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VISÃO JUNGUIANA DA RELAÇÃO PROFESSOR – ALUNO

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ÁGORA Revista Eletrônica 
Ano VIII nº 16 Jun/2013 ISSN 1809 4589 P. 213 – 222 
 
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VISÃO JUNGUIANA DA RELAÇÃO PROFESSOR – ALUNO 1 
 
 
 
 
Regina de Fátima Fortes Araújo2 
 
 RESUMO 
 A relação professor-aluno, neste artigo, é vista sob a ótica da Psicologia Analítica, de 
Carl G. Jung. Evidenciando-se o papel do inconsciente ligado nesta relação, em especial o 
fato de ser esta uma relação arquetípica. Utilizando-se do conceito de arquétipo e, no caso, do 
arquétipo do professor-aluno, analisam-se as várias facetas dessa essencial forma de 
relacionamento humano. Através da caracterização desse arquétipo, estabelecem-se as 
diferenças e consequências entre estar-se consciente ou inconsciente deste; conduzindo a uma 
reflexão sobre a importância de um reconhecimento desse padrão de relacionamento para a 
situação pedagógica. 
 
Palavras-chave: Arquétipo. Inconsciente Pessoal e Coletivo. Relação Dialética. 
 
 
INTRODUÇ ÃO 
 
 
Percebendo-se a relação professor-aluno se trata de uma relação humana que é 
mediada e organizada tanto por fatores conscientes quanto por fatores inconscientes; portanto, 
desta ocorrerá à interferência de fatores arquetípicos inconscientes e o reconhecimento destes 
facilita a situação de ensino-aprendizagem, melhorando a qualidade desta. 
Percebo que sob a ótica Junguiana é possível entender como ocorre o envolvimento do 
inconsciente nas relações e as suas implicações, assim, considerando que a maioria dos 
estudos sobre a relação professor-aluno observa apenas o nível consciente desta e que o não 
reconhecimento da participação ativa do inconsciente do modo pelo qual esta se estrutura 
pode ser um fator desencadeador de complicações ou mau aproveitamento do ensino, o 
 
1
 Texto apresentado pelas autoras, Professora da rede Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, no XIX 
Seminário Nacional de Educação: Educação Crítica: pesquisa emancipatória e diálogo problematizador, em 
Palmeira das Missões, entre os dias 12 e 14 de julho e 14 e 15 de setembro de 2012. 
¹ É Pedagoga, Professora Anos Iniciais na rede Municipal e Estadual de Palmeira das Missões-RS. Texto 
apresentado no XIX Seminário Nacional de Educação: Educação Crítica: pesquisa emancipatório e diálogo 
problematizador, em Palmeira das Missões, entre os dias 12 e 14 de julho e 14 e 15 de setembro de 2012. 
 
 
 
ÁGORA Revista Eletrônica 
Ano VIII nº 16 Jun/2013 ISSN 1809 4589 P. 213 – 222 
 
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presente artigo justifica-se no sentido de ser uma reflexão sobre a presença do inconsciente na 
relação arquetípica professor-aluno, tendo como consequência uma redefinição destes papéis, 
objetivando um espaço facilitador do ensinar e aprender. 
Partindo, desta busco refletir sobre a necessidade do reconhecimento do que Jung 
considera como referenciais inconscientes e que estão envolvidos na relação pedagógica, bem 
como suas implicações, a fim de se buscar uma situação que favoreça o ensino-aprendizagem. 
Para tanto, penso analisar conceitos Junguianos que tratam da relação ensinantes-aprendentes, 
aproveitando melhor a situação de mediação no ensinar e aprender, através do 
reconhecimento dos aspectos inconscientes que envolvem esta relação. 
 
1. Perfil de Carl Gustav Jung 
 
Carl Gustav Jung nasceu em Kesswil, Turgávia, região às margens do Lago 
Constança, Suíça, no dia 26 de julho de 1875. Filho de Joham Paul Jung, pastor protestante da 
igreja reformada e de Emile Preiswerk. Sua mãe era uma dona de casa instruída e culta que o 
incentivou à leitura de Fausto de Goethe na adolescência. 
Quando chegou à Universidade de Basiléia para estudar medicina, Jung detinha 
razoável conhecimento de Filosofia, nutrindo especial interesse pelas ideias de Kant e Goethe. 
O seu entusiasmo filosófico levá-lo-ia, ainda, às ideias de Schonhauer e às de Nietzsche, que 
exerceriam significativa influência na construção de sua teoria psicológica. 
O contato com a obra de Freud ocorreu através do livro: “A interpretação dos 
Sonhos”, cuja leitura por Jung deu-se em dois momentos. No primeiro, a obra não lhe causou 
impacto nem despertou interesse. Em segunda leitura, percebeu a extensão e a profundidade 
com que Freud tratou a questão dos sonhos. Essa leitura aproximou os dois maiores 
estudiosos do inconsciente numa amizade fecunda e tumultuada, que durou cerca de sete anos. 
A princípio, Jung permaneceu receptivo à teoria da sexualidade infantil. Todavia, ao 
longo do tempo em que estudou e praticou a psicanálise freudiana, não conseguiu encontrar 
nos seus fundamentos teóricos, elementos que dessem conta dos fenômenos com os quais se 
defrontava no tratamento dos psicóticos, principalmente esquizofrênicos. Pois, nesses 
pacientes, a doença decorria de grave dissociação da mente, não apresentando traços de uma 
etiologia sexual. 
 
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Partindo, desse impasse, Jung desenvolveu estudos de alquimia, mitos e lendas na 
busca de elementos que construíssem para a elucidação das questões levantadas pela clínica 
da psicose. Foi principalmente essas questões que o fizeram demandar outras perspectivas de 
análise, tais como a abordagem simbólica e a hermenêutica. Com o instrumental teórico 
oferecido por esses métodos, identificam nos mitos, lendas e processos alquímicos a estrutura 
e a dinâmicos psíquicos por ele encontrados na clínica da psicose. 
A partir dessa constatação, são fundados os pilares em cima dos qual Jung afirma que 
esta estrutura, enquanto forma, seria um componente da psique, presente em todos os 
indivíduos desde o nascimento, chegando em tão à sua hipótese mais refinada: “ a da 
existência de um substrato desconhecido na mente humana, responsável pelo obscuro da 
psique”, que ele denominou de inconsciente coletivo que configura a dimensão objetiva da 
psique e contém o aprendizado resultante da experiência humana em todos os tempos, 
herdado pelo indivíduo como disposições ou virtualidades psíquicas. 
O inconsciente coletivo, dotado de propósito ou intencionalidade, cuja força energética 
repousa em elementos primordiais ou arcaicos denominados arquétipos, é determinante dos 
fatos psíquicos. 
Segundo as próprias palavras de Jung: 
 
Os arquétipos não são apenas impregnações de experiências típicas, incessantemente 
repetidas, mas também se comportam empiricamente como forças ou tendências à 
repetição das mesmas experiências. Cada vez que um arquétipo aparece em sonho, 
na fantasia ou na vida, ele traz consigo uma “ influência” específica ou uma força 
que lhe confere um efeito numinoso e fascinante ou impele a ação. (JUNG, 1942, p. 
109). 
 
Jung considera que é a psique coletiva, no seu embate com o ambiente externo e suas 
exigências, que gera o que ele denominou de inconsciente pessoal, e não as vicissitudes da 
pulsão como postula a teoria freudiana. 
O inconsciente pessoal tem como conteúdo: tudo aquilo que sabemos, mas em que não 
estamos pensando no momento; tudo aquilo de que uns dias estiveram conscientes, mas de 
que atualmente estamos esquecidos; tudo o que nossos sentidos percebem, mas nossa mente 
consciente não considera; tudo aquilo que sentimos, pensamos, recordamos, desejamos e 
fazemos involuntariamentee sem prestar atenção, ou seja, é resultante de nossa experiência 
pessoal. 
 
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É importante colocar que tanto o inconsciente pessoal quanto o coletivo, está atuante o 
tempo todo: falamos, sentimos e reagimos muitas vezes de forma involuntária sem ideia dos 
motivos que nos leva a estas ações. Pois, nossas relações obedecem a padrões arquetípicos no 
sentido de que, desde primórdios da existência do homem elas se estabelecem de forma 
simbólica, como por exemplo: a relação mãe-filho, professor-aluno, entre outros; por mais 
que haja nossa individualidade podemos reconhecer algo de comum, de universal. 
Exemplificando: é possível reconhecer uma relação de amor seja em que lugar e época forem 
esse é o modelo humano se manifestando. 
Todos os arquétipos contêm polaridades, isto é, tem dois polos, atuam em pares e todo 
ser humano, pela própria definição de arquétipos possui os dois lados dentro de si, como 
potencialidades de comportamento, ou seja: temos a mãe, mas também o filho; muitas vezes 
agimos como médico ou como doente. Ambos são aspectos do mesmo arquétipo, um não vem 
sem o outro. 
Enfim, há muito que se falar sobre o pensamento Junguiano, especificamente sobre 
conceitos de inconsciente e de arquétipo, porém penso que, com estes exemplos o básico 
sobre o assunto foi tratado. Então, parto para uma área mais específica de conceito: a 
polaridade professor-aluno. 
Carl Gustav Jung faleceu em 06 de junho de 1961. 
 
2. As implicações do padrão arquetípico da relação professor-aluno 
 
O fato de duas ou mais pessoas se encontrarem com propósitos educacionais é em si 
um acontecimento arquetípico, já que desde que existem seres humanos, existem pessoas 
ensinando e pessoas aprendendo. O encontro com fins pedagógicos é um acontecimento 
humano típico. “Ensinar é uma especificidade humana.” (FREIRE, 1999, p. 102). Assim, 
como a relação mãe-filho ou a relação médico-paciente. Há todo um ritual que define este 
acontecimento: horário, local específico e papéis definidos com uma proposta de transmissão 
de conhecimento e formação do indivíduo. De acordo com Paulo Freire: (1999, p. 25). “Quem 
ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. 
O professor e o aluno são arquétipos e, por definição, todos nós temos 
independentemente do papel que assumimos. Quando uma pessoa se encontra numa situação 
pedagógica o arquétipo do professor-aluno se reúne: o aluno procura um professor exterior, 
 
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mas ao mesmo tempo traz o professor intrapsíquico para fazer parte da ação pedagógica. O 
mesmo acontece com o professor: ao ensinar para o aluno exterior traz consigo o seu aluno 
intrapsíquico. 
Assim, em uma situação pedagógica pode se observar que a figura do professor e a 
figura do aluno exemplificam um modelo ativado e atuando de forma dinâmica. Segundo 
Freire (1999, p.32): “Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me 
educo”. 
O que geralmente ocorre é que num primeiro momento, o aluno está inconsciente de 
seu lado professor e o vivencia através da pessoa do professor formando-se assim, uma 
aliança pedagógica onde o professor encarrega-se de proporcionar o espaço para que aconteça 
o processo ensino-aprendizagem. 
Percebe-se, então que se estabelece uma “conversa” de consciência para consciência 
entre professor e aluno, a qual já denominei “aliança pedagógica”, onde realmente deve haver 
um pacto entre ambos a ser planejado e cumprido, tais como: formas de avaliação, e as 
normas de conduta de cada um. 
Conforme Freire (1999, p. 77): “A nossa capacidade de aprender, de que decorre a de 
ensinar, sugere ou, mais do que isso, implica a nossa habilidade de apreender a 
substantividade do objeto aprendido”. 
A professora psicóloga e doutora Laura Villares de Freitas, responsável pelo 
Departamento de Psicologia da Aprendizagem do Desenvolvimento e da Personalidade da 
USP – Universidade de São Paulo coloca como partes integrantes do papel do professor: 
 
Coloca-se à disposição para uma relação aberta, fluente, empática, aceitadora;... o 
cuidar do clima do grupo;... O colaborar com a ligação entre o vivido (pelo grupo) e 
os temas teóricos. Em suma, o professor é o encarregado das condições básicas da 
criação e da manutenção de um campo de comunicação onde os símbolos do 
arquétipo do mestre-aprendiz possam se configurar, manifestar e ser assimilados à 
consciência. (FREITAS, 1990, p. 79). 
 
Outra “conversa” é a que se estabelece entre a consciência e o inconsciente do 
professor: espera-se que o professor tenha contato com seu lado aluno até para poder estar 
sempre aprendendo, se reciclando e também exercitando a empatia, se colocando no lugar do 
aluno. Desta maneira, como coloca Freire (1987, p. 68): “ o educador já não é o que apenas 
 
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educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser 
educado, também educa”. 
Caso o professor se separe de seu aluno intrapsíquico, este passará a ser projetado no 
aluno, somente sendo vivido na pessoa do aluno, ficando o aluno cada vez mais aluno no 
sentido de dependente do professor que tudo sabe, e ganhando o rótulo daquele que “não 
aprende”, e não vai aprender mesmo, pois neste caso ele está paralisado em seu papel tal qual 
seu professor. Guggenbühl define este professor de maneira clara: 
 
Esses se tornam “ professores e nada mais” e confrontam as crianças ignorantes 
quase como inimigos. Queixam-se que estas não sabem nada e não têm vontade de 
aprender; seus nervos ficam à flor da pele com a infantilidade e a falta de 
autocontrole dos alunos. Para esse tipo de professor as crianças são o Outro, aquilo 
que ele próprio não deseja ser jamais; comprazendo-se em exibir seu poder. 
(GUGGNBÜHL, 2004, p. 98). 
 
Realmente, “aluno” pode simbolizar alguém aberto para o novo, para a curiosidade, 
sendo, portanto, espontâneo, comprometido e entusiasmado. Caso o professor perca o contato 
com esse seu lado, este professor deixa de estudar, deixa de ser espontâneo, comprometido e 
curioso, esquece-se de que é necessário estar sempre em busca de aprendizagem e torna-se 
alguém rígido e inseguro; trazendo para a relação, dificuldades que há muito conhecemos, é 
aquele que se tornou: seco, mecânico e irritadiço com os alunos, pois, há muito perdeu o 
contato com a aprendizagem. 
 
É importante que o professor conheça suas principais defesas e se disponha a 
reconhecê-las quando surgem. Há professores que reagem à desordem ou à 
desatenção como uma rejeição pessoal. Há aqueles que reagem com ansiedade 
anormal à agressividade. Existem muitos que recebem com extraordinária 
dificuldade a competição de seus alunos. (BYINGTON, 2004, p. 73). 
 
E por fim a terceira “conversa” a ser observada é aquela que se dá entre a consciência 
do aluno e seu professor interno, inconsciente. Esta conversa num primeiro momento não está 
ocorrendo, como já vimos, é a figura do professor externo que encarna esta figura interna. 
Porém, isso não pode ficar sempre assim, lentamente a figura do professor interno começaa 
ser ativada, é quando o aluno fica independente, começa a correlacionar os ensinamentos do 
professor com situações de sua própria vivência, seja pessoal ou teórica, quando o aluno pode 
iniciar a contribuição para com seus colegas. 
 
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Caso esta conversa interna não se estabeleça, ou seja, estando o aluno separado do 
professor interior, ele se torna aquele aluno no qual a espontaneidade e o entusiasmo tornam-
se infantilidades, “bagunça” mesmo. Torna-se então um aluno destrutivo por não conseguir 
manter a ordem e a criatividade dentro dele mesmo. Ou então se tornam alunos dependentes e 
submissos, nada questionam, nada criam, somente repete de forma mecânica aquilo que 
“aprenderam”, eternos alunos, esperando sempre tudo “mastigado” por parte do professor. 
Conforme Byington (2004, p. 110): “na relação professor-aluno a transferência se 
produz quando o desejo de saber do aluno se liga a um elemento particular que é a pessoa do 
professor”. Despertar para esta conversa vai depender do próprio aluno, dependendo da 
personalidade individual de cada um, mas também depende do professor, que deve despertar e 
estimular para que ocorra a troca. 
Mas, somente acontecerá se um professor despertar o professor intrapsíquico do aluno, 
isso só vai ocorrer se este professor estiver em contato com seu aluno intrapsíquico. Pois, 
somente um professor que esteja em processo de aprendizagem é que pode levar a despertar 
em seus alunos a vontade de aprender. 
E finalmente, há a “conversa” que se estabelece de inconsciente para inconsciente 
entre professor-aluno. O aluno também aprende com a personalidade do professor, com seus 
gestos, com sua postura frente à própria teoria que trabalha, com seus métodos; o que deixo 
claro é que a ética do professor aqui é imprescindível, pois, o professor atua como modelo, 
chegando a ser mais importante, em algumas situações, aquilo que ele é, do que o que ele diz. 
Assim, somente um professor atento aos seus direitos e deveres poderá conduzir seus 
educandos a um processo semelhante. 
No próximo item, analisaremos as formas pelas quais podemos facilitar a situação de 
ensino-aprendizagem através do padrão arquetípico desta. 
 
3. A relação dialética e qualidade de ensino 
 
Após termos reconhecido o que acontece na relação professor-aluno, quais papéis 
estes assumem as “conversas” que ocorrem e o fato de que precisamos facilitá-las, para que 
tenhamos bom aproveitamento da situação de ensino-aprendizagem. 
É necessário o autoconhecimento do professor, pois, ele é responsável por ativar o 
autoconhecimento do aluno da relação e situação educacional. Ao estar engajado em um 
 
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processo de conhecer a si próprio, estabelecendo contato com seu inconsciente, uma das 
“figuras” que o professor reconhece é seu lado aluno. Também entra em contato com suas 
limitações, enfim, conhece a si próprio enquanto uma totalidade. 
Ao entrar em contato com seu aluno interior um professor passa a ter mais paciência, 
flexibilidade no trato com seus alunos, já que sabe o que é sentar na cadeira do aluno, pode 
então reconhecer sinais de cansaço, aceitar brincadeiras, ficar mais amigo do aluno. Além 
disso, ele ganha maior capacidade de aprender, se reciclar e ensinar de forma “apaixonada”; 
ganha também mais entusiasmo e curiosidade até para ouvir aquilo que um aluno fala e 
valorizá-lo. 
Freire (2003, p. 203) diz: “A educação deve acontecer de forma interacionista. As 
finalidades da prática educativa deve ter sentido não somente para aqueles e aquelas que 
fazem, mas também para os alunos”. 
A capacidade de se instalar uma relação dialética e criativa entre professor e aluno 
vem do estar sempre disposto a aprender a ser um “eterno aluno”. No momento que isso 
acontece, o olhar do professor sob o aluno muda de foco, ele se torna mais sensível ao 
cansaço dos alunos, valoriza mais suas produções, os estimula a serem mais “professores” de 
si, nada melhor do que aprender ao ensinar. 
Ainda, como resultados do autoconhecimento têm o fato de que, ao se conhecer e 
então conhecer as suas limitações de personalidade, pode um professor estar mais atento para 
não culpar seus alunos por uma deficiência que é sua, também pode estar mais atento às 
diferenças individuais já que reconhece as próprias e busca trabalhar o processo ensino-
aprendizagem de forma a atender estas diferenças. 
Ao ver o processo ensino-aprendizagem como um processo de transformação, teórica 
e pessoal, estando assim, aberto ao trabalho de sua pessoa através do contato com o aluno. 
Para transformar o outro, precisamos estar fazendo o mesmo. 
Como coloca Tardif (2002, p. 243): “Entretanto, se quisermos que os professores 
sejam sujeitos do conhecimento, precisaremos dar-lhes tempo e espaço para que possam agir 
como atores autônomos de suas próprias práticas e como sujeitos competentes de sua própria 
profissão”. Além disso, há o fato da personalidade do professor realmente estar presente, atuar 
como modelo e o aluno sofrer suas influências. 
Enfim, tanto o autoconhecimento quanto a relação dialética decorrem do fato de se 
conhecer o padrão arquetípico da relação professor-aluno, ao ter facilitado e dinamizado as 
 
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“conversas” que tipicamente ocorrem nesta relação. Somente desta forma é que se pode ter 
qualidade de ensino, pois, este se torna muito mais interessante e desafiador, aprendendo 
todos os dias com seus alunos, seja através das colocações e vivencias destes, como também 
através do contato pessoal. 
 
C ONCLUSÃO 
 
Ao tentar analisar as peculiaridades do relacionamento professor-aluno abrimos um 
leque de possibilidades, pois colocamos em foco uma relação entre seres humanos, 
constituídos por conteúdos conscientes e inconscientes. 
O professor deve ter como matriz de sua ação uma Pedagogia, baseada na formação e 
desenvolvimento da personalidade humana que inclua todas as dimensões da vida: o corpo, a 
psique, a natureza, a sociedade entre outros. 
Enfim, se nos encaminharmos para a situação de ensino-aprendizagem de forma 
consciente e “aberta” para todos esses diálogos, torna-se impossível ficarmos imunes a ela e 
não resistiremos ao encanto desse encontro de duas pessoas, cada um com sua história de 
vida, com suas características pessoais, com seu papel a desempenhar, onde as influências são 
mútuas, pois ninguém sairá ileso desse contato que tem como foco o ensino-aprendizagem. 
Realmente, eternamente devemos agradecimentos àqueles professores que durante 
nossas vidas nos permitiram ter acesso a nossos mestres internos, através de sua coragem de 
manterem acesas as questões e dúvidas de seus lados alunos. Assim como, enquanto 
professores, devemos eternos agradecimentos àqueles alunos que puderam ser nossos 
professores, significando, portanto, que aprenderam (e nós permitimos) a lição. 
Por isso, é importante refletir sobre os referenciais inconscientes Junguianos 
envolvidos na relação arquetípica professor-aluno, pois, ao conhecermos e entendermos suas 
implicações dentro da sala de aula percebemos oquanto esta mediação será facilitada e 
interessante. 
 
REFERÊNC IAS BIBLIOGRÁFIC AS 
 
BYINGTON, Carlos Amadheu Botelho. A construção amorosa do saber. São Paulo: 
Editora Religare, 2003. 
 
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_______________. Pedagogia sim bólica junguiana A viagem de hum anização do cosm os 
em busca da iluminação. São Paulo: Editora Linear B, 2008, 304 pp. 
_______________. O Fundam ento e a Finalidade da Pedagogia Simbólica Junguiana. 
São Paulo: W11 Editores, 2004, 367 pp. 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprim ido, 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1987. 
_______________. Pedagogia da Autonomia, 13ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1999. 
_______________. HORTON M. O cam inho se faz cam inhando. Conversas sobre a 
educação e mudança social. Editora Vozes. Petropolis- RJ. 2003. 
 
FREITAS, L. V. ou VILLARES DE FREITAS, L.. O Arquétipo do Mestre-Aprendiz. 
C onsiderações sobre a Vivência. Junguiana, São Paulo, n. 8, p. 72-99, 1990. 
 
_______________. Algum as Considerações sobre a Psicologia Analítica no Instituto de 
Psicologia da Universidade de São Paulo. Boletim de Psicologia, v. LVII, p. 053-070, 2007. 
 
GUGGENBUHL-CRAIG, A. O Abuso Do Poder Na Psicoterapia E Na Medicina, Serviço 
Social, Sacerdócio E Magistério. São Paulo: PAULUS. 2004. 
 
JUNG, C. G. Fundamentos de Psicologia Analítica, vol. 01 Editora Vozes Ltda. 1972. 
 
TARDIF, M. Saberes docentes e form ação profissional. 2 ª ed. Petropólis, RJ: Vozes, 2002.

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