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A GEOGRAFIA DO RIO GRANDE DO SUL EM MEADOS DO SÉCULO XX: RETRATOS DO TERRITÓRIO E DA PRODUÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS Eduardo Schiavone Cardoso (Org.) Cesar De David (Org.) AGB Porto Alegre A GEOGRAFIA DO RIO GRANDE DO SUL EM MEADOS DO SÉCULO XX: RETRATOS DO TERRITÓRIO E DA PRODUÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS Organização Eduardo Schiavone Cardoso Cesar De David Porto Alegre 2014 Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção Porto A Geografia do Rio Grande do Sul em meados do século XX: Retratos do território e da produção da Associação dos Geógrafos Brasileiros./ Eduardo Schiavone Cardoso (Org.), Cesar De David (Org.). – Porto Alegre: AGB, 2014. 112f. il. ISBN: 978-85-89861-07-6 1.Geografia. 2.Território. 3.Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção Porto Alegre. I.Eduardo Schiavone Cardoso (Org.). II. Cesar de David (Org.). III. Título CDU 91(816.5) _____________________________ Catalogação na Publicação Alexandre Ribas Semeler CRB10/1900 MEMBROS DA GESTÃO 2013/2014 DA AGB – SEÇÃO PORTO ALEGRE Adriana Dorfman – Comissão de Publicações e Intercâmbio Andréa Ketzer Osório – Diretoria e Comissão de Ensino e Educação Popular Artur Czermainski Klassmann - Comissão de Ensino e Educação Popular Bruno Xavier Silveira - Coletivo de Secretaria e Comissão de Ensino e Educação Popular Carlos Aigner - Comissão de Ensino e Educação Popular Cláudia Pires - Comissão Interdisciplinar de Assuntos Profissionais e Comissão de Movimento Urbano Cristiano Quaresma de Paula - Comissão de Geografia e Ambiente Dilermando Cattaneo da Silveira – Comissão de Geografia e Ambiente Dirce Maria Antunes Suertegaray - Comissão de Geografia e Ambiente Evelin Cunha Biondo - Comissão de Geografia e Ambiente Everton de Moraes Kozeniesky – Comissão Interdisciplinar de Assuntos Profissionais Fabrício da Silva Caetano - Comissão de Geografia e Ambiente e Comissão Interdisciplinar de Assuntos Profissionais Felipe Akauan Silveira - Coletivo de Publicações e Intercâmbio Felipe da Costa Franco - Coletivo de Comunicação e Comissão de Movimento Urbano Gerson Pagano Galli - Comissão Interdisciplinar de Assuntos Profissionais Igor Dalla Vecchia - Coletivo de Publicações e Intercâmbio e Comissão deMovimento Urbano João Pedro Izé Jardim - Comissão de Movimento Urbano Kinsey Pinto - Comissão de Ensino e Educação Popular Lara Machado Bitencourt – Coletivo de Comunicação e Comissão de Movimento Urbano Lara Caccia Schmitt - Coletivo de Tesouraria e Coletivo de Publicações e Intercâmbio Luciana de Mello - Coletivo de Comunicação e Comissão de Geografia e Ambiente Lucimar Fátima Siqueira – Comissão de Movimento Urbano Marcelo Lopes de Souza - Comissão de Movimento Urbano Marília Guimarães - Coletivo de Tesouraria e Comissão de Movimento Urbano Nelson Rego - Comissão de Movimento Urbano Neudy Alexandro Demichei - Comissão de Ensino e Educação Popular Rafael Zílio - Comissão de Movimento Urbano Renan Darski - Coletivo de Secretaria e Comissão de Ensino e Educação Popular Renan William Freitas – Coletivo de Secretaria e Comissão de Ensino e Educação Popular Renata Ferreira da Silveira – Diretoria e Comissão de Movimento Urbano Rosilene Mendonça Dutra - Comissão de Ensino e Educação Popular Sabrina da Rosa Freitas - Coletivo de Secretaria e Comissão de Movimento Urbano Shaiane Carla Gaboardi - Comissão de Movimento Estudantil Sian Carlos Alegre - Comissão de Movimento Estudantil Silvana Campos Silveira - Comissão de Geografia e Ambiente Sinthia Cristina Batista - Comissão de Movimento Agrário Suhellen Maiochi - Comissão de Movimento Estudantil e Comissão de Ensino e Educação Popular Tânia Ferreira da Luz - Comissão de Movimento Agrário Tarso Germany Dornelles - Comissão de Ensino e Educação Popular Theo Soares de Lima - Coletivo de Publicações e Intercâmbio Tiago Bassani Rech – Tesouraria e Comissão Interdisciplinar de Assuntos Profissionais Tuana da Costa Heres - Comissão de Ensino e Educação Popular Wagner Innocencio Cardoso – Coletivo de comunicação William Martins da Rocha – Coletivo de Secretaria COMISSÃO EDITORIAL Adriana Dorfman Felipe Akauan da Silva Igor Dalla Vecchia Lara Caccia Schmitt Nelson Rego SUMÁRIO PREFÁCIO: OUTRO/MESMO MUNDO Nelson Rego....................................................................................................................................................................................5 APRESENTAÇÃO César De David & Eduardo Schiavone Cardoso................................................................................................................................6 A AGB E A PRODUÇÃO DA GEOGRAFIA DO RIO GRANDE DO SUL Samanta Diulli Alterman; Bruna Camila Dotto; Marcelo Bêz & Eduardo Schiavone Cardoso..........................................................7 PARTE 1: A PRODUÇÃO NO “ALVORECER DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA”...........................................................10 CAPÍTULO 1: AS PAISAGENS DO RIO GRANDE DO SUL: IMPRESSÕES DE VIAGEM: Aroldo de Azevedo........................................................................................................................................................................11 CAPÍTULO 2: REGIONES NATURALES DE RIO GRANDE DEL SUR Y DEL URUGUAY: Jorge Chebataroff..........................................................................................................................................................................19 CAPÍTULO 3: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA CAMPANHA GAÚCHA. Miguel Alves de Lima....................................................................................................................................................................36 PARTE 2: A PRODUÇÃO NA “AFIRMAÇÃO” DA GEOGRAFIA BRASILEIRA........................................................51 CAPÍTULO 4: PRADERAS DE LA AMÉRICA DEL SUR TEMPLADA. Jorge Chebataroff..........................................................................................................................................................................52 CAPÍTULO 5: A REGIÃO DE SÃO GABRIEL. Nice Lecocq Müller (coord.)..........................................................................................................................................................71 CAPÍTULO 6: A VEGETAÇÃO DA FAIXA COSTEIRA SUL-RIO-GRANDENSE. Ir. Juvêncio..................................................................................................................................................................................100 CAPÍTULO 7: A CONTRIBUIÇÃO DA COLONIZAÇÃO ALEMÃ À VALORIZAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL. Jean Roche..................................................................................................................................................................................107 POSFÁCIO: A AGB NA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO REGIONAL Adriana Dorfman........................................................................................................................................................................111 5 PREFÁCIO OUTRO/MESMO MUNDO Um filme em preto e branco desperta nossa atenção tanto pelo contraste que sentimos em relação aos modos pelos quais, na narrativa, os sentimentos e valores do mundo passado se expressavam quanto pelo registro das técnicas antigas. Talvez sintamos, ao mesmo tempo, distanciamento e pertencimento a esse mundo que passou e nos é devolvido pela tela em preto e branco. De maneira similar, a variada face do interesse - narrativa, técnica, distanciamento, pertencimento - nos acontece diante da leitura dos textos reunidos neste livro. Vejam-se, por exemplo, estes trechos do escrito por Aroldo de Azevedo: “É bem conhecida a pobreza da bibliografia referente ao Rio Grande do Sul. (...) apenas podem os geógrafos contar com estudosmonográficos, de profundidade variável e de caráter nem sempre estritamente geográfico. (...) Por isso tudo, não sentimos cons- trangimento em escrever as presentes ‘Notas prévias’ que contém exclusivamente algumas impressões deixadas por uma viagem levada a efeito através de larga porção do Rio Grande do Sul, foi-nos dado o prazer de percorrer, em automóvel, as áreas de ... “ Num mundo que existiu muito antes do SIG, do GPS, do Google Earth e das estradas marcadas por pedágios, foi esse Rio Grande do Sul, ainda longínquo e desconhecido para os brasileiros habitantes do Brasil nuclear, que mereceu o interesse e a justificativa expressos pelo eminente geógrafo - no preâmbulo do relato e das análises realizadas com as técnicas da época. Trata-se do relato sobre um outro mundo, e do nosso mesmo mundo. Assim como um clássico do cinema antigo - por exemplo, “Em busca do ouro”, do Chaplin -, traz a nós um outro tempo e, simultaneamente, nele podemos encontrar o mo- vimento da história, onde o mundo de agora já se fazia presente na expansão assimiladora de todas as fronteiras, materiais e simbólicas, podemos, de modo semelhante, encontrar nos textos deste livro tanto o mundo que passou quanto identificar raízes de saberes geográficos e do mundo de hoje. Recuperar e interpretar a história do conhecimento é um modo de constituir com nova solidez essa herança, assim como uma via para instaurar a própria possibilidade de mudanças de rumos na história desse conhecimento. Congratulações, pois, ao Eduardo Schiavone Cardoso e ao Cesar de David, por seu trabalho de escavação e de trazer à luz suas descobertas - contribuição inestimável para nos, geógrafos, que costumeiramente descuidamos da responsabilidade de melhor conhecermos a história do nosso conhecimento. Em especial, agradeço em nome da Associação dos Geógrafos Brasileiros, a esse trabalho que recupera registros de tal vulto relacionados à história da entidade. Boas leituras! Nelson Rego Presidente da Diretoria Executiva Nacional da Associação dos Geógrafos Brasileiros, gestão 2010-2012 Porto Alegre, 01 de janeiro de 2012 6 APRESENTAÇÃO A proposta desta obra consiste em reeditar os documentos apresentados e produzidos sobre o estado do Rio Grande do Sul, nas Assembléias Ordinárias da Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB, realizadas nas décadas de 1940, 1950 e 1960, possibilitando o resgate, a sistematização, a análise, o reconhecimento e valorização de tais trabalhos. Esses textos aqui reuni- dos, representam parte significativa dos esforços da Geografia brasileira em compreender a diversidade do território brasileiro e sua contribuição no processo de produção do conhecimento científico a respeito do Rio Grande do Sul e, mais especificada- mente, da região da Campanha Gaúcha. Com esta publicação temos três intenções básicas. Uma é agrupar, inventariar e dar visibilidade a produção sobre a Ge- ografia do Rio Grande do Sul, até então dispersa, produzida a partir das Assembleias da Associação dos Geógrafos Brasileiros, realizadas nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Outra é reconhecer a importância dos trabalhos realizados, apresentando os conceitos e temas desenvolvidos nesses estudos precursores, como expressões de um fazer científico que marca um momento específico da prática dos geógrafos brasileiros, que reconhecidos nacional e internacionalmente, escreveram a Geografia gaú- cha. E, por fim, preservar a memória da AGB – compromisso de toda a comunidade da qual fazemos parte –, e desses textos clássicos da Geografia brasileira e gaúcha, oportunizando um sólido alicerce para as pesquisas do presente e do futuro. Os acervos e anais das Assembléias da Associação dos Geógrafos Brasileiros, das décadas de 1940 a 1960, estão arquiva- dos, na Biblioteca da AGB em São Paulo, bem como nos acervos de outras instituições. Uma parte deste material, dentre eles os anais da XIII Assembléia Geral Ordinária da Associação dos Geógrafos Brasileiros, ocorrida em 1958 na cidade de Santa Maria, foi organizada por Dora de Amarante Romariz, e foram publicados pela AGB em tomos e volumes. Também foram publicados trabalhos avulsos, referentes aos resultados dos relatórios das pesquisas de campo realizados durante as assembléias. Tratou-se de realizar o levantamento e a análise destes materiais, identificando artigos e passagens referentes ao Estado, de modo a sistematizá-los e disponibilizá-los sob a forma de uma publicação. Foram identificados sete trabalhos relativos aos distintos aspectos da geografia do Rio Grande do Sul, que estão aqui reeditados. Possibilita-se, assim, o acesso a significativas referências histórico-geográficas produzidas pelo trabalho de geógrafos de meados do século XX, para o desenvolvimento de novas pesquisas sobre o Rio Grande do Sul, ampliando as possibilidades de investigação e tornando conhecidas estas fontes de conhecimento. Os textos foram obtidos a partir das publicações localizadas nas bibliotecas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e da seção São Paulo da AGB. Agradecemos a estas instituições pela disponibiliza- ção desse material. Nossos mais sinceros agradecimentos a Associação dos Geógrafos Brasileiros por permitir a publicação dos textos sob sua guarda e, mais que isso, pelo incentivo à realização deste trabalho. Nossos agradecimentos também à Fapergs, que através de seu programa de iniciação científica, permitiu que jovens geógrafos integrassem esta empreitada. Esperamos contribuir com os estudos e pesquisas a respeito da Geografia do Rio Grande do Sul, tanto de geógrafos quanto dos demais interessados nessa área do conhecimento, ao oportunizar novos olhares sobre o que esses clássicos revelam de nos- sa Geografia e, por que não, também o que podem manter encoberto. Aos leitores nosso desejo que redescubram no antigo, sempre novas geografias. Eduardo Schiavone Cardoso Cesar De David 7 A AGB E A PRODUÇÃO DA GEOGRAFIA DO RIO GRANDE DO SUL SAMANTA DIULI ALTERMANN BRUNA CAMILA DOTTO MARCELO BÊZ EDUARDO SCHIAVONE CARDOSO Traçar uma linha do tempo para situar o leitor no conjunto dos trabalhos que compõe este livro é uma tarefa que exige escolhas. A nossa toma como ponto de apoio a proposta de Monteiro (2002), que sistematiza o desenvolvimento da Geografia brasileira a partir de um conjunto de etapas evolutivas ao longo do século XX, até o início do século XXI. A primeira delas, definida pelo autor, corresponde ao período de 1900 – 1935 e é denominada de “Preparação para Geo- grafia Cientifica”. Embora não houvesse formação acadêmica especialmente dirigida à Geografia, egressos das ciências naturais e sociais já se reuniam numa Sociedade de Geografia fundada em 1883, posteriormente intitulada Sociedade Brasileira de Geo- grafia. Inauguram-se os Congressos Brasileiros de Geografia, em 1909 e já se dispunha de um razoável acervo de conhecimentos geográficos produzidos sobre vários aspectos da Geografia do Brasil. A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) foi fundada em 1934, no mesmo ano em que se iniciavam os cursos de Geo- grafia em nível universitário no país, dando início ao período chamado de “O Alvorecer da Geografia Cientifica” que abrange os anos de 1935 a 1956. Este se divide em dois momentos, de acordo com Monteiro (2002): o primeiro, de 1935 a 1948, inicia-se com a criação da Universidade de São Paulo, especificadamente com a sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, e poste- riormente pela fundação da AGB e do IBGE na cidade do Rio de Janeiro. São estes três vetores: Universidades-AGB-IBGE, que trilharam e apontaram os caminhos da Geografia brasileira no século XX. A AGB teve uma atividade mais localizada durante seus primeiros dez anos. Com o crescimento do número de geógrafos formados no país, em 1945 foi realizada uma reunião na cidade do Rio de Janeiro para a reformulação nos seus estatutose previsão de realizar assembleias anualmente, em diversos lugares do Brasil. A primeira ocorreu em Lorena-SP, seguida pela Assembléia Geral no Rio de Janeiro e posteriormente em Goiânia. Foi nesse momento que, em 1948, ocorreu a retomada dos Congressos Internacionais que a União Geográfica Interna- cional realizava a cada quatro anos, interrompidos durante a Segunda Guerra Mundial. No congresso realizado em Lisboa, pela primeira vez, compareceu uma delegação brasileira apresentando comunicações e filiando-se a algumas das “comissões” man- tidas por aquela entidade. O segundo momento do “Alvorecer da Geografia Científica”, de 1949 a 1956, foi caracterizado pelo início da intensa ati- vidade da AGB, realizando uma verdadeira “cruzada” de divulgação cientifica e difusão profissional da Geografia pelo Brasil. Seus associados pertenciam a duas ordens de qualificação: os “sócio-efetivos” eleitos com o vínculo da titulação universitária e produção de trabalhos geográficos e os “sócio-colaboradores” interessados na geografia e em ciências afins, além de geógrafos, estudantes universitários e professores secundários de geografia. As assembléias de Lorena e do Rio de Janeiro, ensaiaram um modelo de reunião em que, além da apresentação de comu- nicações – então submetidas à análise crítica dos sócios mais graduados – havia a realização de trabalhos de campo, efetuados durante três dias, por grupos de trabalho sob orientação de um coordenador, trabalhando nas vizinhanças da cidade anfitriã e no estudo da própria cidade. Nas Assembleias Gerais Ordinárias realizadas anualmente em diferentes locais e diferentes regiões brasileiras eram re- crutados novos sócios, e à medida que se implantavam novas Universidades, instalavam-se novos centros ou seções regionais da AGB. As seções regionais passaram a publicar revistas científicas especializadas em Geografia, sendo o Boletim Paulista de Geografia, com a primeira edição lançada em 1949, o mais antigo em funcionamento nesse novo formato de publicações da AGB. Outras Seções Regionais lançariam seus boletins científicos nesse período, tal como o Boletim Carioca de Geografia. Vinte anos após sua fundação, a AGB realiza o I Congresso Brasileiro de Geógrafos na cidade de Ribeirão Preto-SP e, a partir deste ano, iniciou-se a tradição de realizar “Congressos Nacionais de Geógrafos” a cada dez anos. Intitulado “A caminho da afirmação”, o terceiro período vai de 1956 a 1968, em que o evento primordial de transição da fase de formação para a de afirmação é o XVII Congresso Internacional de Geografia da UGI, realizado no Rio de Janeiro em 1956. Neste, a própria preparação e realização tornaram-se a prova da capacidade dos geógrafos brasileiros em sua inserção internacional. Seguindo sua proposta, Monteiro (2002) apresenta ainda as transformações e incertezas do final do século XX. Destaca a realização da Primeira Conferência Nacional de Geografia, patrocinada pelo IBGE, no Rio de Janeiro, em 1968. Este evento foi utilizado como palco para a “proclamação oficial” da adoção de novas práticas de análise geográfica, a partir da chamada “Revolução Quantitativa”. Outros dois conjuntos de acontecimentos são referenciados pelo autor, neste período. O primeiro inclui a reunião da Comissão da UGI para estudo de Métodos Quantitativos, realizada em 1971 no Rio de Janeiro e a formação da Associação de Geografia Teorética, com a publicação do primeiro número de seu Boletim, em Rio Claro – SP. No segundo conjunto de aconte- cimentos, realiza-se a XXIII Assembleia Geral Ordinária da AGB, em Montes Claros (1968) encerrando o ciclo das Assembléias Gerais Ordinárias. No ano de 1970 ocorre a reforma dos estatutos da AGB, promovendo os Encontros Nacionais de Geógrafos (ENG), a cada dois anos. Sediado em Presidente Prudente – SP em 1972, o primeiro ENG inicia uma nova dinâmica de encontros e reuniões 8 da AGB, que já realizou quase duas dezenas de encontros nacionais até hoje, além de manter a realização dos “Congressos Nacionais” a cada dez anos. OS TEXTOS E A DIFUSÃO DOS TRABALHOS SELECIONADOS Os textos que compõe esta publicação foram apresentados e discutidos durante algumas das Assembléias Gerais Ordiná- rias realizadas pela AGB nas décadas de 1940, 1950 e 1960 e o contato com o material produzido pelos geógrafos, que estavam presentes nos eventos, proporcionou uma viagem aos primórdios da Geografia produzida sobre o Estado do Rio Grande do Sul. A importância histórica e científica dos trabalhos permite o desenvolvimento de estudos mais aprofundados, buscando resgatar e valorizar os saberes dos autores hoje reconhecidos. Destacamos os aspectos referentes às vivências de jovens pesquisadores ao adentrar nas discussões e reflexões dos au- tores da época, pensando e analisando o espaço geográfico gaúcho na interrelação com os pressupostos modernos. Pode-se identificar e considerar as dificuldades que os cientistas encontravam nas muitas realidades com as quais se deparavam, valori- zando seus esforços em descrever e analisar por meio dos trabalhos de campo, do contato direto com as práticas dos moradores locais, bem como com as paisagens distintas e, em alguns casos, desconhecidas. Algumas considerações e observações referentes aos distintos momentos da dinâmica da AGB de então, em que tais trabalhos foram veiculados ou produzidos, também podem ser tecidas. Ainda que divulgados nos momentos das Assembléias Ordinárias anuais, algumas atividades complementavam esses momentos, tais como os simpósios, congressos e trabalhos de campo, demonstrando o dinamismo da entidade. Sendo assim, dos sete trabalhos elencados, três são resultados de atividades realizadas concomitantemente às Assem- bléias. São eles: o I Congresso Brasileiro de Geógrafos, o Simpósio Colonização e Valorização Regional e o relatório de trabalho de campo. Isso pode sugerir uma dinâmica de atividades de produção e divulgação do conhecimento geográfico, por meio da AGB, que começa a sinalizar para dois caminhos: a otimização dos momentos de encontro e as discussões mais específicas sobre as distintas temáticas da Geografia – através dos simpósios. A produção de estudos, baseados em trabalhos de campo, realizados durante a Assembléia Geral é outro fator que mere- ce ser destacado. Além desse aspecto, todos os demais trabalhos valorizam as observações e os estudos, em parte etnográficos, efetuados em campo, demonstrando o significado dessa prática na pesquisa em Geografia oriunda de nossas heranças univer- sitárias. As publicações possuem um grande número de imagens, o que facilita a leitura e a compreensão dos relatos. PRODUÇÃO COMPILADA - AS PAISAGENS DO RIO GRANDE DO SUL (IMPRESSÕES DE VIAGEM) - Aroldo de Azevedo - Assembléia /data/ local- VII ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Campina Grande/ Paraiba 1952 - Referência da publicação dos anais - Anais da AGB,volume VI ,tomo I, São Paulo,1954. - REGIONES NATURALES DE RIO GRANDE DEL SUR Y DEL URUGUAY - Jorge Chebataroff - Assembléia/ data / local- VII ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Campina Grande/ Paraiba 1952 - Referência da publicação dos anais - Anais da AGB volume VI, tomo I ,São Paulo,1954. - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA CAMPANHA GAÚCHA - Miguel Alves de Lima - Assembléia /data/ local- I CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS / IX ASSEMBLÉIA GERAL DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Ribeirão Preto/São Paulo - 1954 - Referência da publicação dos anais- Anais da AGB ,volume VIII, tomo I, São Paulo 1956. - PRADERAS DE LA AMÉRICA DEL SUR TEMPLADA - Jorge Chebataroff -Assembléia/ data/ local- XIII ASSEMBLÉIA GERAL DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Santa Maria/ Rio Grande do Sul, 1958 - Referência da publicação dos anais- Anais da AGB, volume XI, tomo I, São Paulo, 1959 - A REGIÃO DE SÃO GABRIEL - Nice Lecocq Müller (coord.)-Assembléia/ data/ local – Relatório de TRABALHO DE CAMPO realizado durante a XIII ASSEMBLÉIA GERAL DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Santa Maria/ Rio Grande do Sul, 1958 - Referência da publicação - Avulso Nº 4 da AGB, São Paulo, 1962. - A CONTRIBUIÇÃO DA COLONIZAÇÃO ALEMÃ À VALORIZAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL - Jean Roche - Assembléia/ data/ local- SIMPÓSIO COLONIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO REGIONAL na XVI ASSEMBLÉIA GERAL DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Londrina/Paraná em 1961 - Referência da publicação dos anais- Anais da AGB , volume XIV, São Paulo, 1968. 9 - A VEGETAÇÃO DA FAIXA COSTEIRA SUL-RIO-GRANDENSE - Ir. Juvêncio - Assembléia data local- XVI ASSEMBLÉIA GERAL DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Londrina/Paraná em 1961 - Referência da publicação dos anais- Anais da AGB , volume XIV, São Paulo, 1968. Em alguns desses estudos fica claro o objetivo de apreender os fenômenos e fatos da natureza e da sociedade. Tal pers- pectiva, que podemos denominar de “clássica” – nos estudos geográficos de então, acompanha três desses sete trabalhos. Nes- se momento chega-se a uma nova consideração. Além de uma Geografia com ênfase na análise regional, descritiva e com forte aporte de observações de campo, aparecem nos quatro demais estudos, temáticas mais circunscritas, relativas à fitogeografia, à imigração e ao zoneamento do meio físico. Finalmente, a participação e contribuição de pesquisadores estrangeiros nos eventos da AGB é um ponto a ser observado. Dentro do escopo de trabalhos aqui reunidos, dois são de autoria do geógrafo uruguaio Jorge Chebataroff e um do pesquisador francês Jean Roche, versando sobre aspectos de uma Geografia temática que irá se espraiar nas décadas seguintes. A esse conjunto de considerações preliminares, espera-se o acréscimo de novas contribuições, à medida que tais traba- lhos possam ser conhecidos e revisitados, contribuindo para a sempre renovada produção do conhecimento da Geografia do Rio Grande do Sul, reconhecendo e valorizando o trabalho desses precursores e seus estudos da Geografia Brasileira. Neste sentido, justifica-se a importância de uma publicação que resgata e facilita o acesso a este acervo, partilhando des- sas fontes de pesquisa, de modo a apresentar o papel da AGB como instância fundamental de construção e difusão de saberes em suas oito décadas de existência. REFERÊNCIAS ANTUNES, C. da F. A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) – Origens, Idéias e Transformações: Notas de uma História. 2008. 308 f. Tese (Doutorado em Geografia)-Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2008. AZEVEDO, A. Paisagens do Rio Grande do Sul (Impressões de Viagem). In: ANAIS DA VII ASSEMBLÉIA GERAL - ORDINÁRIA DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – CAMPINA GRANDE/ PARAIBA 1952. Anais da AGB. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1954. V. VI. Tomo I. p. 147-162. CHEBATAROFF, J. Praderas de la América del Sur Templada. In: XIII ASSEMBLÉIA GERAL DA ASSOSIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Santa Maria/ Rio Grande do Sul, 1958. Anais da AGB. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1958. p. 81-130. _________________. Regiones Naturales de Rio Grande del Sur y del Uruguay. In: VII ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – CAMPINA GRANDE/ PARAIBA 1952. Anais da AGB. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1954. p. 115- 145. JUVÊNCIO, I. A Vegetação da Faixa Costeira Sul-Rio-Grandense. In: XVI ASSEMBLÉIA GERAL DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Londrina/Paraná em 1961. Anais da AGB. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1968. p. 61-77. LIMA, M. A. Contribuição ao estudo da Campanha Gaúcha. In: I CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS / IX ASSEMBLÉIA GERAL DA AS- SOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS EM 1954. Anais da AGB. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1956. V. VIII. Tomo I. p. 343-375. MONTEIRO, C. A. F. A Geografia no Brasil ao Longo do Século XX: um Panorama. In: Associação dos Geógrafos Brasileiros. Borrador. São Paulo: AGB-SP, 2002. ROCHE, J. A Contribuição da Colonização Alemã à Valorização do Rio Grande do Sul. In: SIMPÓSIO COLONIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO REGIONAL / XVI ASSEMBLÉIA GERAL DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Londrina/Paraná em 1961. Anais da AGB. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1968. V. XIV. p. 227-241. MÜLLER, N. L. (coord.) A Região de São Gabriel. In: Relatório de Trabalho de Campo realizado durante a XIII ASSEMBLÉIA GERAL DA ASSOCIA- ÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – Santa Maria/ Rio Grande do Sul, 1958. Avulso Nº 4. São Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1962. 77 p. 10 PARTE 1 A PRODUÇÃO NO “ALVORECER DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA” Os estudos reunidos nessa seção fazem parte do segundo momento do período denominado “O Alvorecer da Geografia Científica (1935 -1956)”, de acordo com a periodização de Monteiro (2002). Esta- mos nos anos de 1949 a 1956, constituindo o imediato pós-guerra quando o país e o mundo passavam por sensíveis mudanças. É nessa fase que a AGB inicia seu processo de nacionalização, com a criação de sessões regionais, promoção de trabalhos de campo e reuniões em diferentes estados, motivados pela reformulação dos estatutos em 1945 e pelas assembléias ocorridas em Lorena e Rio de Janeiro. Também é nesse período que ocorre o retorno aos seus países de origem de figuras importantes na fundação da Geografia no Brasil, entre os quais Leo Waibel, Pierre Monbeig e Francis Ruellan. É na VII ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS, realizada em Campina Grande, Paraíba, em 1952, que foram apresentados os seguintes textos aqui compilados: As Paisagens do Rio Grande do Sul: Impressões de Viagem, de Aroldo de Azevedo e Regiones Naturales de Rio Grande del Sur Y del Uruguay, de Jorge Chebataroff. Os dois autores são figuras proeminentes na produção geográfica do século XX, em seus países. Aroldo de Azevedo, professor da Universidade de São Paulo tem uma vastíssima produção na pesquisa e no ensino de Geografia. Na AGB exerceu cargos diretivos, tanto em nível nacional, quanto na Seção Regio- nal de São Paulo. Jorge Chebataroff, nascido na região do Cáucaso e um dos grandes mestres da Geografia uruguaia, é uma presença constante nas atividades da AGB a partir da década de 1950 e no intercâmbio com os geógrafos brasileiros. Durante o I CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, realizado concomitantemente com a IX AS- SEMBLÉIA GERAL DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS, em Ribeirão Preto, São Paulo, em 1954, foi apresentado o trabalho: Contribuição ao Estudo da Campanha Gaúcha, de Miguel Alves de Lima, cuja atuação diretiva junto à entidade é presente na Seção Regional do Rio de Janeiro, além de sua participação junto à diretoria do IBGE. A partir das atas das assembléias que compõe a documentação da AGB, destacam-se, na realização do I CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, as palavras de Aroldo de Azevedo, então presidente da entidade, referindo-se a realização de um Congresso de Geógrafos e não um Congresso de Geografia, corroborando a nomenclatura de Monteiro (2002), ao definir este período. Qual seja, estava se afirmando uma Geografia no Brasil, produzida pelas primeiras gerações de geógrafos brasileiros. Dos três trabalhos publicados nas Assembléias da AGB aqui reproduzidos, observa-se que os artigos de Azevedo e Chebataroff, foram também difundidos em periódicos científicos – o Boletim Paulista de Geografia e a Revista Uruguaia de Geografia, na década de 1950. Já no trabalho de Lima, consta, ao final, o parecer de avaliação, emitido pelo relator Antonio Rocha Penteado. 11 AROLDO DE AZEVEDO CAPÍTULO 1 PAISAGENS DO RIO GRANDE DO SUL (IMPRESSÕES DE VIAGEM)1 AROLDO DE AZEVEDO É bem conhecida a pobreza da bibliografia referente ao Rio Grande do Sul. Além de estudos de caráter geológicos e traba- lhosde natureza histórica e sociológica, apenas podem os geógrafos contar com estudos monográficos, de profundidade variá- vel e de caráter nem sempre estritamente geográfico. Como obra de conjunto, o livro de Wolfgan H. Harnisch – “ O Rio Grande do Sul – A Terra e o Homem” (Liv. do Globo, Porto Alegre, 1941), embora escrito por um não especialista, continua a prestar bons serviços a quem deseje obter uma idéia geral a respeito dos aspectos marcantes da geografia humana sul- riograndense. No mais, são as paginas naturalmente reduzidas de obras gerais , como as de Pierre Denis e Preston James, que continuam a fornecer melhores subsídios. Por isso tudo, não sentimos constrangimento em escrever as presentes Notas prévias que contém exclusivamente algu- mas impressões deixadas por uma viagem levada a efeito através de larga porção do Rio Grande do Sul, no mês de outubro de 1951. Durante os dias que estivemos em Pôrto Alegre, ao tomar parte na “Semana de Estudos Geográficos” organizada pela Fa- culdade de Filosofia da Universidade Católica do Rio Grande do Sul , foi-nos dado o prazer de percorrer, em automóvel, as áreas de São Leopoldo, Novo Hamburgo e Caxias do Sul. Em seguida, utilizando a via-férrea, percorremos o vale do Jacuí, fazendo paradas de 24 horas nas cidades de Rio Pardo, Cachoeira do Sul e Santa Maria; nesse ínterim, utilizando a rodovia, alcançamos Santa Cruz do Sul e a área municipal de Júlio de Castilhos, já no Planalto. Finalmente, viajando no Trem Internacional, deixamos Santa Maria e percorremos o Planalto do Alto Uruguai, até Marcelino Ramos, de onde prosseguimos rumo a São Paulo. Gastando duas semanas nessa excursão (uma das quais em sua maior parte dedicada à referida “Semana de Estudos Ge- ográficos”), não nos foi possível colher mais do que simples impressões de viagem. Oferecendo-as à Sétima Assembléia Geral Ordinária da A. G. B., pretendemos tão sòmente transmitir uma parcela de nosso encantamento pelas áreas percorridas e des- pertar, através das observações feitas e das fotografia colhidas, junto àqueles que ainda não as conhece, o desejo de visitá-las e de estudá-las de maneira mais aprofundada. Os grandes horizontes da Depressão Central. No alto, a planície do baixo Jacuí, com seus canais de drenagem. Em baixo, campinas da Depressão Central. (Fotos do autor). 1 Trabalho indicado para publicação nos Anais, de acôrdo com o parecer do sócio efetivo Nilo Bernardes , discutindo e aprovado em plenário. 12 AS PAISAGENS DO RIO GRANDE DO SUL: IMPRESSÕES DE VIAGEM O Guaíba e o delta do Jacuí – A cidade de Pôrto Alegre acha-se estreitamente ligada ao chamado rio Guaíba: nasceu às suas margens, há mais de dois séculos; viveu sempre em função dêle, quer para os contatos com o exterior (através das águas da Lagôa dos Patos), quer para as comunicações com o “hinterland” gaúcho (através do vale do Jacuí); e continua a tê-lo como base de sua expansão, pois os mais belos e procurados de seus subúrbios acompanham as águas fluviais, numa extensão de cêrca de 40 km. Um anfiteatro de morros cristalinos constitui o cenário natural da capital sul-riograndense, fechando o seu horizonte para as bandas de leste. Dentro dele, uma série de colinas, de contornos suaves, constituídas por terrenos paleozóicos, caracterizam a topografia urbana. O núcleo principal da cidade – com suas largas avenidas, numerosos arranha-céus, intenso movimento, graças à presença das melhores casas comerciais, das principais repartições públicas, dos escritórios, dos dois Mercados e das instalações portuárias – acha-se colocado no próprio berço da aglomeração, por sobre um promontório que avança em direção ao rio. Dêsse “coração” da cidade, partem as artérias que vão ter aos bairros periféricos e aos subúrbios. Uma população de 382.000 pessoas vive na sede municipal, cujo território abrange um total de mais de 400 mil2. Por isso mesmo, Pôrto Alegre alinha-se entre as maiores cidades brasileiras e, certamente, não tardará a ocupar o quarto lugar, ultrapassando a velha capital da Bahia. Não é nosso objetivo, estudar aqui a capital do Rio Grande do Sul, que bem merece uma monografia, por sua importância local e regional. Queremos focalizar somente, o grande elemento de seu quadro natural – o Guaíba. Na geografia brasileira, o Guaíba ocupa uma posição toda especial: os mapas chamam-no de “rio”, embora, na verdade, não passe de um largo estuário, cujo aspecto faz lembrar, “mutatis-mutandis”, a Gironda. Sua extensão não vai além de 50 km, sua largura média pode ser avaliada em 10 km. Resulta da junção da águas de pelo menos quatro rios – o Jacuí, o Caí, o do Sinos e o Gravataí, os mesmos que a tradição diz justificar o nome do velho núcleo de Viamão, se a eles acrescentarmos o próprio Guaíba. A origem desse largo e tranqüilo estuário constitui um dentre muitos outros problemas, que a geografia precisa resol- ver com dados científicos. Tal problema assume um aspecto mais atraente se levarmos em conta que o estuário do Guaíba inicia-se numa região tipicamente deltaica, num verdadeiro delta interior. Com efeito, o ponto em se concentram as águas do Jacuí, do Caí, do dos Sinos e do Gravataí corresponde a um Dédalo de ilhas baixas, visivelmente resultantes da acumulação de aluviões carreadas pelas águas fluviais3. Torna-se preciso consultar uma carta de detalhe ou, melhor ainda, sobrevoar esta área, tal como o fizemos para se sentir a presença dêsse delta interior. Por que motivo existe ele, antecedendo a larga abertura constituída pelo estuário do Guaíba? Eis outro problema que se torna preciso esclarecer. Em todo êsse trecho, percebe-se o domínio absoluto da água e pode-se avaliar a luta que o homem tem de manter para conseguir sobreviver. Daí a presença de canais de drenagem e o aparecimento de uma paisagem que muito faz lembrar a dos “polders” da Holanda. Foi esta, pelo menos, a nossa impressão, ao observá-lo de avião, ou ao percorrer pela via-férrea um dos trechos que a margeiam. O rio Jacuí A importante artéria da Depressão Central sul-riograndense põe o “coração” do Estado em fácil contato com Pôrto Alegre. Na fotografia aparece um aspecto do porto de Cachoeira do Sul, grande centro rizícola. ( Fotos do autor). 2 Os dados referentes às populações das cidades foram extraídos da Sinopse Preliminar do Censo Demográfico, publicada pelo Conselho Nacional de Estatística (Rio, 1951). 3 Por sua extensão, destacam-se as ilhas do Laje, Grande dos Marinheiros, do Quilombo, das Flôres, da Casa da Pólvora e do Pavão. 13 AROLDO DE AZEVEDO Os grandes horizontes da Depressão Central. – O estuário do Guaíba e o delta interior do Jacuí constituem a “sala de en- trada” da chamada Depressão Central do Rio Grande do Sul, aquilo que poderíamos tembém denominar de Depressão do Jacuí, dêsde que este rio, com seu afluente (?) Vacacaí Grande, representa o seu principal elemento fisiográfico. É a estreita faixa de terrenos predominantemente paleozóicos, que se alonga no sentido geral de E-O, encaixada entre o Planalto arenito-basáltico, ao norte, e o Núcleo Cristalino Rio-grandense, ao sul. Para quem a percorre, acompanhando mais ou menos de perto a corrente fluvial, a encosta daquele planalto está sempre presente, de maneira marcante, nos limites do horizonte; ao passo que, para o sul, só muito longinquamente podem-se perceber as elevações cristalinas. Essa depressão é caracterizada por um rêlevo de altitudes relativas muito modestas e pela presença da planície fluvial, do que resulta uma notável larguesa de horizontes. A essa monotonia de aspectos vem-se juntar um outro elemento, que serve para acentuar-lhe o característico: a existência de intermináveis campinas, constituídas por uma vegetação erbácea rasteira, enfeitadas de florinhas amarelas e brancas na época em que lá estivemos, onde o gado bovino reponta de maneira escas- sa, dado o caráter extensivo da criação. Por quilômetros equilômetros, junto à via-férrea, sucedem-se as colinas levemente abauladas – as “lombas”, no meio das quais surgem depressões muito abertas – os “banhados”. Testemunhos provavelmente arenito-basálticos e eucaliptais esparsos são os únicos elementos capazes de quebrar a monotonia dêsses grandes horizontes da Depressão Central. A rêde de drenagem do Jacuí corresponde a outro problema da geografia gaúcha. Suas cabeceiras encontram-se no Pla- nalto arenito-basáltico, na região de Passo Fundo, onde aparece com o nome de Jacuísinho, correndo no sentido geral de N-S, com um caráter francamente “conseqüente”. Depois de vencer as escarpas desse Planalto, atinge a Depressão, através da qual passa a ter um caráter “subseqüente”, a exemplo do rio Vacacaí Grande, considerado como seu afluente, embora tudo pareça indicar que este curso d´água deva ser considerado o seu trecho superior, conforme, aliás, já foi afirmado por Viktor Leinz4. Uma vez atingida a Depressão, passa a correr no sentido O-E, recebendo uma abundante rêde fluvial; os maiores afluentes procedem do Planalto, entrando-lhe pela margem esquerda, como é o caso do Pardo, do Taquarí (o mais extenso de todos) e dos que al- cançam na região deltaica. A jusante de Cachoeira do Sul, seu curso passa a ser francamente navegável, desenvolvendo-se atra- vés de uma planície aluvional, que se vê inundada por ocasião das chuvas do fim do ano. Por isso mesmo, o Jacuí aparece como a grande artéria natural da Depressão Central e serve de escoadouro às suas mais importantes riquezas – o carvão e o arroz. Aspectos do rêlevo regional No alto, “testemunhos” tabulares da Depressão Central. Em baixo, trecho do Planalto ao entrar em contato com a Depressão. (Fotos do autor). Não tivemos oportunidade de percorrer a área carbonífera do arrôio dos Ratos, onde se encontram as minas de São Jerô- nimo e de Butiá, mas pudemos perceber a existência de um sistema de transporte, por meio de cabos de aço e de caçambas, que conduz o carvão da margem direita para junto à linha férrea, na estação de Silo, logo a montante da confluência do Taquari e não longe da cidade de Triunfo. 4 LEINZ (VIKTOR), Contribuição à Geologia dos Derrames Basálticos no sul do Brasil, tese de concurso à cátedra de Geologia e Paleontologia da Faculdade de Filosofia da Uni- versidade de São Paulo. – 1949,pág.48. 14 AS PAISAGENS DO RIO GRANDE DO SUL: IMPRESSÕES DE VIAGEM Já o arroz constitui a maior riqueza da região de Rio Pardo e Cachoeira do Sul, ocupando a planície aluvial, sobretudo à margem direita do Jacuí. É êle que dá movimento aos pequenos portos dessas duas cidades. Rio Pardo está colocada sôbre um testemunho de arenito triássico, que se eleva bem próximo às águas do Jacuí. O topo da elevação contém o trecho comercial e administrativo da pequena cidade (8.500 hab.), com suas ruas calçadas a paralelepí- pedos e suas melhores lojas. Em nível mais baixo, que se vê alcançando por ruas em ladeiras, encontram-se, do lado norte, o bairro da Estação ferroviária e, do lado sul, o trecho em que aparece a velha Matriz. Em continuação deste último, atinge-se o terceiro nível – o da planície fluvial, onde se acha o porto, com alguns trapiches, local de intenso movimento, graças as carroças e caminhões que até ali vão levar ou apanhar mercadorias, e ponto onde trafega uma balsa que conduz os ônibus destinados à cidade de Encruzilhada. Trata-se de uma das mais antigas cidades sul-riograndenses, que se orgulha de haver abrangido, em sua área municipal, pelo menos um terço do atual Estado e onde podem ser encontrados os testemunhos de um passado glorioso, através de seus templos, de seus grandes sobrados senhoriais e do antigo Colégio Militar, aspectos que Dante De Laytano estudou com delta- lhes e competência5. Sua principal artéria é a Rua Júlio de Castilhos, colocada no topo da elevação arenítica em que se apóia. O elemento negro, reminiscência de seu passado, aparece com freqüência na massa da população urbana, cujo total não atinge 9 mil almas. Mas a marca gaúcha está presente, como em toda a região, graças ao uso vulgarizado das “bombachas”6. Muito mais vida e movimento apresenta a localidade próxima de Ramiz Galvão (antiga Couto), distrito do município rio- pardense, devido ao fato de sair dali a linha férrea que a põe em contato com a importante cidade de Santa Cruz do Sul, já na encosta do Planalto. Cachoeira do Sul representa o exemplo dessas cidades que fazem parte da área cultural tipicamente portuguesa, confor- me mostrou muito bem Thales de Azevedo7. Seu aspecto lembra o da cidade paulista de Campinas. Trata-se, como Rio Pardo, de uma cidade em acrópole, dominando a planície do Jacuí. O Largo da Matriz (Praça Baltasar de Bem) é o trecho mais alto do centro urbano, embora seja o Alto dos Loretos, bairro suburbano situado ao norte, para além da ferrovia, o trecho mais ele- vado da região. As calçadas da cidade são feitas com o arenito de Botucatú e velhas habitações atestam a antigüidade de seu povoamento. Rio Branco é o bairro aristocrático, destacando-se por suas belas residências. Entretanto o que realmente dá vida à cidade de Cachoeira do Sul (cuja população urbana é de 24 000 hab.) é o arroz: ali se processa o beneficiamento desse cereal, em numerosos e bem instalados “engenhos”, o maior dos quais é o Engenho Roesch. A rizicultura é feita através de grandes propriedades pertencentes hoje a cooperativas; não correspondem a nenhum centro de povoamento, caracterizando-se ape- nas pelos extensos arrozais estabelecidos nas várzeas inundáveis do Jacuí e do Vacacaí Grande. Cachoeira do sul ufana-se, com razão, de ser o maior empório rizícola de todo o país. Velhos sobrados de Rio Pardo Mesmo sem conhecer a história de Rio Pardo, quem a percorrer sente que tem diante de si um centro urbano cheio de tradições gloriosas. (Fotos do autor). 5 Laytano (Dante de), Almanaque de Rio Pardo, Pôrto Alegre, 1946. 6 Quem percorre o interior do Rio Grande do Sul, tem sua atenção chamada não apenas para o uso das “bombachas”, como também para o costume de tomar o “chimarrão”, por meio das típicas bomba e cuia; o fato se registra nos próprios hotéis e nos vagões da estrada de ferro. Mais que tudo, porém, impressiona o hábito de servirem-se da mesma bomba e cuia as pessoas que façam parte do mesmo grupo, nos hotéis ou nos vagões... 7 Azevedo (Thales de), Gaúchos (Notas de antropologia social), Bahia, 1943 – pág. 36 e seguintes. 15 AROLDO DE AZEVEDO Mapa elaborado pelo prof. João Soukup. A “Zona da Mata” do Rio Grande do Sul. – No Rio Grande do Sul, a floresta surge tanto na encosta do Planalto arenito-ba- sáltico, como nêle próprio, na área drenada pelo alto Uruguai. A transição entre a Depressão e o Planalto faz-se de maneira relativamente suave: esporões montanhosos, constituídos por arenitos da série de São Bento, acabam por se transformar na própria escarpa Planaltina, mais fortemente trabalhada pela erosão. Cujos topos erguem-se numa altitude relativa de 300 metros, no centro do Estado, constituindo as chamadas “serras” de Botucaraí e São Martinho. Essa área constitui a moldura setentrional da Depressão, desde as vizinhas do Atlântico (onde o desnível chega a ser de 800 m), até à região das cabeceiras do rio Vacacaí Grande, já nos domínios da “Campanha”. Aspectos da Cachoeira do Sul No alto, a movimentada Rua Sete de Setembro. Em baixo, uma habitação que bem simboliza uma época de sua evolução urbana. (Fotos do autor). 16 AS PAISAGENS DO RIO GRANDE DO SUL: IMPRESSÕES DE VIAGEM A cidade de Santa Maria (46 000 hab.) oferece, a quem vem de percorrer o vale do Jacuí, a agradável surpresa de encon- trar um centro progressista, movimentado e culto. Acha-se colocada exatamente nessa área de transição, na “bôca do monte”, conforme mui acertadamente observaram os que lhe deram o primeiro nome, desenvolvendo-se por sobre uma típica “lomba”,ao pé dos contrafortes da Serra de São Martinho. Uma larga avenida – a Avenida Rio Branco, aberta no sentido N-S, contém o “coração” da cidade, e corresponde ao primitivo caminho dos que demandavam o Planalto; a velha rua do Acampamento lem- brava, até pouco tempo, as origens do povoamento local, pois a semente da cidade foi o acampamento das tropas encarregadas da demarcação das fronteiras entre os domínios setecentistas de Portugal e da Espanha8. É o centro geográfico do Estado, im- portantíssimo nó de comunicações, sede da Região Militar, verdadeira “capital” regional, com intensa vida urbana e considerada a metrópole escolar do Estado. Olhada em seu conjunto, essa área dominada pelas formações arbóreas caracteriza-se, sob o ponto de vista antropogeo- gráfico, pela presença do colono de origem européia e, com ele, pela luta travada entre a agricultura e a floresta. Os de origem alemã predominam logo ao norte de Pôrto Alegre, na área de São Leopoldo e Novo-Hamburgo, ou mais para o interior, na área de Santa Cruz do Sul. Os de origem italiana já aparecem na encosta e no próprio Planalto, entre os altos cursos de Taquarí e do Caí, na região de Caxias do Sul, Garibaldi e Bento Gonçalves. Uma paisagem altamente humanizada, graças ao predomínio da pequena propriedade, com certo ar de “bocage” francês; importantes culturas de vinhas e uma poderosa e variada indústria (como a de artefatos de couro em São Leopoldo e Novo-Hamburgo, a vinícola na área de influência italiana, a de artefatos de metais em Caxias do Sul) atestam a importância econômica dessa região colonial, estudada com pormenores por Orlando Val- verde9. Já na área de Santa Cruz é a cultura do tabaco a grande riqueza, dela derivando uma ativa indústria manufatureira, que também trabalha com a borracha. Devido à intensidade desse povoamento e à conseqüente ocupação de um solo mais beneficiado pela chuvas, trazidas pelas massas de ar oriundas das frente sul, a floresta sub-tropical que encobria a região em foco aparece muito devastada. São Leopoldo (20 000 hab.) e Novo Hamburgo (20 000 hab.), situados ao pé do Planalto, não oferecem em sua fisionomia urbana nada que se compare com os núcleos de origem alemã de Santa Catarina. O mesmo podemos dizer de Santa Cruz do Sul (13 500 hab.), salvo quanto a sua majestosa matriz em puro estilo gótico. Apenas a população, bem marcada pelo elemento louro, denuncia a presença de um centro de colonização européia. Já o mesmo não se poderá afirmar a respeito de Caxias do Sul (32 000 hab.) graças ao predomínio das casas de madeira, do uso da carroça de quatro rodas ou à freqüência com que se encontram mulheres montadas a cavalo, o que positivamente não é comum nas comunidades genuinamente brasileiras. Entre- tanto, em qualquer dessas cidades, sente-se com facilidade uma animação e uma atividade que muito bem refletem o teor de seu progresso e de sua vida econômica. Constitui um prazer encontrar-se algo de original e de novo para adquirir, produzido no próprio local e com uma perfeição que desafia a concorrência estrangeira. Elementos da paisagem na região colonial Na região serrana, povoada por alemães e italianos e seus descendentes, assiste-se à luta entre a agricultura e a floresta. Em baixo, casas de madeira de Caxias do Sul. (Fotos do autor). 8 Veja BELÉM (J.), História do Município de Santa Maria (1797-1933), Liv. Selbach, Pôrto Alegre,1933. 9 VALVERDE (Orlando), Excursão à Região Colonial Antiga do Rio Grande do Sul, na Revista Brasileira de Geografia, ano X, nº 4, outubro-dezembro de 1948. 17 AROLDO DE AZEVEDO No Planalto do Alto Uruguai, a floresta sub-tropical e a mata da araucária têm um outro inimigo: são as serrarias. A indús- tria madeireira caracteriza, sem dúvida alguma, a área servida pela via férrea, ao norte de Passo Fundo. A partir de Coxilha, po- de-se dizer, cada estação da “V.F.R.G.S.” corresponde a um centro madeireiro. Getúlio Vargas (antiga Erechim) e Erechim (antiga Boa Vista do Erechim, depois José Bonifácio) são centros de destaque nessa área: sobretudo Erechim (15 000 hab.) merece uma referência especial, porque não possui apenas inúmeras serrarias, mas também conta com a presença de moinhos, fundições, fábricas de vinhos e doces, etc., sendo importante núcleo de origem italiana. Os grandes horizontes do Planalto – Conhecemos mais de perto o vasto Planalto arenito-basáltico do Rio Grande do Sul, no trecho correspondente ao que certos mapas gaúchos denominam de Coxilha Grande, que não passa de um mal definido divisor de águas entre as bacias dos rios Uruguai e Jacuí. A topografia regional caracteriza-se por ser levemente ondulada, apresentando com freqüência as depressões razas – os “banhados”. Por se tratar de uma área de “divortium acquarum”, a rêde de drenagem é extraordinariamente escassa, não ofe- recendo mais do que modestíssimos cursos d´água. A vegetação rasteira, que tão bem define as campinas sul- riograndenses, representa o grande elemento natural da paisagem; e a pobreza ou permeabilidade de seu solo, provavelmente oriundo do arenito de Caiuá10, vê-se atestada pela predominância desagradável da “barba de bode”. As árvores constituem verdadeiras exceções e só aparecem sob a forma de “capões”, de áreas reduzidas. A mesma monotonia, que caracteriza as campinas da Depressão, também ali se observa, com a diferença que a vista não encontra, para qualquer lado que nos voltemos, nenhuma saliência do relevo a limitar aquêles grandes e intermináveis horizontes. Trata-se de um quase deserto, no que se refere às marcas deixadas pelo homem: os rebanhos se perdem naquelas imen- sas amplidões e a monotonia só é quebrada, de quando em vez, pela presença das estâncias, que se vêm caracterizadas não apenas por duas ou três construções, de proporções modestas, como pela aglomeração de árvores, que lhes dão sombra. Tivemos ocasião de visitar a Estância de São Francisco do Pinhal, situada no município de Júlio de Castilhos e de proprie- dade do sr. Horácio de Mascarenhas. No meio das araucárias, que lhe justificam o nome, ergue-se a sede da estância, simples mas confortável. Próximo dela o “galpão”, excepcionalmente construído de pedra. Criam-se ali carneiros de raças inglesas e “merinos”, que fornecem lã, vendida em São Gabriel, de onde toma o rumo dos centros têxteis de São Paulo. Os bovinos são de raça Cherolêsa, tendo o proprietário importado exemplares da França. Nas pastagens naturais da estância, vivem de 40 a 50 cabeças de gado em cada 87 hectares. Banheiros carrapaticidas e sarnicidas defendem os bovinos e ovinos contra esses flagelos da vida pastoril. Os grandes horizontes do Planalto No Planalto, reaparecem as campinas infinitas, cuja monotonia só é quebrada pela presença de importantes centros pastoris – as “estân- cias”. (Fotos do autor). 10 Veja Nogueira (Paulo de Castro), Regiões Fisiográficas do Estado do Rio Grande do Sul, em “Geologia e Metalurgia”, publicação do Centro Moraes Rego, nº 5, São Paulo, 1948 – pág. 77. 18 AS PAISAGENS DO RIO GRANDE DO SUL: IMPRESSÕES DE VIAGEM A tosquia da lã A criação de carneiros é uma das especialidades da Estância de São Francisco do Pinhal. A fotografia inferior mostra uma ovelha no momen- to de ser tosquiada. (Fotos do autor). O Rio Grande do Sul e a Geografia – Da rápida visita que fizemos ao Rio Grande do Sul, trouxemos a convicção de que aquêle Estado representa um admirável laboratório para pesquisa geográfica, tantos são os contrastes de suas paisagens , na- turais ou humanizadas, tais são os problemas que estão à espera de uma solução. Realmente, se acrescentarmos às paisagens apenas esboçadas na presente nota as correspondentes ao Litoral, à Campa- nha e à zona pioneira do Vale do Uruguai, para só citarmos algumas das mais expressivas, teremos diante dos olhos um mosaico realmente fascinante para o espírito de qualquer geógrafo. Mas há ainda os problemas apresentadospela geografia gaúcha. Já nos referimos aos do estuário do Guaíba, do delta interior do Jacuí e da sua curiosa rede de drenagem. Poderíamos acrescentar o da origem das campinas sul-riograndenses: serão naturais ou resultam da ação secular do homem ali fixado? Admitida a primeira hipótese, como explicá-las de maneira satisfatória, se aparecem tanto na Depressão paleozóica como no Planalto triássico e não diferem substancialmente das que existem noutras latitudes, como é o caso das campina da região de Itapetininga, em território paulista? São problemas de geografia física, aos quais podem ser acrescentados outros de geografia humana: os historiadores e so- ciólogos terão explicado suficientemente a presença dos 200.000 negros existentes no território do Rio Grande do Sul? Existirá, entre as propriedades rurais daquele Estado, algo que se assemelhe às nossas “fazendas” de culturas? Tudo isso é mais do que suficiente para que as atenções dos verdadeiros geógrafos de nosso país voltem-se, sem demora, para os encantadores rincões da Terra Gaúcha. 19 JORGE CHEBATAROFF CAPÍTULO 2 REGIONES NATURALES DE RIO GRANDE DEL SUR Y URUGUAY 1JORGE CHEBATAROFF INTRODUCCION Desde el ano 1935 estoy estudiando el Uruguay desde el punto de vista fitogeográfico y geomorfológico. Frecuentes excursiones, algunas de gran duración, realizadas a los más apartados lugares del país, y trabajos de gabinete basados en una abundante colección de material geológico y botánico, apuntes de viaje, dibujos y gran número de fotografías, así como el apoyo prestado por algunos especialistas de otras disciplinas científicas (zoología, climatología, etc.) han permitido que pudiera publicar ya numerosos resultados referentes a la geografía, flora y fauna de nuestro país, mientras iba dando cima a varias obras que irán apareciendo sucessivamente después de darle la necesaria unidad a los conceptos y resultados derivados de los viajes y estudios. Felizmente estos no se concretaron tan solo al territorio uruguayo, y rebasaron naturalmente las fronteras políticas , siéndome permitido estudiar algunas localidades de la Argentina (particularmente junto al río Uruguay) y especialmente del Brasil, donde aparte de numerosos viajes fronterizos ( que me llevaron hasta Uruguayana, por ejemplo) hice la primera excursi- ón de larga duración a Porto Alegre, en 1948, donde el apoyo prestado por el botánico Rvdo. Padre Balduino Rambo, del profe- sor Dr. Lorenzo Mario Prunes Y del ecologista Irmão Teodoro Luiz, me ayundaron a conocer uma extensa área de dicho estado, particularmente en excursiones personales ó acompañado por el primero de los especialistas nombrados. Luego el contacto con los ilustres integrantes del Consejo Nacional de Geografía del Brasil, así como con los profesores de las Facultades de Filosofía de Rio Janeiro, São Paulo y Bello Horizonte y los de la Escuela Politécnica de S.Paulo, y nuevos viajes realizados al interior de Rio Grande del Sur y al Brasil Central, me abrieron nuevos horizontes, y me alentaron a publicar esta breve nota en la que trato de reducir a un mínimo el número de regiones naturales recognoscibles en los territorios del Uruguay y Rio Grande del Sur, teniendo en cuenta en especial manera los rasgos geomorfológicos y los tipos de vegetación que las caracterizan, evitando el empleo de nomenclaturas heterogéneas y estableciendo la necesaria relación que liga en forma directa las regiones uruguayas con las riograndenses, no afectadas por los limites políticos. Si bien la zonación que presento se base principalmente en las particularidades del relieve y de las formaciones vegetales, no he dejado de lado otros factores, tales como tipos de suelo y las influencias de orden microclimático. En cuanto al clima, en el Uruguay, las diferencias relativas a la temperatura y pluviosidad media, entre los puntos extremos del país no son muy sen- sibles, como para servir de base para una división regional. Sin embargo, las regiones naturales existen en el Uruguay, ya que existe variedad de suelos, de tipos de vegetación y relieve, cuya influencia sobre la actividad humana resulta bastante sensible. Respecto al problema de si el Uruguay con solo 187 000 kms² puede presentar regiones naturales, teniendo en cuenta que la Pampa o la Amazonia, mucho mayores apenas ofrecen alguna zonación, nos parece oportuno hacer notar que Suiza, con solo 42 000 kms² presenta tres unidades geográficas, que podrían ser comparadas a verdaderas regiones naturales, y que también el territorio de Bélgica, país diminuto en comparación con el Uruguay o con Rio Grande del Sur es pasible de una división más o menos bien fundada. Los territorios de aspecto uniforme no ofrecen una zonación perceptible, mientras que en aquellos en los cuales se com- plica el relieve o los tipos de vegetación, y donde es posible descubrir una gran variedad de microclimas, la zonación aparece naturalmente. Compárese por ejemplo el estado de Amazonas (la parte llana) con el de San Pablo o la llanura siberiana con la Europa Central, y se advertirá inmediatamente la realidad de lo que acabamos de decir. Introducimos en el cuadro que presentamos, el concepto de penillanura como característica geomorfológica dominan- te en la porción Sur y Central de Rio Grande y de gran parte de Uruguay. Eliminamos en cambio de nuestra terminología pala- bras de significación dudosa como “campiñas”, “campos”, “región ondulada”, “altiplano de Haedo”, “escudo riograndense”, las que solo pueden tener valor local, y no aceptamos las divisiones basadas estrictamente en las formaciones geológicas u otras de carácter unilateral. Y para salvar la uniformidad de la nomenclatura así como la claridad de los conceptos , frente a expresiones tales como Planicie Costera, Planalto, Valle del Rio Uruguay y otras que conservamos, rechazamos términos de valor local tales como Campos de Vacaria, Costa de Rio Grande, Litoral Lagunar, Región Colonial, y otros carentes de precisión, como “departa- mentos de sierras y colinas” y “penillanura del Rio Uruguay”, que pueden dar motivos a grandes confusiones. Tal vez llame la atención en el trabajo el empleo de expresiones tales como “ cuesta basáltica”, “ región basáltica” o “ Planalto basáltico”, que incluyen el término basalto que petrográficamente no resulta muy exacto. Pero tampoco nos parece oportuno emplear expresiones como “Planalto melafídico” y otras análogas, ya que las rocas que componen el Planalto riogran- dense o el manto efusivo básico del Sudoeste de este estado y del Noroeste del Uruguay, no son todas meláfidos, sino también porfiritas labradóricas (según la terminología de LAMBERT); es preferible pues el término basalto, tan empleado por los geólo- gos americanos, y en el Brasil por ALMEIDA, LEINZ y otros. La división zonal de un territorio cualquiera, puede hacerse según PRESTON JAMES, de acuerdo con los objetivos perse- guidos. Así, un geólogo podrá considerar las áreas ocupadas por las formaciones geológicas, un climatólogo las áreas climáticas o las microclimáticas, y cabe pues al geógrafo, si es que la geografía existe como ciencia, fundamentar la división areal sobre las realidades geográficas, es decir, considerando áreas integrales y no aquellas que resultan de la estimación de un solo factor. En tales áreas, el relieve resulta fundamental, lo son también los factores clima, vegetación y tipos de suelos. La delimitación de las regiones naturales, en el sentido geográfico tiene que tener en cuenta la interrelación de los fac- tores, pero sin descuidar el orden jerárquico de estos. Si la complicación del relieve crea la diversidad de los paisajes de una 1 Trabalho indicado para publicação nos Anais, de acôrdo com o parecer do sócio efetivo JOSÉ SETZER, discutido e aprovado em plenário. 20 REGIONES NATURALES DE RIO GRANDE DEL SUR Y DEL URUGUAY comarca cualquiera, esto significa que el relievees un factor de primer orden en la delimitación de las áreas geográficas. El día que se intente dividir a la Amazonia en diversas regiones, el relieve tendrá con toda seguridad poca importancia frente a otros factores como proximidad a los ríos, densidad de la red fluvial, alejamiento del mar, tipos de suelos, etc. En Rio Grande del Sur, y en cierta medida en el Uruguay el relieve debe ser considerado como un factor importante en el problema de la división zonal. De ahí que hayamos fundamentado nuestro trabajo especialmente en los rasgos geomorfológicos del territorio estudiado, pero sin descuidar, según dijimos anteriormente el clima, los tipos de vegetación y de suelos y otros factores de menor importancia (proximidad al mar, presencia de lagunas, etc.). RASGOS GEOGRÁFICOS GENERALES DE RIO GRANDE DEL SUR Dentro del Brasil, Rio Grande del Sur figura como un estado de mediana superficie, siendo aventajado en este sentido por los de Amazonas, Mato Grosso, Pará, Goiaz, Minas Gerais, Bahía y Maranhão. De todas maneras ocupa un área bastante más considerable que la del Uruguay, totalizando casi 283 000 kms². Su situación frente a este país es menos ventajosa , ya que su litoral costero es medianamente aprovechable y parte de su territorio se presenta demasiado quebrado o demasiado anegadizo lo que dificulta enormemente las comunicaciones. Además, el Uruguay se encuentra sobre el Plata, porción terminal de una gran red fluvial navegable que permite la penetración hasta el corazón del continente. Pero dentro del vasto territorio del Brasil, la situación de Rio Grande del Sur no deja de tener sus ventajas, ya sea por la va- riedad de sus climas, consecuencia de su posición meridional y su relieve variado, la diversidad de la vegetación, la gran exten- sión de los campos de pastoreo, el área apta para el cultivo del arroz y la presencia de lagunas que facilitan las comunicaciones. El Rio Uruguay , en un recorrido de más de 1600 kilómetros contornea trazando un inmenso arco la porción Norte y Oeste de este estado, y más adelante sirve de limite a la República O. del Uruguay respecto a la Argentina, vale decir que la magna corriente fluvial encierra con el Plata y el litoral Atlántico alrededor de 470.00 kms. cuad. del área continental ( la superficie total de la Península Escandinávica). Rio Grande del Sur es el estado más meridional del Brasil, y está comprendido enteramente dentro da zona templada, aunque la influencia de las masas de aire procedentes de la porción Sur del continente( por ejemplo el Pampero o Minuano) está bastante equilibrada por la influencia tropical marina, siendo en algunos puntos muy alta la pluviosidad y la efectividad de las precipitaciones lo que tiene por consecuencia que en este territorio aparezcan los primeros suelos de laterización más o menos marcada, tan típicos del Brasil, y que son prácticamente desconocidos en el Uruguay. Dentro del área del estado queda incluída una parte del Planalto (en parte sedimentario, pero fundamentalmente volcánico), que corresponde al corrientemente llamado “segundo Planalto”, que se continúa por Santa Catalina y otros estados, y que en esta parte tiene en algunos puntos más de 1000 m de altura. Forman la meseta potentes napas de lavas básicas hasta neutras, réticoliásicas, que coronan formaciones sedimentarias más antiguas, y que buzan suavemente hacia el Oeste , en dirección al valle del Rio Uruguay. Contra de lo que algunos autores han supuesto, este altiplano no alcanza el territorio uruguayo, ya que los elementos más meridionales que constituyen el manto basáltico decaen mucho en altura al Suroeste de Rio Grande del Sur y dentro del Uruguay, estando separados topográficamente de los elementos del verdadero Planalto por la Depresión Central Riograndense, por donde debió pasar en otras épocas un gran río ( tal vez el propio Paraná, junto con el Uruguay), en dirección a la Laguna dos Patos. Actualmente dicha depresión es recor- rida por los ríos Ibicuy, afluente del Rio Uruguay, y Yacuy, tributario de la laguna mencionada. La parte Nordeste del Planalto, cortada por profundas quebradas (verdaderos “cañones” en basalto) constituye la llamada Serra Geral, nombre que se utiliza habitualmente para designar a todas las rocas efusivas básicas de la gran meseta del Paraná. Serra Geral, no es propiamente una sierra, en el sentido corriente que se le atribuye a este término. Es simplemente el borde erosionado de una meseta, cortado por valles de paredes de fuerte pendiente, con separación de mesas de superficie casi horizontal pero de contornos muy irregulares, de cerros chatos y torres rocosas (éstas últimas se presentan por ejemplo, junto al litoral del Atlántico). Las masas basálticas del Suroeste del estado, limitadas al Norte en forma aproximada por la depresión antes indicada, nada tienen que ver en el sentido geomorfológico con el verdadero Planalto, pues en ellas la altura decae hasta llegar solo a 100 m en Alegrete y menos aún en otros lugares, siendo además bastante menores tales alturas en el Uruguay, salvo junto a las cuchillas Negra y de Haedo, donde se encuentra la escarpa de lo que aquí llamaremos cuesta volcánica, siendo la pendiente de la misma muy poco perceptible, y estando inclinada, como lo prueba la topografía y las perforaciones geológicas, suavemente hacia el Rio Uruguay. En cuanto a las costas riograndeses del Atlántico, ofrecen un contraste bastante marcado con las platenses del Uruguay, siendo solo la zona próxima a la Laguna Merín, con sus esteros, una natural continuación dentro del territorio uruguayo, de los elementos geográficos que caracterizan el litoral riograndense, donde faltan prácticamente las puntas pedregosas ( salvo a Torres) y las playas en forma de arcos. Dos elementos geomorfológicos que establecen una estrecha relación física entre los territorios de Rio Grande del Sur y del Uruguay, sin existir casi una solución de continuidad entre ambos, son, la Penillanura ( en parte determinada sobre terrenos sedimentarios, y en parte sobre terrenos cristalinos) y el Valle del Rio Uruguay. En la Penillanura , que no es necesariamente plana, aunque corresponde a un relieve en la etapa de extrema madurez, los elementos estructurales más resistentes aparecen formando sierras, que algunos autores llaman en Rio Grande del Sur “ sierra de Sudeste”, término según veremos poco feliz y que parecería referirse a un elemento geográfico dotado de cierta unidad, en contraste con las regiones vecinas. En la Penillanura la altura general no excede de los 200 m y algunos movimientos de báscula y de compensación isos- tática ( como ejemplo el levantamiento querandino) pueden haber provocado en algunas porciones un rejuvenecimiento, y hacia la costa una atrofia progresiva de los tributarios, así como la formación de esteros y de lagunas. Penillanura es en realidad 21 JORGE CHEBATAROFF sinónimo de peneplano, en el sentido davisiano, y aquí preferimos el uso de la primera expresión solamente porque es más española. En cuanto a la consideración de la existencia de un relieve de tipo apalachiano en Rio Grande del Sur, del modo como lo admiten para el Brasil Central Atlántico algunos autores, resulta objetable si se trata de aplicar al territorio de este estado o al del Uruguay. En oposición a la Penillanura y hacia el litoral del Atlántico, domina, más allá de la serie de serranías que hacen irregular la superficie de aquélla, hasta el punto de dar lugar a una subregión según veremos más adelante, la Planicie Costera, verdadera llanura, que Giuffra llamó en el Uruguay “ llanura Atlántica” y que en el estado de Rio Grande del Sur abarca una extensión considerable, adelgazándose hacia el Norte. Está formada por sedimentos modernos, entre los que se incluyen arenas, limos, areniscas flojas, etc., y donde no es salina, es muy apta para el cultivo del arroz. El Valle del RioUruguay, que entre el Uruguay y la Argentina se presenta con caracteres bien definidos, en Rio Grande del Sur es relativamente estrecho siendo una continuación natural de la cuesta basáltica o de las laderas abruptas del Planalto ( lo que da en parte el aspecto de una quebrada, en sua porción más alta). Rio Grande del Sur es sin duda alguna uno de los estados más progresistas del Brasil, superado en este aspecto solamen- te por el estado de San Pablo. El rápido incremento de su población, el ritmo acelerado de su desenvolvimiento económico y cultural, así como el desarrollo de sus vías de comunicación, prueban el anterior aserto. Ocupa por su población el cuarto lugar en el país (1º San Pablo, 2º Minas Gerais, 3º Bahia); con Santa Catalina figura entre los estados de mayor producción de hulla (alrededor de un millón de toneladas anuales); sobresale además por la producción del arroz, la extracción de yerba, por la ex- tensión de sus campos de pastoreo y la cantidad y la calidad de sus ganados. También tienen importancia los cultivos de tabaco, de mandioca, de naranjas, de vid y de trigo. El clima relativamente templado, la fertilidad de algunos de sus suelos, la gran extensión de sus terrenos anegadizos propi- cios para el cultivo del arroz y la de los campos de pastoreo, principalmente en la porción Suroeste del estado, explican en parte esta prosperidad, complementada por un desenvolvimiento modernos de las industrias tales como maderera. la de los vinos, de productos alimenticios y de calzado. Pero tanto el borde irregular y abrupto del Planalto, como la continuidad de los terrenos anegadizos, así como la extensión de los cordones litorales, hacen en el estado sumamente difícil el trazado de los caminos y de las vías férreas, utilizándose por este motivo, y en vasta escala el avión, siendo el de Porto Alegre, uno de los aeropuertos más activos del continente surameri- cano. REGIONES CLIMATICAS DE RIO GRANDE DEL SUR En una memoria terminada en 1929, y publicada en 1930, LADISLAO COUSSIRAT DE ARAUJO, que fue jefe del Instituto Meteorológico y Astronómico de Porto Alegre, dio a conocer una división del estado de Rio Grande del Sur en regiones climá- ticas, destacando que, dada la posición geográfica y la extensión del estado, todo el territorio de éste correspondía a una sola Provincia climática: la templada. Indudablemente que esta afirmación debía considerarse como válida para el territorio del Brasil considerado como una unidad aislada. Dividía a continuación el área de Rio Grande del Sur en ocho regiones o secciones climatológicas, representándolas en un mapa esquemático, donde los limites estaban figurados por líneas rectas o quebradas. He aquí las regiones reconocidas como tales: 1 – Campaña, de suelo ondulado, de una altitud media de unos 200 m (cifra a nuestro juicio algo exagerada), y dedicada en gran parte el pastoreo de ganado, por sus buenas pasturas; limítrofe con el Uruguay. 2 – Sierra del Sudeste, incluyendo las sierras de Encruzilhada, de Tapes, do Herval y otras, y formando un extenso trián- gulo, casi equilátero con algunas, alturas próximas a 500 m (o alcanzando en algún caso dicha cifra, la que equivale a la altitud del Cerro de las Animas, del Uruguay). 3 – Litoral, formando una franja bastante estrecha, limitada por uno de sus lados por el Atlántico, comprendiendo en ge- neral terrenos bajos, esteros y arenales, así como lagunas de gran extensión, tales como la de los Patos, la de Mangueira y una parte de la Merín. Amplia hacia la frontera uruguaya, dicha franja sufriría un sensible estrechamiento en su porción terminal Nordeste. 4 – Depresión Central, franja de territorio bastante baja (menos de 100 m) orientada de Oeste a Este, desde el Valle del Rio Uruguay hasta a región litoral. 5 – Valle del Rio Uruguay, ensanchado hacia la frontera del Uruguay. Excavado totalmente en terrenos basálticos y algunos terrenos modernos de escasa extensión, con una altitud media de unos 100 m. 6 – Misiones, contigua al mencionado valle, pero con una altitud media de 400m. 7 – Planalto, extensa meseta basáltica, de altitudes apreciables, aumentando estas gradualmente del Oeste al Este, hasta superar los 1000 m. 8 – Sierra del Nordeste, de alturas variables, cortada por profundos valles, con las laderas cubierta de bosques, en parte talados. Como complemento de esta división, agregaba el insigne meteorólogo, que el Valle del Rio Uruguay, podría subdividirse posiblemente en dos partes, el alto Valle Del Uruguay y el Bajo Valle del Uruguay, limitadas ambas por el paralelo 28º aproxi- madamente. Aunque esta división pareció y parece aún muy artificial, sobre todo teniendo en cuenta que las diversas regiones están limitadas por líneas rectas, el esquema de zonación propuesto resultó útil como hipótesis de trabajo, y además sirvió de freno para aquellos que creen a pie juntillas, que las regiones fisiográficas, o las edafológicas o aún las de vegetación, están determi- nadas pura y exclusivamente por las formaciones geológicas. 22 REGIONES NATURALES DE RIO GRANDE DEL SUR Y DEL URUGUAY En una interesante publicación del Instituto Brasileiro de Geografía y Estadística, dedicad al clima de Rio Grande del Sur, aparecida en 1950; el médico y meteorólogo Floriano Peixoto Machado, adopta el esquema trazado por el investigador ante- riormente citado, sin introducir modificaciones importantes. Tomamos del estudio de Machado los datos siguientes: Regiones Climáticas Temperatura media anual Pluviosidade anual 1.Campaña 18º1 Entre 1350 y 1650 mm 2.Sierra del Sudeste 16º5 “ 1350 y 1700 “ 3.Litoral 17º5(al S.) y 17º9( al N.) “ 1150 y 1450 “ 4.Depressión Central 19º4 “ 1300 y 1800 “ 5.Valle del R. Uruguay a) Alto b) Bajo 19º1 19º7 “ 1650 y 2000 “ “ 1350y 1700 “ 6.Missiones 19º2 “ 1800 y 1950 “ 7.Planalto 17º1 “ 1550 y 2050 “ 8.Sierra del Nordeste 16º0 “ 1800 y 2500 “ Analizando todo el trabajo de Machado, que comprende un estudio muy completo del clima de Rio Grande del Sur, acompañado por profusión de cuadros numéricos y mapas, se obtiene la impresión de que la existencia de las ocho regiones climáticas reconocidas por ARAUJO en el territorio del estado, es una realidad casi inobjetable, aunque resulte poco aceptable la artificiosa manera de cómo fueron trazados sus respectivos limites. Por otra parte, no satisfacen mucho los nombres que se han dado a tales regiones, de tal manera, que si bien se justifica que dentro de Rio Grande del Sur, pueda hablarse de una Sierra del Sudeste o de otra del Nordeste, esta nomenclatura pierde todo su valor si se considera al Brasil en conjunto. Además no existe una verdadera Sierra del Nordeste, sino que se trata del borde oriental del Planalto, muy erosionado y cortado por profundas quebradas. Tampoco resulta exacto considerar un Alto Valle y un Bajo Valle del Rio Uruguay dentro del territorio riogranden- se, teniendo en cuenta que la porción baja de dicho valle corresponde a los territorios de la Argentina y del Uruguay. Aunque acerca de esto último cabría el argumento de que se trata de una división válida solo para Rio Grande del Sur, nombres como los propuestos pueden conducir a confusiones lamentables, lo que debe evitarse a toda costa. A pesar de las anteriores observaciones, debe reconocerse que tal esquema presentado por el insigne meteorólogo, na dado buenos resultados como primera aproximación a la realidad, particularmente en las investigaciones climatológicas rio- grandenses. LAS REGIONES NATURALES DE RIO GRANDE DEL SUR Desde hace bastante tiempo y considerando los factores geográficos en conjunto, especialmente los geomorfológicos, se había llegado a subdividir el territorio de Rio Grande del Sur en diversas regiones naturales, y tales divisiones eran utilizadas por los profesores de enseñanza secundaria y primaria, que las difundían como hechos
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