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Florbela Espanca - síntese histórica, social e filosófica

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Tópicos para discussão com os alunos 
 
 
 
1. Florbela Espanca enquanto poetisa 
 
Existe uma correspondência directa entre a escrita de Florbela Espanca e a sua 
identidade pessoal. Isto é, os sonetos que escreveu constituem uma tradução 
bastante exacta da sua experiência enquanto mulher, amante, filha e irmã. O eu 
poético de Florbela Espanca é simplesmente ela mesma. 
O filme FLORBELA baseia-se na sua grande parte em aspectos biográficos 
referentes a um período da vida da poetisa. A fase da vida de Florbela Espanca 
retratada neste filme é, sem dúvida, o período mais tumultuoso da sua existência. 
Num curto espaço de anos a autora casou-se e divorciou-se, instalou-se em Lisboa e 
sofreu a perda do irmão, Apeles Espanca. Todos estes eventos fizeram com que 
escrevesse menos, mas todos foram factores que para sempre influenciariam a sua 
poesia. Mais uma vez, a sua vida e obra dificilmente podem ser vistas e analisadas 
separadamente. 
 
2. A poesia de Florbela Espanca no grande ecrã 
 
 
Os poemas de Florbela Espanca estão presentes no filme FLORBELA de diversas 
maneiras, mas nunca de forma convencional. Por exemplo, o célebre verso “viver é 
não saber que se vive” surge no decorrer de uma conversa com uma outra 
personagem, pai do seu terceiro marido, Mário Pereira Lage. Deste modo, as 
questões que Florbela coloca a si mesma na sua obra são feitas por meio de outras 
personagens. Afinal, a poesia é isso mesmo, um diálogo com o mundo. 
Muitos dos versos surgem representados no ecrã simbolicamente, como a 
personagem de Florbela a dormir com uma pantera ou a escrever no Alentejo, um 
quarto onde folhas caiem do céu. São momentos em que o tempo pára, dando lugar 
apenas à criação. Momentos em que o espectador assiste ao que será o processo 
criativo de um escritor, pois apesar de Florbela Espanca pouco escrever na altura, os 
episódios a que assistimos no filme marcaram-na e à sua obra profundamente. O 
maior exemplo disso mesmo é a cena final, em que a personagem de Florbela 
escreve “Aviador” em memória do irmão falecido. 
Existem portanto uma série de imagens referentes a sonetos que escreveu, como a 
cena em que Florbela se encontra coberta por um manto de neve, metáfora visual 
presente no poema “Sobre a neve”. Outro exemplo é a cena em que Florbela se 
aventura pela noite, já na sua terra, onde esta se funde com a paisagem, podendo ser 
relacionada com o poema “Noite de saudade”. Ao longo do filme é também realçada 
a forte ligação/identificação que Florbela sentia em relação ao Alentejo. Esta relação 
está presente em poemas como “Árvores do Alentejo”, entre outros. 
Um dos temas mais recorrentes na poesia de Florbela Espanca, assim como no filme 
em questão, é o da insaciabilidade. A autora é retratada como alguém que 
incessantemente procura o amor e limite das emoções. A sensação de algo perdido 
ou por encontrar é uma constante, e pode ser relacionada com poemas como 
“Amor!”, “Eu” e “Realidade”. Esta sua interminável procura é também frisada na 
cena em que Florbela se envolve com o mascarado. É igualmente um momento de 
fuga, episódio que representa a sua vontade de quebrar as regras e convenções que 
lhe são impostas pela sociedade, ir mais além do que esperariam dela enquanto 
mulher e esposa. Este é um desejo expresso num dos seus poemas mais conhecidos, 
“Ser poeta”. 
 
3. O papel da mulher nos anos 20 em Portugal 
 
Florbela Espanca é apresentada como uma mulher à frente do seu tempo, uma época em 
que ainda se adivinhava um longo caminho a percorrer até à igualdade entre géneros. 
À nascença, Florbela Espanca foi registada como filha ilegítima de pai incógnito, um 
factor que apesar de não ser fora do vulgar para a época, carregava consigo uma má 
conotação em termos sociais. Mas esta não seria a única razão pela qual Florbela 
Espanca não corresponderia nunca aos padrões do que devia ser uma mulher nos anos 
20. Os seus casamentos e divórcios não eram práticas aceites na altura, e ao casar-se 
pela terceira vez, a sua família, com excepção do seu irmão, deixariam de lhe falar. 
Apesar de casada, Florbela não deixava de integrar a noite boémia de Lisboa, 
recusando-se a escolher entre assumir o papel de esposa ou mulher libertina. Um outro 
factor que a separava do resto das mulheres da altura era o facto de ser financeiramente 
emancipada, dando aulas de português e fazendo traduções para ganhar dinheiro. 
Este seu desprezo por regras sociais é um aspecto várias vezes sublinhado no decorrer 
do filme, como por exemplo, a cena em que uma pequena rapariga comenta o facto de 
Florbela estar a usar calças, uma peça que era somente aceitável no vestuário masculino. 
 
4. Contexto político 
 
Em 1910 Portugal muda de regime, instalando-se no poder o partido republicano. Este 
novo regime teve vários governos que se foram sucedendo com demasiada rapidez, 
provocando um clima de instabilidade governamental. Com a desvalorização da moeda 
e a inflação, foi um período marcado por uma desorganização económica e social 
generalizada. A 28 de Maio do ano de 1926, Portugal é palco de uma revolta da qual 
resultou a implementação de uma ditadura militar. 
No filme FLORBELA, a cena em que a população revoltosa entra em confronto com a 
polícia, pretende ilustrar o clima de tenção que se vivia na época. Está portanto 
relacionada com o período politicamente conturbado que Portugal atravessou durante os 
anos 20-30, marcados por uma crise de autoridade política, pobreza, indignação e 
ataques bombistas por diversas facções políticas. 
 
5. Contexto artístico 
 
O início do século XX foi marcado por novos movimentos artísticos que contestavam 
autores e pensadores que ainda se regiam pelos velhos padrões, como o classicismo ou o 
naturalismo. 
A revista Orpheu, responsável pela introdução do modernismo em Portugal, é lançada 
no ano de 1915 e contou com a participação de nomes como Fernando Pessoa, Mário de 
Sá Carneiro e Almada Negreiros, entre outros. Herdeira dos ideais da revolução russa, 
esta corrente literária queria romper com todos os padrões previamente estabelecidos, 
promovendo a destruição da sintaxe e de regras como o uso de adjectivos e pontuação. 
Florbela sempre se encontrou alheia a esta facção da literatura portuguesa. Defensora do 
soneto, os seus poemas seguiam os padrões clássicos já utilizados por Camões, Bocage, 
e uma das suas maiores influências literárias, Antero de Quental. Por isso mesmo nunca 
se inseriu no movimento modernista português, tendo publicado em revistas como 
“Seara Nova” e jornais como “O Século”. 
Florbela Espanca escrevia primeiramente por impulso, uma necessidade de expressão 
que ultrapassava correntes literárias, e a sua poesia iria sempre assumir contornos 
autobiográficos.

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