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Sociologia Política

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Prévia do material em texto

Sociologia Política
Pablo Ornelas Rosa
Rodrigo Guidini Sonni
© 2012 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA - PARANÁ - 
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Ballão, Carmen
 Metodologia da pesquisa / Carmen Ballão [et al.]. – Curitiba: Instituto 
Federal do Paraná, 2012.
104 p. : il. color.
ISBN: 978-8564614-86-4
Inclui bibliografia
 1. Ciência – Metodologia. 2. Pesquisa – Metodologia. I. Stadler, Adriano.
II. Arns, Elaine. III. Reis, Loureni. IV. Penkal, Patricia. V. Título.
CDD 001.42
Eutália Cristina do Nascimento Moreto CRB 9/947
Irineu Mario Colombo
Reitor
Joelson Juk
Chefe de Gabinete
Ezequiel Westphal
Pró-Reitoria de Ensino – PROENS
Gilmar José Ferreira dos Santos
Pró-Reitoria de Administração – PROAD
Silvestre Labiak
Pró-Reitoria de Extensão, Pesquisa e 
Inovação – PROEPI
Neide Alves
Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas e 
Assuntos Estudantis – PROGEPE
Bruno Pereira Faraco 
Pró-Reitoria de Planejamento e 
Desenvolvimento Institucional – PROPLAN
Marcelo Camilo Pedra
Diretor Geral do Câmpus EaD
Célio Alves Fibes Junior
Diretor Executivo do Câmpus EaD
Luana Cristina Medeiros de Lara
Diretora de Administração e 
Planejamento do Câmpus EaD
Sandra Terezinha Urbanetz
Coordenação de Ensino Superior e 
Pós-Graduação do Câmpus EaD
Adriano Stadler
Coordenador do Curso de Pós-Graduação 
em Gestão Pública
Elaine Mandelli Arns
Coordenadora de e-learning
Ester dos Santos Oliveira
Coordenação de Design Instrucional
Ana Luísa Pereira
Franciane Heiden Rios
Loureni Reis
Roberta Sotero
Designer Instrucional
Helena Sobral Arcoverde
Ana Luísa Pereira
Revisão Editorial
Flávia Terezinha Vianna da Silva
Capa 
Paula Bonardi
Projeto Gráfico e Diagramação
Imagens da capa:
© VLADGRIN/Shutterstock; JelleS/Creative commons; © Dmitriy Shironosov/Shutterstock; visaointerativa/Creative commons; © Robert 
Kneschke/Shutterstock; © NAN728/Shutterstock; gracey/morgueFile; dbking/Wikimedia commons; © Robert Proksa/Stock.XCHNG; © 
Yuri Arcurs/Shutterstock; © jeff vergara/Stock.XCHNG; © Andresr/Shutterstock.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1 Formação da Ciência Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.2 Da Física Social à Sociologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 Diferentes Sociologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.4 A Influência da Modernidade no Surgimento da Sociologia 15
1.5 Sociologia Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim 21
2.1 Seguindo os passos de Comte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2 Relação entre o Indivíduo e a Sociedade . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3 Fato Social e Função Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.4 Da Solidariedade Social aos Tipos de Consciência . . . . . . . 26
2.5 Anomia e Moralidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.6 A Importância do Estado em Durkheim . . . . . . . . . . . . . . 30
Capítulo 3 – Teoria Sociológica Compreensiva de Max Weber . . . 35
3.1 Principais Influências de Weber . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2 Relação entre Sujeito e Objeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.3 Ação Social, Relação Social e Ordens Legítimas . . . . . . . . 39
3.4 Os Tipos Ideais e as Consequências da Modernidade . . . . 41
3.5 Ciência e Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.6 Poder, Burocracia e Tipos de Dominação . . . . . . . . . . . . . . 47
Capítulo 4 – O Materialismo Histórico e Dialético atribuído a 
Karl Marx . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.1 Teoria e Prática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2 Trabalho e Luta de Classes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3 Estado, Ideologia e Alienação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
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Capítulo 5 – O Poder no Pensamento Social . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.1 Diferentes Concepções de Poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.2 Relação entre Poder e Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
5.3 Poder Natural e Instrumental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.4.1 Concepções Subjetivistas de Poder . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.4.2 Concepções Objetivistas de Poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Capítulo 6 – Estado Moderno e Sociedade Civil . . . . . . . . . . . . . 81
6.1 Maquiavel, os Contratualistas e Hegel . . . . . . . . . . . . . . . . 85
6.3 O Estado e a Sociedade Civil na Tradição Marxista . . . . . . 89
Capítulo 7 – Diferentes Faces da Participação Política . . . . . . . . . 95
7.1 Escolha pela Democracia Representativa . . . . . . . . . . . . . . 95
7.2 Participação Política Individual e Coletiva . . . . . . . . . . . . . 96
7.3 Participação Política Eventual e Organizada . . . . . . . . . . 100
7.4 Conscientização e Organização Política . . . . . . . . . . . . . . 102
7.5 Participação Eleitoral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
7.6 Movimentos Sociais e Ações Coletivas . . . . . . . . . . . . . . 106
Capítulo 8 – Ideologias Políticas Modernas . . . . . . . . . . . . . . . . 111
8.1 O Significado da Ideologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
8.2 Esquerda, Direita e a Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
8.3 Ideologias “Clássicas” e “Novas” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Currículo dos autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Apresentação
Este livro que você, aluno do curso de Pós-Graduação em 
Gestão Pública, do Instituto Federal do Paraná (IFPR) tem em 
mãos não se trata de um trabalho que propõe debates teóricos 
e políticos acerca de questões clássicas e contemporâneas 
proferidas por diferentes autores da Sociologia e da Ciência 
Política. Trata-se de um material introdutório ao estudo da 
Sociologia Política e, portanto, de um livro didático que visa 
possibilitar uma imersão neste campo do conhecimento que, 
de certa forma, abarca parte de nossas experiências vividas 
cotidianamente.
Para isso, no primeiro capítulo, apresentamos os 
pressupostos da Sociologia Política, mostrando quais são suas 
particularidades e no que se diferencia e se aproxima tanto da 
Sociologia quanto da Ciência Política. Desenvolvemos uma 
breve construção histórica acerca do surgimento dessas duas 
disciplinas, apontando qual a particularidade da Sociologia 
Política e sua importância para o estudo da Gestão Pública, 
sobretudo, a partir do desenvolvimento e da implementação 
das políticas públicas. 
No segundo capítulo, proporcionamos uma compreensão 
dos elementos basilares da chamada Teoria Sociológica 
Funcionalista desenvolvida por Émile Durkheim, na França, 
a partir da segunda metade do século XIX. Apresentamos 
algumas de suas principais obras e conceitos promovendo 
um importante diálogo com os demais autores e teorias 
mencionadas neste trabalho. 
No terceiro capítulo abordamos os pressupostos da Teoria 
Sociológica Compreensiva ou Hermenêutica produzida por 
Max Weber, a partir de seus principais conceitos. Assim como 
nos capítulos anteriores e nos posteriores, apresentamos as 
perspectivas dos autores a partir de suas teorias sociológicas, 
teorias da modernidade e de seusposicionamentos políticos, 
que muitas vezes perpassam pontos de vista permeados, ora 
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pela manutenção da ordem social ora por sua alteração. Mostramos que 
as teorias sociológicas clássicas apresentadas neste livro a partir de Comte, 
Marx, Durkheim e Weber perpassam diferentes concepções tratadas através 
do conflito e do entendimento. 
No quarto capítulo, além de mostrarmos as concepções de Karl Marx a 
partir do chamado (materialismo histórico e dialético), vimos como sua teoria 
foi construída e no que ela se diferencia das demais teorias desenvolvidas por 
Comte, Durkheim e Weber. 
Como no capítulo inicial havíamos mostrado as especificidades da 
Sociologia Política em relação à Ciência Política, constatando que a primeira 
visa estudar as relações de poder que perpassam pelo Estado, mas sem limitá-
lo a ele; neste quinto capítulo, propusemos apresentar as formas com que 
o poder tem sido tratado pelo pensamento social. Deste modo, acabamos 
oferecendo um panorama geral de como o poder tem sido tratado por essas 
diferentes teorias sociológicas clássicas, sobretudo, a partir de duas de suas 
principais concepções: as objetivistas e as subjetivistas.
No sexto capítulo, apresentamos sob quais condições houve o 
desenvolvimento do Estado moderno. Partimos de uma reflexão sobre o que 
significa a modernidade, para, posteriormente, descrevermos as contribuições 
mais relevantes da teoria social acerca da compreensão do Estado moderno 
e de que maneira ele se relaciona com a chamada sociedade civil e com a 
sociedade burguesa. 
No sétimo capítulo, desenvolvemos um texto didático sobre a importância 
da sociedade civil como grupo de pressão decorrente, principalmente dos 
movimentos sociais e de suas diferentes manifestações políticas que podem, 
inclusive, ultrapassar as barreiras da ação do Estado. Logo, partimos do 
pressuposto de que a participação política não inclui exclusivamente a 
participação eleitoral através do voto, chamado comumente de sufrágio 
universal, mas também por outros diferentes meios. 
Por fim, no oitavo e último capítulo, apresentamos as diferentes 
concepções de ideologia e as comumente chamadas ideologias modernas, 
tais como o liberalismo, o conservadorismo, o fascismo, o socialismo, o 
movimento ecológico e o fundamentalismo religioso, apresentando não 
apenas os diferentes posicionamentos políticos, mas também as diferentes 
visões de mundo.
1
CapítuloPressupostos 
da Sociologia Política
Este capítulo inicial propõe ao aluno do curso de Pós-
Graduação em Gestão Pública do Instituto Federal do Paraná 
(IFPR) uma introdução à Sociologia Clássica, aos seus principais 
autores e teorias, apontando sua relação com a Ciência Política. 
O seu principal objetivo é proporcionar um maior entendimento 
acerca dos principais elementos sociais, políticos e econômicos 
localizados no contexto do surgimento da sociologia e da ciência 
política, possibilitando a compreensão das especificidades dessas 
disciplinas, assim como de seus objetos de análise mais elementares 
que resultaram na junção, elaboração e desenvolvimento da 
sociologia política. 
Embora sejam apresentadas de forma simplificada as 
principais visões das tradições clássicas da sociologia nos três 
capítulos seguintes, busca-se neste momento inicial esboçar 
algumas noções basilares da teoria positivista, da funcionalista, do 
materialismo histórico e dialético, bem como da teoria sociológica 
compreensiva ou hermenêutica, elaboradas, respectivamente, por 
Augusto Comte, Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. 
Nossa intenção é fundamentar as principais concepções teóricas 
e políticas dos precursores do pensamento sociológico com a 
construção de suas metodologias de análise que se apresentam de 
maneira bastante distinta umas das outras. Deste modo, procuraremos 
responder algumas questões como: Qual a relação entre a sociedade 
e as diferentes teorias sociológicas e políticas? O que é sociologia? 
O que é política? O que esses campos do conhecimento científico 
estudam? E qual a relação entre eles?
Certamente esses questionamentos seriam respondidos pelo 
senso comum de forma bastante simplificada, possivelmente por 
meio da afirmação de que enquanto a sociologia estuda os fenômenos 
que ocorrem no interior da sociedade, a política trata da organização, 
da administração e das relações de poder existentes nos negócios 
internos (política interna) e externos (política externa) da sociedade, 
as diferentes formas de governo e ideologias.
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Embora essas considerações estejam bastante próximas das corretas, a 
superficialidade deste tipo de resposta aponta para uma simplificação da 
questão. Ao percebermos a falta de certo grau de complexidade, abarcado por 
sua história e seus demais desdobramentos no campo das ciências humanas, 
notamos que há uma necessidade de aprofundamento teórico sobre essas 
áreas, conforme veremos a seguir.
Afinal, o que é política?
O conceito de política possui suas raízes no adjetivo polis (politikós), 
que trata de tudo aquilo que se refere à cidade, ao urbano, ao civil, ao 
público, ao sociável e ao social. Já a sua utilização moderna designa aquelas 
atividades ou conjuntos de atividades produzidas e compostas pelo Estado. 
Contudo, antes de apresentarmos o processo de formação da Ciência 
Política é imprescindível definirmos o seu campo de atuação. 
Para Bobbio (1990), ciência política refere-se a um tipo de 
pesquisa realizada no campo da vida política que ocorre por meio 
de três condições: 1ª) do princípio da verificação como critério de 
aceitabilidade dos resultados; 2ª) do uso de técnicas da razão que 
permitam dar uma explicação causal do fenômeno investigado; 3ª) 
da abstenção de juízos de valor. 
A política contemporânea, comumente chamada de ciência política, 
localiza-se principalmente nos escritos de Maquiavel (1469-1527); a política 
clássica situa-se em Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), pensador grego, e em 
sua constatação de que o ser humano é um zoonpolitikón (animal político) 
que vive na polis (cidade), considerada a unidade constitutiva indecomponível 
e a dimensão suprema da existência. 
Para os gregos, o viver “político” e a “politicidade” não eram apenas 
aspectos da vida, mas o seu todo e a sua essência. Logo, o ser humano “não 
político” era tratado como um ser deficiente, um ídion (“idiota” no sentido 
original do termo), cuja insuficiência consistia justamente em ter perdido 
(ou nunca ter adquirido) certa dimensão e plenitude de sua simbiose com 
a polis, que consistiria em uma relação mutualmente vantajosa para ambos, 
conforme constatou Sartori (1981).
É importante esclarecer que não há como pensar em política e, portanto, 
em ações humanas, sem considerá-las como um campo permeado por 
9Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
relações de poder, pois quem faz política busca ou procura exercer o poder 
sobre outra pessoa ou sobre um grupo social no intuito de obter alguma 
vantagem pessoal ou coletiva. Segundo Weber (1970), todos que se entregam 
à política aspiram ao poder – seja considerando-o como instrumento a 
serviço da consecução de outros fins, ideais ou egoístas, seja porque desejam 
o poder “pelo poder”, no intuito de gozarem de um sentimento de prestígio 
que ele confere à pessoa. 
Embora se constate que a política tenha sido utilizada como um conjunto 
de esforços que visam à participação do poder ou sua influência na divisão 
do poder tanto entre Estados quanto no interior de um único Estado – 
conforme apontou Weber (1970) – é possível averiguar que a política tem 
oscilado entre duas interpretações opostas:
Para uns, a política é essencialmente uma luta, um combate: o poder 
permite aos indivíduos e grupos que o detêm assegurarsua dominação 
sobre a sociedade e dela tirar proveito; os outros grupos e os outros 
indivíduos se erguem contra esta dominação e esta exploração, 
esforçando-se por resistir-lhe e destruí-las. Para outros, a política é um 
esforço no sentido de fazer reinar a ordem e a justiça: o poder assegura 
o interesse geral e o bem comum contra a pressão das reivindicações 
particulares (DUVERGER, 1968). 
Deste modo, a política tem servido tanto para manter os privilégios 
de uma minoria sobre uma maioria, quanto para integrar os indivíduos na 
comunidade, criando uma suposta sociedade justa, conforme buscava Aristóteles. 
Apesar de haver discordâncias entre os cientistas políticos no que se 
refere à ação da política tratada por meio do consenso ou do conflito, há certa 
convergência acerca da fundação da chamada ciência política moderna, pois 
para a grande parte dos pesquisadores contemporâneos, Nicolau Maquiavel 
é considerado o fundador da ciência política. Foi a partir de sua obra 
intitulada O Príncipe, escrita por volta de 1512, que o autor garantiu sua 
condição de inaugurador deste campo do conhecimento.
Em O Príncipe, oferece um estudo da dinâmica de governo, dos meios 
e circunstâncias que conduzem à obtenção e manutenção do poder, 
além de mostrar os erros que podem ser cometidos e como evitá-los. 
Defendeu que para se ter êxito com o poder todos os meios se justificam. 
No período em que Maquiavel escreve, a Itália estava dividida entre 
diferentes reinos, ducados e repúblicas, marcada por profundas divisões, 
rivalidades e corrupção. Neste contexto, considera que a debilidade 
italiana só podia ser superada através do Estado, e ao observar a unidade 
existente em outros países justifica a monarquia absoluta como única 
forma possível de a Itália superar sua condição (DIAS, 2011). 
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O Príncipe, principal obra de Maquiavel, fundamentava-se em um manual 
prático destinado a ensinar técnicas de governo e de manutenção do poder. 
Para o autor, a religião e a moral poderiam ser prudentemente utilizadas na 
consolidação do poder dos governantes, entretanto, não seriam necessárias 
para seu funcionamento, pois os fins políticos são sempre justificados pelos 
meios empregados.
Maquiavel (1996) não propôs a legitimação do poder, mas sua manutenção 
através da força e da astúcia, uma vez que estes eram os únicos elementos 
capazes de explicar a queda dos impérios e dos governos. Deste modo, o 
autor não apenas procurou ensinar aos governantes e ao povo quais eram os 
mecanismos de governo mais utilizados na consolidação e no fortalecimento 
do Estado, como também apontou quais eram os erros mais elementares que 
engendravam a decadência e a ruína dos governantes. 
O que Maquiavel realmente queria era evidenciar a natureza estratégica 
da atividade política destacando tanto a virtú (firmeza de caráter, coragem 
militar, habilidade no cálculo, capacidade de sedução e inflexibilidade), 
quanto à fortuna (sucesso ao avaliar o melhor momento para agir). 
1.1 Formação da Ciência Política
Na época em que Maquiavel escreveu O Príncipe, meados do século XVI, 
as sociedades europeias ocidentais atravessavam um período demarcado por 
intensas transformações provocadas, principalmente, pelo Renascimento1. 
As principais alterações ocorridas naquele momento foram sintetizadas 
por Châtelet; Duhamel & Pisier-Kouchner (2009), conforme veremos no 
quadro ao lado: 
A partir do início do século XVI, ocorreram transformações que 
abalaram as sociedades da Europa Ocidental. Essas múltiplas e interferentes 
transformações (o Renascimento) envolveram: 2
1 Renascimento, Renascença ou Renascentismo são termos utilizados para identificar o período da 
história europeia que ocorreu entre o final do século XIII e meados do século XVII, exercendo 
forte influência nos escritos dos autores da época, sobretudo, no campo da política. O Renascimento 
esteve marcado por transformações em diversas áreas da vida humana, caracterizando a transição do 
feudalismo para o capitalismo, assinalando o final da Idade Média e o início da Idade Moderna.
2 Laissez-faireé a contração da expressão em língua francesa laissezfaire, laissezaller, laissezpasser, que 
significa literalmente “deixai fazer, deixai ir, deixai passar. (Fonte: http://www.recantodasletras.com.
br/ensaios/741674)
11Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
A As realidades históricas e econômicas (extensão e aplicação – prática das descobertas feitas 
durante a Idade Média; desenvolvimento da civilização urbana, comercial e manufatureira);
B A imagem do mundo (descoberta do novo mundo; revoluções astronômicas de Copérnico e 
Kepler; a física de Galileu);
C A representação da natureza (o universo medieval dos signos é substituído por uma 
realidade espacial a conquistar e explorar);
D A cultura (a redescoberta da Antiguidade greco-romana pelos humanistas suscita um maior 
interesse pelo ser humano enquanto dado natural e pelas especulações ético-políticas;
E O pensamento religioso (a radicalização da contestação do poder e da hierarquia de Roma, 
esboçada no século XIV por J. Hus, na Boêmia, e Wycliff, na Inglaterra, pelos movimentos 
que reivindicam cristianismo primitivo e se apoiam em especificidades “nacionais”). Esses 
abalos e os conflitos que os marcam colocam às práticas e às reflexões políticas problemas 
que essas vão ter que resolver por meio de invenções que estão na origem da modernidade: 
entre as mais marcantes, a do Estado como soberania (CHÂTELET; DUHAMEL & PISIER-
KOUCHNER, 2009: 35).
Apesar de serem raros os momentos 
consensuais estabelecidos por sociólogos 
e cientistas políticos, podemos dizer que 
há certa concordância no que se refere 
à importância dada ao pensamento de 
Maquiavel para a constituição da ciência 
política. Contudo, é importante destacar 
que tamanha relevância dada ao autor só foi 
possível devido à sua responsabilização pela 
introdução de elementos que resultaram em 
uma ruptura decisiva, construída a partir de 
concepções que contrariavam as teorias da 
sociabilidade natural e dos ensinamentos 
teológicos cristãos3.
Ao abordar as atividades coletivas, enfatizando a preponderância do Estado, 
Maquiavel reconheceu a ascensão de um novo tipo de poder soberano que se 
encontrava representado na figura do Príncipe. A grande originalidade de seu 
pensamento se deve, sobretudo, à sua obra O Príncipe, na qual o autor mostrou 
que para manter o poder é preciso buscar a onipotência através da recusa de 
quaisquer fraquezas. Deste modo, seria necessário afastar quaisquer considerações 
morais e religiosas no intuito de garantir ao Príncipe que ele seja efetivamente o 
senhor da legislação e, portanto, o definidor do bem e do mal público.
3 A teologia cristã pode ser definida tanto como as verdades extraídas da Bíblia e de quaisquer outras 
fontes reconhecidas como divinas que são apresentadas de forma sistematizada, quanto como uma 
filosofia que trata do nosso conhecimento sobre Deus e de seu relacionamento com os indivíduos, 
abarcando, portanto, tudo aquilo que se relaciona a Ele, a Bíblia e os propósitos divinos.
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As disponibilizações dessas diferentes ferramentas analíticas que 
viabilizaram e ainda viabilizam importantes reflexões sobre a gênese do 
Estado moderno, elaboradas a partir de O Príncipe, possibilitaram a abertura 
de caminhos imprescindíveis para as ciências sociais que proporcionaram 
outros tipos de análises sobre a sociedade moderna, resultando, inclusive, 
na elaboração de outro campo do conhecimento científicochamado de 
sociologia, conforme veremos adiante.
A noção de ‘política’ é mais difícil de precisar que a de ‘sociologia’. Esta 
palavra é recente: conserva um sentido técnico; é ainda pouco empregada 
em linguagem corrente. O termo ‘política’, pelo contrário, é muito antigo 
e pertence ao vocabulário usual: por força das circunstâncias, tornou-se 
muito mais vago. Sem dúvida, ao lado de seu uso vulgar, é ele utilizado 
de modo mais preciso pelos sociólogos. As expressões ‘sociologia política’ 
ou ‘ciência política, que lhe é quase sinônima adquiriram já direito 
de cidadania em França há muitos anos, para designar um ramo da 
Sociologia (DUVERGER, 1968).
1.2 Da Física Social à Sociologia
Apesar de ser composta por diferentes concepções políticas, teóricas e 
conceituais, a sociologia é uma disciplina criada recentemente, em meados 
do século XIX. 
O grande responsável pela atribuição deste nome a este campo do 
conhecimento foi Augusto Comte (1798–1857) que, em sua obra intitulada 
Curso de Filosofia Positiva, escrito em 1839, propõe a alteração da física 
social, termo empregado pelo autor em 1830, mas já utilizado anteriormente 
por Saint-Simon e Thomas Hobbes, para sociologia. Segundo Duverger 
(1968), a substituição do termo física social para sociologia ocorreu devido à 
constatação de Comte de que, em 1836, Quételet4 havia aplicado este termo 
no estudo estatístico dos fenômenos morais.
A grande preocupação de Comte ao propor esta nova disciplina consistia 
em formular as bases deste campo de saberes sobre a sociedade moderna 
que emergia, amparando-se na utilização de metodologias validadas pelo 
conhecimento científico da época. Deste modo, o autor propôs que fossem 
utilizados às Ciências Sociais métodos semelhantes àqueles validados pelas 
Ciências Naturais e Exatas daquele período, no intuito de que fossem 
abandonados os pressupostos analíticos abarcados pela filosofia política, 
4 Lambert Adolphe Jacques Quételet (1796—1874), matemático, astrônomo, estatístico e sociólogo 
belga, foi quem iniciou importantes estudos acerca da demografia e do índice de massa corporal.
13Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
saber que até aquele momento se dedicava exclusivamente a analisar os 
fenômenos sociais, por meio de especulações.
Segundo Comte, a racionalidade 
humana havia passado por três estágios 
durante o seu desenvolvimento: o 
teológico, o metafísico e o positivo, 
sendo o último destes o mais importante 
por se fundamentar exclusivamente no 
conhecimento científico, que para o 
autor era o saber mais avançado. Comte 
ainda constatou que no interior do 
campo científico existia uma espécie 
de hierarquia, na qual a matemática 
encontrava-se no nível mais baixo 
desta escala, entretanto, a biologia, 
naquela época chamada de fisiologia e, 
principalmente, a sociologia ocupava o 
posto mais alto.
Augusto Comte insistiu enfaticamente sobre o caráter científico da 
Sociologia. O nascimento mesmo desta disciplina está ligado à ideia 
fundamental de que se devem aplicar ao estudo dos fenômenos sociais 
os mesmos métodos de observação que empregam às ciências naturais: 
daí a expressão “física social”, inicialmente usada por Comte. Durkheim 
expressará mais tarde a mesma ideia, dizendo que se deve tratar os fatos 
sociais “como coisas”. Ver-se-á mais adiante que os autores modernos 
não adotam de todo a mesma atitude (DUVERGER, 1968:02).
A ideia de Comte pautada na aplicação dos métodos das Ciências 
Naturais e Exatas ao estudo da sociedade recebeu influências de Saint-
Simon – pensador do qual Comte foi colaborador entre 1817 e 1824 – e 
Condorcet – que sustentava a importância do cálculo e da matemática ao 
estudo dos fenômenos sociais, desenvolvendo as principais concepções que 
fundamentaram o positivismo. 
Para Comte, a evolução do conhecimento é comparada à evolução do 
ser humano. Assim, a religião representaria a infância da humanidade, 
a filosofia (metafísica) representaria a adolescência e só a ciência 
traria a plena maturidade, atingindo o estado positivo.
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Entendendo que a ciência positivista seria a única explicação legítima 
da sociedade, Comte constatou que a religião e a filosofia conduzem o ser 
humano ao engano, mas que este estava sendo substituído pelo avanço da 
ciência, propiciando à sociedade um completo domínio e conhecimento do 
mundo que o cerca. Embora tenha proferido críticas à religião, no final de 
sua vida, Comte acabou propondo a chamada Religião da Humanidade, 
em sua obra intitulada Catecismo Positivista (escrita em 1852). O principal 
objetivo de Comte era resgatar a moralidade perdida com a ascensão da 
modernidade.
1.3 Diferentes Sociologias
É possível falarmos em nome de uma única sociologia ou de uma única 
ciência política? Ou existem diferentes formas de fazê-las? Existe uma única 
maneira de se estudar e de desenvolver pesquisas a partir dessas disciplinas?
Não, pois o pensar sociológico e político pressupõem a existência de 
diferentes “escolas” e tradições, conforme veremos adiante. Apesar de 
Maquiavel ser comumente considerado o fundador da Ciência Política, e 
Comte o instituidor da Sociologia, principalmente pelo fato de ter atribuído 
o nome a esta disciplina, há certo consenso entre os sociólogos acerca da 
maior importância dada, do ponto de vista teórico-metodológico e político, 
a Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber (além de outros autores como 
Simmel, Tarde, Tönnies, etc.). 
É importante ressaltar que, embora tenham desenvolvido suas teorias 
sociológicas e políticas, bem como suas visões acerca da modernidade, de 
forma bastante distinta, não há uma unidade no pensamento desses autores. 
Logo, cada um acabou desenvolvendo distintamente sua teoria sociológica, 
sua teoria da modernidade e sua teoria política:
Teoria sociológica: métodos de estudo da realidade social.
Teoria da 
modernidade:
interpretações quanto às características das relações sociais em tempos 
modernos.
Teoria política: discussão sobre os problemas e desafios da vida em sociedade.
Fonte: Sell (2009)
Como ambos viveram em diferentes momentos daquele período que se 
convencionou chamar de modernidade, marcado por diversas mudanças 
sociais, culturais, políticas e econômicas, sobretudo, em decorrência do 
Renascimento, Iluminismo, Revolução Industrial e Revolução Francesa, 
15Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
conforme veremos na sequência, cada um deles desenvolveu suas metodologias 
e teorias destinadas a analisar os fenômenos sociais que estavam à sua volta, 
posicionando-se politicamente diante daqueles acontecimentos. 
A construção desses diversificados arcabouços teóricos elaborados pela 
sociologia clássica, que trata tanto dos fenômenos sociais daquela época, 
como também da sistematização de metodologias e dos posicionamentos 
políticos desses autores, são reflexos de suas diferentes concepções de mundo.
Os clássicos da Sociologia foram alguns dos grandes intérpretes do 
mundo moderno. Eles nos ajudaram a entender que a modernidade 
implica uma profunda ruptura com o passado, trazendo novas formas 
de organizar a produção (economia), distribuir o poder (política) e 
compreender a existência (cultura) (SELL, 2009:17).
Sell (2009), de forma bastante simplificada, apresentou um quadro 
comparativo referente aos três principais autores da sociologia clássica, que 
será apresentado doravante.
Autores Teoria Sociológica
Teoria da 
Modernidade
Teoria Política
Marx Método Histórico- Dialético
Modo de Produção 
Capitalista
Comunismo
Durkheim MétodoFuncionalista Divisão do Trabalho Social
Culto do indivíduo
Weber Método Compreensivo
Racionalismo da 
Dominação do Mundo
Liderança Carismática
Fonte: Sell (2009)
Embora este seja um material didático destinado a introduzir o aluno 
do curso de Pós-Graduação em gestão pública do Instituto Federal do 
Paraná – IFPR no campo da Sociologia Clássica e da Ciência Política para, 
subsequentemente, tratarmos da Sociologia Política, queremos deixar claro 
que este livro não tratará de debater estas Teorias, mas apresentá-las de 
maneira introdutória. 
1.4 A Influência da Modernidade no Surgimento da 
Sociologia
Antes de definirmos o campo da sociologia política e os seus principais 
objetos é importante destacarmos que a Revolução Industrial e a Revolução 
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Francesa – que, de certa forma, estiveram permeadas por certa revolução 
científica – foram acontecimentos imprescindíveis para o surgimento da 
sociologia. O Renascimento e o Iluminismo proporcionaram importantes 
mudanças dos pontos de vista social, cultural e religioso, assim como a 
Revolução Francesa provocou uma transformação política e a Revolução 
Industrial uma modificação na ordem econômica.
A Europa, no século XVIII, havia atravessado por um importante 
período de abalo as tradições políticas com a revolução francesa. Este 
fenômeno da maior importância resultou na queda da monarquia 
e na progressiva instauração do sufrágio eleitoral, do processo de 
ampliação dos direitos humanos, das noções de liberdade, fraternidade 
e igualdade, trazendo novos ideais políticos, inaugurando novas formas 
de organização do poder a partir da ascensão da classe burguesa. 
No entanto, antes da Revolução Francesa consagrou-se uma nova forma 
de pensar filosoficamente o mundo, através do chamado Iluminismo ou 
Século das Luzes. Este se destacou por ser um movimento intelectual 
que possuía como objetivo entender e organizar o mundo a partir da razão. 
Segundo os filósofos Voltaire, Rousseau, Diderot, D’Alembert dentre outros, 
a razão era a luz que sepultaria as trevas apresentadas pela monarquia e pela 
religião que manipulavam o conhecimento da época. 
Esse processo de transformação cultural teve seu início no Renascimento, 
século XV, pois embora tenha sido mais forte no campo das artes, o 
objetivo era colocar o ser humano (antropocentrismo) no lugar de Deus 
(teocentrismo). Entretanto, o Iluminismo acabou acrescentando um 
elemento importantíssimo ao Renascimento, que seria o potencial da razão 
humana. 
Desta forma podemos entender que por detrás da transformação de 
ordem política ocorrida na Revolução Francesa, havia outra transformação 
concomitante, mas de ordem cultural através do pensamento iluminista 
que estava se consolidando nos séculos XVII e XVIII, tendo iniciado seu 
processo de busca pela racionalização desde o Renascimento. Assim, este 
século de contestação política e cultural acabou propiciando outra importante 
transformação posterior de ordem econômica – a chamada Revolução 
Industrial.
17Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
A Revolução Industrial alterou plenamente as formas de interação 
humana, aumentando a produtividade e instaurando duas novas classes 
sociais: a burguesia (que já era existente) e o proletariado. A primeira 
se destacava por possuir a propriedade das máquinas ou os chamados 
meios de produção, enquanto que a segunda se obrigava a vender o 
único bem que possuía, ou seja, o próprio corpo para o trabalho ou 
a chamada força de trabalho. Junto a essas transformações vieram a 
imigração, a urbanização, a proletarização, novas formas de pobrezas 
e fenômenos sociais radicalmente novos que possibilitaram uma 
transformação de ordem econômica.
É importante destacar que as três transformações que apresentamos 
de forma arbitrária alteraram não apenas as estruturas fundamentais da 
sociedade europeia e/ou ocidental, como também os rumos da história, 
desencadeando novas relações sociais, assim como novas formas de luta 
política, tanto o Iluminismo com as revoluções Francesa e Industrial. Essas 
transformações começaram um movimento de transição entre o que hoje 
chamamos de Idade Média e Idade Contemporânea.
Foi em meio às concepções sobre os acontecimentos desses séculos que os 
três clássicos da sociologia – Marx, Durkheim e Weber – construíram suas 
teorias sociológicas (dimensão teórico-analítica) pautadas nas análises dessas 
transformações históricas, que pressupõem teorias da modernidade (dimensão 
teórico-empírica) e proposições de projetos políticos (dimensão teórico-
política), ambas permeadas pela objetividade do conhecimento científico na 
busca por uma maior compreensão da relação entre indivíduo e sociedade.
Enquanto a dimensão teórico-analítica consiste na capacidade de 
explicação baseada na utilização de métodos científicos, a dimensão teórico-
empírica compreende o uso destes métodos a partir de elementos extraídos de 
determinada realidade empírica que se relaciona intimamente com a dimensão 
teórico-política, amparada nos posicionamentos destes autores diante das 
transformações que presenciavam a partir do século XIX. 
No entanto, até o século XIX eram poucos os pensadores que se preocupavam 
com as chamadas atualmente de questões sociais. E estes poucos que havia, 
analisavam as questões sociais com auxílio da filosofia política, limitando suas 
compreensões a partir do fenômeno do poder pensando na esfera do Estado. 
Como a filosofia política possuía um caráter eminentemente especulativo, não 
dispondo da observação e da experimentação (elementos essenciais para o 
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olhar científico), foi necessária a elaboração de uma disciplina que utilizasse os 
métodos científicos na compreensão da realidade: a sociologia política.
1.5 Sociologia Política
Sempre que falamos em sociologia política, falamos também em 
ciência política. Podemos dizer que ambas são as mesmas coisas? O que as 
caracterizam?
Embora alguns autores constatem que seja “impossível estabelecer qualquer 
distinção teórica entre sociologia política e ciência política” (BOTTOMORE, 
1979:08), uma vez que ambas versam sobre as questões referentes ao poder; 
outros, como Duverger (1968), por exemplo, apesar de reconhecerem a enorme 
proximidade entre esses campos, acabam distinguindo-os, na medida em que 
consideram a ciência política como uma ciência do Estado, e a sociologia 
política como uma ciência do poder, ultrapassando, assim, os limites da 
organização estatal. 
Segundo Duverger (1968), a sociologia política não deve ser tratada 
apenas como uma disciplina que visa analisar e corroborar com a manutenção 
da ordem social em proveito de todos, mas, principalmente, como uma 
ferramenta de combate entre indivíduos e grupos destinados a conquistarem 
poderes utilizados em proveito próprio ou em detrimento da coletividade. 
Deste modo, o autor propõe que, para a sociologia política, o poder possui 
duas faces: a opressão e a integração, elementos que são disponibilizados de 
maneira diferente entre os autores da sociologia clássica.
[...] A ciência política se caracteriza por buscar nos fatos políticos as variáveis 
explicativas, ou seja, independentes e que dão sentido a outros fenômenos e 
processos do mundo político ou fora dele. Ao analisar os tipos de regimes políticos, as 
condições do exercício do poder, os negócios políticos, os programas governamentais, 
os grupos de poder, os conflitos e tensões institucionais, o cientista político busca 
regularidades, conexões causais entre os fatos do mundo político. Por sua vez, o 
sociólogo localiza nas condições socioestruturais, nos fenômenos sociais, as causas 
explicativas de outros acontecimentos sociais, ou mesmo políticos, econômicos etc. 
São conceitos típicos da Sociologia: comunidade (rural e urbana),trabalho, status, 
autoridade, classe social, alienação, ideologia, mito etc. [...]
Fonte: SOUZA, Nelson Rosário de. O que é Sociologia Política. Disponível em: <http://www2.videolivraria.com.br/
pdfs/8697.pdf> (Acessado no dia 27 de abril de 2012).
19Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
A aproximação entre a ciência política e a sociologia ocorreu a partir do século 
XX, em decorrência da massificação da política institucional e dos diferentes 
movimentos sociais que se iniciaram, sobretudo, na Europa central. Foi somente 
a partir da formação dos partidos de massa e da intensificação na organização de 
mobilizações sociais que a junção dessas duas disciplinas foi possível, objetivando 
analisar os diferentes elementos que compõem e influenciam não apenas o jogo 
político institucional, mas as demais relações sociais.
Neste capítulo pudemos compreender quais foram as condições em que a 
sociologia e a ciência política emergiram. Vimos também que a elaboração 
e o desenvolvimento da ciência política ocorreram na Europa, sobretudo, na 
Itália, em meados do século XVI, com a publicação de O Príncipe, de Nicolau 
Maquiavel, enquanto que a sociologia só foi se desenvolver no século XIX, 
na França, com a criação da teoria positivista, forjada por Augusto Comte a 
partir de sua obra intitulada Curso de Filosofia Positiva. 
Além de proporcionarmos uma análise sobre o contexto em que a sociologia 
emergiu, ainda tratamos de expor, de maneira bastante introdutória, alguns 
elementos basilares dessas diferentes teorias sociológicas clássicas que serão 
abordadas doravante. Contudo, gostaríamos de ressaltar que as teorias 
elaboradas por Marx, Durkheim e Weber não somente passaram a ser utilizadas 
como ferramentas indispensáveis para a compreensão da realidade social 
através de um processo de validação perpassado pelo crivo da cientificidade 
que visava explicar, compreender, refletir e analisar os fenômenos sociais, além 
de combatê-los, como também apresentaram aspectos imprescindíveis que 
subsidiaram a elaboração daquilo que se convencionou chamar de sociologia 
política, tema deste livro.
Síntese
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Sugestão de livro:
GIDDENS, Anthony & TURNER, Jonathan 
(org.).Teoria Social Hoje. São Paulo: Unesp, 1999.
Neste livro, os autores debatem as grandes questões que 
permearam o universo das ciências sociais nas últimas 
décadas, como ‘O que existe fora do universo social?’; 
Quais são as propriedades mais fundamentais do mundo?’; 
‘Que tipo de análise dessas propriedades é possível ou apropriada?’ Dessas 
abordagens resulta um rico panorama responsável pela configuração da 
variedade de posturas em torno das quais se desenvolve a teoria social 
contemporânea.
Fonte: http://www.skoob.com.br/livro/35159-teoria-social-hoje. 
Acesso em 27 de maio de 2012.
Sugestão de filme:
WAJDA, Andrezej (direção). Danton – O Processo 
de Revolução. França, 1983.
(Danton, O Processo da Revolução é um dos filmes 
indispensáveis sobre a Revolução Francesa. Com a Direção 
do mestre Andrzej Wajda (Cinzas e Diamantes), essa obra 
prima tem como destaque o astro Gérard Depardieu, 
em uma das grandes interpretações de sua carreira. Quatro anos após a 
Revolução, a situação econômica da França é um desastre. Na época, cada 
cidadão era um suspeito em potencial. As cabeças rolavam com a guilhotina. 
O povo vivia com fome e com medo. Os mesmos revolucionários – Danton 
e Robespierre –, que tinham proclamado a Declaração dos Direitos do 
Homem, implantavam o Reino do Terror. Enquanto Danton tinha o apoio do 
povo, o segundo tinha o poder. O embate entre os dois líderes dá início a um 
complexo processo político.
CHAPLIN, Charles (direção). Tempos Modernos. 
Inglaterra, 1936.
A história gira em torno de um trabalhador que ao sofrer 
um colapso nervoso devido ao seu cansativo trabalho, é 
levado para um hospital, e ao voltar para a sua vida 
exaustiva, encontra a fábrica fechada. Sem saber do que 
viver, ele vai atrás de outros empregos. E nessa busca acaba fazendo uma 
grande amizade.
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2
CapítuloA Teoria Sociológica 
Funcionalista de Émile 
Durkheim
Este capítulo propõe descrever os principais 
elementos teóricos, metodológicos e políticos 
que compõem a chamada teoria sociológica 
funcionalista elaborada por David Émile 
Durkheim (1858-1917), disponibilizando 
ao leitor as percepções sobre a modernidade 
e sobre a pesquisa sociológica, além de 
apresentar as concepções políticas do autor.
2.1 Seguindo os passos de Comte
Seguidor de Augusto Comte, um dos autores apresentados no 
capítulo anterior, mas sem perder de vista seus limites, e com a 
pretensão de conferir à sociologia uma reputação verdadeiramente 
científica, Émile Durkheim teve como principal objetivo 
desenvolver um importante aspecto que faltava na sociologia 
criada por seu precursor: um método de análise. Através de 
sua tese intitulada Divisão do Trabalho Social (1893), Durkheim 
desenvolveu “ferramentas” que o ajudaram a ser considerado por 
seus pares um dos pesquisadores pioneiros na área da sociologia 
da religião (com sua obra intitulada As Formas Elementares da 
Vida Religiosa, 1912), na área do conhecimento (com sua obra 
intitulada As Regras do Método Sociológico, 1895), nos estudos 
empíricos sobre o fenômeno do suicídio (em sua obra intitulada 
O Suicídio, 1897), e na área da educação (expostos em sua obra 
Educação Moral, 1925, por exemplo).
Dentre as influências fundamentais do pensamento de 
Durkheim podemos destacar três correntes de pensamento: 
o positivismo, o evolucionismo e o conservadorismo que 
contribuíram para a elaboração da teoria sociológica 
funcionalista. O pensamento positivista, que partia das ideias 
de Comte, enfatiza o poder da razão oriundo do iluminismo e a 
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superioridade da ciência através do positivismo; o evolucionismo aplicava a 
noção de evolução da natureza a partir de Darwin e evolução da sociedade a 
partir de Spencer1; o conservadorismo de Burke2, Maistre3 e Louis de Bonald4, 
que se opunham as transformações trazidas pela Revolução Francesa, criticando o 
racionalismo e a agitação do mundo moderno, propondo um retorno aos ideais de 
estabilidade da Idade Média enfatizada pela religião, que deveria ser sobreposta 
pela ampliação de um modelo de educação laica. 
Embora Durkheim não rejeitasse o progresso, a ênfase conservadora 
na ordem o influenciou em suas posições políticas. 
2.2 Relação entre o Indivíduo e a Sociedade
Mas, qual a relação entre a sociedade e o indivíduo? De acordo com 
Durkheim, de que maneira um complementa o outro?
1 Herbert Spencer (1820-1903) foi um grande admirador de Charles Darwin e de sua obra intitulada 
A Origem das Espécies, sendo o responsável pela expressão “sobrevivência do mais apto”. Em suas 
obras o autor aplicou as supostas leis da evolução a todos os níveis da atividade humana. Spencer 
também foi considerado o fundador de uma corrente chamada dedarwinismo social. Com base em 
suas ideias, alguns autores procuraram justificar a divisão da sociedade em classes, propondo que estes 
seriam exemplos de seleção natural. 
2 O conservadorismo é uma corrente do pensamento políticos que iniciou na Inglaterra por volta 
do final do século XVIII pelo advogado, filósofo e político irlandês, Edmund Burke (1729-1797), 
como uma reação à Revolução Francesa. Partia do princípio de que as utopias provenientes deste 
acontecimento resultaram em uma instabilidade política e em crises sociais em toda a França. O 
pensamento conservador foidifundido pelo mundo, sobretudo, a partir do período do Terror jacobino, 
que, durante o auge da Revolução, causou a morte de 35 a 40 mil pessoas. O termo “conservador” 
pressupõe certa adesão aos princípios e aos valores atemporais, que deveriam ser conservados a 
despeito de toda mudança histórica.
3 O Conde Joseph-Marie de Maistre (1753-1821) foi um importante escritor, filósofo, diplomata 
e advogado proponente do pensamento contrarrevolucionário no período seguinte à Revolução 
Francesa de 1789. Ao ser favorável a restauração da monarquia hereditária, pressupondo-a como uma 
instituição de inspiração divina, Maistre defendia a suprema autoridade do Papa, quer em matérias 
religiosas como também em matérias políticas.
4 Louis-Gabriel-Ambroise, comumente chamado Visconde de Bonald (1754-1840), foi um filósofo 
francês que contestava o Iluminismo e a Teoria Política em que se fundamentava a Revolução 
Francesa. Junto à La Mennais no domínio da filosofia, a Joseph de Maistre na religião e a Ferdinand 
d’Eckstein na história, Louis de Bonald é reconhecido, na filosofia política, como um dos precursores 
da filosofia católica contrarrevolucionária.
23Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
Ao averiguar que a sociedade incide sobre os indivíduos, Durkheim, 
influenciado pelo positivismo, verificou que a explicação da realidade está 
condicionada pelo objeto. Portanto, a sociedade (objeto) tem precedência 
sobre o indivíduo (sujeito). 
Segundo o autor, a sociedade 
deve ser tratada como algo para 
além da soma dos indivíduos que 
a compõem, pois uma vez vivendo 
em sociedade, os indivíduos dão 
origem às instituições sociais 
que possuem dinâmica própria: 
os seres humanos passam pela 
sociedade, mas ela fica. Para 
Durkheim, é a sociedade que age 
sobre o indivíduo, modelando suas 
formas de agir, influenciando suas concepções e modos de ver, condicionando 
e padronizando o seu comportamento. Assim, a noção de que somos pessoas 
ou sujeitos individuais nada mais é do que uma construção social.
Em relação ao método científico elaborado por Durkheim na construção 
da teoria sociológica funcionalista a partir de sua obra As Regras do Método 
Sociológico (1895), o autor afirmou que a primeira e a mais importante regra 
da sociologia é considerar os fatos sociais como “coisas”. Essa concepção 
parte do princípio de que a realidade social se aproxima da realidade da 
natureza. Assim, tal como as “coisas” da natureza funcionam de forma 
independente da ação humana, cabendo ao cientista apenas mostrar suas 
regularidades; as “coisas” da sociedade, chamadas de fatos sociais, também 
seriam uma realidade distinta da ação humana. 
Segundo Durkheim (1979), para a sociologia obter a objetividade plena 
deveria “registrar” da forma mais imparcial e neutra possível a realidade 
pesquisada (objeto), tal qual fariam as demais ciências. Desta forma, o papel 
do pesquisador seria elaborar um retrato da realidade pesquisada, pois ela 
seria uma realidade objetiva como qualquer outra “coisa” da natureza. Na 
percepção sociológica do autor, é a realidade (objeto) que se impõe ao 
sujeito (observador). Por isso, Durkheim e Comte defendiam a tese de que 
as ciências sociais deveriam adotar o mesmo método das ciências naturais.
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2.3 Fato Social e Função Social
(...) é um fato social toda maneira de agir, fixa ou não, capaz de exercer 
sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou ainda; que é geral no conjunto 
de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, 
independente de suas manifestações individuais (DURKHEIM, 1979).
Como para Durkheim os fatos sociais não existem por acaso, na medida 
em que existem porque a princípio cumprem uma função social, o autor 
comparará a sociedade a um “corpo vivo”, em que cada órgão desempenha 
um papel devido. Daí o nome de metodologia funcionalista como método 
de análise e daí a ideia de que o todo predomina nas partes, implicando na 
afirmação de que a parte (fatos sociais) existe em função do todo (sociedade). 
Para Durkheim (1979), o objeto da sociologia são os fatos sociais, 
que consistem em diferentes maneiras de agir capazes de exercer sobre o 
indivíduo uma coerção exterior generalizante do ponto de vista do conjunto 
de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria que 
independe de suas manifestações individuais. Segundo o autor, a forma como 
o ser humano age é sempre condicionada pela sociedade, já que essas formas 
de agir chamadas de fatos sociais possuem um tríplice caráter: são exteriores 
(provêm da sociedade e não do indivíduo), coercitivos (são impostas pela 
sociedade ao indivíduo) e objetivos (tem uma existência independente do 
indivíduo). Um professor, por exemplo, ao fazer a chamada em sala de aula 
no intuito de verificar os alunos presentes e os ausentes ou ao aplicar uma 
simples prova, não o faz necessariamente por ser seu próprio desejo, mas sim 
porque é coagido por normas e regimentos objetivos que são exteriores a ele, 
provenientes da instituição de ensino da qual faz parte. Portanto, este ato 
pode ser tratado, sob um viés funcionalista, como um fato social, exatamente 
também por pressupor elementos exteriores, coercitivos e objetivos. 
Embora tenha desenvolvido 
o conceito de fato social de 
forma mais aprofundada 
somente em sua segunda 
obra As Regras do Método 
Sociológico (1895), foi em 
sua primeira obra intitulada 
Divisão do Trabalho Social, que 
Durkheim (2010) centrou 
suas análises sobre a função 
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25Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
da divisão do trabalho nas sociedades modernas. Neste trabalho, o autor 
adotou a tese de que a sociedade havia passado por um processo de evolução 
caracterizado pela diferenciação social, partindo de uma sociedade demarcada 
por laços de solidariedade mecânica – caracterizada pela consciência 
coletiva, pelas sociedades fragmentadas e pelo direito repressivo – para outra 
demarcada por laços de solidariedade orgânica – assinalada pela divisão 
social do trabalho, pelas sociedades diferenciadas e pelo direito restitutivo5.
Conforme o autor, o que distingue esses momentos de “evolução” da 
sociedade são os mecanismos que geram os laços de solidariedade social 
(tipos de consciência e divisão social do trabalho), pois a solidariedade 
mecânica e a solidariedade orgânica seriam diferentes estratégias de 
integração das pessoas nos grupos ou instituições sociais, correspondendo 
diferentes formas de organização da sociedade (sociedades fragmentadas ou 
sociedades diferenciadas) e podendo ser percebidas de acordo com o tipo de 
organização jurídica predominante (repressivo ou restitutivo). Portanto, nas 
sociedades caracterizadas em comportamentos abalizados nas semelhanças, 
as ações tidas como desviantes são punidas de maneira ainda mais severa 
a partir de regras e normas extraídas dos costumes e hábitos, podendo, 
inclusive, garantir a pena de morte.
As sociedades de solidariedade mecânica se caracterizam pela 
semelhança, enquanto que as de solidariedade orgânica se afirmam pela 
diferença. Nas primeiras, os indivíduos se diferem pouco uns dos outros, já 
que os membros dessas coletividades compartilham os mesmos sentimentos 
e valores, reconhecendo os mesmos elementos e objetos como algo sagrado, 
conforme podemos localizar certos elementos de integração social na 
chamada Idade Média. Já as segundas são aquelas em que a unidade coerente 
da coletividade, o consenso, resulta de certa diferenciação ou é exprimida pormeio dela, conforme os dados encontrados por Durkheim nas formas de 
organização social da modernidade. Segundo o autor, a oposição gerada entre 
essas duas formas de solidariedade social se combina com a distinção entre 
as chamadas sociedades segmentárias e aquelas em que aparece a moderna 
5 Segundo Durkheim o direito repressivo revela a consciência coletiva nas sociedades de solidariedade 
mecânica (tipo de solidariedade social em que os indivíduos se diferem muito pouco uns dos outros), 
devendo garantir a subordinação da consciência individual à consciência coletiva, fator relevante da 
integração social. Já o direito restitutivo é aquele em que predomina nas sociedades de solidariedade 
orgânica (tipo de solidariedade encontrado nas sociedades complexas, onde a integração é realizada 
a partir da diferenciação entre os indivíduos e grupos no interior da sociedade). Neste, a coesão 
social não depende tanto da vigência de um sistema de crenças e sentimentos comuns a todos, 
mas principalmente da moral profissional para cada atividade especializada e de normas legais que 
possibilitam a dependência mútua. Deste modo, o direito localizado nestas sociedades individualistas 
tem a função de garantir o mínimo de consciência coletiva para que a sociedade não entre num 
processo de desintegração.
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divisão do trabalho social. Embora as sociedades de solidariedade mecânica 
sejam, em certo sentido, sociedades segmentárias, a definição de ambas não é 
exatamente a mesma. Vejamos o que nos diz Aron (2002):
(...) a noção de estrutura segmentária não se confunde com a solidariedade 
por semelhança. Sugere apenas o relativo isolamento, a autossuficiência dos 
vários elementos. Pode-se conceber uma sociedade global ocupando amplo 
espaço que não passasse da justaposição de segmentos, todos semelhantes e 
autárquicos. É possível a existência de um grande número de clãs, tribos ou 
grupos regionalmente autônomos, justapostos e talvez até mesmo sujeitos a 
uma autoridade central, sem que a coerência por semelhança do segmento 
seja quebrada, sem que se opere, no nível da sociedade global, a diferenciação 
das funções características da solidariedade orgânica. A divisão do trabalho 
que Durkheim procura apreender e definir não se confunde com a que os 
economistas imaginam. A diferenciação das profissões e a multiplicação 
das atividades industriais exprimem a diferenciação social que Durkheim 
considera de modo prioritário. 
2.4 Da Solidariedade Social aos Tipos de Consciência
Ao elaborar os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade 
orgânica a partir da obra Divisão do Trabalho Social, Durkheim (2010) 
evidenciou dois tipos de consciência presentes em todos os indivíduos e 
que variam de intensidade de acordo com o tipo de organização social. A 
constatação de que existem diferentes tipos de solidariedade social fez com 
que o autor verificasse que o grau de coesão, ou melhor, de integração entre 
os indivíduos, acabou sendo alterado com a divisão do trabalho social, 
incidindo sobre eles de maneira distinta através da variação da preponderância 
das consciências individual e coletiva. No entanto, Durkheim alerta que a 
solidariedade social não pode ser realizada somente para que cada um cumpra 
apenas sua tarefa, antes disso, é imprescindível que ela lhe seja conveniente.
Enquanto a consciência individual refere-se a todos os estados 
mentais relacionados às nossas concepções pessoais e visões de 
mundo provenientes de acontecimentos ocorridos em nossas vidas; 
a consciência coletiva trata do sistema de ideias, sentimentos e 
hábitos que exprimem em todos nós as concepções do grupo e da 
sociedade que fazemos parte, revelando nossas crenças religiosas, 
tradições nacionais, práticas morais, além de quaisquer outras 
opiniões manifestadas coletivamente que formam o ser social. 
27Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
Ao procurar avaliar os diferentes tipos de incidência dos laços de 
solidariedade social que implicam na preponderância ora da consciência 
coletiva ora da consciência individual, Durkheim (2010) encontrou como 
possível indicador as normas estabelecidas pelo Direito. Para o autor, o 
Direito seria uma forma estável e precisa que serviria perfeitamente de fator 
externo e objetivo para analisar os elementos essenciais encontrados nesses 
diferentes tipos de solidariedade social. 
Segundo Durkheim (2010), o Direito atuaria nas sociedades complexas de 
maneira análoga ao sistema nervoso, uma vez que regularia as funções deste 
“corpo vivo” que seria a sociedade. Deste modo, as sanções impostas pelos 
costumes que se caracterizavam por serem difusas seriam substituídas pelo 
Direito, que passou a organizá-las de maneira mais coerente, proporcionando 
uma alteração significativa no tratamento daquelas ações tidas moralmente 
como desviantes ou criminalizáveis.
O direito e a moral são o conjunto de vínculos que nos prendem uns aos 
outros e à sociedade, que fazem da massa dos indivíduos um agregado e 
que fazem um todo coerente. É moral, pode-se dizer tudo o que é fonte 
de solidariedade, tudo o que força o ser humano a contar com outrem, a 
reger seus movimentos com base em outra coisa que não os impulsos do 
seu egoísmo, e a moralidade é tanto mais sólida quanto mais numerosos e 
mais fortes são esses vínculos. Vê-se quão inexato é defini-la, como se faz 
com tanta frequência, pela liberdade; ela consiste antes num estado de 
dependência. Longe de servir para emancipar o indivíduo, para separá-
lo do meio que o envolve, ela tem como função essencial, ao contrário, 
torná-lo parte integrante de um todo e, por conseguinte, tirar-lhe parte 
da sua liberdade de movimento (DURKHEIM, 2010). 
2.5 Anomia e Moralidade
Assim como Comte, Durkheim (2010) acreditava que a França se 
encontrava imersa em uma enorme crise moral devido ao vazio trazido pelo 
desaparecimento dos valores e das instituições que zelavam, protegiam e 
envolviam o mundo feudal como as organizações de ofícios, por exemplo. Para 
Durkheim, os conflitos e as desordens que ocorriam na França do século XIX 
eram considerados sintomas da anomia jurídica e moral presentes na vida 
econômicas, uma vez que os progressos ocorridos não haviam acompanhado 
o desenvolvimento das instituições capazes de regular os interesses e limites.
A constatação de que a sociedade francesa de sua época estava imersa 
em um estado doentio provocado pela ascensão da modernidade acabaram 
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levando-o a enfatizar em sua tese de doutorado intitulada A Divisão do 
Trabalho Social tanto a importância dos fatos morais na integração e coesão 
dos indivíduos à vida coletiva, quanto à preocupação com as possíveis 
consequências ocasionadas pela desintegração social, chamada por Durkheim 
(2010) de anomia.
O primeiro diagnóstico das patologias da modernidade de Durkheim 
recebeu uma formulação sociológica e é representado especialmente 
pelo conceito de anomia (a + nómos, que significa ausência de 
normas). Segundo a tese desenvolvida em A divisão do trabalho social, 
com a passagem da sociedade de solidariedade mecânica para a 
sociedade de solidariedade orgânica, ocorre uma ampliação da esfera 
da individualidade. A especialização das funções acarreta o declínio da 
consciência coletiva que ainda não havia sido substituída por novos valores 
adaptados aos diversos órgãos da sociedade. Nesta obra, Durkheim 
sustenta que a anomia seria um fenômeno passageiro, fruto de um 
desajuste temporário na integração das tarefas econômico-sociais. Em 
momento posterior, na obra O suicídio, Durkheim reformula o conceito 
que aparece agora como um problema endêmico do mundo moderno, 
resultado do enfraquecimento da regulação moral das condutas sociais. 
Na visão sociológica durkheimiana, o conceitode anomia expressa as 
contradições da vida em tempos modernos: o paradoxo da modernidade 
é que, se de um lado existe maior autonomia para o indivíduo, por outro, 
existe risco de que o excesso de liberdade leve à desagregação social 
(SELL, 2009).
A preocupação de Durkheim com a anomia também está relacionada com 
a questão da moral, que aparece em vários pontos da sua obra, apresentando 
como fatos morais aqueles fenômenos em que a moral aparece como um 
sistema de acontecimentos relacionados ao sistema total do mundo que 
permite tratar dos fatos da vida moral a partir do método das ciências 
positivas, apresentadas no capítulo anterior. É possível constatar que a 
concepção durkheimiana de divisão do trabalho se apresenta intimamente 
relacionada à sua visão de moral, quando o autor verifica que a divisão do 
trabalho deve estar permeada por um caráter moral, porque as necessidades 
de ordem, de harmonia e de solidariedade social são geralmente tidas como 
elementos morais. Assim, verifica-se que a construção do conceito de 
solidariedade social é visto como um fenômeno totalmente moral.
De que forma a realidade moral é visualizada por Durkheim? 
Para Durkheim (2004), a chamada realidade moral pode ser visualizada 
sob dois aspectos diferentes: um objetivo e outro subjetivo. A moral objetiva 
pressupõe que sociedade é regida por normas baseadas em seus preceitos 
morais sob as quais os tribunais se guiam para tratar da condenação dos 
indivíduos que violam as barreiras dessa moral, ou seja, o compartilhamento 
29Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
de uma moral comum e geral para todos os seres humanos que pertencem 
a uma coletividade. Já a moral subjetiva se situa na esfera da posição dos 
indivíduos frente à moral objetiva citada. Nela, cada um pode interpretar a 
moral comum ao seu modo, possibilitando ainda que os diferentes indivíduos 
interpretem-na como imoral. Portanto, ao verificar que existe um número 
indefinido desse tipo de moral, Durkheim (2004) acabou constatando que o 
seu enraizamento nas consciências originaram-se das influências do meio, da 
educação e, até mesmo, da hereditariedade. 
Para Durkheim (2010), o mundo moderno passou a ser caracterizado 
pela redução da eficácia daquelas instituições sociais integradoras 
como a religião e a família, uma vez que os indivíduos passaram a se 
agrupar conforme suas atividades profissionais. Enquanto a família 
deixou de manter sua condição integradora de garantir a unidade 
e a indivisibilidade diminuindo, assim, sua influência sobre a vida 
privada, o Estado também se manteve distante dos indivíduos, 
exercendo sobre eles relações exteriores intermitentes, possibilitando 
uma profunda penetração nas consciências individuais, socializando-
as interiormente.
Durkheim (2010) verificou que a diversidade de correntes de pensamento 
que acabou restringindo a eficácia das religiões, uma vez que elas deixaram 
de subordinar plenamente o fiel, subsumindo-o àquilo que considerava 
sagrado. Deste modo, o enfraquecimento do poder de coesão da religião 
proporcionou às profissões uma importância cada vez maior na vida 
social, substituindo e excedendo a antiga condição da família. 
Ao constatar o deslocamento da ênfase da religião e da família como 
instituições que engendravam laços de coesão social para o campo do 
trabalho, sobretudo, dos grupos profissionais, Durkheim encontrou nesses 
espaços os caminhos para a reconstrução da solidariedade social e da 
moralidade integradoras que careciam nas sociedades industriais. Assim, 
conforme o autor, os grupos profissionais e as corporações poderiam suprir 
essas demandas na medida em que cumpririam as condições necessárias para 
a regulamentação da vida social que havia sido perdida com a emergência 
da modernidade.
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2.6 A Importância do Estado em Durkheim
Segundo Oliveira (2011), existe um grande debate acerca da existência 
ou não de uma teoria política em Durkheim. Embora não se possa afirmar 
nitidamente se existe, de fato, nas obras deste autor uma teoria política no 
sentido estrito do termo, conforme constatou Oliveira (2011), é possível 
encontrar em seus escritos o aprofundamento de debates sobre assuntos 
como democracia, liberalismo, socialismo, pacifismo, nacionalismo, além da 
religião, educação, suicídio, divisão do trabalho social, ou seja, sobre elementos 
tangenciados pelo poder que hoje certamente poderiam ser encontrados no 
campo da sociologia política6.
Segundo Oliveira (2011), a passagem dos estudos sobre o Estado para 
as análises sobre a moral, e destas para as interpretações acerca dos laços 
de solidariedade social foi anunciada em A Ciência Positiva da moral na 
Alemanha, publicada por Durkheim em 1887. Logo após alterou o objeto de 
sua tese de doutorado que havia sido intitulado em 1882 de “Individualismo 
e Socialismo”, passando a alterá-lo posteriormente7.
Na obra A Divisão do Trabalho Social, Durkheim (2010) averiguou que o 
fator que garante as formas de solidariedade social não é uma exclusividade 
do Estado, mas sim da divisão do trabalho. Assim, ao fugir da circularidade 
problematizada na especialização do trabalho e no dever moral possivelmente 
resgatada pelo Estado, o autor recorre à história e à comparação, referenciando 
diversos tipos de Estado e de regras jurídicas existentes nas mais diversas 
sociedades, conforme encontramos nesta sua obra.
O Estado é o conjunto de corpos sociais exclusivamente preparados 
pra falar e agir em nome da sociedade. Quando o parlamento vota 
uma lei, quando o governo toma alguma decisão em seus conselhos de 
competência, toda a coletividade acaba se encontrando ligada. Quanto 
às administrações, estas são órgãos secundários, criadas pelo Estado, 
mas que não o constituem. Explica-se assim porque Estado e sociedade 
6 Embora seja possível situar Durkheim como teórico da sociologia política, uma vez que ele propõe 
análises que perpassam não somente as relações de poder, mas também relações com o Estado, o 
autor não disponibilizou esta disciplina em seu quadro de especializações da sociologia exposto na 
organização da revista Année Sociologique. Neste quadro estava citada apenas a sociologia geral, 
religiosa, moral e jurídica, conforme apontou Oliveira (2011).
7 De retorno da Alemanha, em 1886, Durkheim modifica o objeto de sua tese de doutoramento, que 
havia sido vagamente definido, em 1882, como “individualismo e socialismo”. Naquele primeiro 
momento, ele pretendia contrapor duas formas de organização social, o liberalismo e o socialismo 
de Estado, Mas, nesse novo momento, seu objeto fora redefinido: “Trata-se agora da relação entre o 
indivíduo e a solidariedade social” (OLIVEIRA, 2011 apud STEINER, 2005).
31Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
política se tornaram expressões sinônimas. Não obstante, foi somente 
a partir do momento em que as sociedades políticas conquistaram um 
determinado nível de complexidade que elas puderam agir coletivamente 
através da intervenção do Estado (DURKHEIM, 1958: 433).
Segundo Durkheim (1958), a utilidade do Estado seria de possibilitar a 
introdução de certos tipos de reflexões sobre a vida social, tendo elas papéis 
cada vez maiores na medida em que ele se encontre mais desenvolvido. Da 
mesma forma que o cérebro não cria a vida do corpo, o Estado não cria 
a vida coletiva, conforme podemos averiguar naquelas sociedades políticas 
em que ele não existe. Nelas, a coesão se dá através das crenças dispersas em 
todas as consciências que movem os indivíduos.
Quando há algum tipo de Estado, os elementos diversos que podem 
mover a multidão anônima em sentidos diferentes não teriam a capacidade de 
determinar a consciência coletiva, pois essa determinação seria a própria ação 
do Estado, segundo Durkheim (1958). Destemodo, entende-se o Estado 
como um lugar onde todos deveriam convergir, pois ele não é somente 
um órgão de reflexão social, como também é um espaço de inteligência 
institucionalizada.
Ao examinar a quantidade e a diversidade das regras jurídicas em diferentes 
sociedades através das análises desenvolvidas em sua tese de doutoramento 
que também tratava do volume total do direito, Durkheim (2010) mostrou 
que toda a centralidade da especialização se situa na divisão do trabalho social. 
Deste modo, o autor constatou que, embora seja possível verificar que as 
consequências da divisão do trabalho social existam e sejam comprovadas 
pelo Direito, suas consequências fundamentais são sociais, pois se encontram 
situadas nos diferentes tipos de solidariedade social.
Para Durkheim (2010), o direito e a moral são compreendidos como a 
materialização da lógica de funcionamento das distintas sociedades. Além 
disso, em seu entendimento, o responsável pela manutenção da sociedade 
na modernidade não é mais o Estado, mas as leis que ele expressa que são 
constituídas pelos costumes presentes nos fatos morais.
Ao definir que fatos morais são regras de conduta às quais uma 
sanção difusa está ligada na média das sociedades desta espécie social, 
Durkheim verificou que as regras são definidas a partir da sociedade 
e de suas representações coletivas que atuam de forma exterior, 
coercitiva e objetiva, por meio dos fatos sociais.
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Segundo Oliveira (2011), foi por meio deste percurso teórico que 
Durkheim conseguiu definir o fato social, entendendo que as sanções físicas 
são estabelecidas e regidas pelo Direito e as sanções morais estabelecidas 
e regidas pela sociedade, incidindo assim sobre os indivíduos através das 
normas jurídicas produzidas e garantidas legalmente pelo Estado. Segundo o 
autor, “não é por acaso, portanto, que, a partir dos anos 1890, os três grandes 
livros publicados têm por objetos temas estritamente sociológicos, morais e 
políticos” (OLIVEIRA, 2011). 
Vimos que a Teoria Funcionalista elaborada por Émile Durkheim não 
trata somente de concepções sociológicas, mas também de visões políticas 
construídas por meio de referenciais teóricos centrados em perspectivas 
tangenciadas pelo evolucionismo, conservadorismo e, principalmente, pelo 
positivismo de Comte que buscava garantir certa ordem social.
A teoria desenvolvida por Durkheim pressupõe que os fenômenos sociais 
devem ser tratados como “coisas” objetivas, exteriores e coercitivas que, a 
princípio, cumpririam uma função social. Entretanto, caso não cumpram 
essa suposta função social gerarão a chamada anomia, entendida como 
uma patologia social. Ao analisar a divisão do trabalho social em sua tese 
de doutoramento, o autor constatou que a emergência da modernidade 
possibilitou da ascensão de laços de solidariedade demarcados pela 
solidariedade orgânica que se sobrepôs à solidariedade mecânica, sendo a 
primeira demarcada pela consciência individual e a segunda pela consciência 
coletiva. Já no que se refere às perspectivas políticas, Durkheim verificou que o 
fator que garante esses dois tipos de solidariedade social não é necessariamente 
o Estado, mas sim da divisão do trabalho, pois sua utilidade seria possibilitar a 
introdução de certos tipos de reflexões sobre a vida social que garantiriam certa 
normalidade na sociedade permeada pela manutenção da ordem. 
Para concluir, constatamos que a concepção sociológica da política em 
Durkheim perpassa a ideia de que o Direito e a moral seriam materializações 
da lógica do funcionamento das diferentes sociedades. Além disso, a 
responsabilidade pela manutenção da ordem nas sociedades modernas não 
seria necessariamente o Estado, mas as leis expressadas por ele que são 
constituídas pelos costumes presentes nos fatos morais.
Síntese
33Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
Sugestão de livro:
OLIVEIRA, Márcio & WEISS, Raquel (Orgs.). David 
Émile Durkheim: A Atualidade de um Clássico. 
Curitiba: Ed. UFPR, 2011. 
O ponto de partida desse livro é Durkheim, filósofo, 
sociólogo, cientista político em relação à questão da 
moral. As análises aqui reunidas podem ser consideradas 
uma amostra significativa, embora de modo algum exaustiva, dos temas que 
atualmente atraem a atenção dos pesquisadores. Fundamentalmente, querem 
romper com as visões unilaterais e simplificadoras que insistem em classificar 
Durkheim em termos de uma ou outra corrente de pensamento e superar a 
imagem de “conservador” que ainda o envolve. Além disso, tem o propósito 
de compreender o autor a partir de um olhar atual, pautado por questões 
teóricas ou práticas que já não são as mesmas de duas ou três décadas atrás. 
Fonte: http://www.editora.ufpr.br/detalhe_lanc.php?_index=357. 
(Acesso em 27 de maio de 2012)
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3
CapítuloTeoria Sociológica 
Compreensiva de Max Weber
Neste capítulo, apresentaremos 
os principais elementos teóricos, 
metodológicos e políticos que 
compõem a Teoria Compreensiva 
ou Hermenêutica elaborada por 
Karl Emil Maximiliam Weber, 
disponibilizando ao leitor suas 
concepções sobre a modernidade, 
sobre os limites do conhecimento 
científico apontados por Comte 
e Durkheim, descrevendo as 
concepções políticas do autor. 
3.1 Principais Influências de Weber
Contrapondo-se aos pressupostos do positivismo iniciado 
com Comte, Max Weber desenvolveu uma análise pautada na 
ideia de que a razão humana, na versão encarnada pela economia 
capitalista e pela burocracia do Estado, seria uma força que, ao 
mesmo tempo em que “desencanta” o mundo, invade todas as 
esferas da vida humana, ocasionando a perda da liberdade e o 
sentido da vida.
Dentre as correntes teóricas que mais influenciaram o 
pensamento de Weber podemos citar: a filosofia moderna a partir 
de Kant, que afirmava que o conhecimento não capta a essência 
da realidade, mas apenas os fenômenos que nos são transmitidos 
através dos sentidos, de Nietzsche, do qual herdou uma visão 
pessimista da sociedade moderna e de Marx, que propôs uma 
análise rigorosa sobre o chamado modo de produção capitalista. 
Weber ainda foi influenciado pelos filósofos neokantianos, 
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como Dilthey1, Windelband2 e Rickert3, que insistiam na necessidade da 
distinção entre as características das ciências sociais (chamadas de ciências 
do espírito/cultura) das demais ciências da natureza, contrapondo-se às 
ideias positivistas desenvolvidas por Comte, e pelo pensamento social 
alemão de diferentes autores contemporâneos a ele, pois, embora tenha sido 
um dos maiores expoentes da sociologia alemã, o autor retomou as ideias 
de vários outros importantes pensadores da época, principalmente Tönnies4, 
Simmel5 e Sombardt6.
1 Wilhelm Dilthey (1833-1911) foi um filósofo hermenêutico, psicólogo, historiador, sociólogo e 
pedagogo alemão que lecionou filosofia na Universidade de Berlim. Considerado um empirista, ele 
contestava o idealismo dominante na Alemanha de sua época, o que acabou fazendo com que seus 
conceitos acabassem influenciando toda a tradição literária e filosófica da Alemanha.
2 Wilhelm Windelband (1848–1915) foi um filósofo alemão da escola de Baden que nasceu em 
Potsdam. Ele ficou conhecido principalmente por ter introduzido os termos nomotético e idiográfico 
que são comumente utilizados em psicologia e em outras áreas das ciências humanas. Windelband 
protestou tanto contra outros pensadores neokantianos quanto contra os seus contemporâneos 
positivistas, argumentando que a filosofia deveria se envolver em diálogos humanísticos

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