi descoberto que a constância do número cro- mossômico de geração à geração nas células somáticas é mantida devido a uma divisão reducional (meiose), que reduz à metade o número de cromossomos nas células ger- minativas, enquanto células somáticas dividem-se pelo processo de mitose, que man- tém o número cromossômico. Os precursores das células germinativas possuem duas cópias de cada cromossomo, uma materna e outra paterna, e são chamados diplóides. Esse número é diminuído à metade pela meiose durante a formação dos gametas, de modo que cada célula germinativa contém somente uma cópia de cada cromossomo e é chamada haplóide. O número diplóide é restabelecido na fecundação. 1.3 Dois tipos de desenvolvimento foram originalmente propostos Uma vez que foi reconhecido que as células do embrião surgiam por divisão celular a partir do zigoto, surgiu a questão de como as células se tornavam diferentes umas das outras. Com a crescente ênfase na função do núcleo na década de 1880, Weismann lançou um modelo de desenvolvimento no qual o núcleo do zigoto continha uma certa quantidade de fatores especiais ou determinantes (Fig. 1.7). Ele propôs que, enquanto o ovo fecundado sofria rápidos ciclos de divisão celular, conhecidos como clivagens, esses determinantes seriam distribuídos desigualmente para as células-fi lhas e, assim, controlariam o futuro desenvolvimento celular. O destino de cada célula estava, assim, predeterminado no ovo por fatores que ele receberia durante as clivagens. Esse tipo de modelo foi denominado “em mosaico” já que o ovo poderia ser considerado um Figura 1.6 A distinção entre células germi- nativas e células somáticas. A cada geração, células germinativas dão origem tanto a célu- las somáticas quanto a células germinativas, mas a herança depende apenas das células germinativas. Mudanças que ocorrem devido a mutações em células somáticas podem ser passadas para as suas células-fi lhas, mas não afetam a linhagem germinativa. Primeira geração Terceira geraçãoSegunda geração células germinativas células germinativas células germinativas zigoto zigoto zigoto cé lu las so m át ica s cé lu las so m át ica s cé lu las so m át ica s Mutações em células somáticas não afetam a linhagem germinativa Mutações em células germinativas afetam a linhagem germinativa PRINCÍPIOS DE BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO • 33 mosaico de diferentes determinantes localizados. Central para a teoria de Weismann era a suposição de que as divisões celulares iniciais deveriam produzir células-fi lhas inteiramente diferentes entre si, como resultado da distribuição desigual dos compo- nentes nucleares. Ao fi nal da década de 1880, uma sustentação inicial para as idéias de Weismann veio de experimentos realizados independentemente pelo embriologista alemão Wilhelm Roux, que trabalhou com embriões de rã. Após ter permitido a primei- ra clivagem de um ovo de rã fecundado, Roux destruiu uma das duas células com uma agulha incandescente e descobriu que a célula remanescente desenvolveu-se como uma metade de larva bem-formada (Fig. 1.8). Ele concluiu que o “desenvolvimento da rã é baseado em um mecanismo em mosaico, tendo as células seu caráter e destino determinados a cada clivagem”. Mas quando Hans Driesch, um compatriota de Roux, repetiu o experimento com ovos de ouriço-do-mar, foi obtido um resultado completamente diferente (Fig. 1.9). Ele escreveu mais tarde: “Mas as coisas aconteceram como elas tinham de acontecer, e não como eu esperava; havia tipicamente uma gastrulação completa na minha placa na manhã seguinte, diferenciando-se somente no tamanho de uma outra gástrula normal; essa gástrula pequena mas completa desenvolveu-se em umalarva completa e típica”. Driesch separou completamente as células no estágio de duas células e obteve uma larva normal, apesar de pequena. Isso foi exatamente o oposto do resultado de Roux e foi a primeira demonstração clara do processo do desenvolvimento conhecido como regulação. A regulação é a capacidade do embrião de desenvolver-se normalmen- te, mesmo quando algumas porções são removidas ou rearranjadas. Veremos muitos exemplos de regulação ao longo deste livro (uma explanação do experimento de Roux e por que ele conseguiu este resultado é também dada mais tarde, na Seção 3.7). 1.4 A descoberta da indução mostrou que um grupo de células podia determinar o desenvolvimento de células vizinhas Embora o conceito de regulação implicasse que as células devem interagir entre si, a importância central das interações celulares no desenvolvimento embrionário não foi realmente estabelecida até a descoberta do fenômeno da indução, no qual uma célula ou tecido orienta o desenvolvimento de outra célula ou tecido vizinho. A importância da indução e de outras interações célula-célula no desenvolvimen- to foi comprovada dramaticamente em 1924, quando Hans Spemann e sua assistente Hilde Mangold realizaram um experimento famoso de transplante em embriões de anfíbio. Eles demonstraram que um segundo embrião parcial podia ser induzido pelo transplante de uma pequena região de um embrião inicial de um tritão para outro no mesmo estágio (Fig. 1.10). O tecido transplantado foi retirado do lábio dorsal do blas- tóporo – a invaginação semelhante a uma fenda que se forma onde começa a gastrula- ção, sobre a superfície dorsal do embrião do anfíbio (ver Quadro 1A, p. 30 e 31). Essa pequena região foi denominada por eles de organizador, uma vez que ela parecia ser, Determinantes nucleares de Weissmann 1a clivagem 2a clivagem Figura 1.7 Teoria da determinação nuclear de Weissmann. Weissmann assumiu que havia fatores no núcleo que eram distribuídos assimetricamente para as células-fi lhas duran- te a clivagem e que dirigiam o futuro desen- volvimento delas. 34 • LEWIS WOLPERT & COLABORADORES em última análise, a responsável pelo controle da organização de um corpo embrioná- rio completo, sendo conhecida comumente como organizador de Spemann-Mangold ou simplesmente como organizador de Spemann. Pela sua descoberta, Spemann recebeu o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1935; um dos apenas dois únicos concedi- dos a pesquisas embriológicas. Infelizmente, Hilde Mangold havia falecido pouco antes em um acidente, de modo que não pôde ser distinguida. 1.5 O estudo do desenvolvimento foi estimulado pela união da genética com a biologia do desenvolvimento Durante grande parte do início do século XX havia pouca conexão entre embriologia e genética. Quando as leis de Mendel foram redescobertas, em 1900, houve um grande surto de interesse nos mecanismos de herança, particularmente no que se referia à evolução, mas bastante menor em relação ao desenvolvimento. A genética era vista como o estudo da transmissão dos elementos hereditários de geração para geração, enquanto a embriologia era o estudo de como um organismo individual se desenvolve e, em particular, como as células no embrião inicial se tornam diferentes umas das ou- tras. A genética parecia ser, nesse aspecto, irrelevante para o desenvolvimento. meio embrião tubo neural restos da célula morta Ovo de rã fecundado Estágio de duas células Estágio de nêurulaEstágio de blástula (corte) agulha incandescente blastocele Figura 1.8 Experimento de Roux para investigar a teoria do desenvolvimento em mosaico de Weissmann. Depois da primeira clivagem de um embrião de rã, uma das duas células é morta por perfuração com uma agulha incandescente; a outra célula não é da- nifi cada. No estágio de blástula, pode ser ob- servado que a célula não-danifi cada dividiu-se normalmente, gerando muitas células que preenchem metade do embrião. O desenvol- vimento da blastocele também está restrito à metade não-danifi cada. Na metade danifi cada do embrião, aparentemente nenhuma célula foi formada. No estágio de nêurula, a célula não-danifi cada desenvolveu-se em alguma coisa que lembra a metade de um embrião normal. Figura 1.9 O resultado do experimento de Driesch com embriões de ouriço-do-mar, primeiro a demonstrar o fenômeno de regu- lação. Depois da separação das células no es- tágio de duas células, a célula restante se de- senvolve em uma larva normal, pequena mas completa. Isso contraria o resultado obtido anteriormente por Roux, que havia observado que se uma das células de um embrião de duas células era danifi cada, a célula restante se desenvolvia apenas em meio-embrião (ver Fig. 1.8). Desenvolvimento normal de uma larva de ouriço-do-mar a partir do estágio de duas células A separação das células feita por Driesch no estágio de duas células resultou na morte de uma delas. A célula sobrevivente desenvolveu-se em uma larva pequena, mas normal nos demais aspectos uma das células separadas geralmente morria PRINCÍPIOS DE BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO • 35 Um importante conceito que fi nalmente ajudou a ligar a genética e a embriologia foi a distinção entre genótipo e fenótipo. Essa distinção foi lançada pelo botânico di- namarquês Wilhelm Johannsen, em 1909. A dotação genética de um organismo – a in- formação genética que ele adquire de seus pais – é o genótipo. A sua aparência visível, a sua estrutura interna e a sua bioquímica, em qualquer estágio do desenvolvimento, constituem o fenótipo. Enquanto o genótipo certamente controla o desenvolvimento, fatores ambientais, interagindo com o genótipo, infl uenciam o fenótipo. Apesar de terem os mesmos genótipos, gêmeos idênticos podem desenvolver diferenças conside- ráveis nos seus fenótipos à medida que crescem (Fig. 1.11) e essas diferenças tendem a tornar-se mais evidentes com a idade. O problema do desenvolvimento podia agora ser colocado em termos de relação entre genótipo e fenótipo; como a dotação genética se torna “traduzida” ou “expressa” durante o desenvolvimento para dar origem a um organismo funcional. A união da genética e da embriologia foi um processo lento e tortuoso. Pouco pro- gresso foi feito até que a natureza e função dos genes fossem muito melhor compreen- didas. A descoberta, na década de 1940, de que os genes codifi cam proteínas foi um dos principais pontos de mudança. Como já estava claro que as propriedades de uma célula são determinadas pelas proteínas que ela contém, a função fundamental dos genes no desenvolvimento podia, fi nalmente, ser apreciada. Controlando quais proteí- nas eram feitas na célula, os genes poderiam controlar as mudanças nas propriedades e comportamento celulares que ocorrem durante o desenvolvimento. Um importante avanço adicional, ocorrido na década de 1960, foi compreender que alguns genes codi- fi cam proteínas que controlam a atividade de outros genes. 1.6 O desenvolvimento é estudado principalmente por meio de uma seleção de organismos-modelo Embora o desenvolvimento de uma ampla variedade de espécies tenha sido estudado em um ou outro momento, é um número relativamente pequeno de organismos que fornece a maior parte de nosso conhecimento no que se refere aos mecanismos do desenvolvimento. Podemos então considerá-los como modelos para a compreensão dos processos envolvidos, e eles são freqüentemente chamados de organismos-mo- delo. Ouriços-do-mar e anfíbios foram os principais animais usados para as primeiras investigações experimentais no início do século XX, porque seus embriões em desen- volvimento são fáceis de serem obtidos e, no caso da rã, sufi cientemente grandes e robustos para uma manipulação experimental relativamente fácil, mesmo em estágios bastante tardios. Entre os vertebrados, a rã X. laevis, o camundongo (Mus musculus),a galinha (Gallus gallus) e o zebrafi sh* (Danio rerio) são os principais organismos-modelo atualmente estudados. Entre os invertebrados, a mosca-da-fruta, D. melanogaster, e o verme nematódeo C. elegans têm sido o foco de maior interesse, já que se conhece muito a respeito de genética do desenvolvimento de ambos e eles também podem ser modifi cados geneticamente com facilidade. Com o advento dos métodos modernos de * N. de R.T. No Brasil, o peixe Danio rerio, mais conhecido como zebrafi sh (em inglês), é vulgarmente chamado de paulistinha. X Y Estruturas primárias Estruturas secundárias (induzidas) tubo neural notocorda embrião secundário (induzido) tubo neural notocorda gástrula de Triton cristatus gástrula de Triton taeniatus blastocele lábio dorsal do blastóporo Lábio dorsal do blastóporo de uma espécie não-pigmentada de tritão enxertada no teto da blastocele de uma espécie pigmentada Um embrião secundário é induzido Figura 1.10 A demonstração dramática, feita por Spemann e Mangold, da indução de um novo eixo corporal principal pela região do organizador no início do estágio de gástrula de anfí- bio. Um pedaço de tecido (em amarelo) do lábio dorsal do blastóporo da gástrula de um tritão (Tri- ton cristatus) é enxertado no lado oposto da gástrula de uma outra espécie, pigmentada, de tritão (Triton taeniatus, em laranja). O tecido enxertado induz um novo eixo corporal contendo tubo neural e somitos. O tecido não-pigmentado do enxerto forma uma notocorda no seu novo sítio (ver seção no painel inferior), mas o tubo neural e as outras estruturas do novo eixo foram induzidas a partir do tecido pigmentado do receptor. A região do organizador descoberta por Spemann e Mangold é conhecida como organizador de Spemann. Figura 1.11 A diferença entre genótipo e fenótipo. Esses gêmeos idênticos têm o mesmo genótipo porque um ovo fecundado dividiu-se em dois durante o desenvolvimen- to. As leves diferenças na aparência dos dois são devidas a fatores não-genéticos, como as infl uências ambientais. Fotografi a cortesia de José e Jaime Pascual. 36 • LEWIS WOLPERT & COLABORADORES análise genética, ocorreu também o ressurgimento do interesse pelo ouriço-do-mar Strongylocentrotus purpuratus. Para a biologia do desenvolvimento de plantas, a brassi- cácea A. thaliana serve como principal organismo-modelo. Os ciclos de vida e detalhes subjacentes a esses organismos-modelo são fornecidos em capítulos relevantes, mais adiante no livro. As razões para essas escolhas são parcialmente históricas – uma vez que uma certa quantidade de pesquisa é feita em um animal, passa a ser mais efi ciente continuar a estudá-lo do que iniciar o estudo de outra espécie – e, parcialmente, uma questão de facilidade de estudo e interesse biológico. Cada espécie tem suas vantagens e des- vantagens como modelo de desenvolvimento. O embrião de pinto, por exemplo, vem sendo há muito tempo estudado como um exemplo de desenvolvimento de vertebra- dos, porque ovos embrionados são de fácil obtenção, o embrião suporta manipulação microcirúrgica experimental muito bem e pode ser cultivado fora do ovo. A desvanta- gem, porém, era a de que pouco se sabia a respeito da genética do desenvolvimento do pinto. Porém, conhece-se muito a respeito da genética do camundongo, embora o camundongo seja mais difícil de ser estudado em alguns aspectos, pelo fato de seu de- senvolvimento dar-se totalmente no interior da mãe. Muitas mutações no desenvolvi- mento têm sido identifi cadas no camundongo, e ele é também passível de modifi cação genética mediante técnicas de transgenia. É também o melhor modelo experimental disponível para o estudo do desenvolvimento dos mamíferos, incluindo seres huma- nos. O zebrafi sh é um acréscimo mais recente à seleta lista dos sistemas-modelo de vertebrados; esse peixe é fácil de ser criado em grande número, os embriões são trans- parentes, de modo a permitir que as divisões celulares e movimentos tissulares sejam seguidos visualmente, e tem grande potencialidade para pesquisas genéticas. O objetivo principal da biologia do desenvolvimento é entender como os genes controlam o desenvolvimento embrionário, e, para que isso seja feito, deve-se primei- ro identifi car aqueles genes criticamente envolvidos no controle do desenvolvimento. As vias de acesso a essa meta são múltiplas, dependendo do organismo envolvido, mas o ponto de partida geral é a identifi cação das mutações que alteram o desenvolvimen- to de um modo específi co e informativo, como descrito na próxima seção. As técnicas para identifi cação de genes que controlam o desenvolvimento e a detectação e mani- pulação da sua expressão no organismo são descritas ao longo do livro, juntamente com as técnicas para manipulação genética. Alguns dos nossos organismos-modelo são mais apropriados para a análise gené- tica convencional do que outros. Apesar da sua importância na biologia do desenvolvi- mento, pouca genética convencional se tem feito em X. laevis, que tem a desvantagem de ter um genoma tetraplóide (um genoma com quatro conjuntos de cromossomos em células somáticas) e um período relativamente longo de reprodução, levando de 1 a 2 anos para atingir a maturidade sexual. Etretanto, usando a genética moderna e méto- dos bioinformáticos, muitos genes do desenvolvimento foram identifi cados no X. laevis por comparação direta de seqüências de DNA com genes conhecidos de organismos como Drosophila e camundongo. A rã proximamente aparentada Xenopus (Silurana) tro- picalis é um organismo muito mais atrativo para a análise genética; ela é diplóide e tam- bém pode ser geneticamente manipulada para produzir organismos transgênicos. O genoma de X. tropicalis está atualmente sendo seqüenciado, o que ajudará a identifi car genes do desenvolvimento em X. laevis. A situação com aves foi bastante similar, mas, também aqui, comparações diretas de DNA com outros organismos podem ser usadas para identifi car genes do desenvolvimento. O seqüenciamento do DNA do genoma da galinha está agora completo, o que deve ser de grande ajuda na análise genética do desenvolvimento dessa espécie. O seqüenciamento do genoma do ouriço-do-mar S. purpuratus, um dos mais antigos organismos-modelo na biologia do desenvolvimento, está também sendo realizado. Seqüências genômicas completas já estão disponíveis há alguns anos para o homem, camundongo, Drosophila e Caenorhabditis. PRINCÍPIOS DE BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO • 37 Em geral, quando um gene importante do desenvolvimento é identifi cado em um animal, tem-se mostrado muito gratifi cante considerar se um gene correspondente está presente e atuando na capacidade de desenvolvimento de outros animais. Tais ge- nes são freqüentemente identifi cados por um grau de similaridade em suas seqüências nucleotídicas que seja sufi ciente para indicar que eles descendem de um gene ances- tral comum. Genes que atendem a esse critério são conhecidos como genes homólogos. Como veremos no Capítulo 4, esse modo de abordagem identifi cou uma classe até en- tão insuspeita de genes de vertebrados que especifi cam o padrão regular de segmenta- ção da cabeça à cauda, que está representado por diferentes tipos de vertebrados nas diferentes posições. Esses genes foram identifi cados pela sua homologia com genes que especifi cam as identidades dos diferentes segmentos do corpo na Drosophila. 1.7 Os primeiros genes do desenvolvimento foram identifi cados como mutações espontâneas A maior parte dos organismos tratados neste livro são diplóides que se reproduzem sexualmente: suas células somáticas contêm duas cópias de cada gene, com exceção daqueles dos cromossomos sexuais. X. laevis é uma exceção, dado que é tetraplóide; isto é, tem quatro cópias do genoma básico nas suas células somáticas e duas cópias nas células germinativas. Isso significa que ele apresentará até quatro cópias de cada gene nas suas células somáticas, o que complica a análise genética. Em uma espécie diplóide, uma cópia ou alelo de cada gene é fornecida pelo genitor masculino, e outra, pelo genitor feminino. Para muitos genes, há vários alelos “normais” diferentes presen- tes na população, os quais levam à variação do fenótipo normal que é observada em qualquer espécie que se reproduz sexualmente. Ocasionalmente, porém, uma mutação ocorrerá de forma espontânea em um gene e haverá uma mudança marcante, em geral deletéria, no fenótipo do organismo. Muitos dos genes que afetam o desenvolvimento foram identifi cados por muta- ções espontâneas, que afetam suas funções e produzem um fenótipo anormal. As mu- tações são classifi cadas amplamente de acordo com seus caráteres dominante ou re- cessivo (Fig. 1.12). Mutações dominantes e semidominantes são aquelas que produzem um fenótipo distintivo quando a mutação está presente em apenas um dos alelos do white+ white+ white– white– white– white+ + + + Tipo selvagemTipo selvagem Mutação em heterozigoseMutação em heterozigose Mutação em homozigoseMutação em homozigose T Mutação recessiva (p. ex., white–) Mutação semi-dominante (p. ex., Brachyury) Normal Cauda deformada Letal embrionário Normal Normal Olhos brancos Genótipo GenótipoFenótipo Fenótipo T T Figura 1.12 Tipos de mutações. Esquerda: uma mutação é recessiva quando tem um efeito somente no estado de homozigose, isto é, quando ambas as cópias do gene são portadoras da mutação. Direita: ao contrário, uma mutação dominante ou semidominante produz um efeito no fenótipo em estado de heterozigose; isto é, quando apenas uma có- pia do gene mutante está presente. Um sinal positivo representa o tipo selvagem e um sinal negativo representa o recessivo; T é a forma mutante do gene Brachyury. 38 • LEWIS WOLPERT & COLABORADORES par; isto é, este alelo exerce um efeito no estado heterozigótico. Mutações dominantes podem desaparecer, uma vez que são freqüentemente letais. Ao contrário, mutações recessivas, como as white da Drosophila, que produzem moscas com olhos brancos em vez dos vermelhos normais, alteram o fenótipo somente quando ambos os alelos do par carregam a mutação, isto é, quando eles são homozigóticos. Em geral, mutações dominantes são mais facilmente reconhecidas, particularmen- te se elas afetam o grosso da anatomia ou a coloração e desde que elas não causem a morte prematura do embrião no estado heterozigótico. Mutações verdadeiramente dominantes são, contudo, raras. Uma mutação no gene brachiury do camundongo é um exemplo clássico de uma mutação semidominante; ela foi originalmente identifi - cada porque camundongos heterozigotos para esta mutação (simbolizada por T) têm caudas curtas. Quando a mutação é homozigótica, ela tem um efeito muito maior, e os embriões morrem em um estágio inicial, indicando que o gene é exigido para o desen- volvimento embrionário normal (Fig. 1.13). Depois que estudos de cruzamentos confi r- maram que o traço brachiury era devido a um único gene, o gene pôde ser mapeado em um sítio de um cromossomo particular por meio de técnicas clássicas de mapeamento. A identifi cação de mutações recessivas é mais trabalhosa, já que o heterozigoto possui um fenótipo idêntico ao do animal de tipo selvagem normal e um programa de cruza- mentos cuidadosamente testados é exigido para a obtenção de homozigotos. A iden- tifi cação de mutações recessivas potencialmente letais no desenvolvimento exige, em mamíferos, uma observação e uma análise meticulosa, já que os homozigotos podem morrer no interior da mãe sem serem notados. Critérios muito rigorosos devem ser aplicados na identifi cação daquelas mutações que estão afetando um processo de desenvolvimento genuíno e não simplesmente afetando alguma função vital mas rotineira de manutenção (housekeeping), sem a qual o animal não é capaz de sobreviver. Um critério simples para a defi nição de uma muta- ção de desenvolvimento é a letalidade embrionária, mas isso também inclui mutações em genes envolvidos em funções de manutenção. Mutações que produzem padrões anormais de desenvolvimento embrionário são candidatas muito mais promissoras a mutações inequívocas do desenvolvimento. Em capítulos posteriores, veremos como a seleção em grande escala de mutações seguindo a mutagênese provocada por subs- tâncias químicas ou raios X identifi caram um número muito maior de genes do desen- volvimento do que aquele que poderia ter sido descoberto com base em mutações espontâneas raras. Figura 1.13 Genética da mutação semido- minante Brachyury (T) no camundongo. Um macho heterozigoto portador da mutação T tem apenas uma cauda curta. Quando cruza- do com uma fêmea normal (tipo selvagem, ++), alguns dos descendentes também serão heterozigotos e terão caudas curtas. O cru- zamento de dois heterozigotos resultará em alguns dos descendentes sendo homozigotos (T/T) para a mutação, produzindo uma anor- malidade severa e letal no desenvolvimento na qual o mesoderme posterior não se desen- volve. T + T T T + T + T + T + + + + + + + + + cauda curta Homozigose embrionária letal (mesoderme posterior anormal) PRINCÍPIOS DE BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO • 39 Resumo O estudo do desenvolvimento embrionário começou com os gregos, há mais de 2 mil anos. Aris- tóteles lançou a idéia de que os embriões, em vez de estarem contidos completamente pré-for- mados em miniatura no interior do ovo, teriam forma e estrutura que emergeriam gradualmente durante seu desenvolvimento. Essa idéia foi questionada nos séculos XVII e XVIII por aqueles que acreditavam na pré-formação, a idéia de que todos os embriões que já existiram ou ainda existirão já existem desde o começo do mundo. O surgimento da teoria celular no século XIX fi nalmente decidiu a questão em favor da epigênese, e foi reconhecido que o espermatozóide e o ovo eram simples células, apesar de altamente especializadas. Alguns dos primeiros experimentos mos- traram que embriões de ouriço-do-mar em estágios muito iniciais eram capazes de regular-se, isto é, desenvolver-se normalmente mesmo se algumas células fossem removidas ou mortas. Isso estabeleceu o importante princípio de que o desenvolvimento deve depender, pelo menos em parte, da comunicação entre as células do embrião. Evidência direta da importância das intera- ções célula-célula veio do experimento de transplante do organizador realizado por Spemann e Mangold em 1924, mostrando que as células da região organizadora do anfíbio podiam induzir um novo embrião parcial a partir do tecido do hospedeiro quando transplantadas em um outro embrião. A função dos genes no controle do desenvolvimento foi inteiramente apreciada somen- te nos últimos 30 anos, e o estudo das bases genéticas do desenvolvimento tornou-se mais fácil em tempos recentes graças às técnicas de biologia molecular. Um conjunto conceitual de ferramentas O desenvolvimento em um organismo multicelular é o destino mais complicado que uma simples célula viva pode ter; nisso reside tanto a fascinação como o desafi o da biologia do desenvolvimento. Contudo, somente uns poucos princípios básicos são necessários para que os processos do desenvolvimento comecem a fazer sentido. O restante deste capítulo é devotado a introduzir esses conceitos-chave. Esses princípios são encontrados repetidamente ao longo do livro, quando olhamos organismos e sis- temas de desenvolvimento diferentes, e devem ser considerados como um conjunto conceitual de ferramentas, essencial para iniciar um estudo do desenvolvimento. Os genes controlam o desenvolvimento controlando onde e quando proteínas são sintetizadas, e muitos milhares de genes estão envolvidos. A atividade gênica estabele- ce redesintracelulares de interações entre proteínas e genes e entre proteínas e proteí- nas que conferem às células suas propriedades particulares. Uma dessas propriedades é a capacidade de comunicar-se com e responder a outras células de modos específi - cos. São essas interações célula-célula que determinam como o embrião se desenvolve; o processo do desenvolvimento não pode, por conseguinte, ser atribuído à função de um único gene ou de uma única proteína. A quantidade de informação genética e molecular sobre processos de desenvolvimento é agora enorme. Neste livro, seremos altamente seletivos e descreveremos somente aqueles detalhes moleculares que escla- reçam mecanismos do desenvolvimento e ilustrem princípios gerais. 1.8 O desenvolvimento envolve divisão celular, surgimento de padrão, mudança na forma, diferenciação celular e crescimento O desenvolvimento é essencialmente o surgimento de estruturas organizadas, a partir de um grupo inicialmente muito simples de células. É conveniente distinguir cinco processos principais de desenvolvimento, embora, na realidade, eles se sobreponham e infl uenciem uns aos outros consideravelmente. O primeiro é o processo conhecido como clivagem, que é a divisão do ovo fecun- dado em uma grande quantidade de células menores (Fig. 1.14). Diferentemente das 40 • LEWIS WOLPERT & COLABORADORES divisões celulares que ocorrem durante a proliferação celular e o crescimento de um tecido, não ocorre aumento na massa celular entre cada divisão da clivagem. Os ciclos celulares durante a clivagem consistem apenas em fases de replicação do DNA, mitose e na divisão da célula, sem estágios intermediários de crescimento celular. Discutire- mos os diferentes tipos de ciclo celular no Capítulo 12. O estágio da clivagem da em- briogênese, desse modo, divide rapidamente o embrião em uma grande quantidade de células, cada uma contendo uma cópia do genoma. A formação de padrão é o processo pelo qual um padrão espacial e temporal de atividades celulares é organizado no interior do embrião, de modo que uma estrutura bem ordenada se desenvolve. No desenvolvimento do braço, por exemplo, a formação de padrão é o processo que permite que as células “saibam” se devem fazer um braço ou dedos e onde os músculos devem se formar. Não existe uma estratégia ou meca- nismo universal único de padronização; ao contrário, isso é conseguido graças a uma gama de mecanismos celulares e moleculares em diferentes organismos e em diferen- tes estágios de desenvolvimento. A formação de padrão inicialmente envolve o estabelecimento do plano corporal global – defi nindo os eixos principais do corpo do embrião, de modo que as extremi- dades da cabeça (anterior) e da cauda (posterior) e as costas (lado dorsal) e o ventre (lado ventral) sejam especifi cados. A maior parte dos animais que serão tratados neste livro tem uma cabeça em um extremo e uma cauda no outro, sendo os lados direito e esquerdo do corpo bilateralmente simétricos, isto é, uma imagem especular um do outro. Nesses animais, o eixo principal do corpo é o eixo ântero-posterior, que se es- tende da cabeça à cauda. Animais bilateralmente simétricos possuem também um eixo dorsoventral, indo das costas ao ventre. Uma surpreendente característica desses eixos é que eles formam quase sempre um ângulo reto entre si e podem, deste modo, ser imaginados como formadores de um sistema de coordenadas sobre o qual qualquer posição do corpo poderia ser especifi cada (Fig. 1.15). Em plantas, o eixo corporal prin- cipal estende-se da extremidade em crescimento (o ápice) até as raízes e é conhecido como o eixo apical-basal. As plantas também têm simetria radial, com um eixo radial estendendo-se do centro do caule para o exterior. Mesmo antes dos eixos corporais se tornarem evidentes, os ovos e os embriões freqüentemente mostram uma polaridade nítida, a qual, nesse contexto, quer dizer que uma extremidade é diferente da outra na sua estrutura ou propriedades. Muitas células individuais no embrião em desenvol- vimento também possuem polaridade, com uma extremidade da célula estrutural ou funcionalmente diferente da outra. O próximo estágio na formação de padrão em embriões animais é a localização de células em diferentes folhetos germinativos – o ectoderme, o mesoderme e o endoder- me (Quadro 1B, p. 41). Durante a ulterior formação de padrão, células desses folhetos germinativos adquirem identidades diferentes, de modo a surgirem padrões espaciais Figura 1.14 Micrografi a de campo claro de ovos de Xenopus depois de quatro divisões celulares. Barra de escala = 1 mm. Fotografi a cortesia de J. Slack. Figura 1.15 Os eixos principais de um em- brião em processo de desenvolvimento. Os eixos ântero-posterior e dorsoventral são per- pendiculares entre si, como em um sistema de coordenadas. Embrião de Xenopus laevis no estágio de botão caudal Posterior (cauda) Anterior (cabeça) Dorsal (costas) Esquerda Direita Ventral (frente) PRINCÍPIOS DE BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO • 41 organizados de diferenciação celular, como o arranjo de pele, músculos e cartilagens nos membros em desenvolvimento e o arranjo de neurônios no sistema nervoso. Nos estágios mais iniciais de formação de padrão, diferenças entre células não são detec- tadas facilmente e, provavelmente, consistem em diferenças sutis causadas por uma mudança na atividade de muito poucos genes. O terceiro processo importante de desenvolvimento é a mudança na forma ou morfogênese (Capítulo 7). Os embriões sofrem notáveis mudanças em sua forma tri- dimensional – basta olhar para as suas mãos e pés. Em certos estágios no desenvolvi- mento, existem mudanças características e dramáticas na forma, das quais a mais sur- preendente é a gastrulação. Quase todos os embriões animais passam pela gastrulação, durante a qual o intestino é formado e emerge o plano principal do corpo. Durante a gastrulação, células do lado externo do embrião movem-se para o in- terior e, em animais como o ouriço-do-mar, a gastrulação chega a transformar uma blástula esférica e oca em uma gástrula com uma perfuração transversal mediana – o intestino (Fig. 1.16). A morfogênese nos embriões animais pode também envolver ex- tensa migração celular. A maior parte das células da face humana, por exemplo, são derivadas de células que migraram de um tecido denominado crista neural, que se origina no dorso do embrião. O quarto processo do desenvolvimento que devemos considerar aqui é a dife- renciação celular, na qual as células se tornam estrutural e funcionalmente diferentes umas das outras, terminando por dar origem a tipos celulares tão diferentes como os de células sangüíneas, musculares ou da pele. A diferenciação é um processo gradual, com as células muitas vezes passando por várias divisões entre o momento em que começam a diferenciar-se e o momento em que estão completamente diferenciadas (quando alguns tipos celulares param de dividir-se completamente), o que é discutido no Capítulo 8. No homem, o ovo fecundado dá origem a pelo menos 250 tipos celula- res nitidamente distinguíveis. A formação de padrão e a diferenciação celular estão intimamente inter-relacio- nadas, como podemos notar ao considerarmos as diferenças entre braços e pernas Quadro 1B Folhetos germinativos O conceito de folhetos germinativos é útil para distinguir entre regiões do embrião inicial que originam tipos completamente diferentes de tecidos. Aplica-se tanto a vertebrados como a invertebrados. Todos os animais considerados neste livro, exceto o celenterado Hydra, são triplo- blásticos, com três folhetos germinativos: o endo- derme, que origina o intestino e seus derivados, como o fígado e os pulmões nos vertebrados; o mesoderme, que origina o sistema muscular- esquelético, tecidos conjuntivos e outros órgãos internos, tais como rins e coração; e o ectoderme,que origina a epiderme e o sistema nervoso. Es- ses diferentes folhetos são especifi cados cedo no desenvolvimento. Os limites entre eles podem não ser bem-defi nidos, e existem notáveis exce- ções. A crista neural nos vertebrados, por exem- plo, é ectodérmica em origem, mas origina tanto tecido nervoso como alguns elementos esquelé- ticos, que deveriam, normalmente, ser considera- dos de origem mesodérmica. Dorsal Dorsal Ventral Ventral Ectoderme Endoderme intestino, fígado, pulmões esqueleto, músculo, rim, coração, sangue pele, sistema nervoso cutícula, sistema nervoso músculo, coração, sangue intestino Mesoderme Vertebrados Insetos Camadas germinativas ÓrgãosCamadasgerminativas 42 • LEWIS WOLPERT & COLABORADORES humanas. Ambos os tipos de membros contêm exatamente os mesmos tipos celulares – de músculo, cartilagem, ossos, pele, etc. – contudo, os padrões nos quais estão or- ganizados são nitidamente diferentes. É essencialmente a formação do padrão o que nos faz diferentes de elefantes e chimpanzés. O quinto processo é o crescimento – o aumento em tamanho. De um modo geral, ocorre pouco crescimento durante o desenvolvimento embrionário inicial, e o padrão básico e a forma do embrião são estabelecidos em uma pequena escala, sempre menor do que uns poucos milímetros em extensão. O crescimento subseqüente pode aconte- cer de muitos modos diferentes: multiplicação celular, aumento no tamanho celular e deposição de materiais extracelulares, tais como osso e concha. O crescimento pode também ser morfogenético, uma vez que diferenças nas taxas de crescimento entre órgãos ou entre partes do corpo podem gerar mudanças na forma geral do embrião (Fig. 1.17), como será visto em mais detalhe no Capítulo 12. Esses cinco processos do desenvolvimento não são nem independentes uns dos outros nem tampouco estritamente seqüenciais. Em termos muito gerais, porém, po- demos pensar em formação de padrão no desenvolvimento inicial especifi cando dife- renças entre células que levam a alterações em forma, diferenciação celular e cresci- mento. Mas, em qualquer sistema real de desenvolvimento, haverá muitos desvios e alterações nessa seqüência de eventos. 1.9 O comportamento celular fornece a ligação entre a ação gênica e os processos de desenvolvimento A expressão gênica no interior das células leva à síntese de proteínas que especifi cam propriedades celulares e comportamentos particulares, que, por sua vez, determinam o curso do desenvolvimento embrionário. O padrão passado e corrente da atividade gênica confere a uma célula um certo estado ou identidade em qualquer dado mo- mento, que é refl etido na sua organização molecular – em particular, na defi nição de quais proteínas estarão presentes. Como veremos, células embrionárias e sua progênie sofrem muitas mudanças no seu estado com o progresso do desenvolvimento. Outras categorias do comportamento celular que nos dirão respeito são a comunicação inter- celular, conhecida também como sinalização célula-célula, as mudanças na forma da célula e movimento celular, proliferação celular e morte celular. Mudanças de padrões de atividade gênica durante o desenvolvimento inicial são essenciais para a formação de padrão. Elas conferem identidades às células, que determi- nam seu futuro comportamento e acabam por levá-las às suas defi nitivas diferenciações. E, como vimos no exemplo da indução pelo organizador de Spemann, a capacidade das células para infl uenciar o destino umas das outras por meio da produção e reposta a sinais é crucial para o desenvolvimento. Pelo seu movimento ou mudança na forma, as células geram as forças físicas que realizam a morfogênese (Fig.1.18). A curvatura de uma camada de células transformando-a em um tubo, como acontece em Xenopus e outros vertebrados durante a formação do tubo neural (ver Quadro 1A, p. 4 e 5), é o resultado de forças contráteis geradas por células que alteram sua forma em certas posições no interior da camada celular. Uma importante característica das superfícies celulares é a presença de proteínas adesivas, conhecidas como moléculas de adesão celular, que exer- cem uma variedade de funções: elas mantêm as células unidas nos tecidos, capacitam as Figura 1.16 Gastrulação em ouriço-do- mar. A gastrulação transforma a blástula es- férica em uma estrutura com uma perfuração mediana (o intestino). O lado esquerdo do embrião foi removido. boca ânus intestino Semanas depois da fecundação Mudança nas proporções Mudança de tamanho 8 12 16 Nascimento Figura 1.17 O embrião humano muda de forma à medida em que cresce. Desde o momento em que o plano corporal está bem-estabelecido (8 semanas) até o nasci- mento, o embrião aumenta em comprimen- to cerca de 10 vezes (painel superior), en- quanto a proporção relativa entre a cabeça e o resto do corpo decresce (painel inferior). Como resultado, a forma do embrião muda. Barra de escala = 10 cm. (Segundo Moore, K. L.: 1983.) PRINCÍPIOS DE BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO • 43 células a perceberem a natureza da matriz extracelular circunvizinha e servem para guiar células migratórias, como células da crista neural de vertebrados, que deixam o tubo neural para formar estruturas em outras partes do corpo. Mais tarde no desenvolvimen- to, o crescimento envolve a proliferação celular, que pode também infl uenciar a forma fi - nal, porque partes do corpo crescem em ritmos diferentes. A morte de células, conhecida como morte celular programada ou apoptose, é também uma parte intrínseca ao processo do desenvolvimento; a morte celular em mãos e pés em desenvolvimento ajuda a formar os dedos a partir de uma camada contínua de tecidos. Assim, podemos descrever e ex- planar processos de desenvolvimento em termos de como células individuais e grupos celulares se comportam. Como as estruturas fi nais geradas pelo desenvolvimento são compostas por células, explanações e descrições em nível celular podem fornecer uma explicação de como essas estruturas adultas são formadas. Como o desenvolvimento pode ser entendido em um nível celular, podemos for- mular a questão de como os genes controlam o desenvolvimento de uma forma mais precisa. Podemos agora perguntar como os genes estão controlando o comportamento celular. Os muitos modos possíveis do comportamento celular fornecem, portanto, a ligação entre a atividade gênica e a morfologia de um animal adulto – o resultado fi nal do desenvolvimento. A biologia da célula fornece os meios pelos quais o genótipo é traduzido no fenótipo. 1.10 Os genes controlam o comportamento celular especifi cando quais proteínas são produzidas O que uma célula pode fazer é determinado em grande parte pelas proteínas nela pre- sentes. A hemoglobina nos glóbulos vermelhos os capacita a transportarem oxigênio; as células musculares esqueléticas são capazes de contrair-se porque contêm estruturas contráteis formadas pelas proteínas miosina, actina e tropomiosina e por outras proteí- nas musculares específi cas. Todas essas proteínas são muito especiais, ou “de luxo”, pois não estão comprometidas com as atividades de manutenção que são comuns a todas as células e as mantêm vivas e em funcionamento. As atividades de manutenção incluem a produção de energia e as rotas metabólicas envolvidas na quebra e na síntese de molécu- las necessárias para a vida da célula. Embora existam variações qualitativas e quantitati- vas nas proteínas de manutenção nas diferentes células, elas não possuem funções rele- vantes no desenvolvimento. No desenvolvimento, estamos interessados, principalmente, nas proteínas “de luxo” ou tecido-específi cas, que fazem as células diferentes entre si. Os genes controlam o desenvolvimento principalmente especifi cando quais proteí- nas são produzidas, emque células e quando. Nesse sentido, eles são participantes pas- sivos no desenvolvimento, comparados com as proteínas que eles codifi cam, as quais são os agentes que diretamente determinam o comportamento celular, inclusive quais genes devem ser expressos. Para produzir uma proteína específi ca, seu gene deve ser ativado e transcrito em um RNA mensageiro (mRNA); o mRNA deve, a seguir, ser traduzido em proteína. Esses dois processos estão sob várias camadas de controle, e a tradução não segue automaticamente a transcrição. A Fig. 1.19 mostra as principais etapas da ex- pressão gênica nas quais a produção de uma proteína pode ser controlada. Por exemplo, o mRNA pode ser degradado antes que ele possa ser exportado do núcleo. Mesmo que ele chegue ao citoplasma, sua tradução pode ser inibida lá. Nos ovos de muitos animais, o mRNA pré-formado é impedido de ser traduzido até depois da fecundação. Um outro fator que determina quais proteínas são produzidas é o processamento do RNA. Os trans- critos primários de RNA de muitos genes nos eucariotos podem ser unidos de diferentes modos, originando dois ou mais mRNAs diferentes; assim, um único gene pode ser capaz de produzir várias proteínas diferentes com propriedades distintas. Mesmo que um gene tenha sido transcrito e o mRNA traduzido, a proteína pode ainda não ser capaz de funcionar. Muitas proteínas recém-sintetizadas exigem ulterior modifi cação pós-traducional para que elas adquiram atividade biológica. Modifi cações pós-traducionais reversíveis, como a fosforilação, podem também alterar signifi cati- contração localizada Figura 1.18 A contração localizada de determinadas células pode provocar o do- bramento de toda uma camada celular. A contração de uma fi leira de células na sua região apical devida à contração de elementos do citoesqueleto causa a formação de um sul- co em uma camada de epiderme. 44 • LEWIS WOLPERT & COLABORADORES vamente a função protéica. O processamento (splicing) alternativo* do RNA e a modi- fi cação pós-traducional juntas signifi cam que o número de proteínas funcionalmente diferentes que podem ser produzidas é consideravelmente maior do que o indicado pelo número de genes que codifi cam proteínas – talvez até 10 vezes maior. Alguns genes, como aqueles de RNAs ribossômicos (rRNAs) e RNAs transportado- res (tRNAs), não codifi cam proteínas; nesse caso, os RNAs são, eles próprios, os produ- tos fi nais. Uma categoria de genes recentemente descoberta é aquela dos microRNAs (miRNA), pequenas moléculas de RNA que inibem a tradução de mRNAs específi cos (ver Capítulo 5, Quadro 5B, p. 197). Sabe-se que alguns microRNAs estão envolvidos na regulação gênica no desenvolvimento. Uma questão intrigante é a de quantos genes do genoma total são genes do desen- volvimento – isto é, genes especifi camente exigidos para o desenvolvimento embrioná- rio. Isso não é uma estimativa fácil de ser feita. Em uns poucos casos, particularmente bem-estudados, temos estimativas grosseiras do número mínimo de genes envolvidos em um determinado aspecto do desenvolvimento. No desenvolvimento inicial de Dro- sophila, pelo menos 60 genes estão envolvidos diretamente na formação de padrão até o momento em que o embrião é dividido em segmentos. No Caenorhabditis, 50 genes, pelo menos, são necessários para especifi car uma pequena estrutura reprodutiva co- nhecida como vulva. Esses são números insignifi cantes se comparados aos milhares de genes que estão ativos ao mesmo tempo; alguns destes são essenciais para o desenvol- vimento, uma vez que eles são necessários para a manutenção da vida, mas fornecem pouca ou nenhuma informação que infl uencie o curso do desenvolvimento. Estudos recentes têm mostrado que muitos genes mudam sua atividade durante o desenvolvi- mento e, como o número total de genes no nematódeo e na Drosophila é em torno de 19.000 e 20.000, respectivamente, o número total de genes envolvidos no desenvol- vimento é de muitos milhares. Uma análise sistemática de cerca de 90% dos genes do nematódeo mostrou que 1.722, pelo menos, estavam envolvidos no desenvolvimento. Genes do desenvolvimento tipicamente codifi cam proteínas envolvidas na regulação do comportamento celular – receptores, fatores de crescimento, proteínas de sinalização intracelular e proteínas de regulação gênica. Muitos desses genes, especialmente aque- les de receptores e moléculas de sinalização, são usados ao longo de toda a vida de um organismo, mas outros são ativos somente durante o desenvolvimento embrionário. 1.11 A expressão dos genes do desenvolvimento está sob o controle de regiões controladoras complexas Todas as células somáticas de um embrião são derivadas do ovo fecundado por su- cessivos ciclos de divisões celulares mitóticas. Assim, com raras exceções, todas elas * N. de R.T. A expressão alternative splicing, correspondente à etapa de modifi cação pós-transcricional do pré-RNA na qual há utilização alternativa de íntrons e/ou éxons no RNA maduro, foi aqui substituída por processamento alternativo. Para deixar claro que processamento aqui corresponde efetivamente à etapa de splicing, o termo em inglês foi mantido entre parênteses. DNA DNA Regiões controladoras Região codificadora Núcleo membrana nuclear Citoplasma transcrição 1 2 3 4 5 processamento transporte tradução modificação mRNA proteína ribossomo carboidrato região promotora região reforçadora Figura 1.19 Expressão gênica e síntese protéica. Um gene que codifi ca uma proteína é formado por um segmento de DNA que contém uma região codifi cadora, a qual contém as intruções para a produção da proteína, e regiões controladoras adjacentes – regiões promotoras e reforçadoras – através das quais o gene é ativado ou inativado. A região promotora é o sítio onde a RNA-polimerase se liga para iniciar a transcrição. As regiões reforçadoras podem estar a uma distância de milhares de pares de bases do promotor. A transcrição do gene em RNA (1) pode ser tanto estimulada como inibida por fatores de transcrição que se ligam ao promotor e a regiões reforçadoras. O RNA formado pela transcrição sofre splicing para a remoção dos íntrons (em amarelo) durante o seu processamento no interior do núcleo (2) e produz o RNA que é exportado para o citoplasma (3) para ser traduzido em proteína pelos ribossomos (4). O controle da expressão gênica e da síntese protéica ocorre principal- mente em nível de transcrição, mas pode também ocorrer em estágios posteriores. Por exemplo, o mRNA pode ser degradado antes de ser traduzido. Se ele não é traduzido imediatamente, ele pode ser armazenado em uma forma inativa no citoplasma para tradução em algum estágio posterior. Algumas proteínas necessitam de modifi cação pós-traducional (5) para se tornarem biologicamente ativas. PRINCÍPIOS DE BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO • 45 contêm idêntica informação genética, a mesma do zigoto. As diferenças entre células devem, portanto, ser geradas por diferenças na atividade gênica que leva à síntese de diferentes proteínas. Expressar ou silenciar os genes corretos nas células corretas, no momento apropriado, torna-se, portanto, uma questão central no desenvolvimento. Os genes não fornecem um projeto arquitetônico para o desenvolvimento, mas sim um conjunto de instruções. Os elementos-chave na regulação da leitura fi nal dessas instruções são as regiões de controle localizadas adjacentemente à maior parte dos genes “de luxo” e dos genes do desenvolvimento. Essas regiões são infl uenciadas por proteínas reguladoras de genes, ou fatores de transcrição, que ativam ou inativam genes, respectivamente ativando ou reprimindo a transcrição. Algumas proteínas reguladoras de genes atuam ligando-se diretamente às regiões de controle (ver Fig.1.19), enquanto outras interagem com fatores de transcrição já ligadosao DNA. Genes do desenvolvimento são altamente regulados para assegurar que eles se ex- pressem somente no momento e local corretos no desenvolvimento. Essa é uma carac- terística fundamental do desenvolvimento. Para permitir isso, eles geralmente possuem amplas e complexas regiões de controle, formadas por um ou mais módulos regulado- res, conhecidos como módulos cis-reguladores (o “cis” refere-se ao fato de que o módulo regulador está na mesma molécula de DNA que o gene que ele controla). Cada módulo possui múltiplos sítios de ligação para diferentes fatores de transcrição, e a combinação de fatores que se liga determina se o gene é expresso ou silenciado. Em média, um mó- dulo terá sítios de ligação para 4 a 8 diferentes fatores de transcrição. Diferentes genes podem ter o mesmo módulo de controle, o que geralmente sig- nifi ca que eles serão expressos juntos, ou genes diferentes podem ter módulos que contêm alguns, mas não todos os sítios de ligação em comum, introduzindo diferenças sutis no momento ou na localização da expressão. Um gene com mais de um módulo regulador pode expressar-se em momentos e locais diferentes durante o desenvolvi- mento, dependendo de que módulo predomina em um dado momento no controle da expressão gênica. Assim, os genes de um organismo estão ligados em complexas redes independentes de expressão por meio de seus módulos de regulação e das proteínas que se ligam a eles. Exemplos comuns de tal regulação são os circuitos de retroalimen- tação (feedback) positivos e de retroalimentação (feedback) negativos, nos quais um fator de transcrição promove ou reprime, respectivamente, a expressão de um gene cujo produto mantém a expressão daquele mesmo gene (Fig. 1.20). De fato, a rede de inte- rações entre os módulos reguladores gênicos, que foi descrita para o desenvolvimento inicial do ouriço-do-mar, é bastante desconcertante a uma primeira ou mesmo segunda vista, como veremos no Capítulo 5. Como todas as etapas-chave do desenvolvimento refl etem mudanças na atividade gênica, podemos ser tentados a pensar no desenvolvimento simplesmente em termos de mecanismos de controle da expressão gênica. Mas isso seria altamente enganoso. A expressão gênica é apenas a primeira etapa em uma cascata de processos celulares que levam, via síntese protéica, a mudanças no comportamento celular e, desse modo, dirigem o curso do desenvolvimento embrionário. Pensar apenas em termos de genes é ignorar aspectos cruciais da biologia celular, como a mudança da forma da célula, que podem ser iniciados em diferentes etapas independentemente da atividade gênica. De fato, há muito poucos casos em que a seqüência completa de eventos desde a expres- são gênica até a alteração do comportamento celular foi resolvida. A rota que leva da atividade gênica a uma estrutura como a mão de cinco dedos pode ser tortuosa. 1.12 O desenvolvimento é progressivo, e o destino das células torna-se determinado em momentos diferentes Com o avanço do desenvolvimento embrionário, a complexidade organizacional do em- brião torna-se enormemente aumentada em relação àquela do ovo fecundado. Muitos tipos diferentes de células são formados, padrões espaciais emergem e há alterações im- portantes de forma. Tudo isso acontece mais ou menos gradualmente, dependendo do Retroalimentação positiva gene 1 Ativador gene 2 Retroalimentação negativa gene 3 Ativador gene 4 Figura 1.20 Circuitos genéticos simples de retroalimentação (feedback). Parte superior: o gene 1 é ativado por um fator de transcrição (verde); a proteína que ele produz (vermelho) ativa o gene 2. O produto protéico do gene 2 (azul), além de agir sobre alvos adicionais, também ativa o gene 1, formando um circuito de retroalimentação positivo que manterá os genes 1 e 2 ativados mesmo na ausência do ativador original. Parte inferior: quando o pro- duto do gene no fi nal da rota inibe o primeiro gene, forma-se circuito de retroalimentação negativo. As setas indicam ativação; linhas barradas indicam inibição. 46 • LEWIS WOLPERT & COLABORADORES organismo em questão. Porém, em geral, o embrião é primeiramente dividido em algu- mas poucas regiões amplas, como os futuros folhetos germinativos (mesoderme, ectoder- me e endoderme). Subseqüentemente, as células nessas regiões têm seus destinos cada vez mais fi namente determinados. O mesoderme, por exemplo, torna-se diferenciado em células musculares, células cartilaginosas, células ósseas, nos fi broblastos do tecido con- juntivo e em células da derme da pele. A determinação implica uma mudança estável no estado interno de uma célula, assumindo-se que uma alteração no padrão da atividade gênica é a etapa inicial, que leva a uma mudança nas proteínas produzidas na célula. É importante entender claramente a distinção entre o destino normal de uma cé- lula em qualquer estágio normal em particular e o seu estado de determinação. O destino de um grupo de células descreve meramente aquilo no que elas em geral se de- senvolverão. Marcando células de um embrião inicial, pode-se descobrir, por exemplo, quais células ectodérmicas originarão normalmente o sistema nervoso e, destas, quais originarão especifi camente a retina. Porém, isso de nenhum modo implica que estas células possam desenvolver-se somente em retina ou que já estejam comprometidas ou determinadas na sua formação. Um grupo de células é dito especifi cado se, quando isoladas e cultivadas em um ambiente neutro de um meio de cultura simples, longe do embrião, desenvolvem-se mais ou menos de acordo com seu destino normal (Fig. 1.21). Por exemplo, as células do pólo animal de uma blástula de anfíbio (ver Quadro 1A, pp. 30 e 31) são especifi ca- das para formar ectoderme e formarão epiderme quando isoladas. Células que estão especifi cadas nesse sentido técnico ainda não estão necessariamente determinadas, pois infl uências provenientes de outras células podem mudar seu destino normal; se tecido do pólo animal é posto em contato com células do pólo vegetal, o tecido do pólo animal formará mesoderme em vez de epiderme. Em estágio mais tardio do desenvol- vimento, porém, as células da região animal tornam-se determinadas como ectoderme e seu destino não pode mais ser mudado. Testes para a especifi cação pressupõem que o meio de cultivo do tecido em um ambiente neutro não possui sinais indutores de espécie alguma, algo que é muitas vezes difícil de ser conseguido. O estado de determinação das células em qualquer estágio do desenvolvimento pode ser demonstrado por experimentos de transplante. No estágio de blástula do em- brião de anfíbio, pode-se enxertar células ectodérmicas que originarão o olho na lateral do corpo e mostrar que as células se desenvolvem de acordo com a sua nova posição, Mapa de destino Destino normal Tecido diferenciado Região A Região B região marcada transplantada região marcada transplantada Região B não-determinada Região B determinada Região B especificada Figura 1.21 A distinção entre destino, de- terminação e especifi cação celulares. Neste sistema idealizado, as regiões A e B diferen- ciam-se em dois diferentes tipos de célula, representados como hexágonos e quadrados. O mapa de destino (primeiro painel) mostra como elas normalmente se desenvolveriam. Se células da região B são enxertadas na re- gião A e então se desenvolvem como células do tipo A é porque o destino da região B ainda não havia sido determinado (segundo painel). Em contrapartida, se as células da região B já estão determinadas quando são enxertadas na região A, elas se desenvolverão como célu- las B (terceiro painel). Mesmo que as células B não estejam determinadas, elas podem estar especifi cadas, de modo que elas formarão cé- lulas B quando cultivadas isoladas do restante do embrião (quarto painel). PRINCÍPIOS DE BIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
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