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Da possibilidade de afastamento da súmula 377 do STF por pacto antenupcial Família e Sucessões

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23/09/2016 Da possibilidade de afastamento da súmula 377 do STF por pacto antenupcial ­ Família e Sucessões
http://www.migalhas.com.br/FamiliaeSucessoes/104,MI239721,61044­Da+possibilidade+de+afastamento+da+sumula+377+do+STF+por+pacto 1/3
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Sexta­feira, 23 de setembro de 2016
CADASTRE­SE   FALE CONOSCO
ISSN 1983­392X
quentes Moro revoga prisão de Guido Mantega
Família e Sucessões
por Flávio Tartuce
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Da possibilidade de afastamento da súmula 377 do
STF por pacto antenupcial
quarta­feira, 25 de maio de 2016
Em  artigo  recentemente  publicado  no  Jornal O Liberal,  de  Belém  do  Pará,  e  replicado  em  várias
páginas  da  internet,  o  professor  Zeno  Veloso  trouxe  a  debate  um  tema  instigante,  qual  seja  a
possibilidade  de  afastamento  da  incidência  da  súmula  377  do STF  por meio  de  pacto  antenupcial
celebrado  por  cônjuges  que  sofrem  a  imposição  do  regime  da  separação  legal  ou  obrigatória  de
bens, na hipótese descrita pelo art. 1.641, inciso II, do Código Civil.
O  jurista  assim  relata  o  caso,  com  sua  peculiar  leveza  de  pena,sempre  disposta  a  resolver  os
numerosos conflitos que lhe são levados a consulta em sua atividade profissional e acadêmica:
"Há cerca de um ano João Carlos e Matilde estão namorando. Ele é divorciado, ela é viúva. João
fez 71 anos de idade e Matilde tem 60 anos. Resolveram casar­se e procuraram um cartório de
registro  civil  para  promover  o  processo  de  habilitação.  Queriam  que  o  regime  de  bens  do
casamento fosse o da separação convencional, pelo qual cada cônjuge é proprietário dos bens
que estão no seu nome, tantos dos que já tenha adquirido antes, como dos que vier a adquirir, a
qualquer  título, na constância da sociedade conjugal, não havendo, assim sendo, comunicação
de bens com o outro cônjuge. Mas o  funcionário do cartório explicou que, dado o  fato de João
Carlos ter mais de 70 anos, o regime do casamento tinha de ser o obrigatório, da separação de
bens, conforme o art. 1.641, inciso II, do Código Civil. (...). Mas João Carlos é investidor, atua no
mercado  imobiliário,  adquire  bens  imóveis,  frequentemente,  para  revendê­los.  E  Matilde  é
corretora,  de  vez  em  quando  compra  um  bem  com  a  mesma  finalidade.  Seria  um  desastre
econômico,  para  ambos,  que  os  bens  que  fossem  adquiridos  por  cada  um  depois  de  seu
casamento  se  comunicassem,  isto  é,  fossem  de  ambos  os  cônjuges,  por  força  da  súmula
377/STF.  No  final  das  contas,  o  regime  da  separação  obrigatória,  temperado  pela  referida
súmula,  funciona, na prática, como o regime da comunhão parcial de bens. Foi, então, que me
procuraram, pedindo meu parecer" (VELOSO, Zeno. Casal quer afastar a súmula 377).
Após tal exposição, o mestre do Pará expõe sua opinião, sustentando que é possível o afastamento
da aplicação da sumular, por não ser o seu conteúdo de ordem pública, mas sim de matéria afeita à
disponibilidade  de  direitos.  E  lança  uma  questão  de  consulta,  que  o  presente  texto  pretende
responder:  "Mas  há  um  grupo  de  jovens  e  competentes  professores  brasileiros,  que  integram  a
Confraria de Civilistas Contemporâneos,  formada por mais de 30 mestres  (Tartuce, Mário Delgado,
Simão, Toscano, Catalan, Pablo Malheiros, Stolze, para citar alguns), a quem peço um parecer sobre
o  tema  acima  exposto.  Afinal,  podem  ou  não  os  nubentes,  atingidos  pelo  art.  1.641,  inciso  II,  do
Código Civil, afastar, por escritura pública, a incidência da Súmula 377?".
Como um dos fundadores da citada Confraria — um grupo informal que pretende realizar encontros
sociais e  jurídicos de seus membros e convidados, especialmente para a congregação de vínculos
de  amizade  e  de  afeto —,  pretendo  trazer  aqui  a  nossa  resposta,  após  ter  consultado  os  amigos
civilistas em nossa comunidade digital.
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23/09/2016 Da possibilidade de afastamento da súmula 377 do STF por pacto antenupcial ­ Família e Sucessões
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correspondentes catálogo de escritórios livraria
Flávio  Tartuce  é  doutor  em  Direito  Civil  pela  USP.  Professor  do  programa  de
mestrado e doutorado da FADISP ­ Faculdade Especializada em Direito. Professor
dos  cursos  de  graduação e  pós­graduação em Direito Privado da  lato sensu da
EPD  ­  Escola  Paulista  de Direito,  sendo  coordenador  dos  últimos.  Professor  da
Rede LFG. Diretor nacional e estadual do IBDFAM ­ Instituto Brasileiro de Direito
de Família. Advogado e consultor jurídico em São Paulo.
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Estamos  total  e  unanimemente  filiados  à  opinião  de Zeno Veloso,  levando­se  em  conta  a opinium
daqueles que se manifestaram no nosso grupo. De início, sem dúvida, a Súmula 377 do STF — do
remoto  ano  de  1964  —,  traz  como  conteúdo  matéria  de  ordem  privada,  totalmente  disponível  e
afastada por convenção das partes, não só no casamento, como na união estável. Vale lembrar que,
pelo  teor da sua ementa,  "no  regime de separação  legal de bens,  comunicam­se os adquiridos na
constância do casamento". Pontue­se que, após muito debate na doutrina e na jurisprudência, tem­
se aplicado a súmula  integralmente, sem a necessidade de prova do esforço comum dos cônjuges
para que haja a comunicação de bens, como destaca o próprio professor em seu texto.
Em  outras  palavras,  a  jurisprudência  do  Superior  Tribunal  de  Justiça,  a  quem  cabe  dar  a  última
palavra  a  respeito  do  Direito  Privado  desde  a  Constituição  Federal  de  1988,  praticamente
transformou o regime da separação legal ou obrigatória de bens em um regime de comunhão parcial.
Assim  concluindo,  por  todos,  entre  os  últimos  julgamentos:  "no  regime  da  separação  obrigatória,
comunicam­se os bens adquiridos onerosamente na constância do casamento,  sendo presumido o
esforço  comum  (Súmula  n.  377/STF)"  (STJ,  AgRg  no  AREsp  650.390/SP,  Rel.  ministro  JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/10/2015, DJe 03/11/2015).
Além  da  clareza  do  argumento,  no  sentido  de  se  tratar  de matéria  de  ordem  privada  e,  portanto,
disponível, acrescente­se, como pontuou Mário Luiz Delgado em nossos debates, que  "é  lícito aos
nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que  lhes aprouver"
(art.  1.639,  caput,  do  Código  Civil).  A  única  restrição  de  relevo  a  essa  regra  diz  respeito  às
disposições  absolutas  de  lei,  consideradas  regras  cogentes,  conforme  consta  do  art.  1.655  da
mesma  codificação,  o  que  conduziria  à  nulidade  absoluta  da  previsão.  A  título  de  exemplo,  se  há
cláusula no pacto que afaste a incidência do regime da separação obrigatória, essa será nula, pois o
art.  1.641  do Código Privado  é  norma de  ordem pública,  indisponível,  indeclinável  pela  autonomia
privada.
Todavia, não há qualquer problema em se afastar a súmula 377 pela vontade das partes, o que, na
verdade,  ampliaria  os  efeitos  do  regime  da  separação  obrigatória,  passando  esse  a  ser  uma
verdadeira separação absoluta, em que nada se comunica. Tal aspecto  foi muito bem desenvolvido
por José Fernando Simão também nos debates que travamos.
Em  suma,  mestre  Zeno  Veloso,  sim,  podem  os  nubentes,  atingidospelo  art.  1.641,  inciso  II,  do
Código  Civil,  afastar,  por  escritura  pública,  a  incidência  da  súmula  377.  Acreditamos  que  tal
afastamento  constitui  um correto  exercício  da autonomia privada,  admitido  pelo  nosso Direito,  que
conduz a um eficaz mecanismo de planejamento familiar, perfeitamente exercitável por força de ato
público, no caso de um pacto antenupcial (art. 1.653 do CC/2002).
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