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INICIAÇÃO ESPORTIVA UNIVERSAL

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See	discussions,	stats,	and	author	profiles	for	this	publication	at:	https://www.researchgate.net/publication/285176047
A	COGNIÇÃO	EM	AÇÃO:	Proposta	de	um	modelo
de	treinamento	tático-técnico	da	tomada	de
decisão	nos	jogos	desportivos	coletivos
Chapter	·	November	2015
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4	authors:
Some	of	the	authors	of	this	publication	are	also	working	on	these	related	projects:
CONHECIMENTO	TÁTICO	PROCESSUAL	E	DECLARATIVO	NO	FUTSAL:	AVALIAÇÃO	DE	ESCOLARES	DE
DIFERENTES	CATEGORIAS.	View	project
Methodology	of	collective	sports	teaching	View	project
Pablo	Greco
Federal	University	of	Minas	Gerais
229	PUBLICATIONS			662	CITATIONS			
SEE	PROFILE
Juan	carlos	pérez	morales
Federal	University	of	Minas	Gerais
44	PUBLICATIONS			91	CITATIONS			
SEE	PROFILE
Henrique	De	Oliveira	Castro
Federal	University	of	Minas	Gerais
62	PUBLICATIONS			11	CITATIONS			
SEE	PROFILE
Gibson	Praça
Federal	University	of	Minas	Gerais
70	PUBLICATIONS			26	CITATIONS			
SEE	PROFILE
All	content	following	this	page	was	uploaded	by	Henrique	De	Oliveira	Castro	on	30	November	2015.
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KÁTIA LUCIA MOREIRA LEMOS
PABLO JUAN GRECO
JUAN CARLOS PÉREZ MORALES
5º CONGRESSO INTERNACIONAL DOS 
JOGOS DESPORTIVOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
5º Congresso Internacional dos Jogos Desportivos
Copyright 2015 Instituto Casa da Educação Física
Proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por qualquer meio ou sistema, sem o 
prévio consentimento de seus editores.
Instituto Casa da Educação Física
Rua Bernanrdo Guimarães, 2786 - Santo Agostinho - CEP 30.140-082 - Belo Horizonte 
- MG - Tel.: (31) 3275-1234 - www.casaef.org.br
Capa: Criação e Finalização: Instituto Casa da Educação Física
Editoração Eletrônica e Projeto Gráfico: Leonardo Senhorini
Revisão: Os autores
Impressão: Davi Pires de Oliveira - ME
Rua Espinosa, 64 - Carlos Prates - CEP 31.210-525
Belo Horizonte - Minas Gerais - Tel.: (31) 3411-6149
E-mail: sanagraf@yahoo.com.br - www.sanagraf.com.br
Para dúvidas, críticas e sugestões sobre este livro, entre em contato:
Universidade Federal de Minas Gerais - Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia 
Ocupacional - Av. Presidente Antônio Carlos, 6627 - CEP: 31.270-901 - BH / MG
C749a Congresso Internacional dos Jogos Desportivos (5. : 2015 :
 Belo Horizonte, MG)
2015 5. Congresso Internacional dos Jogos Desportivos /organizadores 
Kátia Lucia Moreira Lemos, Pablo Juan Greco, Juan Carlos Pérez 
Morales. Belo Horizonte 
 : EEFFTO/UFMG, 2015.
 436p.
 ISBN: 978-85-98612-33-1
	 	 Inclui	bibliografia.
1. Esportes - Congressos 2. Esportes – Estudos e ensino - 
Congressos 3. Educação física - Congressos. I. Lemos, Kátia Lucia 
Moreira. II.Greco, Pablo Juan. III. Pérez Morales, Juan Carlos. IV. Título. 
CDU:796
Ficha	 catalográfica	 elaborada	pela	 equipe	de	bibliotecários	da	Biblioteca	da	Escola	
de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de 
Minas Gerais.
PREFÁCIO
Os jogos desportivos fazem parte da cultura popular, estão 
enraizados e imbricados na nossa história, resultam indissociáveis das 
nossas características, formas de pensar, de nos integrar socialmente. 
Quem quando criança, não ouviu um amiguinho contar, ou vivenciou 
pessoalmente, ir a dormir abraçado a bola, o dia antes de aquele jogo tão 
importante? Porém, ou mesmo por causa disso, sua temática tão rica e 
diversificada	solicita	permanentemente	de	novas	ideias,	novos	impulsos.	
Os jogos desportivos inerentes da nossa cultura, praticados na rua, na 
escola,	no	clube,	no	tempo	livre,	no	rendimento	etc.	configuram-se	de	longa	
data como conteúdos do ensino, da pesquisa e da práxis. A construção das 
pontes, o estabelecimento de interações entre estes fatores se constitui no 
desafio	presente	para	cada	um	dos	que	militam	nessas	áreas,	o	professor	no	
seu dia a dia frente a turma, o pesquisador, na sua investigação que permita 
elucidar cada vez mais os componentes e as interações desse vasto mundo 
de modalidades e perguntas sobre as mesmas. Mas também na práxis 
daquele que pratica, que joga, que deseja consolidar suas motivações, 
suas expectativas, sua integração social. Para eles este texto oferece apoio 
cientifico	de	renomeados	pesquisadores	na	área	dos	Jogos	desportivos.	
Os capítulos aqui apresentados na sua versão original alinham-se 
dentro das diferentes áreas temáticas do 5° Congresso Internacional dos 
Jogos Desportivos, realizado em belo Horizonte, na Universidade Federal 
de Minas Gerais, com a coordenação do Centro de Estudos em Cognição 
e Ação. Todos os autores colaboraram de forma voluntária, assumindo os 
esforços de uma tarefa singular: descrever um tema de forma profunda, 
porém	acessível,	para	que	o	leitor	se	identifique	com	a	temática,	descubra	
novas intencionalidades, opções e alternativas que o auxiliem no seu 
cotidiano, que ampliem seus horizontes. 
A obra apresentada reúne textos de especialistas de diferentes 
universidades, de distintos países, com díspares formações sob o elo 
comum da temática dos jogos desportivos. Como no jogo, a colaboração 
deles foi peça mestre na realização da obra. Como no jogo, as 
contribuições concatenam-se para conformar o ponto de partida que se 
integra	espontaneamente	numa	adequada	finalização,	num	chute	a	gol,	um	
chute que tem todas as características de obter sucesso! Ser um bonito 
Gol. Não foi solicitado aos especialistas escreverem sobre um tema, foi 
deixado a estes a escolha. Fulcral, os jogos esportivos coletivos. E cada um 
deles realizou um aporte que se “encaixa” de forma interessante, pontos 
de vista complementares, nas áreas do conhecimento inerentes aos Jogos 
desportivos. Assim, da formação de recursos humanos, da formação de 
treinadores, um dos grandes problemas a ser superado nos dias de hoje no 
Brasil, carente de uma sólida estrutura de formação de treinadores (com 
exceções claro, como as do Voleibol, o que também mostra-se uma das 
características de ter chegado e mantido o sucesso ao longo dos anos!). 
passando pela área da análise da performance nos Jogos Desportivos, 
apresentam-se novidades importantes para os que desejam investigar e 
trabalhar na mesma. Também a área do ensino-aprendizagem e metodologia 
dos jogos desportivos são diferentes capítulos que abordam o tema, com 
ideias	originais,	e	muitas	propostas	para	reflexão	e	ação,	e	portanto	á	área	
da cognição e ação também se desenvolve com aportes direcionados a 
práxis, de utilidade para o quotidiano. 
Cientes que a abrangência da temática dos jogos desportivos não se 
esgota em uma obra, em um congresso, este livro texto visa provocar a 
reflexão,	as	pontes	entre	a	teoria	e	a	práxis,	aliás	o	lema,	ou	tema	central	do	
congresso.	Certamente	a	leitura	trará	novos	desafios,	incitará	a	geração	de	
propostas, novas ideias, novos caminhos, abrirá fronteiras e despertará o 
desejo de continuar a crescer, marcar um constante “aprender a aprender”. 
Fecham-se as cortinas do presente aporte, porem abrem-se novamente 
as mesmas para o futuro. Quais os objetivos alcançados no evento? 
Quais as impressões que cada um conseguirá apreender após esses 
dias de convívio e como a leitura desta obra poderá indicar caminhos a 
percorrer. 
Como diz o poeta espanhol Antonio Machado, nos seus versos que 
descrevem o mediterrâneo, sua terra natal.
“Caminante son tus huellas del camino y nada más caminante no hay 
camino, se hace caminho al andar, al andar se hace el camino y al volver la 
vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar, caminante no 
hay camino sino estelas en la mar.“
O futuro depende de cada um de nos, ele será construído, com as 
pontes entre a pesquisa e a práxis que cada um se anime a desenvolver. 
Obrigado pelaleitura, que esta obra seja apenas uma pequena semente 
que contribui para o desenvolvimento de cada um de vocês, e contribui 
para a área que nos agrada, o fascinante mundo dos Jogos desportivos. Um 
mundo de aleatoriedade, de inovação, criatividade, colaboração, oposição, 
mas sempre fascinante. 
Os organizadores deste livro lhes desejam boa leitura.
SUMÁRIO
DESPORTO E UNIVERSIDADE: URGÊNCIA DE REVISÃO COM 
OS OLHOS DA FILOSOFIA E DA ARTE
Jorge Olímpio Bento ............................................................................... 15
PROCESSO ORGANIZACIONAL SISTÊMICO, A PEDAGOGIA 
DO JOGO E A COMPLEXIDADE ESTRUTURAL DOS JOGOS 
ESPORTIVOS COLETIVOS: UMA REVISÃO CONCEITUAL
Alcides José Scaglia; Riller Silva Reverdito; Marcos Vinícius Russo dos 
Santos; Larissa Rafaela Galatti ............................................................... 43
RELAÇÃO PEDAGÓGICA E EXPERIÊNCIA DOS ALUNOS NO 
ENSINO E APRENDIZAGEM DOS JOGOS DESPORTIVOS
Amândio Graça ....................................................................................... 63
RUGBY NO BRASIL: NA ESCOLA! É POSSÍVEL?
Eraldo dos Santos Pinheiro; Mario Renato Azevedo Júnior; Mauricio 
Migliano; Gabriel Gustavo Bergmann .................................................... 87
A PERCEPÇÃO DOS EXPERTS ACERCA DOS FATORES 
RELEVANTES PARA O DESENVOLVIMENTO DO JOGADOR DE 
BASQUETEBOL
Fernando Tavares; Américo Santos; Luís Gonçalves ........................... 101
TOMADA DE DECISÃO: DO ESPORTE AOS ASPECTOS 
NEUROFISIOLÓGICOS
Gustavo De Conti Teixeira Costa; Pablo Juan Greco ........................... 123
FORMAÇÃO DE TREINADORES: COMO ALOCAR UM 
DISCURSO TEÓRICO À PRÁTICA?
Isabel Mesquita ..................................................................................... 143
IMPORTÂNCIA DA COGNIÇÃO PARA O JOGAR DE QUALIDADE 
NO FUTEBOL
Israel Teoldo; José Guilherme; Júlio Garganta ..................................... 169
O ENSINO DOS ESPORTES DE RAQUETE: UMA ATUAÇÃO 
PEDAGÓGICA DIVERSIFICADA
Layla Maria Campos Aburachid ........................................................... 217
ANÁLISE DA PERFORMANCE ESPORTIVA COM FOCO NAS 
CARACTERÍSTICAS PSICOSSOCIAIS: EM BUSCA DE UM 
MODELO TEÓRICO
Lenamar Fiorese Vieira; José Roberto Andrade do Nascimento Junior; 
Andressa Contreira; William Fernando Garcia; Marcus Vinicius 
Mizoguchi ............................................................................................. 237
A INICIAÇÃO AO ANDEBOL (HANDEBOL) – UMA ABORDAGEM 
CENTRADA NO DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS 
DE JOGO
Luísa Estriga ......................................................................................... 255
TRAINING ATHLETES’ CHOICES USING A SIMPLE HEURISTIC 
APPROACH
Markus Raab; Sylvain Laborde; Mariana Lopes; Pablo Greco ........... 271
FORMAÇÃO DE TREINADORES ESPORTIVOS: REALIDADE E 
PERSPECTIVAS
Michel Milistetd; William das Neves Salles; Vinicius Zeilmann Brasil; 
Michél Angillo Saad; Juarez Vieira do Nascimento ............................. 285
A COGNIÇÃO EM AÇÃO: PROPOSTA DE UM MODELO DE 
TREINAMENTO TÁTICO-TÉCNICO DA TOMADA DE DECISÃO 
NOS JOGOS DESPORTIVOS COLETIVOS
Pablo Juan Greco; Juan Carlos Perez Morales; Henrique de Oliveira 
Castro; Gibson Moreira Praça ............................................................... 311
INICIAÇÃO ESPORTIVA UNIVERSAL: O JOGO DO “ABC” NA 
ALFABETIZAÇÃO ESPORTIVA
Pablo Juan Greco; Juan Carlos Pérez Morales; Layla Campos Aburachid; 
Mariana Calábria Lópes; Schelyne Ribas da Silva; Rodolfo Novellino 
Benda .................................................................................................... 335
ACTUACIÓN DOCENTE DEL ENTRENADOR PARA EL 
DESARROLLO DE LA TOMA DE DECISIONES DE JUGADORES 
DE VOLEIBOL EN ETAPAS DE FORMACIÓN
Perla Moreno Arroyo ............................................................................ 261
LA INTERVENCIÓN DEL ENTRENADOR A TRAVÉS DEL 
ANÁLISIS DE LAS TAREAS DE ENTRENAMIENTO
Sergio J. Ibáñez; Sebastián Feu; María Cañadas; Javier García ........... 381
TALENTO ESPORTIVO: TEORIA E PRÁTICA
Adroaldo Gaya; Vinícius Denardin Cardoso; Anelise Reis Gaya; Alberto 
Reinaldo Reppold Filho ........................................................................ 411
SOBRE OS ORGANIZADORES
Profa. Dra. Kátia Lúcia Moreira Lemos
Professora da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia 
Ocupacional (UFMG)
Coordenadora do Grupo de Estudos em Sociologia e Pedagogia do 
Esporte (GESPE)
Prof. Dr. Pablo Juan Greco
Professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia 
Ocupacional (UFMG)
Coordenador do Centro de Estudos em Cognição e Ação (CECA)
Prof. Dr. Juan Carlos Pérez Morales
Professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia 
Ocupacional (UFMG)
Membro do Centro de Estudos em Cognição e Ação (CECA)
COLABORADORES
Prof. Ms. Gibson Moreira Praça
Professor do Departamento de Educação Física (UFVJM)
Membro do Centro de Estudos em Cognição e Ação
Prof. Ms. Gustavo de Conti Teixeira Costa
Professor da Faculdade Estácio de Sá
Membro do Centro de Estudos em Cognição e Ação
Prof. Ms. Henrique de Oliveira Castro
Membro do Centro de Estudos em Cognição e Ação
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor
Prof. Dr. Jaime Arturo Ramírez
Vice-Reitora
Profa. Dra. Sandra Regina Goulart Almeida
Diretor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia 
Ocupacional
Prof. Dr. Sérgio Teixeira da Fonseca
Vice-diretor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia 
Ocupacional
Prof. Dr. Herbert Ugrinowitsch
Chefe do Departamento de Esportes
Prof. Dr. Fernando Vitor Lima
EQUIPE EDITORIAL
ORGANIZADORES
Profa. Dra. Kátia Lúcia Moreira Lemos EEFFTO/UFMG
Prof. Dr. Pablo Juan Greco EEFFTO/UFMG
Prof. Dr. Juan Carlos Pérez Morales EEFFTO/UFMG
REVISORES
Prof. Dr. Pablo Juan Greco EEFFTO/UFMG
Prof. Ms. Gibson Moreira Praça DEFI/UFVJM
Prof. Ms. Gustavo Conti Teixeira Costa EEFFTO/UFMG
Prof. Ms. Henrique de Castro EEFFTO/UFMG
CONSULTORA DE NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Íris da Silva – Bibliotecária CRB6 2283 – EEFFTO/UFMG
15
DESPORTO E UNIVERSIDADE: URGÊNCIA DE REVISÃO COM OS OLHOS DA 
FILOSOFIA E DA ARTE
Jorge Olímpio Bento1
Os homens não desejam aquilo que fazem, mas os objetivos que os levam a fazer 
aquilo que fazem.
Platão, 427-347 a.C.
Começo com um aviso que deve merecer atenção da parte dos 
leitores: tenham muito cuidado comigo, porquanto ando na contramão, 
apostado em atrapalhar o tráfego! Na contramão do quê? 
Eu digo prontamente, sem delongas ou entretantos ou falinhas mansas: 
na contramão de uma era de cores e contornos medievais, dominada pela 
banalidade, insânia e trivialidade, pelo desprezo do património utópico, pelo 
‘império do efémero’,	do	superficial,	do	vazio	asfixiante	e	da	mesquinhez	
aviltante, pelo pragmatismo e utilitarismo de vistas curtas e exíguas, pela 
categorização e envernizamento do homo festivus como homo aestheticus, 
pelo entretenimento e hedonismo compulsivos e desenfreados, pelo 
egocentrismo e hiperindividualismo chocantes e desumanizantes, pelo 
pensamento (?) binário, de polaridade simplória e dicotomias primárias, 
simplista e reprodutor do ‘mainstream’ e do senso-comum.2 
Procuro objetivamente transitar, como peão avisado, desperto e 
perscrutador, na capciosa e traiçoeira faixa do alastramento e consentimento 
da barbárie, do canibalismo subtil, mas brutal e cruel, do desfortúnio 
cotidiano e da regressão civilizacional, do crescimento da ignorância 
arrogante e das certezas miseráveis, das mentalidades modeladas pelo 
estilo ‘bunker’, da ditadura e do endeusamento das métricas, dos números 
e	dos	gráficos,	do	apagão	da	lucidez,	do	desincentivo	e	da	desmoralização	
da capacidade de pensar crítica e livremente, da ‘funcionalização’ da 
educaçãoe formação e da ação dos professores, da ascensão dos padrões 
1 Professor Catedrático e Diretor da FADEUP-Faculdade de Desporto da Universidade 
do Porto.
2 SAFATLE, Vladimir. Pensamento binário, Folha de S. Paulo, p. A2, 28.07.2015.
16
e ‘valores’ tecnocráticos, da involução mental, da diminuição da visão 
complexa e eclética do mundo, da realidade e da vida, do ressurgimento 
e da proliferação do fanatismo e das verdades apodíticas, baseadas na 
economia e estatística e, quiçá, em disciplinas estranhas e ocultas, da 
imposição de uma ‘ciência e pesquisa de eunucos’, ao serviço do sultão ou 
mandarim	e	dos	seus	beneficiários	e	financiadores.	
Não se estranhem: eu trafego propositadamente nestas pistas, porém 
em sentido contrário, para ocasionar o embate e o choque, para provocar 
estilhaços incómodos e atear, com labaredas acesas, discussões assanhadas! 
É com este circunstancialismo que venho falar da Universidade e 
do Desporto como ‘artefactos’ e ‘artífices’, como instituições e fatores 
de construção da ‘artificialidade’, franqueadora da passagem dos 
‘hominianos’ a humanos. Não venho desamparado. Trago comigo uma 
declaração de apoio, escrita por Friedrich Schiller (1759-1805): “A Arte 
é a mão direita da Natureza. Esta última deu-nos apenas o ser, a primeira 
fez	de	nós	homens.”	Uma	outra	firmada	pelo	punho	de	Fernando	Pessoa	
(1888-1935):	“É	de	meu	natural	ser	artificial.”	E	ainda	estoutra,	assinada	
por Vinicius de Moraes (1913-1980) em A Garota de Ipanema: “A beleza 
é fundamental.” Sim, a beleza dos sentimentos, das atitudes, das palavras 
e gestos é o alicerce e o pilar que suportam a humanidade levantada sobre 
a animalidade.
Valho-me, não por último, do amparo de Karl Marx (1818-1883), 
sabendo quão perigoso é socorrer-me dele. O barbudo e façanhudo, 
facundo e provocador analista e pensador, hodiernamente amaldiçoado e 
proscrito dos círculos do diletantismo e da masturbação do ‘politicamente 
correto’, seguindo a esteira dos antigos, inseminadores e percursores 
filósofos	e	mitólogos	helenos,	fundamentou	a	tese	da	impossibilidade	do	
mundo humano-social se distinguir do mundo animal, sem ser modelado 
segundo “as leis da beleza”, sempre e em toda a parte, desde a sociedade 
primitiva até ao presente. Quer dizer, a ‘artealização’, a ‘estetização’ e 
‘estilização’ do mundo humano, das celebrações e rituais, dos contextos, 
corpos, objetos e utensílios são pressupostos antropológicos, contínuos 
e trans-históricos da sociedade. As diversas e extremamente distintas 
formas do labor estético constituem a marca singular de uma dada época, 
17
humanizando e socializando as emoções, os paladares e os sentidos.3
Para não deixar, por mãos alheias, os meus créditos de guerreiro de 
má e terrível fama, abro as hostilidades, atirando esta pedrada pesada e 
pontiaguda:	O	papel	de	oficina	de	‘artesanato’, de ‘artesão’, de ‘ourives’ 
ou ‘tecelão’	 de	 peças	 de	 retoque	 fino,	 de	 critério	 elegante	 e	 de	 gosto	
apurado, atribuído à Universidade e ao desporto, está abandonado ou 
subalternizado	nas	reflexões	e	nas	linhas	de	investigação,	tal	como	a	sua	
vinculação ao Humanismo e Iluminismo. Como se fosse absolutamente 
normal e não houvesse nada a perturbar o nosso olhar.
Ainda poderemos chamar desporto a muitas das suas manifestações 
na atualidade? Mais, sendo o desporto uma expressão do que é o indivíduo 
humano, um ‘ser excessivo’ e ‘transfronteiriço’, propenso a exceder 
e quebrar os limites e as amarras instintivas e naturais, a afastar-se e 
distinguir-se do animal, mas igualmente a regredir para o ponto de partida, 
para a fronteira da animalidade, como está a tematização deste afastamento 
e recuo? Suscita aplauso e louvor a elaboração das vias e balizas para esta 
apreciação? Ou será que ela é infundada e não tem carácter de urgência?4
O	 empreendimento	 de	 edificação	 da	 cidade	 humana	 é	 obra	 da	
filosofia,	da	cultura,	da	arte,	da	ciência	e,	claro,	também	do	desporto.	A	obra	
é	muito	difícil,	porque	a	floresta	da	animalidade	é	densa,	cresce	e	avança	
sem esforço. O Código de Hamurábi (escrito pelo rei com o mesmo nome, 
na Mesopotâmia, aproximadamente em 1700 a. C.) e os ‘libertadores’ 
3 LIPOVETSKY, Gilles & SERROY, Jean. A estetização do mundo: viver na era do 
capitalismo artista, p. 16. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. (Oferece-se chamar a 
atenção para a extraordinária multiplicação das tecnologias e usos do corpo, assim como 
para a expansão registada pelo desporto na segunda metade do século passado, a ponto 
de ‘desportificar’ a sociedade, as linguagens, os estilos de vida, o vestuário, etc. Não 
por acaso, há intelectuais, uns movidos pelo preconceito e ressabiamento e outros pela 
constatação factual, que rotulam o século XX como “esse estranho século do desporto”).
4 Como é sabido, o limiar de tolerância à violência altera-se e é um dos indicadores da 
civilização. Ora o desporto é confabulação de uma violência simbólica, não podendo 
descambar para o combate de vida e de morte, alicerçado na violência meramente física, 
inerente à animalidade e bestialidade. Mais, ao longo da história, o código de regras 
do desporto sofreu alterações e várias modalidades desportivas foram banidas, devido 
exatamente ao facto de não se compaginarem com o limiar de tolerância à violência. O 
que é que vemos hoje? A emergência de formas brutais e grotescas de prática desportiva! 
Não está na hora de levantar a voz contra esta involução? Ou será que a cegueira ética 
impede de ver semelhantes aberrações? 
18
Mandamentos de Moisés (redigidos, no Monte Horebe, cerca de 1512 a. 
C.) caíram, paulatinamente, no esquecimento; deixaram de ser ensinados, 
aprendidos, observados e praticados. Está bem assim? Batemos palmas de 
contentamento?
II
Desde os primórdios da civilização, a sabedoria humana tem 
consistido em estabelecer a prevalência do espiritual, moral e sagrado 
sobre o material, o animalesco, mundano e profano, e em criar instituições 
que encarnam, difundem e consolidam essa primazia. 
Nessas instituições repousa a incumbência de indicar as metas e 
sentidos do processo civilizacional, de fornecer as referências, energias e 
estímulos que animam os nossos passos, as pernas que permitem avançar, 
os braços que ajudam a subir, os olhos que possibilitam discernir, os ideais 
que permitem sorrir. Elas concebem as artes, os artefactos, os instrumentos 
e os métodos que nos facultam e intimam a tornar possível o impossível, 
próximo o distante, realizável o idealizável, factual o virtual, familiar o 
estranho,	a	perseguir	o	infinito	e	a	apresentar	mais	compreensíveis,	leves,	
palpáveis e tangíveis os trágicos, profundos e indecifráveis mistérios da 
vida.
A história da Humanidade é contada e interpretada pelo papel e 
trajeto das suas instituições ao longo dos tempos, pela sobrevivência e 
transformação de algumas, pelo desaparecimento e substituição da maioria 
delas, em sintonia com os arcanos e anseios, as contradições e os problemas 
de cada época. Elas são uma representação do entorno em que surgem 
os	poetas	e	vates,	os	filósofos	e	pensadores	e	 toda	a	 sorte	de	artífices	e	
pontífices	que	constroem	e	abatem	mitos,	causas,	paradigmas,	utopias	e	
distopias, educam os povos e lançam pontes entre o passado, o presente e 
o futuro.
A Universidade e o desporto incluem-se nesse escol de instituições 
e estruturas. E têm muito em comum: são um produto da Modernidade, 
do Humanismo e Iluminismo, recebem destes a base da sua fundação e a 
bússola	da	sua	missão.	Isto	é,	o	clarão	da	filosofia	e	da	cultura	ilumina	a	
Universidade e o desporto, com o fulgor dos axiomas gregos da ‘arété’, 
da perfectibilidade e transcendência. Ambos almejam prosseguir na senda 
19
do Homem Novo, dono e senhor da natureza, um ser de liberdade e dos 
possíveis,	fora	de	escala,	sem	especificidade,	essência	natural	e	identidade	
a priori,fiado	 na	 logodiceia e descrente da teodiceia. Visam tornar os 
humanos sujeitos da sua vida, aptos a superar a inumanidade de que somos 
parte, sob a luz da razão, da ética e da estética, dar-lhes uma arquitetura e 
‘forma’ interiores e exteriores, conformes às grandezas idealizadas. 
Wilhelm von Humboldt (1767-1835) bebeu nessa fonte a inspiração 
para, na peugada de Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494), de 
Voltaire (1694-1778), de Rousseau (1712-1778), de Kant (1724-1804), 
de Pestalozzi (1746-1827) e Goethe (1749-1832), entre tantos outros, 
formular, em 1810, a ‘ideia’ da Universidade Moderna e coligir, para a 
respetiva concretização, os elementos do conceito de formação (Bildung). 
Antes dele, Guts Muths (1759-1839) tinha projetado o Homo 
Gymnasticus, como versão do Homem Novo e da sua busca, na obra 
Gymnastik für die Jugend (Ginástica para a juventude), escrita em 1793. 
Pestalozzi segue na mesma via ao fundamentar, em 1807, os atos corporais 
como autênticos exercícios ‘anímicos, volitivos e morais’; e ao prescrever 
o mandamento do ‘desenvolvimento’ do corpo, de não o abandonar à 
espontaneidade natural.
O Homo Olympicus, de Pierre de Coubertin (1863-1937) incorpora 
essas bitolas. Com elas, o barão e os seus seguidores recriaram o desporto 
como expressão da relação de ‘natura’ e ‘cultura’ na	 configuração	 do	
homem e do seu corpo, da submissão da natureza originária e primeira aos 
fins	da	segunda.	Apresentaram-no	como	metáfora,	paradigma	e	versão	de	
uma ‘filosofia da transcendência’ e da ‘exaltação da vida’, com ‘pretensão 
de totalidade’ e de aplicação em todos os campos: enlaçando o bem (ética), 
o belo (estética), o respeito por si e pelos outros (fair-play), a consciência 
de valores (moral) e a elevação da existência ao plano da excelência (arte, 
arété, virtude).
Deste jeito no desporto encontram repercussão, guarida e observância 
as exortações e prescrições do Humanismo e Iluminismo, erigindo-o em 
‘fator de regeneração ética’ da sociedade, modelando-o com uma ‘moral 
em ação’.
Em suma, a Universidade, o olimpismo e o desporto provêm da 
20
mesma fonte matricial. Temos que os revisitar, munidos da mesma noção 
e visão, com o intuito de sopesar o abandono da mensagem original, 
sacrificada	no	altar	do	utilitarismo	demencial.	Com	lentes	conceitualmente	
aprimoradas,	 não	 será	difícil	 verificar	 e	 reparar	 a	medida	da	 sua	 insana	
afetação pela loucura da contemporaneidade. 
III
Como	é	sabido,	os	nossos	ancestrais	gregos	definiram-nos	como	entes	
‘artísticos’ e ‘simbólicos’.	A	definição	contém	um	requisito	para	sermos	
humanos. Por conseguinte, somos criadores e consumidores de símbolos 
que	 ritualizam	 a	 vida	 e	 associam	 as	 ações	 e	 objetos	 a	 significados	 que	
transcendem os seus efeitos palpáveis. Isto está bem expresso na citação 
de Platão, que inaugura este texto.
Vivemos num universo simbólico. Somos protagonistas de 
símbolos práticos, de ‘atos intencionados’, interpretativos e instituidores 
de	 finalidades	 e	 sentidos,	 codificando,	 organizando	 e	 regulando,	 com	
significantes	e	significados,	a	nossa	conduta.	
Este congresso é, portanto, um ato simbólico, como o são todos os 
praticados na instituição eminentemente simbólica que é a Universidade. 
Ele consagra o regresso à Grécia Antiga, ao contexto onde melhor 
coabitaram a academia e o desporto. Por isso é um ensejo para evocações, 
elogios e renovações, que acordem a inquietação perante os desvarios e 
descaminhos das circunstâncias.
É	nesta	conformidade	que	aqui	venho,	de	corda	ao	pescoço.	O	fio	de	
inquietude, que me leva a pensar e questionar a Universidade e o desporto, 
é o mesmo; é tecido com as mesmas equações, inquietações, intenções 
e preocupações. Contudo, não basta apresentar a substância e textura do 
novelo. Estamos aqui para dele tirar ilações. 
Venho aqui aguilhoado pela advertência de Teixeira de Pascoaes, e 
amedrontado pela probabilidade de ser atingido pelo seu ferrão pontiagudo: 
“Sempre que o homem hesita na sua humanidade, aparece o macaco.” E 
também para corresponder ao seu ajuizamento: “A verdadeira liberdade 
consiste em obrarmos em nosso próprio nome, em sermos nós em nossas 
21
obras e pensamentos.”5 
Não olvido este juízo, bem como o do Padre António Vieira (1608-
1697): “Cada um é as suas ações e não outra coisa (…) A verdadeira 
fidalguia	 é	 a	 ação.”	 Este	 carrego	 não	 é	 maior	 do	 que	 a	 esperançosa	
convicção de encontrar companheiros de eleição em todos quantos trazem 
às	páginas	deste	livro	e	às	sessões	do	congresso	o	seu	labor	e	reflexão.
“Sem vontade nada feito”, proclamou Aristóteles (384-322 a.C.), 
lembrando que, só através da ação, podemos converter em realidade as 
irrealidades e inexistências que idealizamos e pensamos.
A atitude passiva e demissionária aliena e tolhe os nossos passos. A 
acrasia, a desídia, gravidade, indolência, preguiça e obesidade nos olhos 
e sentimentos, no coração e na alma puxam para o chão e para a inércia, 
afundam no pasmo e na falsidade, no nível zero de humanização; e atiram 
para fora da órbita da dignidade. A fé, sem obras, é morta, postula o credo 
cristão.
O lema do desporto e da vida - Citius, Altius, Fortius! - apela a 
sonhar e realizar. A	não	cair	na	tentação	de	converter	a	reflexão	em	lamúria	
inibidora da ação; e na ingénua espera de ver, de maneira espontânea, 
ultrapassados os males denunciados e realizados os sonhos idealizados, 
sem o empenho correspondente. 
Assumamos a necessidade e o dever de voltar a elaborar, divulgar e 
lutar	por	utopias	e	não	ficar	à	espera	de	que	se	concretizem.	Como	disse	
Eurípedes (ca. 480-406 a.C.), “o tempo não se ocupa em realizar as nossas 
esperanças; faz o seu trabalho e voa.” Somos nós que temos de apontar os 
ideais e utopias, indicadores dos roteiros por onde nos cumpre caminhar, 
no dizer de Eduardo Galeano (1940-2015).
IV
A minha participação nesta douta congregação, dedicada ao estudo 
da	nossa	área	de	atuação	académica	e	profissional,	suscita-me	um	estado	de	
alma pintado de gratidão e de regozijo. Sinto-me grato pela oportunidade, 
que me é oferecida, de discorrer sobre o que me pica e fere as entranhas e 
a pele. É verdade que faz escuro na Universidade e no desporto; vejo-os 
5 PASCOAES, Teixeira de. Arte de ser português. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998.
22
envoltos em densa neblina, pedindo um foco de iluminação. Não é menos 
verdade que venho apontando e conclamando, nos últimos anos, para a 
necessidade de urgente revisão.
Porém, não obstante a aliciante moldura de intenções, assola-
me a dúvida de não conseguir este panegírico de abertura do congresso 
com a “imaginação, fecunda e santa”, com “a vida e a luz de tudo”, que 
Teixeira de Pascoaes vislumbra na Senhora da Noite. Ela, sob a forma de 
“erma donzela”, sobe, no lusco-fusco, aos cerros do Marão (a serra mais 
alta do reino maravilhoso de Trás-Os-Montes, meu berço alimentício e 
inspirador), para durante a noite se metamorfosear em aurora e irradiar 
um	lume	que	rompe	“a	sombra	indefinida,	o	espectro	mudo”;	e	desce	lá	do	
alto, carregada de “noturnos sonhos”, para inundar de sol as encostas, os 
vales, outeiros e pinheirais da negra solidão, convertendo-os em faceiras 
de sorrisos e searas de trigo.
Não logrando abeirar-me da concretização de tal intento, sobra esta 
gratificação:	“Eu	vos	abençoo,	malucos,	lunáticos,	mágicos	(…),	poetas	e	
os que saem para a rua, sem chapéu, por divino esquecimento e os que vão 
a falar só, pelos caminhos (...) e os que olham a lua, latindo intimamente 
(...) e os que se não conformam, os que não seguem a lei nem o costume, 
todas as criaturas onde o anjo da infância sobrevive.”6
Saúdo os organizadores deste congresso. Saúdo o desporto e todos 
quantos	justificam	o	seu	ideário.	Saúdo	a	vida!	Saúdo	todos	os	congressistas	
pela generosidade e pelo simbolismo da decisão da sua presençae empenho, 
por afrontarem o conformismo dos hábitos e costumes. Ao homenageá-los, 
nesta	hora	em	que	as	palavras	perderam	fiabilidade,	estou	 igualmente	a	
enaltecer todos quantos honram o desporto e a Universidade, fazem jus 
à altura do ritual do casamento entre os dois, pela conduta exemplar, por 
cultuarem a elegância e fulgurância da palavra subida, límpida e culminante 
e, assim, erguerem bem alto o legado que nos veio de tão longe.
Importa que se diga algo mais. A tocha olímpica representa o fogo 
de Prometeu. E o estádio é, nem mais nem menos, o templo onde esse 
fogo arde para nos mostrar o céu da admiração e encantamento. Uma ‘lux 
indeficiens’, que nunca se extingue e apaga, por mais densa que seja a 
6 PASCOAES, Teixeira de. Senhora da Noite. Verbo Escuro. Lisboa: Assírio & Alvim, 
1999.
23
escuridão em nosso redor. Quando o atleta sobe as escadas, que levam 
à pira olímpica, e a ateia com a chama que transporta nas mãos e dentro 
de si, está a devolver aos deuses, aumentado e multiplicado, o fogo que 
Prometeu lhes roubou para o entregar às criaturas de Epitemeu. É essa 
luz das estrelas acima de nós da nossa baixeza, do nosso espírito, das 
artes, das técnicas, das habilidades, das nossas escolhas e opções éticas 
e morais, do nosso Humanismo e Iluminismo, da nossa racionalidade e 
maioridade humanas, do aprimoramento da nossa imperfeição, da busca 
incessante da nossa imperfeita perfeição, do controlo, domínio, superação 
e	transcendência	da	nossa	pequenez	e	figura	grotescas,	sim,	é	tudo	isso	que	
vimos aqui celebrar e proclamar. 
Ao efetuarmos este ato e avocarmos estes compromissos no claustro 
da Universidade, local de consagração e meditação, destinado a abrigar, 
fecundar, fomentar e irradiar a erudição e a espiritualidade, estamos a optar 
por uma estrada de largo alcance. Esta vai para além de nós e deste lugar; 
leva-nos ao palco de comprovação das obrigações e responsabilidades 
cívicas e intelectuais que, na qualidade de académicos, nos atam à polis 
com laços indestrutíveis. Com isso emitimos sinais de que nos sentimos 
obrigados	a	uma	remissão	discursiva	e	prática	dos	fins	e	das	orientações	da	
Universidade	e	do	desporto,	da	sociedade	e	da	vida.	Enfim,	comprometemo-
nos a questionar o idioma e a vulgata do ‘utilitês’, hoje em alta, secando e 
sufocando tudo à sua volta.
V
Por isso mesmo, a motivação, que aqui nos congrega, não é ingénua. 
Constitui um preito de reconhecimento e juramento de passagem do verbo 
à	ação.	Visamos	edificar	uma	ponte	para	ultrapassar	o	enorme	fosso	entre	
a importância que o desporto usufrui na sociedade e o desdém que lhe 
é votado pela elite da alta cultura. Assim como apelamos a pôr termo à 
indiferença face ao crime de perversão e apoucamento da sua vocação 
humanista, perpetrado pelos donos desta hora e pelos seus avençados e 
súbditos nos órgãos mediáticos.
Inclusive na Universidade o desporto é encarado como assunto 
periférico, com condescendência arrogante e sobranceira, cuidadosa de 
agir dentro das fronteiras do politicamente correto. 
24
Seria estultice da nossa parte, se nos limitássemos a chorar lágrimas 
de crocodilo ou a vomitar impropérios contra esta situação, em vez de 
cuidarmos das causas que a provocam, bem como dos argumentos e 
remédios para a debelar.
Píndaro (518-438 a. C.), nas suas odes, concita para a celebração 
religiosa dos atletas. Nele é notório o esforço e o engenho para valorizar 
as proezas atléticas, para as situar no pináculo da cultura, e criar delas 
uma imagem de sublimidade: “Olímpia, mãe dos jogos de áureas coroas, 
senhora da verdade!” 
Salvo raras exceções, a disposição para louvar o desporto não se 
prolongou na nossa tradição cultural. Muitos intelectuais diminuem e 
descartam a sua função. Não é raro que vejam a popularidade do desporto 
como indício de decadência ou afastamento de uma suposta ‘autenticidade’ 
cultural,	“que	jamais	é	definida	com	clareza.”7
Mesmo muitos dos que gostam dele não logram captar o seu 
fundamento essencial, a sua função primordial. Faltam-lhes olhos 
para perceber que o desporto pode não mudar a nossa natureza, mas 
transforma-a, mudando o que escolhemos ser; pode ser uma centelha para 
soltar as consciências das cadeias da alienação e manipulação à solta. E 
porquê? Porque a paixão pelo desporto não implica que o indivíduo se 
enrede nele. Do útero, que gera a turba desregrada e virulenta, também 
nascem	desígnios	límpidos	e	floridos.
Em	regra,	vigoram	a	depreciação	e	o	menoscabo,	que	identificam	o	
desporto	 com	uma	atribuição	 secundária,	 sem	elevados	fins	 intrínsecos,	
restando-lhe servir apenas para a satisfação de externalidades, ser 
instrumentalizado para interesses, mais ou menos escuros, de duvidosa 
credibilidade. 
A	dificuldade	de	elogiar	o	desporto	demonstra	que	continua	vigente	
um tipo de racionalidade inibidora da descoberta e interpretação da 
metafísica nos movimentos e atos corpóreos, de que os corpos e os feitos 
dos atletas são signos e vias para algo espiritual e transcendental. Porventura 
contaminada por um veneno idêntico ao que se inoculou no tresloucado 
7 GUMBRECHT, Hans Ulrich. Elogio da beleza atlética, p. 28. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2007.
25
‘publish or perish’ da ‘papermania’ e dos ‘salami papers’, aquela visão 
não concebe a competição desportiva em cooperação e cumplicidade com 
a arété grega, com a harmonia e unidade de técnica, performance, ética, 
estética,	excelência,	magnificência,	excelsitude	e	virtude.	
Essa racionalidade desabitada de sensibilidade impede de ver nos 
gestos	 e	prestações	corporais	 transfigurações	eivadas	de	espiritualidade.	
Ignora a recomendação de Aristóteles (384-322 a.C.) para atribuirmos 
importância às coisas que nos cercam, laborarmos no aperfeiçoamento 
do relacionamento com elas, se queremos realmente melhorar-nos a nós, 
ver além do material e aceder ao imaterial. Tal como olvida a valoração 
extraordinária que Homero (séc. IX a.C.) concedeu às obras difíceis e bem 
conseguidas, entre elas os feitos desportivos, realizadas com os pés e as 
mãos.
Eis	algo	que	é	bonito	afirmar,	mas	não	é	bastante.	Exige-se	que	não	
fiquemos	por	isso;	a	coerência	aconselha	a	extrair	ilações	e	consequências	
para as linhas de pesquisa, para a elaboração e formulação dos argumentos 
de	 legitimação	 e	 para	 a	 definição	 das	 instrumentalizações	 do	 desporto,	
nesta época ensandecida pela loucura e pelo viés do pragmatismo e 
utilitarismo mais extremados e do negócio e lucro mais obscenos. Pelo 
predomínio absoluto do animal laborans e do homo eficiens e faber sobre 
o homo ludens.
VI
Ora	nós	estamos	aqui	para	afirmar	o	desporto	e	as	suas	instituições	
como	 desejáveis	 e	 indispensáveis	 à	 justificação	 e	 salvação	 da	 nossa	
precária existência. Certamente, o desporto e os atletas não ganham muito 
com o facto de lhes prestarmos este tributo. Somos nós que ganhamos; ao 
enaltecermos o fascínio e a paixão que o desporto nos causa, o prazer que 
os seus espetáculos nos proporcionam, exercitamos o dever e a pulsão da 
gratidão	sem	destinatário	específico.	É	uma	gratidão	à	vida	que	amamos.	
Uma recusa do registo hiper-racional de linguagens e modos de pensar 
esquecidos da necessidade de incluir as emoções nas avaliações e decisões.8 
8 Se	a	racionalidade	de	não	poucos	decisores	políticos	e	afins	incluísse	o	sensível,	ser-
lhes-ia mais difícil tomar medidas que empurram as pessoas para o desvão da indignidade 
e desumanidade.
26
Concedamos que é deveras difícil elogiar o desporto, por não ser 
fácil descrever a inigualável beleza e imagética que o perfazem e nos 
oferecem momentos de contacto intermitente com o fascínio e esplendor 
das utopias da felicidade e verdade. Por ser evidente que ele atrai para 
condutas e reações ruins e pouco saudáveis. Mas isso não nos pode 
desviar da explicação central e fundamental do seuapelo: a insularidade 
e a autonomia da experiência estética em relação ao trama do quotidiano, 
driblado e posto de lado durante a execução desportiva. Esta somente é 
realidade exterior na aparência, porquanto tem o singular poder de evocar 
e inundar a nossa alma de todos os sentimentos possíveis e de todos os 
conteúdos vitais. Nisto reside algo muito valioso que confere ao desporto 
“o poder por excelência da arte”, apontado por Hegel (1770-1831) nas 
suas	reflexões	sobre	estética.		
Kant formulou que a arte é bela, quando parece ser natureza. Esta 
asserção aplica-se inteiramente ao desporto. Uma jogada ou um gesto 
são belos por nos parecerem atitudes naturais dos seus autores. Mais, o 
desporto congrega o belo e o feérico, a qualidade e a grandeza, a forma 
que limita o objeto e a ilimitabilidade que nele se expressa, aquilo que, ao 
mesmo tempo, nos aprimora e sobrepuja.
Poderá contrapor-se que isto se descortina e experiencia noutros 
objetos. Mas não com a intensidade e concentração torrenciais, registadas 
no desporto. Não há nada mais intenso do que assistir a um espetáculo 
desportivo, suportar a incerteza, esperar o que pode acontecer, sem ter 
a	 garantia	 de	 que	 aconteça,	 por	 ficar	 acima	 dos	 limites	 de	 previsão	 da	
prestação humana. O mesmo é dizer que a vivência estética no desporto, 
sejamos praticantes ou expectadores, sendo idêntica à da experiência 
estética em geral, distingue-se pelo facto de a nossa condição atuar perto 
do limite máximo. Oscilamos entre o aparecimento e a dissolução rápida e 
irreversível	de	formas	belas	e	magníficas	de	transfiguração	corporal,	entre	
a percepção da beleza na sua aparência física e a obrigação de a interpretar 
consoante as regras em presença. 
É isto que torna viciante o efeito estético do desporto e o torna palco 
de epifanias e artes dramáticas. Tudo nele é real e fecundo, nada é mera 
atuação	ou	fingimento.	Ele	enleia-nos	com	o	encanto	das	adaptações	dos	
corpos	a	uma	multiplicidade	de	formas,	figuras	e	funções,	resultantes	da	
27
conjugação do sacrifício e sofrimento com a dinâmica e o ritmo, o rigor 
apolíneo e o excesso dionisíaco. Repare-se, por favor, na volta triunfal 
do atleta, de braços erguidos, que acaba de ganhar uma prova no estádio 
olímpico! Ele concita aplauso e respeito por ser a imagem delicada 
e exuberante de um sábio que dobrou o destino com a administração 
harmoniosa e inteligente das suas forças. 
Nem toda a gente é capaz de ver estas ‘coisas’ subidas que ele contém. 
É	certo	que	a	beleza	e	a	magnificência	estão	latentes	em	qualquer	parcela	
da realidade, por mais pequena que seja. Porém elas são invisíveis aos 
que não possuem a sensibilidade para as captar. Mais, todos os indivíduos 
creem na existência do belo, muitos pressentem e lobrigam a sua presença 
aqui	e	ali,	mas	poucos	sabem	defini-lo.
A arte e a cultura não moram só em museus, bibliotecas, livrarias e 
salas de orquestra. Também se encontram nas festas e romarias, nas missas 
e procissões, nas confraternizações e feiras, nos estádios e nos sentimentos 
de	 alegria,	 angústia,	 choro,	 drama,	 dor	 e	 tristeza	 que	 aí	 afloram,	 nas	
identificações,	 expressões e estados de forma que se revelam em tais 
instâncias, lugares e situações.
Zygmunt	Bauman	vai	ao	âmago	da	função	da	cultura:	“Codificações	
de mecanismos engenhosos calculados para tornar suportável a vida com 
a consciência da morte.”
Está tudo dito, mas ele concretiza e precisa: a genialidade e 
“inventividade das culturas (consiste em) tornar possível conviver com a 
inevitabilidade da morte.”9
Noutra obra o magno analista da contemporaneidade aborda, com a 
sua	fina	lupa,	a	noção	de	cultura: “um fermento que evita que a realidade 
social	fique	parada	e	que	obriga	a	uma	eterna	autotranscendência.”	10
As manifestações culturais e artísticas podem comportar uma 
saudável dimensão ou função recreativa e até catártica ou escapista; mas 
não podem ser reduzidas a isso. São obra e expressão do imaterial, da 
roupa que nos veste por dentro e não se pode despir, sob pena de cairmos 
numa concepção enviesada da cultura e da arte, feita só de banalizações, 
9 BAUMAN, Zygmunt. Medo Líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.
10 BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007.
28
frivolidades, superfícies, vernizes, ruídos, de promoção do bacoco, soez e 
grotesco, de perversão da estesia. 
Não se esqueça: a arte interpreta e inspira a vida; a sua função 
suprema é a de convidar a vida a imitá-la e segui-la. A grandeza da arte 
mede-se pela sua capacidade de nos levar à ‘intuição do inexprimível’ e 
até ‘do não representável’, mesmo que estes não possam ser descritos. 
O verdadeiro artista é aquele que encontra a expressão simbólica da 
experiência transcendente.
VII
Como já apontado atrás, o indivíduo ‘hominiano’ é um sujeito da 
inclinação para o ‘excessivo’, o único dos animais com tendência para 
cometer excessos, para atingir, transgredir e violar o limite natural, para 
ter uma relação com o não vivível e usar uma fala suscetível de namorar 
e	dizer	o	não	dizível.	Excede-se,	desafia,	investe	e	vai	além	dos	limites,	
em todas as dimensões existenciais, convertendo as suas possibilidades 
naturais	em	domínios	culturais,	assim	se	artificializando	e	acrescentando	
novas	qualidades	artificiais.	
Afetado pela ‘hibridez’, ele tanto pode ser refém da feiura e do mal 
como optar pelo bem e o bom. Esta competência de opção faz dele um 
‘sujeito ético’, metafísico, sobrenatural, e místico, incompatível com a 
esfera dos meros factos. Um ‘sujeito auto-transcendente’ e ‘problemático’, 
disponível para a transgressão, para sair de si e da subjetividade, para 
buscar e apropriar o não familiar e o não existente, distendendo-se numa 
esfera superior à da objetividade e à dos factos. Somente seguindo esta via, 
é que se realiza como ‘sujeito ético e estético’, superador e transgressor do 
espaço do seu mundo estreito e fechado, para contactar com o intocável. 
É	 precisamente	 isto	 que	 perfaz	 o	 cerne	 da	 filosofia	 e	 da	 arte;	 e	
constitui	o	fim	primeiro	do	desporto	e	neste	é	visível,	tal	como	em	todas	as	
modalidades da cultura e ciência.
Filosofia,	 arte	 e	desporto	 são	uma	 forma	de	busca	e	 afirmação	da	
verdade ética e estética, da virtualidade pura. Estas ganham foros de 
realidade no momento em que se toca o impossível. Dito de outro modo, 
a	filosofia,	a	arte	e	o	desporto	são	formas	e	instrumentos	de	realização	de	
29
verdades não pré-existentes, de as inventar e produzir. 
Ao convidarem, intimarem e pressionarem o ‘artista’ a ir para além 
do seu ser atual, a lançar-se e perder-se no espaço do indeterminado, a 
aprimorar, depurar e sublimar a forma, a arte e o desporto concitam para a 
verdade, ou seja, para o que sobra, para o que resulta do excesso laborioso 
do	artífice.	É	assim,	saindo	da	esfera	da	restrita	subjetividade,	que	o	sujeito	
projeta	como	objeto	e	alvo	a	sua	identificação;	e	encontra-a	na	peregrinação	
atrás	do	inconcebível	e	incrível.	Paradoxalmente,	a	figura	lendária	e	mítica	
de Ícaro só existe por ele ter arriscado voar e expor aos raios e ao calor do 
sol	as	suas	asas	fixas	com	cera.
A	 filosofia	 e	 a	 arte	 ligam-se,	 de	 maneira	 insolúvel,	 à	 ‘liberdade 
transcendental’ ou à transcendência fundamental e fundadora do sujeito. 
Elas ostentam um carácter de desassossego e instigação, espicaçante, 
ofensivo e agressivo, apostado em remover o sujeito da mera circunstância 
animal, em dar a esta um pendor supra-subjetivo, a beirar o esplendor 
platónico do belo, do bom e verdadeiro. 
Outra	coisa	não	é	o	desporto.	Ele	configura-se	como	uma	compilação	
de medidas e padrões de criação e animação da vontade (conforme a 
fundamentação de Pestalozzi) e da coragem da liberdade do sujeito e do 
seu anticonformismo. Para sair de si e da ordem estabelecida, para setransgredir, não se acomodar e conformar à autoimagem, para ativar o seu 
outro si e se responsabilizar por essa ousadia. 
No	desporto	afirma-se,	ao	mesmo	tempo,	uma	forma	de	verdade	e	
uma forma de vida, que partilha com os outros. Por isso, ele é, cumulativa 
e essencialmente, um campo de cultivo da alteridade, da convivialidade e 
solidariedade, de aprendizagem de normas do trato humano do outro, de 
apreço e assunção de responsabilidade pelo outro.
VIII
A	ontologia,	a	questão	do	ser	e	da	sua	essência	são	objeto	da	filosofia,	
pelo menos desde Parménides (530 - 460 a.C.). Do desporto também; sim, 
é esse o coração e o assunto fulcral do desporto. 
Os pensadores gregos espantaram-se por ver, nos seres, o menos, 
o	pequenino,	 o	 insuficiente,	 o	 frágil,	 o	 imperfeito	 e	o	 rasteiro	 crescer	 e	
30
tornar-se	mais,	grande,	forte,	magnífico,	superior,	sobrenatural	e	sublime.	
A esta transformação evolutiva chamou Aristóteles ‘ousia’, percebendo 
nela a substância e essência imanentes no ser, conceitualizando a chegada 
aos limites e à maturidade, mediante a coadjuvação da experiência e do 
conhecimento. Na ‘ousia’,	 digo	 eu,	 configura-se	 o	 sentido	 da	 vida,	 a	
finalidade	vinculativa	da	nossa	existência.
Vê-se bem, o desporto, quer na sua conceção, quer na sua execução, 
é	arte	e	filosofia.	É	uma	prática	artística	e	filosófica,	na	medida	em	que	
rompe o campo do possível, extrapola a realidade, a ordem estabelecida, 
pragmática e situacional (a ‘frónesis’, de Aristóteles). Como a arte 
e	 a	 filosofia,	 ele	 tem	 como	 objeto	 a	 edificação	 do	 sujeito	 como	 força	
de	 afirmação	 da	 oposição	 e	 do	 contrariamento,	 de	 negação,	 recusa,	
rompimento e transgressão dos factos dados, apodíticos e dogmáticos (a 
‘doxa’). Como elas, o desporto não se contenta com provas e opiniões, já 
dadas	e	firmadas,	com	um	cenário	de	definição	marcado	pela	fixação	do	
contexto, tempo e lugar; visa posições, superadoras e transgressoras do 
convencional, seguindo pela via da incerteza. A verdade, que procura e à 
qual quer dar forma, é a do contacto com o limite dos factos, liberta dos 
imperativos	da	facticidade.	Logo,	a	função	utópica	da	arte,	da	filosofia	e	
do desporto é a mesma e una: mediante tocarem no intangível e intocável, 
abrem-nos as portas para uma superior forma de vida. 
Na	 filosofia	 trata-se	 de	 alargar	 as	 margens	 e	 possibilidades	 de	
conhecer, de procurar sem conhecer o que se procura, de tocar a verdade, 
mas sem cessar de continuar a procurar, sob pena de se enclausurar na 
certeza. O mesmo sucede no desporto. Atingido um objetivo, ele deixa de 
o ser, constituindo-se em ponto de partida para outra meta. 
Arte,	 filosofia	 e	 desporto	 são	 um	 oceano	 ou	 descampado	 do	
‘vaguear’; partem do contacto da naturalidade dos factos e do contacto 
com os projetos, ideias e ideais, para habitarem uma terceira dimensão: 
a do limite, a da indiscernibilidade da zona de indeterminação para além 
dele. 
No fundo, o sujeito experiencia-se a si mesmo como um limite, 
subtrai-se ao familiar, ao seu abrigo e fechamento, abre-se ao indizível, 
ao sobrenatural, ao metafísico e místico, ao devir, ao exterior, à diferença, 
31
ao outro, ao universal.11	Enfim,	coloca-se	num	horizonte	de	 infinitude	e	
impossibilidade, escalando e atravessando a montanha do possível para 
tanger o impossível, que é a dimensão da verdade e da liberdade não real. 
Esta projeção para além do familiar visa a familiaridade fundamental com 
uma forma de vida, cuja presença apenas pode aparecer como ausência.
Numa das muitas e tão assertivas frases que nos deixou, Ludwig 
Wittgenstein	 (1889-1951):	 definiu	 a	 preceito:	 “Se	 o	 lugar	 onde	 quero	
chegar fosse apenas alcançável graças a uma escada, eu renunciaria a ele, 
uma vez que ao lugar aonde quero chegar, na verdade eu já lá deveria 
estar.”	Que	síntese	excelente	para	clarificar	e	iluminar	a	função	da	arte,	da	
filosofia	e	do	desporto,	e	do	sujeito	de	cada	uma	delas!
Ademais, o desporto é uma pedagogia da superação e da admiração 
da arte e beleza das performances, próprias e alheias, e de tudo quanto lhes 
subjaz para poderem ser alcançadas. Nos atos desportivos moram uma alma 
transcendental e uma sublimação espiritual, buscando a maior liberdade 
que alguma vez se pode congeminar. Nesta conformidade eles incarnam, 
em simultâneo, uma ‘antropologia da afirmação’ da humanidade e uma 
‘antropologia da restrição’ da animalidade.
O desporto é a forma pedagógica de um imaginário ou fenómeno 
artístico	e	filosófico,	que	nele	se	torna	realidade	e	pode	ser	representado,	
conhecido e partilhado com outros sujeitos. Deste modo ele é agente de uma 
comunidade de sujeitos ou fator da vertente comunal do sujeito, potenciada 
e concretizada em torno de um fenómeno convertido em realidade factual.
Em síntese, o desporto não é uma coisa ‘utilitária’;	serve	finalidades	
éticas e estéticas, axiológicas e simbólicas que nos ajudam a escapar ao 
triste fado de Sísifo e ao pesado fardo do utilitarismo. Ele encontra um 
alicerce sólido e uma polinização frutífera num matrimónio de comunhão 
de	bens	com	a	filosofia,	a	arte	e	a	cultura.
Este é um legado dos gregos, do qual temos a obrigação de ser bons 
gestores e dele extrair as devidas ilações para as tarefas de formação, 
11 Ludwig Wittgenstein caracterizou a ética como esfera do “sobrenatural” (“acima da 
natureza”), do miraculoso e do místico, apostada em operar um milagre na existência e 
no mundo. Dito de outro modo, a ética tem como vocação olhar para a vida e o mundo 
como objetos de um milagre, de modo a que existam não como são, mas, sim, como 
místicos. Esta asserção é central na matriz axiológica do desporto.
32
de	 educação,	 de	 pesquisa,	 de	 problematização,	 reflexão,	 aplicação	 e	
instrumentalização	do	desporto,	conformes	aos	desafios	desta	era.	
Ao dizer isto, estou a proclamar, de modo inequívoco, a impossibilidade 
da legitimação plausível e do entendimento cabal do desporto fora da sua 
conexão	com	a	arte	e	a	filosofia	(entendida	esta	como	teoria	de	indagação	
do mundo e de salvação da vida). Mais, proclamo que os estudos sobre 
tática, técnica e temas quejandos dos jogos desportivos, após se terem 
autonomizado e independentizado, carecem de regressar à sua casa mãe: à 
mansão da ‘arété’,	da	cultura,	da	filosofia	e	da	pedagogia,	da	axiologia,	da	
ética	e	da	estética,	para	receberem	sustento,	alento,	impulso	e	influxo	para	
novos voos em direção à arte, à beleza, à verdade. O seu casamento com 
temáticas, externalidades e mais-valias, mesmo que elas sejam atraentes, 
importantes e rendosas nos nossos dias (p. ex., atividade física, saúde, 
obesidade), estafou-se e gastou-se, requerendo outros temperos; é chão 
que não dá mais uvas, pelo menos com o tamanho e sabor que satisfaçam 
os paladares exigentes.
IX
“Vivemos tempos assustadores”; para os equacionar e combater temos 
que responder na mesma moeda: “precisamos de conceitos assustadores”, 
prescreve Charles Esche.12 
Com esta apresentação conclamo-vos, muito queridos companheiros 
e cúmplices da caminhada existencial, para a urgência de repensar 
a Universidade e o desporto como observatório de contemplação e 
consideração da beleza e da sensibilidade. 
Citius, Altius, Fortius! Este pregão instala o desporto nas alturas. 
Invetiva-nos por nos mantermos agarrados e presos às cadeias da rasura 
do	chão,	em	vez	de	subirmos	para	os	píncaros	da	altitude	e	magnificência.	
Aviva-nos a convicção de que temos uma vocação alada: somos seres 
obstinadamente transcendentes, porém só criamos algo belo e mágico com 
transpiração abundante. Assemelhamo-nos a anjos nascidos sem asas; e, 
realmente, nascemos sem elas. Contudo, impende sobre nós a obrigação 
de subir e voar. Não a conseguimos cumprir, sem criarmos asas e fazê-las 
crescer. 
12 Entrevista a Charles Esche, Jornal Público, p. 26-28,22.12.2014.
33
Parafraseando José Saramago (1922-2010), temos que fazer jus ao 
nosso nome: levantar-nos do chão, lamber as feridas como um ‘cão de 
lágrimas’, rasgar o cerco da cegueira com a luz dos sonhos, sobreviver 
numa jangada de pedra face às ondas e aos ventos da alienação e opressão, 
contrariar a propensão para elefante, libertar-nos da condenação e fado de 
Caim e subir no céu como morteiros impulsionados pela pólvora do espírito 
e ousadia, para escrevermos, com as letras e a tinta do compromisso e 
decência, um manual da existência e deixarmos de nós um memorial do 
impossível. 
Olhemos o desporto e a Universidade por esta fresta de luz e 
esperança. Examinemos um e a outra com o estetoscópio da arte, com o 
fito	de	nos	 apercebermos	do	 seu	 estado	 e	dos	 remédios	que	necessitam	
tomar para debelar os males detetados.
Convém lembrar que a arte tem uma função curativa; e esta não é 
apenas mítica. A arte é útil (não ‘utilitária’), ferramental ou instrumental 
e imprescindível, porquanto tem o condão de imaginar coisas que não 
existem. Imaginar o que ainda não existe é um pressuposto indispensável; 
porque, se não conseguirmos imaginar, será muito difícil criar. Por 
outras palavras, a arte tem um papel funcional dentro das estruturas do 
pensamento; cumpre-lhe assumir relações reais com o mundo, fazer 
propostas para mudanças concretas deste.
O espaço da arte é, pois, o da imaginação de coisas diferentes das que 
existem. Logo com ela podemos também imaginar outra sociedade. Indo 
mais longe, a arte pode ter a função genuína de nos ajudar a desmascarar 
a pseudo-democracia, imposta pelos poderes autocráticos e cleptocráticos. 
Essa função é deveras relevante nestes tempos, em que o interesse coletivo 
está cada vez menos representado e defendido e cada vez mais perseguido 
e espremido, em que se passou da dependência de estruturas democráticas 
para a dependência de organismos compostos por membros diretos e ou 
oriundos das oligarquias.
Ademais, a arte avisa para não deixarmos espinhar o coração, a alma 
e os olhos, para o perigo de que isso pode suceder em todo o tempo. Ela 
mantém à superfície a curiosidade da infância e a candura da meninice, 
para não sermos expressão de uma velhice apagada, soturna, trágica e 
34
triste, sem sabedoria, benignidade e ingenuidade, cerrada ao espanto, à 
admiração, à maravilha e fantasia, e aberta à angústia e ao pasmo. Para não 
nos desidratarmos de ideais, sonhos e utopias.
A invasão da arte (tal como do desporto e da Universidade) pela 
economia	e	pela	ganância	financeira	tem	vindo	a	condicionar	a	orientação 
e	consumação	daquela,	e	a	dificultar	a	observância	da	sua	nascente	original:	
a transcendência.
A cultura e a arte, a Universidade e as estruturas desportivas estão 
a esquecer a sua idiossincrasia axiológica, cultural, ética e estética, a 
ser capturadas pelo pragmatismo e utilitarismo, pelo mercado e pela 
‘civilização do espetáculo’, correndo o risco de se afastarem da arété e 
paideia gregas.13
O	 panorama	 apresenta-se	 desfigurado,	 sombrio,	 mostrengo	 e	
aterrador, propício à vinda dos cavaleiros da escuridão civilizacional. 
Enfrentemo-lo. Não pode nem deve ser atirado para o caixote do lixo a 
observância do terceiro dos mandamentos da Lei de Deus, redigidos 
e proclamados por Moisés para condenar e sancionar, refrear e inibir a 
barbárie e violência até então reinantes - e que se veem ressuscitar nestes 
tempos de austeridade, crueldade, tortura e esfola, praticadas pela gadanha 
e	seitoura	da	ignóbil	globalização	financeira	e	neoliberal.	
O dito mandamento não perdeu validade; é de atualidade candente 
e permanente e exige vigilância gritante e incessante. Ele ordena que 
guardemos os dias santos e valoremos a fruição do corpo e da mente! Esse 
imperativo apresenta-se, muito justamente, como o ‘mandamento do ócio 
13 Com isto não estou a sugerir que o sistema mercadológico, em que vivemos, se 
desinteressou do embelezamento do mundo e aposta na sua feiura e decadência estética. 
Nem ignoro que o design, o estilo e outros padrões estéticos são hoje um aspeto relevante 
nos mais variados objetos, inclusive os tecnológicos, procurando cativar a atenção 
e atração dos consumidores. De resto, é notória, nas mais pequenas coisas, a intenção 
de fazer do dia-a-dia um projeto de arte. O processo de estetização do mundo continua 
navegando	 a	 todo	 o	 pano.	 “Arte	 e	 mercado	 nunca	 se	 misturaram	 tanto,	 inflando	 a	
experiência contemporânea de valor estético.” A questão é outra; tem a ver com a ordem 
dos	fins.	 “Essa	arte	 já	não	 tem	a	dimensão	absoluta	e	o	poder	questionador	que	 tinha	
em	outros	momentos	da	história,	ela	não	pretender	transformar	a	humanidade	ou	refletir	
sobre a própria função. Seu propósito é mercadológico: ampliar o consumo das massas 
e o lucro das empresas.” (GILLES LIPOVETSKY & JEAN SERROY, A estetização do 
mundo: Viver na era do capitalismo artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2015)
35
criativo’, estipulando que o Ser humano não é apenas ‘homo faber’ ou besta 
e ‘recurso de trabalho’; antes alcança, exibe e realça a sua Humanidade, 
‘santificando’ todas as dimensões da existência.
Não tomemos este aspeto como coisa menor ou um devaneio 
intelectual. Ele situa-nos na fronteira de demarcação nítida entre a civilização 
e a animalização, a ética e a imoralidade, a moral e a amoralidade. 
X
É	 curial	 afirmar	 estas	 coisas	 aqui	 e	 agora.	 O	 ‘aqui’	 refere-se	 à	
Universidade e ao desporto; o ‘agora’ a esta ‘hora crepuscular’ e à 
‘civilização do espetáculo’,	 inimigas	 da	 reflexão,	 em	 que	 todos,	 com	
irresponsabilidade mais ou menos consciente ou diluída, aceitamos 
participar.
Vivemos numa conjuntura em que as palavras não passam de ardis 
para impingir uma ‘saída limpa’ da estrumeira em que nos atolamos. Estou 
a	falar,	com	dorida	mágoa,	para	a	Universidade:	não	especificamente	para	
a	que	nos	alberga,	mas	a	Universidade,	edificada	para	ser	casa	da	erudição	
e da espiritualidade, para colocar o ‘primado da verdade sobre a utilidade’, 
para fomentar o ‘espírito livre’. 
O que é feito dessa instituição da Modernidade, cujos alicerces e 
alvos Humboldt tão luminosamente plantou? Mal a vemos, porque foi 
abatida com a nossa conivência e cumplicidade, ação ou omissão. Quem 
a substitui? A resposta titubeia. Por um lado, a ‘coragem’, a virtude que 
Aristóteles considerou a mais importante de todas, não é abundante e saiu 
de moda; Por outro, a ‘liberdade’, o genuíno alimento dos Seres Humanos, 
tal como a ambrosia era o dos deuses, encontra-se perecível, num torpor 
de morbidez.
A Universidade hodierna afunda-se na capitulação. Ao não abjurar 
a	panóplia	de	mistificações	postas	em	circulação,	coopera	na	instauração	
de um clima de servidão. Em consequência, ela tem vindo a desfazer-se, 
paulatinamente, da matriz identitária, a perder o crédito de instituição 
humana e socialmente relevante. O seu código genético vem sendo 
desativado e substituído por um programa espúrio e alheio, concordante 
com o radicalismo neoliberal e o credo do ‘utilitês’. O ócio, o fermento 
36
criacionista da ciência e da cultura, esse, de tanto ser pisado, desapareceu 
e escondeu-se do olhar dos tomadores de decisões e da lista das nossas 
exigências e reivindicações. 
Os senhores congressistas e leitores já foram, por certo, assaltados 
pela tentação de abandonar este auditório ou salão nobre ou estas páginas, 
molestados com o tom da minha intervenção. Apelo à vossa bondade e 
compreensão. A honraria, que me foi outorgada, não dispensa a vassalagem 
a Miguel Torga, a voz maior da alma transmontana: “Nasci para falcão da 
serra, e não para codorniz de baixio.”14 
Tudo se conjuga para tornar apropriadíssima ao panorama 
universitário dos nossos dias a sátira que Ortega y Gasset (1883-1955) 
disparou ao da sua época: “Foi preciso esperaraté o começo do século XX 
para se presenciar um espetáculo incrível: o da peculiaríssima brutalidade 
e agressiva estupidez com que se comporta um homem quando sabe 
muito de uma coisa e ignora todas as demais.” Ou estoutra: “Dantes os 
homens podiam facilmente dividir-se em ignorantes e sábios, em mais 
ou menos sábios ou mais ou menos ignorantes. Mas o especialista não 
pode ser subsumido por nenhuma destas duas categorias. Não é um sábio 
porque ignora formalmente tudo quanto não entre na sua especialidade: 
mas também não é um ignorante porque (…) conhece muito bem a 
pequeníssima parcela do universo em que trabalha. Teremos de dizer que 
é	um	sábio-ignorante	–	coisa	extremamente	grave,	pois	significa	que	é	um	
senhor que se comportará em todas as questões que ignora, não como um 
ignorante, mas com toda a petulância de quem, na sua especialidade, é um 
sábio.” 15
Com a minha alocução, eu pretendo acordar, homenagear, revisitar 
e trazer ao palco da vossa atenção a missão da Universidade e as teses de 
Ortega y Gasset. Disse o mestre insigne: “Todas as grandes obras humanas 
têm	uma	dimensão	desportiva.”	Mais:	a	filosofia	é	uma	atividade	lúdica	de	
dimensão séria, visando promover o “homem luxoso e desportivo”, face ao 
“homem utilitário e biológico”. Por isso ela é “a ciência dos desportistas.” 
Nem mais, nem menos!
Filosofia	 e	 desporto	 são	 atividades	 promotoras	 de	 felicidade	 para	
14 TORGA, Miguel. Diário IV, p. 63.
15 Estas citações encontram-se em textos colocados nas redes e espaços informáticos.
37
quem as exercita; elas não estão vinculadas ao imediatismo utilitário. O 
desinteresse pelo utilitário e pelo imprescindível impregna os pensadores 
e	os	desportistas	de	um	dom	de	generosidade	que	floresce	 somente	nos	
cumes de maior altitude vital!
O desporto representa a vida criadora e graciosa, enquanto “os atos 
utilitários e adaptativos, tudo o que é reação a prementes necessidades, são 
vida secundária. A utilidade não cria, não inventa, simplesmente aproveita 
e estabiliza o que sem ela foi criado (…) A vida foi primeiro uma invenção 
pródiga de possibilidades e depois uma seleção (…) Esta abundância de 
possibilidades é o sintoma mais característico de vida pujante; tal como o 
utilitarismo, ao ater-se ao estritamente necessário, à maneira do enfermo 
que poupa movimentos, é o sintoma de debilidade e vida minguante.” 16
Estas considerações de Ortega y Gasset seguem o padrão do patriarca 
Aristóteles,	que	valorou	devidamente:	a	atividade	laboral	justifica-se	e	tem	
em vista o ócio, as coisas necessárias e úteis têm em vista as coisas boas e 
belas; estas são mais importantes do que as primeiras. O que serve apenas 
a necessidade utilitária, é feio, não é da ordem do belo.
O desporto e a formação universitária não podem ser reduzidos à 
ordem ‘utilitária’;	visam	fins	éticos	e	estéticos,	axiológicos	e	simbólicos,	
que nos ajudem a escapar ao peso do pragmatismo e utilitarismo. O 
seu préstimo pode ser medido por este metro: “Se o trabalho se torna 
autodeterminado, autónomo e livre, e por isso dotado de sentido, será 
também (e decididamente) por meio da arte, da poesia, da pintura, da 
literatura, da música, do uso autónomo do tempo livre e da liberdade 
que o ser social poderá humanizar-se e emancipar-se no seu sentido mais 
profundo.”17
Até hoje estas teses não foram rebatidas. Por conseguinte é imperativo 
integrá-las no entendimento e na organização da vida, da educação, da 
sociedade, do desporto e da Universidade. Mas… são, hodiernamente, o 
desporto	 e	 a	Universidade	 um	 campo	 onde	floresce	 e	 frutifica	 a	 beleza	
e dela nos sustentamos? Revemo-nos no canto e na dança? Abjuramos 
16 ORTEGA Y GASSET. El origen deportivo del estado, p. 13-16. A coruña: edición inef 
galicia, universidade da corunha, 2011.
17	ANTUNES,	Ricardo.	Os	Sentidos	do	Trabalho:	Ensaios	sobre	a	Afirmação	e	a	Negação	
do Trabalho. Coimbra: CES/Almedina, 2013.
38
aquilo que fere e destrói, por não nos ser semelhante? Fazemos boa leitura 
e melhor apropriação da consabida máxima de Terêncio (195 ou 185 – 159 
a.C.)?18 
O desporto funda-se nos mitos de Hércules e de Ulisses, nas 
metáforas, narrativas e parábolas de Homero, que concebem e propõem 
uma existência ideal, experimentada, séria e virtuosa, fundada na fortaleza 
do	ânimo	e	na	persistência	face	às	dificuldades	e	perseguições,	sem	perder	a	
orientação básica da esperança que conduz à elevação e recompensa. Qual 
o estado de concretização de tais proposições e mitos? Estarão gastos? 
Será melhor esquecermo-nos deles, abandoná-los, descartá-los ou tentar 
viver	ao	nível	dos	desafios	que	eles	colocam?
XI
Caros congressistas e leitores: ouço-vos murmurar que sou um 
idealista, um sonhador. É verdade, eu sou. Mas eu também sei que não 
sou o único. Cada um de vós está, aprumado e determinado, ao meu lado! 
É chegada a altura de parar, de medir o caminho andado, de 
corrigir e reparar os desvios da rota seguida, e de traçar e encetar um 
novo percurso. Comunguemos o apelo de José Saramago:
“O	fim	duma	viagem	é	apenas	o	começo	de	outra.
É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, 
ver na primavera o que já se viu no Verão, ver de dia o que se viu de 
noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto 
maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava.
É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e traçar 
caminhos novos ao lado deles.
É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já.”19
Trazemos na testa o ferrete de Homo Viator, de condenados a 
peregrinar em diáspora e errância permanentes, em trânsito ininterrupto. 
Estamos e somos em viagem; ela não nos concede descanso. Seguimos 
em viagem, carregados de contradições, metas e carências que indicam o 
18 “Homo sum, humani nihil a me alienum puto - Sou um homem, nada do que é humano 
me é estranho.”
19 SARAMAGO, José. Viagem a Portugal. Lisboa: Editorial Caminho, 1981.
39
quanto há e sempre haverá em nós por fazer. 
O sonho empurra-nos para a frente, impele-nos a continuar a viagem. 
É nosso dever embarcar nela. E navegar no rumo da aventura, com os 
ventos	 do	 contentamento	 e	 descontentamento	 a	 insuflar-nos	 as	 velas	 da	
alma.
Ocupemo-nos a juntar as pessoas em torno de causas, ideais, 
princípios e valores! Isto requer que estejamos acordados, empenhados e 
despertos,	que	não	enfileiremos	com	os	medíocres.	
Cultivemos causas, valores, virtudes, maneiras e disposições para 
agir condignamente, se não quisermos ser esmagados pelas hordas da 
bestialidade, que mutilam o teor humanista e cultural do nosso mister. 
Podemos viver numa sociedade sem causas, ideais, utopias, 
princípios e valores? Sim, podemos! Mas não é a mesma coisa, nem a isso 
se chama viver. Com os valores ausentes de nós, não logramos ser pessoas. 
Somos apenas maciços de carne, que andam e se movem sem o espírito a 
comandar os nossos passos. 
O que nos compete fazer? O sociólogo Immanuel Wallerstein 
alerta-nos que todos os debates são simultaneamente intelectuais, morais 
e políticos, buscando aonde vamos, aonde queremos ir, a modalidade de 
chegarmos mais facilmente. 
Assumamos	a	nossa	quota-parte	de	responsabilidade.	Reflitamos	e	
falemos acerca da importância do desporto e da formação universitária, 
como	fatores	da	dignificação	e	elevação	do	mistério	da	vida.	
Não	fiquemos	paralisados	diante	de	 factos	absurdos	e	 irrazoáveis,	
por mais impositivos e inevitáveis que pareçam! O momento incita a agir, 
a pensar de modo sereno, todavia radical, as soluções que nos propõem e 
os becos aonde elas conduzem. 
Porfiaremos	 em	 ser	 um	 edifício	 em	 construção, inacabado e 
inconclusivo. A paixão, o entusiasmo e os ideais, que iluminaram a 
caminhada	até	aqui	e	habitam	dentro	de	nós,	continuarão	a	insuflar-nos	a	
alma e a ditar-nos as palavrase os atos. 
O mundo em que vivemos, se teimar em banir as utopias e ser coutada 
do utilitarismo e imediatismo, não passa de uma sensaboria sem o paladar 
40
do humano e sem a graça e o encanto da harmonia e felicidade.
Em todo o tempo e lugar, impõe-se tentar recriar constantemente 
a fulgurância da vida, para subtrair esta da tragédia da indignidade e 
fealdade. Ou seja, a educação ética e estética reclama ser um direito e 
uma necessidade de todos. No desporto e na Universidade ela deve ser 
uma meta constante. Ser melhor é jogar, competir, superar e vencer com 
dignidade e elegância; é fruir e atingir a verdade e beleza do jogo.
Precisamos de ‘inutensílios’, de coisas não ‘utilitárias’ e do ‘ócio 
recriador’, para aliviar o sufoco do utilitarismo e sanear o ambiente 
inestético e demencial, em que se converteu o contexto social e existencial, 
inclusive o universitário. Que avaliação faz de si a Universidade a este 
respeito? Ainda é o lugar do espírito livre, onde se procura a verdade, por 
ser verdade? Ainda prevalece nela o primado humboldtiano da verdade 
sobre a utilidade? Que ponderação tecem disto os académicos? Sentem-se 
bem com a ‘forma’ e a quadratura da Universidade?
Estamos disponíveis para passar do desassossego à ação, para 
remir, no discurso e na prática, os lemas comuns, matriciais e originais da 
Universidade e do desporto? Aonde transporta este ato de compromisso, 
selado entre a nossa pertença e paixão pela Universidade e pelo desporto?
À inquietude pessoana de inquirir associo a franqueza do Padre 
António Vieira (1608-1697) para concluir: “Tenho acabado, senhores (…) 
Se a alguém pareceu que me atrevi a dizer o que fora mais reverência 
calar, respondo com Santo Hilário: Quae loqui non audemus, silere non 
possumus: O que se não pode calar com boa consciência, ainda que seja 
com repugnância, é força que se diga.”20
O que é que então faz falta para abater os muros que comprimem 
a Universidade e o desporto? Algo muito pequeno na formulação, porém 
assaz exigente na ação: coragem e lucidez! Ou as temos ou não. Se as 
temos e não usamos, somos cobardes; se as não temos, somos carentes e 
dementes. Tanto num como no outro caso, não estamos à altura de cuidar 
de outrem; antes carecemos de alguém que cuide de nós. Logo, sejamos 
justos e precisos: o nosso lugar não é na Universidade; é num hospício.
20 PADRE ANTÓNIO VIEIRA. Sermão do Bom Ladrão, proferido em 1655 na Igreja da 
Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha), perante D. João IV e a sua corte. 
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REFERÊNCIAS
ANTUNES, R. Os Sentidos do Trabalho:	ensaios	sobre	a	afirmação	e	a	
negação do trabalho. Coimbra: CES/Almedina, 2013.
BAUMAN, Z. Medo Líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.
BAUMAN, Z. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007.
ENTREVISTA a Charles Esche. Jornal Público, p. 26-28, 22.12.2014.
LIPOVETSKY, G. & SERROY, J. A estetização do mundo: viver na era 
do capitalismo artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
GUMBRECHT, H. U. Elogio da beleza atlética. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2007.
ORTEGA Y GASSET. El origen deportivo del estado. A coruña: edición 
inef galicia, universidade da corunha, p. 13-16, 2011.
VIEIRA, Padre António. Sermão do Bom Ladrão. Proferido em 1655 na 
Igreja da Misericórdia de Lisboa (Conceição Velha), perante D. João IV e 
a sua corte. 
PASCOAES, Teixeira de. Arte de ser português. Lisboa: Assírio & 
Alvim, 1998.
PASCOAES, Teixeira de. Senhora da Noite. Verbo Escuro. Lisboa: 
Assírio & Alvim, 1999.
SAFATLE, V. Pensamento binário. Folha de S. Paulo, p. A2, 28.07.2015.
SARAMAGO, J. Viagem a Portugal. Lisboa: Editorial Caminho, 1981.
TORGA, M. Diário IV, p. 63.
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PROCESSO ORGANIZACIONAL SISTÊMICO, A PEDAGOGIA 
DO JOGO E A COMPLEXIDADE ESTRUTURAL DOS JOGOS 
ESPORTIVOS COLETIVOS: UMA REVISÃO CONCEITUAL
Prof. Dr. Alcides José Scaglia 
Prof. Drndo. Riller Silva Reverdito1, 
Prof. Marcos Vinícius Russo dos Santos1
Prof. Dra. Larissa Rafaela Galatti1
O JOGO COMO UMA UNIDADE DE RELAÇÕES COMPLEXAS
Na Pedagogia do Esporte, enquanto disciplina das Ciências do Esporte 
(REVERDITO; SCAGLIA; PAES, 2009; GALLATTI et al., 2014), tem 
sido construída uma base argumentativa ao longo dos anos para defender 
o ensino de jogos esportivos coletivos por meio da valorização do jogo 
(GRECO, 1998; BETTEGA et al. 2015a; BETTEGA et al. 2015b; CÔTÉ; 
ERICKSON; ABERNETHY, 2013; CÔTÉ, STRACHAN e FRASER-
THOMAS,2007; CÔTÉ, 1999; BAYER, 1994; GARGANTA, 1998; 
FREIRE, 2006; GRAÇA; MESQUITA, 2009a, 2009b; LEONARDO; 
REVERDITO; SCAGLIA, 2009; ARAUJO, 2006; TRAVASSOS et al., 
2013; BAKER, et. al., 2005; SOBERLAK & CÔTÉ, 2003; MENEZES, 
2012; SCAGLIA et al., 2013; SCAGLIA; REVERTIDO e GALATTI, 
2014). Estes autores rompem com a abordagem tradicional de ensino e 
treinamento do esporte (SCAGLIA; REVERDITO; GALATTI, 2014), 
desvelando a complexidade estrutural e dinâmica dos jogos. 
Nesta perspectiva de rompimento, as abordagens pautadas nas 
teorias ecológicas, sistêmicas e complexas, buscam compreender o 
processo organizacional sistêmico dos jogos para que possam estabelecer 
interações	eficientes	entre	ambiente	de	jogo	e	o	ambiente	de	aprendizagem	
(BAKER; CÔTÉ & ABERNETHY, 2003; BAKER, et al., 2005; SCAGLIA; 
REVERTIDO; GALATTI, 2013; SCAGLIA, et al. 2013; BRIDGE; TOMS, 
2013; HORNIG; AUST; GÜLLICH, 2014), reconhecendo o jogo como um 
sistema complexo (FREIRE, 2002; SCAGLIA, 2003, 2005; LEITÃO, 
2009; REVERDITO; SCAGLIA, 2007; LEONARDO; REVERDITO; 
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SCAGLIA, 2009; SCAGLIA et al., 2013).
No entanto, a compreensão dessa base argumentativa, passa pela 
compreensão de alguns conceitos que emergem de um processo de rupturas 
paradigmáticas (KUHN, 2007; 2011). Nesse sentido, por exemplo, não 
basta dizer que o jogo é complexo; é preciso compreender o conceito de 
sistema e o engendramento complexo das interações, culminando com o 
processo organizacional. 
Desde a segunda metade do século XX ganhou força a ideia de que 
os sistemas não poderiam ser entendidos a partir do paradigma cartesiano 
(CAPRA, 1996; MORIN, 2013). Isto porque as suas propriedades e suas 
qualidades não poderiam ser compreendidas em partes isoladas da sua 
totalidade ou contexto (CAPRA, 1996). No entanto, salientando que não é 
uma ideia nova, Morin (2013, p. 259), exprime um aspecto importante de 
um sistema: “Ora, o paradigma novo que a ideia do sistema traz, Pascal já 
havia exprimido: Considero impossível conhecer as partes sem conhecer 
o todo, como conhecer o todo sem, particularmente, conhecer as partes.”
Já em meados do século XX o nome de Ludwig von Bertalanffy 
(2008) ganhou destaque pela proposição da sua Teoria Geral dos Sistemas, 
onde sustentou o conceito de sistema aberto, designado aos organismos 
vivos	para	mostrar	que	neles	há	um	constante	fluxo	de	matéria	e	energia	
de fora para dentro e de dentro para fora. Em relação aos organismos de 
maior	complexidade,	Morin	(2013)	destaca	também	o	constante	fluxo	de	
informação. 
Durante as últimas décadas do século XX, Morin (2002, 2007 e 
2013), consolidado como um dos nomes mais importantes do pensamento 
complexo,	 nos	 trouxe	 a	 complexificação	 das	 relações	 internas	 dos	
sistemas, dizendo que estas não expressam apenas o todo maior que a 
soma de suas partes, mas que as partes são ao mesmo tempo mais e menos 
que o todo. Isto é, o todo pode ser menos que as partes além de ponderar 
que	o	todo	é	insuficiente,	incerto	e,	por	vezes,	conflituoso,	evidenciando	
uma das máximas da complexidade que pode se resumir em: apesar de 
contraditórias	as	afirmações,	elas	são	complementares.
Dentro	deste	universo,	Morin	 (2013,	p.	265)	define	 sistema	como	
aquele “[...] que exprime a unidade complexa e o caráter fenomenal do 
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todo, assim como o complexo de relações entre o todo e as partes”. De 
modo	complementar	a

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