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2017.2 Apostila Discurso Jornalistico Semiotica Semiotic

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A SEMIÓTICA DE CHARLES SANDERS PEIRCE 
 
 
Apostila 2017.2 
OBS: Este material foi elaborado a partir da extração de trechos (muitos deles editados, por mim modificados com o intuito de melhor esclarecer 
o ponto em destaque) dos livros e artigos citados na apostila. As imagens e alguns exemplos de análise foram retirados da internet. 
 
LÍNGUA X LINGUAGEM (e o campo dos estudos semióticos) 
(Do livro “O que é Semiótica”, de Lúcia Santaella). 
(Do texto de apresentação – sem autoria especificada – em site do PPG em Comunicação e Semiótica da PUC-SP) 
(Do livro “Elementos de semiótica aplicados ao design”, de Lucy Niemeyer) 
 
Tão natural e evidente; tão profundamente integrado ao nosso próprio ser é o uso da língua que falamos, e da qual 
fazemos uso para escrever – língua nativa, materna ou pátria, como costuma ser chamada –, que tendemos a nos 
desaperceber de que esta não é a única e exclusiva forma de linguagem que somos capazes de produzir, criar, 
reproduzir, transformar e consumir, ou seja, ver-ouvir-ler para que possamos nos comunicar uns com os outros. 
 
É tal a distração que a aparente dominância da língua provoca em nós que, na maior parte das vezes, não chegamos 
a tomar consciência de que o nosso estar-no-mundo, como indivíduos sociais que somos, é mediado por uma rede 
intrincada e plural de linguagens, isto é, que nos comunicamos também por meio da leitura e/ou produção de formas, 
volumes, massas, interações de forças, movimentos, que somos também leitores e/ou produtores de dimensões e 
direções de linhas, traços, cores... Enfim, também nos comunicamos e nos orientamos por meio de imagens, gráficos, 
sinais, setas, números, luzes... Através de objetos, sons musicais, gestos, expressões, cheiro e tato, através do olhar, 
do sentir e do apalpar. Somos uma espécie animal tão complexa quanto são complexas e plurais as linguagens que 
nos constituem como seres de linguagem. 
 
No entanto, em todos os tempos, grupos humanos constituídos sempre recorreram a modos de expressão, de 
manifestação de sentido e de comunicação sociais outros e diversos da linguagem verbal, desde os desenhos nas 
grutas de Lascaux, os rituais de tribos “primitivas”, danças, músicas, cerimoniais e jogos, até as produções de 
arquitetura e de objetos, além das formas de criação de linguagem que viemos a chamar de arte: desenhos, pinturas, 
esculturas, poética, cenografia etc. 
 
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E, quando consideramos a linguagem verbal escrita, esta também não conheceu apenas o modo de codificação 
alfabética, criado e estabelecido no ocidente a partir dos gregos. Há outras formas de codificação escrita, diferentes 
da linguagem alfabeticamente articulada, como os ideogramas (símbolo gráfico usado para representar uma palavra 
ou um conceito, como os kanjis japoneses) e os hieróglifos (tipo de ideograma – são considerados “escritas sagradas” 
por povos antigos, como os egípcios e os maias, podendo ser lidos da direita para a esquerda e da esquerda para a 
direita, a depender da cultura), formas essas que se limitam com o desenho. 
 
 
 
Kanji – Côncavo Kanji – Convexo 
 
 Hieróglifos egípcios 
 
 
 
 
 
Em síntese: existe uma linguagem verbal (oral e escrita) mas existe, simultaneamente, uma enorme variedade de 
outras linguagens (não-verbais e sincréticas) que também se constituem em sistemas sociais e históricos de 
representação do mundo. As não-verbais são formadas por imagens, cores, gestos, sons, cheiros, sabores, texturas e 
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etc. As sincréticas são formadas por códigos de naturezas distintas – esta é a categoria em que se enquadra a maioria 
da produção em design, por exemplo. 
 
Portanto, quando dizemos linguagem queremos nos referir a uma gama incrivelmente intrincada de formas sociais de 
comunicação e de significação que inclui a linguagem verbal articulada, mas absorve também, inclusive, a linguagem 
dos surdos-mudos, o sistema codificado da moda, da culinária e tantos outros. Enfim: todos os sistemas de produção 
de sentido aos quais o desenvolvimento dos meios de reprodução de linguagem propicia hoje uma enorme difusão. 
 
LINGUAGEM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE SENTIDOS 
 
O termo linguagem se estende aos sistemas aparentemente mais inumanos: das linguagens binárias de que as 
máquinas se utilizam para se comunicar entre si e com o homem (a linguagem do computador, por exemplo), até 
tudo aquilo que, na natureza, fala ao homem e é sentido como linguagem. Haverá, assim, a linguagem das flores, dos 
ventos, dos ruídos, dos sinais de energia vital emitidos pelo corpo e, até mesmo, a linguagem do silêncio. Isso tudo 
sem falar do sonho que, desde Freud, já sabemos que também se estrutura como linguagem. 
 
Na verdade, desde a descoberta da estrutura química do código genético, nos anos 50, aquilo que chamamos de vida 
não é senão uma espécie de linguagem, isto é, a própria noção de vida depende da existência de informação no 
sistema biológico. 
 
Sem informação não há mensagem, não há planejamento, não há reprodução, não há processo e mecanismo de 
controle e comando. Portanto, os dois ingredientes fundamentais da vida são: energia (que torna possíveis os 
processos dinâmicos) e informação (que comanda, controla, coordena, reproduz, modifica e adapta o uso da energia). 
Nessa medida, não apenas a vida é uma espécie de linguagem, mas também todos os sistemas e formas de linguagem 
tendem a se comportar como sistemas vivos, ou seja, reproduzem, se readaptam, se transformam e se regeneram 
como as coisas vivas. 
 
Portanto, pode-se dizer que o campo da Semiótica é vasto, contudo, não é indefinido. O que se busca descrever e 
analisar nos fenômenos sejam eles quais forem – uma nesga de luz ou um teorema matemático, um lamento de dor, 
uma história de pura ficção, como é o caso das lendas, ou uma idéia abstrata da ciência – é sua constituição como 
linguagem, sua ação de signo. Tão só e apenas. 
 
 
 
 
LINGUAGEM X CÓDIGO 
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Todo código é uma linguagem, mas nem toda linguagem pode ter o status de um código. Ou simplesmente podemos 
falar que existem linguagens mais ou menos codificadas. O que isso significa? 
 
A idéia de linguagem está associada à produção de informação/conhecimento. Como não há produção de 
informação/conhecimento a não ser por intermédio de signos, pode-se compreender a linguagem como a capacidade 
de produzir signos de qualquer tipo, tais como sonoros, visuais, táteis, gestuais etc. São as linguagens que abrem as 
portas de acesso à realidade. São elas quem revelam, desvelam e velam o mundo. 
 
Por outro lado, para garantir a eficácia/economia da troca de informações entre emissores e receptores, certas 
relações entre os signos e seus significados, antes em aberto, são convencionadas, até certo ponto “congeladas” em 
um dado âmbito sociocultural, sob a forma de um código institucionalizado. Ao pressupor (e almejar), pois, uma forte 
intenção comunicativa, o código limita as possibilidades de escolha entre múltiplas alternativas interpretativas. 
 
Como a função do código é estabelecer relações distintivas entre os signos válidos e não válidos, bem como as regras 
de articulação/combinação entre eles, o código pode tornar possível a previsibilidade da ação/comportamento: o 
emissor comunica uma informação “controlada”/segura ao receptor, visando poder prever a reação deste. A seleção 
das múltiplas alternativas possíveis passa a ser, assim, controlada pelo código. Tal é o caso da publicidade ... 
 
Por exemplo, o código da Ginástica Artística ou Olímpica convenciona quais são os signos válidos no seu âmbito (no 
caso, gestos/movimentos corporais), e asregras de combinação entre eles. Quando um ginasta cria um exercício novo, 
este somente será válido se atender aos critérios do código já institucionalizado. Um gesto/movimento da capoeira, 
por exemplo, mesmo que belo e bem executado, não será considerado válido (pelo menos em um primeiro momento) 
no âmbito da Ginástica Artística. 
 
SIGNO – REPRESENTAÇÃO – MEDIAÇÃO 
 
(Do livro “Imagem: cognição, semiótica, mídia”, de Lúcia Santaella e Winfried Nöth) 
(Do livro “Elementos de semiótica aplicados ao design”, de Lucy Niemeyer) 
 
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Quadro de Magritte 
 
O conceito de representação encontra-se principalmente como sinônimo de signo. Nesse contexto, Peirce define 
representar como “estar para, quer dizer, algo está numa relação tal com outro que, para certos propósitos, ele é 
tratado por uma mente como se fosse aquele outro” (CP 2.273) Como exemplos para esse processo ou até essa ação 
de representar Peirce cita: “Uma palavra representa algo para a concepção na mente do ouvinte, um retrato 
representa a pessoa para quem ele dirige a concepção daquele que o entende, um advogado representa seu cliente 
para o juiz que ele influencia” (CP 1.554). 
 
As representações (signos) são coisas que estão no lugar de outras coisas para alguém em algum aspecto (porque 
nada está no lugar de nada em todos os aspectos). Exemplo: um giz está no lugar de um professor em apenas um 
aspecto, que é o ato de usar o giz ao escrever no quadro. O giz não consegue dar conta de representar um professor 
como um todo (o professor visto como pai de família, o professor como namorado ou filho). O signo, então, está no 
lugar de algo, não é a própria coisa, mas como ela se faz presente para alguém em um certo contexto. 
 
Os signos são mediações entre os homens e o mundo. Devido à sua natureza de ser de linguagem, ser falante, ao 
homem nunca é facultado o acesso direto e imediato ao mundo. Tal acesso é inelutavelmente mediado por signos. 
Todas as modalidades de signos têm o propósito e a função de representar e de interpretar a realidade, mas, ao fazê-
lo, inevitavelmente interpõem-se entre o homem e o mundo. 
 
Sendo todo signo (no caso o humano) portador de uma ideologia, como afirmou Mikhail Bakthin (1895-1975), ao 
mesmo tempo em que representa algo, o signo também interpreta esse algo. Exemplo: cartaz do filme documentário 
de propaganda nazista “O eterno judeu” (Der Ewige Jude), de 1940. 
 
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DISCURSO 
(Do texto “Análise de discurso com Peirce: interpretar, raciocinar e o discurso como argumento”, de Winfried Nöth) 
 
 
Análise de discurso não é um termo técnico do vocabulário peirciano. Em vez de “analisar discursos” Peirce prefere o 
termo hermenêutico “interpretar”, o que, para ele, significa ‘interpretar signos’. Interpretar signos, por sua vez, 
significa raciocinar. O conceito de raciocínio é estreitamente ligado ao conceito de discurso, lembra Peirce. 
”Raciocínio, conforme os nossos antigos autores Shakespeare, Milton, etc., é chamado de “discurso de raciocínio” ou 
simplesmente “discurso”. A expressão ainda não é obsoleta no dialeto dos filósofos. Mas “discurso” também significa 
‘fala’, especialmente ‘fala monopolizada’” (C. PEIRCE, cerca de 1904). 
 
Qualquer discurso e qualquer raciocínio é dialógico, mesmo quando há só um único autor. Até o pensamento, que 
parece um monólogo interior, é uma espécie de conversa, porque “o pensamento sempre procede na forma de um 
diálogo – um diálogo entre as várias fases do eu – de maneira que sendo dialógico é essencialmente composto de 
signos” (PEIRCE, 1931-1958, § 4.6, 1898). Em 1909, Peirce caracteriza o pensamento como um diálogo no qual o eu 
[“self”] busca o consentimento de um eu “mais profundo” (C. PEIRCE, 1931-1958, § 6.338, 1909). 
 
 
 
 
 
 
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CONSIDERAÇÕES SOBRE A SEMIÓTICA E/OU SEMIOLOGIA 
 
O que é a Semiótica 
(Do livro “Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce”, de Winfried Nöth). 
 
A Semiótica é ciência/método/ponto de vista que estuda os signos e os processos significativos na natureza e na 
cultura. O centro de toda a semiótica é a ação do signo (semiose) em seu processo de representação. 
 
Os termos semiótica e semiologia tem as raízes de suas constituintes iniciais e principiais nas palavras gregas semeîon, 
‘signo’, e sema, ‘sinal’. Tal como a gramática e a aritmética ou a biologia e a filologia, que são campos de estudos de 
diversas áreas de conhecimento humano, a semiótica e a semiologia, nas suas origens, são os campos de estudo da 
semiose, ou ação do signo. 
 
No nosso século, o termo semiologia ficou ligado à tradição semiótica fundada no quadro da linguística de Ferdinand 
de Saussure, e continuada por semioticistas como Louis Hjelmslev ou Roland Barthes. Sob essas influências, 
semiologia permaneceu durante muito tempo como o termo preferido nos países românicos, enquanto anglófonos e 
alemães preferiram o termo semiótica. Alguns semioticistas, porém, começaram a elaborar distinções conceituais 
entre semiologia e semiótica: semiótica designando uma ciência mais geral dos signos, incluindo os signos animais e 
da natureza, enquanto semiologia passou a referir-se unicamente à teoria dos signos humanos, culturais e, 
especialmente, textuais. 
 
E qual seria a origem desta ciência dos signos? Na história das ciências, é preciso distinguir entre o desenvolvimento 
de uma semiótica propriamente dita e as tendências de uma semiótica avant la lettre (antes da carta), que também 
era doutrina dos signos. 
 
A doutrina dos signos, que pode ser considerada como semiótica avant la lettre, compreende todas as investigações 
sobre a natureza dos signos, da significação e da comunicação na história das ciências. E a origem dessas investigações 
coincide com a origem da filosofia: Platão e Aristóteles eram teóricos do signo e, portanto, semioticistas avant la lettre. 
 
Por sua vez, a semiótica propriamente dita tem seu início com filósofos como John Locke (1632-1704) que, no seu 
Essay on human understanding, de 1690, postulou uma “doutrina dos signos” com o nome de Semeiotiké. (...). Locke 
definiu a semiótica como um dos três grandes ramos dos estudos do conhecimento humano ao lado da física e da 
ética. Semiótica, para Locke, era um sinônimo da lógica; a semiótica deveria tratar principalmente das palavras, por 
serem os signos mais relevantes. 
 
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O surgimento da Semiótica Moderna (C. S. Peirce e F. Saussure). 
(Do livro “Comunicação e Semiótica”, de Lúcia Santaella e Winfried Nöth). 
(Do artigo “Semiótica e Semiologia: os conceitos e as tradições”, de Winfried Nöth). 
 
Muitos pensam que a semiótica moderna nasceu com o linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) quando, 
no seu Cours (Curso de Linguística Geral, publicado em 1916) – sem referências às tradições semióticas anteriores –, 
ele alertou para a possibilidade de se conceber uma ciência que estudasse a vida dos signos no seio da vida social (...). 
Saussure batizou-a de Semiologia e propôs que ela nos ensinaria em que consistem os signos, que leis os regem. 
“Como tal ciência não existe ainda”, disse ele, não se pode dizer o que será; ela tem direito, porém, à existência: seu 
lugar será determinado de antemão. A base dessa nova semiologia seria a linguística estrutural, o seu programa seria 
a extensão do campo da linguística da linguagem verbal para a comunicação não verbal, cultural e textual. 
 
Essa proposta de Saussure encontrou grande repercussão algumas décadas mais tarde. Nos anos 40, 50 (Buyssens, 
Hjelmslev) e 60 (Prieto, Barthes, Mounin, Greimas), ela se estabeleceu e se difundiu por toda a Europa e América 
Latina. Fato que levou muita gente a pensar que esse tenha sido o primeiro batismoda moderna semiótica. Contudo, 
quando Saussure falou da semiologia em 1911-1912, Charles Sanders Peirce, um norte-americano (1839-1914), já 
havia erigido o edifício da sua semiótica concebida como lógica em um sentido amplo, uma dentre as disciplinas de 
sua arquitetura filosófica. Dado que toda essa construção só foi divulgada tardiamente, Saussure tem recebido o louro 
da paternidade, mesmo não tendo ele chegado a desenvolver a ciência pretendida. 
 
Paralelamente ao desenvolvimento da semiologia saussureana, em outros países, a semiótica continuava o seu 
desenvolvimento de maneiras independentes e sob outras influências, tal como a semiótica de Peirce (Alemanha e 
Brasil), de Charles Morris (EUA) ou da informática e da cibernética (Rússia e Estônia). Nessas tradições, o nome do 
campo de pesquisa dos processos sígnicos não era semiologia, mas semiótica, de maneira que surgiram dúvidas entre 
os semioticistas do mundo sobre a questão se a semiótica e a semiologia eram dois campos de pesquisa diferentes; 
ou se eram um e o mesmo, com duas designações diferentes, independente da tradição de pesquisa. 
 
Diante de tantas dúvidas, por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. 
Greimas, Claude Lévi-Strauss e Thomas A. Sebeok, o comitê fundador da Associação Internacional de Estudos 
Semióticos, em 1969, decidiu que, a partir de então, o conceito semiótica seria empregado como conceito geral para 
definir esse campo, anteriormente designado como semiologia ou semiótica. Essa decisão tem sido seguida 
internacionalmente com o resultado de que o termo semiótica é hoje o nome internacionalmente mais comum para 
designar o campo de pesquisa dos signos, sistemas e processos sígnicos. 
 
 
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Resíduos de distinções 
(Do artigo “Semiótica e Semiologia: os conceitos e as tradições”, de Winfried Nöth). 
 
Como assuntos de terminologia são raramente resolvidos por completo, em conferências internacionais não é de se 
estranhar que sobraram uns resíduos de opiniões sobre diferenças entre os conceitos de semiótica e de semiologia. 
No entanto, Semiótica e Semiologia são conceitos sinônimos. Quem fala de semiótica enquadra-se na tradição da 
teoria geral dos signos, especialmente de Charles Sanders Peirce, ao passo que os que preferem o conceito de 
semiologia veem-se na tradição semiolinguística de Ferdinand de Saussure. 
 
 
CHARLES SANDERS PEIRCE. 
(Do artigo “Semiótica: signo, objeto e interpretante”, de Mauro Maia Laruccia) 
 
 
Quem foi C. S. Peirce … 
 
Charles Sanders Peirce possuía uma formação especializada e diversificada. Era matemático, astrónomo, químico, 
topógrafo, engenheiro, inventor, psicólogo, filósofo, lexicógrafo, historiador da ciência, físico, economista, estudante 
de medicina durante toda a sua vida, crítico literário, dramaturgo, ator, escritor de contos e fenomenólogo. 
 
Essas especialidades, tão díspares, atribuídas para uma só pessoa, foram mencionadas por Max H. Fisch, biógrafo e 
pesquisador das obras e principalmente dos manuscritos inéditos de Charles Sanders Peirce. Com um interesse em 
tantas áreas do conhecimento, Peirce só tinha um propósito que era distinguir os tipos de semioses e a partir delas 
elaborar um estudo, o mais aprofundado possível, de argumentações em particular e de suas funções na matemática 
e nas ciências. 
 
Para Peirce, "semeiosis significa a ação de quase qualquer signo, e a minha definição dá o nome de signo a qualquer 
coisa que assim age." (CP, 5.484). Para Santaella, esse objetivo foi alcançado. Portanto, “o enorme valor dessa obra 
reside na contribuição que pode prestar à compreensão de todos os processos de comunicação de qualquer tipo, 
ordem ou espécie, tanto no universo biossociológico das humanidades, quanto dos animais e também no mundo das 
máquinas inteligentes, até em qualquer outro mundo que possamos imaginar no qual ocorram processos 
comunicativos”. 
 
O signo (triádico) em C. S. Peirce. 
(Do livro “Semiótica Aplicada”, de Lúcia Santaella). 
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Na definição de Peirce, o signo (ou representamen) tem uma natureza triádica, quer dizer, ele pode ser analisado: 
(a) em si mesmo, nas suas propriedades internas, ou seja, no seu poder para significar (signo e seu fundamento); 
(b) na sua referência àquilo que ele indica, se refere ou representa (objeto); e 
(c) nos tipos de efeitos que está apto a produzir nos seus receptores (interpretante). 
 
 
 Signo 
 Objeto Interpretante 
 
 
As linguagens estão no mundo e nós estamos na linguagem. É no homem e pelo homem que se opera o processo de 
alteração dos sinais (qualquer estímulo emitido pelos objetos do mundo) em signos e linguagens. O signo é uma coisa 
que representa outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, 
substituir uma coisa diferente dele. A partir da relação de representação que o signo mantém com o seu objeto, 
produz-se na mente interpretadora outro signo que traduz o significado do primeiro (é o interpretante do primeiro). 
Portanto, o significado de um signo é outro signo – seja este uma imagem mental ou palpável, uma ação ou mera 
reação gestual, uma palavra ou um mero sentimento de alegria ou raiva, uma ideia. 
 
Em uma definição peirceana mais detalhada, o signo é qualquer coisa de qualquer espécie (uma palavra, um livro, 
uma biblioteca, um grito, uma pintura, um museu, uma pessoa, uma manha de tinta, um vídeo e etc.) que representa 
outra coisa, chamada de objeto do signo, e que produz um efeito interpretativo em uma mente, efeito este que é 
chamado de interpretante do signo. 
 
Tomemos um grito, por exemplo. Devido a propriedades ou qualidades que lhes são próprias (um grito não é um 
murmúrio), ele representa algo que não é o próprio grito; isto é, indica que aquele que grita está naquele exato 
momento em apuros ou sofre alguma dor ou regozija-se na alegria (essas diferenças dependem da qualidade 
específica do grito). Isso que é representado pelo signo, quer dizer, ao que ele se refere é chamado de seu objeto. 
Ora, dependendo do tipo de referência do signo, se ele se refere ao apuro, ou ao sofrimento ou à alegria de alguém, 
provocará em um receptor certo efeito interpretativo: correr para ajudar, ignorar, gritar junto etc. Esse efeito é o 
interpretante. 
 
 
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Desse modo, por exemplo, um advogado, isto é, uma petição que ele redige é um signo que representa a causa de 
um cliente, o objeto do signo, para o efeito que essa petição produz em um juiz, interpretante do signo. Outro 
exemplo: um filme que nasce da adaptação de um romance é um signo desse romance, que é, portanto, o objeto do 
signo, cujo interpretante será o efeito que o filme produzirá em seus espectadores. Mas o romance em si pode 
também ser tomado como signo daquilo que o romance representa: seu objeto. Assim, o romance “Memórias 
Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, é um signo que tem por objeto, entre outras coisas, e, em última 
instância, os costumes da sociedade carioca do século XIX. Tal representação do objeto produz efeitos interpretativos 
em seus leitores. Esses efeitos são o interpretante. Neste último exemplo, fica bem claro porque o signo sempre 
funciona como mediador entre o objeto e o interpretante. Os leitores só têm acesso ao objeto do signo, àquilo que o 
romance representa, pela mediação do signo. 
 
Mais alguns exemplos. Escrevo um e-mail para minha irmã. O e-mail é um signo daquilo que desejo transmitir-lhe, 
que é o objeto do signo. O efeito que a mensagem produz em minha irmã é o interpretante do e-mail que, ao fim e 
ao cabo,é um mediador entre aquilo que desejo transmitir a minha irmã e o efeito que esse desejo nela produz 
através da carta. 
 
Uma peça publicitária para o reposicionamento de um produto no mercado é um signo do produto, que vem a ser 
objeto desse signo, isto é, da peça publicitária. Não apenas o produto em si é o objeto do signo, mas o produto 
reposicionado, tal como a peça o representa. O impacto ou não que a publicidade desse produto reposicionado vier 
a despertar no seu público é o interpretante da publicidade. 
 
Ainda como exemplo, um vídeo de educação ambiental sobre o desmatamento da região amazônica é um signo que 
tem por objeto a região retratada no vídeo. Os efeitos interpretativos que o vídeo produz, em seus espectadores, 
formam o interpretante do signo. Esses exemplos deixam à mostra o fato de que os efeitos interpretativos dependem 
diretamente do modo como o signo representa o seu objeto. 
 
Tanto quanto o próprio signo, o objeto do signo também pode ser qualquer coisa de qualquer espécie. Essa “coisa” 
qualquer está na posição de objeto porque é representada pelo signo. O que define signo, objeto e interpretante, 
portanto, é a posição lógica que cada um desses três elementos ocupa no processo representativo. 
 
Exemplo: 
Signo (a): cor vermelha de líquido sobre o corpo caído de um ator – Objeto (a): sangue – Interpretante (a): certeza por 
parte do espectador do filme, novela ou teatro de que aquele personagem foi ferido. 
 
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Signo (b): a palavra “red”, escrita em inglês, na embalagem de uma boa tinta acrílica – Objeto (b): cor vermelha – 
Interpretante (b): o ato de comprar aquele produto, uma vez que o artista pretende pintar um pôr do sol, por exemplo. 
 
Signo (c): beijo roubado – Objeto (c): paixão de quem roubou o beijo por aquele que foi beijado – Interpretante (c): 
cor vermelha que chega nas faces ruborizadas daquele que foi beijado. 
 
 
Semiose ilimitada. 
(Do livro “Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce”, de Winfried Nöth). 
 
Como cada signo cria um interpretante (...) a semiose resulta numa série de “interpretantes sucessivos”, ad infinitum 
(Peirce). Não há nenhum “primeiro” nem um “último” signo neste processo de semiose ilimitada. Nem por isso, 
entretanto, a idéia de semiose infinita implica em um círculo vicioso. Ao contrário, refere-se à idéia muito moderna 
de que “pensar sempre procede na forma de um diálogo (...) de maneira que, sendo dialógico, se compõe 
essencialmente de signos” (Peirce). Como “cada pensamento tem de dirigir-se a outro”, o processo contínuo de 
semiose (ou pensamento) só pode ser “interrompido, mas nunca finalizado” (Peirce). 
 
Exemplo: A capa do disco de Nara Leão de 1963, criada pelo designer Aloysio de Oliveira. A capa utilizava uma 
fotografia P&B em alto-contraste e detalhes em vermelho. O disco foi gravado pela ELENCO com o selo dedicado a 
produzir um grupo de artistas da bossa nova que, na época, eram “maus vendedores de discos”. Podemos analisar 
esta capa, como as outras da mesma série, mas, para isto, devemos nos concentrar unicamente no processo de 
produção do design, observando as influências concretistas que ela traz, bem como o fato de que a gravadora não 
pretendia gastar muito dinheiro na confecção das capas – usar apenas duas cores sobre papel barateava os custos. 
No entanto, sabemos que existe toda uma semiose para a frente e para trás da criação do design da referida capa. 
Saber dos materiais envolvidos no sistema de produção dos discos de vinil (semiose para trás) ou se a capa foi riscada 
pelo filho de quatro anos de quem ganhou o disco de presente na época (semiose para a frente) não nos interessa 
para analisar o design em si. Portanto, interrompemos a semiose para analisar a capa do disco, fazendo uma espécie 
de recorte do objeto no tempo e no espaço, embora sabendo que a semiose tanto aconteceu antes como acontecerá 
depois daquela capa. 
 
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Os componentes do signo em Peirce/ Semiose ilimitada. 
(Do livro “O que é Semiótica”, de Lúcia Santaella). 
 
Como já dito, “Um signo intenta representar, em parte pelo menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a 
causa ou determinante do signo (...). Mas dizer que ele representa seu objeto implica que ele afete uma mente, de 
tal modo que, de certa maneira, determine naquela mente algo que é mediatamente devido ao objeto. Essa 
determinação da qual a causa imediata (direta) ou determinante é o signo, e da qual a causa mediata (indireta, que 
está em relação por intermédio de algo) é o objeto, pode ser chamada de interpretante”. 
 
Cumpre reter da definição a noção de interpretante. Não se refere ao intérprete do signo, mas ao processo relacional 
que se cria na mente do intérprete. A partir da relação de uma representação que o signo mantém com o seu objeto, 
produz-se na mente interpretadora outro signo que traduz o significado do primeiro (é o interpretante do primeiro). 
Portanto, como já foi dito, o significado de um signo é outro signo – seja este uma imagem mental ou palpável, uma 
ação ou mera reação gestual, uma palavra ou um mero sentimento de alegria, raiva ... uma idéia, ou seja lá o que for. 
Tudo porque esse “seja lá o que for” que é criado na mente pelo signo é outro signo (tradução do primeiro). 
 
 
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(…) Signo 
 
Objeto Interpretante/ Signo 
 
 Objeto interpretante (…) 
 
 
 
 
Exemplo: observe-se a seguinte peça gráfica: 
 
 
 
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Signo: peça gráfica publicitária evocando estereótipo da mulher negra gostosa para vender cerveja da marca Devassa/ 
Objeto: cerveja da marca devassa/ Interpretante: criação de uma passeata pelas mulheres do movimento negro. 
 
Interpretante-signo: criação de uma passeata pelas mulheres do movimento negro/ Objeto: luta contra opressão da 
mulher negra brasileira desde o período da escravatura/ Interpretante: adesão de jovens mulheres brancas que 
resolvem mostrar o corpo nu durante a passeata. 
 
Interpretante-signo: adesão de jovens mulheres brancas que resolvem mostrar o corpo nu durante a passeata/ 
Objeto: consciência feminina de que o corpo feminino, seja ele branco ou negro, não é mercadoria/ Interpretante: 
convite (irônico) vindo da revista Playboy para que algumas moças brancas, negras e indígenas posem nuas em sua 
próxima edição. 
 
Interpretante-signo: convite vindo da revista Playboy para que algumas moças brancas, negras e indígenas posem 
nuas em sua próxima edição/ Objeto: atualidade e compra garantida da revista Playboy por parte dos homens 
brasileiros (costume nacional)/ Interpretante: suicídio cometido por namorado evangélico de uma das moças que 
aceitou posar para a revista. 
 
 
A mente em C. S. Peirce. 
 
(Do livro “O que é Semiótica”, de Lúcia Santaella). 
(Do livro “Elementos de semiótica aplicados ao design”, de Lucy Niemeyer) 
(Do texto “A contemporaneidade de Peirce no pensamento comunicacional”, de Vinicius Romanini) 
 
A mente é aquilo que rege os processos de caos e ordem no universo. “Para Peirce, as leis da natureza são conaturais 
dos processos mentais”, afirmou Vinicius Romanini. 
 
Peirce escreve: “Se um lógico for falar das operações da mente, ele deve significar por mente algo bem diferente do 
objeto de estudo do psicólogo. Uma definição de signo será dada sem se referir ao pensamento humano...”. 
 
Hoje, quase 100 anos transcorridos, essa insistência de Peirce em generalizar a noção de signo a ponto de não ter de 
referi-la à mente humana não mais soa como formalismo excêntrico, mas soa como antecipação, visto que, como o 
advento da cibernética, tal necessidade se patenteouhistórica e concretamente. Para falarmos dos processos de 
comunicação entre máquinas, não temos necessariamente de nos referir às peculiaridades da consciência humana. 
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Isso, para não mencionarmos as descobertas da biologia que estenderam a noção de signo (linguagem e informação) 
para o campo das configurações celulares. 
 
Neste ponto, precisamos de uma breve incursão na concepção peirceana da cognição. Para Peirce, “mente” é um ente 
ou ser lógico e, portanto, não precisa estar encarnada em indivíduos vivos. Onde houver causas finais, propósito, 
criação de hábitos, aumento de complexidade, evolução, desenvolvimento, haverá mente em alguma medida ou 
intensidade. Segundo Romanini, se nada disso houvesse, então teríamos matéria inanimada e sujeita às leis de ação e 
reação. 
 
No entanto, especula Peirce, experimentos comprovam que persiste, mesmo nos processos considerados apenas 
materiais e sujeitos às leis da física, algum aspecto de acaso e indeterminação. Isso indicaria que algo de mental 
subsiste mesmo nas relações que descrevemos como meramente materiais e físicas. Peirce dá como exemplo disso 
as transformações e fase que geram os cristais, o lento e contínuo escavar da calha de um rio pela passagem dos fluxos 
de água e até a maneira como um pulso elétrico percorre uma porção de lodo. 
 
Peirce explica, por exemplo, que quando alguém usa um tinteiro e uma pena para escrever suas ideias num pedaço 
de papel, a mente deve ser entendida como o processo lógico que envolve a instanciação de símbolos no papel levada 
a cabo pelas mãos do escrevente (o uso de réplicas particulares dos símbolos gerais), a capacidade intrínseca dos 
símbolos de produzir interpretantes, a estruturação das palavras na forma de uma sintaxe que captura as relações 
entre os objetos indicados pelas palavras e a conduta pragmaticamente implícita no arranjo dos símbolos. 
 
É apenas contingencial que uma pessoa esteja participando dessa semiose, e a mente estaria igualmente em ação se 
qualquer outro ser vivo, processos naturais ou mesmo uma máquina artificialmente construída fosse capaz de 
desempenhar as relações lógicas descritas acima. Importa salientar que a mente é um processo lógico que se encontra 
ligado a uma ambiência fictícia ou não. 
 
Diante dessa ampla definição de mente, os processos lógicos descritos como mentais podem ser notados em muitas 
dimensões da realidade, ao ponto de Peirce especular que talvez a mente seja um componente fundamental do 
universo, senão o seu componente central. Afinal, processos associados às leis básicas da natureza, como a gravitação, 
guardam todas as relações lógicas que usamos ao definirmos a ideia de mente. Basta lembrar que a quase totalidade 
dos elementos químicos da natureza é forjada no núcleo das estrelas por um processo sintético que depende da ação 
da gravidade. 
 
A essência é esta: onde houver originalidade, espontaneidade e acaso produzindo indeterminação e aparecimento de 
novas qualidades sistêmicas, haverá ação da mente e, consequentemente, haverá semiose. 
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Isso ajudaria a explicar desde a criação das estrelas e galáxias a partir de gases e poeira dispersos caoticamente até o 
surgimento da vida na Terra a partir de moléculas orgânicas dispersas na água, que ao serem estimuladas pelas 
reiteradas variações de intensidade de temperatura passam a explorar o espaço das possibilidades criativas. 
 
Como a mente é a manifestação da semiose, podemos também dizer que Peirce era pansemiótico. Mas veja que essas 
posições metafísicas decorrem de argumentos estritamente lógicos e não tem nada de misticismo religioso. 
 
Do pragmatismo/pragmaticismo peirceano decorre, portanto, uma metafísica baseada em causas finais, que mira as 
condições de possibilidade futura da experiência compartilhada por comunidades que não precisam ser 
necessariamente de intérpretes humanos nem tampouco vivos. 
 
Para Peirce, como a experiência compartilhada funda nossa opinião sobre o real, a comunicação é a propriedade mais 
nobre do signo. Sem a comunicação, viveríamos em bolhas isoladas, sem qualquer sentido. Na arquitetura semiótica 
peirceana, a comunicação garante a possibilidade da elaboração de significados gerais, que sintetizam as cognições 
particulares em conceitos e metaconceitos mais amplos, produzindo uma inteligência coletiva fundada na lógica da 
significação, e não na psicologia dos indivíduos particulares. 
 
Nesse contexto pragmaticista, o real seria o objeto imediatamente percebido como representado na opinião final de 
uma comunidade ideal. Essa comunidade deveria agregar todas as formas possíveis de ação mental inteligente, 
inclusive aquelas eventualmente agindo em outras regiões ou eras de nosso universo, ou mesmo de outros universos 
concebíveis. 
 
Como essa comunidade é um ideal normativo jamais verificado historicamente, a verdade é sempre inexoravelmente 
falível - embora sua busca continuada e socialmente conduzida aqui e agora (hic et nunc), pelos seres humanos vivos 
de nossa época, ofereça-nos a esperança de poder avançar alguns passos no caminho da verdade. A lição de humildade 
a ser aprendida é que não somos os protagonistas exclusivos, mas participantes dessa busca infindável, e que a 
falibilidade de nossas concepções é um componente inexorável de toda epistemologia científica. 
 
Por essa postura filosófica original, Peirce enfrentou um ostracismo por parte da elite científica norte-americana que 
acabou determinando seu isolamento intelectual e, após sua morte em 1914, acarretou algumas décadas de quase 
total esquecimento até que sua contribuição para os campos da matemática, da lógica formal, da filosofia e, claro, da 
semiótica como teoria do uso dos signos para representar e comunicar, começasse a produzir interesse entre 
pensadores insatisfeitos com os rumos da filosofia analítica e das abordagens excessivamente psicológicas que 
passaram a dominar o ambiente da cultura ocidental. Desde meados do século 20, porém, tem sido crescente o 
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interesse pelo pensamento peirceano justamente porque ele permite resgatar perspectivas dispensadas talvez com 
excessiva pressa pelos cientistas na virada do século 19 para o 20. 
 
Com o advento das novas tecnologias digitais aplicadas à esfera da comunicação social, de seu impacto nas ciências 
cognitivas e na busca por inteligência artificial e o design de interfaces que permitem a realidade virtualmente 
aumentada, descobrimos agora que os conceitos de representação, signo, semiose, informação, mente, cognição e 
comunicação sugeridos por Peirce dentro do requadro de sua filosofia pragmática oferecem um arcabouço conceitual 
muito mais fértil para entender esses novos fenômenos da cibercultura do que algumas definições analíticas ou 
hipóteses psicológicas que contaminam muitas teorias que se batem por compreender a complexidade do mundo em 
que mergulhamos com uma irremediável deficiência epistemológica. 
 
Embora os conceitos desenvolvidos por Peirce sejam tão provisórios e falíveis como os de qualquer outra hipótese 
compreensiva, é inegável a nós que eles se mostram muito mais afins aos fenômenos da comunicação em redes 
digitais do que os conceitos que fundamentaram o paradigma comunicacional tradicional. 
 
 
O mundo/ universo como linguagem. 
(Do livro ‘O que é Semiótica’, de Lúcia Santaella). 
 
 
 
19 
 
 
"O universo está em expansão” (Peirce). E esta expansão não se dá de forma linear … 
 
De dois séculos para cá (pós-revolução industrial), as invenções de máquinas capazes de produzir, armazenar e 
difundir linguagens (a fotografia, o cinema, os meios de impressão gráfica, o rádio, a TV, as fitas magnéticas etc.) 
povoaram nosso cotidianocom mensagens e informações que nos espreitam e nos esperam. Para termos uma idéia 
das transmutações que estão se operando no mundo da linguagem, basta lembrar que, ao simples apertar de botões, 
imagens, sons, palavras (a novela das oito, um jogo de futebol, um debate político...) invadem nossa casa e tudo isso 
chega mais ou menos do mesmo modo que chegam a água, o gás ou a luz. 
 
Considerando-se que todo fenômeno de cultura só funciona culturalmente porque é também um fenômeno de 
comunicação, e considerando-se que esses fenômenos só comunicam porque se estruturam como linguagem, pode-
se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer atividade ou prática social constituem-se como práticas 
significantes, isto é, práticas de produção de linguagem e sentido. 
 
Um bom exemplo de fenômeno da cultura funcionando como linguagem e, portanto, servindo à comunicação, é o 
caso do festival que acontece em um vilarejo nas montanhas do Peru. Chama-se Yawar Fiesta, ou Festa de Sangue. 
Muita gente nesse vilarejo isolado e pobre, situado em uma encosta íngreme de 3,1 mil metros, de onde se tem a 
impressão de que o céu está mais próximo, acredita que o condor, uma das maiores aves do mundo, tem 
características divinas. O condor, em geral embriagado pelos participantes, é atraído para o solo e preso às costas de 
um touro. Assustado, o condor bica os olhos do touro que não para de pular e um lado para o outro, enquanto seus 
olhos se esvaem em sangue. 
 
Fala-se entre os antropólogos que a festa reflete a visão dual ou dos contrários na mitologia andina. “Unir os dois, 
condor e touro - céu e terra - conta o antropólogo Juan Ossio, é um ritual que recria a interação da comunidade”. A 
sabedoria popular, no entanto, afirma que o festival tem origem no período colonial e foi criado como canal para os 
indígenas expressarem sua fúria contra os conquistadores espanhóis: ao colocarem o condor andino nas costas do 
touro espanhol eles podiam, pelo menos simbolicamente, inverter a subjugação. O festival começa com uma 
cerimônia na frente da cruz branca cristã – em alguns casos reza-se uma missa, inclusive – que se ergue acima da 
cidade. Naquele local, o pajé derrama aguardente no chão como parte do tradicional "pagamento à terra", em uma 
oferenda aos deuses das montanhas. 
 
 
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Mais sobre a semiótica como teoria da comunicação 
(Do livro “Comunicação e Semiótica”, de Lúcia Santaella e Winfried Nöth). 
 
Que a semiótica é também uma teoria da comunicação está implícito, em primeiro lugar, no fato de que não há 
comunicação sem signos. Sendo assim, pela articulação dos signos é que se dá a construção de sentidos. Em segundo 
lugar, está implícito no fato de que a semiose é, antes de tudo, um processo de interpretação, pois a ação do signo é 
a ação de ser interpretado em outro signo. Por isso mesmo, o significado de um signo é outro signo e assim por diante, 
processo através do qual a semiose está em permanente devir. Como poderia haver comunicação se não houvesse 
produção de signos para serem interpretados? 
 
 
A generalidade do conceito de semiose. 
(Do livro “Comunicação e Semiótica”, de Lúcia Santaella e Winfried Nöth). 
 
O que Peirce pretendia desenvolver pressupunha uma teoria geral de todos os tipos e aspectos dos signos. Quando 
dizemos ‘geral’, entretanto, devemos levar em consideração o grau de generalidade que aí está implícito. De um lado, 
há a generalidade do objeto que a teoria visa abraçar (todos os processos sígnicos). De outro lado, há a generalidade 
da teoria em si mesma. Tendo em vista o objeto da teoria, para Peirce, os próprios seres humanos são signos. No 
entanto, ele foi ainda mais longe: qualquer coisa que qualquer coisa possa ser, ela também é signo. (...) A generalidade 
do conceito de semiose vai até o ponto da afirmação de que “o universo está permeado de signos, se é que não seja 
21 
 
composto exclusivamente de signos” (Peirce). No entanto, "Nada é signo se não é interpretado como signo." (CP, 
2.208). 
 
 
Os objetos do signo 
(Do livro “Semiótica, Informação e Comunicação: diagrama da teoria do signo”, de Teixeira Coelho; e “Semiótica 
aplicada”, de Lúcia Santaella). 
(Do texto “A contemporaneidade de Peirce no pensamento comunicacional”, de Vinicius Romanini) 
 
O objeto, segundo correlato do signo, é aquilo que o signo indica, se refere ou representa. Há, pois, um objeto externo 
ao signo e um objeto interno ao signo. O primeiro é denominado dinâmico e o segundo imediato. 
 
Pensemos no comando - “Armas no chão! ” – que um capitão dá à sua tropa, num treinamento militar qualquer. Quais 
são os objetos desse signo? O objeto dinâmico é o desejo do capitão de que os soldados coloquem as armas no chão. 
Note-se aí que não se trata de um desejo qualquer, mas de um desejo amplo, enraizado no contexto da disciplina e 
autoridades militares. É o desejo que não se pode apreender como um todo por sua complexidade. Qual é o objeto 
imediato? É o objeto interno ao signo, quer dizer, é o desejo do capitão tal como esse desejo está presente dentro do 
signo, ou como ele se manifesta naquele exato momento: no tom da voz com que emite sua ordem, na postura que 
assume e, evidentemente, na sua presença frente aos soldados na ocasião em que dá o comando. 
 
Quando pronunciamos uma frase, nossas palavras falam de alguma coisa, se referem a algo, se aplicam a uma 
determinada situação ou estado de coisas. Elas têm um contexto. Esse algo a que elas se reportam é o seu objeto 
dinâmico. A frase é o signo e aquilo sobre o que ela fala é o objeto dinâmico. Quando olhamos para uma fotografia, 
lá se apresenta uma imagem. Essa imagem é o signo e o objeto dinâmico é aquilo que a foto buscou capturar no ato 
da tomada a que a imagem na foto corresponde. Quando ouvimos uma música, o objeto dinâmico é tudo aquilo que 
as sequências de sons são capazes de sugerir para a nossa escuta. 
 
Ora, quaisquer que sejam os casos, uma frase, uma foto ou uma música, ou seja lá o que for, os signos só podem se 
reportar a algo, porque, de alguma maneira, esse algo que eles denotam está representado dentro do próprio signo. 
O modo como o signo evoca aquilo a que ele se refere é o objeto imediato. Ele se chama imediato porque só temos 
acesso ao objeto dinâmico através do objeto imediato, pois, na sua função mediadora, é sempre o signo que nos 
coloca em contato com tudo aquilo que costumamos chamar de realidade. 
 
Assim, por exemplo, façamos a experiência de comparar a primeira página de dois jornais diferentes em um mesmo 
dia. O objeto dinâmico dessas duas páginas são presumivelmente os acontecimentos mais quentes de uma conjuntura 
22 
 
recente. Como esse objeto dinâmico é apresentado em cada uma das páginas vem a ser o objeto imediato, quer dizer, 
aquele recorte específico que a página, que é um signo, de cada um dos jornais fez do objeto dinâmico, a conjuntura 
da realidade. É claro que esse recorte depende de uma série de aspectos, tais como a ideologia do jornal, o que foi 
decidido na pauta como merecedor de atenção, etc. Mas é o recorte específico que aquele signo faz, com todos os 
aspectos que ele envolve que é o objeto imediato, ou seja, o modo como o signo representa ou indica ou, ainda, 
sugere o objeto dinâmico. 
 
 
Os interpretantes do signo 
(Dos livros “Semiótica, Informação e Comunicação: diagrama da teoria do signo”, de Teixeira Coelho; “Semiótica 
aplicada”, de Lúcia Santaella; e “Matrizes da Linguagem e Pensamento: sonora, visual, verbal”, de Lúcia Santaella) 
(Do texto “A contemporaneidade de Peirce no pensamento comunicacional”, de Vinicius Romanini) 
 
O interpretante, terceiro elemento da tríade que compõe o signo, como também já foicitado, é o efeito interpretativo 
que o mesmo é capaz de produzir nos seus receptores. Para funcionar como signo, entretanto, é necessária a interface 
com o interpretante. Logo, para percorrer os passos do processo interpretativo, Peirce distinguiu três tipos básicos 
de interpretantes: imediato, dinâmico e final. 
 
Antes de tudo, é preciso considerar que interpretante não quer dizer intérprete. É algo mais amplo, mais geral. O 
intérprete tem um lugar no processo interpretativo, mas este processo está aquém e vai além do intérprete. Logo, o 
primeiro nível do interpretante é chamado de interpretante imediato. É um interpretante interno ao signo. Assim 
como o signo em um objeto imediato, que lhe é interno, também tem um interpretante interno. Trata-se do potencial 
interpretativo do signo, quer dizer, de sua interpretabilidade ainda no nível abstrato, antes de o signo encontrar um 
intérprete qualquer em que esse potencial se efetive. 
 
Um livro em uma livraria, por exemplo, tem um potencial para ser interpretado, antes mesmo que qualquer pessoa o 
tenha aberto para ler. As palavras estão lá com toda a carga de significação que elas contêm. Quando um leitor for ler 
o livro, algo dessa carga de significação será atualizada, se efetivará. Mas isso não quer dizer que o poder para ser 
interpretado já não esteja nos próprios signos de que o livro é feito. 
 
Uma pintura em uma parede, músicas em um CD, um vídeo em uma fita/DVD, todos eles contêm internamente um 
potencial para serem interpretados tão logo encontrem um intérprete. Esse potencial é o interpretante imediato do 
signo. É algo que pertence ao signo na sua objetividade. Uma comédia do teatro ou cinema, por exemplo, a princípio 
não está apta a levar seus espectadores ao choro, pois há nela determinadas características que delineiam o perfil de 
sua interpretabilidade. 
23 
 
O segundo nível é o do interpretante dinâmico, que se refere ao efeito que o signo efetivamente produz em um 
intérprete (âmbito da recepção). Tem-se aí uma dimensão psicológica, pois o interpretante dinâmico se trata do efeito 
singular que o signo produz em cada intérprete particular. Esse efeito subdivide-se ainda em três níveis: emocional, 
quando o efeito se realiza como qualidade de sentimento; energético, quando o efeito é da ordem do esforço físico 
ou psicológico; e lógico, que funciona como uma regra de interpretação. 
 
O terceiro nível do interpretante é o interpretante final, que se refere ao resultado interpretativo a que todo 
intérprete estaria destinado a chegar se os interpretantes dinâmicos do signo fossem levados até o seu limite último 
– limites de tempo e espaço, por exemplo. Como isso não é jamais possível, o interpretante final é um limite pensável, 
mas nunca inteiramente atingível. O interpretante final aparece como um limite ideal (daqui a mil anos, por exemplo), 
aproximável, mas inatingível, para qual os interpretantes dinâmicos tendem. 
 
Em suma, o interpretante imediato consiste naquilo que o signo pode provocar em qualquer mente interpretadora. 
É o que o signo potencialmente pode produzir em decorrência da sua natureza; ou ainda é o interpretante tal como 
se revela na correta compreensão do próprio signo. 
 
O interpretante dinâmico, por sua vez, diz respeito ao efeito que o signo efetivamente produz na mente de um 
intérprete determinado. Interferem, nesta modalidade relacional, pormenores que se referem ao repertório 
individual e específico do intérprete considerado, suas experiências particulares, sua visão de mundo, sua 
subjetividade enfim. Ou seja, é o efeito concreto determinado pelo signo. 
 
Já o interpretante final representa de alguma maneira a coletividade de intérpretes capazes de traduzir o signo nos 
termos de uma relação de significado universal e genérico. Em suma, é o modo pelo qual o signo tende a representar-
se, ao fim de um processo, em relação a seu objeto. Todo signo tem um interpretante final, ou último, que revela no 
que o signo se transformaria, ao final do processo, se todas as suas potencialidades fossem desenvolvidas. Vale dizer 
que, em 1909, enquanto rascunhava um “sistema de lógica, considerado como semiótica”, Peirce afirma que o 
interpretante último não é a maneira como um conjunto finito de mentes efetivamente age sob a influência de um 
conceito, mas como qualquer mente “agiria” (would act) sob seu efeito. 
 
Na relação do signo com o interpretante, vamos encontrar novamente três níveis de interpretante: rema, dicente e 
argumento. 
 
Rema, quando o interpretante resulta de um signo icônico, ou signo de possibilidade qualitativa. Rema: há uma 
imprecisão de sentido, uma sensação, uma indeterminação, que se dá no instante inicial de contato com o novo – um 
certo espanto, uma surpresa, uma indefinição; 
24 
 
Dicente, quando o interpretante resulta de um signo indicial. O interpretante enseja particularizações interpretativas, 
afirmações em que há denotação; 
 
Argumento, quando o interpretante resulta de um signo simbólico. Portanto, quando o interpretante está ligado a 
regras precisas, fundamentadas. 
 
 
Os três tipos de signos: ícone, índice e símbolo. 
(Do livro “O que é Indústria Cultural”, de Teixeira Coelho) 
(Do texto “Fundamentos semióticos do estudo das imagens”, de Winfried Nöth) 
 
Os signos não são todos da mesma espécie. E cada tipo de signo tende a provocar certo tipo de relacionamento entre 
ele mesmo e a pessoa que recebe. Nela provoca, também, um tipo particular de interpretante ou efeito/significado. 
 
Uma coisa é tentar transmitir a alguém o que seja um cão através da palavra escrita e outra é tentar a mesma coisa 
por meio da fotografia desse cão. A palavra escrita é de certo modo “neutra”; ela deixa em aberto um amplo leque 
de possibilidades, de modo que, além do mínimo de significado específico nela contido (a ideia, por exemplo, de um 
animal doméstico, amigo do homem), ela admite uma série de ideias pessoais de quem a recebe. Pode formar-se, 
nessa pessoa, a imagem de um animal pequeno ou grande, feroz ou cordato, de pelo curto ou comprido, preto ou 
branco. 
 
Já a fotografia do cão (que passa a ser de certo cão, um ser particular) não é mais tão neutra assim: ela já determina 
que o cão seja grande ou pequeno, agressivo ou calmo, branco ou amarelo. Ainda há, por certo, uma ampla margem 
para que a pessoa enxerte nesse conceito uma série de ideias suas, mas, seja como for, percebe-se facilmente que o 
interpretante transmitido por uma foto é diverso do interpretante proporcionado por uma palavra, ainda que ambas 
designem a mesma coisa. 
 
Surge, assim, a necessidade de distinguir entre os tipos de signos. Charles S. Peirce propõe que os signos possam ser 
de três tipos: ícone, índice e símbolo. Para o que interessa nessa exposição, é suficiente reter que: 
 
 
O ícone ou signo icônico 
 
Peirce dividiu os ícones em: (a) ícone puro e (b) signos icônicos, ou hipoícones, que se subdividem em imagem, 
diagrama e metáfora. 
25 
 
O ícone puro está relacionado a uma simples qualidade de sentimento indivisível e inanalisável. Só pode ter uma 
natureza mental, mas como possibilidade ainda irrealizada não é nem mesmo comparável a uma ideia, apenas um 
flash de incandescência mental, luz primeira de todos os insights. Um ícone puro não é, portanto, um signo 
caracterizado pela semelhança com o seu objeto, mas pela indistinguibilidade entre ele e seu objeto. Como um signo 
indistinguível de seu objeto, o ícone puro é um signo autoreferencial. 
 
O signo genuinamente icônico constitui uma classe de grau zero da semioticidade, uma vez que está reduzido à 
categoria de primeiridade. Tal ícone é um signo em virtude, simplesmente, das próprias qualidades,e, uma vez que 
não é sequer distinguível do seu objeto, não se refere ou está, em absoluto, no lugar do objeto” (CP 2.92, 1902; 2.276, 
1903). 
 
Peirce descreve como, na contemplação de uma pintura, por exemplo, a imagem pode perder sua natureza referencial 
e deixar de ser um signo com referência para transformar-se em ícone puro, ou ícone genuíno sem referência alguma. 
 
Uma vez que uma imagem é assim contemplada sem nenhuma consideração pelo seu (objeto) referente, ela deixa de 
ser um hipoícone para ser um ícone puro. O processo aproxima-se do que a tradição da estética definiu como a função 
autônoma ou autoreferencial da arte. A pintura, que perde seu poder de referir-se a algo, exceto a ela própria, abre 
os olhos do observador para a visão das cores e das formas como tais, e, de fato, Peirce identifica ícones puros com 
formas puras quando afirma que “ícones nada podem representar, a não ser formas e sentimentos” e que “nenhum 
ícone puro representa nada além de formas; nem formas puras são representadas por nada que não sejam ícones” 
(CP 4.531, 1905). 
 
A mudança entre a mirada hipoicônica da imagem e a mirada da imagem como ícone puro foi, evidentemente, o que 
aconteceu na histórica revolução da arte moderna, em que as artes abstratas ou, de alguma forma, não 
representacionais foram liberadas das ataduras dos seus objetos referenciais para funcionarem como composições 
autônomas de cor e forma, em que as diferenças entre signo e objeto foram apagadas e os significados tornaram-se 
meras possibilidades. 
 
Nesse sentido, a pintura abstrata (não-figurativa) pode estar diretamente relacionada à noção de ícone puro. Afinal, 
a distinção entre o signo e o objeto pode praticamente ser anulada. Nesse caso, há uma espécie de fusão entre um e 
outro (signo e seu objeto). Assim, um signo deve ser signo de si mesmo. Como exemplo de ícone puro, temos uma 
pintura em que a cor apresenta a própria cor e sua força. Um bom exemplo disso são as telas do russo Mark Rothko 
(1903 - 1970), artista vinculado à escola de Nova York, ou expressionismo norte-americano, que surgiu nos anos 1940. 
 
 
26 
 
 
 
 
Uma vez mais se levanta a questão sobre a possibilidade e a forma de tais imagens poderem ser signos. Também 
busca-se entender se seria uma contradição semiótica considerar imagens sem objeto (referente), no sentido 
tradicional, como signos. No marco da semiótica de Peirce essa contradição não aparece, uma vez que seja levada em 
consideração a possibilidade da autoreferencialidade do signo. Como vimos, um signo pode ser seu próprio objeto 
(CP 2.274, 1903). De acordo com essas premissas, pinturas não representacionais do tipo autoreferenciais são signos 
cujo objeto está na sua própria estrutura (cor, reflexos de luz, e sombras), que constituem um sistema de referência, 
formal e cromática, existente somente entre os elementos pictóricos. 
 
Contudo, as imagens não representacionais não são somente signos na medida em que são autorreferenciais. Existem 
outros aspectos que fazem delas signos e que não as tornam ícones puros em toda medida. Primeiramente, isso 
acontece uma vez que pertencem ao gênero da pintura. Nesse aspecto, querem expressar, por assim dizer, a 
mensagem: “Eu sou uma obra de arte (e não somente outra superfície retangular que, por acaso, é amarela). ”Além 
disso, tais pinturas, inevitavelmente, referem-se a estilos ou tendências de períodos da arte anterior ou atual, mesmo 
se tais estilos ou tendências sejam opostos a elas. Finalmente, se nada parece ser significativo, ao menos o título de 
uma pintura abstrata tem alguma significação. 
 
27 
 
O hipoícone, por sua vez, é um signo icônico que tem uma forte aproximação, analogia ou semelhança com o objeto 
representado. Ele pode ser de três tipos: imagem, diagrama e metáfora. 
 
A imagem tem uma similaridade na aparência (Exemplo 1: a fotografia figurativa, como a foto de um ente querido, se 
vista em sua similitude com a pessoa representada. Neste caso, trata-se de uma imagem visual. Exemplo 2: o nome 
Tuiuiú se tratado em sua similitude com o som do pássaro homônimo do pantanal brasileiro. Nestre caso, trata-se de 
uma imagem acústica.) 
 
O diagrama tem uma similaridade nas relações (Exemplos: mapa do metrô, gráfico demostrando a taxa de crescimento 
da inflação) 
 
A metáfora tem uma similaridade nos significados (Exemplo: Maria é uma cobra! – as qualidades de Maria sendo 
“iguais” às de uma cobra). 
 
Exemplo de hipoícone imagético 
 
 
 
 
28 
 
Exemplo de diagrama (gráficos de duas dimensões, em geral construídos em um plano cartesiano). 
 
 
 
 
 
 
 
Exemplo de metáfora (A metáfora consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em lugar de outra, sem que 
haja uma relação real, mas em virtude da circunstância de que o nosso espírito as associa e depreende, entre elas, 
certas semelhanças). 
 
São metáforas: 
"Meu pensamento é um rio subterrâneo." (Fernando Pessoa); 
“Eu estou sempre dando murro em ponta de faca” (expressão popular); 
“Eu carrego o mundo nos meus ombros (expressão popular) ”. 
 
29 
 
Perceba-se como esses três exemplos vão decrescendo em termos de iconicidade, em sua proximidade com o objeto... 
E, portanto, além da categoria da primeiridade, esses hipoícones vão participando também das categorias de 
secundidade e de terceiridade, como veremos mais adiante. 
 
Imagem (+++ icônica) 
Diagrama (++ icônica) 
Metáfora (+ icônica) 
 
 
Isto também acontece com o índice e o símbolo (com algumas restrições, no entanto, e que não nos cabem neste 
momento). Ocorrência que atesta a impossibilidade da “pureza” total e absoluta dos signos. 
 
 
O índice ou signo indicial 
 
Signo que representa seu objeto por remeter-se diretamente a ele; o índice aponta para seu objeto, para seu 
referente, sem ser semelhante ao seu objeto, como o ícone, está ligado a ele de tal modo que, sem ele, não pode 
existir: poças de água podem ser índice de chuva recente, assim como nuvens escuras indicam chuva iminente; o cata-
vento é um signo que indica a existência de vento, assim como uma seta pintada num corredor indica o caminho. 
Nenhum desses signos – poças de água, nuvens escuras, cata-vento, seta – tem sentido, funciona, se seus respectivos 
representados – chuva, vento, caminho – não estiverem diretamente ligados a eles como coisa real, ou como 
possibilidade prestes a verificar-se, ou como realidade já verificada num momento imediatamente anterior. Se não 
houver caminho a seguir, caminho real, a seta não tem sentido. O cata-vento indica a existência e a direção de um 
vento real existente naquele momento em que o signo funciona; não se trata de um vento que existiu uma semana 
antes, nem de um vento que existirá amanhã. Ao contrário do ícone, que mantém seu significado mesmo distanciado 
do objeto representado, ou ainda que este objeto não exista mais (a foto de uma pessoa distante ou morta), o índice 
é um signo efêmero, de vida curta ou que, pelo menos, depende em tudo da duração da vida de seu objeto. O índice 
não tem autonomia de existência. E ainda em comparação com o ícone: conhecer o ícone é em certa medida – e em 
alguns casos, em toda a medida – conhecer o objeto representado. Mas o conhecimento do índice não possibilita o 
conhecimento do objeto significado, a não ser sob aspectos muito restritos. O que diz uma poça de água sobre a 
natureza da chuva, a não ser que é líquida? Não diz se a chuva cai ou corre como um rio. Nem se, caindo, cai como 
um jorro contínuo e espesso ou como pingos esparsos. Nem diz nada sobre a temperatura desta água ou sobre sua 
eventual translucidez. Uma foto diz a cor dos olhos de uma pessoa,pode dar sua altura, pode mesmo informar se ela 
é tranquila ou irritadiça. Nada disso é possível com o índice. Uma seta não diz como é o caminho a seguir, se reto ou 
tortuoso, se estreito ou amplo (a não ser que ela seja vista também como icônica). E ainda: um ícone não exige a 
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familiaridade da pessoa que o recebe com o objeto representado; sem ter visto antes um objeto significado na foto, 
a pessoa receptora do ícone pode conhecê-lo ou reconhecê-lo a partir de um conceito geral. Já o índice não existe se 
seu receptor não conhecer previamente o objeto representado: se eu já não tiver visto a relação entre nuvem escura 
e chuva, não poderei interpretar o signo “nuvem escura”. Isto leva a ver o ícone como um signo capaz de propor o 
novo, como um signo que revela, enquanto o índice é por excelência um signo repetidor, um signo de manutenção. 
O ícone já me dá desde logo a informação sobre o objeto, bastando que eu esteja receptivo em relação à operação 
de interpretação; o índice só me dá a informação se eu, de algum modo, já a conhecer. 
 
 
O símbolo ou signo simbólico 
 
Signo que representa seu objeto em virtude de uma convenção, de um acordo. O ícone assemelha-se a seu objeto e 
o índice está ligado diretamente ao objeto significado. Quanto ao símbolo, diversamente do ícone, não tem nenhum 
traço em comum com seu objeto, nem está ligado a ele de algum modo: ele é arbitrário. O exemplo mais comum de 
símbolo é a palavra, qualquer palavra. Uma palavra como “cão” não se assemelha nem à idéia geral de cão ou a um 
cão em particular do modo como a poça de água está ligada à chuva através da matéria líquida. Ela representa o 
objeto cão graças a uma convenção entre os homens. Diz a convenção que uma coisa com um “c” associada a um “a” 
e a um “o”, mais o traço gráfico “~” dever ser entendida como significando certo tipo de animal doméstico. O símbolo 
é, assim, uma postura artificial. A entidade “cão” poderia ser representada por qualquer outra combinação de sinais 
gráficos como “hum”, “zeto” ou qualquer outra coisa. Podia ser representada por “mesa”, “árvore”, “avião” – ou por 
dog, cane, chien. Para ser entendido, o símbolo não exige que seu receptor conheça o objeto a que se refere, como o 
índice: o símbolo é mesmo um modo de conhecer coisas novas. Mas também, ao contrário do ícone, o conhecimento 
do símbolo não implica o conhecimento da coisa representada tal como ela é. Para ambas as conclusões, a razão é 
uma só: o símbolo não tem ligações com a coisa significada, independe desta – o que faz com que, entre outras coisas, 
não seja efêmero. 
 
Como não há signo puro …. Podemos apenas falar de predominância de um em relação a outro, embora os três tipos 
possam conviver. 
 
 
 
 
 
 
 
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EXERCÍCIOS: 
Sendo assim, 
 
O que há de ícone, índice e/ou símbolo nesta fotografia mortuária de D. Pedro II de 1891? Note-se que ele está vestido 
como marechal do exército em seu leito de morte. Mais: tem a cabeça posta sobre um livro, como signo de que sua 
mente repousa sobre o conhecimento mesmo na morte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O que há de ícone, índice e/ou símbolo neste cartaz de exposição? 
 
 
 
O que há de ícone, índice e/ou símbolo nesta capa de jornal? 
 
 
 
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O que há de ícone, índice e símbolo nos sons produzidos pelas seguintes palavras? 
“au-au”/ “ruf-ruf”, “piu-piu”, “tuiuiú”/ “jaburu” 
 
O que há de ícone, índice e símbolo na escrita das seguintes frases? 
“Esta menina aqui é feia”. 
“Aquela acolá é bem bonita! ”. 
“O rapaz de quem eu gosto muito chama-se João e é horroroso, segundo minha mãe! ” 
 
 
A Fenomenologia e a Semiótica 
(Do livro “Semiótica Aplicada”, de Lúcia Santaella) 
 
Em 1904, Peirce organizou uma fenomenologia muito especial. A fenomenologia tem por função apresentar as 
categorias formais e universais dos modos como os fenômenos são apreendidos pela mente. 
 
E fenômeno (palavra derivada do grego phaneron), segundo Santaella, é "qualquer coisa que aparece à mente, seja 
ela meramente sonhada, imaginada, concebida, vislumbrada, alucinada ... Um devaneio, um cheiro, uma idéia geral 
e abstrata da ciência ... Enfim, qualquer coisa." 
 
Os estudos que empreendeu levaram Peirce à conclusão de que há três, e não mais do que três, elementos formais e 
universais em todos os fenômenos que se apresentam à percepção e à mente. Num nível de generalização máxima, 
esses elementos foram chamados de “primeiridade”, “secundidade” e “terceiridade”. 
 
A categoria da primeiridade é entendida como aquela do sentimento imediato e presente das coisas, que não tem 
nenhuma relação com outros fenômenos do mundo. A primeiridade é o modo de ser daquilo que é tal como é 
positivamente e sem referência a outra coisa qualquer. É a ideia do “tudo ao mesmo tempo e agora”. É a categoria 
do sentimento sem percepção e reflexão, da mera possibilidade, do imediato. A primeiridade aparece em tudo o que 
estiver relacionado com o acaso, a possibilidade, a qualidade, o sentimento, a originalidade, a liberdade, a mônada. 
Trata-se, pois, de um momento não analisável e incapturável, uma qualidade de sentimentos sem definições. Não se 
sabe exatamente o que é, não se interpreta nada. É aquilo que dura poucos segundos e está aberto a possibilidades. 
EU SINTO. 
 
Já a secundidade relaciona um fenômeno primeiro a um segundo fenômeno qualquer. É a categoria da comparação, 
da realidade e da experiência no tempo e no espaço. Ela nos aparece em fatos tais como o outro, a relação, a 
compulsão, a dualidade, o efeito, a dependência, a negação, a ação e reação, o resultado, o conflito. Assim sendo, é 
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o momento em que passamos a perceber as coisas. São os estados de choque, surpresa e confronto da consciência 
com o fenômeno, buscando entendê-lo. EU PERCEBO QUE SINTO. 
 
A terceiridade é identificada quando um fenômeno segundo é relacionado a um terceiro. Diz respeito à generalidade, 
continuidade, crescimento, inteligência. Portanto, ao falar em terceiridade, fala-se também em categoria da mediação, 
da síntese, da memória. Quer dizer, é a interpretação e generalização dos fenômenos. "Representa a lei geral que 
rege o sentimento (primeiridade) e a ação (secundidade), outorgando-lhe continuidade. Como esta lei geral 
estabelece explicações racionais, toda atividade intelectual é um terceiro". (CP 1.3 77). EU PENSO SOBRE O QUE SINTO/ 
O QUE PERCEBO QUE SINTO. 
 
Podemos ilustrar essa visão com a historinha de Newton e a maçã: a) Newton repousando sob a macieira, aberto a 
todas as possibilidades, como a ferroada de uma formiga, a chegada da chuva e, inclusive, a queda de uma maçã 
(primeiridade) que se encontra em processo; b) a maçã, caindo sobre seu corpo, tira-o subitamente da primeira 
situação (secundidade); c) Newton põe-se a pensar sobre a queda da maçã e generaliza suas ideias, criando a lei da 
gravitação (terceiridade). 
 
Como se pode perceber, as três modalidades possíveis de apreensão de todo e qualquer fenômeno não constituem 
uma função isolada. Pelo contrário, a primeiridade está contida na secundidade e, essas duas conjugadas, integram a 
terceiridade, o que requer um esclarecimento mais profundo e demorado. 
 
É apenas então na terceiridade que temos o pensamento em signos, visto que o signo é um primeiro (algo que se 
apresenta à mente), unido a um segundo (aquilo que o signo indica) e a um terceiro (o efeito que o signo irá provocar 
em um possível intérprete). Isso significa que o signo peirceano é construído triadicamente, a partir de características 
fenomenológicas e, portanto, a semiótica tem origem e está diretamente alicerçada na fenomenologia.SIGNOS X FENOMENOLOGIA 
 (Do livro “Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce”, de Winfried Nöth) 
 
 
O ícone e a primeiridade 
 
O ícone participa da primeiridade por ser “um signo cuja qualidade significante provém meramente da sua 
qualidade” (CP 2.92). Conforme tal definição o ícone é, ao mesmo tempo, um qualisigno. Porém, um qualisigno 
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icônico absoluto – também denominado ícone puro (CP 2.276, 2.92) – que participa apenas da categoria da 
primeiridade, é só uma possibilidade hipotética da existência de um signo (...). 
 
O qualisigno (uma qualidade que é signo) é o aspecto do signo/representamen que diz respeito às suas 
características que menos o particularizam, como as cores, os materiais, as texturas, o acabamento. 
 
Assim entendido, o ícone puro não pode verdadeiramente existir; pode, no máximo, constituir “um fragmento de 
um signo mais completo”. Um pequeno exemplo dado por Peirce fornece elementos para que possamos entender 
melhor como se dá, num fenômeno semiótico, a aproximação ao ícone puro: ao contemplar uma pintura, há um 
momento em que perdemos a consciência do fato de que ela não é a coisa. A distinção do real e da cópia 
desaparece e por alguns momentos é puro sonho; não é qualquer existência particular e ainda não é existência 
geral. Nesse momento, estamos contemplando um ícone. 
 
Como tais fenômenos de iconicidade reduzida à primeiridade não ocorrem na realidade cotidiana (...) Peirce 
também define a ideia de um ícone puro como sendo um caso de “degeneração semiótica”, como já dito. Um ícone 
puro seria, pois, um signo degenerado – não no sentido de uma avaliação pejorativa – mas no sentido de estar 
restrito a participar de apenas um constituinte do signo. 
 
O índice e a secundidade 
 
O índice participa da categoria de secundidade porque é um signo que estabelece relações diáticas (...). Conforme 
tal definição o índice é, ao mesmo tempo, um sinsigno. Tais relações têm, principalmente, o caráter de causalidade, 
espacialidade e temporalidade. 
 
O sinsigno é o aspecto do signo que já o particulariza e o individualiza como ocorrência: sua forma, suas dimensões. 
 
Entre os exemplos peirceanos de índice estão o cata-vento, uma fita métrica, uma fotografia, o ato de bater à porta, 
um dedo indicador apontando numa direção e um grito de socorro. 
 
Índices também existem na linguagem. Nomes próprios e pronomes pessoais são índices porque se referem a 
indivíduos particulares. Outros pronomes, artigos e preposições são índices verbais porque estabelecem relações 
entre palavras dentro de um texto. 
 
As características do índice ficam mais patentes quando comparamos esses signos aos signos icônicos e aos 
símbolos. Peirce fez tal comparação: 
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Os índices podem distinguir-se de outros signos ou representações por três traços característicos: (1) não têm 
nenhuma semelhança significante com seus objetos; (2) referem-se a individuais, unidades singulares, coleções 
singulares de unidades ou a contínuos singulares; (3) dirigem a atenção para os seus objetos através de uma 
compulsão cega (...) Psicologicamente, a ação dos índices depende de uma associação por contiguidade e não de 
uma associação por semelhança ou por operações intelectuais (CP 2.306). 
 
 
O símbolo e a terceiridade 
 
O símbolo (...) participa da terceiridade. Ele depende do artifício e de convenções sociais. São, portanto, categorias 
da terceiridade: o hábito, a regra, a lei ou abstração operativa, e a memória. Na definição peirceana, “um símbolo é 
um signo que se refere ao objeto que denota, em virtude de uma lei, normalmente uma associação de ideias gerais” 
(CP 2.449). Cada símbolo é, portanto, e ao mesmo tempo, um legisigno: “Todas as palavras, frases, livros e outros 
signos convencionais são símbolos” (CP 2.292.). 
 
O legisigno é, portanto, como as convenções e as regras, os padrões se manifestam no signo/representamen: as 
aplicações da perspectiva na pintura renascentista, as normas de conduta (leis) escritas na constituição brasileira. 
 
Considerações finais 
 
[Finalizando] não se pode esquecer de que a semiótica está alicerçada na fenomenologia. Por isso, há signos de 
terceiridade (...), mas há também signos de secundidade e de primeiridade (...). Mas esses são casos de dominância, 
pois as três propriedades, em geral, estão sempre onipresentes em todos os fenômenos, não apenas humanos, mas 
também naturais. 
 
Qualquer coisa que esteja presente à mente tem a natureza de um signo. Nesse sentido, signo é aquilo que dá 
corpo ao pensamento, às emoções, reações etc. 
 
É desta [fenomenologia] que advém a possibilidade de se considerar os signos e as interpretações de primeira 
categoria (meros sentimentos e emoções), de segunda categoria (percepções, ações e reações) e de terceira 
categoria (discursos e pensamentos abstratos) que tornam muito próximos o sentir (primeiridade), o reagir e o 
experimentar (secundidade), bem como o pensar (terceiridade). São essas misturas que estão justamente 
fundamentadas nas diferentes classes de signos estudados por Peirce. 
 
 
37 
 
Quadro explicativo 
(Do livro “O que é Semiótica”, de Lúcia Santaella). 
 
SIGNO 1° COM SEU FUNDAMENTO (EM 
SI MESMO) 
SIGNO 2° COM SEU 
OBJETO 
SIGNO 3° COM SEU 
INTERPRETANTE 
1° qualisigno ícone rema 
2° sinsigno índice dicente 
3° legisigno símbolo argumento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ANEXO 
 
 
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