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ESCOLA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - Metodologia de Ensino em Educação Física – EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA - Apostila – Profº. Me. Alexandre Pinto Romano Profº. Me. Porthos da Costa Castello Branco MANAUS-AM 2017/1 ESCOLA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Metodologia de Ensino em Educação Física Nota introdutória: Este trabalho é resultado de um processo de investigação das possibilidades pedagógicas da utilização da educação física adaptada em ambientes educacionais e suas implicações na construção de esquemas cognitivos como pré requisito para o desenvolvimento humano de alunos com necessidades educativas especiais em ambientes educacionais. O enfoque deste trabalho está centrado no ensino dos profissionais de educação física que ao explorarem a interface da educação física adaptada com as crianças e adolescentes que possuem necessidades educativas especiais, desenvolveram metodologia própria em suas intervenções pedagógicas, utilizando o tônus muscular com fator de aproximação na construção de vínculos afetivos que proporcionam um ambiente propício as aprendizagens através das adaptações metodológicas e curriculares em suas aulas. Antes de iniciar a exploração da apostila, importa referir que houve um grande esforço em apresentar de forma concisa os assuntos aqui abordados. Contudo ainda, gostaríamos de advertir que encontramo-nos disponíveis para o esclarecimento de eventuais dúvidas e acolheremos com prazer todas as sugestões. . INTRODUÇÃO 04 1. DIREITOS GARANTIDOS POR LEGISLAÇÃO AOS ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS 05 1.1 Leis, declarações, portarias e resoluções que amparam os alunos com necessidades educativas especiais no Brasil e no mundo 07 1.2 A filosofia da inclusão 25 2. INCLUSÃO EDUCATIVA DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA ESCOLA REGULAR 29 2.1 As idéias do âmbito educacional entre o dito e o feito: a escola que inclui/exclui 30 2.2 Inclusão escolar e necessidades educativas especiais: uma relação entre práxis pedagógica e a filosofia da inclusão 40 2.3 Educação Física escolar, filosofia inclusiva e a atitude do professor de educação física 42 2.4 Legislação e intervenção do profissional de educação física face aos seus recursos pessoais e institucionais 49 3. REFERÊNCIAS 55 INTRODUÇÃO A Inclusão Escolar aparece como sendo uma necessidade de assegurar os direitos das crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE) uma educação de qualidade. Atualmente as metodologias utilizadas pelos profissionais que atuam neste campo nem sempre atendem as crianças em seus aspectos biopsicosociais ( LOPES, 2010). A busca por uma educação de qualidade, que respeite e valorize as diferenças dos educandos, vem tornando-se um dos principais objetivos dos envolvidos no contexto da Educação, principalmente considerando o paradigma educacional vigente, que visa a prática da educação inclusiva na diversidade das salas de aula. Neste contexto, há necessidade da implantação de atendimentos educacionais especializados, quando necessário, direcionados aos alunos com necessidades educativas, resguardando seu direito à educação de qualidade, considerando os princípios da autonomia, construção da identidade e formação de um cidadão crítico e participativo na sociedade. Diante das diversidades do contexto educacional, encontram-se os alunos com NEE, que necessitam, além do atendimento na rede regular de ensino, de suplementação educacional por meio da modalidade da Educação Especial, objetivando a valorização, estimulação e desenvolvimento de suas potencialidades no processo de construção do conhecimento (BELLOTA, 2010). No entanto, no Brasil alguns profissionais ainda tem resistido a inclusão escolar, especificamente no que se refere a inclusão de alunos com NEE no ensino regular. A Educação Física como componente curricular obrigatório compõe a proposta curricular da educação básica em nosso país. Os professores que ensinam esta disciplina no ensino regular têm papel fundamental nesta problemática, pois, sua função é assegurar o desenvolvimento integral de crianças com NEE em nossa sociedade (LOPES, 2007). Nesta perspectiva, é essencial que os alunos que apresentam NEE sejam identificados no sistema educacional de ensino, função que caberá aos professores, por serem os principais agentes no processo de ensino, integrados numa equipe constituída por outros profissionais e pelos pais. 1 DIREITOS GARANTIDOS POR LEGISLAÇÃO AOS ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS Consideram-se Alunos com NEE, os que exigem recursos ou adaptações no processo de ensino/aprendizagem por exibirem determinadas condições específicas (físicas, sensoriais, cognitivas, emocionais, comunicativas, sociais ou qualquer combinação destas), e podem necessitar de apoio de serviços de educação especial durante todo ou parte do seu percurso escolar, de forma a facilitar o seu desenvolvimento acadêmico, social e emocional (CORREIA, 2008). Neste primeiro tópico abordamos questões relativas a fundamentação teórica com uma rápida abordagem sobre a história da Educação Especial, com base em leis, declarações, portarias e resoluções, buscando enfatizá-la na perspectiva inclusiva, bem como revisar a legislação específica que ampara os alunos com NEE em âmbito Internacional e Nacional sobre a temática em debate. Apresentaremos depois algumas considerações sobre a Filosofia da Inclusão, sua evolução e principais vantagens, referindo-nos aos contributos deste movimento. Desta forma, subdividimos este tópico em dois subtópicos que desenvolvemos de seguida. 1.1 Leis, declarações, portarias e resoluções que amparam os alunos com necessidades educativas especiais no Brasil e no mundo De acordo com a história da educação especial, as pessoas com algum tipo de necessidade específica eram consideradas incapazes, eram segregados1 do convívio social, como ainda hoje, estereótipos físicos provocam julgamentos preconcebidos sobre as pessoas, pensamento confirmado por Serrano (2005, p. 13): 1 De acordo com Niza (1996) em Serrano (2005), a segregação foi implementada através de um modelo médico que olhava para os indivíduos com deficiência como possuidores de uma doença e tinha como preocupação a classificação e categorização desses indivíduos por tipos de deficiência, que eram, assim, colocados em escolas especiais. O período da pré-história da Educação Especial, será de referenciar que, nas sociedades antigas, a condenação à morte das crianças deficientes era uma prática normal [...] em Esparta, na antiga Grécia, de crianças com anomalias físicas eram abandonadas, nas montanhas, enquanto que, na então contemporânea Roma, as crianças com problemas semelhantes, eram pura e simplesmente lançadas ao rio [...]. À exclusão é porventura tão antiga como a própria humanidade, será de ter em conta que a forma como os indivíduos deficientes têm sido retratados e tratados, não se manteve inalterável, antes evoluiu à medida que a própria humanidade ia, também evoluindo. Como salienta Serrano (2005), desde a antiguidade, valores culturais excludentes abandonavam as pessoas com deficiência à própria sorte. Com o passar do tempo e com a evolução de algumas práticas religiosas, o indivíduo com deficiência física deixa de ser visto como uma maldição e passa a ter alma. Posteriormente, com a assistência da Psicologia, emergiram os conceitos de humanitarismo, de cuidado, de filantropia, de voluntarismo,atitudes que ainda não são encontradas em nossa sociedade, que insiste em considerar as pessoas com deficiência, ora como coitadinhas, ora como incapazes de viverem com dignidade, apesar do que elas mais desejam é serem consideradas como pessoas e serem vistas como indivíduos, respeitadas na sua integralidade. De acordo com a narrativa histórica podem ser reconhecidos quatro estágios de desenvolvimento das atitudes em relação as crianças com NEE como resume Kirk e Gallagher (1996, p. 06) Primeiramente, na era pré-cristã, tendia-se a negligenciar e a maltratar os deficientes. Num segundo estágio, com a difusão do cristianismo, passou-se a protegê-los e compadecer-se deles. Num terceiro período, nos séculos XVIII e XIX, foram fundadas instituições para oferecer-lhes uma educação à parte. Finalmente na última parte do século XX, observa-se um movimento que tende a aceitar as pessoas deficientes e a integrá-las, tanto quanto possível na sociedade. A Inclusão surge quando aprendemos que nós, seres sociais, não nascemos para viver sozinhos e precisamos conviver com a diversidade que aqui assume o caráter de ser (universo contido no outro), pois somente desse modo acreditamos que essa rica experiência possa nos ensinar a sermos pessoas muito melhores (LEMOS, 2008). A Constituição da República Federativa do Brasil2 nos alerta que o Estado Brasileiro possui certos objetivos a serem alcançados ou ao menos buscados. É algo inédito na história de nossas Constituições, já que nunca houve um documento constitucional, no Brasil, com previsão de certos e determinados objetivos a serem buscados pelo Estado e pela sociedade (MINHOTO, 2009). A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de Dezembro de 1948 seu preâmbulo nos lembra Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo [...] que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum. Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão [...] que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida [...] os Estados–Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades. Este documento nos alerta sobre o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos 2 Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de Outubro 1988, foi resultado de um amplo processo de discussão, na oportunidade da derrocada dos mais de 20 anos de ditadura militar. A construção de uma nova ordem constitucional, num contexto de redemocratização, está fortemente ligada à formatação do catálogo atual dos direitos fundamentais. Na Assembleia Nacional Constituinte, resultante das eleições livres em de 1º de fevereiro de 1987, no governo José Sarney, o debate sobre o conteúdo do que viria a ser a atual Constituição pode ser considerado um processo de dimensão gigantesca, sem precedentes na história nacional (MINHOTO, 2009). próprios estados-membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948). Esta mesma Assembleia da ONU3, reconhece em seu artigo 1.º que: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos”; reforçado pelo artigo 2.º: “sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação”. Logo após, referindo-se à Educação, no seu artigo 26.º, item 1, assegura: Toda pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado. Também no artigo 26.º, item 2, a Declaração institui que: A Educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos. O artigo 27.º, item 1, proclama que: “Toda pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de usufruir das artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam”. De maneira geral, esta Declaração assegura as pessoas, inclusive aquelas com deficiência, os mesmos direitos à liberdade, a uma vida digna, a Educação Básica4, ao desenvolvimento pessoal e social e à livre participação na vida da comunidade, 3 Depois da II Guerra Mundial, que devastou dezenas de países e tomou a vida de milhares de seres humanos, existia na comunidade internacional um sentimento generalizado de que era necessário encontrar uma forma de manter a paz entre os países. Porém a ideia de criar a ONU não surgiu de uma hora para outra. Foram necessários anos de planejamento e dezenas de horas de discussões antes do surgimento da Organização. O nome Nações Unidas, foi concebido pelo Presidente Norte-Americano Franklin Roosevelt e utilizado pela primeira vez na Declaração das Nações Unidas de 12 de Janeiro de 1942, quando os representantes de 26 países assumiram o compromisso de que seus governos continuariam a lutar contra as potências do Eixo. A Carta das Nações Unidas foi elaborada pelos representantes de 50 países presentes à Conferência sobre Organização Internacional, que se reuniu em São Francisco de 25 de abril a 26 de junho de 1945. 4 Conforme a Legislação Brasileira promulgada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional em seu Título V classifica os Níveis e as Modalidades de Educação e Ensino. Capítulo I Da Composição dos Níveis Escolares. Art. 21º. A educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. desafiando-nos a olhar o outro além da deficiência dele e sim pelo que é capaz de realizar. Já no final dos anos de 1950, em Assembleia Geral das Nações Unidas, de 20 de Novembro de 1959, foi adotada a Declaração dos Direitos da Criança, que, ratificada pelo Brasil, analisa a situação mundial da criança, estabelecendo algumas metas a serem alcançadas. Enfatizou nesta ocasião que a Educação é um direitohumano e um fator fundamental para reduzir a pobreza, os índices de trabalho infantil e promover a democracia, a paz, a tolerância e o desenvolvimento. Assim, dá alta prioridade a estes direitos e garante, em seus Princípios 1 e 5 que A criança gozará de todos os direitos enunciados nesta Declaração. Todas as crianças, absolutamente sem qualquer exceção, serão credoras destes direitos, sem distinção ou discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento de qualquer outra condição, quer sua ou de sua família [...] A criança física ou mentalmente deficiente ou aquela que sofre de algum impedimento social deve receber o tratamento, a educação e os cuidados especiais que requeira o seu caso particular. Ao assinar esta Declaração, o Brasil compromete-se com o alcance dos objetivos propostos que visam à transformação dos sistemas de Educação em sistemas educacionais inclusivos. A partir dos anos 60 do século XX, surgiu a integração5 desses alunos no ensino regular. É neste sentido que Mantoan (1997, p. 22) afirma que: É da escola que a sociedade adquire, fundamenta e modifica conceitos de participação, colaboração e adaptação. Embora outras instituições como a família ou igreja tenham papel muito importante, é da escola a maior parcela. Isto torna a questão da integração do deficiente na escola uma questão decisiva não só como questão em curto prazo, mas também no que se refere à organização das gerações futuras. Nesse sentido, a lei vem garantir que o alunado possa sair das escolas e centros especializados que atendam suas necessidades específicas, passem a prosseguir os 5 De acordo com Niza (1996) em Serrano (2005) à educação integrada tem como modelo educacional de referência o princípio da normalização, através do qual todos os sujeitos têm o direito a uma vida o mais normal possível, podendo usufruir dos serviços da comunidade, sendo que este paradigma, assenta na concepção de que todos os cidadãos, mesmo os possuidores de Necessidades Educativas Especiais, têm os mesmos direitos e, como tal, devem usufruir dos serviços educativos do ensino público adaptado às suas necessidades. estudos no ensino comum, desde que lhes sejam promovidas condições que garantam o acesso, a permanência e o sucesso no ambiente escolar, como resume Oliveira (2002, p. 143): Hoje, considera-se que as crianças com necessidades educativas especiais são, antes de tudo, crianças que devem conviver com as outras em ambientes cotidianos com sua complexidade habitual, e não mais ser mantidas isoladas e interagindo em um mesmo pequeno grupo por muitos anos, o que as leva a modificar muito pouco suas habilidades e conhecimentos. Ponderamos que uma pessoa com NEE, que interage em um meio social comum com pessoas comuns, tem muito mais oportunidades de aprender a conviver e aceitar a própria diferença. Desse modo, ao mesmo tempo em que percebemos a importância da inclusão das pessoas com NEE no mundo escolar dos alunos sem NEE, salientamos ainda o cuidado na preparação de uma sociedade de fato inclusiva. A Constituição da República Federativa do Brasil de 19886 assumiu, formalmente, os mesmos princípios postos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além disso, introduziu no país uma nova prática administrativa, representada pela descentralização do poder. Nesse contexto, a Constituição assegura, em seu artigo 206, inciso I, como um dos princípios da Educação das crianças: “a igualdade de acesso e permanência na escola”. Com a promulgação da Constituição Brasileira 1988, os municípios foram contemplados com autonomia política para tomar as decisões e implantar os recursos e processos necessários para garantir a melhor qualidade de vida para os cidadãos que neles residem. A Lei n.º 7.8537, promulgada em 1989, define como: “crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou extinguir a matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, 6 Preâmbulo “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil”. 7 Lei Nº 7.853, de 24 de Outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. em qualquer curso ou nível de ensino, seja ele público ou privado. A pena para o infrator pode variar de 01(hum) a 04 (quatro) anos de prisão, mais multa”. O que ainda percebemos em muitos estabelecimentos de ensino são atitudes disfarçadas que mascaram essa recusa, sob a justificativa de não estarem preparados para atenderem estes alunos. Assim, não adianta falarmos tanto em inclusão se continuamos menosprezando nossos iguais com injustiça e descrédito, disfarçados de preconceito. Nesse sentido, é inconcebível discutirmos inclusão sem a presença marcante daqueles que diariamente são alijados de todo e qualquer processo inclusivo. Conforme informações do Plano Decenal de Educação para Todos entre 5 e 9 de março de 1990, o Brasil participou da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien – Tailândia8, que ficou conhecida como Declaração de Jomtien. Nela, os países reafirmaram que: “A educação é um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro”. Também no artigo 1.º, item 1, a Declaração estabelece que: Cada pessoa, criança, jovem ou adulto, deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem. Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas), quanto os conteúdos básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes), necessários para que os seres humanos possam sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo [...]. Neste mesmo ano de 1990 no Brasil, foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente, pela Lei n.º 8.069, promulgada em 13 de julho de 1990, que em seu artigo 3°, p. 9, dispõe: 8 A Conferência Mundial sobre Educação para Todos, reunidos em Jomtien, Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990: Relembrando que a educação é um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro; Entendendo que a educação pode contribuir para conquistar um mundo mais seguro, mais sadio, mais próspero e ambientalmente mais puro, e que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso social, econômico e cultural, a tolerância e a cooperação internacional; Sabendo que a educação, embora não seja condição suficiente, é de importância fundamental para o progresso pessoal e social; Reconhecendo que o conhecimento tradicional e o patrimônio cultural têm utilidade e valor próprios, assim comoa capacidade de definir e promover o desenvolvimento; Admitindo que, em termos gerais, a educação que hoje é ministrada apresenta graves deficiências, que se faz necessário torná-la mais relevante e melhorar sua qualidade, e que ela deve estar universalmente disponível; Reconhecendo que uma educação básica adequada é fundamental para fortalecer os níveis superiores de educação e de ensino, a formação científica e tecnológica e, por conseguinte, para alcançar um desenvolvimento autônomo. a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Prediz, também em seu artigo 4.º (p. 11-12) que: é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. O capítulo IV do estatuto trata sobre o direito a educação, a cultura, o esporte e o lazer Art. 53°- A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – direito de ser respeitado por seus educadores. Art. 54° - É dever do Estado assegurar à criança a ao adolescente: I – Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiverem acesso na idade própria; II – progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; VI – atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. A lei busca garantir de um modo integral o desenvolvimento tanto de crianças e adolescentes quanto de adultos de quaisquer idades, sejam homens ou mulheres, no tocante aos direitos fundamentais indispensáveis para a construção de um ser humano feliz. A Conferência Mundial de Educação Especial, realizada pelos delegados de 88 governos e 25 organizações internacionais reunidos em assembleia, sediada em Salamanca9 (Espanha) entre 7 a 10 de junho de 1994, nos traz algumas diretrizes e tem, como objeto específico de discussão, a atenção educacional aos alunos com NEE. Nela, os países signatários, dos quais o Brasil faz parte, declaram em seu item 2 (p. 1): 9 Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994. Toda criança tem direito fundamental à Educação e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem; Toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas; Sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades; Aqueles com necessidades educacionais especiais deveriam ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades; Escolas regulares, que possuam tal orientação inclusiva, constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias, criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas preveem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional. Também em seu item 3, p. 6, a Declaração estabelece que: As escolas devem se ajustar a todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, sociais, linguísticas ou outras. Neste conceito, terão de incluir-se crianças com deficiência ou sobredotados [...]. Existe um consenso crescente de que as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ser incluídos nas estruturas educativas destinadas à maioria das crianças, o que conduziu ao conceito da escola inclusiva [...] a escola inclusiva deve ser capaz de desenvolver uma pedagogia centrada nas crianças, susceptível de as educar a todas com sucesso, incluindo as que apresentam graves incapacidades [...] O mérito destas escolas não consiste somente do fato de serem capazes de proporcionar uma educação de qualidade a todas as crianças, a sua existência constitui um passo crucial na ajuda da modificação das atitudes discriminatórias e na criação de sociedades acolhedoras e inclusivas. A educação de alunos NEE congrega os princípios de uma pedagogia saudável da qual todas as crianças podem se beneficiar, admitindo que as diferenças humanas são normais e que a aprendizagem deve ser adaptadas às necessidades da crianças. Esta pedagogia centralizada na criança é benéfica para todos os alunos, pois, pode reduzir o desperdício de recursos e a destruição de esperanças (UNESCO, 1994). A declaração ainda estabelece novas concepções sobre necessidades educativas especiais e prediz em seu item 6, 7 e 8, p. 11, que: A inclusão e a participação são essenciais à dignidade e ao desfrute e exercício dos direitos humanos [...]. A reforma das instituições sociais não é, somente, uma tarefa de ordem profissional, depende, acima de tudo, da convicção, empenhamento e boa vontade dos indivíduos que constituem a sociedade [...]. O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem [...]. A pedagogia inclusiva é a melhor forma de promover a solidariedade entre os alunos com necessidades educativas especiais e os seus colegas. O que vivenciamos na prática nas escolas é que ainda há um afastamento entre as leis existentes e a realidade vivenciada por milhares de pessoas que apresentam NEE, que estão lutando por sua sobrevivência e pelo direito de serem considerados como cidadãos brasileiros de fato e de direito. A Educação Especial10 como modalidade de ensino foi legitimada com base nos incontáveis brados de profissionais, familiares e amigos das pessoas com NEE e adequadas a cada caso, respaldada pela Resolução CNE/CEB n.º 2, de 11 de setembro de 2001, da Câmara dos Deputados, que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001). Esta diretriz define em seu artigo 3.º, p. 1: Por educação especial, modalidade da educação escolar, entende-se um processo educacional definindo uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. Prediz em seu artigo 5.º, p. 2, que consideram-se educandos com NEE os que, durante o processo educacional, apresentarem: I – dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitaçõesno processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III – altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. 10 Conjunto de serviços de apoio especializados destinados a responder às necessidades especiais do aluno com base nas suas características e com o fim de maximizar o seu potencial. Têm por fim a prevenção, a redução ou a supressão da problemática do aluno e/ou a modificação dos ambientes de aprendizagem por forma a que ele possa receber uma educação apropriada às suas capacidades e necessidades (CORREIA, 2008). Também neste documento em seu artigo 7.ºestabelece que: “O atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais deve ser realizado em classes comuns de ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade da educação básica”. Prediz em seu artigo 8.° que as escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns: I – professores das classes comuns e da educação especial capacitados e especializados, respectivamente, para o atendimento às necessidades educacionais dos alunos; II – distribuição dos alunos com necessidades educacionais especiais pelas várias classes do ano escolar em que forem classificados, de modo que essas classes comuns se beneficiem das diferenças e ampliem positivamente as experiências de todos os alunos, dentro do princípio de educar para a diversidade; III – flexibilizações e adaptações curriculares que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, em consonância com o projeto pedagógico da escola; IV – serviços de apoio pedagógico especializado, realizado, nas classes comuns, mediante: a) atuação colaborativa de professor especializado em educação especial; b) atuação de professores-intérpretes das linguagens e códigos aplicáveis; c) atuação de professores e outros profissionais itinerantes intra e interinstitucionalmente; d) disponibilização de outros apoios necessários à aprendizagem, à locomoção e à comunicação. Nasceram, então, organizações para assistência educacional dos alunos NEE, visando integrá-los ao sistema educacional brasileiro. De acordo com a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadores de Deficiência, conhecida como Convenção da Guatemala11 – Decreto n.º 3.956, de 8 de outubro de 2001, onde os Estados membros reafirmam no corpo do texto (p. 1) que: as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o de não ser submetidas à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano. Prediz no seu artigo 1.º, item 1, p. 2, que o termo deficiência significa: Uma restrição física, mental ou sensorial de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades 11 Presidência da República Federativa do Brasil no uso de suas atribuições Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social. Para os efeitos dessa Convenção (2001), ainda no artigo 1.º, item 2a, p. 2, o termo discriminação contra as pessoas com deficiência: [...] significa toda a diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência [...] que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais. Ainda define em seu artigo 1.º, item 2b, p. 2 que não constitui discriminação: [...] a diferenciação ou preferência adotada pelo Estado Parte para promover a integração social ou o desenvolvimento pessoal dos portadores de deficiência, desde que a diferenciação ou preferência não limite em si mesma o direito à igualdade dessas pessoas e que elas não sejam obrigadas a aceitar tal diferenciação ou preferência. Em 1975, a ONU elaborou um documento denominado Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, cujo artigo 3° é bastante claro quanto o particular ora tratado: As pessoas deficientes têm direito inerente de respeito por sua dignidade humana. As pessoas deficientes qualquer que seja sua origem, natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que implica, antes de tudo, o direito de desfrutar uma vida decente, tão normal e plena quanto possível. Nesta época utilizava-se o termo deficiente como único a rotular as pessoas portadoras de deficiência físicas ou mentais, e esta terminologia é que as diferenciam do grupo majoritário social tido como normal ou não portador de tais deficiências (MINHOTO, 2009). Quando na verdade, todas as pessoas possuem algum tipo de condição específica, variando somente a natureza, o grau de intensidade e o grau de limitação apresentados pelos portadores, atualmente é maior o emprego e a utilização do termo pessoas com necessidades especiais para identificar o grupo de pessoas vulgarmente chamado de deficientes (MINHOTO, 2009). Na Constituição Federal, há vários artigos tutelando as pessoas com necessidades especiais, podendo-se mencionar, dentre outros, os seguintes: art. 7º, XXXI, vetando discriminação de salários e critério de admissão aos portadores de deficiência; art. 23, II, criando a obrigação formal às pessoas de direito público interno de proteger as pessoas portadoras de deficiências, incluindo no art. 37, VIII, criação de reservas de vagas em concursos públicos aos portadores de deficiência; art. 208, III, que impõe ao Estado o dever de dar atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência (MINHOTO, 2009). Após a edição e promulgação da Constituição Federal, algumas leis foram elaboradas tendo por foco a tutela das pessoas com necessidades especiais. Mencionaremos apenas algumas delas: Lei n° 7.853/89, artigo 10, modificado pelo artigo 38 da Lei n° 8.028/1990, criando a Coordenadoria Nacional para Integração das Pessoas Portadoras de Deficiência (CORDE); Lei n° 8.112/90 que, em seu artigo 5°, § 2°, regulamentou a criação de vagas (20%) em concursos público em sistema de reserva para portadores de deficiência; Lei 8.213/91, especialmente artigo 89, prevendo meios de inserção do portador de deficiência no ambiente laboral; Lei n° 8.989/95, artigo 1°, IV e artigo 1° da Lei n° 10.754/2003, garantidora de isenção de IPI12 para aquisição de automóveis por Portadores de Deficiência; Lei n°9.867/99, cujo objetivo é o de inserir o Portador de Deficiência no mercado de trabalho por meio de cooperativas sociais, com destaque para o artigo 3° (MINHOTO, 2009). Ao tratar da educação, o artigo 208 da Constituição ordena ser dever do Estado, no inciso III, tornar certo o atendimento educacional especializado às pessoas com necessidadesespeciais, preferencialmente na rede regular de ensino, com o propósito de assegurar um ambiente educacional em que as crianças, desde a tenra idade, possam conviver com a diversidade, respeitando-se e elevando-se como verdadeiras cidadãs (MINHOTO, 2009). Também em seu artigo 227 impõe ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente dignidade, respeito, convivência familiar e comunitária, colocando-os a salvo de toda a forma de discriminação e opressão, há um direito de meninos e meninas que apresentem necessidades especiais à inclusão social, 12 Dispõe sobre a isenção do Imposto Sobre Produtos Industrializados - IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como por pessoas Portadoras de Deficiência Física e aos destinados ao transporte escolar. daí a razão pela qual o § 1°, inciso II, do dispositivo constitucional obriga o Estado a promover a criação de programas de prevenção e atendimento especializado as pessoas com necessidades especiais, sensorial ou mental, bem como a integração social do adolescente que apresente necessidades especiais, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação de acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos (MINHOTO, 2009). Complementando, o § 2° do artigo 227 regra que a lei disporá sobre normas de construção de logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir o acesso adequado às pessoas com necessidades especiais, ao passo que o artigo 244 assenta que a lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo que já existirem (MINHOTO, 2009). Logo, se a competência material e a legislativa são para a proteção, para garantia e para integração das pessoas com necessidades especiais, não pode haver uma limitação apenas à facilitação do acesso, à eliminação do preconceito e à inserção social, mas também à própria garantia deles como pessoas que devem receber um tratamento digno como todo e qualquer ser humano (MINHOTO, 2009). Assim sendo, as necessidades especiais de uma pessoa não devem ser entendidas, apenas levando em consideração o grau de dificuldade para integração de uma pessoa, pois a própria existência de uma debilidade física, sensorial ou mental pode-lhe causar uma limitação que merece proteção estatal imediata (MINHOTO, 2009). A Convenção sobre os Direitos da Criança13 adotada pela Assembleia Geral nas Nações Unidas em 20 de Novembro de 1989 e ratificada por Portugal em 21 de Setembro de 1990. Trata sobre os direitos da criança com deficiência em seu artigo 23.º, item 1 (p. 16) Os Estados partes reconhecem à criança mental e fisicamente deficiente o direito a uma vida plena e decente em condições que garantam a sua 13 Lembra os princípios fundamentais das Nações Unidas e as disposições precisas de vários tratados de direitos humanos e textos pertinentes. E reafirma o fato de as crianças, devido à sua vulnerabilidade, necessitarem de uma proteção e de uma atenção especiais, e sublinha de forma particular a responsabilidade fundamental da família no que diz respeito aos cuidados e proteção. Reafirma, ainda, a necessidade de proteção jurídica e não jurídica da criança antes e após o nascimento, a importância do respeito pelos valores culturais da comunidade da criança e o papel vital da cooperação internacional para que os direitos da criança sejam uma realidade. dignidade, favoreçam a sua autonomia e facilitem a sua participação ativa na vida da comunidade. Prediz no seu artigo 23.º, item 2 e 3, p. 16, que os Estados partes reconhecem à criança com deficiente o direito de [...] beneficiar-se de cuidados especiais e encorajam e asseguram, na medida dos recursos disponíveis, a prestação à criança que reúna as condições e aqueles que o tenham a seu cargo de uma assistência correspondente ao pedido formulado e adaptada ao estado da criança e à situação dos pais ou daqueles que a tiverem a seu cargo [...]. Atendendo às necessidades específicas da criança deficiente, a assistência fornecida será gratuita sempre que tal seja possível [...] concebida de maneira a que a criança deficiente tenha efetivo acesso à educação, à formação, aos cuidados de saúde, à reabilitação, à preparação para o emprego e atividades recreativas, e beneficie desses serviços de forma a assegurar uma integração social tão completa quanto possível e o desenvolvimento pessoal, incluindo nos domínios cultural e espiritual. Na perspectiva do movimento da educação inclusiva14 o Ministério da Educação Brasileira em conjunto com Secretaria de Educação Especial em 2008 apresenta a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva que segue os avanços do conhecimento e das lutas sociais, tendendo constituir políticas públicas que vislumbrem promover uma educação de qualidade para todos os alunos. A Política Nacional de Educação Especial em seu item IV, p. 14, tem como objetivos assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação orientando os sistemas de ensino para garantir: Acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem, e continuidade nos níveis mais elevados de ensino; Transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; Oferta de atendimento educacional especializado; Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; Participação da família e da comunidade; Acessibilidade arquitetônica, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. 14 O movimento mundial pela inclusão é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola (Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, Ministério da Educação em 07 de Janeiro de 2008). Também no item VI (p. 16), a Política Nacional de Educação Especial Estabelece que Em todas as etapas e modalidades da educação básica, o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino e deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na própria escola ou centro especializado que realize esse serviço educacional. Desse modo, na modalidade de educação de jovens e adultos e educação profissional, as ações da educação especial possibilitam a ampliação de oportunidades de escolarização, formação para a inserção no mundo do trabalho e efetiva participação social. O Decreto n° 6.571, de 17 de Setembro de 2008 que dispõem sobre o atendimento educacional especializado e em seu artigo 1° destaca A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na forma deste decreto, com a finalidade de ampliar a oferta de atendimento educacionalespecializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular.§ 1°Considera-se atendimento educacional especializado o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular; § 2° O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a participação da família e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas. Prediz em seu artigo 2° os objetivos do atendimento educacional especializado I – prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos do art. 1°; II – garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; III – fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; IV – Assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis de estudo. Também em seu artigo 3° destaca que o Ministério da Educação prestará apoio técnico e financeiro às ações voltadas à oferta do atendimento educacional especializado, entre outras que atendam aos objetivos previstos neste decreto I – Implantação de salas de recursos multimídia; II – formação continuada de professores para o atendimento educacional especializado; III – formação de gestores, educadores e demais profissionais da escola para a educação inclusiva; IV – adequação arquitetônica de prédios escolares para acessibilidade; V – elaboração, produção e distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade; VI – estruturação de núcleos de acessibilidade nas instituições federais de ensino superior. O Decreto n° 6.949, de 25 de Agosto de 2009, promulga a Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, e em seu preâmbulo item C, reafirma a universalidade, a indivisibilidade, a interdependência e a inter-relação de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, bem como a necessidade de garantir que todas as pessoas com deficiência os exerçam plenamente, sem discriminação. Discorre em seu artigo 9.º, item 1 e 2, sobre questões quem envolvem a acessibilidade de pessoas com deficiências é estabelece que: A fim de possibilitar às pessoas com deficiência viver de uma forma independente e participar plenamente de todos os aspectos de vida, os Estados partes tomaram as medidas apropriadas para assegurar às pessoas com deficiências o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertas ao público, ou de uso público, tanto na zona urbana como na zona rural [...]. Edifícios, rodovias, meios de transporte e outras instalações internas e externas, inclusive escolas, residências, instalações médicas e local de trabalho [...]. Os Estados partes também tomarão medidas apropriadas para: a) Desenvolver, promulgar e monitorar a implementação de normas e diretrizes mínimas para a acessibilidade das instalações e dos serviços abertos ao público ou de uso público; f)Promover outras formas apropriadas de assistência e apoio a pessoas com deficiência, afim de assegurar a essas pessoas o acesso as informações. Igualmente em seu artigo 20° trata sobre a mobilidade pessoal e discute medidas efetivas para assegurar às pessoas com deficiência sua máxima independência no que desrespeito ao seu direito de ir e vir garantido constitucionalmente. Neste sentido facilitando a mobilidade pessoal de pessoas com deficiência, na forma e no momento em que elas quiserem, e a custo acessível. Com o Decreto n°4, de 2 de Outubro de 2009 do Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Básica, institui Diretrizes Operacionais para o atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, Modalidade Educação Especial, e em seu artigo 2° O Atendimento Educacional Especializado (AEE) tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem [...] consideram-se recursos de acessibilidade na educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços. Em seu artigo 9° a Resolução prediz que A elaboração e a execução do plano de AEE são de competência dos professores que atuam na sala de recursos multifuncionais ou centros de AEE, em articulação com os demais professores do ensino regular, com participação da família e em interface com os demais serviços setoriais de saúde, da assistência social, entre outros necessários ao atendimento. Ainda em seu artigo 10° a Resolução prediz que o projeto pedagógico da escola de ensino regular deve institucionalizar a oferta de AEE prevendo sua organização I – sala de recursos multifuncionais: espaço físico, mobiliário, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos; II – matrícula no AEE de alunos matriculados no ensino regular da própria escola ou de outra escola; III – cronograma de atendimento aos alunos; IV – plano de AEE: identificação das necessidades educacionais especiais específicas dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas; V – professores para o exercício da docência do AEE; VI – outros profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuem no apoio, principalmente às atividades de alimentação, higiene e locomoção; VII – redes de apoio no âmbito da atuação profissional, da formação, do desenvolvimento da pesquisa, do acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre outros que maximizem o AEE. O Decreto n° 7.611, de 17 de Novembro de 2011, dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências e em seu artigo 1o O dever do Estado com a educação das pessoas público-alvo da educação especial será efetivado de acordo com as seguintes diretrizes: I – garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades; II – aprendizado ao longo de toda a vida; III – não exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência; IV – garantia de ensino fundamental gratuito e compulsório, asseguradas adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais; V – oferta de apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação; VI – adoção de medidas de apoio individualizadas e efetivas, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena; VII – oferta de educação especial preferencialmente na rede regular de ensino; e VIII – apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial. § 1o Para fins deste Decreto, considera-se público-alvo da educação especial as pessoas com deficiência, com transtornosglobais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação. § 2o No caso dos estudantes surdos e com deficiência auditiva serão observadas as diretrizes e princípios dispostos no Decreto n o 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Ainda em artigo 2o o Decreto determina que a educação especial deve garantir os serviços de apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que possam obstruir o processo de escolarização de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. § 1º Para fins deste Decreto, os serviços de que trata o caput serão denominados atendimento educacional especializado, compreendido como o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucional e continuamente, prestado das seguintes formas: I - complementar à formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, como apoio permanente e limitado no tempo e na frequência dos estudantes às salas de recursos multifuncionais; ou II - suplementar à formação de estudantes com altas habilidades ou superdotação. § 2o O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a participação da família para garantir pleno acesso e participação dos estudantes, atender às necessidades específicas das pessoas público-alvo da educação especial, e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas. Art. 3o São objetivos do atendimento educacional especializado I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades individuais dos estudantes; II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino. Art. 5o A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, Municípios e Distrito Federal, e a instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular. I - aprimoramento do atendimento educacional especializado já ofertado; II - implantação de salas de recursos multifuncionais; III - formação continuada de professores, inclusive para o desenvolvimento da educação bilíngue para estudantes surdos ou com deficiência auditiva e do ensino do Braile para estudantes cegos ou com baixa visão; IV - formação de gestores, educadores e demais profissionais da escola para a educação na perspectiva da educação inclusiva, particularmente na aprendizagem, na participação e na criação de vínculos interpessoais; V - adequação arquitetônica de prédios escolares para acessibilidade; VI - elaboração, produção e distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade; e VII - estruturação de núcleos de acessibilidade nas instituições federais de educação superior. A Lei das Diretrizes e Bases da Educação Brasileira15 em seu artigo 59°, garante que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artísticas, intelectual ou psicomotora; V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. Considerando-se a LDB como Lei maior da educação em nosso país, por isso mesmo denominada, quando ser quer acentuar a sua importância, de “carta magna da educação”, ela se situa imediatamente abaixo da constituição, definindo as linhas 15 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, conhecida pela sigla LDB, foi aprovada pelo Congresso Nacional em 17 de Dezembro de 1996, promulgada em 20 de Dezembro e publicada no Diário da União de 23 de Dezembro de 1996 (SAVIANI, 2004). mestras do ordenamento geral da educação brasileira. Dado esse caráter de uma lei geral, diversos de seus dispositivos necessitam ser regulamentados por meio de legislação específica de caráter complementar, isto, acontece na Educação Especial. E é precisamente nesse contexto que vai se processando, através de iniciativas governamentais, o delineamento das políticas educacionais que se busca implementar as pessoas com NEE. Nas leis analisadas que fundamentam a Inclusão nos âmbitos nacional e internacional, observamos que, em sua totalidade, objetivam-se em assegurar o direito à Educação como uma medida elementar assumida pelos países membros, pois, em função dos debates acompanhados nesse sentido, os governos compreendem que somente por meio da Educação é que os apavorantes índices de analfabetismo, desemprego e discriminações, podem efetivamente ser amenizados. 1.2 A filosofia da inclusão Não há criança nenhuma que não queira aprender [...] em que tecto é que uma criança [...] com necessidades educativas especiais, aprenderá melhor? Numa escola Regular? Numa escola Especial? Numa instituição particular de solidariedade social? O movimento inclusivo tende a prescrever a classe regular de uma escola regular como o local ideal para as aprendizagens do aluno com NEE, que ele encontrará o melhor ambiente de aprendizagem e de socialização, capaz de, se todas as variáveis se conjugarem, vir a maximizar o seu potencial. Uma escola inclusiva é, assim, uma escola onde toda criança é respeitada e encorajada a aprender até o limite de suas capacidades. Mas como construí-la? (CORREIA, 2008, p. 07). Neste sentido a educação tende a refletir a filosofia política de toda sociedade. Em uma democracia onde se acredita que o Estado existe para promover o bem estar do indivíduo, a educação tem de se organizar visando principalmente este objetivo. A afirmação “Todos os homens são iguais perante Deus” tornou-se banal, mas ainda é importante para a educação de uma sociedade democrática. Toda criança tem o direito de aprender até o limite de suas capacidades, seja ela pequena ou grande (KIRK & GALLAGHER, 1996, p. 4). Durante os anos 80, nos EUA, a relação entre o sistema de educação especial e o sistema de educação regular tornou-se um assunto de preocupação entre políticos, investigadores e defensores dos direitos das crianças com NEE (MARTINS, 2000). Isto posto, a Filosofia da Inclusão marcou seu início quando a então secretária de Estado para a Educação Especial do Departamento de Educação Madeleine Will, em 1986 nos EUA, fez um discurso que apelava a uma mudança radical no atendimentode crianças com NEE e em Risco Educacional. Para esta secretaria de Estado, a solução para a educação especial passava por uma maior colaboração entre os docentes do ensino regular e os docentes da educação especial. Uma cooperação que permitisse a análise das Necessidades Educativas dos alunos com problemas de aprendizagem e a elaboração de estratégias que respondessem a essas necessidades (CORREIA, 2008). É neste apelo à mudança nascia o Regulation Education Iniciative (REI) em que Will defendia a adaptação da classe regular por forma a tornar possível ao aluno a aprendizagem nesse ambiente, e desafiava os estudiosos a encontrarem formas de atender o maior número de alunos na classe regular, encorajando os serviços de educação especial e outros serviços especializados a associarem-se ao ensino regular. O movimento REI surge como o primeiro pilar do princípio inclusão, princípio que começou a receber uma atenção muito especial por parte dos educadores e investigadores (CORREIA, 2008). Contudo a prestação de serviços adequados e apoios suplementares aos alunos com NEE nas classes regulares de ensino levantam um conjunto de questões das quais Correia (2008, p. 08) destaca: - Que tipo de mudanças será necessário efetuar-se na classe regular quando à sua organização, gestão e apropriação curricular? - Que ratio professor-aluno? - Que formação (inicial, especializada, continuada) para o professor (do ensino regular, da educação especial)? - Que tipo de envolvimento parental (direto, indireto). - Que tipos de recursos humanos e materiais têm de ser considerados (técnicos especializados – psicólogos, terapeutas, técnicos dos serviços, sociais, etc. – dentro da classe regular quando necessário; financiamento apropriado)? - Que tipo de legislação deve ser criada? - Que tipo de atitudes e expectativas devem mudar? Estas questões são pertinentes, e se ressalta dois pontos importantes. O primeiro tem a ver com o fato mudança, ou seja, a realização de reformas de fundo não ocorrem de um dia para o outro, devem ser sempre um processo em curso devidamente estudado. O segundo aspecto relacionado com a filosofia do “tudo ou nada”, que não nos parece realista, nem exequível, face ao clima educacional do momento e aos recursos existentes, tentar impor uma filosofia que continua a ser tão debatida por investigadores e educadores sem que se antevejam resultados que façam perder o fiel da balança para qualquer um dos pratos e cuja investigação nada de concludente tem ainda para nos dar. Para Correia (2008), o princípio da inclusão não deve ser tido como um conceito inflexível, mas deve permitir que um conjunto de opções seja considerado sempre que a situação exija, somos a favor da inserção de alunos com NEE na classe regular, mais se deve acreditar também na preservação de seus direitos, que podem ser postos em causa, caso não se respeitem as características individuais e as necessidades específicas desse mesmo aluno (CORREIA, 2008, p. 09). Para Correia (2008), a inclusão é A inserção do aluno na classe regular, onde, sempre que possível, deve receber todos os serviços educativos adequados, contando-se, para esse fim, com um apoio apropriado (docentes de educação especial, outros técnicos, pais, etc.) às suas características e necessidades [...]. Estes serviços educativos devem ser complementados com tarefas que envolvam uma participação comunitária que possibilite ao aluno o desenvolvimento de aptidões inerentes ao cotidiano de cada um (lazer, emprego, ajustamento social, independência pessoal, etc.). [...] a inclusão baseia-se, portanto, nas necessidades da criança, vista como um todo, e não apenas no seu desempenho acadêmico, comparado, ainda por cima, tantas vezes, com o desempenho acadêmico do aluno médio [...] O princípio da inclusão apela, assim, para uma escola, por nós designada de escola contemporânea [...] que tenha a atenção da criança como um todo, não só a criança-aluno, e que, por conseguinte, respeite três níveis de desenvolvimento essenciais: acadêmico, socioemocional e pessoal, para proporciona-lhe uma educação apropriada, orientada para a maximização do seu potencial. Neste sentido a escola contemporânea, necessita agir para além das finalidades que a caracterizam, deve torna-se, também, um centro para atividades comunitárias que se ajustem a todas as crianças e respectivas famílias. Nesta ótica devemos considerar o aluno com NEE como um todo e como centro de atenção por parte da Escola, da Família e da Comunidade. Porém, segundo Correia (2008) há um conjunto de responsabilidades que tem de ser assumido pelas várias entidades que formam o sistema inclusivo das quais, podem- se destacar: o Estado que deve ter preocupações relativas sensibilização do público em geral até à tomada de medidas legislativas inerentes à consecução das reformas necessárias à implementação de sistema inclusivo; Quanto à Escola deve dar particular atenção à formação, quer do professor do ensino regular e da educação especial, quer de quaisquer outros técnicos e, até, pessoas dos órgão administrativos e gestão da escola; No que diz respeito à participação da Família deve-se levar em consideração várias variáveis para que ela (a escola) possa vir a desempenhar com sucesso o seu papel na educação do aluno com NEE; Finalmente, também a Comunidade deve desempenhar um papel relevante na educação e transição para a vida ativa do aluno com NEE. O choque de valores e práticas entre a herança e o desígnio inclusivo da escola é de tal modo importante que, a forma como nos deveríamos referir as mudanças relativas a Filosofia da Inclusão escolar de alunos com NEE, deva ser apresentada em elementos. Assim Martins (2012, p. 42-50) sustenta que para o sucesso da Filosofia da Inclusão escolar alguns elementos deverão ser levados em consideração: 1. Visão e Comprometimento: O primeiro [...] componente da implementação de um modelo inclusivo referida pela literatura, será a introdução de uma visão e de um comprometimento comum sobre a filosofia inclusiva a implementar [...]. 2. Liderança: [...] desempenha um papel importante e crucial no processo de implementação e desenvolvimento de um modelo inclusivo [...]. 3. Práticas de Colaboração: Quando se procura implementar, nas escolas, um modelo inclusivo que promova mudanças estruturais, políticas, e de atitude, devem existir relações de colaboração, e interações ao nível, da classe regular, da escola, da região e do País [...]. 4. Desenvolvimento Profissional: Muitos profissionais têm de adquirir e/ou aperfeiçoar competências, devido a implementação de um modelo inclusivo. Esta idéia realça um pressuposto essencial para o sucesso da escola inclusiva: a valorização e oferta de oportunidades de desenvolvimento profissional [...]. 5. Serviços de Apoio de Qualidade: A existência de serviços de apoio de qualidade é um aspecto constantemente identificado com o processo de implementação de um modelo inclusivo, o que implica um processo ativo de definição, e de oferta, de apoios a alunos, a famílias, e a profissionais [...]. 6. Modelos de Intervenção Multi-Nível: as escolas devem implementar um modelo de prevenção que assegure: (1) a prevenção primária: a existência de ensino de qualidade para todos os alunos; (2) a prevenção secundária: intervenções cientificamente elaboradas para os alunos que não respondem a prevenção primária; (3) a prevenção terciária: fornecimento de serviços individualizados intensivos, para aqueles alunos que não responderem nem a um ensino de qualidade, nem às subseqüentes intervenções[...]. 7. Cultura de Escola, e de Sala de Aula que Receba, Aprecie, e se Adapte à Diversidade: Para que as reformas que promovem um modelo inclusivo tenham sucesso, às escolas deverão tornar-se comunidades de apoio, onde todos os alunos se sintam valorizados, seguros e apoiados [...]. 8. Práticas Educativas Eficazes: As práticas promovidas pela implementação da filosofia inclusiva têm como principal objetivo proporcionar a todos os alunos um ensino útil, benéfico, dinâmico e de qualidade. Ensinar alunos que apresentam características tão diversas, requer a utilização de práticas educativas flexíveis, ao invés de abordagens rotineiras, pouco diversificadas e iguais para todos [...]. 9. Práticas de Avaliação Frequente e Sistemática: A avaliação, quer dos alunos, quer do processo de mudança, representa uma questão fundamental durante a implementação de modelo inclusivo nas escolas [...]. Devem ser utilizadas formas de avaliação que assegurem que cada aluno progrida e atinja o seus objetivos, sendo a monitorização com base no currículo uma forma de apoiar os professores na tomada de boas decisões sobre a progressão dos alunos e a melhoria da qualidade do ensino. A acelerada adoção pela sociedade da oratória inclusiva encontra-se longe de dar passos decisivos para erradicação da exclusão. E, se estivesse, isso seria certamente paradoxal dado que, ao nível mundial, dificilmente podemos constatar a diminuição da exclusão ao vermos o fosso entre os ricos e os pobres a aumentar, a questão religiosa crescer de relevância, a existência de países e continentes com futuro e países e continentes sem futuro (RODRIGUES, 2003). Um olhar sobre estas perspectivas mostra que a Filosofia Inclusiva é, pois, uma ruptura com os valores da escola tradicional. Rompe com o conceito de um desenvolvimento curricular único, com o conceito de aluno padrão estandartizado, com o conceito de aprendizagem como transmissão e de escola como estrutura de reprodução. Os docentes apesar de serem muitas vezes apontados como os “bodes expiatórios” da inclusão, são a esperança da inclusão. Os Professores fazem parte das “boas” notícias da inclusão escolar de alunos com NEE (RODRIGUES, 2003, p. 100). Nós educadores devemos refletir sobre a educação brasileira e pensar em que tipo de escolas nossos estudantes com NEE das classes regulares de ensino vêm tendo acesso? A escola espaço físico ou escola espaço educacional? Escolas voltadas a atender as NEE de nossos estudantes, ou uma escola excludente? 2 INCLUSÃO EDUCATIVA DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS NA ESCOLA REGULAR Neste tópico, são abordadas questões sobre a funcionalidade cotidiana dentro do espaço escolar, buscando compreender de maneira resumida, porém, fundamentada teoricamente, sobre as ocorrências que perpassam dentro do âmbito do espaço educativo no que refere ao que é o dito e o que é feito na escola. Vislumbra-se refletir sobre os vários desenhos da exclusão existentes no interior da escola, buscando delinear caminhos reflexivos para que a educação inclusiva, ação direcionada pelo paradigma educacional na atualidade, para que possa ocorrer concretamente na práxis pedagógica do professor de Educação Física. Nesta análise, enfocamos nossa visão para os alunos que apresentam NEE, que fazem parte das diversidades existentes na escola e que necessitam de olhar especial e adaptações curriculares para serem incluídos e não excluídos no contexto educacional, e esta realidade representa um grande desafio aos educadores na atualidade. Apresentamos ainda, nesse tópico, a informações referente ao Professor de Educação Física, os fatores relevantes para sua identificação e práxis educacional, refletido sobre suas atitudes frente a inclusão educativa de alunos com NEE. Para compreendermos melhor a organização das temáticas abordadas, subdividimos este tópico em quatro subtópicos. 2.1 As idéias do âmbito educacional entre o dito e o feito: a escola que inclui/exclui Após os estudos sobre as políticas educacionais destinadas aos alunos com NEE adotadas no Brasil e no Mundo, buscamos idéias para compreender e falar sobre a “in(ex)clusão” dos alunos com NEE nas escolas e o porquê da proposição de uma educação diferenciada para os grupos sociais em desvantagens. Todos temos esperança que a educação multiplique resultados e que as crianças aprendam ler e escrever, que os alunos aprendam a ser bons cidadãos, que eles superem a ignorância, que eles aprendam comportamentos éticos, que sejam solidários uns com os outros, que cuidem da natureza preservando o meio ambiente, que se comuniquem uns com os outros para trabalhar em cooperação para o bem comum, que sejam líderes responsáveis. Porém o que temos realmente realizado com os processos educativos atuais? De acordo com Lindo (2010, p. 23) La educación ha ganado una gran centralidad en los últimos cincuenta años debido, entre otras cosas, a la masificación del acceso a la escolarización, al mejoramiento del perfil educativo de la fuerza de trabajo, a la expansión de la cultura de masas y al desarrollo de los sistemas de información. Todo esto ha dado lugar a un nuebo entorno que algunos han denominado la sociedad de la educación o la sociedad educativa. Lindo (2010, p. 23), ainda destaca que: Al mismo tiempo que crecía la importancia de los mecanismos de comunicación y de aprendizaje en la sociedad, también se fueron relativizando los agentes educativos tradicionales tales como la escuela o la universidad. Los individuos han encontrado o buscan otros mecanismos para instruirse: sistemas informales, escuelas comunitarias o corporativas, educación a distancia, educación domiciliaria. Aparecen procesos de desescolarización (como el fenómeno del “home schooling”). También, avanza, paradójicamente, el iletrismo, el número de individuos que tienen dificultades para leer y escribir a pesar de haber pasado por la escuela primaria y secundaria. Hoje, na sociedade, dita globalizada, do conhecimento, ou com qualquer outra denominação, qual é o papel que cabe à escola desempenhar? Educar para a conformação dos ditames Políticos? Ou formar sujeitos críticos, instrumentalizando-os tecnicamente e moralmente para que assim aceitem e convivam com as diferenças individuais e sociais de cada ser humano, independentemente de suas condições específicas, para viver num mundo em constante transformação, mas, em essência, ainda, humano? (BRANCO & SICSÚ, 2010). A quantidade de alunos que apresentam NEE incluídas na escola regular aumentou significativamente nos últimos anos em muitos países. Vários fatores contribuíram para viabilidade e expansão da filosofia inclusiva que promoveu este fenômeno (MARTINS, 2000). As transformações, especialmente, na década de 90, no campo da tecnologia da informação e da comunicação, nas formas de reorganização das forças produtivas, na ordem política mundial, comprovam que o mundo mudou. Por conta disso, novas demandas científicas e sociais se impõem aos homens, à sociedade e, por extensão, à escola. E, então, ao olharmos para a escola pública brasileira, podemos, afirmar, categoricamente, que mudou? Em quais aspectos? Mello (1998, p. 9) retrata uma realidade, da década de 80, que quase não se alterou? Mas o ensino público brasileiro não mudou. Manteve os mesmos índices espantosos de repetência e fracasso escolar, o mesmo esvaziamento dos conteúdos do conhecimento sistematizado. Nossas escolas continuam
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