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AÇÃO POPULAR Instrumento de participação política. AÇÃO POPULAR CF - Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; AÇÃO POPULAR A ação popular destaca-se, entre as demais ações constitucionais, pela circunstância de não ser, apenas, forma de garantia de direitos fundamentais, mas constituir, antes de tudo, importante instrumento de participação política do cidadão, para a: - Defesa do patrimônio público; - Da moralidade administrativa; - Do meio ambiente, e; - Do Patrimônio histórico e cultural. AÇÃO POPULAR - a ação popular é uma manifestação do direito político de participação na gestão da coisa pública, porque confere uma posição ativa do cidadão que pode realizar o controle social sobre os atos da Administração; - Trata-se, portanto, de “pura expressão da democracia”. AÇÃO POPULAR - Instrumentos processuais correlatos Há outros instrumentos processuais que colimam os mesmos fins, no todo ou em parte, a exemplo da AÇÃO CIVIL PÚBLICA e AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. A singularidade da Ação Popular está em que somente ao cidadão se atribui legitimidade para propô-la, enquanto que: - a Ação Civil Pública é de iniciativa do MP, de associações civis ou entes públicos (art. 5º da Lei nº 7.347/85); - a Ação de Improbidade Administrativa há de ser proposta pelo MP ou pela pessoa jurídica interessada (art. 7º, caput, da Lei nº 8.429/82). AÇÃO POPULAR - Legitimação do cidadão A legitimação para propor ação popular constitui o que, no plano do Direito Constitucional, se considera um dos direitos políticos positivos ou “um poder de natureza essencialmente política”, manifestação direta da soberania popular consubstanciada no art. 1º, parágrafo único, da CF. AÇÃO POPULAR - Objeto e causa petendi O Direito Processual Civil estabelece distinção entre pedido imediato (correspondente ao tipo de prestação jurisdicional invocada) e pedido mediato (relativo ao bem da vida que se pleiteia por meio da ação). Na ação popular o pedido imediato consiste em anular o ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente ou ao patrimônio histórico e cultural; O pedido mediato diz respeito à necessidade de impedir a consumação da lesão ou o restabelecimento do status quo ante, de modo a preservar, quando possível, a intangibilidade desses bens e valores. AÇÃO POPULAR – A tutela da moralidade Essa tutela por via da Ação Popular é a grande inovação da CF de 1988. Em consonância com o disposto no art. 37, caput, da CF, onde estabelece como um dos princípios a que a Administração Pública deve obedecer o da moralidade administrativa, a Constituição torna possível a anulação de atos administrativos de que resultem danos ou prejuízos a essa linha de comportamento. AÇÃO POPULAR – A tutela da moralidade (cont.) Diversos conceitos sobre moralidade administrativa foram formulados ao longo dos tempos, em diversos países e por vários juristas. Enfim, o conceito não é pacífico na doutrina e jurisprudência brasileira. Convém registrar ensinamento clássico sobre o tema do advogado português Antonio José Brandão, intitulado “Moralidade Administrativa”, publicado na RDA, nº 25, de 1951, reproduzido em BDA, fevereiro de 1996, pp. 62 de ss. AÇÃO POPULAR – A tutela da moralidade (cont.) Doutrina que há “na estrutura lógica da lei administrativa”, um “nexo normativo”, estabelecendo liame entre “as atribuições do órgão, as condutas a assumir por este no uso da sua competência, as modificações admissíveis da ordem jurídica e o fim metajurídico, que é o concreto interesse geral a satisfazer”. Quando, em vez desse interesse, o agente administrativo alcança, deliberadamente, outro fim, que “não está implícito na órbita das atribuições”, dá-se uma quebra no referido nexo, por meio da prática de ato contrário à moralidade administrativa, implicando semelhante conduta, ao mesmo tempo, “infidelidade à idéia madre do serviço público”. AÇÃO POPULAR – A tutela da moralidade (cont.) Hely Lopes Meirelles, nessa perspectiva, assevera que a anulação do ato administrativo por ofensa à moralidade administrativa envolve uma questão de estrita legalidade. Daí dizer José Carlos Barbosa Moreira: “Não bastaria ao autor popular afirmar que o ato atenta contra a moralidade administrativa; é preciso que se conjugue isso com a indicação de alguma infração a disposição de lei – lei em sentido lato, qualquer norma jurídica; do contrário cairíamos aqui num subjetivismo total, e isso, evidentemente, não é desejável, porque daria margem a aventuras judiciais”. AÇÃO POPULAR – A tutela da moralidade (cont.) Assim, a tutela da moralidade administrativa, como objeto da ação popular, para a sua configuração plena, é mister que o ato impugnado, além de causar dano a um dos bens e valores que a ação visa a proteger, ofenda a letra ou o espírito de disposição legal de qualquer natureza. Ou seja, o binômio ilegalidade-lesividade há de estar presente, para que o ato possa ser anulado por via da ação popular. AÇÃO POPULAR – A Tutela da moralidade (cont.) Sem que se alegue vício de legalidade, suscetível de ensejar a anulação do ato, não se configurará a primeira das condições da ação – a possibilidade jurídica do pedido – o autor dela será julgado carecedor. Sem a efetiva ocorrência da ilegalidade invocada e a prova da lesão que dela decorra, o pedido será julgado improcedente, ressalvada, nesse último caso, a possibilidade de aplicação do disposto no art. 18 da LACP. Dispensar o requisito da ilegalidade para a configuração da causa petendi na ação popular significaria permitir que o Judiciário reexaminasse o mérito do ato administrativo impugnado, isto é, os seus aspectos de oportunidade e conveniência. AÇÃO POPULAR – A tutela da moralidade (cont.) A ilegalidade verifica-se, em geral, quando o ato administrativo é afetado em um dos seus elementos essenciais – competência, forma, objeto, motivo e finalidade. A lesividade pode considerar-se presumida em determinadas hipóteses, que são aquelas enumeradas no art. 4º da lei de regência. AÇÃO POPULAR – A prática judiciária Na prática judiciária tem sido significativa a utilização da ação popular. Registra-se casos com o fim de: - anular aumentos de subsídios de vereadores, feitos em desacordo com a CF; - de desconstituir atos de generosidade ou gastos perdulários praticados por administradores públicos com os recursos do erário e impor aos responsáveis condenação no sentido de alienação de imóveis públicos, uma vez comprovada irregularidade formal ou estipulação de preço vil; AÇÃO POPULAR – A prática judiciária (cont.) (...): - coibir a publicidade que tenha caráter de promoção pessoal, em afronta à norma do art. 37, §1º, da CF; - impedir a descaracterização de locais de interesse turístico ou paisagístico, protegendo o meio ambiente; - preservar recursos naturais, impedindo, por exemplo, o desmatamento em torno das nascentes de curso d’água que abastece determinada cidade; - evitar a demolição de imóveis de notório valor histórico ou cultural, ainda que não sujeitos a regime de tombamento. AÇÃO POPULAR – Sujeitos da relação processual A relação processual que se instaura tem no polo ativo, o CIDADÃO e, no polo passivo, em litisconsórcio necessário, a entidade pública ou a entidade privada de que o Estado participe, os respectivos dirigentes, os funcionários que hajam concorrido para a prática do ato impugnadoe os beneficiários diretos dele, suscetíveis de serem atingidos pela sua desconstituição (arts. 1º a 6º). Intervém no processo como custus legis, o representante do Ministério Público (art. 6º, §4º), o qual pode assumir o papel de substituto legal da parte autora se esta desistir da ação (art. 9º) ou não promover, no devido prazo, a execução da sentença condenatória (art. 16). AÇÃO POPULAR – Sujeitos da relação processual (cont.) Admite-se a intervenção litisconsorcial voluntária, ou a intervenção como terceiro-assistente, de qualquer cidadão, no polo ativo da relação processual (art. 6º, §5º). Embora a lei não o diga, é admissível também a intervenção, no polo passivo, como assistente (art. 50 do CPC), de terceiro que, não sendo beneficiário direto, possa, no entanto, ter a sua esfera jurídica alcançada, de alguma forma, pela eventual procedência do pedido, como no caso daquele contra quem venha a ser exercido direito de regresso, nos termos do art. 11 da lei de regência. AÇÃO POPULAR – Sujeitos da relação processual (cont.) A legitimação ativa é atribuída exclusivamente ao cidadão, que deverá comprovar essa qualidade no ato da propositura da ação, instruindo a petição inicial com o respectivo título de eleitor ou certidão expedida pelo Cartório Eleitoral ( art. 1º, §3º). Age o cidadão como substituto processual da entidade acionada, a qual, na perspectiva do autor popular, é parte no sentido formal. Isso explica porque a entidade pública ou a entidade privada de que o Estado participe, embora citada como ré, pode deixar de contestar a ação ou, tendo-a contestado, pode vir a “atuar ao lado do autor”, conforme prevê o art. 6º, §3º, da Lei nº 4.717/65. AÇÃO POPULAR – Sujeitos (cont.) Jose Carlos Barbosa Moreira, diz que “em substância, não se dirige contra a pessoa jurídica supostamente lesada, mas, bem ao contrário, se intenta a seu favor; visando à eliminação do ato que se averba de lesivo e à composição do dano porventura dele resultante. Inexiste, a rigor, conflito de interesses entre o autor popular e a pessoa jurídica; existirá, quando muito, contraste de valoração, na medida em que aquele impugna o ato como ilegítimo e danoso, enquanto esta o considera isento de vício” Tanto é assim que, diferentemente do que ocorre com a generalidade das ações, na ação popular, o duplo grau de jurisdição necessário somente se dá quando a sentença decreta a carência da ação ou declara a improcedência do pedido (art. 19, caput). AÇÃO POPULAR – Sujeitos (cont.) Como beneficiários diretos do ato impugnado hão de entender-se as pessoas que tiveram alguma participação na sua prática, dele se locupletando. Poderá haver beneficiários indiretos a quem falte um nexo etiológico com a causa de pedir da ação, suscetível de colocá-lo como litisconsorte passivo necessário. Ex.: proprietário de terreno vizinho a uma gleba de terra valorizada por obras realizadas (ou planejadas) pelo Prefeito que, em típico episódio de desvio de poder, almeja com a sua execução, tão só, o favorecimento de algum comparsa político ou de si próprio, mas que, assim, acaba (ou acabaria) beneficiando também outros lotes lindeiros. AÇÃO POPULAR – Procedimento De um modo geral a Ação Popular segue as linhas do procedimento ordinário do CPC (art. 7º, caput, da Lei nº 4717/65). A petição inicial deverá ser instruída pelo título eleitoral ou documento equivalente. A citação do beneficiários diretos pode ser feita por edital (art. 7º, II). Att.!!!: Ao contrário do que a interpretação literal do texto parece sugerir, só deve ser autorizado pelo juiz, fora das hipóteses previstas no CPC (art. 231) quando, embora determinados, os beneficiários forem numerosos e a citação pessoal de cada um puder dificultar a formação do processo. AÇÃO POPULAR – Procedimento (cont.) O prazo de contestação é comum e de 20 dias. Não se aplica a regra do art. 188, II, do CPC. Trata-se de norma especial. Antecipando-se ao CPC, a lei de regência instituiu o julgamento antecipado da lide, porém devendo ser antecedido de abertura de vista às partes para alegações finais (art. 7º, V) Possibilidade de suspensão liminar do ato impugnado. Trata-se de liminar de natureza cautelar, destinada a resguardar o interesse público,mediante ordem para que se suspenda a execução do ato que se apresente com todos os visos de ato ilegal e lesivo (fumus boni iuris), a fim de que se evite a consumação iminente da lesão (periculum in mora). AÇÃO POPULAR – Procedimento (cont.) Assinale-se que a ação popular tanto pode ser ajuizada em caráter preventivo quanto assumir fim repressivo; na primeira hipótese, o pedido liminar será fundamental para a ação atinja o seu escopo. Aplicam-se à liminar da ação popular as restrições e o procedimento para eventual suspensão da medida regulada na Lei nº 8.437/92. OBS.: A referida lei, diferentemente do que faz com o MS Coletivo e a Ação Civil Pública, não impede a concessão de liminar, na Ação Popular, inaudita altera parte. É que, como toda restrição, a faculdade processual interpreta-se estritamente. Assim, não será lícito estender a condição estabelecida no art. 2º da citada lei ao processo da ação popular. AÇÃO POPULAR – Outros aspectos processuais A competência para processar e julgar a ação popular é do juízo perante o qual devam ser intentadas as ações promovidas contra a entidade que figura no polo passivo. Não influi na determinação da competência a hierarquia da autoridade citada como litisconsorte passivo, como já decidiu o STF em relação ao Presidente da República (Petição 194-0 no AgReg-SP, Rel. Min. Moreira Alves, julg.18.02.87). De modo a salvaguardar o interesse público em causa, a lei de regência adota disciplina para a coisa julgada: Se, por falta de provas, houver julgamento improcedente, “qualquer cidadão poderá intentar nova ação”. Nos demais casos, a sentença faz coisa julgada oponível erga omnes (art. 18) – coisa julgada secundum eventum litis. AÇÃO POPULAR – Outros aspectos processuais (cont.) A pretensão deduzível por meio da ação popular prescreve em cinco anos (art. 21). A CF isenta, em princípio, o cidadão de custas judiciais e dos ônus (isto é, os honorários) da sucumbência, salvo se tiver agido de má-fé na propositura da ação (art. 5º, LXXIII). Os interesses particulares não podem interferir na atuação do autor popular, sob pena de descaracterizar-se o exercício do direito de ação. AÇÃO POPULAR – Natureza Jurídica Do ponto de vista da prestação jurisdicional que objetiva, a ação popular será de natureza declarativa (se o ato for absolutamente nulo) ou de natureza constitutiva (se se tratar de nulidade relativa), tendo, em qualquer caso, e secundariamente, teor condenatório. A doutrina dominante considera, à luz do art. 11 da lei de regência, que a eficácia condenatória é ínsita na anulação ou declaração de nulidade do ato impugnado, de tal modo que, ainda que não tenha havido pedido expresso de condenação, terá o juiz de condenar os responsáveis, sem que a sentença, nessa parte, se considere extra petita.
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