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0 1 2 SOBRE OS AUTORES ROBERTO CÉSAR REIS DA COSTA é fonoaudiólogo, tradutor e intérprete de Libras, mestre em Língua e Cultura, professor e pesquisador no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Possui graduação em: Bacharelado em Fonoaudiologia (UFBA), Licenciatura em Letras-Inglês e Literaturas (UNEB) e Bacharelado em Letras-Libras (UFSC). Desenvolve projetos de pesquisas nas áreas de: Linguística da Libras e Ensino de Português como L2/LE para Surdos. Atualmente, é doutorando no Programa de Pós-graduação em Língua e Cultura (PPGLinC/UFBA). SHEILA BATISTA MAIA SANTOS REIS DA COSTA é professora da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, Campus I, lecionando o componente curricular Libras. Graduada em Letras, licenciatura em Língua Brasileira de Sinais (UFSC). Especialista em Língua Brasileira de Sinais pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão. Proficiente em Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais/Língua Portuguesa/Língua Brasileira de Sinais - MEC. Criadora e coordenadora dos Seminários de Educação Bilíngue para Surdos do DEDC I/UNEB. Concentra pesquisas nas áreas de: Educação Bilíngue, Sociolinguística com Ênfase em Gênero, Identidade e Surdez. Estudante do Grupo de Pesquisa Phina (UFBA). 3 SUMÁRIO 1 A LEGISLAÇÃO, A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS ..... 5 1.1 OS ASPECTOS LEGAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS ........................ 6 1.2 A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS .................................... 8 1.2.1 Os mitos sobre as línguas de sinais ................................................................ 10 1.2.2 Concepções de língua e linguagem ................................................................ 12 1.2.3 Propriedades linguísticas da Libras ................................................................ 15 1.2.4 A Libras e sua relevância para os estudos linguísticos ................................... 16 1.2.5 Aspectos semânticos da Libras ....................................................................... 17 1.2.5.1 Polissemia ........................................................................................... 19 1.2.5.2 Homonímia ......................................................................................... 19 1.2.5.3 Sinonímia ............................................................................................ 20 1.2.5.4 Antonímia ........................................................................................... 21 1.2.5.5 Paronímia ............................................................................................ 21 1.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 22 2 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: ASPECTOS FONOLÓGICOS .................... 24 2.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE A FONOLOGIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS ...... 25 2.2 OS PARÂMETROS FONOLÓGICOS ..................................................................... 26 2.2.1 A configuração de mão (CM) ......................................................................... 27 2.2.2 O ponto de articulação (PA) ou locação (L) ................................................... 29 2.2.3 O movimento (M) ........................................................................................... 31 2.2.4 A orientação da palma da mão (OM) ............................................................. 32 2.2.5 As marcas ou expressões não-manuais (ENM) .............................................. 34 2.3 OS PARES MÍNIMOS NA LIBRAS ........................................................................ 35 2.3.1 Sinais que se opõem quanto à configuração de mão (CM) ............................ 36 2.3.2 Sinais que se opõem quanto ao ponto de articulação (PA) ............................ 37 2.3.3 Sinais que se opõem quanto ao movimento (M) ............................................ 37 2.4 A RESTRIÇÃO NA FORMAÇÃO DE SINAIS ....................................................... 38 2.5 AS PESQUISAS EM FONOLOGIA DE LÍNGUAS DE SINAIS NO BRASIL ...... 39 2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 40 3 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: ASPECTOS MORFOLÓGICOS ................ 42 3.1 A NOÇÃO DE MORFEMA NAS LÍNGUAS DE SINAIS ...................................... 43 3.2 OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS NAS LÍNGUAS DE SINAIS ................................................................................................................................... 45 3.2.1 A derivação nas línguas de sinais ................................................................... 45 3.2.1.1 O processo de nominalização ............................................................. 45 3.2.1.2 A incorporação de numeral................................................................. 48 3.2.1.3 A incorporação da negação................................................................. 49 3.2.2 A composição nas línguas de sinais ............................................................... 50 3.2.2.1 A formação de compostos .................................................................. 51 3.2.3 A flexão nas línguas de sinais ........................................................................ 54 3.3 TIPOS DE MORFEMAS NA LIBRAS ..................................................................... 56 3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 57 4 4 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: ASPECTOS SINTÁTICOS .......................... 59 4.1 ORDEM BÁSICA DAS FRASES EM LIBRAS ...................................................... 60 4.2 OS TIPOS DE FRASES NA LIBRAS ...................................................................... 63 4.2.1 Sentenças negativas ........................................................................................ 63 4.2.2 Sentenças interrogativas ................................................................................. 65 4.2.3 Construções com tópico ................................................................................. 66 4.2.4 Construções com foco .................................................................................... 67 4.3 TIPOS DE VERBOS ................................................................................................. 67 4.3.1 Verbos com concordância .............................................................................. 67 4.3.2 Verbos sem concordância ............................................................................... 68 4.3.3 Verbos “manuais” ........................................................................................... 69 4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 70 5 CONCEPÇÕES DE LÍNGUA(GEM) E ENSINO DE LIBRAS ............................... 72 5.1 AS CONCEPÇOES DE LINGUAGEM E LÍNGUA ................................................ 73 5.2 QUEM É O SUJEITO SURDO? ............................................................................... 75 5.2.1 O sujeito surdo como docente ........................................................................ 76 5.2.2 O sujeito surdo como aluno ............................................................................ 79 5.2.2.1 Ensino mediante a Libras ................................................................... 80 5.2.2.2 Ensino de Língua Portuguesa como L2 .............................................. 82 5.2.2.3 Observância à Pedagogia Visual e à Cultura Surda ........................... 83 5.2.2.4 Currículo de Libras para surdos..........................................................86 5.2.2.5 Professor surdo como referencial não obstante a sua identidade fragmentada ........................................................................................ 92 5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 94 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 89 APÊNDICE ..................................................................................................................... 96 5 CAPÍTULO 1 A LEGISLAÇÃO, A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Objetivos do capítulo: Conhecer as legislações vigentes que dispõem sobre a Língua Brasileira de Sinais; Discutir as concepções de língua e linguagem; Identificar o campo teórico que alicerça os estudos linguísticos relativos à Libras; Apresentar, de maneira genérica, alguns aspectos linguísticos da Libras. Muitas pessoas têm utilizado equivocadamente os termos “linguagem de sinais” para se referirem à língua dos surdos. Em geral, isso ocorre porque, além dessas pessoas carregarem mitos e preconceitos em relação às línguas sinalizadas, elas ainda não compreenderam que essas línguas possuem estrutura gramatical. Este capítulo introduz alguns conceitos relevantes da Linguística, além de apresentar os estudos linguísticos que contribuem para a compreensão da complexidade estrutural dessas línguas. As línguas de sinais não são universais. Uma das línguas de sinais “falada” no Brasil é a Libras (língua brasileira de sinais), mas não é a única.1 Cada país ou comunidade linguística possui a sua própria língua de sinais: nos Estados Unidos, os surdos se comunicam por meio da American Sign Language – ASL (língua de sinais americana); na França, os surdos utilizam a Langue des Signes Française – LSF (língua de sinais francesa); na Dinamarca, os surdos usam a Dansk Tegnsprog – DTS (língua de sinais dinamarquesa); em Portugal, os surdos utilizam a Língua Gestual Portuguesa – LGP;2 e assim por diante. Alguns teóricos/pesquisadores utilizam a sigla LSB para se referirem à língua de sinais brasileira, porém o termo Libras tem sido mais utilizado, sobretudo após o reconhecimento legal por meio da Lei Federal n.º 10.436/2002. 1 Além da Libras, já foram investigadas outras línguas de sinais, sobretudo as utilizadas por etnias indígenas. Por exemplo, a Língua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB), também denominada Língua de Sinais Urubu-Kaapor, é uma língua de sinais utilizada pela etnia indígena brasileira dos urubu- caapores, que residem no sul do Estado do Maranhão. 2 É importante pontuar que os portugueses utilizam o termo “gestos” no mesmo sentido em que utilizamos o termo “sinais” aqui no Brasil. 6 Neste capítulo, além de serem introduzidos alguns conceitos relevantes da área da ciência linguística, conforme já pontuamos anteriormente, conheceremos os documentos legais que dispõem sobre a Língua Brasileira de Sinais. Por fim, trataremos dos aspectos semânticos da Libras. Os aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos serão tratados em capítulos exclusivos. 1.1 OS ASPECTOS LEGAIS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS No Brasil, a legislação vigente assegura a acessibilidade das pessoas surdas usuárias da Libras. De agora em diante, conheceremos alguns desses documentos legais. Um dos primeiros documentos legais que faz menção à língua de sinais é a Lei de Acessibilidade – Lei n.º 10.098/2000. Essa lei, em seu art. 18, estabelece que: O Poder Público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação (BRASIL, 2000, grifos nossos). Observe que, nessa lei, é utilizado o termo “linguagem de sinais” em vez de língua de sinais. Entretanto, essa lei foi sancionada num momento em que a Lei de Libras ainda não existia. Além disso, esse artigo não favoreceu muito a acessibilidade dos sujeitos surdos, uma vez que carecia de regulamentação, o que só ocorreu 5 (cinco) anos depois. Foi por meio da Lei n.º 10.436/2002 que a Libras foi reconhecida legalmente. Quadro 1.1 Sobre a Lei de Libras Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. A Língua de Sinais Brasileira é uma das línguas de modalidade viso-espacial de comunidades surdas brasileiras que é reconhecida por lei. A Lei acima citada afirma que esta língua é “meio legal de comunicação e expressão” (BRASIL, 2002). Desta forma, é de suma importância que compreendamos que a política de reconhecimento linguístico do Brasil entende que Língua Brasileira de Sinais, ou simplesmente Libras, compõe o acervo multilíngue que faz parte do território nacional. 7 Não devemos pensar que o Brasil é um país monolíngue, considerando que: Quantas línguas são faladas hoje no Brasil - um país de dimensões continentais, com rica cultura indígena, colonizado por portugueses e que recebeu imigrantes dos quatro cantos do globo? Estimativas do Grupo de Diversidade Linguística do Brasil (GTDL) comprovam que são mais de 210 idiomas: 180 indígenas, 30 falados por comunidades de imigrantes, duas línguas de sinais usadas por comunidades surdas, fora o próprio português, que possui variações regionais e de classes sociais. A diversidade étnica do país está também na boca do povo brasileiro. No entanto, é difícil pensar que há pouco mais de 500 anos, antes dos portugueses aportarem suas caravelas em terras tupiniquins, 1.078 diferentes idiomas eram falados nesse território (IPEA, 2011). Sobre essas duas línguas de sinais apresentadas pelo IPEA, é pertinente entender que: No Brasil, além da Libras, verificou-se a existência de uma outra língua de sinais utilizada entre os índios Urubu-Kaapor, que habitam a floresta amazônica. Os índios Urubu-Kaapor utilizam a Língua dos Sinais Kaapor Brasileira (LSKB). Essa língua, que foi pesquisada por Ferreira-Brito (1995[2010]), não possui relação estrutural ou lexical com a Língua Brasileira de Sinais, já que não existe o contato entre ambas (COSTA, 2012, p. 16). ATENÇÃO! DAS LÍNGUAS DE SINAIS “FALADAS” NO BRASIL, A LIBRAS É A ÚNICA LÍNGUA DE SINAIS QUE É RECONHECIDA POR MEIO DE DOCUMENTO OFICIAL. LEMBRE-SE: LEI 10.436/2002. Sobre a Libras, a lei acima citada preconiza que: Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil (BRASIL, 2002). Sendo uma língua de modalidade viso-espacial, a Libras utiliza as mãos, expressões corporais e faciais (para a manifestação da expressão) e a visão (para a compreensão da mensagem). Já as línguas orais-auditivas utilizam o sistema auditivo (para recepção da mensagem) e o aparelho fonoarticulatório (para emissão da mensagem). Apesar da sanção/publicação da Lei de Libras em 2002, ela ainda não tinha sido suficiente para garantir plenamente a acessibilidade do sujeito surdo. Então, era necessário que houvesse a regulamentação dessa lei, assim como do artigo 18 da Lei de Acessibilidade. Nesse sentido, as comunidadessurdas usuárias da Libras continuaram lutando para que ocorresse essa regulamentação. No ano de 2005, a lei foi finalmente regulamentada por meio do Decreto n.º 5.626/2005, conforme discorreremos a seguir. 8 VOCÊ SABIA? ESTIMA-SE QUE MAIS DE 250 LÍNGUAS SEJAM FALADAS NO BRASIL, ENTRE INDÍGENAS, DE IMIGRAÇÃO, DE SINAIS, CRIOULAS E AFRO- BRASILEIRAS, ALÉM DO PORTUGUÊS E DE SUAS VARIEDADES. ESSE PATRIMÔNIO CULTURAL É DESCONHECIDO POR GRANDE PARTE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, QUE SE ACOSTUMOU A VER O BRASIL COMO UM PAÍS MONOLÍNGUE (INDL). Quadro 1.2 Sobre a regulamentação da Lei de Libras Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. O decreto regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002. Esse Diploma Legal descreve quem deve ser considerado Pessoa Surda, relata os exames exigidos para comprovação da surdez, apresenta a Libras como disciplina obrigatória em alguns cursos, trata sobre a formação para professores e intérpretes de Libras, bem como reza sobre as obrigações governamentais para garantir acessibilidade a esses sujeitos nas esferas sociais e educacionais. Julgamos ser importante para o estudante de Libras o conhecimento dos aspectos legais referentes a essa língua. No entanto, não é nosso objetivo tratar de todas as questões legais referentes à Libras e à acessibilidade dos surdos. Sugerimos, então, a leitura minuciosa desse decreto e de outros diplomas legais, a fim de familiarizar-se com as questões de natureza legal. 1.2 A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Não obstante aos aspectos legais, os estudos linguísticos sobre a língua brasileira de sinais são anteriores à legislação. Nos Estados Unidos da América, Stokoe (1960) foi o primeiro estudioso a descrever e analisar a Língua de Sinais Americana, desbravando assim as 9 pesquisas linguísticas no tocante às línguas sinalizadas. No Brasil, foi Ferreira-Brito (1990, 1995) quem iniciou as investigações acerca dos aspectos linguísticos da Libras a partir do final da década de 1980. Em termos gerais, é imprescindível compreender que: “A linguística é o estudo científico das línguas naturais e humanas. As línguas naturais podem ser entendidas como arbitrária e/ou como algo que nasce com o homem” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 15). As pesquisas linguísticas no caso das línguas de sinais têm ratificado que essas línguas apresentam as propriedades linguísticas que, anteriormente, eram atribuídas exclusivamente às línguas orais. Essas propriedades serão tratadas no tópico 1.2.3. Quadro 1.3 Divisões da Linguística Quanto ao foco da análise Linguística Geral: Estuda a língua e todas as suas manifestações, sem se preocupar com um detalhamento aprofundado de cada área. Além disso, ela fornece concepções e modelos teóricos que fundamentarão a análise das línguas. Linguística Teórica: Estuda as questões sobre como as pessoas, utilizando-se de suas distintas linguagens, conseguem se comunicar; quais as propriedades comuns de todas as linguagens; qual conhecimento uma pessoa deve ter para ser capaz de utilizar uma linguagem; e como as crianças adquirem a habilidade linguística. Linguística Aplicada: É um campo de estudo interdisciplinar que visa identificar, analisar e oferecer soluções para os problemas relacionados à língua(gem) da/na vida real. Linguística Descritiva (ou Sincrônica): Busca entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do tempo. Linguística Histórica (ou Diacrônica): Analisa as mudanças que a língua sofre através dos tempos. Quanto aos aspectos linguísticos Fonologia: Estuda as unidades mínimas distintivas ou fonemas da língua. Morfologia: Estuda as unidades mínimas de significado ou morfemas, bem como as regras de formação de palavras num dado sistema linguístico. Sintaxe: Estuda as funções das palavras nas frases, bem como a organização dos itens lexicais na estrutura sentencial. Semântica: Estuda os sentidos das frases e das palavras. Quanto às interfaces com outros domínios Psicolinguística: Ramo da linguística que estuda a relação entre a linguagem e a mente. Nesse sentido, há a preocupação de se pesquisar as conexões existentes entre as questões relativas ao processo de aquisição de linguagem e do processamento linguístico e os processos psicológicos subjacentes. Neurolinguística: Ramo da linguística que estuda as relações entre a estrutura do cérebro humano e a capacidade linguística, atentando-se especialmente aos processos de aquisição da linguagem e aos distúrbios da linguagem de origem neurológica. Sociolinguística: Ramo da linguística que estuda as relações entre a linguagem e a sociedade. Em outros termos, pode-se dizer que a sociolinguística visa estudar o comportamento linguístico dos membros de uma comunidade de fala e compreender de que forma as relações sociais, culturais e econômicas podem determinar esse comportamento linguístico. Etnolinguística: Ramo da linguística que estuda as relações entre cultura, língua e sociedade. Nesse campo, há um enfoque especial sobre as questões do relacionamento entre língua e visão de mundo, bem como entre as estruturas linguísticas e as estruturas sociais. 10 Retomando a noção de linguística, devemos concordar com Viotti (2008, p. 8) quando afirma que: “A linguística não se limita ao estudo de uma língua específica, nem ao estudo de uma família de línguas. [...] A linguística é o estudo científico da língua como um fenômeno natural.” Nestes termos, poderemos entender que o objeto teórico da Linguística é a linguagem humana em seus aspectos fonético, fonológico, morfológico, lexical, sintático, semântico, social e psicológico. Considera-se linguista o cientista que se ocupa do estudo acerca da língua, fala e/ou linguagem (humana), podendo ainda ampliar o olhar de análise linguística ao ponderar a interface entre as questões linguísticas e outros domínios do conhecimento. No quadro acima, estão descritas as divisões da Linguística com enfoque na seguinte classificação: (1) quanto ao foco de análise; (2) quanto aos aspectos linguísticos; e (3) quanto às interfaces com outros domínios. As divisões apresentadas são apenas uma proposta e podem não representar o universo de possibilidades de investigações linguísticas. Após essa breve introdução, discutiremos as seguintes questões: os mitos sobre as línguas de sinais (tópico 1.2.1); as concepções de língua e linguagem (tópico 1.2.2); as propriedades linguísticas da Libras (tópico 1.2.3); a Libras e sua relevância para os estudos linguísticos (tópico 1.2.4); e, por fim, os aspectos semânticos da Libras (tópico 1.2.5). 1.2.1 Os mitos sobre as línguas de sinais Antes de adentrarmos especificamente nos aspectos linguísticos, precisamos entender que existem ainda muitos mitos e preconceitos em torno das línguas de sinais. Nessa perspectiva, Gesser (2009) aponta uma série de mitos sobre as línguas de sinais. Vamos conhecer alguns deles? a. A língua de sinais é universal? A língua de sinais não é universal. “Uma das crenças mais recorrentes quando se fala em língua de sinais é que ela é universal” (GESSER, 2009, p. 11). Apesar do assunto já ter sido apresentado no preâmbulo deste capítulo, é importante acrescentar alguns pontos. De acordo comos dados do maior inventário de língua do mundo, Ethnologue – Languages of the Word, existem mais de 7.000 línguas. Podemos então refletir: Por que haveria somente uma única língua de sinais em todo o planeta? Da mesma forma que temos ouvintes em diversos países, comunidades culturas e línguas orais diferentes, também temos surdos em diversos países, comunidades, culturas e línguas de sinais diferentes. Ainda sobre a questão da universalidade, convém expor que: 11 Em qualquer lugar em que haja surdos interagindo, haverá línguas de sinais. Podemos dizer que o que é universal é o impulso dos indivíduos para a comunicação e, no caso dos surdos, esse impulso é sinalizado. A língua dos surdos não pode ser considerada universal, dado que não funciona como um ‘decalque’ ou ‘rótulo’ que possa ser colado e utilizado por todos os surdos de todas as sociedades de maneira uniforme e sem influências de uso. Na pergunta sobre universalidade, está também implícita uma tendência a simplificar a riqueza linguística , sugerindo que talvez para os surdos fosse mais fácil se todos usassem uma língua única, uniforme (GESSER, 2009, p. 12, grifos do autor). b. A língua de sinais é artificial? Crença. Segundo Gesser (2009, p. 12), as línguas artificiais são “[...] construídas e estabelecidas por um grupo de indivíduos com algum propósito específico.” As línguas de sinais podem ser aprendidas naturalmente. Assim como a criança ouvinte, desde pequena, adquire de forma natural à língua dos seus pais, cuidadores, ou pessoas responsáveis, isso também pode acontecer com as crianças surdas, basta apenas que estas crianças tenham acesso à língua de sinais desde cedo. VOCÊ SABIA? TANTO AS CRIANÇAS SURDAS QUANTO AS CRIANÇAS OUVINTES PODEM APRENDER AS LÍNGUAS DE SINAIS DESDE PEQUENAS. POIS É! UMA VEZ QUE AS CRIANÇAS TENHAM ACESSO A ESTA LÍNGUA, ELAS PODERÃO SER FLUENTES EM LIBRAS. MAS, NO CASO DA CRIANÇA SURDA, A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA DE MODALIDADE ORAL-AUDITIVA NÃO NECESSARIAMENTE TENDE A OCORRER, POIS O DÉFICIT NO FEEDBACK AUDITIVO NÃO FAVORECERÁ UM PROCESSO NATURAL DE AQUISIÇÃO DESSA MODALIDADE DE LINGUAGEM. 12 c. A língua de sinais não tem gramática? De acordo com Gesser (2009, p. 13), “o reconhecimento linguístico tem marca nos estudos descritivos do linguista americano William Stokoe em 1960.” Devemos entender, portanto, que as línguas de sinais receberam estatuto linguístico há pouco tempo. Os estudos de Stokoe serviram como marco histórico para a Linguística das línguas de sinais, dando início às pesquisas sobre a linguística das línguas sinalizadas nos âmbitos fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos, desta forma assemelhando-se aos estudos linguísticos das línguas orais-auditivas. Figura 1.1 Parâmetros fonológicos Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 57). SAIBA MAIS! NO LIVRO “LIBRAS? QUE LÍNGUA É ESSA?”, DE AUDREI GESSER (2009), VOCÊ PODERÁ ENCONTRAR DIVERSOS OUTROS MITOS REFERENTES ÀS LÍNGUAS DE SINAIS, AOS SURDOS E À SURDEZ . SUGERIMOS QUE VOCÊ FAÇA A LEITURA DESSA OBRA, POIS SERÁ DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA A COMPLEMENTAÇÃO DOS ESTUDOS NO QUE SE REFERE AOS MITOS. 1.2.2 Concepções de língua e linguagem As concepções de língua e linguagem não podem ser confundidas, pois, além de imbricarem diferentes acepções, elas devem estar relacionadas às vertentes teóricas que lhe sustentam. Nesse tópico, abordaremos sucintamente as concepções de língua e linguagem em duas abordagens distintas: na perspectiva do estruturalismo saussureano e na perspectiva da teoria gerativa. No estruturalismo saussureano, há de se entender que a língua não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. A linguagem é multiforme e heteróclita; a língua, ao contrário, é um todo por si e um princípio de 13 classificação. Ela é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo (SAUSURRE, 2006, p. 17). No que se refere à linguagem, este teórico defende que: Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; o cavaleiro de diferentes domínios, ao mesmo tempo física, fisiológica, e psíquica, ela pertence além disso ao domínio social; não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe inferir sua unidade (SAUSSURE, 2006, p. 17). Além dos conceitos de língua e linguagem expostos na Teoria Linguística proposta por Ferdinand de Saussure, considerado o “pai da Linguística”, ele apresenta em seus pressupostos teóricos outros conceitos importantes que são conhecidos como “as dicotomias saussureanas”. Já que esses conceitos são importantes, sintetizá-los-emos no quadro abaixo. Quadro 1.4 As dicotomias saussureanas LÍNGUA X FALA Concebida como um conjunto de valores que se opõem uns aos outros, a língua está inserida na mente humana como um produto social, razão pela qual é homogênea. A língua é, portanto, uma construção coletiva, um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado, como produto social, na mente de cada falante de uma comunidade. A fala é considerada como um ato individual, pertencendo a cada indivíduo que a utiliza. Para Saussure, ela é um ato individual e está sujeita a fatores externos, muitos desses não linguísticos e, portanto, não passíveis de análise científica. SIGNIFICANTE X SIGNIFICADO3 O significante (forma) está relacionado à imagem acústica (cadeia de sons). O significado (conteúdo) está relacionado ao conceito. SINTAGMA X PARADIGMA O sintagma refere-se à combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior. Já o paradigma diz respeito ao banco de reservas da língua. SINCRONIA X DIACRONIA O termo sincronia é oriundo do grego: ‘syn’ (″juntamente″) + chrónos (“tempo”), que significa “ao mesmo tempo”. A visão sincrônica refere-se ao estudo descritivo da linguística. O termo diacronia é oriundo do grego: ‘dia’ (″através″) + chrónos (“tempo”), que significa “através do tempo”. A visão diacrônica diz respeito ao estudo da linguística histórica. Na teoria gerativa, defende-se que: [...] o termo língua pode assumir pelo menos dois significados. Primeiramente, pode significar o conhecimento linguístico de um individuo acerca de uma dada língua, ou seja, é a faculdade cognitiva que habita esse indivíduo a produzir e compreender enunciados na língua de seu ambiente. Nessa acepção, o termo língua refere-se a uma habilidade presente na mente humana. Em segundo lugar, língua pode significar o código linguístico existente numa comunidade humana, isto é, língua é o léxico e tudo o que nele está contido ou dele é derivado. Nessa acepção, língua diz respeito a algo que assume existência fora da mente das pessoas (KENEDY, 2013, p. 27). 3 Da junção entre o significante e o significado, temos o signo linguístico. 14 Enquanto a língua embute um conceito político, a linguagem é algo demasiadamente amplo. Quanto à linguagem, o gerativismo declara também que: [...] a linguagem, nessa concepção, não pode ser confundida com um tipo de habilidade. É justamente o uso criativo da linguagem que evidencia que não é uma questão de habilidade que entra em jogo quando uma pessoa a utiliza. [...] Na obra Language and Mind (1968), Chomsky situaos estudos da linguagem humana no campo da cognição, posicionando-se contra tal corrente teórica que afirma que a linguagem humana é diferente de tudo o que se pode ensinar por condicionamento (QUADROS, 2008, p. 24). Em outros termos, podemos dizer que a linguagem é, na teoria gerativa, um conjunto de representações mentais. Metodologicamente, Chomsky (1986) estabelece dois pontos de vista ao definir a linguagem. Essas perspectivas serão descriminadas no quadro a seguir. Quadro 1.5 Perspectivas na definição do termo linguagem (QUADROS, 2008, p. 51) Linguagem-E (E-language) Linguagem-I (I-language) Conceito técnico de linguagem como instância da linguagem externa, ou seja, a língua em uso no sentido de construto independente das propriedades da mente/cérebro, com caráter essencialmente epifenomenal,4 identificada também como performance. Objeto da teoria linguística que se caracteriza sob três pontos de vista: a) interna, no sentido de estado mental independente de outros elementos; b) individual, como capacidade própria do indivíduo (natureza humana); e c) intencional, de caráter funcional, no sentido de ser uma função que mapeia os princípios do estado inicial para o estado estável, identificada também como competência. ATENÇÃO! É LUGAR-COMUM PARA OS LINGUISTAS QUE AS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM EMBUTEM AS SEGUINTES ACEPÇÕES: 1. LINGUAGEM COMO REPRESENTAÇÃO DO PENSAMENTO E DO CONHECIMENTO 2. LINGUAGEM COMO UM CÓDIGO PARA A COMUNICAÇÃO 3. LINGUAGEM COMO UMA FORMA DE AÇÃO INTERATIVA 4 “As línguas - E-languages – são epifenomenais, porque envolvem vários fenômenos (de ordem social, política, emocional, etc.) que não interferem na faculdade da linguagem - I-language –, por esta ser de ordem puramente mental” (QUADROS, 2008, p. 51, nota da autora). 15 1.2.3 Propriedades linguísticas da Libras As propriedades linguísticas referem-se aos traços que são comumente atribuídos às línguas em geral. Apresentaremos abaixo os principais traços apresentados pelas autoras Quadros e Karnopp (2004), com base em Hockett (1992), Lyons (1981) e Lobato (1986). FLEXIBILIDADE E VERSATILIDADE: “Segundo Lyons (1981), pode-se usar a língua para dar vazão às emoções e sentimentos; para solicitar a cooperação de companheiros; para ameaçar ou prometer; para dar ordens, fazer perguntas ou afirmações” (QUADROS, KARNOPP, 2004, p. 25). ARBITRARIEDADE: “Os símbolos usados são arbitrários; não há, por exemplo, uma conexão intrínseca entre a palavra ‘cão’ e o animal que ele simboliza” (QUADROS, KARNOPP, 2004, p. 26). Da mesma forma, devemos entender que nem todos os sinais das línguas de sinais são icônicos, ou seja, muitos sinais nas línguas sinalizadas são também arbitrários, apesar de alguns demonstrarem uma relativa iconicidade. DESCONTINUIDADE: “Diferenças mínimas entre as palavras e os seus significados são descontinuados por meio da distribuição que apresentam nos diferentes níveis linguísticos. Na língua de sinais verificamos o caráter descontínuo da diferença formal entre a forma e o significado. Há vários exemplos que ilustram isso, por exemplo, o sinal de MORENO e de SURDO são realizados na mesma locação, com a mesma configuração de mão, mas com uma pequena mudança no movimento, mesmo assim nunca são confundidos ao serem produzidos em um enunciado. Tais sinais apresentam uma distribuição semântica que não permite a confusão entre os significados apresentados dentro de um determinado contexto” (QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2009, p. 10). CRIATIVIDADE/PRODUTIVIDADE: Você pode dizer o que quiser e de muitas formas uma determinada informação seguindo um conjunto finito de regras. A partir desse conjunto, você pode produzir uma sentença infinita nas línguas humanas (QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2009, p. 10). DUPLA ARTICULAÇÃO: As línguas humanas apresentam duas articulações: a primeira é das unidades menores sem significado e a segunda, das unidades que combinadas formam unidades com significado (QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2009, p. 10). Ou seja, a primeira articulação é a fonologia e a segunda, a morfologia. Esses PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO: Das concepções de linguagem citadas, qual(is) está(ão) vinculada(s) ao estruturalismo e ao gerativismo? Discuta essas questões com os seus colegas e professor(a). 16 conceitos serão melhor compreendidos quando estudarmos esses temas nos capítulos 2 e 3, respectivamente. PADRÃO: “As línguas têm um conjunto de regras compartilhadas por um grupo de pessoas” (QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2009, p. 10). “Na sentença O rapaz caminhou rapidamente, a palavra rapaz poderia ser substituída por animal, mostro, policial, mas não poderia ser substituída por palavras como dentro, felizmente ou aqui, que formariam sentenças agramaticais, tais como, *O dentro caminhou rapidamente ou *O felizmente caminhou rapidamente” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 27-28). DEPENDÊNCIA ESTRUTURAL: Há uma relação estrutural entre os elementos da língua, ou seja, eles não podem ser combinados de forma aleatória (QUADROS, PIZZIO, REZENDE, 2009, p. 10). 1.2.4 A Libras e sua relevância para os estudos linguísticos O estudo das línguas enquanto línguas naturais é concebido dentro da área de conhecimento de Letras e da Ciência Linguística. Segundo Fiorin (2003, p. 7): “Letras é o lugar onde se aprende a refletir sobre os fatos linguísticos e literários, analisando-os, descrevendo-os e explicando-os”. A partir dessa assertiva, podemos refletir que a Língua Brasileira de Sinais é dotada de aspectos linguísticos que precisam ser analisados, investigados, descritos e explicados. Ao pensarmos que a Libras é importante para os estudos linguísticos, podemos elencar os seguintes argumentos: a. A ciência linguística busca conhecer as similaridades e diferenças existentes entre as línguas naturais; b. As línguas de sinais têm uma modalidade viso-espacial que difere modalidade oral-auditiva; c. As pesquisas sobre línguas naturais englobam um universo de línguas, no entanto essas línguas são majoritariamente as línguas de modalidade ora-auditiva; d. Os universais linguísticos podem ser também investigados nas línguas de sinais, mesmo sendo elas de modalidades diferentes. Evidentemente, devem existir outros pontos importantes no que tange à importância da Libras para os estudos linguísticos. Os pontos acima expostos visam despertar o interesse pelas pesquisas no campo da linguística das línguas de sinais. Apesar de ouvirmos frequentemente o discurso que diz “Libras é inclusão”, nós, pesquisadores da ciência linguística, definimos que “Libras é língua” e, nesse sentido, ela deve ser entendida como tal. 17 1.2.5 Aspectos semânticos da Libras Inicialmente, partiremos da seguinte questão: O que é a Semântica? Para Ferrarezi Jr. (2008), é natural do ser humano construir suas próprias palavras, mas desde que sigamos algumas regras básicas. Ou seja, esse construir nos remete a (res)significar conceitos e usos. É, portanto, o que chamamos de Semântica, isto é, significação das palavras, mas não podemos esquecer que ela ocorre dentro de um dado contexto, em uma dada situação (FERRAREZI JR, 2008 apud LIMA, CRUZ, 2014, p. 5). Semântica é a área da linguística que estuda o significado das palavras, frase e textos de uma determinada língua natural. Para os objetivos de nosso curso, estudaremos os conceitos e a conceitualização, os quais se referem ao objeto de estudo da semântica. De acordocom Lima (2014, p. 3), “podemos dizer que a SEMÂNTICA: é estudo do significado que estuda conceitos/significados de palavras dentro de uma dado contexto.” Mas, afinal, o que é o Conceito? McCleary e Viotti (2009) descrevem que o “conceito é um princípio de categorização.” Ou seja, os conceitos não se constituem necessariamente em imagens mentais, pois há imagens que podem ser concretas (como por exemplo: mesa, cadeira), mas outras podem não ser concretas (como por exemplo, amor, paz, vida). Já a conceitualização refere-se ao processo de construção de significado. Figura 1.2 Fonte: www.shoptime.com.br Figura 1.3 Fonte: http://guidodesignvetor.deviantart.com/art/Amor- Vida-e-Paz-253830243 E quanto à Categorização? Como podemos defini-la? Categorização é a habilidade que nós temos de identificar as semelhanças e diferenças que percebemos que existem entre certas entidades, ou entre certas eventualidades,5 ou entre certas relações, de modo a juntá-las em diferentes grupos. A categorização é fundamental para entendermos a representação do conhecimento e o significado linguístico. Se não tivéssemos essa capacidade de agrupar vários aspectos de nossa experiência 5 “Usamos a palavra ‘eventualidades’ para significar tanto ‘eventos’ como ‘situações’.” (McCLEARY; VIOTTI, 2009, p. 11, nota dos autores) 18 em categorias estáveis, nossa experiência seria caótica, e nós não conseguiríamos aprender nada a partir dela (McCLEARY; VIOTTI, 2009, p. 11). Para refletirmos acerca da categoria/categorização, observemos incialmente o esquema abaixo e sua respectiva ilustração (Figura 1.4). Figura 1.4 Fonte: http://www.granjabarbosa.com.br/nossos- produtos Tanto as categorias quanto os conceitos obedecem a uma estrutura hierárquica. Nessa estrutura, a categoria que está no nível superior (hiperônimo) é mais abrangente do que aquela que se encontra num patamar inferior (hipônimo). Esses termos possuem os seguintes conceitos: HIPERONÍMIA: Relaciona-se ao conceito mais esquemático ou genérico. O hiperônimo compreende a relação estabelecida entre uma palavra de sentido mais genérico e outra de sentido mais específico; HIPONÍMIA: Relaciona-se ao conceito mais elaborado ou específico. O hipônimo refere-se à relação entre uma palavra de sentido mais específico e outra de sentido mais genérico. Em relação aos conceitos/significados de sinais em Libras, apresentaremos concepções do campo semântico, tomando por base o trabalho de Lima e Cruz (2014). Os conceitos trazem exemplificações de: polissemia, homonímia, sinonímia, antonímia e paronímia. Animais • Irracionais Aves • Galinha Caipira • Pescoço pelado PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO: Pensando nos aspectos semânticos e no princípio da categorização, analise o animal apresentado na Figura 1.4? 19 1.2.5.1 Polissemia A polissemia está relacionada aos sinais com os mesmos parâmetros fonológicos ou significantes, no entanto com significados diferentes. As expressões polissêmicas são resultados de processos de extensão de significados que só podem ser explicados dentro de um contexto (ALMEIDA, 2009). Assim, esclarecemos que, nas línguas orais a origem é da mesma palavra. Mas, no caso das línguas de sinais a origem é do mesmo sinal (LIMA; CRUZ, 2014, p. 8). No caso do sinal abaixo representado (Figura 1.5), devido ao seu caráter polissêmico, o seu significado/sentido somente poderá ser depreendido pelo contexto e não pelo sinal isoladamente. Figura 1.5 Sinal de SÁBADO / LARANJA Fonte: Capovilla e Raphael (2011) 1.2.5.2 Homonímia Encontramos, também, palavras ou sinais com significantes iguais, porém com significados bem distintos, como no caso dos sinais abaixo (Figura 1.6). Figura 1.6 Sinal de VERDE X FRIO Fonte: Adaptado de Honora et at. (2009) em Lima e Cruz (2014, on-line). 20 A partir dos exemplos de polissemia e homonímia apresentados, chega-se ao seguinte questionamento: Qual a diferença entre polissemia e homonímia? Lima e Cruz (2014) trazem a seguinte reflexão: “Perante uma forma escrita que tem dois significados, devemos dizer que se trata de uma palavra com diferentes significados (polissemia), ou de duas palavras diferentes com a mesma forma (homonímia)?” (PALMER, 1979, apud VALENTE in HENRIQUES, 2011, p. 166). É lugar-comum para os pesquisadores da área da surdez citar os exemplos acima quando tratam dos termos polissêmicos e homônimos. É bem provável que não seja tão fácil estabelecer os limites entre a polissemia e a homonímia. Por essa razão, o aprofundamento das pesquisas no campo da Semântica deve ser realizado, a fim de compreender se deve haver ou não limites entre as concepções de polissemia e homonímia. 1.2.5.3 Sinonímia Na Língua Brasileira de Sinais, encontramos também itens lexicais que são sinônimos. De acordo com Tamba-Mecz (2006, p. 89), as sinonímias ou sinônimos devem ser entendidos como “palavras diferentes de mesma categoria gramatical e de sentido equivalente”. Nos sinais VELHO(1) e VELHO(2) ilustrados a seguir (Figura 1.7), vemos um exemplo de sinais que são sinônimos na Libras. A preferência pelo uso de uma forma ou da outra dependerá de diversos fatores. Figura 1.7 Os sinais sinônimos – VELHO(1) X VELHO(2) Fonte: Adaptado de Honora et at. (2009) em Lima e Cruz (2014, on-line). 21 1.2.5.4 Antonímia A antonímia refere-se à relação de sentido que opõe dois termos. A oposição pode ocorrer no nível morfológico, lexical ou até sentencial. O exemplo que será demonstrado a seguir (Figura 1.8) ilustra um caso de oposição no nível lexical, porém, em Libras, existem também os antônimos em que os fenômenos de oposição ocorrem nos níveis morfológico ou sentencial. Figura 1.8 Os sinais antônimos – JOVEM X VELHO JOVEM VELHO Fonte: Capovilla e Raphael (2011). 1.2.5.5 Paronímia A paronímia refere-se ao fenômeno linguístico que ocorre em palavras semelhantes quanto à grafia ou à pronúncia. Na língua portuguesa, temos os seguintes exemplos: (1) descrição (ato de descrever) e discrição (qualidade do que é discreto); (2) ratificar (confirmar) e retificar (corrigir); (3) seção (departamento), sessão (reunião) e cessão (ato de ceder). No caso das línguas de sinais, os parônimos devem ser considerados os sinais bem parecidos, e diferenciados apenas por um dos parâmetros fonológicos. No exemplo ilustrado a seguir (Figura 1.9), os sinais são exemplos de parônimos, pois a única distinção entre ambos é em relação ao PA. O que distingue um sinal do outro é apenas o PA, pois o primeiro localiza-se na direção da boca, e o outro, na direção da testa. Figura 1.9 Os sinais parônimos – LARANJA X APRENDER LARANJA APRENDER Fonte: Capovilla e Raphael (2011). 22 É importante ressaltar que os exemplos acima citados sobre polissemia, homonímia, sinonímia, antonímia e paronímia na Libras foram baseados em Lima e Cruz (2014). Contudo, os aspectos semânticos dessa língua necessitam de uma maior investigação. Ainda a respeito do campo semântico, conforme afirmam Ferrarezi Jr. e Basso (2013), devemos ponderar que: As diferentes “Semânticas”, ou seja, as diversas teorias ou vertentes de teorias sobre o estudo do significado linguístico estão ainda sendo feitas e por serem feitas, divergindo com relação à ênfase em diversos aspectos desse objeto, atuando em várias interfaces distintas,com inúmeras aplicações e dentro de referenciais teóricos diferentes, cada uma delas com seus comprometimentos epistemológicos, sua metalinguagem e sua agenda de pesquisa. Toda teoria semântica é uma teoria em construção. Toda teoria semântica ainda está em busca de respostas básicas, pilares. Toda teoria semântica é uma jornada distante de seu fim. E se, por um lado, isso pode parecer desanimador ao leitor comum, por outro é incrivelmente desafiador para os estudiosos dedicados à causa. E, bem se sabe, para as almas dispostas, um desafio é muito mais do que um mote contra a imobilidade: é a própria energia que sustém no decurso da jornada (FERRAREZI JR.; BASSO, 2013, p. 14). Portanto, o campo semântico, no que se refere às línguas sinalizadas, também necessita de construções teóricas, considerando-se que a possibilidade de pesquisas nessa área ainda não está esgotada. 1.3 CONSIDERACÕES FINAIS Neste capítulo, apresentamos alguns conceitos importantes à compreensão da Linguística das línguas de sinais, além de discutirmos de forma sucinta as legislações vigentes sobre a Libras. A tarefa da Linguística é compreender de que forma as estruturas gramaticais das línguas sinalizadas podem ser decompostas e analisadas. Nessa perspectiva, acreditamos que a Língua Brasileira de Sinais possui uma gama de processos linguísticos ainda não revelados e, por tal motivo, as pesquisas linguísticas devem ser estimuladas. SUGESTÕES DE LEITURA BRASIL. Decreto n.º 5.626, de 22 de Dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em 22 abr. 2017. BRASIL. Lei n.º 10.436, de 24 de Abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em 22 abr. 2017. 23 GESSER, A. Libras? Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torna da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. LACERDA, C. B. F.; SANTOS, L. F. (org.). Tenho um aluno surdo, e agora?: introdução à Libras e educação de surdos. São Carlos: EdUFSCar, 2014. QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. (Capítulo 1 – A linguística e a língua de sinais brasileira. p. 15-46) VIOTTI, E. C. Introdução aos estudos linguísticos. Curso de Licenciatura em Letras-Libras [Texto- base]. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. 24 CAPÍTULO 2 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: ASPECTOS FONOLÓGICOS Objetivos do capítulo: Discorrer a respeito da estrutura fonológica das línguas de sinais; Expor os pares mínimos na Libras; Demonstrar as restrições fonológicas que determinam a boa-formação de sinais; Apresentar de maneira concisa algumas pesquisas com enfoque na fonologia da Libras. VOCÊ SABIA? A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS PODE SER ANALISADA FONOLOGICAMENTE! No capítulo anterior, vimos brevemente que uma das propriedades que torna a linguagem humana singular é que os signos linguísticos que compõem uma determinada língua podem ser divididos em unidades menores. Em fonologia, essas unidades são denominadas “unidades mínimas distintivas” e constituem o seu objeto de estudo. Neste capítulo, abordaremos a fonologia nas línguas de sinais, sobretudo no que concerne aos aspectos fonológicos da Libras. Inicialmente, deve-se entender que “os linguistas das línguas de sinais utilizam o termo fonologia para se referir ao estudo da organização e da estrutura dos sinais” (VALLI; LUCAS; MULROONEY, 2005, p. 17, tradução nossa). Ao refletir sobre esse tema, surge o seguinte questionamento: o que é a fonologia das línguas de sinais? Para responder essa questão, traremos a citação de Quadros e Karnopp (2004): Fonologia das línguas de sinais é o ramo da linguística que objetiva identificar a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo modelos descritivos e explanatórios. A primeira tarefa da fonologia para línguas de sinais é determinar quais são as unidades mínimas que formam os sinais. A segunda tarefa é estabelecer quais são os padrões 25 possíveis de combinação entre essas unidades e as variações possíveis no ambiente fonológico (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 47). No decorrer deste capítulo, iremos compreender as tarefas da fonologia da língua de sinais. Além de tratarmos dos parâmetros fonológicos (tópico 2.2), abordaremos de maneira sucinta sobre o histórico dos estudos em fonologia de línguas de sinais (tópico 2.1), discorreremos a respeito dos pares mínimos na Libras (tópico 2.3), exporemos as concepções subjacentes à restrição na formação dos sinais (tópico 2.4) e, por fim, apresentaremos sucintamente os andamentos das pesquisas em fonologia de línguas de sinais no Brasil (tópico 2.5). Ao final da leitura do capítulo, não apenas entenderemos as particularidades da fonologia da língua de sinais, mas também poderemos utilizar esse conhecimento para realizar análises fonológicas na Libras. AFINAL, O QUE É FONOLOGIA? “A fonologia deve ser conceituada em termos de ciência da linguagem humana que se ocupa do estudo das unidades mínimas que estão no primeiro nível de análise linguística. Sabe-se que as unidades mínimas, isoladamente, não têm significado, mas se coadunam para formar as sílabas e os morfemas e/ou itens lexicais de um determinado sistema linguístico. Essa releitura ou revisão conceitual contribui para a inserção dos estudos em língua de sinais no domínio das pesquisas linguísticas em fonologia e, além disso, minimiza a distância entre a fonologia das línguas orais/faladas e das línguas sinalizadas.” (COSTA, 2012, p. 33-34) 2.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE A FONOLOGIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS Na década de 1960, William Stokoe foi o pioneiro na descrição linguística da Língua Americana de Sinais (American Sign Language – ASL). Ao decompor os sinais da ASL, ele observou que esses sinais eram compostos de três aspectos ou parâmetros. Por ter sido o precursor na análise linguística de uma língua sinalizada, ele é considerado “o pai da linguística das línguas de sinais” pela maioria dos pesquisadores. ATENÇÃO! 26 WILLIAM STOKOE (1919-2000) FOI O PRIMEIRO PESQUISADOR A REALIZAR UM ESTUDO FORMAL E ESTRUTURAL A PARTIR DA ANÁLISE LINGUÍSTICA DA LÍNGUA AMERICANA DE SINAIS. Na primeira edição de sua obra – Sign Language Structure (A estrutura da língua de sinais), Stokoe (1960) explicitou que os parâmetros (configuração de mão – handshape, locação – location, e movimento – movement) deviam ser chamados de “quiremas” e, nesse sentido, caberia à “quirologia” examinar as combinações entre esses parâmetros. Na segunda edição dessa obra (STOKOE, 1978), ao revisar os seus conceitos, “ele já admite os termos ‘fonema’ e ‘fonologia’, considerando que os parâmetros são análogos formais dos fonemas que constituem os morfemas nas línguas orais” (COSTA, 2012, p. 34). Posteriormente, Battison (1974, 1978) observou que a orientação da mão e as marcas não- manuais (expressões faciais e corporais) também exercem um papel relevante na análise fonológica da língua de sinais. Sinteticamente, as suas contribuições foram: (a) a alternância da orientação da mão pode modificar o significado lexical; e(b) há restrições fonológicas na produção de diferentes tipos de sinais. Em relação às restrições, tem-se observado que tanto a condição de simetria quanto a condição de dominância operam como restringentes na complexidade dos sinais. Essas restrições serão abordadas no tópico 2.4. A partir de 1978, as análises linguísticas sobre a ASL se expandiram e alcançaram os níveis morfológicos e sintáticos. No tocante à fonologia, segundo Quadros e Karnopp (2004), surgiu uma segunda geração de estudiosos.6 As pesquisas desses estudiosos foram norteadas a partir das seguintes questões: a estrutura fonológica dos sinais, os traços distintivos, além dos aspectos relacionados à simultaneidade e sequencialidade. Não julgamos conveniente historiar a respeito da fonologia da Libras neste momento. Esse assunto será abordado ao longo deste capítulo e, especialmente, no último tópico, quando tratarmos das pesquisas sobre fonologia de língua de sinais no Brasil. 2.2 OS PARÂMETROS FONOLÓGICOS De agora em diante, apresentaremos os parâmetros fonológicos das línguas sinalizadas. É relevante salientar que esses parâmetros dizem respeito a: (1) Configuração de mão (CM); 6 Esses estudiosos contemplam: Supalla e Newport (1978), Klima e Bellugi (1979), Padden (1983), Liddell (1984), Liddell e Johnson (1986, 1989) e Brentari (1998). 27 (2) Ponto de articulação (PA) ou locação (L); (3) Movimento (M); (4) Orientação da palma da mão (OM) e (5) Expressões não-manuais (ENM). Esses parâmetros devem ser entendidos como as unidades mínimas distintivas das línguas de sinais. Muitos autores classificam esses parâmetros em: (a) Parâmetros Primários – CM, PA e M; (b) Parâmetros Secundários – OM e ENM. Os parâmetros devem ser executados adequadamente, uma vez que a modificação de um deles pode ocasionar a alteração do significado do sinal. Cada um dos parâmetros mencionados será explicitado nos subtópicos a seguir. 2.2.1 A configuração de mão (CM) A configuração da(s) mão(s) (CM) refere-se à “forma da(s) mão(s) presente no sinal” (FELIPE; MONTEIRO, 2008, p. 21). Segundo Ferreira-Brito (1995), a CM representa as distintas formas que a(s) mão(s) adquire(m) na realização de um determinado sinal. Já que as línguas de sinais não são universais, conforme vimos no capítulo 1, cada língua de sinais possui um conjunto determinado de CMs que compõem o seu sistema fonológico. Ferreira- Brito (1995) foi a primeira pesquisadora a catalogar 46 (quarenta e seis) CMs para a Libras, organizando-as por similaridade em 19 grupos (Figura 2.1). Figura 2.1 Configurações de mão da Libras segundo Ferreira-Brito (1995, p. 220) 28 Além do registro de CMs proposto por Ferreira-Brito (1995), outros pesquisadores propuseram outros inventários. Acerca dessas propostas, Costa (2012) apresenta discussões relevantes. Na tabela abaixo, encontram-se sintetizadas algumas propostas. Tabela 2.1 As diferentes propostas de CMs da Libras. Autor / Teórico Número de CMs na Libras Ferreira-Brito (1995) 46 (quarenta e seis) Pimenta (LSB Vídeo, s.d.) 61 (sessenta e uma) Felipe e Monteiro (2008) 64 (sessenta e quatro) Faria-Nascimento (2009) 75 (setenta e cinco) Figura 2.2 Configurações de mão da Libras segundo Pimenta (LSB Vídeo, s.d.) 29 Enfim, ainda permanece o desafio de fazer um inventário das possíveis configurações de mão da Libras. Nesse aspecto, devemos considerar que: “Na língua brasileira de sinais, ainda não foi identificado quais configurações de mão compõem o conjunto de “fonemas” e “alofones”, ou seja, o conjunto de configurações de mãos e suas possíveis variantes utilizadas no país” (QUADROS; CRUZ, 2011, p. 64). 2.2.2 O ponto de articulação (PA) ou locação (L) Além da configuração da mão, um outro parâmetro de suma importância na língua de sinais é o ponto de articulação (PA), também chamado de locação (L). Esse parâmetro envolve “[...] o 30 espaço em frente ao corpo, ou uma área do próprio corpo, em que os sinais são articulados” (FERREIRA-BRITO, 1995, p. 37). De acordo com Felipe e Monteiro (2008, p. 22), o parâmetro PA diz respeito ao “lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até a cabeça) e horizontal (à frente do emissor).” Ou seja, mesmo quando o sinal é articulado sem tocar especificamente em alguma parte do corpo, dizemos que tal sinal é articulado no espaço neutro. O sinal LIBRAS é um bom exemplo de sinal articulado no espaço neutro. Figura 2.3 Os pontos de articulação segundo Liddell e Johnson (1989) Fonte: Valli, Lucas e Mulrooney (2000, p. 299). No quadro abaixo, estão descritos os pontos de articulação de acordo com Ferreira-Brito e Langevin (1995). 31 Quadro 2.1 Pontos de articulação (Ferreira-Brito e Langevin, 1995) Cabeça (C) topo da cabeça ( ); testa (T); rosto (R); parte superior do rosto (S); parte inferior do rosto (I); orelha (p); olhos (O); nariz (N); boca (B); bochechas (b); queixo (Q); zona abaixo do queixo (A). Tronco (T) pescoço (p); ombro (O); busto (B); estômago (E); cintura (C). Braços (B) braço (S); antebraço (I); cotovelo (C); pulso (P). Mão (M) palma (P); costas das mãos (C); lado do indicador (L1); lado do dedo mínimo (L2); dedos (D); ponta dos dedos (Dp); nós dos dedos (junção entre os dedos e a mão) (Dd); nós dos dedos (primeira junção dos dedos) (Dj); dedo mínimo (D1); anular (D2); dedo médio (D3); indicador (D4); polegar (D5); interstícios entre os dedos (V); interstício entre o polegar e o indicador (V1); interstícios entre os dedos indicador e médio (V2); interstícios entre os dedos médio e anular (V3); interstícios entre os dedos anular e mínimo (V4). Espaço Neutro (EN) Variações fonológicas também podem ocorrer nas línguas de sinais. Ao demonstrar um exemplo de variação fonológica que ocorre no parâmetro PA, Quadros e Cruz (2011) descrevem que: A locação é um dos elementos que constituem os sinais. A locação de um determinado sinal pode apresentar certa variação, mas observo certas restrições. Por exemplo, o sinal de SABER é realizado na têmpora no mesmo lado da mão utilizada para produzi-lo. Em contextos menos formais, esse sinal pode ser produzido mais abaixo, na altura da bochecha ou da parte de baixo da face no mesmo lada da têmpora. Esse tipo de variação foi observada em outras línguas de sinais e está relacionada com sinais produzidos no rosto (QUADROS; CRUZ, 2011, p. 65). 2.2.3 O movimento (M) De acordo com Ferreira-Brito (1995), considerado um parâmetro complexo, o movimento envolve uma vasta gama de formas e direções. Essas formas e direções englobam os movimentos internos das mãos, os movimentos do pulso, os movimentos direcionais no espaço e as séries de movimentos num mesmo sinal. 32 É importante pontuar que os movimentos identificados na Libras por Ferreira-Brito foram influenciados pelos estudos de Friedman (1977), Supalla e Newport (1978) e Klima e Bellugi (1979). No quadro a seguir, ilustraremos as categorias do parâmetro movimento na Língua Brasileira de Sinais. Os movimentos podem ser classificados: quanto ao tipo; quanto à direcionalidade; quanto à maneira; e quanto à frequência. Quadro 2.2 Categorias do parâmetro movimento na Libras (FERREIRA-BRITO,1990) TIPO Contorno ou forma geométrica: retilíneo, helicoidal, circular, semicircular, sinuoso, angular, pontual. Interação: alternado, de aproximação, de separação, de inserção, cruzado. Contato: de ligação, de agarrar, de deslizamento, de toque, de esfregar, de riscar, de escovar ou de pincelar. Torcedura de pulso: rotação, com refreamento. Dobramento de pulso: para cima, para baixo. Interno das mãos: abertura, fechamento, curvamento e dobramento (simultâneo/gradativo). DIRECIONALIDADE Direcional Unidirecional: para cima, para baixo, para direita, para esquerda, para dentro, para fora, para o centro, para a lateral inferior esquerda, para a lateral inferior direita, para a lateral superior esquerda, para a lateral superior direita, para específico ponto referencial. Bidirecional: para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita, para dentro e para fora, para laterais opostas – superior direita e inferior esquerda. Não-direcional MANEIRA Qualidade, tensão e velocidade contínuo de retenção refreado FREQUÊNCIA Repetição Simples Repetido Além do aspecto fonológico, o parâmetro M pode funcionar como morfema. A respeito disso, Supalla e Newport (1978) observaram que o processo de nominalização estava relacionado à repetição, tensão e encurtamento do movimento do sinal. Sobre esse processo, falaremos no próximo capítulo. 2.2.4 A orientação da palma da mão (OM) Segundo Karnopp (1999, p. 49), a orientação “[...] é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal.” Esse parâmetro não havia sido considerado inicialmente no trabalho de Stokoe. Ao observar a existência de pares mínimos (falaremos mais sobre eles adiante) com base na modificação da orientação da palma da mão, Battison (1974) e outros estudiosos argumentaram a favor da inserção desse parâmetro na fonologia das línguas de sinais. Na Figura 2.4, serão demonstradas as possibilidades de orientação da mão com base em Marentette (1995). 33 34 Figura 2.4 Orientação da palma da mão segundo Marentette (1995, p. 204) É importante destacar que a mudança na OM no caso de alguns verbos pode funcionar como morfema. Essa questão será abordada no próximo capítulo. 2.2.5 As marcas ou expressões não-manuais (ENM) Há um equívoco em se pensar que a Libras é a língua(gem) das mãos, considerando que as expressões ou marcas não-manuais exercem um papel de suma importância. Nesse sentido, Gesser (2009, p. 17, grifos do autor) afirma que: “As mãos não são o único veículo usado nas línguas de sinais para produzir informação linguística. Os surdos fazem uso extensivo de marcadores não manuais.” Nas línguas de sinais, as marcas não-manuais compõem a estrutura da língua, sendo portanto elementos gramaticais. Ao considerar os aspectos gramaticais dessas marcas não-manuais, Quadros e Karnopp (2004) afirmam que: As expressões não-manuais (movimento da face, dos olhos, da cabeça ou do tronco) prestam-se a dois papéis nas línguas de sinais: marcação de construções sintáticas e diferenciação de itens lexicais. As expressões não- manuais que têm função sintática marcam sentenças interrogativas sim-não, interrogativas QU-, orações relativas, topicalizações, concordância e foco [...] As expressões naõ-manuais que constituem componentes lexicais marcam referência específica, referência pronominal, partícula negativa, advérbio, grau ou aspecto [...] (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 60). 35 No quadro a seguir, estão descriminadas as expressões não-manuais da língua brasileira de sinais propostas por Ferreira-Brito e Langevin (1995). Quadro 2.3 As Expressões Não-Manuais da Libras (FERREIRA-BRITO; LANGEVIN, 1995) Rosto Parte superior sobrancelhas franzidas olhos arregalados lance de olhos sobrancelhas levantadas Parte inferior bochechas infladas bochechas contraídas lábios contraídos e projetados e sobrancelhas franzidas correr da língua contra a parte inferior interna da bochecha apenas bochecha direita inflada contração do lábio superior franzir do nariz Cabeça balanceamento para frente e para trás (sim) balanceamento para os lados (não) inclinação para frente inclinação para o lado inclinação para trás Rosto e cabeça cabeça projetada para a frente, olhos levemente cerrados, sobrancelhas franzidas cabeça projetada para trás e olhos arregalados Tronco para frente para trás balanceamento alternado dos ombros balanceamento simultâneo dos ombros balanceamento de um único ombro Apesar de não entrarmos no mérito da discussão desse parâmetro, faz-se necessário apontar que ainda não há um consenso entre os pesquisadores da área da fonologia das línguas de sinais sobre a relevância das expressões não-manuais para as análises fonológicas. No que se refere às marcas não-manuais de natureza morfológica e sintática, abordá-las-emos nos próximos capítulos. 2.3 OS PARES MÍNIMOS NA LIBRAS Classicamente, a fonologia tem buscado desvendar os fonemas da língua a partir da utilização de um método de análise baseado em pares mínimos. Nesse sentido, Diniz (2011, p. 38) afirma que: “Nos estudos fonológicos, a forma tradicional de identificação de fonemas envolve o contraste da palavras através de pares mínimos.” Observe, inicialmente, algumas palavras da Língua Portuguesa no quadro abaixo: 36 Quadro 2.4 Alguns pares mínimos da Língua Portuguesa. Palavra em LP Transcrição fonética Palavra em LP Transcrição fonética Bola ['bɔlɐ] Mola ['mɔlɐ] Sol ['sɔw] Sou ['sow] Carro ['kahu] Caro ['kaɾu] Casa ['kazɐ] Caça ['kasɐ] Chato ['ʃatu] Jato ['Ʒatu] Queijo ['kejƷu] Queixo ['kejʃu] Nas palavras acima, observamos que a troca de um único fonema em uma determinada palavra pode gerar uma outra palavra com significado distinto. Nesses casos, temos os pares mínimos. Entenda que estamos falando de fonema, que é a unidade mínima distintiva, e não de letra ou grafema. No caso das línguas de sinais, o par mínimo ocorrerá quando a modificação de um parâmetro em um dado sinal gerar um outro sinal de significado distinto. Caso os sinais sejam aparentemente semelhantes, mas distintos em mais de um parâmetro, eles não podem ser considerados pares mínimos. Nas imagens abaixo, apresentaremos exemplos de pares mínimos com base nas oposições paramétricas. Os exemplos aqui expostos são os mesmos apresentados nas obras de Quadros e Karnopp (2004) e Gesser (2009). 2.3.1 Sinais que se opõem quanto à configuração de mão (CM) Figura 2.5 Par mínimo: PEDRA x QUEIJO Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 52) Figura 2.6 Par mínimo: GRÁTIS x AMAREL@ Fonte: Gesser (2009, p. 15) Nos pares mínimos PEDRA x QUEIJO e GRÁTIS x AMAREL@, podemos observar que a oposição em cada par ocorre apenas no parâmetro CM. Os outros parâmetros (PA, M e OM) permanecem idênticos. 37 2.3.2 Sinais que se opõem quanto ao ponto de articulação (PA) Figura 2.7 Par mínimo: APRENDER x SÁBADO Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 52) Figura 2.8 Par mínimo: TER x ALEMANHA Fonte: Gesser (2009, p. 15) Nos pares mínimos APRENDER x SÁBADO e TER x ALEMANHA, podemos observar que a oposição em cada par ocorre apenas no parâmetro PA. Os outros parâmetros (CM, M e OM) permanecem idênticos. 2.3.3 Sinais que se opõem quanto ao movimento (M) Figura 2.9 Par mínimo: TRABALHAR x VÍDEO Fonte: Quadros e Karnopp(2004, p. 52) Figura 2.10 Par mínimo: CHURRASCARIA x PROVOCAR Fonte: Gesser (2009, p. 15) Nos pares mínimos TRABALHAR x VÍDEO e CHURRASCARIA x PROVOCAR, podemos observar que a oposição em cada par ocorre apenas no parâmetro M. Os outros parâmetros (CM, PA e OM) permanecem idênticos. PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO: A fim de compreender melhor o aspecto fonológico da Libras, pesquise outros sinais que sejam pares mínimos e demonstrem oposições em relação à CM, PA e M. 38 2.4 A RESTRIÇÃO NA FORMAÇÃO DE SINAIS Nos tópicos anteriores, pudemos entender que os parâmetros se articulam para formar os sinais. A partir de agora, apresentaremos sucintamente algumas regras que dizem respeito às restrições fonológicas para a boa-formação de sinais. Em relação a essas restrições, é importante expor inicialmente que: Restrições físicas e linguísticas especificam possíveis combinações entre as unidades (configuração de mão, movimento, locação e orientação de mão) na formação de sinais. Algumas dessas restrições são impostas pelo sistema perceptual (visual) e outras pelo sistema articulatório (fisiologia das mãos) (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 78). No tocante às restrições fonológicas para a boa-formação dos sinais, Battison (1978) propõe a seguinte classificação: (a) sinais produzidos com uma mão; (b) sinais produzidos com as duas mãos em que ambas são ativas; (c) sinais de duas mãos em que a mão dominante é ativa e a mão não-dominante funciona como locação. Esse mesmo autor sugere que, na produção de sinais com duas mãos, há dois tipos de restrições fonológicas. A primeira refere-se à condição de simetria e a segunda refere-se à condição de dominância. Na condição de simetria (Figura 2.11), a CM deve ser a mesma para ambas as mãos. Nessa condição, além da CM ser a mesma, a boa-formação do sinal preconiza que a locação deve ser a mesma ou simétrica e o movimento deve ser simultâneo ou alternado. Figura 2.11 Condição de simetria nos sinais TRABALHAR X FAMÍLIA Figura 2.12 Condição de dominância nos sinais AJUDAR X APOIAR X CENTRO Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 79) Na condição de dominância (Figura 2.12), as mãos apresentam CM distintas. Nesse caso, a mão ativa ou dominante produz o movimento e a outra mão (chamada passiva ou não dominante) serve de apoio à mão dominante. Ainda sobre as restrições, convém pontuar que: As restrições na formação de sinais, derivadas do sistema de percepção visual e da capacidade de produção manual, restringem a complexidade dos 39 sinais para que eles sejam mais facilmente produzidos e percebidos. O resultado disso é uma maior previsibilidade na formação de sinais e um sistema com complexidade controlada (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 79). 2.5 AS PESQUISAS EM FONOLOGIA DE LÍNGUAS DE SINAIS NO BRASIL A descrição e análise dos aspectos estruturais da Libras foi desbravada por Lucinda Ferreira Brito. Em sua obra “Por uma gramática das línguas de sinais” (FERREIRA-BRITO, 1995), além de tratar dos aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos, ela descreve os parâmetros fonológicos da Libras, respaldando-se teoricamente nas pesquisas dos estudiosos da Língua Americana de Sinais. A partir daí, vários outros pesquisadores se interessaram pelos estudos fonológicos da Libras. Nesta seção, apontaremos alguns desses estudos. Com o objetivo de compreender aspectos da aquisição fonológica na criança surda, Karnopp (1994, 1999) trouxe contribuições relevantes para os estudos linguísticos da Libras. Ao analisar a produção linguística de crianças surdas, filhas de pais surdos, ela evidenciou as consequências dos processos fonológicos no decurso da aquisição fonológica da Língua Brasileira de Sinais. Ao se basear num modelo de análise sublexical proposto por Liddell (1984) e desenvolvido por Liddell e Johnson (1989[2000]), Xavier (2006) apresenta uma descrição do nível fonético- fonológico para a Língua Brasileira de Sinais. Nessa perspectiva, ele defende que os sinais da Libras são formados por segmento, analogamente ao que ocorre nas línguas orais. Para isso, ele elaborou um banco de dados a partir da sistematização dos sinais apresentados no Dicionário Enciclopédico Trilíngue da Língua Brasileira de Sinais (CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001). Cruz e Lamprecht (2008) apresentam um instrumento para a avaliação da consciência fonológica para crianças surdas usuárias da Libras. Nesse instrumento, elas centralizam as análises do parâmetro CM. As autoras concluem que a aplicação de um instrumento de avaliação da consciência fonológica possibilita: [...] verificar se a criança consegue refletir sobre aspectos fonológicos na sua própria língua, identificar o nível de desenvolvimento da consciência fonológica (típico ou atípico considerando o período de exposição linguística) e acompanhar a evolução nesta importante habilidade linguística (CRUZ; LAMPRECHT, 2008, p. 105). Bento (2010) aborda os aspectos aquisicionais da fonologia da Libras de uma criança surda, filha de pais surdos, adquirindo a língua de sinais como primeira língua. Sua pesquisa aborda um estudo de caso, no qual foi realizada uma observação longitudinal do processo de aquisição da Libras num ambiente bilíngue (Língua Portuguesa/Libras) no período de 1a.6m. 40 a 2a.6m. de idade. Em seu estudo, foram investigados os processos fonológicos no que tange às substituições nos parâmetros CM, M e PA. Quadros e Cruz (2011) publicam o Instrumento de Avaliação da Língua Brasileira de Sinais (IALS). Nesse instrumento, a análise dos aspectos linguísticos vai desde o nível fonológico até o nível discursivo. No tocante ao aspecto fonológico, essas autoras demonstram como as unidades mínimas ou parâmetros que constituem os sinais devem ser avaliados. Costa (2012) propõe um Instrumento para a Avaliação Fonológica da Língua Brasileira de Sinais denominado FONOLIBRAS. Para a construção do seu instrumento, ele adotou o modelo prosódico de análise fonológica para as línguas de sinais, conforme proposto por Brentari (1998). Os resultados da sua pesquisa apontam que há processos fonológicos na Libras. Os processos descritos foram: a assimilação, a elisão, a epêntese e a metátese. Tendo em vista que ainda não sabemos todas as respostas em relação à fonologia da língua de sinais, concluiremos este capítulo com as vozes de Quadros e Karnopp (2004) quando afirmam que: “A diferença entre línguas orais e de sinais no nível fonológico é difícil de ser estabelecida, considerando que muitos tópicos sobre a fonologia das línguas de sinais continuam sendo pesquisados e/ou ainda não foram investigados” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 62). 2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, compreendemos a estrutura e organização fonológica da língua de sinais. Abordamos os parâmetros fonológicos, os pares mínimos, as restrições fonológicas que operam na realização de sinais com duas mãos e, por fim, as pesquisas em fonologia da Libras. Diante de tudo o quanto foi exposto, concluímos que os estudos em fonologia de línguas de sinais ainda são insipientes; muitas operações fonológicas que ocorrem nas línguas de sinais ainda carecem de pesquisas e investigações exaustivas. SUGESTÕES DE LEITURA FERREIRA-BRITO, L. Uma abordagem fonológica dos sinais da LSCB. Espaço: Informativo Técnico-Científico do INES, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 20-43, 1990. FERREIRA-BRITO, L.. Por uma gramática das línguas de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. GESSER, A. Libras? Que língua
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