Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Notas de aula para o curso de Engenharia Econômica Nota 4: Amortização de dívidas e critério do VPL Thiago Fonseca Morello fonseca.morello@ufabc.edu.br sala 301, Bloco Delta, SBC 1 Sistemas de amortização 1.1 Teoria Por “amortização” entende-se a quitação ou pagamento gradual (em prestações) de uma dívida. Trata-se, pois, do que na prática se denomina por parcelamento de dívidas. Os sistemas de amortização podem ser, com base nesta terminologia coloquial, interpretados como sistemas alternativos de parcelamento de dívidas. Eles diferem em função da maneira como os dois componentes do valor da dívida, principal e juro, são pagos ao longo do tempo. Seguindo a apresentação de Bueno et al (2011, cap.5), é possível representar o valor total da prestação paga no t-ésimo período como Rt = Jt + At, em que J e A representam, respectivamente, os valores pagos em t do juro e do principal. Os sistemas de amortização que serão apresentados a seguir diferem exatamente em função da trajetória de Jt e de At ao longo do período de quitação. Mais precisamente, diferem em função das premissas adotadas para a quitação de juro e do principal. Outra variável crucial é o valor da dívida remanescente ou saldo devedor, representada por Pt e cujo comportamento é descrito pela equação Pt = Pt-1 - At, i.e., o valor do saldo devedor varia apenas em função da amortização do principal – ele não contém juro. É uma convenção comum a de que o valor do saldo devedor em t = 0, P0, seja igual ao valor do principal da dívida. 1.1.1 Sistema de amortização constante (SAC) Trata-se de uma maneira de quitar uma dívida em que o valor da amortização se mantém constante no tempo em um nível equivalente à divisão do principal da dívida pelo número de períodos de tempo, i.e. A = P0/T. O valor do juro é calculado como Jt = iPt-1, i.e., sobre o valor do saldo devedor ao final do período anterior (início do período corrente). O procedimento para cálculo dos componentes de uma dívida está descrito abaixo. Procedimento do SAC Passo 0, calcular o valor da amortização At = P0/T Passo 1, calcular o valor do juro: Jt = iPt-1; 2 Passo 2, calcular o valor da prestação: Rt = At + Jt; Passo 3, calcular o valor do saldo devedor ao final do período: Pt = Pt-1 - At; (repetir passos 1 a 3) A tabela a seguir descreve o SAC, considerando uma dívida cujo principal (P0) é de $120.000, o número de períodos (T) é de 12 meses e a taxa de juro é de 1% a.m. Lendo as tabelas de sistemas de amortização A primeira linha da tabela contém os nomes das colunas, cada uma delas correspondendo a um dos componentes da dívida. A segunda linha identifica as colunas com letras, as quais são empregadas para descrever as fórmulas. Ou seja, trata-se de descrever as operações em função das colunas. A terceira linha apresenta as fórmulas gerais. Tabela 1 SAC t Juro Amortização Prestação Saldo devedor [A = iD(t-1)] [B] [C = A+B] [D = D(t-1) - B] J(t) = iP(t-1) A(t) = P(0)/N R(t) = A(t) + J(t) P(t) = P(t-1) - A(t) 0 120.000,00 1 1.200,00 10.000,00 11.200,00 110.000,00 2 1.100,00 10.000,00 11.100,00 100.000,00 3 1.000,00 10.000,00 11.000,00 90.000,00 4 900,00 10.000,00 10.900,00 80.000,00 5 800,00 10.000,00 10.800,00 70.000,00 6 700,00 10.000,00 10.700,00 60.000,00 7 600,00 10.000,00 10.600,00 50.000,00 8 500,00 10.000,00 10.500,00 40.000,00 9 400,00 10.000,00 10.400,00 30.000,00 10 300,00 10.000,00 10.300,00 20.000,00 11 200,00 10.000,00 10.200,00 10.000,00 12 100,00 10.000,00 10.100,00 0 Total 7.800,00 120.000,00 127.800,00 O diagrama abaixo apresenta o fluxo de caixa do SAC. A = P(0)/T 0 1 2 3 ... T ↓ ↓ ↓ ↓ R = A + J R = A + J R = A + J R = A + J 3 1.1.2 Sistema Price ou francês O sistema de amortização Price, juntamente com o SAC e com uma mistura dos dois (sistema misto), são oferecidos como opções de financiamento imobiliário pela Caixa Econômica Federal. O sistema Price estabelece que o valor da prestação é fixo e definido de maneira a que o valor presente da série de prestações seja equivalente ao valor do principal da dívida, P0. Ou seja: ܲ = ܴ ቆ(1 + ݅)் − 1݅(1 + ݅)் ቇ → ܴ = ܲ ቆ(1 + ݅)் − 1݅(1 + ݅)் ቇିଵ = ܲܨܨܨ(݅,ܶ) Em que FRC(i,T) é o fator de recuperação do capital. Para determinar a parcela de cada prestação que corresponde ao juro e ao principal, adota-se um procedimento específico. Em primeiro lugar, deve-se partir de t = 1, i.e., do período que precede a contração da dívida. O primeiro passo consiste em calcular o valor do juro a partir da expressão Jt = iPt-1, a qual, para t = 1, é equivalente a J1 = iP0. No segundo passo, o valor da amortização é obtido como resíduo, ou seja, A1 = P1 – J1. No terceiro passo, calcula-se o valor do saldo devedor ao final de t = 1, a partir de P1 = P0 – A1. Para os períodos subsequentes, basta repetir os passos 1 a 3. Considerando isso, o procedimento do sistema Price, em termos genéricos, pode ser enunciado como segue. Procedimento do sistema Price Passo 0, calcular o valor da prestação Rt = ܲ ቀ (ଵା)ିଵ (ଵା) ቁିଵ Passo 1, calcular o valor do juro: Jt = iPt-1; Passo 2, calcular o valor da amortização: At = Pt - Jt; Passo 3, calcular o valor do saldo devedor ao final do período: Pt = Pt-1 - At; (repetir passos 1 a 3) A tabela abaixo apresenta os resultados dos cálculos do sistema Price, considerando, assim como para o SAC, uma dívida cujo principal (P0) é de $120.000, o número de períodos (T) é de 12 meses e a taxa de juro é de 1% a.m. Tabela 2 Sistema Price t Juro Amortização Prestação Saldo devedor [A = iD(t-1)] [B = C - A] [C] [D = D(t-1) - B] J(t) = iP(t-1) A(t) = R(t) - J(t) R(t) = P(0).FRC P(t) = P(t-1) - A(t) 0 120.000,00 4 1 1.200,00 9.461,85 10.661,85 110.538,15 2 1.105,38 9.556,47 10.661,85 100.981,67 3 1.009,82 9.652,04 10.661,85 91.329,63 4 913,30 9.748,56 10.661,85 81.581,08 5 815,81 9.846,04 10.661,85 71.735,03 6 717,35 9.944,50 10.661,85 61.790,53 7 617,91 10.043,95 10.661,85 51.746,58 8 517,47 10.144,39 10.661,85 41.602,19 9 416,02 10.245,83 10.661,85 31.356,36 10 313,56 10.348,29 10.661,85 21.008,07 11 210,08 10.451,77 10.661,85 10.556,29 12 105,56 10.556,29 10.661,85 0 Total 7.942,26 120.000,00 127.942,26 O diagrama abaixo apresenta o fluxo de caixa do sistema Price. 1.1.3 Sistema Americano O sistema americano de amortização se caracteriza por duas premissas principais. A primeira estabelece que o principal da dívida é quitadoem apenas uma prestação a qual ocorre no último instante do período de quitação (t = T). Deste modo, nos demais períodos, t = 1,..., T-1, as prestações são compostas apenas do juro, Rt = Jt, t =1,...,T-1. A amortização é nula até o penúltimo período, At = 0, t =1,...,T-1. Consequentemente, o saldo devedor se mantém equivalente ao valor do principal, i.e., Pt = P0 para t = 1,..., T – 1, e no último período, t = T, o saldo devedor é zerado, i.e., PT = 0. Como o juro também é calculado com base no saldo devedor, ele se mantém constante durante todo o período de quitação. De fato, Jt = iP0, t = 1,...,T. A segunda premissa é a de que, para fazer frente ao pagamento do principal no último período, será composto um fundo a partir de uma série de investimentos de igual valor. Ou seja, trata-se de aplicar S de t = 1 a t = T, de maneira a obter-se um fundo de valor futuro em t = T equivalente ao valor do principal. Tem-se, pois, um problema equivalente ao de determinação do valor do depósito, S, que gera uma série uniforme com valor futuro pré-determinado. O valor de S é dado por: ܲ = ܵ ቆ(1 + ݅)் − 1݅ ቇ → ܵ = ܲ ቆ(1 + ݅)் − 1݅ ቇିଵ = ܲܨܨܨ(݅, ܶ) VP(A) = P(0) 0 1 2 3 ... T ↓ ↓ ↓ ↓ R = A + J R = A + J R = A + J R = A + J 5 Em que FFF(i,T) é o fator de formação de fundo. Desta maneira, a cada período é preciso desembolsar, para quitar uma dívida pelo sistema americano, um valor correspondente ao cômputo do juro e do depósito para formação do fundo. Procedimento do sistema americano Passo 0, calcular o valor do depósito no fundo para quitação do principal em t = T, S = ܲ ቀ (ଵା)ିଵ ቁ ିଵ Passo 1, o valor do juro, J = iP0, da prestação, R = J e o valor desembolsado, D = R + S. Estes valores são iguais para todos os períodos de t = 1,..., T, com exceção da prestação que assume valor distinto em t = T. Passo 2, calcular o valor da prestação para o último período, RT = P0 + R. A tabela abaixo descreve a quitação de uma dívida pelo sistema americano, incorporando o depósito para formação de um fundo na penúltima coluna. A última coluna apresenta o desembolso total que tem de ser realizado a cada período (prestação + depósito). Tabela 3 Sistema americano t Juro Amortização Prestação Saldo devedor Depósito no fundo Desembolso [A = iD(t-1)] [B] [C = A+B] [D = D(t-1) - B] [D] [F = C + D] J(t) = iP(t-1) A(t) = P(0)1{t = T} R(t) = A(t) + J(t) P(t) = P(t-1) - A(t) P(0).FFF 0 120.000,00 1 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 2 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 3 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 4 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 5 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 6 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 7 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 8 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 9 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 10 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 11 1.200,00 0 1.200,00 120.000,00 9.461,85 10.661,85 12 1.200,00 120.000,00 121.200,00 0 9.461,85 10.661,85 Total 14.400,00 120.000,00 134.400,00 113.542,26 127.942,26 Nota: A fórmula para a amortização, A(t) = P(0)1{t = T}, incorpora a função matemática indicador, denotada por 1{condição}. Tal função reporta valor unitário caso a condição seja verificada e valor nulo caso contrário. 6 A tabela acima deixa claro um ponto importante. Como o pagamento do principal é feito a partir da composição de um fundo, não é correto contabilizar tal pagamento como desembolso, uma vez que se trata da mera utilização do valor acumulado no fundo e não de um desembolso strictu sensu. Os desembolsos compreendem os depósitos no fundo, exclusivamente. É preciso notar que o valor do desembolso periódico do sistema americano é equivalente à prestação do sistema Price. Ou seja, os dois sistemas requerem o mesmo desembolso periódico, uma vez que no sistema Price o valor desembolsado é igual à prestação. A equivalência entre os dois sistemas é sempre verdadeira, o que é possível demonstrar como segue. Para isso, denota-se a prestação do sistema Price por RPrice e o desembolso do sistema americano por Damericano. R = P(0)ቆ ݅(1 + ݅)்(1 + ݅)் − 1ቇ (1) D = R + S = P(0)i + P(0)൬ ݅(1 + ݅)் − 1൰ (2) Manipulando a equação (2), tem-se: D = P(0)i + P(0) ൬ ݅(1 + ݅)் − 1൰ = P(0)i ൬1 + ݅(1 + ݅)் − 1൰= P(0)i ቆ (1 + ݅)்(1 + ݅)் − 1ቇ = P(0) ቆ ݅(1 + ݅)்(1 + ݅)் − 1ቇ O que deixa claro que Damericano = RPrice. Na verdade, esta equivalência decorre de um resultado mais básico, o de que ݅ + ቀ (ଵା)ିଵቁ = ቀ (ଵା)(ଵା)ିଵቁ, ou seja, i + FFF = FRC, uma vez que FFF = ቀ (ଵା)ିଵቁ e FRC = ቀ (ଵା)(ଵା)ିଵቁ (ver nota de aula 3). O diagrama abaixo apresenta o fluxo de caixa do sistema americano. 1.1.4 Semelhanças e diferenças entre os três sistemas de amortização Comparando o SAC e o sistema Price, tem-se que, enquanto no primeiro o valor da amortização é fixo, no segundo é o valor da prestação que é fixo. Somente no sistema americano a amortização é feita com apenas um pagamento, nos demais há amortização gradual do principal. VF(S) = P(0) 0 1 2 3 ... T-1 T ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ D = J + S D = J + S D = J + S D = J + S D = P(0) + J + S 7 O valor desembolsado a cada período para quitar a dívida por meio dos sistemas Price e americano é o mesmo e trata-se de um valor fixo no tempo. Já o SAC requer um desembolso diferente dos demais e cadente. Em oposição, a amortização é variável nos sistemas Price e americano e fixa no SAC. Apenas o sistema americano requer a formação de um fundo para quitação do principal da dívida. Há três convenções que são comuns aos três sistemas. O juro é calculado com base no saldo devedor referente ao final do período anterior. O saldo devedor é atualizado deduzindo o valor amortizado a cada período. O valor da prestação corresponde ao cômputo da amortização do principal e do juro. 1.2 Exercícios 1 (Bueno et al., 2011, ex. 5.1, adaptado) Uma casa no valor de $100.000,00 foi adquirida por meio de um financiamento de 30 anos pelo sistema Price. Sabendo-se que a taxa de juros cobrada pelo banco é de 1,5% ao mês, determinar o valor da prestação [mensal], do saldo devedor, dos juros e da amortização referente à 35a prestação [mensal]. R: O diagrama de fluxo de caixa não é muito esclarecedor para a resolução de problemas de sistema de amortização, uma vez que estes requerem a elaboração de uma tabela que contém informação detalhada sobre o fluxo de caixa. Para elaborar a tabela, é preciso implementar o procedimento do sistema Price. Passo 0, calcular o valor da prestação Há um detalhe no enunciado que merece ser assinalado. As prestações são mensais, de modo que a duração do contrato de financiamento, em meses, é de 30 anos x 12 meses / ano = 360 meses. T = 360 meses, portanto. ܴ௧ = ܲ ቆ ݅(1 + ݅)்(1 + ݅)் − 1ቇ = 100.000ቆ (1 + 0,015)ଷ − 10,015(1 + 0,015)ଷቇ = 100.000 ∗ 0,0150709= ܴ$ 1.507,09. Passo 1, calcular o valor do juro em t = 1 O juro é sempre calculado com base no saldo devedor, i.e., Jt = iPt-1, de modo que J1 = iP0 = R$1.500,00. Passo 2, calcular o valor da amortização em t = 1 A amortização é calculada como resíduo da prestação, i.e., At = Pt - Jt, e, pois, A1 = P1 – J1 = 1507,09 – 1500 = $7,09. Passo 3, cálculo do saldo devedor ao final de t = 1 8 O saldo devedor é atualizado a partir da subtração do valor amortizado, Pt = Pt-1 - At, ou seja, P1 = P0 – A1 = 100.000,00 - 7,09 = $99.992,91. Períodos subsequentes A repetição dos passos 1 a 3 para os períodos subsequentes permite obter At, Jt e Pt. A tabela abaixo apresenta estes valores até o 35o período. t Juro Amortização PrestaçãoSaldo devedor [A = iD(t-1)] [B = C - A] [C] [D = D(t-1) - B] J(t) = iP(t-1) A(t) = R(t) - J(t) R(t) = P(0).FRC P(t) = P(t-1) - A(t) 0 100.000,00 1 1.500,00 R$ 7,09 R$ 1.507,09 99.992,91 2 1.499,89 R$ 7,19 R$ 1.507,09 99.985,72 3 1.499,79 R$ 7,30 R$ 1.507,09 99.978,42 4 1.499,68 R$ 7,41 R$ 1.507,09 99.971,01 5 1.499,57 R$ 7,52 R$ 1.507,09 99.963,49 6 1.499,45 R$ 7,63 R$ 1.507,09 99.955,86 7 1.499,34 R$ 7,75 R$ 1.507,09 99.948,11 8 1.499,22 R$ 7,86 R$ 1.507,09 99.940,25 9 1.499,10 R$ 7,98 R$ 1.507,09 99.932,27 10 1.498,98 R$ 8,10 R$ 1.507,09 99.924,17 11 1.498,86 R$ 8,22 R$ 1.507,09 99.915,94 12 1.498,74 R$ 8,35 R$ 1.507,09 99.907,60 13 1.498,61 R$ 8,47 R$ 1.507,09 99.899,13 14 1.498,49 R$ 8,60 R$ 1.507,09 99.890,53 15 1.498,36 R$ 8,73 R$ 1.507,09 99.881,80 16 1.498,23 R$ 8,86 R$ 1.507,09 99.872,94 17 1.498,09 R$ 8,99 R$ 1.507,09 99.863,95 18 1.497,96 R$ 9,13 R$ 1.507,09 99.854,83 19 1.497,82 R$ 9,26 R$ 1.507,09 99.845,56 20 1.497,68 R$ 9,40 R$ 1.507,09 99.836,16 21 1.497,54 R$ 9,54 R$ 1.507,09 99.826,62 22 1.497,40 R$ 9,69 R$ 1.507,09 99.816,93 23 1.497,25 R$ 9,83 R$ 1.507,09 99.807,10 24 1.497,11 R$ 9,98 R$ 1.507,09 99.797,12 25 1.496,96 R$ 10,13 R$ 1.507,09 99.786,99 26 1.496,80 R$ 10,28 R$ 1.507,09 99.776,71 27 1.496,65 R$ 10,43 R$ 1.507,09 99.766,28 28 1.496,49 R$ 10,59 R$ 1.507,09 99.755,69 29 1.496,34 R$ 10,75 R$ 1.507,09 99.744,94 30 1.496,17 R$ 10,91 R$ 1.507,09 99.734,02 31 1.496,01 R$ 11,08 R$ 1.507,09 99.722,95 32 1.495,84 R$ 11,24 R$ 1.507,09 99.711,71 33 1.495,68 R$ 11,41 R$ 1.507,09 99.700,30 9 34 1.495,50 R$ 11,58 R$ 1.507,09 99.688,72 35 1.495,33 R$ 11,75 R$ 1.507,09 99.676,96 2 (BOVESPA, Ex.186) Considere um empréstimo de R$100.000,00 a ser pago em dez prestações mensais, taxa de juro de 2% ao mês, pelo sistema de amortização constante (SAC). A segunda prestação vai ser igual a: a) R$11.800,00 b) R$12.000,00 c) R$12.200,00 d) R$11.600,00 R: Para resolver, basta implementar o procedimento do SAC. Passo 0, calcular o valor da amortização Trata-se de At = P0/T = 100.000/10 = 10.000. Passos 1 a 3, t = 1 Passo 1, calcular o valor do juro em t = 1 O juro incide sempre sobre o saldo devedor, Jt = iPt-1, de modo que J1 = iP0 = 0,02*100.000 = $2.000. Passo 2, calcular o valor da prestação: A prestação é dada por Rt = At + Jt, i.e., R1 = A1 + J1 = 10.000 + 2.000 = 12.000. Passo 3, calcular o valor do saldo devedor ao final do período Trata-se de Pt = Pt-1 - At, de modo que de P1 = 100.000 – 10.000 = 90.000. Passos 1 a 3, t = 2 Passo 1, calcular o valor do juro em t = 2 J2 = iP1 = 0,02*90.000 = $1.800. Passo 2, calcular o valor da prestação: R2 = A2 + J2 = 10.000 + 1.800 = 11.800. 10 Passo 3, calcular o valor do saldo devedor ao final do período P2 = 90.000 – 10.000 = 80.000. Períodos subsequentes A tabela a seguir apresenta a evolução dos componentes da dívida. t Juro Amortização Prestação Saldo devedor [A = iD(t-1)] [B] [C = A+B] [D = D(t-1) - B] J(t) = iP(t-1) A(t) = P(0)/N R(t) = A(t) + J(t) P(t) = P(t-1) - A(t) 0 100.000,00 1 2.000,00 10.000,00 12.000,00 90.000,00 2 1.800,00 10.000,00 11.800,00 80.000,00 3 1.600,00 10.000,00 11.600,00 70.000,00 4 1.400,00 10.000,00 11.400,00 60.000,00 5 1.200,00 10.000,00 11.200,00 50.000,00 6 1.000,00 10.000,00 11.000,00 40.000,00 7 800,00 10.000,00 10.800,00 30.000,00 8 600,00 10.000,00 10.600,00 20.000,00 9 400,00 10.000,00 10.400,00 10.000,00 10 200,00 10.000,00 10.200,00 - Total 11.000,00 100.000,00 111.000,00 3 (BOVESPA, Ex.194) Uma empresa realizou financiamento de R$200.000,00 pelo sistema de amortização americano (SAA). Sabendo que o prazo da operação é de 18 meses e a taxa de juro igual a 2,5% ao mês, calcule o valor dos juros na 15ª prestação. a) R$5.000,00 b) R$1.111,00 c) R$13.934,02 d) R$1.310,49 R: O procedimento do sistema americano é implementado no que segue. Passo 0, calcular o valor do depósito no fundo O valor que tem de ser periodicamente depositado no fundo para pagamento do principal em T = 18 é dado por S = P ቀ (ଵା୧)ିଵቁ = 200.000 ቀ ,ଶହ(ଵା,ଶହ)భఴିଵቁ =200.000 ∗ 0,044670081 = ܴ$ 8.934,02. Passo 1, cálculo de J, R e D 11 O juro é fixo no tempo e dado por J = iP0 = 0,025*200.000 = 5.000. Este valor é exatamente igual à prestação, R, pois a amortização é nula. Já o valor desembolsado é o cômputo do juro e do depósito no fundo, D = 5.000 +8.934,02 = 13.934,02. Passo 2 calcular o valor da prestação para o último período O valor da prestação no último período é equivalente ao que prevalece nos demais períodos ampliado pelo valor do principal, i.e., RT = P0 + R = 200.000 + 5.000 = 205.000. Períodos subsequentes A descrição completa do sistema americano para o exercício pode ser encontrada na tabela a seguir. t Juro Amortização Prestação Saldo devedor Depósito no fundo Desembolso [A = iD(t-1)] [B] [C = A+B] [D = D(t-1) - B] [D] [F = C + D] J(t) = iP(t-1) A(t) = P(0)1{t = T} R(t) = A(t) + J(t) P(t) = P(t-1) - A(t) P(0).FFF 0 200.000,00 1 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 2 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 3 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 4 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 5 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 6 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 7 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 8 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 9 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 10 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 11 5.000,00 0 5.000,00 200.000,00 8.934,02 13.934,02 12 5.000,00 200.000,00 205.000,00 0 8.934,02 13.934,02 Total 60.000,00 200.000,00 260.000,00 107.208,19 167.208,19 Ex.4 (Bueno et al., 2011, 5.20) Um empréstimo no valor de $50.000,00 foi concedido, pela tabela Price, a uma taxa de juros compostos de 1,9% a.m e 60 prestações. As prestações pagas foram aplicadas mensalmente a uma taxa de juros compostos de 1,7% a.m. Qual a taxa de juros compostos efetiva obtida pelo emprestador? R: Passo 1, compreensão do enunciado Neste exercício, temos dois agentes. O primeiro, tomador, contrai a dívida e a quita pela tabela Price. O segundo, credor, obtém retorno econômico a partir da concessão do crédito. 12 Do ponto de vista do tomador, ocorre a operação de quitação da dívida, ilustrada no diagrama a seguir. Já, do ponto de vista do credor, duas operações ocorrem ao mesmo tempo. A primeira operação é o recebimento das prestações pagas pelo tomador, cujo fluxo de caixa segue abaixo. Assim que as prestações são recebidas elas são aplicadas a uma taxa de 1,7% a.m, prevalecendo o fluxo de caixa abaixo. As aplicações das prestações geram um montante que é recuperado em t = 60. Este montante foi gerado a partir do emprego do capital inicial de R$50.000,00 e é com base nele que se deve calcular a taxa de juro efetiva obtida pelo credor. Passo 2 Cálculo do valor das prestaçõesNo sistema Price, as prestações são fixas no tempo e o valor presente da série que compõem é equivalente ao principal da dívida. Sendo, pois, R o valor da prestação, tem- se: R = P ቆ i(1 + i)(1 + i) − 1ቇ = 50.000ቆ0,019(1 + 0,019)(1 + 0,019) − 1 ቇ = 1403,784106 Passo 3 Cálculo do valor do montante obtido pelo credor em t = 60 VP(A) = P(0) 0 1 2 3 ... 60 ↓ ↓ ↓ ↓ R = A + J R = A + J R = A + J R = A + J R = A + J R = A + J R = A + J R = A + J ↑ ↑ ↑ ↑ 0 1 2 3 ... 60 ↓ 50.000 Montante = VF 0 1 2 3 ... 60 ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ 50000 R = A + J R = A + J R = A + J R = A + J 13 O credor aplica, em cada um dos períodos, um valor equivalente ao calculado no passo anterior. Determinar o montante correspondente à soma dos valores gerados com cada aplicação é equivalente a calcular o valor futuro da série de aplicações. O que é feito a partir do cálculo a seguir. VF = Rቆ(1 + i) − 1 ݅ ቇ = 1403,784106ቆ(1 + 0,017) − 10,017 ቇ = ܴ$ 144.467,70 Passo 4 Cálculo da taxa de juro para o período completo (60 meses) A taxa de juro obtida pelo credor, considerando-se como horizonte todo o período de 60 meses, é calculada a partir de: i = VF/C0 – 1 = 144.467,70/50.000 – 1 = 188,9354% Passo 5 Cálculo da taxa mensal equivalente Para obter a taxa de juro mensal equivalente, basta calcular im = (1+i)1/60 – 1 = 0,017841. Passo 6 Tabela Price para a quitação da dívida t Juro Amortização Prestação Saldo devedor [A = iD(t-1)] [B = C - A] [C] [D = D(t-1) - B] J(t) = iP(t-1) A(t) = R(t) - J(t) R(t) = P(0).FRC P(t) = P(t-1) - A(t) 0 50.000,00 1 950,00 453,78 1.403,78 49.546,22 2 941,38 462,41 1.403,78 49.083,81 3 932,59 471,19 1.403,78 48.612,62 4 923,64 480,14 1.403,78 48.132,47 5 914,52 489,27 1.403,78 47.643,21 6 905,22 498,56 1.403,78 47.144,64 7 895,75 508,04 1.403,78 46.636,61 8 886,10 517,69 1.403,78 46.118,92 9 876,26 527,52 1.403,78 45.591,39 10 866,24 537,55 1.403,78 45.053,85 ... ... ... ... ... 60 26,17 1.377,61 1.403,78 0 Total 34.227,05 50.000,00 84.227,05 14 2 Análise de projetos 1, critério do VPL para projetos com durações equivalentes 2.1 Teoria Até o presente momento os projetos de investimento considerados são bastante simples, contendo apenas uma despesa, realizada em t = 0, e receitas constantes no tempo que ocorrem de t = 1 a t = T. Este dificilmente é o caso na prática, especialmente considerando investimentos associados à instalação ou ampliação de capacidade produtiva. Há duas diferenças fundamentais. Em primeiro lugar, múltiplas despesas, ocorrendo durante toda ou pelo menos boa parte da duração do projeto. Em segundo lugar, receitas e despesas não necessariamente são constantes no tempo, i.e., pelo um dos fluxos que as compõem é diferente dos demais. Se tal diferenciação se limita a alguns fluxos e, pois, a maioria dos fluxos constitui uma série uniforme, as fórmulas obtidas até aqui continuam sendo válidas e suficientes, com algum ajuste, para calcular o resultado financeiro. Porém, caso a diferenciação se estenda a boa parte dos fluxos, tais fórmulas deixam de se aplicar. As duas complicações discutidas anteriormente não tornam inválidos os critérios do valor presente e do valor futuro (nota de aula 3). Cabe retomá-los. Eles estabelecem que, para determinar se um investimento produtivo ou uma concessão de crédito são economicamente vantajosos, basta: 1. (critério do VP) Calcular o valor presente das receitas geradas e comparar com o capital inicial requerido; 2. (critério do VF) Calcular o valor futuro das receitas geradas e comparar com o montante obtido pela aplicação do capital inicial requerido. Por hora, cabe concentrar no primeiro critério, o qual, se aplicado a séries com múltiplas despesas e sujeitas à desuniformidade, pode ser denominado por “critério do valor presente líquido (VPL)”. Tal critério, deve-se frisar, aplica-se a fluxos de caixa líquidos. Ou seja, deve-se, como primeiro passo, calcular as receitas líquidas, e então, no segundo passo, obter o valor presente de tais fluxos líquidos. Para entender o procedimento, cabe considerar um projeto genérico, com fluxo de caixa exibido no diagrama a seguir. R1 R2 R3 R4 RT ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ... 0 1 2 3 4 T ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ D0 D1 D2 D3 D4 DT 15 É um padrão recorrente em múltiplos projetos que, em t = 0 (hoje) não ocorra receita mas apenas despesa. Tal despesa, que ocorre em t = 0 (D0), recebe, comumente, uma denominação especial, a de “capital inicial” ou “investimento inicial”. Ela será denotada por P. O valor presente do fluxo de caixa líquido do projeto genérico acima é: ܸܲ(ܴ௧ − ܦ௧ , ݅, ܶ) = −ܲ + ܴଵ − ܦଵ(1 + ݅)ଵ + ܴଶ − ܦଶ(1 + ݅)ଶ + ⋯+ ்ܴ − ܦ்(1 + ݅)் = − ܲ + ܴ௧ −ܦ௧(1 + ݅)௧ே ୀଵ= −ܲ + ܴܮ௧(1 + ݅)௧ே ୀଵ Denomina-se por “valor presente líquido” o valor presente de um fluxo de caixa líquido, i.e.: ܸܲܮ(ܴ௧ − ܦ௧ , ݅,ܶ) = −ܲ + ܴܮ௧(1 + ݅)௧ே ୀଵ É consensual entre analistas de investimento que um VPL positivo indica que o investimento é economicamente vantajoso. Para ver porque isso é correto, basta considerar que, sempre que VPL > 0, tem-se ∑ ோ(ଵା)ேୀଵ > ܲ, i.e., o valor presente da série de receitas líquidas é superior ao valor do capital investido. Isso significa que, para gerar (emular) a série de receitas líquidas a partir de uma série de aplicações financeiras seria necessário possuir um capital inicial superior ao investido. Ou seja, as aplicações financeiras requerem um maior capital para gerar a mesma série de receitas líquidas. Isso indica, pois, que o investimento em questão, o qual efetivamente gera o fluxo de receitas líquidas, é superior a uma aplicação financeira e deve, pois, ser realizado. Conclui-se, portanto, que um VPL positivo é equivalente a um fluxo de receitas líquidas superior ao valor do capital inicial. Ambos indicam que o investimento é economicamente vantajoso e deve ser realizado. Alguns autores (como, por exemplo, Blank e Tarquin, 2011) tomam por base um critério menos restritivo para a decisão de realização de um investimento. Eles estabelecem que um investimento deve ser realizado não apenas quando o VPL é positivo, mas também quando o VPL é nulo. Um VPL não-negativo, VPL ≥ 0, basta, pois. A análise do VPL é uma técnica para comparar projetos de investimento alternativos. Assim como outras técnicas a serem vistas adiante, a análise de VPL fornece um critério válido para selecionar um projeto dentre dois ou mais projetos potenciais de investimento. Antes de prosseguir, deve ser assinalado que o problema de descobrir qual, dentre múltiplos projetos, é o melhor, é diferente do problema de descobrir se um único projeto não-financeiro vale a pena. É por isso que os critérios são diferentes: 16 enquanto no primeiro caso trata-se de determinar se o VPL é positivo, no segundo trata- se de determinar qual é o projeto com maior VPL. A validade do VPL como solução para ambos os problemas repousa no fato de que ele é uma medida de lucro, i.e., de resultado líquido absoluto do projeto (ou, ainda, de valor adicionado). E, sendo o objetivo do investidor maximizar lucro, faz todo o sentido selecionar o projeto que proporciona maior VPL. 2.2 Exercícios 1 (Bueno et al, 2011, 6.4) Uma máquina encontra-se à venda pelo preço de $45.000,00 e possui um custo anual de operação de $5.000,00. A vida útil da máquina é de dez anos, e ela promete um fluxo anual de receitas de $15.000,00. Sabendo que o valor residual da máquina é de $5.000,00, calcular o VPL do investimento, supondo as seguintes taxas de juro anuais: 10%, 15% e 20%. R: Este exercício requer a visualização do fluxo de caixa referente à vida útil da máquina,tal como segue. Calculando a receita líquida em cada período, i.e., deduzindo da receita a despesa operacional, o fluxo de caixa passa a: O VPL correspondente ao fluxo de caixa líquido acima é: ܸܲܮ(݅) = ܴܮ௧(1 + ݅)௧ே ୀଵ − ܲ = 10.000(1 + ݅)௧ଵ ୀଵ + 5.000(1 + ݅)ଵ − 45.000 O valor do somatório pode ser facilmente calculado, uma vez que se trata do VPL de uma série uniforme. De fato: $15.000 $15.000 $15.000 $15.000 + $5.000 VPL? ↑ ↑ ↑ ↑ Ano ... 0 1 2 3 10 ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ $45.000 $5.000 $5.000 $5.000 $5.000 $10.000 $10.000 $10.000 $10.000 + $5.000 VPL? ↑ ↑ ↑ ↑ Ano ... 0 1 2 3 10 ↓ $45.000 17 10.000(1 + ݅)௧ଵ ୀଵ = 10.000ቆ(1 + i)ଵ − 1i(1 + i)ଵ ቇ = ܸܲ(݅, 10.000,10) Portanto: ܸܲܮ(݅) = ܸܲ(݅, 10.000,10) + 5.000(1 + ݅)ଵ − 45.000 E, com auxílio do Excel, chega-se a: VPL(0,1) = R$ 18.373,39 VPL(0,15) = R$ 6.423,61 VPL(0,2) = -R$ 2.267,75 Conclui-se, pois, que para taxas de juro de 10 e 15% a.a., a compra da máquina é economicamente vantajosa, o mesmo não sendo verdade quando a taxa de juro é de 20% a.a. Nota: valor residual, ou “salvage value”, é o valor do ativo ao final de sua vida útil (valor terminal) e pode ser positivo se transferir o ativo para outrem gera receita ou negativo se tal transferência é custosa (Newnan et al., 2004, p.51). 2 (Blank e Tarquin, 2011, Ex. 5.7) Uma empresa que fabrica interruptores de membrana magnética investiga duas possibilidades de produção cujos fluxos de caixa são apresentados abaixo. Qual deve ser selecionado considerando-se uma taxa de juro de 10% a.a.? Projeto 1 Projeto 2 Custo inicial -30 0 Custo operacional anual -5 -2 Receita anual 14 3,1 Valor residual 2 0 Vida útil (anos) 5 5 R: São apresentadas duas maneiras de resolver, uma semi-manual e outra computadorizada. (A) Solução semi-manual O primeiro passo consiste em elaborar o diagrama de fluxo de caixa para os dois projetos e então calcular o VPL de cada um. Isso é feito no segue. Passo 1, VPL do projeto 1 18 Fluxo de caixa, projeto 1 O fluxo de caixa líquido é, pois: Com isso, temos: VPL(projeto 1) = −30 + ଽ ଵା + ଽ(ଵା)మ + ⋯+ ଽ(ଵା)ఱ + ଶ(ଵା)ఱ = ܸܲ(݅, 9,5) + ଵ(ଵା)ఱ − 30 = 9 ቀ(ଵା୧)ఱିଵ୧(ଵା୧)ఱ ቁ + ଶ(ଵା)ఱ − 30. O que, com uma taxa de 10% a.a., passa a: VPL(projeto 1) = 9 ቀ(ଵା,ଵ)ఱିଵ ୧(ଵା,ଵ)ఱ ቁ + ଶ(ଵା,ଵ)ఱ − 30 =$5,36 Passo 2, VPL do projeto 2 Fluxo de caixa, projeto 2 Fluxo de caixa líquido, projeto 2 $14 $14 $14 $14 + $2 VPL? ↑ ↑ ↑ ↑ ... 0 1 2 3 5 ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ $30 $5 $5 $5 $5 $9 $9 $9 $11 VPL? ↑ ↑ ↑ ↑ ... 0 1 2 3 5 ↓ $30 $3,1 $3,1 $3,1 $3,1 VPL? ↑ ↑ ↑ ↑ ... 0 1 2 3 5 ↓ ↓ ↓ ↓ $2 $2 $2 $2 $1,1 $1,1 $1,1 $1,1 VPL? ↑ ↑ ↑ ↑ ... 0 1 2 3 5 19 Assim, VPL(projeto 2) = ଵ,ଵ ଵା + ଵ,ଵ(ଵା)మ + ⋯+ ଵ,ଵ(ଵା)ఱ = 1,1 ቀ(ଵା,ଵ)ఱିଵ୧(ଵା,ଵ)ఱ ቁ = $4,17. Passo 3, decisão O projeto 2 deve ser escolhido pois apresenta o maior VPL. (B) Solução computadorizada Trata-se de utilizar o Excel ® para calcular os VPLs dos dois projetos. Isso pode ser feito a partir dos passos a seguir. Passo 1, elaborar uma tabela com os fluxos de caixa líquidos dos dois projetos. Tal tabela, como se pode ver a seguir, pode ser estruturada com os projetos nas colunas e os períodos de tempo nas linhas. Ano Projeto 1 Projeto 2 0 -30 0 1 9 1,1 2 9 1,1 3 9 1,1 4 9 1,1 5 11 1,1 VPL Excel R$ 5,36 R$ 4,17 Passo 2, utilizar a função “VPL” (ou VPN se o software está na língua inglesa). Há um cuidado fundamental ao utilizar esta função. Ela considera que o período em que ocorre a primeira receita líquida corresponde a t = 1, ou seja, trata-se do final do primeiro período. Se, portanto, fluxos que ocorrem em t = 0 forem incorporados à fórmula, eles serão descontados pela taxa de juro, tal como se ocorressem ao final de t = 1, o que é equivocado. Para evitar este erro, não se deve incluir os fluxos que ocorrem em t = 0 na função VPL, e, portanto, apenas fluxos que ocorrem de t = 1 a t = T (período final) devem ser incluídos. A incorporação dos fluxos de t = 0 deve ser feita somando tais fluxos ao resultado da função VPL, tomando o cuidado de que todos os fluxos devem ser receitas líquidas e, portanto, os sinais dos fluxos são importantes. I.e., fluxos positivos serão somados e fluxos negativos deduzidos. A sintaxe da função VPL é a seguinte: VPL(taxa, série(t=1,t=T)), com taxa = taxa de juro e série = células com a série de fluxos de receita líquida de um dado projeto, dispostos em ordem crescente de períodos de tempo e iniciando em t = 0. Para calcular, portanto, o VPL de uma série basta entrar no excel VPL(taxa,série(t=1,t=T)) + fluxo(t=0), com fluxo(t=0) representando a receita líquida que ocorre em t = 0. 20 3 (Blank e Tarquin, 2011, Ex. 5.8) O administrador de uma planta de processamento de alimentos enlatados deve decidir entre duas máquinas de selagem. A máquina A tem um custo inicial de $42.000,00 e um custo anual operacional de $28.000,00 e uma vida útil de 4 anos. A máquina B tem custo inicial de $51.000,00 e custo operacional anual de $17.000,00 com vida útil também de 4 anos. Qual máquina deve ser selecionada a uma taxa de juro de 10%? R: será apresentada uma solução semi-manual que combina elementos das duas estratégias de solução aplicadas no exercício anterior. Passo 0, elaboração da tabela com os dados do problema Este primeiro passo é necessário mesmo que seja utilizada uma planilha eletrônica. Ele tem como objetivo central extrair do enunciado os valores das variáveis necessários à resolução do problema. Máquina 1 Máquina 2 Taxa de juro a.a [comum] 0,10 0,10 Custo inicial 42.000,00 51.000,00 Custo operacional anual 28.000,00 17.000,00 Receita anual Não informado Não informado Valor residual 0 0 Vida útil (anos) 4 4 Passo 1, elaboração da tabela com fluxo de caixa líquido Este problema tem uma característica específica a uma categoria de problemas de decisão de investimento. Dispõe-se apenas dos fluxos de despesa, o que é comum para decisões de investimento referentes a componentes de uma estrutura produtiva, como máquinas, equipamentos, instalações e materiais. Neste caso, o critério de decisão não poderia ser mais intuitivo, trata-se de adquirir a opção com menor custo dentre todas as opções para o componente disponíveis no mercado. Porém, alguns componentes não apresentam apenas o custo de aquisição, ou custo inicial, mas também o custo de operação e manutenção e, eventualmente, um valor residual (p.ex., valor de sucata). Neste caso, o critério básico sofre uma pequena sofisticação: deve ser escolhido o componente com menor valor presente para o fluxo de despesas. O que é equivalente a selecionar o componente com maior VPL considerando-se os fluxos de despesa como fluxos negativos de receita líquida. Com base neste princípio é possível elaborar uma tabela de fluxos de caixa líquidos tal como foi feito no exercício anterior. O resultado está na tabela a seguir. 21 Ano Máquina 1 Máquina 2 0 - 42.000,00 - 51.000,00 1 - 28.000,00 - 17.000,00 2 - 28.000,00 - 17.000,00 3 - 28.000,00 - 17.000,00 4 - 28.000,00 - 17.000,00 Passo 2, cálculo dos VPLs Os VPLs podem ser calculados como segue: VPL(máquina 1) = −42.000 − ଶ଼. ଵା −⋯− ଶ଼.(ଵା)ర = −42.000 − 28.000 ቀ(ଵା,ଵ)రିଵ୧(ଵା,ଵ)ర ቁ = −ܴ$ 130.756,23 VPL(máquina 2) = −51.000 − ଵ. ଵା −⋯− ଵ.(ଵା)ర = −51.000 − 17.000 ቀ(ଵା,ଵ)రିଵ୧(ଵା,ଵ)రቁ = −ܴ$ 104.887,71 Passo 3, decisão A máquina que apresenta o menor custo (maior VPL) é a 2, esta é a máquina que deve ser adquirida. 4 (Engenharia Econômica, prof. Hildo Meirelles, UFSCAR, lista 3, ex.2) A perda de calor através das paredes de um sistema de aquecimento significa um custo anual de $ 800 mil. Um sistema de isolamento que reduzirá esta perda em 33% pode ser instalado por $ 500 mil. Também está disponível outro sistema que reduziria a perda em 15% e pode ser instalado por $ 300 mil. Determine se algum sistema de isolamento deve ser usado. Considere que o sistema será usado por 8 anos, e que a TMAR seja 5% aa. Nota: por TMAR se entende a “taxa mínima atrativa de retorno” (ou “taxa de retorno atrativa mínima”), i.e., trata-se da taxa composta mínima de retorno que é aceita pelo investidor. É o que os exercícios deste curso se referem como taxa de juros. R: A redução da perda de calor corresponde ao benefício proporcionado pelos sistemas. Há duas maneiras de incorporar este benefício na análise de VPL, sendo que as duas conduzem à mesma decisão. A primeira consiste em considerar que a perda anual evitada por cada sistema é tal como uma receita anual, pois se trata de um prejuízo evitado e, portanto, representa uma economia de dinheiro, um fluxo positivo. Esta abordagem será denominada “benefício anual”. A segunda maneira consiste em incorporar a perda enfrentada em cada sistema como uma despesa anual e será referida como “abordagem do custo anual”. 22 Passo 0, tabela de dados Tabela 1, abordagem do “benefício anual” Sistema 1 Sistema 2 Taxa de juro a.a [comum] 0,05 0,05 Custo inicial 500.000,00 300.000,00 Custo operacional anual 0 0 Benefício anual 266.666,67 120.000,00 Valor residual 0 0 Vida útil (anos) 8 8 Tabela 2, abordagem da “despesa anual” Sistema 1 Sistema 2 Taxa de juro a.a [comum] 0,05 0,05 Custo inicial 500.000,00 300.000,00 Custo operacional anual 533.333,33 680.000,00 Receita anual 0 0 Valor residual 0 0 Vida útil (anos) 8 8 Passo 1, fluxos de caixa líquidos Tabela 3, abordagem do “benefício anual” Ano Sistema 1 Sistema 2 0 - 500.000,00 - 300.000,00 1 266.666,67 120.000,00 2 266.666,67 120.000,00 3 266.666,67 120.000,00 4 266.666,67 120.000,00 5 266.666,67 120.000,00 6 266.666,67 120.000,00 7 266.666,67 120.000,00 8 266.666,67 120.000,00 23 Tabela 4, abordagem do “custo anual” Ano Máquina 1 Máquina 2 0 - 500.000,00 - 300.000,00 1 - 533.333,33 - 680.000,00 2 - 533.333,33 - 680.000,00 3 - 533.333,33 - 680.000,00 4 - 533.333,33 - 680.000,00 5 - 533.333,33 - 680.000,00 6 - 533.333,33 - 680.000,00 7 - 533.333,33 - 680.000,00 8 - 533.333,33 - 680.000,00 Passo 2, cálculo dos VPLs (a) Abordagem do benefício anual VPL(sistema 1) = −500.000 + ଶ., ଵା + ⋯+ ଶ.,(ଵା)ఴ = −500.000− 266.666,67 ቀ(ଵା,,ହ)ఴିଵ୧(ଵା,ହ)ఴ ቁ = ܴ$ 1.223.523,40. VPL(sistema 2) = −300.000 + ଵଶ. ଵା + ⋯+ ଵଶ.(ଵା)ఴ = −300.000 + 120.000 ቀ(ଵା,ହ)ఴିଵ୧(ଵା,ହ)ఴ ቁ = ܴ$ 475.585,53. (b) Abordagem do custo anual VPL(sistema 1) = −500.000− ହଷଷ.ଷଷଷ,ଷଷ ଵା −⋯− ହଷଷ.ଷଷଷ,ଷଷ(ଵା)ఴ = −500.000− 533.333,33 ቀ(ଵା,,ହ)ఴିଵ୧(ଵା,ହ)ఴ ቁ = −ܴ$ 3.947.046,81. VPL(sistema 2) = −300.000− ଼. ଵା −⋯− ଼.(ଵା)ఴ = −300.000 + 680.000 ቀ(ଵା,ହ)ఴିଵ୧(ଵା,ହ)ఴ ቁ = −ܴ$ 4.694.984,68. Passo 3, decisão O sistema 1 deve ser escolhido pois apresenta o maior VPL sob as duas abordagens utilizadas para interpretar o problema. 24 3 Análise de projetos 2, critério do VPL para projetos com durações distintas 3.1 Teoria No tópico anterior, o critério do VPL foi aplicado como base para decidir entre projetos com horizontes ou durações de tempo equivalentes. Porém, o problema de comparar, por exemplo, o investimento em duas máquinas que realizam a mesma função produtiva, mas, porém, possuem vidas úteis distintas, também se coloca na prática. Esta sutileza requer a incorporação de um passo adicional ao procedimento de aplicação do critério do VPL. Trata-se de especificar um horizonte de tempo comum a todos os projetos avaliados. E então aplica-se o critério do VPL para as séries de fluxos monetários de cada projeto tomando-se como referência o horizonte comum. Para definir o horizonte de tempo comum, dois critérios são utilizados, como segue: 1. Mínimo múltiplo comum: o horizonte comum é definido como o mínimo múltiplo comum (MMC) das durações dos projetos. Por exemplo, assumamos que estão sendo comparados três projetos, com durações de dois, quatro e seis anos. O MMC das durações é de 12 anos e está é a duração comum segundo o presente critério; 2. Período de estudo: define-se o horizonte comum de acordo com uma referência de tempo que se mostra adequada para o investidor, desconsiderando a vida útil (duração) dos projetos. Geralmente o período de estudo é curto e não superior à duração do projeto com menor duração. O primeiro critério exige que os projetos com duração inferior ao horizonte comum tenham seus fluxos de caixa replicados no tempo um número de vezes necessário para preencher completamente o horizonte comum. O exemplo fornecido ao tratar do critério daria origem aos três fluxos de caixa no diagrama da próxima página. Nele, a escala de tempo comum aos projetos está acima dos três projetos com número em vermelho. Abaixo dela se tem os três projetos, replicados sequencialmente para preencher 12 períodos. Os fluxos de caixa líquidos originais dos projetos estão destacados por retângulos pontilhados. 25 Diagrama: projetos com duração de 2, 3 e 4 anos replicados em um horizonte de tempo comum definido pelo MMC das durações Escala comum 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Projeto 1 RL RL RL RL RL RL RL RL RL RL RL RL VPL? ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ 0 1 2 0 1 2 0 1 2 0 1 2 0 1 2 0 1 2 ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ P P P P P P Projeto 2 RL RL RL RL RL RL RL RL RL RL RL RL VPL? ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 ↓ ↓ ↓ ↓ P P P P Projeto 3 RL RL RL RL RL RL RL RL RL RL RL RL VPL? ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 ↓ ↓ P P 26 3.2 Exercícios 1 (Blank e Tarquin, 2011, ex. 5.24) Uma empresa do setor químico deve decidir entre três métodos de deposição de resíduos químicos não-perigosos. São eles: (1) aplicação na terra, (2) incineração em reatores de leito fluidizado e (3) deposição em uma área privada mediante pagamento do serviço. As estimativas de custo para cada método estão na tabela. Determine qual é o método de menor custo considerando para isso uma taxa de juro de 10%. Método 1 Método 2 Método 3 Taxa de juro a.a [comum] 0,10 0,10 0,10 Custo inicial 130.000,00 900.000,00 - Custo operacional anual 95.000,00 60.000,00 120.000,00 Receita anual Não se aplica Não se aplica Não se aplica Valor residual 25.000,00 300.000,00 - Vida útil (anos) 3 6 2 R: O passo zero não é necessário pois o enunciado provê a tabela de dados. Passo 1, definição do horizonte comum Optando-sepelo critério do MMC, o horizonte comum é de seis anos. Passo 2, elaboração dos fluxos de caixa líquidos ao longo do horizonte comum Os métodos 1 e 3 terão de ter seus fluxos de caixa replicados um número de vezes equivalente à divisão da duração comum pela duração de cada um. É recomendável a elaboração dos diagramas de fluxo de caixa para a comparação de projetos com durações distintas. 27 Há alguns detalhes que requerem cautela. 1. O custos inicial dos métodos 1 ocorre mais de uma vezes sempre ao final do período anterior àquele em que se inicia uma nova replicação. O custo inicial é pago não apenas em t = 0, mas também ao final do terceiro período ou, o que é equivalente, no início do quarto período. Neste último período, o custo inicial deve ser somado às despesas que ocorrem ao final do terceiro período; 2. Deve-se proceder analogamente para o caso dos valores residuais; 3. O valor residual do método 2 é superior à despesa operacional, e, portanto, no último período deste projeto deve ocorrer um fluxo líquido positivo; 4. Já, para o método 1, o valor residual é inferior à despesa operacional e, portanto, haverá um fluxo negativo no último período. Assim fazendo, acaba-se com os fluxos de caixa líquidos a seguir. Ano Método 1 Método 2 Método 3 0 - 130.000,00 - 900.000,00 0 1 - 95.000,00 - 60.000,00 - 120.000,00 2 - 95.000,00 - 60.000,00 - 120.000,00 3 - 200.000,00 - 60.000,00 - 120.000,00 4 - 95.000,00 - 60.000,00 - 120.000,00 5 - 95.000,00 - 60.000,00 - 120.000,00 6 - 70.000,00 240.000,00 - 120.000,00 Passo 3, cálculo dos VPLs VPL(método 1) = −130.000− ଽହ. ଵା −⋯− ଽହ.(ଵା)ల − ଵଷ.(ଵା)య + ଶହ.(ଵା)య + ଶହ.(ଵା)ల = −130.000 −95.000 ቀ(ଵା,ଵ)లିଵ ୧(ଵା,ଵ)ల ቁ+ ଶହ.(ଵା)య + ଶହ.(ଵା)ల = −ܴ$ 608.525,97. VPL(método 2) = −900.000− . ଵା −⋯− .(ଵା)ల + ଷ.(ଵା)ల = −900.000 − 60.000 ቀ(ଵା,ଵ)లିଵ୧(ଵା,ଵ)ల ቁ + ଷ.(ଵା)ల = −ܴ$ 991.973,46 VPL(método 3) = − 120.0001 + ݅ − ⋯− 120.000(1 + ݅) = −120.000ቆ(1 + 0,05) − 1i(1 + 0,05) ቇ = ܴ$ 522.631,28. 28 4 Análise de projetos 3, taxa interna de retorno 4.1 Teoria básica 4.1.1 Definição Um critério de escolha dentre projetos de investimento alternativos é o da taxa interna de retorno (TIR). Trata-se da taxa de juro que faz com que o valor presente da série de fluxos de receitas se iguale ao valor presente da série de fluxos de despesas. De maneira equivalente, a taxa interna de retorno é a taxa de juro que torna nulo o valor presente líquido do fluxo de caixa. Formalmente, a TIR é dada por i* tal que: ܸܲܮ(݅∗) = 0 ⟷ ܴܮ௧(1 + ݅∗)௧ே ୀଵ − ܲ = 0 Uma interpretação mais intuitiva da TIR é proposta por Newnan et al (2004, cap.7). Trata-se da taxa de retorno que torna o valor presente dos benefícios proporcionado pelo investimento igual ao valor presente dos custos. É claro que os benefícios correspondem às receitas, {ܴ௧}௧ୀଵ் e os custos às despesas, {ܦ௧}௧ୀ் , com D0 representando o investimento inicial (D0 = P). Deste modo: ܸ ܲí௦(݅∗) = ܴଵ(1 + ݅∗)ଵ + ܴଶ(1 + ݅∗)ଶ + ⋯+ ்ܴ(1 + ݅∗)் ܸ ܲ௨௦௧௦(݅∗) = ܦ + ܦଵ(1 + ݅∗)ଵ + ܦଶ(1 + ݅∗)ଶ + ⋯+ ܦ்(1 + ݅∗)் A TIR, de acordo com a interpretação de Newnan et al (2004), pode ser definida de uma maneira alternativa, mas equivalente à definição já apresentada. ܸ ܲí௦(݅∗) = ܸ ܲ௨௦௧௦(݅∗) ⟷ ܴ௧(1 + ݅∗)௧ே ୀଵ = ܦ௧(1 + ݅∗)௧ே ୀ Uma vez definida a TIR, cabe apresentar o critério de decisão de investimento nela embasado. Caso haja apenas um projeto de investimento sob consideração, este deve ser colocado em prática se sua TIR for igual ou superior à taxa de juro (ou taxa mínima de atrativa de retorno). A justificativa é simples. Uma vez que a TIR é a taxa efetivamente paga pelo projeto de investimento, sempre que esta taxa for igual ou superior à taxa pela qual se pode aplicar financeiramente o capital, pode-se afirmar que o projeto tem maior rentabilidade. Caso haja mais de um projeto sob consideração, não se deve utilizar a TIR para decidir, pois ela pode levar a um ranqueamento equivocado das alternativas. Neste caso, a análise de VPL se mostra mais adequada. 29 4.1.2 Dificuldades práticas na aplicação do critério da TIR e a TIR modificada (TIRM) Apesar de ser logicamente consistente e intuitiva a definição de TIR, ela impõe algumas dificuldades operacionais. Tais dificuldades decorrem da impossibilidade de utilizar a fórmula que define a TIR para calcula-la. É impossível isolar i* na primeira definição apresentada na seção anterior. A razão disso está em que i* é a raiz de um polinômio cuja ordem é equivalente à duração total do projeto, T. Para compreender, pode-se considerar a maneira mais geral de definir a TIR, como segue. ݅∗: ܴܮଵ(1 + ݅∗)ଵ + ܴܮଶ(1 + ݅∗)ଶ + ⋯+ ܴܮ்(1 + ݅∗)் − ܲ = 0 ⟷ ݅∗:ܴܮଵ ൬ 11 + ݅∗൰ଵ + ܴܮଶ ൬ 11 + ݅∗൰ଶ + ⋯+ ܴܮ் ൬ 11 + ݅∗൰் − ܲ = 0 ⟷ ݅∗:ܴܮଵݍଵ + ܴܮଶݍଶ + ⋯+ ܴܮ்ݍ் − ܲ = 0,ݍ = ൬ 11 + ݅∗൰ Fica claro, pois, que a TIR é a raiz de um polinômio de grau T. Disso decorrem duas dificuldades operacionais. A primeira está em que, para T > 3, este geralmente o caso, não há uma fórmula sintética que permita obter i*, sendo necessário recorrer a métodos numéricos, i.e., a algoritmos computacionais que permitam calcular o valor aproximado de i*. Um dos métodos mais eficientes (rápido) é o método de Newton-Raphson (vide Bueno et al., 2011, seção 6.2.4). A segunda dificuldade operacional se desdobra em três. Não há, a priori, razões pelas quais exista apenas um valor para a TIR e nem mesmo é possível eliminar as possibilidades de que a TIR seja negativa ou seja um número complexo (i.e., seja um número não-real). De fato, o número de valores para a TIR é equivalente ao número de vezes em que o sinal do fluxo de caixa líquido muda ao longo da duração do projeto. Este princípio foi pioneiramente demonstrado por Descartes e é referido como “regra dos sinais” (Blank e Tarquin, 2005, p.181)1. É possível redefinir a TIR de modo a evitar todas as espécies de resultados indesejáveis. Para isso, é preciso repensar a maneira como o fluxo de caixa de um projeto de investimento é retratado pela TIR. Seja considerado o fluxo de caixa genérico a seguir, em que há uma série de receitas de valor R e uma série de despesas de valor D. 1 Se, pois, há apenas uma mudança de sinal, então há apenas uma raiz e a segunda dificuldade operacional é parcialmente eliminada. Parcialmente pois não necessariamente a raiz será real e positiva. 30 É rigoroso com o princípio de custo de oportunidade do dinheiro assumir que as receitas, assim que recebidas pelo investidor, são aplicadas à taxa de juro de mercado. Com isso seria possível gerar, em t = T, um montante total equivalente ao valor futuro das receitas, VF(R,i,T), em que i é a taxa de juro de mercado2. O mesmo raciocínio não pode ser feito quanto às despesas, pois estas são efluxos monetários, i.e., desembolsos que o investidor deve honrar e não influxos ou recebimentos como as receitas. Uma vez que o investidor não recebe a série de valores D, não há sentido em assumir que ele possa aplicar D. Neste caso, a coerência com o princípio de custo de oportunidade do dinheiro se expressa em assumir que o investidor pode aplicar o capital possuído em t = 0 de maneira a gerar uma série de fluxos compatível com as obrigações de pagamento que enfrenta em cada um dos períodos de t = 1,..., t = T. Trata-se, pois, de calcular o valor presente do fluxo de despesas. Mas há mais uma diferença em relação à série de receitas. Assume-se que a taxa utilizada para calcular o valor presenteda série de despesas é diferente daquela utilizada para calcular o valor futuro da série de receitas. A primeira, pois, não é a taxa de mercado, mas sim a taxa à qual é possível tomar crédito, ic. Uma vez calculados o VF da série de receitas e o VP da série de despesas, pode-se calcular a taxa de retorno gerada ao longo de toda a duração do projeto, a qual é equivalente a VF/VP – 1. Trata-se da taxa de retorno referente a toda a duração do projeto. Porém, é mais comum que se tenha interesse em conhecer a taxa equivalente com capitalização periódica. Basta, portanto, calcular TIRM = [(VF/VP – 1)+1]1/T – 1 ou, de maneira mais sintética, TIRM = (VF/VP)1/T – 1, em que “TIRM” representa a TIR modificada. Para o fluxo de caixa genérico anterior, composto por séries uniformes de receita e de despesa, a TIRM pode ser calculada como: ݅∗ᇱ:ܶܫܴܯ = ቆ ܸܨ(ܴ, ݅, ܶ) ܸܲ(ܦ, ݅, ܶ)ቇଵ/் − 1 ⟷ 2 Este raciocínio assume que os recursos gerados pelo projeto não são utilizados em outros projetos paralelamente em execução, algo que não necessariamente é correto para alguns casos práticos (p.ex., o de uma empresa que desenvolve múltiplos projetos produtivos). Mas, de qualquer maneira, trata-se apenas de um raciocínio abstrato que procura estabelecer um critério para o cálculo da rentabilidade de um projeto de investimento. R R R R R ↑ ↑ ↑ ↑ ↑ ... 0 1 2 3 4 T ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ D D D D D D 31 ݅∗ᇱ:ܶܫܴܯ = ൦ ܴ (1 + ݅)் − 1݅ ܦ + ܦ (1 + ݅)் − 1݅(1 + ݅)் ൪ ଵ/் − 1 Há uma maneira de definir a TIRM que se aplica a um maior número de possibilidades de fluxos de caixa. Tal maneira toma por base (i) o valor presente de fluxos negativos {ܨ௧ି}௧ୀ் , calculado a partir de ic, e (ii) o valor futuro de fluxos positivos, {ܨ௧ା}௧ୀଵ் , calculado a partir da taxa de mercado, i. I.e.: ݅∗ᇱ:ܶܫܴܯ = ቆ ܸܨ(ܨ௧ା, ݅,ܶ) ܸܲ(ܨ௧ି, ݅ ,ܶ)ቇଵ/் − 1 ⟷ ݅∗ᇱ:ܶܫܴܯ = ൮∑ ܨ௧ା(1 + ݅)்ି௧்௧ୀଵ ∑ ܨ௧ ି(1 + ݅)௧்௧ୀ ൲ ଵ/் − 1 Esta definição, pois, se aplica a qualquer fluxo de caixa líquido. Em alguns livros-texto a TIRM é definida de maneira alternativa, a qual corresponde a uma manipulação algébrica das definições aqui apresentadas, como segue. ݅∗ᇱ:ܶܫܴܯ = ቆ ܸܨ(ܨ௧ା, ݅,ܶ) ܸܲ(ܨ௧ି, ݅ ,ܶ)ቇଵ/் − 1 ⟷ (ܶܫܴܯ + 1)் = ܸܨ(ܨ௧ା , ݅,ܶ)ܸܲ(ܨ௧ି, ݅ , ܶ) ⟷ ܸܲ(ܨ௧ି, ݅ ,ܶ)(ܶܫܴܯ + 1)் = ܸܨ(ܨ௧ା, ݅,ܶ) Esta última fórmula é mais comum nos livros-texto. Deve-se afirmar que a TIRM pode ser calculada mesmo que ic = i, i.e., a hipótese de que a taxa a qual o investidor toma recursos difere da taxa de mercado não é condição necessária para que a TIRM esteja definida (seja calculável). Porém, é uma convenção adotada nos livros-texto a de que ambas as taxas difiram e, mais do que isso, que a taxa pela qual se toma recursos seja inferior à taxa de retorno de aplicações financeiras, ic < i. Esta última convenção pode ser compreendida de maneira mais fácil considerando um investidor específico, um banco, cuja atividade consiste em emprestar recursos. Neste caso, ic representa a taxa paga pelo banco para obter recursos de seus clientes, por exemplo, o rendimento da caderneta de poupança, enquanto i é a taxa a qual o banco repassa tais recursos para tomadores. Então i – ic seria o spread bancário. É esclarecedor recordar do exercício 4 da nota 5 em que foi calculada exatamente a TIRM do empréstimo realizado pelo banco. O essencial é que a TIRM é exatamente a taxa de retorno periódica gerada pelo projeto de investimento. Enquanto a TIR é a taxa de retorno que torna o VPL nulo. Duas definições fundamentalmente distintas. De fato, a TIRM está apoiada em um critério 32 mais intuitivo e me parece que é exatamente por isso que ela está livre de dificuldades operacionais. O critério de decisão acerca de um único projeto com base na TIRM é equivalente ao que prevalece para a TIR ordinária. Um projeto com TIRM superior à taxa de mercado, i, deve ser realizado. Assim como para o caso da TIR, deve-se evitar o uso da TIRM para decidir acerca de dois ou mais projetos. 4.2 Exercícios 1 (Blank e Tarquin, 7.41) A companhia Swagelok de Solon, Ohio (EUA), produz fluxómetros de área variável para medir fluxos líquidos e gasosos. Se os custos de ferramental e início da produção foram de $400.000,00 em t = 0 e de $190.000,00 em t = 3, determine a taxa externa de retorno utilizando a TIRM. Considere que uma receita de 160.000,00 por ano de t=1 a t = 10, uma TMAR de 20% a.a. e uma taxa de tomada de recursos de 9% a.a. R: A tabela com o fluxo de caixa segue abaixo. Ano Fluxo 0 - 400.000,00 1 160.000,00 2 160.000,00 3 - 30.000,00 4 160.000,00 5 160.000,00 6 160.000,00 7 160.000,00 8 160.000,00 9 160.000,00 10 160.000,00 Passo 1, cálculo do VP das despesas ܸܲ(ܦ) = 400.000 + 190.000(1 + 0,09)ଷ = ܴ$ 546.714,86 Passo 2, cálculo do VF das receitas ܸܨ(ܴ) = 160.000(1 + 0,2)ଵି௧ଵ ௧ୀଵ = 160.000 (1 + 0,2)ଶ − 10,2 = 4.153.389,14 Passo 3, cálculo da TIRM 33 TIRM = (VF/VP)1/T – 1 = (4.153.389,14 /546.714,86)1/10 – 1 = 0,22479717. Passo 4, decisão Como a TIRM se mostra superior a TMAR, o investimento deve ser realizado. 2 (Newnan et al, 2004, 7A-2) A group of businessmen formed a partnership to buy and race an Indianapolis-type racing car. They agreed to pay an individual $50,000 for the car and associated equipment. The payment was to be in a lump sum at the end of the year. In what must have been "beginner's luck," the group won a major race the first week and $80,000. The rest of the first year, however, was not as good: at the end of the first year, the group had to payout $35,000 for expenses plus the $50,000 for the car and equipment. The second year was a poor one: the group had to pay $70,000 just to clear up the racing debts at the end of the year. During the third and fourth years, racing income just equaled costs. When the group was approached by a prospective buyer for the car, they readily accepted $80,000 cash, which was paid at the end of the fourth year. What rate of return did the businessmen obtain from their racing venture? (Answer: 9.6% MIRR).
Compartilhar