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Aula01 v5 DI

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Prévia do material em texto

1 
 
CURSO: Tecnólogo em Segurança Pública 
DISCIPLINA: Análise de Políticas Púbicas 
CONTEUDISTA: Marcial A. Garcia Suarez 
Desenhista Instrucional: Fernanda Felix 
 
 
AULA 1 – Poder, Política e Violência: Uma aproximação aos 
conceitos 
 
META 
Apresentar a relação entre os conceitos de Política, Poder e Violência. 
 
 
OBJETIVOS 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 
1. Relacionar política, poder político e violência, com base em Maquiavel e Hobbes. 
2. Relacionar poder e dominação a partir da teoria weberiana. 
3. Relacionar poder e violência, tomando como referência os estudos de Hannah 
Arendt. 
4. Estabelecer uma visão crítica sobre a relação entre Política, Poder político e 
Violência. 
 
 
PRÉ-REQUISITOS: 
Para se ter um bom aproveitamento desta aula, é importante que você relembre suas 
leituras realizadas sobre teoria política. Para complementar, consulte o Dicionário de 
Política de Norberto Bobbio, sempre que necessário. 
 
2 
 
INTRODUÇÃO 
A Política e o Poder: uma tensa relação 
 
Nessa primeira aula, nosso objetivo é estabelecer os parâmetros de leitura em 
Políticas Públicas e, para isso, manteremos nosso foco em dois conceitos 
fundamentais, inicialmente: Política e Poder. Esses dois conceitos estão na base da 
ciência política. 
 
A tarefa de definir Política, bem como o que é Poder está, ao longo do 
pensamento ocidental, entrelaçada ao próprio Processo Civilizatório e, em 
assim sendo, não há como não tratarmos desses conceitos. 
 
Nessa aula, você fará uma aproximação a esses conceitos e, para tanto, realizaremos 
alguns passeios pela história do pensamento político. 
 
1. A conceituação de Política e Poder 
 
Afinal de contas, o que é Política e o que é Poder? 
 
A política é a atividade humana mais fundamental. Todas as ações humanas se 
revestem de um caráter político. Para cada período histórico nós encontraremos uma 
determinada definição do que é Política e do que é Poder. 
 
 
 
Figura 1.1 – Toda ação humana se reveste de um caráter político, inclusive a imagem acima. 
3 
 
Você consegue identificar? As cadeiras de rodas dão a pista de como poderia ser interpretada 
pelo viés político. 
 
Autor da imagem: Jimee, Jackie, Tom & Asha 
Link da imagem: https://www.flickr.com/photos/wilderdom/65444685/ 
 
 
Quando pensamos na Grécia Antiga e nos recordamos das cidades-estado 
atenienses, principalmente Atenas, rapidamente, lembramos da democracia ateniense. 
 
Há mais de 2.400 anos atrás já havia a difícil equação entre Política e Poder e, por 
isso, é importante entender alguns significados dessa palavra. 
 
<Início do verbete> 
Politica 
Com esse nome foram designadas 
várias coisas, mais precisamente: 
1º) a doutrina do direito e da 
moral; 
2º) a teoria do Estado; 
3º) a arte ou a ciência do 
governo; 
4º) o estudo dos 
comportamentos 
intersubjetivos. 
 
Fonte: Abbagnano, Nicola. Dicionário 
de Filosofia. Martins Fontes. São 
Paulo, 2000. 
<Fim do verbete> 
Outro conceito controverso na teoria política é o de Poder. E, em nosso caso, estamos 
nos referindo ao poder político ou a relação entre poder e política. Quando, ao longo 
destes mais de 2.000 anos de civilização ocidental, unimos as palavras Política e 
Poder encontramos a condição mais complexa que existe na vida humana. Se a 
política é fruto da participação dos sujeitos nas decisões, estes devem ter a 
capacidade (poder) de participar delas. 
 
Por outro lado, quando um grupo deseja impor sua vontade sobre outro necessita ter 
as condições e capacidades para impor sua vontade (poder). Ao longo da história 
humana, o Poder se manifesta de distintas formas na vida política e pode ser 
compreendido como resultante da relação entre sujeitos individuais, entre sujeitos e o 
Estado ou entre Estados. 
4 
 
 
<Início do verbete> 
Poder 
Em seu significado mais geral, a 
palavra Poder designa a capacidade 
ou a possibilidade de agir, de produzir 
efeitos. 
Tanto pode ser referida a indivíduos e 
a grupos humanos como a objetos ou 
a fenômenos naturais (como na 
expressão Poder calorífico, Poder de 
absorção). 
Fonte: BOBBIO, Norberto; 
MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, 
Gianfranco. Dicionário de Política. 
Tradução Carmen C. Varriale... [et 
al.]; coordenação da tradução João 
Ferreira, revisão geral João Ferreira e 
Luis Guerreiro Pinto Cascais. 6 Ed. 
Brasília, DF: Editora Universidade de 
Brasília, 2003. 
 
<Fim do verbete> 
 
 
<Inicio do verbete > 
Civilizatório / Civilização 
 
No uso comum, esse termo designa 
as formas mais elevadas da vida de 
um povo, isto é, religião, a arte, a 
ciência, etc. consideradas como 
indicadores do grau de formação 
humana ou espiritual alcançada por 
um povo. 
 
Fonte: Abbagnano, Nicola. Dicionário 
de Filosofia. Martins Fontes. São 
Paulo, 2000. 
 
5 
 
<Fim do verbete> 
 
Para começar, é importante deixar claro que não devemos relacionar essas palavras 
com as do idioma inglês, “politics” e “policy”. 
 
A palavra politcs refere-se à atividade humana voltada à aquisição e à conservação de 
recursos indispensáveis ao exercício de poder sobre outros indivíduos. 
 
Uma segunda abordagem traz o sentido de “policy”, que se relaciona a orientações 
dirigidas à decisão e, conseqüentemente, à ação propriamente dita: uma diretriz 
voltada à solução de um problema prático, com benefícios a parte ou a totalidade de 
um grupo. Diz respeito à cidade, àquilo que é urbano, público e social, entre outros. No 
decorrer dos tempos, o significado tem sido substituído por expressões como: ciência 
do Estado, doutrina do Estado, ciência política, filosofia política ou conjunto de 
atividades ligadas à polis, consequentemente, ao Estado. 
 
Em suma, seria uma tentativa de formulação de regras e princípios orientadores de 
ações, com a finalidade de atingir determinado resultado, podendo ser utilizada com 
vistas ao teste de mudanças substantivas nos diversos campos: político, econômico, 
social e militar, entre outros. 
Em uma perspectiva ampla, a política, pode ser entendida como a ciência ou arte de 
governar o Estado. Como atores no panorama político, aqueles que governam 
expedem ordens que requerem submissão e obediência por parte da sociedade. 
 
 
 
 
Figura 1.2 – Congresso Nacional em Brasília – DF. O Congresso é palco de ações políticas 
relativas às atribuições legislativas, de fiscalização e controle. Em um contexto amplo, 
podemos entender a política como a ciência ou arte de governar o Estado. 
 
Autor da imagem: Dal Nunes 
Link da imagem: https://www.flickr.com/photos/dalnunes/3631372244/ 
 
6 
 
Quando voltadas para o ambiente interno de um país, são consideradas políticas 
internas ou domésticas, enquanto ao afetarem um protagonista estrangeiro, passam a 
ser tidas como externas. Cabe ressaltar que em Estados democráticos, a política 
deve, ou pelo menos deveria, ser regida pelos cidadãos por intermédio de eleições e 
pela participação popular nos projetos nacionais, visando à prosperidade de sua 
nação. 
 
Pretendemos, como primeiro passo de nossa análise em torno da temática das 
Políticas Públicas, discutir como o conceito de Poder é tratado no campo da teoria 
política e de que forma ele é definido, qual seu fundamento e quais suas premissas. 
 
Evidentemente, não pretendemos aqui afirmar uma visão única do fenômeno, mas 
indicar uma das possíveis vias de interpretação que você poderá ter para a 
compreensão do fenômeno político. 
2. O Poder comoDesígnio 
 
Aqui começamos nossa caminhada no mundo da ciência política. 
 
Abordaremos autores do século XVII, passando pelo século XVIII e alcançaremos o 
século XX para que possamos, ao final dessa aula, discutir, com a maior propriedade 
possível, os temas relacionados às políticas públicas. 
 
Como a extensão do campo do pensamento humano é insondável, bem como o 
conjunto dos conceitos produzidos por ele, nos cabe, como primeira tarefa, delimitar o 
espectro de nossa abordagem. Vamos lá? 
 
 
A importância da leitura desses autores se dá pela razão de que, quando começarmos 
o nosso caminho pela teoria das políticas públicas, abordaremos dois atores 
fundamentais: Sujeito e Estado. Estes dois atores emergem ou são construídos pelo 
processo civilizatório ocidental ao longo dos séculos que veremos a seguir e pelos 
autores que estão entre os expoentes desses períodos. 
 
Vamos começar nossa jornada com Maquiavel. 
 
2.1 O Poder na visão de Maquiavel 
 
Nicolau Maquiavel, pensador do século XV, surge no horizonte do pensamento 
político Italiano, no qual; “O manifesto elaborado pelo autor para a nova ciência refletia 
a crença de que, para poder analisar de modo coerente os fenômenos políticos, era 
7 
 
necessário libertá-los das ilusões que os envolviam, entrelaçadas pelas ideias políticas 
do passado” (Wolin, 1960/1974: 213, tradução do autor) 
 
<Inicio do verbete:> 
Maquiavel (1469 – 1527) 
Nicolau Maquiavel (em italiano: 
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli; 
Florença, 3 de maio de 1469 — 
Florença, 21 de junho de 1527) foi um 
historiador, poeta, diplomata e músico 
italiano do Renascimento. 
 
Link da imagem: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Ma
quiavel 
<Fim de verbete> 
O pensador florentino distancia-se da tradição do pensamento político vinculado de 
forma mais proeminente à tradição religiosa, a partir do momento em que afirma, que 
os Estados que se encontram sob a égide do poder papal não merecem a atenção do 
pensamento político e já que retiram sua força da idéia de uma divindade superior, não 
correm riscos de dissolução, ou; “Em suas mordazes palavras, tais regimes mantém 
seus príncipes, qualquer que seja seu modo de atuar ou viver” (Ibid, 1960/1974: 214, 
tradução do autor). 
 
O pensamento de Maquiavel volta-se sempre na direção daquilo que é imperativo para 
a manutenção do Poder e, nesses termos, exclui todo elemento que não seja 
necessário à conquista e a manutenção do poder. O elemento central em todo o 
estudo de Maquiavel - particularmente em sua obra O Príncipe (1513) - é o elemento 
individual que surge no horizonte das possibilidades e delas extrai todas as vantagens 
possíveis, apoiados tanto na virtude como na fortuna. 
 
 
<Início do verbete> 
 Virtude 
8 
 
Este termo designa uma capacidade 
qualquer ou excelência, seja qual for 
a coisa ou o ser a que pertença. Seus 
significados específicos podem ser 
reduzidos a três: 
a) capacidade ou potência em geral; 
b) capacidade ou potência do 
homem; 
c) capacidade ou potência moral do 
homem. 
 
Fonte: Abbagnano, Nicola. Dicionário 
de Filosofia. Martins Fontes. São 
Paulo, 2000. 
 
<Fim do verbete> 
 
 
<Inicio do verbete> 
Fortuna 
Segundo Aristóteles, fortuna 
distingue-se do acaso, porque se 
verifica no domínio das ações 
humanas e por isso não podem ter 
fortuna ou falta de fortuna os seres 
que não podem agir livremente. 
 
Fonte:Fonte: Abbagnano, Nicola. 
Dicionário de Filosofia. Martins 
Fontes. São Paulo, 2000. 
<Fim do verbete> 
 
Em Maquiavel, Virtude se define como a capacidade do “príncipe” em desempenhar 
de acordo com sua “fortuna” as ações necessárias para conquistar e ou manter o 
poder. O Poder, em Maquiavel, será compreendido como o exercício da força no 
sentido de que esta sirva aos interesses políticos do príncipe maquiaveliano. A fortuna 
pode ser compreendida como a ”sorte” do príncipe em agir da forma mais adequada 
9 
 
para manter ou conquistar o Poder, mas a fortuna só tem sentido se ela estiver unida a 
virtude, pois essas características sozinhas não têm relevância para Maquiavel. 
 
 
A conquista do poder dá-se pelo êxito na campanha e no exercício preciso de suas 
capacidades de poder; “Este novo homem é o exemplo de uma época de incansável 
ambição, de rápida transformação das instituições e velozes mudanças entre os 
grupos de elite” (Ibid, 1960/1974: 216, tradução do autor). 
 
O exercício racional dos meios de violência é um dos pressupostos iniciais para que 
possamos compreender que não podemos pensar apenas em agressividade 
desenfreada. Isso porque, esta última, levaria, necessariamente, à dissolução do 
poder. Devemos imaginar sempre um termo médio, onde se possam aplicar os “meios 
necessários” para manter o poder. 
 
Um exemplo do que seria o uso racional da violência indica, necessariamente, um 
contexto específico político, social, cultural e religioso. Isto é, uma prática pode ser 
compreendida como violenta num contexto e noutro não. A racionalidade no uso da 
violência está diretamente ligada à idéia de manutenção da ordem social. 
 
 
 
10 
 
Figura 1.3 – Tanques em Londres ao final da Primeira Guerra Mundial, 1918. Para Maquiavel, 
o exercício racional dos meios de violência está relacionado à manutenção da ordem e do 
poder dentro de um dado contexto sociopolítico, religioso e cultural. 
 
Autor da imagem: Thomas Frederick Scales / National Library of New Zealand 
 
Link da imagem: https://www.flickr.com/photos/nationallibrarynz_commons/3056450509/ 
 
Wolin afirma que, a partir de Maquiavel, as “meias palavras” foram postas de lado e o 
Estado toma a frente no que diz respeito ao uso da violência como um dos 
mecanismos de exercício de sua autoridade; “Porque o homem que merece críticas é 
aquele que a usa para violentar as coisas e não para corrigi-las”. (Wolin apud 
Maquiavel, 1960/1974: 238, tradução do autor). O que o autor trata de explorar nesse 
parágrafo, é exatamente o princípio de uma economia da violência, isto é, a 
racionalidade no uso dos instrumentos do Estado para a manutenção da ordem social. 
 
Para Maquiavel, não existe a possibilidade de manutenção do poder sem o uso da 
violência. Entretanto, o autor defende o uso calculado e racionalizado da violência. 
 
As considerações que permitem analisar tal pressuposto se baseiam na percepção de 
que, no campo político, seja este interno ou externo, as relações podem ser 
analisadas sob a ótica de um: 
 cálculo de possibilidades; e 
 desequilíbrio entre as forças. 
A execução de uma ação qualquer pressupõe, inicialmente e antes de tudo, a 
possibilidade de que se possa realizar tal ato, o que indica que existe poder (enquanto 
capacidade de ação) em alguma medida. 
 
Considere-se que o campo político seja o espaço onde residem as possibilidades de 
ação. Assim, a distância entre: 
 
 o príncipe e seus súditos, em Maquiavel, é a diferença de fortuna e de virtude que 
esse possui e os outros não. 
 a autoridade e a ação, que somente pode ser preenchida pela violência. Logo, a 
violência mantém o espaço de cada um determinado e seguro. 
 
11 
 
 
 
Figura 1.4 – Tropas australianas marcham em Londres após a Primeira Guerra Mundial. A 
força mantém os espaços de cada um bem definidos. 
 
Autor da imagem: Thomas Frederick Scales/ National Library of New Zealand 
Link da imagem: https://www.flickr.com/photos/nationallibrarynz_commons/3056447621/ 
 
Temos que a segurança do exercício de seu poder tanto mais será garantida quanto 
mais o príncipe souber executar asações de forma reta e rápida a fim de que possa 
interromper os movimentos contrários à sua ordem. 
 
O realismo com o qual Maquiavel aborda a questão do Poder mostra claramente que 
não existe um componente de agressividade gratuita, mas que o conflito ganha uma 
face racional e instrumental, isto é, o objetivo a ser alcançado deve ser encarado 
seguindo as premissas que se façam necessárias – a saber: o domínio dos objetivos. 
 
Em Maquiavel, temos o poder entrelaçado entre as capacidades individuais e o 
controle do Estado (principados), controle de todo o aparato de segurança que 
compõe o governo de um determinado Estado. O poder aqui se confunde com 
autoridade, é poderoso o príncipe que consegue manter seu domínio, mas para atingir 
tal domínio, deve possuir as capacidades necessárias para tal fim, de toda sorte que, 
sua posição não seja questionada e, se for, aqui novamente retornamos a autoridade, 
ele exerça o poder – violência – através de sua autoridade. 
 
 
<atenção> 
Portanto, em Maquiavel, o poder representa a capacidade de agir 
com violência para se manter com autoridade. 
</atenção> 
 
12 
 
2.1 O Poder por Thomas Hobbes 
 
Ao nos deslocarmos na tradição do pensamento político, dificilmente podemos deixar 
de abordar Thomas Hobbes quando tratamos de poder, política e violência e seu 
estudo Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil (1651). 
 
Segundo o autor, Poder se refere a características humanas e sendo assim; (...) o 
poder de um homem consiste nos meios de que presentemente dispõe para obter 
qualquer visível bem futuro. Pode ser original ou instrumental. (Hobbes, 2001; 70). 
 
O poder em Hobbes pode ser compreendido como: 
 Original, na medida em que nasce com o indivíduo, força, beleza, prudência, 
nobreza. 
 Instrumental, é aquele adquirido ao longo da vida, mas que, sem dúvida alguma, 
guarda relação direta com o primeiro. Aqui, surgem, nas palavras do autor, a 
riqueza, a reputação, os amigos e os secretos desígnios de Deus. 
 
 
Início do verbete: 
Thomas Hobbes (5 de abril de 1588 
— 4 de dezembro de 1679) 
Foi um matemático, teórico político, e 
filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) 
e Do cidadão (1651). 
 
Link da imagem : 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_H
obbes 
Fim do verbete 
13 
 
Mas além do poder individual, surge o poder soberano e aqui não tratamos mais dos 
indivíduos e sim da figura do Soberano que surge a partir da abdicação dos 
indivíduos de sua liberdade natural. Nas palavras de Hobbes; “o direito natural, que os 
autores geralmente chamam jus naturale, é a liberdade que cada um possui de usar 
seu próprio poder de maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, 
ou seja, de sua vida”. (Ibid, 2001;101) 
 
<Início do verbete> 
Soberano / Soberania 
 
Poder preponderante ou supremo do 
Estado, considerado pela primeira 
vez como caráter fundamental do 
Estado por Jean Bodin, em Six lilvres 
de la Republique (1576). 
 
 
Fonte: Abbagnano, Nicola. Dicionário 
de Filosofia. Martins Fontes. São 
Paulo, 2000. 
<Fim do verbete> 
O poder afirmado por Hobbes é aquele de que dispõe cada indivíduo para desposar 
cada coisa a seu prazer e de acordo com sua necessidade. Nesse sentido, incorre 
para a condição conhecida - da guerra de todos contra todos - posto que, 
dentre todas as coisas sobre as quais os homens podem demandar, se encontram os 
outros homens. 
 
O poder soberano resultante do contrato entre os homens adquire seu fundamento 
através da renúncia de todos ao seu direito sobre todas as coisas. No entanto, para 
que tal contrato seja mantido, no momento em que todos abrem mão da capacidade 
do exercício da violência, deverá surgir um poder capaz de manter o contrato contra 
aqueles que desejem subvertê-lo - o Estado. 
 
<Início do boxe explicativo> 
 
A ideia de da guerra de todos contra todos é uma figura de 
linguagem, pois a questão gira em torno do fato de que, não havendo 
lei e os recursos serem escassos, a possibilidade de um conflito é 
iminente. 
 
14 
 
Logo, para Hobbes: 
 
 “Daí, para que as palavras," justo" e “injusto”, possam ter 
sentido, é necessário alguma espécie de poder coercitivo, 
capaz de obrigar igualmente os homens ao cumprimento dos 
pactos, mediante o medo de algum castigo que seja superior 
ao benefício que esperam tirar do rompimento do pacto, e 
capaz de fortalecer aquela propriedade que os homens 
adquirem por contrato mútuo, como recompensa do direito 
universal a que renunciaram”. (Hobbes, 2001;111) 
 
Fonte: Hobbes, Thomas. O Leviatã ou matéria, forma e poder de um 
estado eclesiástico e civil. Ed. Martin Claret, 2001. 
 
<Fim do Boxe explicativo> 
 
Vemos através de uma breve abordagem sobre o estudo clássico de Hobbes como o 
conceito de poder adquire nuances: 
 o poder natural derivando do indivíduo e de seus atributos naturais (força, beleza, 
inteligência) para um; 
 o poder artificial criado através do contrato que institui o Estado político e soberano 
que pode, então, dispor dos meios de violência para garantir a sobrevivência 
daqueles que realizaram o pacto. 
 
Tanto em Maquiavel, quanto em Hobbes, o conceito de poder está entrelaçado com a 
ideia daquele sujeito da ação envolvido diretamente nela. Eles não tratam 
especificamente de um poder instituído burocraticamente, alheio às capacidades e 
paixões humanas. 
 
O poder, para esses autores, deriva, em parte, da capacidade dos atores de 
exercerem a violência e possuírem a capacidade de influenciar o restante das relações 
entre os indivíduos através de sua ação. 
 
Em Hobbes, entretanto, temos a elevação do Estado político, que é o primeiro passo 
para o descolamento entre a capacidade do exercício de poder (violência) individual 
para uma figura burocratizada, distante do indivíduo singular. 
 
<atividade> 
Atividade 1 
(Atende ao objetivo 01) 
 
15 
 
Ufa! Talvez seja a hora de respirarmos um pouco. Se você chegou até 
aqui, já percebeu que os conceitos de Política e Poder ao longo do século 
XV, XVI e XVII estavam muito próximos da capacidade de exercício da 
violência. Você saberia dizer o porquê disso com base em Maquiavel e 
Hobbes? E em relação ao seu contexto de vida, você poderia comentar 
como percebe a relação entre política, poder e violência? 
Diagramação, favor deixar 7 linhas para a resposta do aluno. 
 
Resposta Comentada: 
A política, assim como o poder, são conceitos complexos e que variam ao 
longo do tempo na forma como são interpretados. Nos autores que 
tratamos até o momento (Maquiavel e Hobbes) pudemos perceber que 
ambos os conceitos tem uma relação próxima com a idéia de violência. 
Isto nos permite pensar que, de certa forma, a idéia ou a prática da 
violência se relaciona com a prática do poder e da política. 
Ao longo da história ocidental, neste caso estamos tratando de dois 
autores clássicos do pensamento político ocidental do século XVI e XVII, 
essa relação é muito clara. Para Maquiavel, a questão central está em 
adquirir poder político e manter esse poder a qualquer custo. Para Hobbes, 
a questão está em constituir um Estado civil no qual as pessoas tenham 
garantias de sua segurança. Uma importante distinção entre os autores 
está em que, para a Maquiavel a prática da violência é uma condição 
imediata para a realização do poder político, para Hobbes a questão da 
violência deve ser ordenada pelo Estado civil. 
Ao pensarmos numa relação imediata com a nossa vida cotidiana, a 
questão do Poder e da Política adquirem contornos distintos. A violência se 
relaciona de maneira mais indiretacom a questão da política e do poder, 
entretanto essa relação se mantém. Por exemplo, quando há uma infração 
legal, o Estado civil reage utilizando os meios de coerção que dispõe na 
prática da violência ou na ameaça desta. A prática da política 
cotidianamente é perpassada por diversas situações que envolvem algum 
tipo de cálculo sobre nossas ações e os resultados possíveis de nossas 
ações, isto é, conseqüências. 
 
16 
 
<Inicio Boxe Multimidia> 
 
 
Sugestão de Filme: Elizabeth: a era de ouro 
 
Para que você possa aprofundar seus conhecimentos sobre a 
relação entre poder, política e violência indicamos que assista ao 
filme Elizabeth: a era de ouro. Nesse filme, a Rainha em questão 
realiza o processo de escolhas políticas. Você poderá então perceber 
que todas as ações são tomadas num cálculo que tem sempre, como 
variáveis, a questão da manutenção do Poder e de como utilizar a 
violência para manter esse Poder político. 
 
 
 
Link da imagem: http://en.wikipedia.org/wiki/Elizabeth_I_of_England 
 
<Fim Boxe Multimidia> 
 
3. Poder e Dominação em Weber 
 
 Ao intitular nosso tópico com tal expressão, estamos diretamente nos referindo 
a Max Weber. 
 
<Início do verbete> 
 
Karl Emil Maximilian Weber (21 de 
Abril de 1864 — Munique, 14 de 
Junho de 1920) 
 
17 
 
Foi um intelectual alemão, jurista, 
economista e considerado um dos 
fundadores da Sociologia. 
 
 
Link da imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber 
<Fim do verbete> 
<início de Box explicativo> 
 
As principais obras de Max Weber 
 
Entre as principais obras do autor estão: 
 
 1904: A ética protestante e o espírito do capitalismo 
 1905: A situação da democracia burguesa na Rússia 
 1905: A transição da Rússia a um regime 
pseudoconstitucional 
 1906: As seitas protestantes e o espírito do capitalismo 
 1913: Sobre algumas categorias da sociologia compreensiva 
 1917/1920: Ensaios Reunidos de Sociologia da Religião 
 1917: Parlamento e Governo na Alemanha reordenada 
 1917: A ciência como vocação 
 1918: O sentido da neutralidade axiológica nas ciências 
políticas e sociais 
 1918: Conferência sobre o Socialismo 
 1910/1921: Economia e Sociedade 
 
</fim de Box explicativo> 
 
Para Weber, em Economia e Sociedade (1922); “Poder significa a probabilidade de 
impor a própria vontade, dentro de uma relação social, ainda que contra toda 
resistência e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade”. (Weber, 1974; 43, 
tradução do autor) 
 
De maneira direta, Weber afirma que o poder pode figurar de diversas formas, desde 
que o resultado seja a imposição de uma vontade sobre todas as outras, mesmo 
havendo resistência a tal imposição. 
18 
 
 
Weber utiliza o conceito de dominação. Entretanto, antes de discutirmos essa questão, 
cabe deixar mais claro a que o autor se refere quando trata do conceito de dominação. 
 
Uma relação de dominação deve se chamar associação política quando e, na medida 
em que, sua existência e validade, dentro de um âmbito geográfico determinado, 
estejam garantidos de um modo continuo pela ameaça e aplicação da força física por 
parte de seu corpo administrativo” (Ibid, 1974; 43, tradução do autor). Um exemplo 
dessa estrutura política é o Estado moderno, tal qual o conhecemos hoje em dia. 
 
Existem outras formas de dominação que não demandam de um quadro administrativo 
burocratizado, como, por exemplo, a dominação do pai sobre a família, mas tendo em 
vista o ator sobre o qual desejamos pensar, nossa atenção se volta naturalmente para 
a figura do Estado. 
 
<Início do verbete> 
Estado 
Em geral, é a organização política 
jurídica coercitiva de determinada 
comunidade. 
 
Fonte: Abbagnano, Nicola. Dicionário 
de Filosofia. Martins Fontes. São 
Paulo, 2000. 
 
<Fim do verbete> 
 
Ao tratarmos do conceito de dominação, vemos que a condição que o torna singular e 
distinto ao conceito de poder, compreendendo este como capacidade de influência de 
uma vontade sobre todas as outras, reside no pressuposto weberiano de que a 
dominação traz consigo tanto um grau de obediência, como de submissão e de 
interesse, constituindo-se, desta maneira, uma relação de autoridade. 
 
Entretanto, tal autoridade deverá revestir-se de outra condição além dos interesses 
materiais, afetivos ou legais mais imediatos, ela deverá ser legítima para um 
determinado grupo. 
 
De modo bastante sucinto abordamos os três tipos puros de dominação legítima a fim 
de localizar mais precisamente o conceito de dominação em Weber. A dominação 
pode ser de caráter: 
 
19 
 
 Legal, quando as ações levadas a termo possuem legalidade e que a autoridade 
exercida pelos mandatários reside numa ordem legal. A dominação. 
 Tradicional, quando a autoridade reveste-se da crença de que ela por si mesma se 
legitima desde tempos imemoriais, e sendo assim adquire sua legitimidade, isto é - 
é desta forma porque sempre foi assim. 
 Carismática, que possui seu fundamento na crença em qualidades excepcionais de 
certo ator que através destas pode exercer a autoridade sobre os outros. 
 
Exemplos desses tipos de dominação são muito naturais. Ao pensarmos num tipo de 
dominação legal, é àquela instituída por um instrumento legal, nesse sentido, quando 
elegemos um mandatário está criando um tipo de dominação legal. Por outro lado, 
temos a dominação tradicional a qual pode ser representada pela dominação do 
paterna/materna sobre uma família. E por fim, temos a dominação carismática que 
pode ser compreendida quando imaginamos um líder que é capaz de criar junto aos 
seus seguidores a idéia de pertencimento àquele determinado grupo. 
 
Nossa breve abordagem sobre Max Weber tem o objetivo de apontar a derivação que 
o autor faz do conceito de poder, enquanto exercício de uma vontade sobre as outras, 
na direção de um refinamento no qual institui uma justificação jurídica para o exercício 
da violência e o monopólio desse exercício. Desse modo, até o momento, a condição 
que permeia nossa atenção acerca do conceito de poder é sua estreita ligação com a 
possibilidade do uso da violência. 
 
<atividade> 
 
Atividade 2 
(Atende ao objetivo 02) 
 
Nós analisamos nesse momento um autor emblemático para a teoria 
política, neste caso Max Weber. Nele, nós estudamos o conceito de Poder 
e os conceitos de dominação legitima, legal, tradicional e carismática. 
Explique como Weber define Poder e exemplifique algum tipo de 
dominação weberiana que você consegue identificar no seu dia-a-dia. 
Diagramação, favor deixar 9 linhas para a resposta do aluno. 
 
Resposta comentada: 
20 
 
 
Definir Poder e os tipos de Poder político apresentados tem por objetivo 
propor uma análise do conceito de Poder, o qual segundo Max Weber é 
“Poder significa a probabilidade de impor a própria vontade, dentro de uma 
relação social, ainda que contra toda resistência e qualquer que seja o 
fundamento dessa probabilidade”. (Weber, 1974; 43, tradução do autor). A 
partir dessa definição geral apresentada pode Weber, podemos 
estabelecer que a relação de Poder alcance num último momento a 
possibilidade de ser necessário o uso da violência, para que a “vontade” 
seja obedecida. Por outro lado, segundo o mesmo autor, o único ator 
político que possui legitimidade no uso da violência é o Estado. 
Um outro elemento importante de nossa análise são os tipos de dominação 
tratados por Weber: legal, tradicional e carismática, as quais fazem parte 
das formas como o poder político se manifesta. 
Na vida política podemos compreender e perceber tanto a realização daidéia da legitimidade do uso da violência por parte do Estado, através da 
análise de que os únicos atores da segurança pública, são atores estatais. 
Por outro lado, uma idéia da dominação pode ser compreendida quando 
analisamos por exemplo, a dominação legal, a qual se estabelecer pela 
obediência as leis, ou a dominação tradicional, que é àquela dominação 
que se dá pelo costume, nesse caso comum nas famílias onde o filho 
obedece os pais e por fim a dominação carismática, bastante comum na 
vida política partidária, na qual o voto por vezes num candidato se dá 
menos pelas propostas políticas programáticas e mais por uma 
identificação daquele que vota com àquele que é votado. 
</atividade> 
3. Política, Poder e Violência 
3.1 O conceito do Político e a teoria da exceção para Carl Schmitt 
 
A questão que Carl Schmitt nos apresenta em seu estudo o “Conceito do Político” 
(1932) permite estabelecer uma linha de análise que conduz, ao fim, a uma 
aproximação daquilo que pode ser chamado uma “teoria da exceção”. 
 
<Início do Verbete> 
21 
 
Carl Schmitt (Plettenberg, 11 de 
julho de 1888 — 7 de abril de 1985) 
Foi um jurista, filósofo político e 
professor universitário alemão. 
 
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_
Schmitt 
<Fim do verbete> 
<Box explicativo> 
 
Principais obras de Carl Schmitt 
 
Entre algumas obras traduzidas ao português e espanhol que 
podemos destacar: 
 
 O estatuto jurídico internacional do grande território e a 
proibição da intervenção de potências estrangeiras no seu 
âmbito 
 La Tirania de los Valores (Die Tyrannei der Werte). 
 Teoria da guerrilha (Theorie des Partisanen. 
Zwischenbemerkung zum Begriff des Politischen). 
 O conceito do político (Der Begriff des Politischen), 
 Teologia política (Politische Theologie 
 O guardião da constituição (Der Hüter der Verfassung 
 "Catolicismo Romano e Forma política" 
 "A Crise da Democracia Parlamentar". 
 "O Leviatã na Teoria do Estado de Thomas Hobbes". 
 "Terra e Mar" (Land und Meer. Eine weltgeschichtliche 
Betrachtung). 
 
</Box explicativo> 
 
 
Carl Schmitt abre sua análise em busca do conceito do político e, para tanto, ocupa-se 
em não dizer o que é o político, mas sim, estabelecer as distâncias com o intuito de 
encontrar o espaço para a emergência deste conceito: “Em geral, “político” é 
equiparado, de alguma forma a “estatal” ou, pelo menos, relacionado ao Estado. O 
estado surge então como algo político, o político, porém, como algo estatal; 
evidentemente um círculo que não satisfaz. (Schmitt, 1932/1992:44) 
 
A conclusão que Schmitt alcança através da crítica a este pressuposto é a de que, ao 
longo dos séculos XVIII e XIX, a noção de Estado se expandiu. A distinção entre o 
que é político e não-político torna-se anacrônica. Isso porque existia em um 
determinado momento (como no século XVIII) esferas que não se identificavam com o 
Estado e, por conseqüência, com o político. Entretanto, a evolução que ocorre ao 
longo dos séculos seguintes determina uma interpenetração entre o Estado e a 
22 
 
sociedade, o que leva a uma consequência lógica, ou seja, à politização de todas as 
esferas da vida social. 
 
<inicio do boxe explicativo> 
 
A distinção entre o político e o não político que se tornam 
anacrônica 
 
As áreas até então “neutras” – religião, cultura, educação, economia 
– deixam então de ser “neutras” no sentido não-estatal e não-político 
(...) A democracia deverá abolir todas as distinções, todas as 
despolitizações típicas do século XIX liberal, e ao apagar a oposição 
Estado – sociedade (= o político oposto ao social), fará também 
desaparecer as contradições e as separações que correspondem à 
situação do século XIX(...)(Ibid., 1932/1992:47) 
 
Fonte: SCHMITT, Carl.O Conceito do Político. Petrópolis: Ed. Vozes, 1992. 
 
<fim do boxe explicativo> 
O conceito do político necessita, segundo o autor, a definição clara de categorias, 
estas levam a determinar a dualidade como elemento que fundamenta a lógica 
argumentativa de Schmitt. A definição do político, não passa por uma avaliação moral, 
estética ou econômica; A diferenciação entre amigo-inimigo tem o sentido de designar 
o grau de identidade extrema de uma ligação ou separação, de uma associação ou 
dissociação; ela pode, teórica ou praticamente, subsistir, sem a necessidade do 
emprego simultâneo das distinções morais, estética, econômicas, ou outras. (Ibid, 
1932/1992:52) 
 
A definição do político na medida em que se desvia da normalização a partir de um 
juízo moral, estético ou econômico, mostra-se em sua autonomia. O inimigo, segundo 
Schmitt, é aquele que guarda em si a possibilidade da ameaça a existência do político 
enquanto tal. 
 
Dois pontos emergem desta designação da relação amigo-inimigo; a saber, a 
capacidade de designar o outro como inimigo, e a condição de estabelecer um conflito 
com ele, a fim de garantir sua própria existência. Cabe ressaltar que não é necessária 
a ação contrária para que o conflito se realize, basta apenas que se estabeleça a 
ameaça como condição primeira, para que o conflito se desencadeie. 
 
3.2 O Poder e a Violência em Hannah Arendt 
 
Podemos considerar a envergadura do estudo de Hannah Arendt “Sobre a 
Violência” 1968, na medida em que a autora consegue distinguir diversos conceitos, 
entre eles: Poder, Vigor, Força, Autoridade, Violência. 
23 
 
 
A preocupação com a definição clara do alcance que cada conceito deve ter no 
conjunto da linguagem relacionada à filosofia política dá ao estudo desenvolvido por 
Arendt uma significação de relevância para qualquer pesquisador que deseje 
aproximar-se do estudo da violência a partir da filosofia política. 
 
<Inicio do verbete> 
Hannah Arendt (nascida Johanna 
Arendt; Linden, Alemanha, 14 de 
outubro de 1906 – Nova Iorque, 
Estados Unidos, 4 de dezembro de 
1975) 
 
Foi uma filósofa política alemã de 
origem judaica, uma das mais 
influentes do século XX. 
 
 <Fim do verbete> 
<Box explicativo> 
 
As principais obras de Hannah Arendt 
 
Entre algumas obras da autora podemos citar: 
 
 O conceito do amor em Santo Agostinho: Ensaio de uma 
interpretação filosófica. 
 As origens do totalitarismo. 
 A condição humana. 
 
</Box explicativo> 
 
Hannah Arendt demonstra em seu estudo uma grande preocupação com o nível que 
alcançaram os desenvolvimentos dos implementos técnico-bélicos no século XX; “O 
desenvolvimento técnico dos implementos da violência alcançou agora o ponto em 
que nenhum objetivo político poderia presumivelmente corresponder ao seu potencial 
de destruição, ou justificar seu uso efetivo no conflito armado”. (Arendt,1968/1994:13) 
 
Pode-se dizer que Arendt dá corpo à sua análise sobre a violência a partir do segundo 
capítulo de seu estudo. Localiza-se neste ponto de sua análise a primeira demarcação 
do espaço de seu posicionamento teórico e de sua crítica à noção que a filosofia 
política e a sociologia possuem de violência e poder. 
 
24 
 
Arendt ao lançar-se na busca pela clareza conceitual em relação aos conceitos de 
poder e violência, aproxima-se de forma colateral aos outros conceitos, entre eles: 
Vigor, Força, Autoridade: “Penso ser um triste reflexo do atual estado da ciência 
política que nossa terminologia não distinga entre palavras – chave tais como “poder” 
[power], “vigor” [strenght], “força” [force], “autoridade” e, por fim, violência.” 
(Ibid,1969/1994:36) 
 
Poder para a autora, não se resume apenas na capacidade de ação de um único 
indivíduo ou a capacidade de impor uma vontade sobre as outras. A definição de 
Arendt vai à direçãoda composição, ou seja, o Poder emerge através da composição 
da relação entre os indivíduos que resolvem agir em uníssono; “A partir do momento 
em que o grupo, do qual se originara o poder desde o começo (potestas in populo, 
sem um povo ou grupo não há poder), desaparece, ´seu poder´ também se esvanece.” 
(Ibid,1969/1994:36) 
 
O segundo conceito sobre o qual Hannah Arendt desdobra sua análise é o conceito de 
Vigor. Este elemento conceitual surge como a emergência da singularidade, ou seja, é 
individual por excelência. A hostilidade quase instintiva dos muitos contra o único tem 
sido sempre atribuída, de Platão a Nietzsche, ao ressentimento, à inveja dos fracos 
contra os fortes, mas essa interpretação psicológica não atinge o alvo. É da natureza 
de um grupo e de seu poder voltar-se contra a independência, a propriedade do vigor 
individual. (Ibid,1969/1994:37) 
 
Pode-se considerar que Arendt, apresenta como o mais “impróprio” dos conceitos, 
justamente aquele que, na maioria das vezes, é aproximado ao conceito de poder e de 
violência, ou seja, a Força. O elemento central sobre o qual Arendt expõe o 
fundamento do conceito de Autoridade é o reconhecimento. A autoridade necessita de 
reconhecimento, na medida em que sua aceitação é demonstrada pela relação de 
obediência. A autora apresenta algumas possibilidades de investimento da autoridade. 
 
A violência, para Arendt, é a expansão do vigor a partir da inserção de uma lógica 
instrumental. Temos uma condição singular que pode ser pensada, o poder pode 
manifestar violência, entretanto, a violência nunca poderá manifestar poder; “Onde os 
comandos não são mais obedecidos, os meios de violência são inúteis; e a questão 
desta obediência não é decidida pela relação de mando e obediência, mas pela 
opinião e, por certo, pelo número daqueles que a compartilha. Tudo depende do poder 
por trás da violência.” (Ibid,1969/1994:39) 
 
Hannah Arendt conclui que; o poder é de fato a essência de todo governo, mas não a 
violência. A violência é por natureza instrumental; como todos os meios, ela sempre 
depende da orientação e da justificação pelo fim que almeja. E aquilo que necessita de 
justificação por outra coisa não pode ser a essência de nada. (Ibid,1969/1994: 41) 
 
A relação entre poder e violência não deve ser condicionada apenas por esta idéia de 
proporcionalidade, posto que em um confrontamento direto entre poder e violência, 
25 
 
pode-se considerar que a violência tem em um primeiro momento a vantagem posto 
que os implementos técnicos possuem características de velocidade e penetração, 
diferentemente dos elementos que compõe o poder. 
 
A preponderância da violência na política, por outro lado, gera uma condição de 
perpétua instabilidade e de retornos cada vez maiores ao uso da violência, até o ponto 
no qual se torna cotidiana. Temos a instauração do terror, no qual não existe a 
possibilidade de uma fuga da violência, posto que, tal fuga necessitaria do abandono 
da violência como fim em si mesmo; “O terror não é o mesmo que violência; ele é, 
antes, a forma de governo que advém quando a violência, tendo destruído todo o 
poder, ao invés de abdicar, permanece como controle total.” (Ibid,1969/1994: 43) 
 
Arendt reconhece a violência como uma condição “natural” do homem, desde que esta 
não se desenvolva através de um cálculo preciso, ou seja, que se torne um fim em si 
mesmo; “Neste sentido, o ódio e a violência que às vezes – mas não sempre- o 
acompanha pertencem às emoções “naturais” do humano, e extirpá-las não seria 
mais do que desumanizar ou castrar o homem.” (Ibid,1969/1994:48). Estabelecer os 
limites para esta humanidade, parece ser algo bastante complicado para Arendt, posto 
que, a justificativa destes limites encontra seu fundamento em qual lugar? A autora 
não se preocupa necessariamente em dizer onde se encontram estas justificativas, 
mas sim, diz onde não devem ser buscadas. 
 
A ênfase que deve ser dada a partir das considerações de Hannah Arendt, vai na 
direção de compreender o homem como um ser político por excelência que possui a 
capacidade de agir e de buscar o eterno começo de algo novo; “O que faz do homem 
um ser político é sua faculdade para a ação; ela o capacita a reunir-se a seus pares, 
agir em concerto e almejar objetivos e empreendimentos que jamais passariam por 
sua mente, deixando de lado os desejos de seu coração, se a ele não tivesse sido 
concedido este dom – o de aventurar-se em algo novo.” (Ibid,1969/1994:59) 
 
Como conseqüência, que deriva deste posicionamento, nem o poder, nem a violência 
são fenômenos naturais compreendidos sob a perspectiva de uma manifestação de 
um processo vital, como coloca Arendt. Ambos pertencem à esfera do político, 
emergem a partir da faculdade do homem em agir e buscar o começo, ou a disposição 
para recomeçar. 
 
Antes, contudo, vamos repensar nossa aula de hoje e exercitarmos um pouco de 
nosso passeio histórico pelo pensamento político? 
< atividade> 
 
Atividade 3 
(Atende ao objetivo 03) 
26 
 
 
Para Hannah Arendt a relação entre Violência e Política é, de certa forma, 
inversamente proporcional. O que isso quer dizer? Significa que quanto 
mais violência é praticada na ação política, menos esta pode ser 
compreendida como uma política, no sentido de uma ação que vise a 
comunhão de interesses entre os indivíduos. 
 
Podemos citar, neste caso, as ações de terror ou os atentados terroristas 
como um dos fenômenos mais relevantes na sociedade contemporânea 
que exemplificam essa ação. 
 
Com base na idéia de que quanto mais poder pela violência menos política 
temos, faça uma leitura da matéria 
(http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/01/1571579-tiroteio-em-frente-
a-sede-de-jornal-satirico-frances-mata-pelo-menos-um.shtml) sobre os 
atentados de Janeiro de 2015 ao jornal francês Charlie Hebdo. 
Em suma, a matéria descreve que um grupo de atiradores entrou no jornal 
Charlie Hebdo gritando Allahu akbar (Deus é maior). O jornal já havia 
sofrido outros ataques anteriormente por publicar caricaturas de líderes 
muçulmanos e de Maomé. 
 
Com base na leitura, estabeleça a relação entre poder e violência no 
episódio do atentado, tomando como referência os conceitos de Hannah 
Arendt. 
 
Diagramação, deixar 7 linhas para a resposta do aluno. 
 
Resposta comentada: 
 
Você poderá perceber que na matéria há uma indicação clara que os 
ataques são realizados por grupos que se encontram numa relação 
assimétrica de poder (eles possuem menos poder político), logo, uma das 
alternativas para o exercício de sua vontade e de sua prática de poder são 
ações de violência com impacto midiático, isto é, atentados terroristas. 
27 
 
Nesse sentido, ao compreendermos que Hannah Arendt afirma que o 
exercício do poder pela violência é o momento no qual a política deixa de 
ser praticada. As ações de terror político são um exemplo de um fenômeno 
complexo, pois ao mesmo tempo em que eliminam a prática de um 
determinado tipo de compreensão política arendtiana possuem um impacto 
na vida política. 
 
< /atividade> 
 
 
< atividade> 
 
ATIVIDADE FINAL 
(Atende ao objetivo 04) 
 
A teoria política apresenta uma infinidade de conceitos e interpretações. 
Para cada conceito temos várias alternativas explicativas, assim como 
para cada momento de nossa vida. Na política os sujeitos se relacionam 
dialogicamente, sempre buscando algum grau de compreensão ou por 
outro lado, a eliminação. Em nosso curso lidamos com a questão da 
segurança pública e dos diversos agentes da segurança pública, das 
políticas de segurança pública e de suas especificidades.Nesse sentido 
propomos a reflexão sobre dois aspectos de nossa aula: 
- Vivemos ainda num contexto no qual cabe a frase hobbesiana de “uma 
guerra de todos contra todos”? 
- Em que medida você percebe os tipos de dominação weberianos no seu 
dia a dia? 
Diagramação, deixar 7 linhas para a resposta do aluno 
Resposta comentada: 
A resposta a essa questão está ligada diretamente a interpretação de cada 
um sobre a realidade imediata. A ideia de uma guerra de todos contra 
todos propõe o desafio de se pensar em qual medida essa “guerra” se 
coloca para cada um de nós todos os dias e quais as saídas para essa 
situação. Num outro ponto a segunda questão propõe outro desafio, que é 
o da autorreflexão, isto é, em que medida somos capazes de perceber e 
28 
 
identificar os tipos de dominação que enfrentamos no dia a dia da vida 
política e social. 
</fim_atividade> 
Resumo 
Esta aula foi uma introdução ao pensamento político voltado diretamente a questões 
de poder e violência. Fomos de Maquiavel a Hannah Arendt, do século XVI ao século 
XX, no intuito de compreender as relações que se estabelecem entre a política, o 
poder e a violência. Em Maquiavel, vimos o princípio da violência como fundamento da 
ordem ou de que os fins justificam os meios, desde que sejam para manter a unidade 
política. Hobbes, já no século XVII, nos informou que a possibilidade de uma “guerra 
de todos contra todos” deveria ser evitada e, para tanto, a solução estava em criar um 
ente absoluto, o soberano, o Estado. Em Max Weber percebemos a emergência do 
Estado Moderno que concebe a violência como um instrumento do Estado que possui 
a legitimidade de seu uso. Em Hannah Arendt vimos a questão da violência e do 
poder, sob um enfoque distinto, estabelecendo que a política se esvai quando a 
violência entra na cena política levando ou abrindo o caminho para o autoritarismo. No 
século XX, vimos que a questão era como lidar com a ordem, como estabelecer a 
dominação, como criar as condições para o desenvolvimento do Estado e a 
participação dos sujeitos na vida política. 
 
INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA 
Na próxima aula, veremos questões iniciais da área de políticas públicas, conceitos, 
delimitações e atores. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
Abbagnano, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo:Martins Fontes, 2000. 
 
Arendt, Hannah. Sobre a Violência. Rio de Janeiro: Relume Dumará,1994. 
 
Beasley, Ryan K., KAARBO, Juliet, LANTIS, Jeffrey S.The analysis of Foreign Policy 
in comparative perspective. In BEASLEY, Ryan K., KAARBO, Juliet, LANTIS, Jeffrey 
S. e SNARR Michael T. (Editors). Foreign Policy in Comparative Perspective: domestic 
and International Influences on State Behavior. MI, USA: Congressional QuarterlyInc, 
2011. 
 
29 
 
Bobbio, Norberto; MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de 
Política. Tradução Carmen C. Varriale... [et al.]; coordenação da tradução João 
Ferreira, revisão geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cascais. 6 Ed. Brasília, DF: 
EditoraUniversidade de Brasília, 2003. 
 
Hobbes, Thomas. O Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e 
civil. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2001 
 
Jouvenel, Bertrand de. O Poder: história natural de seu crescimento. Tradução de 
Paulo Neves. 1Ed. São Paulo: Editora Peixoto Neto Ltda, 2010. 
 
Schmitt, Carl.O Conceito do Político. Petrópolis: Ed. Vozes, 1992. 
 
Wolin, Sheldon S. Democracy incorporated: managed democracy and the specter of 
inverted totalitarianism. New Jersey: Princeton University Press, 2008.

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