Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica Veterinária Prof. Daniel Roulim Stainki 37 V) CONDUTA AUXILIAR PRÉ E PÓS-OPERATÓRIA 1) PLANEJAMENTO PRÉ-OPERATÓRIO A obtenção dos melhores resultados inicia quando o veterinário tece considerações pré-operatórias dos fatores que podem afetar a eficácia ou a segurança da anestesia, juntamente com os procedimentos cirúrgicos. O cuidadoso planejamento é especialmente necessário nos casos que saem rotina, como as osteossínteses e reconstrução de ferimentos traumáticos. A comunicação com o cliente é satisfatória quando o mesmo tem prévio conhecimento do diagnóstico, das indicações cirúrgicas e dos tipos e duração do tratamento pré-operatório que possa ser necessário. 1.1) Problemas ligados à idade 1.1.1) Animais com até seis meses de idade: a) condições vacinais - deve-se sempre averiguar o protocolo de profilaxia adotado pelo proprietário. As vacinas devem preferentemente ser aplicadas com no mínimo 05 dias de antecedência do “stress” cirúrgico, pois uma trombocitopenia induzida pela vacinação pode ser evidênciada 48 horas após a aplicação da vacina, perdurando por até 05 dias. O ideal é que se mantenha um intervalo de pelo menos 15 dias entre a vacina e a cirurgia. Evite a exposição desnecessária de animais jovens ao ambiente hospitalar; b) parasitismo - inspecione cuidadosamente o animal quanto à presença de pulgas, carrapatos e ácaros da sarna, pois os mesmos podem contribuir significativamente para a debilidade do animal, através de perda sangüínea (anemia), da queda das proteínas totais (hipoproteinemia), e das lesões cutâneas (infecções); c) personalidade - os animais jovens necessitam de maior atenção e entretenimento que os animais adultos, pois os mesmos tendem, quando aborrecidos, a mastigar ou arrancar os curativos, a virar os bebedouros e a comerem a cama das baias ou gaiolas, etc. d) confinamento - animais de raças de grande porte e gigantes possuem tendências ao desenvolvimento de problemas músculos-esqueléticos (atrofia muscular por desuso, desvios ósseos e articulares) quando confinados durante longos períodos na fase de crescimento. Propicie sessões de exercícios adequados e permita saídas do confinamento varias vezes ao dia. 1.1.2) Animais adultos: Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica Veterinária Prof. Daniel Roulim Stainki 38 a) condições vacinais - verifique sempre a história das vacinas, pois surpreendentemente o animal pode nunca ter sido vacinado por desconhecimento do proprietário com relação à vacinação; b) parasitismo - geralmente no cão adulto o parasitismo não chega a ser problema, mas, às vezes, pode exigir algum tratamento. Deve se dar uma maior atenção as dirofilárias; c) personalidade - normalmente já se encontra formada, raramente pode ser influenciada pelo veterinário. As personalidades mais averiguadas são: * agressivo, ou morde quando assustado - o dono deve desempenhar um papel ativo no manejo e tratamento do animal; * dependente ou assustado - freqüentemente responde a uma pessoa, não devendo ser manuseado por diversos indivíduos, o dono deve visitar o animal para persuadi-lo a comer ou para auxiliar no tratamento; * ambos os exemplos são de animais que devem ser remetidos para casa tão logo seja possível, para se obter os melhores resultados. 1.1.3) Animais geriátricos: a) condições vacinais - normalmente não é preocupante; b) parasitismo - pode contribuir para a debilidade geral do paciente; c) personalidade - pode haver uma ligação bastante estreita entre o proprietário e seu animal. O que deve ser considerado no tratamento de pacientes geriátricos: * animais hiper-ansiosos podem não repousar satisfatoriamente em ambiente estranho; caso não haja contra-indicações, poderá ser necessário há sedação; * pacientes geriátricos com função orgânica comprometida podem descompensar se não estão comendo ou mantendo a hidratação, devido à ansiedade, dor ou à separação do dono. 1.2) Diretrizes gerais para os casos cirúrgicos: a) mantenha o animal confinado em local limpo, confortável e com tamanho adequado; b) permita que o animal urine e defeque em uma área externa, através de passeios diários, no mínimo duas vezes ao dia. Realize este procedimento principalmente momentos antes da cirurgia; c) exercícios - o confinamento e a inatividade prolongados aumentam a morbidade, pois animais lesados tendem a ficar predominantemente em uma posição, acarretando em excessiva contaminação por material fecal e urina. Muitas vezes pode haver formação de úlceras por decúbito. Forneça a seguinte assistência: * mude a posição do decúbito várias vezes ao dia; * mantenha o animal acolchoado com esponjas ou almofadas; Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica Veterinária Prof. Daniel Roulim Stainki 39 * estimule os exercícios em pisos adequados; d) nutrição e hidratação - em pacientes traumatizados deve-se manter uma alimentação rica em proteínas e corrigir os déficits hidroeletrolíticos e o equilíbrio ácido-básico; e) presença de dor - quando em excesso, pode prejudicar na manutenção das condições físicas do animal (nutrição), devendo-se nestes casos empregar o uso de analgésicos; f) retenção urinária e fecal - comum no animal traumatizado e deve ser combatida através de compressão manual da bexiga ou sondagem uretral; uso de laxantes leves ou enemas, auxiliados por caminhadas e analgésicos; g) banhos - podem não ser práticos nos animais traumatizados, devido aos ferimentos e bandagens, mas deve-se procurar manter o animal limpo. 2) ASSISTÊNCIA PÓS-CIRÚRGICA Por menor que seja o trauma durante o procedimento cirúrgico, devemos lembrar que temos associado outro fator de desequilíbrio orgânico, a anestesia, ambos promoverão uma agressão ao indivíduo que poderá causar-lhe alterações na sua condição homeostática. Sendo assim, é importante que se realize um pós-operatório que ofereça todas as condições para o pronto restabelecimento da homeostase. O objetivo dos cuidados pós-cirúrgico é manter o paciente no melhor estado possível, de forma que a estabilização metabólica e a cicatrização ocorram no menor tempo possível. Os cuidados de pós-operatório iniciam imediatamente após a cirurgia, estendendo-se até a alta clínica. Os parâmetros a serem analisados dependerão do quadro geral do paciente e do tipo de intervenção a que foi submetido. 2.1) Procedimentos recomendados: 2.1.1) Avaliar os sinais vitais (revisar a cada 15 minutos): a) respiração - verificar a freqüência e a amplitude. Ficar atento aos sinais de taquipnéia ou bradipnéia, que podem indicar comprometimento respiratório. Manter a cabeça em um nível levemente inferior que o corpo até a recuperação da anestesia; b) pulso periférico - analisar a freqüência e a intensidade do pulso. Pulso filiforme ou ausente indica pressão abaixo de 60 mmHg; c) pressão arterial - clinicamente a pressão arterial pode ser estimada por avaliação do pulso periférico, tempo de reperfusão capilar, coloração das mucosas, desempenho cardíaco e débito urinário; d) temperatura - a hipotermia acentuada induz a resposta orgânica indesejáveis. Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica Veterinária Prof. Daniel Roulim Stainki 40 2.1.2) Efetuar determinação laboratorial - podem-se colher amostras de sangue para determinação do hematócrito, proteína total, bioquímica do sangue, teste de coagulação e gasometria, avaliando mais precisamenteas condições clínicas do animal. 2.1.3) Manter o animal em ambiente com temperatura ao redor de 25°c, separado dos outros animais que apresentam enfermidades bacterianas ou víricas. 2.1.4) Estimular a recuperação - o animal que apresentar o período de recuperação anestésica superior a 4 horas, deve ser estimulado. Procede-se massagem e os movimentos de flexão e extensão dos membros para ativar a circulação. Deve-se fazer a alternância postural a cada duas horas para evitar hipostase, atelectasias e úlceras por decúbito. Promover a tosse estimulada pela palpação da laringe e da traquéia, visando o auxílio na limpeza das vias aéreas. Para o animal estressado deve-se incentivá-lo a ingerir água e alimento, manipulá-lo de forma gentil e evitar o contato com diferentes pessoas. A alta deve ser o mais precoce possível. 2.1.5) Exames radiológicos - devem ser realizados sempre que houver suspeita de complicações esqueléticas. 2.1.6) Controle da dor - o uso de analgésicos deve ser utilizado com cuidado no pós- operatório imediato, dando-se preferência aos que não interfiram com a pressão sangüínea. ex: Flunixin meglumine (Banamine) na dose de 1,1mg/kg, conjuga o efeito analgésico e antiinflamatório que favorece o processo cicatricial reduzindo o edema. Seu uso por tempo superior a 48 horas requer cuidados, devido ao seu potencial risco de complicações gastrintestinais, principalmente nos cães jovens. 2.1.7) Estabelecer fluidoterapia de manutenção (Ringer lactato morno) – suprir as necessidades do paciente até que possa fazê-lo espontaneamente. Nesta fase é interessante controlar o débito urinário, que pode ser feito mediante adaptação de sonda uretral, avaliando o volume urinário colhido por hora. O parâmetro esperado é de 1-2ml/kg/hora. Oligúria persistente após fluidoterapia adequada pode ser indicação de hipotensão ou complicação renal se a pressão estiver normal. 2.1.8) Instituir medidas locais apropriadas ao tipo de ferida cirúrgica – fazer curativo tópico diário, manter a bandagem limpa, manter os drenos desobstruídos, irrigando-os freqüentemente. 2.1.9) Orientar para a remoção dos pontos cutâneos no período adequado – avaliar o processo de cicatrização e efetuar a retirada dos pontos entre 7 e 10 dias de pós-operatório para os pequenos animais e entre 10 e 15 dias de pós-operatório para os grandes animais. Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Clínica Cirúrgica Veterinária Prof. Daniel Roulim Stainki 41 2.1.10) Orientar fisioterapia – essa preocupação merece especial atenção em pacientes que sofreram procedimentos ortopédicos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CRANE, S. W. Manual de terapêutica cirúrgica dos pequenos animais. São Paulo: Manole, 1988. 437 p. RAISER, A. G. Patologia cirúrgica veterinária. v. 2 Santa Maria: Centro de Ciências Rurais - UFSM, 1995. 264 p.
Compartilhar