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Sua Excelência o Comissário.

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Universidade Federal de Sergipe 
Graduação em Direito
 Resenha de “Sua Excelência o Comissário”
Sociologia Geral e Jurídica
Professor José Afonso do Nascimento
Lucas Menezes Silva
Boquim
Agosto, 2017
Diante das várias posições e contra-sensos encontradas interiormente ao curso de direito coube aqui uma tentativa de vislumbre no que toca ao efeito e aplicação das disciplinas que o compõem. Como atuam para uma melhor formação de uma mentalidade mais voltada às disparidades sociais, ou entenda-se melhor, à realidade, em comparação à corrente dogmática jurídica. Luciano aponta a dogmática como o meio que insere no jurista a instrução do direito “de dentro” enquanto que a Sociologia insere no jurista o direito “de fora”, este sendo o ideal, voltado para a realidade socialmente efetiva. 
Aponta fatos sociais que são bem presentes ainda hoje. A questão do jogo-do-bicho (que detêm uma aceitação quase unânime) e que não se insere no porte legal válido e a ROTA –Rondas Ostensivas Tobias Aguiar- que quando levantadas às opiniões dos cidadãos periféricos do estado de São Paulo, pareciam favoráveis à forma de ação desse esquadrão, ainda que este se dê pelo abate sumário de bandidos. Na segunda opção temos um problema do ponto da Sociologia: caso o direito seja determinado pela aprovação da maioria reprimida, isso implica que a o abate da ROTA aos meliantes seria juridicamente válida. Deveria ela ser legalizada? 
Percebe-se aqui o problema da valoração normativa por meio do viés fato e valor abrangido pelas duas correntes. Como valorar o fato se o valor por vezes contraria o princípio dos direitos humanos, por exemplo? 
A ideia de uma jurisprudência político-estatal voltada ao povo e ao tempo não é nova, e na cultura ocidental se encontra presente no mínimo desde Montesquieu que dizia que vários fatores como à geografia, o clima, a situação e extensão do país, o gênero de vida dos cidadãos entre outros fatores deveriam ser utilizados para a mediação de direitos mais justos para todos. A sociologia jurídica, tomando por objeto o jurídico enquanto fato encarna essas ideias desde os seus primórdios. A Escola histórica de Savigny, a Escola do Direito livre de Kantoriwicz ou a Sociological Jurisprudence de matriz americana já ensejavam esse dever. Assim houve uma decomposição jurisprudencial teórica: o jurídico como norma é analisado pela dogmática jurídica, o jurídico enquanto valor é disposto pela Filosofia Jurídica e o direito enquanto fato é de merecido lugar a analise da Sociologia Jurídica. Isso na esperança de que tenham uma interpenetração desses três âmbitos para a construção de uma política legal realmente justa e em consonância com um certo “querer” social. Mas quais os limites devem ser inseridos a normatização daquilo que é fato?
Como já foi mostrada, a ação da policia é por vezes sustentada pelo social. A tipificação da tortura, a ação violenta parece ser algo que realmente é esperada por aqueles que clamam pela força repreensiva, legitimando a ação policial da forma que ela se apresenta. Isso mostra como intrinsecamente na própria sociedade há uma ideia de que os maus tratos e até a morte daqueles que corrompem a ordem social se faz necessária. Uma “limpeza social” que segundo Maria Victória Benevides é uma paranóia que remonta à natureza fascista. Dentro disso, podemos ter ideia dos limites extremos que poderiam ser extrapolados caso a concepção teórica seja levada aos últimos níveis de coerência, mas não de análise crítica. Essa análise depende principalmente, da visão e dos valores do pesquisador, mas aqui entramos em outra aporia, pois determinando os ideais do que vem a ser juridicamente plausível, como passiveis de análise conjectural, despojamos o abandono do direito a partir da consulta ao real.
A Sociologia Jurídica como pesquisadora das práticas efetivamente vigentes do Direito, subsidiando a prática legislativa acabou sendo uma máscara do que se propôs em seus primórdios. Esta baseava-se na oposição à prática dogmática jurídica. Pensava na efetivação do Direito e das práticas Jurídicas concretas como sendo o verdadeiro direito, em contraposição aos modelos jurídicos enunciados no ordenamento oficial. Traduz-se como uma visão sociologista do direito, ou seja aquele direito a ser encontrado nas “profundezas da vida social”, tão bem colocado por Eugen Ehrlich como o “direito vivo”. 
Acontece que diante disso, como já foi comentado anteriormente há o perigo de que o sociologismo do Direito, se não vier acompanhado de uma crítica mais profunda, ao invés de promover o verdadeiro direito venha a legitimar a injustiça.
Luciano destaca o fato de que embora tentássemos incorporar o modelo cientifico natural a todas as demais ciências, o objeto de estudo da Sociologia é mutagênico, o que para o bem ou para o mal, mostra que práticas hoje vistas como seguramente aceitas podem ser modificadas, se por meio de uma reeducação for assim requerido. Dessa forma podemos sonhar em ter uma política militar não baseada na forma espúria que se manifesta, que segundo ele, funciona para o nosso contexto social (e que segundo Luigi Moscatelli, não funcionaria caso fosse aplicada como demanda o seu código de ética e atribuições legais), porém é baseada em uma manutenção de uma ordem não natural, que segundo Paulo Sergio Pinheiro, “baseia-se em preservar a hegemonia da classe dominante e dar uma falsa ideia de participação da classe média nos ganhos da organização política que se sustenta nessa repressão”.
Diante disso, a crítica se estabelece na construção do pensamento social, que não pode ser tomado como um objeto casuístico e pronto, naturalmente formado, levando a reiteração do erro que o sistema positivista em decorrência da interação sociológica acabou por criar de que uma lei é justa se obtiver, por meio de pesquisas de opinião, por exemplo, uma aceitação social. Resta questionar como essa “psique” social foi formada, uma vez que o pensamento massificado (por contribuição midiática inclusive) é extremamente corriqueiro. A ênfase dada pela imprensa sensacionalista à criminalidade e aos estratos sociais mais miseráveis contribui para a formação mental desse estereótipo que faz dos pobres, negros e favelados os eternos suspeitos.
Luciano conclui brilhantemente que nem a receptividade dos conceitos positivistas e nem mesmo o próprio conceito sociologista tem perfeito potencial de se aplicar de forma pura. O “direito vivo” aplicado à rigor, dificilmente encontraria um lócus onde sua aplicação daria luz a um direito efetivamente social; mais próximo estaria, de no lugar, fortalecer uma prática de dominação por vezes da mais iníqua. Disso pode-se tirar a importância do sociólogo, que alterna a visão nas práticas positivamente jurisprudenciais e sua imposição sob o meio, lutando para manter uma ordem que historicamente se mostra injusta; e a sua visão sobre o próprio disparate social e a sua tácita execução do direito não legalizado. 
É necessário encontrar pontos de congruência entre a norma e o fato, mas que não se limite a eles, e que seja praticável a avaliação crítica tanto de um, quanto de outro. “Se a sociologia jurídica pode, de alguma forma, subsidiar o direito, a crítica social deve, sempre, subsidiar a própria sociologia jurídica”.
Referência Bibliográfica
OLIVEIRA, Luciano. Sua Excelência o Comissário. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2004.

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