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ROSENFELD, Anatol - Gêneros e Traços estilísticos fundamentais

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,<
~~
1.G:eNEROSE TRAÇOSESTILfSTICOS
a}Observaçõesgerais
A CLASSIFICAÇÃOdeobrasliteráriassegundogênerostem
a suaraiznaRepúblicadePlatão.No 3.0livro.Sócrates.
explicaquehátrêstiposdeobraspoéticas:"O primeiro
é inteiramenteimitação."O poetacornoquedesaparece,
deixandofalar,emvezdde. personagens."Issoocorre
na tragédiae na éomédia."O segundotipo "é um
simplesrelatodopoeta;issoencontramosprincipah.nente
nosditirambos."PIatão parecereferir-se,nestetrecho.
aproximadamenteao que hojese chamariade gênero
lírico,emboraa coincidêncianãosejaexata."O terceiro
tipo,enfim,une ambasas coisas;tu o encontrasnas
epopéias.. ." Nestetipode poemasmanifesta-sesejao
própriopoeta(nas descriçõese na apresentaçãodos
personagens),sejaumou outropersonagem,quandoo
poetaprocurasuscitara impressãode que nãoé ele
15
quemfala e sim o própriopersonagem;isto é, nos
diálogosqueInterrompema narrativa.
A definiçãoaristotélica,no 3.° capítuloda Arte
Poética,coincideatécertopontocoma doseumestre.
Há, segundoAristóteles,váriasmaneirasliteráriasde
imitara natureza:"Com efeito,é possívelimitaros
mesmosobjetosnas mesmassituações,numasimples
narrativa,ou pelaintroduçãodeumterceiro,comofaz
Homem,ou insilluandoa própriapessoasemqueinter-
venhaoutropersonagem,ou ainda,apresentandoa imi-
taçãocoma ajudadepersonagensquevemosagireme
executaremelespr6prios."Essencialmente,Arist6teles
parecereferir-se,nestetrecho,apenasaosgênerosépico
(istoé, narrativo)e dramático.No entanto,diferencia
duasmaneirasde narrar,umaem que há introdução
de um terceiro(em que os própriospersonagensse
manifestam)e outroemqueseinsinuaa pr6priapessoa
(doautor),semqueintervenhaoutropersonagem.Esta
Últimamaneirapareceaproximar-seeloquehojecha-
maríamosde poesialírica, supostoque Aristótelesse
refira no caso,comoPIatão, aos ditirambos,cantos
dionisincosfestivosem que se exprimiamora alegria
transbordante,ora histezaprofunda.Quantoà forma
dramática,é definidacomoaquelaemquea imitação
ocorrecoma ajudade personagensque,elesmesmos,
agemouexecutamações.Istoé,a imitaçãoé executada
"porpersonagensemaçãodiantedenós"(3.°capítulo).
Por maisquea teoriadostrêsgêneros,categorias
ou arquiformasliterárias,tenhasidocombatida,elase
mantém,emessência,inabalada.Evidentementeelaé,
até certoponto,artificialcomotoda a conceituação
científica.Estabeleceum esquemaa que a realidade
literáriamultiforme,na suagrandevariedadehist6rica,
nemsemprecOl'responde.Tampoucodeveelaser en-
tendidacomoumsistemade normasa queos autores
teriamdeajustara suaatividadea fim deproduzirem
obraslíricaspuras,obrasépicaspurasou obrasdramá.
ticaspuras.A purezaemmatériade literaturanãoé
necessariamenteumvalorpositivo.Ademais,nãoexiste
purezade gênerosemsentidoabsoluto.
Aindaassimo usoda classificaçãodeobrasliterá-
riasporgênerospareceserindispensável,simplesmente
pelanecessidade(le todaciênciade introduzircerta
ordemnamultipliciclaJedosfenômenos.Há,noentanto,
razõesmaisprofundaspara a adoçãodo sistemade
gêneros.A maneirapelaqualé comunicadoo mundo.
imagináriopressupõecertaatitudeemfacedestemundo
ou, contrariamente,a atitudeexprime-seemcertama-
neirade comunicar.Nos gênerosmanifestam-se,sem
dúvida,tiposdiversosde imaginaçãoe de atitudesem
facedomundo.
b) Significadosubstantivodosgêneros
A teoriadosgênerosé complicadapelofatode os
termos"lírico","épico"e "dramático"seremempregados
emduasacepçõesdiversas.A primeiraacepção- mais
de perto associadaà estruturados gêneros- poderia
serchamadade"substantiva".Paradistinguirestaacep-
çãoda outra,é útil forçarum poucoa línguae esta-
belecerqueo gênerolíricocoincidecomo substantivo
"A Lírica",o épicocomo substantivo"A :B:pica"e o
dramáticocomo substantivo"A Dramática".
Não há grandesproblemas,na maioriadoscasos,
ematribuiras obrasliteráriasindividuaisa um destes
gêneros.Pertenceráà Lírica todopoemade extensão
menor,na medidaem que nelenão secristalizarem
personagensnítidose em que,ao contrário,umavoz
central- quasesempreum"Eu" - neleexprimirseu
pr6prioestadode alma.Faráparteda :B:picatodaobra- poemaou não- de extensãomaior,em que um
narradorapresentarpersonagensenvolvidosemsituações
e eventos.Pertenceráà Dramáticatodaobradialogada
emqueatuaremospr6priospersonagenssemserem,em
geral;apresentadosporumnarrador.
Nãosurgemdificuldadesacentuadasemtalclassi-
ficação.Notamosquese tratade um poemalírico
(Lírica)quandoumavozcentralsenteumestadode
almaeotraduzpormeiodeumdiscursomaisoumenos
ríhnico.Espéciesdestegeneroseriam,por exemplo,o
canto,a ode,o hino,a elegia.Se nosé contadauma
estória(em versosou prosa),sabemosque se trata
de Épica,do gêneronarrativo.Espéciesdestegênero
seriam,por exemplo,a epopéia,o romance,a novela,
o conto.E se o textose constituirprincipalmentede
diálogose sedestinara serlevadoà cenapor pessoas
disfarçadasque atuampor meiode gestose discursos
no palco,saberemosque estamosdiantede umaobra
16 17
drl\lIlt\lica(pertencente;\ Dramática).Nestegênerose
integrariam,comoespécies,por exemplo,a tragédia,a
comédia,a farsa,a tragicomédia,etc.
Evidentemente,surgemdúvidascüantede certos
poemas,taiscomoasbafadas- muitasvezesdialogadas
e decunhonarrativo;ou de certoscontosinteiramente
dialogadosou de determinadasobrasdramáticasem
queumúnicopersonagemsemanifestaat;ravésde um
monólogoextenso.Tais exceções,contudo,apenascon-
Firmamquetodasasclassificaçõessão,emcertamedida,
artificiais.Não diminuem,porém,a necessidadede
estabelecê-Iasparaorganizar,emJinhasgerais,a multi-
plicidadedos fenômenosliteráriose compararobras
dentrode um contextode tradiçãoe renovação.~
difícil compararMacbethcomum sonetode Petrarca
ouumromancedeMachadodeAssis.E:maisrazoável
compararaqueledramacomuma peçade Ibsenou
Racine.
narrativosligeirose dificilmenteseencontraráumapeça.
emquenãohajaalgunsmomentosépicose líricos.
Nestasegundaacepção,ostermosadquiremgrande
amplitude,podendoser aplicadosmesmoa situações
extraliterárias.Pode-sefalardeumanoitelírica,deum
banqueteépicoou de um jogo de futeboldramático.
Nestesentidoamploessestennosda teorialiterária
podemtomar-senomesparapossibilidadesfundamentais
da existênciahumana;nomesquecaracterizamatitudes
marcantesem face do mundoe da vida. Há uma
maneiradramáticadevero mundo,deconcebê-Iocomo
divididopor antagonismosirreconciliáveis;há ummodo
épico de contemplá-Ioserenamentena sua vastidão
imensae múltipla;pode-sevivê-Ioliricamente,integrado
no ritmo universale na atmosferaimpalpáveldas
estações.
Visto que no gênerogeralmentese revelapelo
menoscertatendênciae preponderânciaestilísticaes-
sencial(na Dramáticapejo dramático,na ~picapelo
épicoe na Lírica pelolírico), verifica-sequea classi-
ficaçãodos trêsgênerosimplicaum significadomaior
doquegeralmentesetendea admitir.
c)Significadoadjetivodosgêneros
A segundaacepçãodostermoslírico,épico,dramá-
tico,decunhoadjetivo,refere-sea traçosestilí.sticosde
que umaobra podeser imbuídaem graumaiorou
menor,qualquerque sejao seugênero(no sentido
substantivo).Assim,certaspeçasdeGarciaLorca,per-
tencentes,comopeças,à Dramática,têmcunhoacen-
tuadamentelírico (traçoestilístico).Poderíamosfalar,
no caso,de um drama(substantivo)lírico (adjetivo).
Um epigrama,emborapertençaà Lírica, raramenteé
"lírico"(traçoestilístico),tendogeralmentecertocunho
"dramático"ou"épico"(traçoestílístico).Há numerosas
narrativas,comotaisclassificadasna E:pica,queapre-
sentamforte caráterlírico (particulannenteda fase
romântica)e outrasde forte caráterdramático(por
exemploasnovelasde Kleist).
Costumahaver,semdúvida,aproximaçãoentregê-
neroe traçoestilístico:o dramatenderá,emgeral,ao
dramático,o poemalíricoaolíricoe a };;pica(epopéia,
novela,romance)ao épico. No fundo,porém,toda
obraliteráriade certogêneroconterá,alémdostraços
estilísticosmaisadequadosao gêneroemquestão,tam-
bémtraçosestilísticosmaistípicosdosoutrosgêneros.
Nãohápoemalíricoquenãoapresenteaomenostraços
18 19
2. OSG~NEROS~PICOE L(RICOE SEUSTRAÇOS
ESTILfSTICOSFUNDAMENTAiS
1) ObservaçõesgeraisDESCREVENDO-SEos trêsgênerose atribuindo-se-Ihesos.
traçosesti1ísticosessenciais,istoé,à Dramáticaostraços
dramáticos,à ~picaostraçosépicose à Líricaostraços
líricos,chegar-se-áà constituiçãodetiposideais,puros,
::omotaisinexistentes,vistonestecasonãosetomarem
emcuntaasvariaçõesempíricase a influênciade ten-
dênciashistóricasnasobrasindividuaisquenuncasão
inteiramente"puras",Essestiposideaisde modone-
nhumrepresentamcritériosde valor,A purezadramá-
ticadeumapeçateatralnãodeterminaseuvalor,quer
comoobraliterária,quercomoobradestinadaà cena.
Na dramaturgiadeShakespeare,umdosmaioresautores
dramáticosdetodosostempos,sãoacentuadosostraços
épicose líricos.Aindaassimsetratade grandesobras
21
teatrais.Umapeça,comotal pertencenteà Dramática,
podeter traçosépicostãosalientesquea suaprópria
estruturado dramaé atingida,a pontodea Dramática
quaseseconfundircoma 1tpica.Mas,aindaassim,tal
peçapodeter grandeeficáciateatral.Exemplosdisso
são o teatromedieval,oriental,o teatrode Claudel,
Wilderou Brecht.Trata-sede exemplosextremosque
em seguidaserãoabordados,da mesmaformacomo
exemplosde menorrealcenos quaiso' cunhoépico
apenasse associaà Dramática,sematingi-Iaa fundo.
1t evidenteque na constituiçãomaisou menosépica
ou maisou menospurada Dramáticainfluempeetllia-
ridadesdoautore dasuavisãodomundo,a suafiliação
a correnteshistóricas,taiscomoo classicisrnoouromano
tismo,bemcomoa temáticae o estilogeralda época
ou dopaís.
b) O gênero /(ricoe seustraçosestilz'sticosfundamentais
tipodo poema.Qualquerconfiguraçãomaisnítidade.
personagensjá implicariacertotraçodescritivoe narra-
tivoe nãocon-esponderiaà purezaidealdo gêneroe
dosseustraços;purezaabsolutaque nenhumpoema
realtalvezjamaisatinja;Quantomaisos traçoslíricos
se salientarem,tantomenosse constituiráum mundo
objetivo,independentedasintensasemoçõesda subje-
tividadequese exprime.Prevaleceráa fusãoda alma
quecantacom.0mundo,nãohavendodistânciaentre
sujeitoe objeto.Ao contrário,o mundo,a natureza,
os deuses,sãoapenasevocadose nomeadospara,com
maiorforça,exprimira tristeza,a solidãoou a alegria
daalmaquecanta.A chuvanãoseráumacontecimento
objetivoqueumedeçapersonagensenvolvidosemsitua-
çqese ações,masumametáforaparaexprimiro estado
melancólicoda almaque se manifesta;a bem-amada,'
recordadapeloEu lírico,nãose constituiráemperso-
nagemnítidadequemsenarremaçõese enredos;será
apenasnomeadaparaque se manifestea saudade,a
alegriaou a dor da vozcentral.
o gênerolíricofoi maisacimadefinidocomosendo
o maissubjetivo:no poemalírico uma voz central
exprimeum estadode almae o traduzpor meiode
orações.Trata-seessencialmenteda expressãode emo-
çõese disposiçõespsíquicas,muitasvezestambémde
concepções,reflexõese visõesenquantointensamente
vividase experimentadas.A Lírica tendea sera plas-
maçãoimediatadasvivênciasintensasde um Eu no
encontrocomo mundo,semqueseinterponhameventos
distendidosno tempo(comona1tpicae naDramática).
A manifestaçãoverbal"imediata"de umaemoçãoou
deumsentimentoé o pontodepartidada Lírica. Daí
segue,quasenecessariamente,a relativabrevidadedo
poemalíriço. A isso se liga, comotraçoestiHstico
importante,a extremaintensidadeexpressivaque não
poderiasermantidaatravésdeumaorganizaçãoliterária
muitoampla.
Sendoapenasexpressãode um estadoemocionale
nãoa narraçãode um acontecimento,o poemalírico
puronãochegaa configurarnitidamenteo personagem
central(o Eu líricoqueseexprime),nemoutrosperso-
nagens,emboranaturalmentepossamser evocadosou
recordadosdeusesou sereshumanos,de acordocomo
Apavoradoacordo,em trova. O luar
:s:comoo espectrodo meusonhoemmim
E semdestino,e louco,souo mar
Patético,sonâmbuloe semfim.
(V1NICrusDEMORAIS,Livro de SOlleto.s)
A treva,o luar,o mar sefundempor inteirocom
o Eu lírico,nãose constituememummundoà earte.
nãose emanciparamda consciênciaque se manifesta.
O universose tornaexpressãode um estadointerior.
À intensidadeexpressiva,à concentraçãoe ao~-'
ter "imediato"do poemalírico, associa-se,comotraço
estilísticoimportante,o usodoritmoe da.musicalidade
daspalavrase dosversos.De talmodoserealçao valor
da aura conotativado verboque estemuitasvezes
chegaa terumafunçãomaissonoraquelógico-denota-
tiva.A issoseligaa preponderânciadavozdopresente
queindicaa ausênciadedistância,geralmenteassociada
aopretérito.Estecaráterdoimediato,quesemanifesta
navozdopresente,nãoé,porém,o deumaatualidade
queseprocessae distendeatravésdo tempo(como'na
Dramática)masdeummomento"eterno".liApavorado
acordo,emtreva"- issopodeserumarecordaçãode
22 23
- - --
algojmasestealgopermanece,nlio é passado.O Eu
n!lodiz "apavoradoacordei";Issodaria1 recordaçãoum
cunhonarrativo:hácertotempoacordeie aconteceu-me
istoe aquIlo.Mas o "eu acordo"e o pavorassociado
silo Itrrancadosda sucessãotemporal,permanecendoA
margemc acimado fluir do tempo,comoumDiomento
inóllteró,\'el,comopresençaIntemporaJ."O elefantaé
li'" animalenorme"- estaoraçãorefere-se1 espécie,
é um cllllliciadoquenão tomaemcontaos variações
doselefantesindividuais,existentes,temporais."O ele-
fanteeraenorme"- estaoraçãoindividualizao animal,
situando-o°notempoe, por isso, tambémno espaço.
Trata-sede umaoraçãonarrativa.
c} O ginero Ip,icoe stUstraçoststi'''sticosfundamentais
O gêneroépicoé maisobjetivoque o Ifrico. O
mundoobjetivo(naturalmenteImaginário),com suas
paisagens,cidadese personagens(envolvidasemcertas
situações),emancipa-seemlargamedidadasubJetivi.
dadedo narrador._~s!e_g!:raJmentenão exprime_~_.
_ pr6priosestadosde alma,masnaiTaos ae outrosseres.
P:irticij)a;-cõntüdõ~-em-inaiorou'menãrgrau,-dasseu!
destinose estásemprepresenteatravésdoatodenarrar.
Mesmoquandoosprópriospersonagenscomeçama dia.
logaremvozdiretaé aindao narradorquelhesdá a
palavra,Ihesdescreveas reaçlJese indica<\uemfala,
atravésde observaçõescomo"disseJoão", 'exclamou
Mariaquaseaosgritos",etc.
No poemaou cantoUrlcosumserhumanosolitário
- ouumgrupo- pareceexprimir-se.De modoalgumé
necessárioimaginara presençade ouvintesou lnterlo.
cutoresa quemessecantose dirige.Cantarolamosou
assobiamosassimmelodias.O que é primordialé a
expressãomonológlca,nãoa comunlcaçlloa outrem.Já
no casoda narraçãoé dlflcll Imaginarqueo narrador
não estejanarrandoa est6r1aa alguém.O narrador,
muitomaisqueseexprimira si mesmo(o quenatural.
mentenãoé excluldo)quercomunfc~r_~~macoisaa
!,utro~'.1~!._e~!~.e!mel!.te,_estãos~~~.dc?!.,.e-~tom_o_~!e
~llie__p~~ queIh~-~nt~um caso. Comonao
exprimeo próprioestadode-alma,Dias-narraest6rias
24
queaoontecerama outrem,falarácomcertaserenidade
e d_~~ç.TI''yer'objetivamenteas circunstândasobjetivas.
A est6da]õrãssfut. Era fã aconteceu- a vozeaõ-
fretéd~o:- e aconteceua outre~:~--P!.Qnomt!~~..:~re"-- João; Maria) e em geralnão eu. Isso cria certa
distdnclael,treo narradore o mundonarrado.Mesmo
_ quandoo narradorusao pronome"eu"paranar:aruma
estóriaqueaparentementeaconteceua elemesmo,apre-
senta-selá afastadodos eventoscontados,mercêdo
pre~érlto.'Isso lhe permitetomarumaatitudedistan-
ciadae obJetiva,contráriaà do poetaIfrico.
A funçãomaiscomunicativaqueexpressivada lin-
guagemépicadá ao narradormaiorfôlegoparadesen-
volver,oomcalmae lucidez,um mundomaisamplo.
Arist§teles_s~lIentQu este tr~Ç9esti!lsUc«.>._ao _dizer:__~~IJ-
tendopor épicoum conteúdode vast.gassu/}to."Disso'
decorrem.em geral,sintaxee linguagemmais-lógicas,
atenuaçãodo usosonoroe dosrecursosrltmicos.
g sobretudofundamentalna narraçãoo desdobra.
mentoemsujeito(narrador)e objeto(mundonarrado).
-O narrador,ademais,já conheceo futurodos perso-
nagens(poistodaa estóriajá decorreu)e tempor isso
umhorl%ontemai!va.stoqueestes;há,geralmente,dois
horizontes:o dospersonagens,menor,e 0°do narrador,
maior. Issonãoocorreno poemallricoemqueexiste
sÓo horizontedo Eu líricoqueseexprime.Mesmona
nanaçãoemque o narradorcontaumaestóriaaconte.
cidaa elemesmo,o eu quenarratemhorizontemajor
do que o eu narradoe aindaenvolvidonoseventos,
vistojá conhecero desfechodo caso.
Do expostotambémseguequeonarrador,distan.
cladodo mundonarrado,nãofingeestarfundidocom
os personagensde que narraos destinos.Geralmente
fingeapeDasquepresenciouos acontecimentosou que,
de qualquermodo,estáperfeitamentea pardeles.De
ummodoassazmisteriosoparececonheceratéo Intimo
dospersonagens,todosos seuspensamentose emoções.
comose fosseum pequenodeusonisciente.Mas não
fingeestaridentificadoou fundidocomeles.Sempre
conserVacertadistânciafacea eles.Nuncase trans-
formaneles,nãose metamorfoseia.Ao narrara estória
delesimitarátalvez,quandofalam,as suasvozese
esboçaráalgunsdos seusgestose expressõesfislon~
~
25
micas.Maspermanecerá,aomesmotempo,o narrador
que apenasmostraou ilustracomoessespersonagens
secomportaram,semquepassea transformar-seneles.
Isso,aliás,seriadifícil,poisnãopoderiatransformar-se
sucessivamenteemtodoselese aomesmotempomanter
a atitudedistanciadado nalTador.
3. O G~NERO DRAMÁTICO E SEUSTRAÇOS
ESTILisTICOS FUNDAMENTAIS
a) Observaçõesgerais
NA LÍRICA,pois,concebidacomoidealmentepura,não
háa oposiçãosujeito-objeto.O sujeitocomoqueabarca
o mundo,a almacantanteocupa,por assimdizer.todo
o campo.O mundo,surgindocomoconteúdodesta
consciêncialírica, é completamentesubjetivado.Na
t:picapuraverifica-sea oposiçãosujeito-objeto.Ambos
nãose confundem.Na Dramática,finalmente,desapa-
recede novoa oposiçãosujeito-objeto.Mas agoraa
situaçãoé inversaà da Lírica. };:agorao mundoque
seapresentacomoseestivesseautÔnomo.absoluto(não
relativizadoa um sujeito).emancipadodo narradore
da interferênciade qualquersujeito,querépico.quer
lírico. De certomodoé, portanto,o gêneroopostoao
26 27
lirico. Nesteúltimoo sujeitoé tudo,no dramáticoo
objetoé tudo,a pontode desaparecerno teatro,por
compldo,qualquermediador,mesmoo narrativoque,
na ~pica,apresentae contao mundoacontecido.
b)A concepçãodeHegel
Até certoponto,porém,poder-se-iaconsiderara
Dramáticatambémcomoo gêneroquereúnea objeti-
vidadee distânciada ~picae a subjetividadee inten-
sidadeda Lírica;poisa Dramáticaabsorveuemcerto
sentidoo subjetivodentrodo objetivocomoa Lírica
absorveuo objetivodentrodo subjetivo.Tantoo nar-
radarépicodesapareceu,absorvidopelospersonagens
comosquaispassoua identificar-secompletamentepela
metamorfose,comunicando-Ihestodaviaa objetividade
épica,comotambémse fundiuo Eu lírico com os
personagens,comunicando-Ihesa suaintensidadee sub-
jetividade.Assim,os personagensapresentam-seautÔ-
nomos,emancipadosdo narrador(quenelesdesapare-
ceu),masao mesmotempodotadosde todoo poder
da subjetividadelírica (que nelesse mantémviva).
Estaé,aproximadamente,a concepçãodeRegel(1770-
-1831):o gênerodramáticoé aquele"quereúneem
si a objetividadeda epopéiacomo princípiosubjetivo
daLírica",namedidaemquerepresentacomosefosse
real,emimediataatualidade,umaaçãoemsi conclusa
que,originando-sena intimidadedo caráteratuante,se
decideno mundoobjetivo,atravésde colisõesentre
indivíduos.O mundoobjetivoé apresentadoobjetiva-
mente(COlIJOna J1:pi<:a),mnsmediadopela interiori-
uauedossujeitos(comona Lírica). Tambémhistori-
camenteo surgirdo dramapressuporia,segundoHegel,
tantoa objetividadeda ~picacomoa subjetividadeda
Lírica,vistoquea Dramática,"unindori ambas,nãose
satisfazcomnenhumadasesferasseparadas"(G. W. F.
HECEL,Asthetik,organizadapor FriedrichBassenge,
EditoraAufbau,Berlim,1955,comintroduçãodeGeorg
Lukács,págs.1038/39).
A Dramática,portanto,ligariaa J1:picae a Lírica
emumanovatotalidadequenosapresentaum desen-
volvimentoobjetivoe, aomesmotempo,a origemdesse
uesenvolvimento,a partirda intimidadede indivíduos,
demodoquevemoso ob;etivo(as ações)brotandoda
28
interioridadedospersonagens.De outrolado,o subje-
tivo se manifestana sua passagemparaa realidade.
externa.Vemos,pois,na Dramáticaumaaçãoesten-
dendo-sediantede nós,comsualuta e seudesfecho
(comonaJ!;p1ca);masaomesmotempovemo-Iadefluir
atualmentededentrodavontadeparticular,damorali-
dade ou amoralidadedos caracteresindividuais,os
quaispor issose tomamcentroconformeo princípio
Hrico.Na Dramática,portanto,nãoouvimosapenasa
narraçãosobreumaação(comona~pica),maspre-
senciamosa açãoenquantose vemoriginandoatual-
mente,comoexpressãoimediatadesujeitos(comona
Lírica) (op. cit.,págs.935/36).
I
c) Divergênciadaconcepçãoaquiexposta
A concepçãodeHegei,queapresentaa Dramática
comoumasíntesedialéticada teseépicae da antítese
lírica,resultanumateoriade altograude convicção:
entretanto,a Dramáticanãopodeser explicadacomo
sínteseda Lírica e ~pica.A açãoapresentadapor
personagensqueatuamdiantede nósé umfatototal-
mentenovoquenãopodeserreduzidoa outrosgêneros.
A históriaprovaque um influxoforte de elementos
Uricose épicostendea dissolvera estruturadaDramá-
ticarigorosa.Ademais,o princípiodeclassificaçãoaqui
adotadodivergedohegeliano.Hegel,segundosuacon-
cepçãodialética,parteda idéiade quea Dramáticaé
um gênerosuperiorà Lirica e à ~pica,devendopor
issocontê-Ias,superando-asaomesmotempo.A classi-
ficaç~oaquiexposta,todavia,nãoreconhecenenhuma
superioridadede um dosgêneros.Partedarelaçãodo
mundoimaginárioparacomo "autor",estetomadocomo
sujeitofictício(nãobiográficoe real) de quememana
o textoliterárioe que aqui foi designadocomo"Eu
lírico"e como"narradol'''.Na Lírica (de purezaideal)
o mundosurgecomoconteúdodo Eu lírico;na J!;pica
(de purezaideal),o narradorjá afastadodo mundo
objetivo,aindapermanecepresente,comomediadordo
mundo;na Dramática(de purezaideal) nãohá mais
quemapresenteos acontecimentos:estesseapresentam
porsi mesmos,comonarealidade;fatoessequeexplica
a objetividadee, ao mesmotempo,a extremaforçae
intensidadedo gênero.A açãose apresentacomotal,
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nãos~ndoRpan'lItl'mentefiltradapornenhummediador.
IssoSt~1I1:.\lIífcstano textopelo fato de somenteos
própriospC'rsonngensse apresentaremdialogandosem
jntl'l'ft'r~nciado "autor".Estese manifestaapenasnas
ruhriC'asque,no palco,sãoabsorvidaspelosatorese
á . O 1 . "d "cen'nos. S ceni.U'1OS,por suavez, esaparecemno
pi.1ko,tornando-seambiente;e da mesmaformadesa-
parecemos atores,metamorfoseadosem personagens;
nÜovemososatores(quandorepresentam.beme quando
nãoos focaJizamosespecialmente),masapenasosper-
sonagens,na plenitudeda suaobjetividadefictícia.
d) TraçosestiUsticosfundamentaisdaobradramáticapura
O simplesfatodequeo "autor"(narradorouEu
lírico) pareceestarausenteda obra- ou confundir-se
comtodosos personagensde modoa nãodistinguir-se
comoentidadeespecíficadentrodaobra- implicauma
sériedeconseqüênciasquedefinemo gênerodramático
e osseustraçosestilísticosemtermosbastanteaproxi-
madosdasregrasaristotélicas.Estandoo "autor"ausen-
te,exige-seno dramao desenvolvimentoautônomodos
acontecimentos,semintervençãode qualquermediador,
já queo Uautor"confiouo desenrolardaaçãoa perso-
nagenscolocadosemdeterminadasituação.O começo
da peçanãopodeser arbitrário,comoque recortado
de umapartequalquerdo tecidodensodos eventos
universais,todoselesentrelaçados,masé determinado
pelasexigênciasinternasdaaçãoapresentada.E !I.peça
terminaquandoestaaçãonitidamentedefinidachega
aofim. Concomitantementeimpõe-serigorosoencadea-
mentocausal,cadacenasendoa causada próximae
estasendoo efeitoda anterior:o mecanismodramático
move-sesozinho,sema presençade um mediadorque
o possamanterfuncionando.Já naobraépicao narra-
dor,donodo assunto,temo direitode intervir,expan-
dindoanaITatívuemespaçoetempo,voltandoaépocas
anterioresou antecipando-seaos acontecimentos,visto
conhecero futuro(doseventospassados)e o fim da
estória.Bemao contrário,no dramao futuroé desco.
nhecido;brotado evolveratualda açãoque,emcada
apresentação,se originapor assimdizerpelaprimeira
,n
vez. Quantonopassado,o dramapuronãopoderetor-
na1'a ele,a nãoseratravésda evocaçãodialogadados
personagens;o flashback(recursoantigüíssimonogê-
neroépicoemuitotípicodocinemaqueéumaartenar-
rativa), queimplicanãos6a evocaçãodialogadae sim
o plenoretrocessocênicoao passado,é impossívelno
avançoinintnrruptoda açãodramática,cujotempoé
lineare sucessivocomoo tempoempíricodarealidade;qualquerinterrupçãoou retomocênicoa tempospas-
sadosrevelariam1\intervençãode um narradormani.
pulandoa estória.
A açãodramáticaac.:onteceagorae nãoaconteceu
no passado,mesmoquandose tratade um drama
histórico.Lessing,na suaDramaturgiade Hamburgo
(11.0capítulo),diz comacertoqueo dramaturgonão
é umhistoriador;elenãorelatao queseacredita'haver
acontecido,"masfaz comqueaconteçanovamentepe.-
ranteosnossosolhos."Mesmoo "novamente"é demais.
Poisa açãodramática,na suaexpressãomaispura,se
apresentasempre"pelaprimeiravez"..Não é a repre.
sentaçãosecundáriade algoprimário.Origina-se,cada
vez,em cadarepresentação,"pelaprimeiravez";não
acontece"novamente"o quejá aconteceu,mas,o que
acontece,aconteceagora,tema suaorigemagora;a
açãoé "original",cadaréplicanasceagora,nãoécitação
ou variaçãode algoditohá muitotempo.
e) A correspondênciadeGoetheeSchi/ler
Muitosdoselementosabordadosacimaforamdis-'
eutidoscomgrandeargúciapor Goethee Schillerna
suacorrespondência,emquetratamcomfreqüênciado
problemados gêneros.Tendo superadoa sua fase
juvenildepré-romantismoshakespeariano,voltam-se,na
últimadécadado séculoXVIII, para a anti&:1idade
clássicae debatema purezadosseustrabalhosdramá-
ticosemelaboração.O estudoaprofundadode Arist6.
telese da tragédiaantigasuscitao problemade como
seriapossívelmanterpurosos gênerosépicoe dramá.
ticoemfacedosassuntose problemasmodernos.
Nota-se,pois,umaperfeitaintuiçãodo fatodeque
os gênerose, maisde perto,a purezaestilísticacom
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queseapresentam,devemserrelacionadoscoma lús-
tórii.le as transform:lçõesd:lí decorrcntes.Ambosos
poetasret'OuhecemO fato de que- naexpressãode
G. Lukács- "asformasdosgênerosnãosãoarbitrárias.
Emanam,ao contrário,emcadacaso,da determinação
concretado respectivoestadosociale histórico.Seu
carátere peculiaridadesãodeterp1inadospelamaiorou
menorcapacidadede exprimiros traçosessenciaisde
dadafasehistórica"(Introduçãoà Xst'hetikde HegeJ,
op. cit., pág.21). Tálvezse diriamelhorque o uso
específicodosgêneros- a suamistura,os traçosesti-
lísticoscomqueseaprescntam(por cxemplo,o gênero
dramáticocom forte cunhoépico) - adapta-seem
grandomedidaà situaçãohistórico-sociale, concomi-
tantementc,à temáticapropostapelarespectivaépoca.
Na suadiscussão,Coethee SchilIerverificam"que
a autonomiadas partesconstituicaráteressencialdo
poemaépico",istoé,nãoseexigedeleo encadeamento
rigorosodo dramapuro;o poemaépico"descreve-nos
apenasa existênciae o atuartranqüilosdas coisas
segundoassuasnaturezas,seufim repousadesdelogo
emcadapontodoseumovimento;porissoniiocorremos
impacientesparaumalvo,masdemoramo-noscomamor
a cadapasso..." (Schiller).Talobservaçãosugereque
a Épica,alémdenarrarações(manifestando-sesobre
elas,emvezdeapresentá-Iascomoo drama),sedebruça
emamplamediàasobresituaçõese estadosde coisas.
Contrariamente,nodramacadacenaé apenaselo,tendo
seuvalorfuncionalapenasno todo.
Coethe,por suavez,destacaque o poemaépico
"retrocedee avança",sendoépicos"todosos motivos
retardantes".O quesohretudosalientaé queo drama
exigeum"avançarininterrupto".E SchilIer:o drama-
turgo"vivesoba categoriadacausalidade"(cadacena
um elo no todo),o autorépicosoba da substancia-
lidade:cadamomentotemseusdireitospróprios."A
açãodramáticamove-sediantedemim,massoueuque
memovimentoemtornodaaçãoépicaquepareceestar
emrepouso."A razãodissoé evidente:naquela,tudo
move-seemplenaatualidade;nestatudojá aconteceu,
é o narrador(e comeleo ouvinteou leitor) queS6
moveescolhendoos momentosa seremnarrados.
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f) As unidades
E claroque tambémo dramaturgofaz umaseleção
dascenas- maisrigorosa,aliás,queo autorépico,
sobretudopor necessidadede compressão.Regeldiria
quea Dramáticareúnea concentraçãoda Lírica com
a maiorextensãoda Epica. Todavia,o queprevalece
naseleçãodramáticaé a necessidadedecriarummeca-
nismoque, umavez postoem movimento,dispensa
qualquerinterferênciadeummediador,explicando...sea
partirdesi mesmo.Qualquerepisódioquenãobrotasse
do evolverdaaçãorevelariaa montagemexteriormente
superposta.A peçaé, paraArist6teles,um organismo:
todasas partessãodeterminadaspela idéiado todo,
enquantoesteaomesmotempoé constituídopelaintera-
çãodinâmicadaspartes.Qualquerelementodispensá-
vel nestecontexto.rigorosoé "anorgânico",nocivo,não
motivado.Nestesistemafechadotudomotivatudo,o
todoaspartes,asparteso todo.Sóassimseohtémn
verossimilhança,sema qualnão seriapossívela des-
cargadas emoçõespelasprópriasemoçõessuscitadas
(catarse),últimofim datragédia.
Coro,prólogoe epílogosão,nocontextodo drama,
comosistemafcchado,elementosépicos,por se mani-
festar,atravésdeles,o autor,assumindofunçãolírico-
-narrativa.Dispersãoemespaçoe tempo- suspendendo
a rigorosasucessão,continuidade,causalidadee unidade
- faz pressuporigualmenteo narradorque montaas
cenasa seremapresentadas,comose ilustrasseum
evontomaiorcom cenasselecionadas.Um intervalo
temporalentreduascenasou o deslocamentoespacial
entreuma cenae outrasugeremum mediadorque
omitecertoespaçodetempocomonãorelevante(como
sedissesse:"agorafazemosumsaltode trêsanos")ou
quemanipulaos saltosespaciais("agoravamostrans-
ferir-nosdasaladotrihunaJparaoaposentodoconde").
Mais ainda,revelama intervençãodo narradorcenas
episódicas,na medidaem(lue interrompema unidade
daaçãoenãoseafiguramnecessáriasaoevolvercausal
da fábulaprincipal.As famosastrêsunidadesdeação,
lugare tempo,dasquaissÓa primeirafoi considerada
realmenteimportanteporAristóteles,parecem,pois,como
perfeitamentelógicasna estruturada Dramáticapura.
33
Facea essasrazões,que decorremda lógicainterna do
gênero,são assaz ineptos os argumentosgeralmente
aduzidos,sobretudoo de (1110é necessárioaproximar
tempoe lugarcênicosdo tempoe lugar empíricosda
platéia (ou da representação)por motivosde verossi-
milhança,umavez queo público,permanecendoapenas
durantetrêshorasno mesmoiugar,nãopoderiacon-
ceberumaação cênica de seis anosacontecendoem
Roma,Paris e Jerusalém.
les - particularmentecomrelaçãoao público- mas
comrelaçãoaosoutrospersonagenspreponderao apelo,
o desejode influir,convc'ncer,dissuadir. .
h) Textodramáticoe teatro
g) O diálogo
Comoo textodramáticopurosecompõe,emessê~-
da, de diálogos,faltando-lheoimolduranarrativaque
situe os personagensno contextoambientalou Ines
descrevao comportamentofísico,aspecto,etc.,eledeve
sercaracterizadocomoextremamenteomisso,de certo
mododeficiente.Por issonecessitadopalcoparacom-
pletar-secenicamente.1!:o palcoque o atualizae o
concretiza,assumindodecertaforma,atravésdosatores
e cenários,as funçõest}u~na Épicasãodo narrador.
Essafunçãosemanifestanotextodramáticoatravésdas
rubricas,rudimentonarrativoqueé inteiramenteabsor-
vidopelopalco.Forteselementoscoreográficos,panto-
mímicose musicais,enquantosurgemno teatrodecla-
madoconstituídopelodiálogo,afiguram-sepor issoem
certamedidacomotraçosepico-lfricos,já quea cena
se encarregano casode funçõesnarrativasou líricas,
de comentário,acentuaçãoe descriçãoquenãocabem
nodiálogoe quenoromanceouepopéiairiamserexer~
cidasperonarrador.O paradoxodaHteraturadramática
é que ela nãose contentaem ser literatura,já que,
senao"incompleta",exigea complementaçãocênica.
Faltandoonarrador,cujafunçãofoiabsorvidapelos
atorestransformadosempersonagens,a formanatural
de estesúltimosseenvolverememtramasvariadas,de
serelacionareme deexporemdemaneiracompreensível
umaaçãocomplexae profunda,é o diálogo.1!:com
efeitoo diálogoqueconstituia Dramáticacomolitera-
tura e comoteatrodeclamado(apartese monólogos
nãoafetama situaçãoessencialmentedialógica).Para
queatravésdo diálogoseproduzaumaaçãoé imposi-
tivoqueelecontraponhavontades,ouseja,manifestações
de atitudescontrárias.O que se chama,em sentido
estilístico,de "dramático",refere-separticularmenteao
entrechoquede vontadese à tensãocriadapor um
diálogoatravésdo qual seexternamconcepçõese-obje-
tivoscontráriosproduzindoo conflito.A essetraço
estilísticodaDramáticaassocia-seumasériedemomen-
tossecundárioscomoa "curvadramática"comseunó,
peripécia,clímax,desenlace,etc.O diálogodramático
movea açãoatravésdadialéticadeafirmaçãoe réplica,
atravésdoenb'echoquedasintenções.
Seo pronomeda Líricaé o Eu e du :6:picao Ele,
o daDramáticaseráo Tu (Vósetc.). O tempodramá-
ticonãoé o presenteeternodaLírica e, muitomenos,
o pretéritoda Épica; é o presenteque passa,que
exprimea atualidadedoacontecere queevolvetensa-
menteparao futuro.Sendoo pronomeTu o dodiálogo,
resultaque a funçãolingüísticaé menosa expressiva
(Lírica) ou a comunicativa(Épica) que a apelativa.
Istoé,asvontadesqueseexternamatravésdo diálogo
visoma influenciar-semutuamente.Semdúvida,tam-
bémasfunçõesexpressivae comunicativaestãopresen-
i) Teatroepúblico
O cantoHrico,comofoi exposto,nãoexigeouvintes
(ParteI, Capítulo2, Letrac). Temcarátermono16gico
e poderealizar-secomopuraauto-expressão.A narra-
ção,bem ao contrário,exigena situ~çãoconcretao
ouvinte,o público.O teatro,comorepresentaçãoreal,
naturalmentedependeem escalaaindamaiorde um
públicopresenteenes~efatoresideumadassuasmaiores
vantagense forças. Ainda assim,o dramapuro - pelo
menoso europeuna épocapós-renascentista- tendea
ser apresentadocomose não se dirigissea público
nenhum.A platéiainexisteparaos personagense não
hánarradorquesedirijaaopúblico.O ator,evidente-
mente,sabeda presençado público;é paraele que
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desempenhao seu papel. Mas está mctamorfoseadoem
personagem;quem está no palco é Hamlet, Fecha ou
Nora, não o sr, João da Silva ou a sra. Maria da Cunha,
Macbeth não se dirige ao p,úblico da Comédie Fran-
çaise, Nora não fala ao publico da Broadway. Eles
se dirigem aos seus interJocutores,a Lady Macbeth ou
a Helmer.
Esta breve caracterizaçãodo g'êncro e estilo dra-
máticos - que em seguida será enriquecida por dados
históricos - é naturalmenteuma abstração;refere-se ri
um "tipo ideal" de drama, inexistenteem qualquer rea-
lidade histórica, embora haja tipos de dramaturgia que
se aproximamdesserigor. Na medida em que as peças
se aproximarem desse tipo de Dramática pura, serão
chamadas de "rigorosas" ou puras, por vezes também
de "fechadas", por motivos que se evidenciarão. Na
medida em que se afastaremda Dramática pura, serão
chamadasde épicas ou lírico-épicas, por vezes também
de"abertas",por motivosque igualmentese evi,denciarão.

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