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ANALISE DAS NULIDADES DO CASAMENTO CANONICO A LUZ DO DIREITO BRASILEIRO PANARAMA ATUAL

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 
 
MARIA CRISTINA ROCHA POMBO LESSI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DAS NULIDADES DO CASAMENTO CANÔNICO À LUZ DO 
DIREITO BRASILEIRO: PANORAMA ATUAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2013 
 
 
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 
 
MARIA CRISTINA ROCHA POMBO LESSI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DAS NULIDADES DO CASAMENTO CANÔNICO À LUZ DO 
DIREITO BRASILEIRO: PANORAMA ATUAL 
 
 
 
 
Trabalho de Monografia apresentado ao Curso de 
Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da 
Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito 
parcial para a obtenção do grau de Bacharel em 
Direito. 
Orientador: Prof. Msc. Cláudio Henrique de Castro 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2013 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
MARIA CRISTINA ROCHA POMBO LESSI 
 
ANÁLISE DAS NULIDADES DO CASAMENTO CANÔNICO À LUZ DO 
DIREITO BRASILEIRO: PANORAMA ATUAL 
 
 
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel no 
Curso de Bacharelado em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná. 
 
 
 
Curitiba________, de ______________________, 2013 
 
Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná. 
 
 
 
_______________________________________ 
Orientador: Prof. Msc. Cláudio Henrique de Castro 
 
 
___________________________________________ 
Professor 
 
 
 
__________________________________________ 
Professor 
 
 
 
__________________________________________ 
Professor Doutor Eduardo de Oliveira Leite 
Coordenador do Núcleo de Monografias 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
Ao meu fiel advogado, o Espírito Santo que tornou 
meu sonho em realidade. 
À memória do primeiro advogado da minha vida meu 
pai João Lessi e e à memória da minha mãe 
Doralisa, 
À memória de minha tia avó Helena Rocha Pombo 
Weigert, que ousou, no início do século XX se 
divorciar: 
“Que mistério ronda a tua história, 
Que após um século de memória, 
Nem um porta retrato, 
A sala pode frequentar? 
Que mal teria tido posar para um postal, 
Vestida e bem vestida. 
E com um olhar angelical. 
Nem o teu nome querem revelar, 
Para na Internet eu pesquisar, 
Teria sido: 
Bailarina, Vedete ou Cafetina? 
Ou 
Estava à frente do seu tempo, Menina? 
Mesmo tendo incomodado tanta gente, 
Vou te reverenciar, 
Se isto for compensação para tanta rejeição, 
Teu Post Card vou fotografar. 
Para, algum dia, uma exposição abrilhantar!” 
 DULCE REGINA ROCHA POMBO LESSI 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao segundo advogado da minha vida meu marido Osni, pelo seu exemplo de 
retidão e honestidade, por sua invejável paciência, companheirismo e compreensão. 
À minha irmã Dulce Regina, meu irmão João Luiz e minhas sobrinhas 
Isadora e Isabela. 
À minha fonte inspiradora, a advogada canônica Tia Ruthe, a culpada por eu 
ter me apaixonado pelo Direito Canônico. 
Aos meus colegas de jornada Leila Smythe, Sônia Costa, Fátima Marcelino, 
Rita Veiga, Allan Piter, Liane Borges e a minha especial colega/sobrinha Andréa 
Mazza. 
A inestimável colaboração de Sônia Mazza. 
Ao Professor Cláudio Henrique de Castro, pela orientação, dedicação, 
respeito e seriedade na condução dos nossos trabalhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Às vezes pensamos que a pobreza é apenas fome, nudez e desabrigo. A 
pobreza de não ser desejado, não ser amado e não ser cuidado é a maior 
pobreza. É preciso começar em nossos lares o remédio para esse tipo de 
pobreza.” 
 Madre Tereza de Calcutá 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como foco a comparação entre a nulidade do casamento no 
Direito Civil Brasileiro e no Direito Canônico, trazendo à luz as normas que cada 
instituto apresenta com a finalidade de esclarecer e melhor compreender essas 
nulidades na igreja e na esfera civil. Ressalta-se que o nosso Direito de Família 
brasileiro na sua estruturação teve poderosa influência do Direito Canônico através 
dos chamados Corpus Iuris Canonici (1431-1443). Tais influências ficam claras ao 
se deparar, por exemplo, na determinação da idade núbil, na publicação dos 
proclamas de casamento, na não condescendência com o concubinato, em relação 
ao estado de casado, a respeito do erro essencial quanto à pessoa e ao casamento 
putativo. Pode-se constatar também no Código Civil Brasileiro em seus artigos 1.521 
a 1.524 e no Código de Direito Canônico, em seus cânones 1.083 a 1.094 onde 
ambos tratam dos impedimentos para o casamento. Por fim, será demonstrado em 
um quadro comparativo as principais semelhanças e contrastes entre os institutos, 
bem como o modelo de um processo de declaração de nulidade matrimonial na 
igreja. 
 
Palavras-chave: Casamento. Direito Civil. Direito Canônico. Nulidade Casamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... ............ 10 
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CASAMENTO.............................................. ........... 11 
2.1 O CASAMENTO COMO INSTITUIÇÃO DIVINA......................................... ......... 16 
3 O CASAMENTO NO DIREITO CIVIL BRAILEIRO..................................... ........... 18 
3.1 SURGIMENTO DO CASAMENTO.............................................................. ......... 18 
3.2 CONCEITO E FINS DO CASAMENTO CIVIL............................................. ........ 19 
3.3 NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO.................................................. ........ 20 
3.4 CARACTERES DO CASAMENTO.............................................................. ........ 21 
3.5 CASAMENTO CIVIL E RELIGIOSO............................................................ ........ 21 
3.6 DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VÍNCULO CONJUGAL E DO 
CASAMENTO CIVIL....................................................... ........................................... 23 
4 SISTEMA DE NULIDADES DO CASAMENTO CIVIL................................ ........... 24 
4.1NORMAS PECULIARES............................................................................. .......... 24 
4.2 NULIDADE MATRIMONIAL......................................................................... ........ 29 
4.3 ANULABILIDADE DO CASAMENTO.......................................................... ......... 31 
5 O CASAMENTO NO DIREITO CANÔNICO............................................... ............ 38 
5.1A IGREJA CATÓLICA E O CASAMENTO................................................... ......... 38 
5.2 O DIVÓRCIO............................................................................................... ......... 38 
5.3 O CONCÍLIO DE TRENTO.......................................................................... ........ 39 
5.4 SOBRE O CASAMENTO............................................................................ ......... 39 
6 DOS IMPEDIMENTOS................................................................................ ............ 42 
6.1DO IMPEDIMENTO DE MENORIDADE...................................................... ......... 42 
6.2 A IMPOTÊNCIA COMO CAUSA DE NULIDADE DO CASAMENTO........... ....... 42 
6.3 DO IMPEDIMENTO DE VÍNCULO MATRIMONIAL.................................... ........ 43 
6.4 DO IMPEDIMENTO DE DISPARIDADE DE CULTO................................... ........ 43 
6.5 DO IMPEDIMENTO DO VÍNCULO DE ORDEM SACRA.................................... 44 
6.6 DO IMPEDIMENTO DE VÍNCULO DE VOTO PÚBLICO PERPÉTUO....... ......... 44 
6.7 DO IMPEDIMENTO DE RAPTO FORÇADO............................................... ........ 44 
6.8 DO POR IMPEDIMENTO POR CRIME DE CONJUNGICÍDIO................... ........ 44 
6.9 POR IMPEDIMENTO DE CONSANGUINIDADE........................................ ......... 45 
6.10 DO IMPEDIMENTO POR VÍNCULO DE AFINIDADE................................. ...... 46 
6.11DO IMPEDIMENTO POR VÍNCULO DE PÚBLICA HONESTIDADE.. ............... 47 
 
 
6.12 OUTROS IMPEDIMENTOS NA LEI CIVIL BRASILEIRA E 
CANÔNICA............................. ................................................................................... 48 
6.12.1 Demência notória........................................................................................ .... 48 
6.12.2 Menor sem consentimento.......................................................................... .... 49 
6.12.3 Prazo internupcial................................................ ........................................... 49 
6.12.4 Vínculo de tutela.................................... ......................................................... 50 
6.12.5 Causas suspensivas do casamento...... ......................................................... 50 
7 DA IMPOSSIBILIDADE DE ANULAÇÃO DO VÍNCULO MATRIMONIAL NA 
IGREJA.......................................................................... ........................................... 51 
8 DOS CASAMENTOS INVÁLIDOS QUE PODEM SER DECLARADOS 
NULOS....................................................................................................................... 52 
8.1 PRINCÍPIO DA CONSENSUALIDADE........................................................ ........ 52 
8.2 PRINCIPAIS CAUSAS DA NULIDADE DO CASAMENTO.......................... ........ 52 
8.2.1 Nulidade por ignorância............................................... ..................................... 52 
8.2.2 Incapacidade psíquica de consentir............................................................. ..... 54 
8.2.3 Incapacidade psíquica de discernir.............................................................. ..... 54 
8.2.4 Erro de pessoa ou de qualidade visada...................................................... ...... 54 
8.2.5 Coação da vontade: violência, medo, terror reverencial............................. ...... 55 
8.2.6 Sedução da vontade por dolo...................................................................... ..... 55 
8.2.7 Condição ou restrição legal da vontade...................................................... ...... 56 
8.2.8 Obrigações a cumprir.................................................................................. ...... 56 
8.2.9 Propriedades do casamento........................................................................ ..... 55 
8.2.10 Fins do matrimônio................................................................................ .......... 56 
8.2.11 A exclusão.......................................................................................... ............ 57 
9 FORMA CANÔNICA OBRIGATÓRIA SOB PENA DE NULIDADE............ ........... 58 
9.1 O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO IMPÕE A FORMA 
OBRIGATÓRIA............................................................................................ .............. 58 
10 RELAÇÕES DA IGREJA E O ESTADO NO BRASIL................................. ......... 60 
10.1 A CONSTITUIÇÃO DE 1890 E A REAÇÃO DO CLERO AO CASAMENTO 
CIVIL.................................................................................... ...................................... 60 
10.2 CASAMENTO RELIGIOSO IGNORADO PELO LEGISLADOR 
BRASILEIRO............................. ................................................................................ 60 
10.3 O CASAMENTO VOLTA A PRODUZIR EFEITOS CIVIS..................... ............. 61 
10.4 A INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO CIVIL.............. .............................. 61 
 
 
10.5 A LEI DO DIVÓRCIO, FIM DA INDISSOLUBILIDADE.... .................................. 62 
10.6 A PARTE BOA DO DIVÓRCIO.................................... ...................................... 62 
11 O PROCESSO DE NULIDADE MATRIMONIAL...... ........................................... 64 
11.1 A INSTRUÇÃO.......................................................................... ........................ 65 
11.2 A DISCUSSÃO E A SENTENÇA........................................................ ............... 65 
11.3 A SEGUNDA E A TERCEIRA INSTÂNCIAS...................................................... 66 
12 O DIREITO CANÔNICO E SUA IMPORTÂNCIA.......................... ....................... 67 
12.1 O DIREITO CANONICO............................................... ..................................... 67 
12.2 BRASIL UM ESTADO LAICO............................................................. ............... 67 
13 OS NEOPENTENCOSTAIS.............................................................. ................... 69 
14 CONCLUSÕES...................................................... .............................................. 71 
REFERÊNCIAS............................. ............................................................................ 73 
ANEXOS...................................................................... .............................................. 75 
ANEXO 1 QUADRO COMPARATIVO – CÓDIGO CIVIL DE 2002 X CÓDIGO CIVIL 
DE 1916...................................................... ............................................................... 75 
ANEXO 2 QUADRO COMPARATIVO – CÓDIGO CIVIL DE 2002 X CÓDIGO 
CANÔNICO DE 1916.................................................................................. ............... 85 
ANEXO 3 ENTREVISTA COM O PE. JOÃO GÓRKA DO TRIBUNAL 
ECLESIÁSTICO INTERDIOCESANO E DE APELAÇAO DE CURITIBA...... ............ 94 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O casamento é a base da família, e é nela que se forma o indivíduo para se 
desenvolver como pessoa e consequentemente como um bom cidadão. 
A intenção deste trabalho é fazer uma análise desse casamento no que diz 
respeito as suas nulidades no âmbito da esfera do Direito Civil brasileiro e no Direito 
Canônico. Para tal análise, começaremos pela evolução do casamento ao longo da 
história da humanidade seus reflexos e como era visto pela igreja. 
Em seguida veremos o casamento no Direito Civil brasileiro no que diz 
respeito ao seu conceito e finalidades, a sua natureza jurídica, as principais 
características e os seus respectivos impedimentos. 
Ainda no que diz respeito à nulidade matrimonial e anulabilidade do 
casamento civil descreveremos os requisitos para sua efetivação. 
Quanto ao casamento no Direito Canônico será descrito a sua definição, 
suas finalidades, seus requisitos básicos para a sua proposição, quais são os 
impedimentos para esse casamento, e explicaremos a impossibilidade da anulação 
do casamento na igreja e quais as causas da nulidade do casamento. 
Também veremos as relações da igreja e o estado, bem como é o processo 
de declaração de nulidade matrimonial canônico; demonstraremos em um quadro 
comparativo quais os artigos que dizem respeito ao casamento civil no Código de 
Direito Civil de 1916 comparado ao Código de Direito Civil de 2002 e outro quadro 
comparativo entre os artigos do Código de Direito Civil de 2002 e os cânones do 
Código de Direito Canônico de 1983. 
Apresentaremos duas jurisprudências que tratam de nulidade do casamento 
no civil que tem relação aos mesmos elementos de nulidade no casamento no 
Direito Canônico. 
Mostraremos a entrevista feita com o Pe. João Górka do Tribunal 
Interdiocesano e de Apelação de Curitiba – PR, que respondeu sobreo casamento e 
o amor. 
E finalizaremos escrevendo sobre os seguintes assuntos: a importância do 
Direito Canônico para a sociedade brasileira; o Brasil como estado laico; os 
neopentecostais e as conclusões sobre este trabalho. 
 
 
11 
 
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CASAMENTO NO DIREITO CANÔNICO 
 
Brilhantemente esclarece Aloísio Surgik (1986, p. 54) em sua obra que o 
Direito Canônico constitui o conjunto das leis promulgadas pela Igreja para o 
governo da sociedade eclesiástica e para a disciplina das relações dos fieis. A 
denominação “canônico” (kanón = regra, norma), indicava qualquer prescrição 
relativa à fé ou à ação cristã. Na Idade Média, chamaram-se cânones todas as 
normas emanadas da Igreja, em oposição às leges seculares, e, a partir do século 
XII, a expressão ius canonicum, contrapondo-se ao ius civiles. Seus cultores foram 
chamados canonistae e iuristae. (SURGIK, 1986, p. 54) 
Direito Canônico é o direito contido no Codex Iuris Canonici, ou, nas normas 
de Direito Humano estabelecidas pela Igreja e denominado hoje de Direito 
Eclesiástico, um direito produzido pelo Estado e que tem por objeto a Igreja: direito 
da Igreja e direito do Estado. (SURGIK, 1986, p. 54) 
As divisões do Direito Canônico baseiam-se nas suas origens e nos 
caracteres: 
 O Direito divino que tem por fonte a Sagrada Escritura 
 Direito humano, compreendendo as decisões dos concílios e dos papas, 
as opiniões dos padres e doutores da Igreja. 
 O Direito Escrito compreende as constituições e regras editadas pela 
Igreja e as disposições das leis civis. 
 O Direito não-escrito composto pela tradição e os usos ou costumes. 
 O Direito Comum é o conjunto de regras da Igreja universal. 
 O Direito Particular só se aplica a certas épocas, certos lugares ou certas 
pessoas. (SURGIK, 1986, p. 54) 
A Igreja nascente preocupou-se a partir do século V com aquilo que passou a 
chamar-se Cânon das Escrituras, i.é., formar a lista dos livros que ela aceitava como 
autênticos, cuja fixação se deu com o Concílio de Trento. (SURGIK, 1986, p. 55) 
Em se tratando do panorama histórico, Aloísio Surgik (1986, p. 55) destaca 
que a estrutura da Igreja no século IV estava formada também pelo Direito 
Eclesiástico, cujas fontes eram a legislação apostólica, as normas emanadas dos 
Sumos Pontífices, as leis dos concílios e sínodos já celebrados e as tradições com 
os costumes. (SURGIK, 1986, p. 55) 
12 
 
Tal é a disciplina existente desde os primeiros séculos que mais uma vez foi 
sancionada no Cân. 25 do Codex Iuris Canonici, de 1917: “O costume só adquire na 
Igreja força de lei em virtude do consentimento do superior eclesiástico competente” 
(“Consuetudo in Ecclesia vim legis a consensu competentis Superiores ecclesiastici 
unice obtinet”). (SURGIK, 1986, p. 55) 
Até 313, a Igreja era perseguida ou pelo menos ignorada oficialmente. A partir 
de Constantino, é beneficiada pelo apoio do Estado e por muitos privilégios. As 
relações entre as diversas comunidades cristãs tornam-se mais fáceis. A ação do 
papado se faz sentir rapidamente. Grandes reuniões conciliares tornam-se possíveis; 
elas são convocadas e organizadas pelo Estado. (SURGIK, 1986, p. 55) 
A finalidade do Direito Canônico é a da salvação das almas, prendendo suas 
raízes e exaurindo-se no sobrenatural. Ordenar as instituições que assegurem as 
relações entre a Terra e o Céu, determinar preceitos e proibições ao alcance do 
homo viator: (SURGIK, 1986, p. 56) 
Nos três primeiros séculos, algumas regras jurídicas ensaiam os primeiros 
passos do Direito Canônico, tendo como textos de base, as Escrituras. 
A partir da metade do século II, alcança grande sucesso uma obra disciplinar 
de caráter teológico e moral, o Pastor de Hermas. 
No século III, já aparece uma verdadeira legislação, fruto de decisões 
conciliares ou de atos pontificiais. Paralelamente, constituem-se coleções litúrgicas. 
Após o século IV é que a legislação se torna mais abundante e se fortalece a 
patrística. (SURGIK, 1986, p. 56) 
As fontes de conhecimento do Direito Canônico anteriores à codificação 
costumam dividir-se, conforme os três grandes períodos: o do ius antiquum, 
compreendendo o direito anterior a Graciano (entre 1140 e 1150); o do ius novum, 
referente ao período entre Graciano e o Concílio de Trento (1545-1563); e o ius 
novissimum, posterior ao Concílio de Trento. (SURGIK, 1986, p. 56) 
Em se tratando das tentativas de sistematização no século XII, Graciano, cuja 
obra, Concordia discordantium canonum (depois chamada Decretum), foi 
fundamental para o desenvolvimento do Direito Canônico. (SURGIK, 1986, p. 57) 
Posteriormente surge a necessidade de reunir também as novas leis 
emanadas dos concílios e da autoridade pontifícia. O primado de Pedro sobre os 
outros Apóstolos e da sede de Roma sobre as outras sedes tinha sido admitido sem 
contestação nos primeiros séculos da Igreja. 
13 
 
Os bispos e os doutores de toda a cristandade consultavam o papa sobre as 
questões que eles não podiam resolver, como se faz hoje pelas chamadas encíclicas. 
Diversas compilações foram feitas na tentativa de reunir os atos pontifícios e 
as decisões dos concílios. As mais importantes são as chamadas Quinque 
compilationes antiquae. 
De suma importância foi a obra do Papa Gregório IX, sucessor de Honório 
III.O Papa Gregório IX, um dos mais eminentes jurisconsultos in utroque iure, em 
1230, confiou ao dominicano espanhol Raymundo de Peñaforte, seu confessor, a 
incumbência de organizar uma compilação que Gregório IX desejava não fosse 
apenas uma coleção de decretais, porém um verdadeiro Código de Direito Canônico. 
Não obstante suas imperfeições, a obra é digna do canonista que a compôs e do 
Papa que a ordenou. (SURGIK, 1986, p. 57) 
As Decretais, constitui importantíssima fonte de conhecimento do período 
clássico do Direito Canônico (séculos XIII e XIV). Esta obra foi completada em 
seguida com Liber Sextus de Bonifácio VIII (1298), e com as Clementinae (1317) 
publicadas por João XXII. 
Reunindo outros grupos de documentos, constituí-se o Corpus Iuris Canonici 
que como tal, não teve a sanção oficial coletiva. Dos seus elementos, tiveram 
caráter de codificação oficial as Decretais, o Liber Sextus e as Clementinas. 
Tanto o Decreto como as Extravagantes, mantiveram tão somente o caráter 
de coleções particulares. A matéria com as deliberações dos diversos concílios, 
especialmente o Concílio de Trento, os atos pontifícios, as decisões do Tribunal da 
Rota Romana e das Congregações, emanados nos séculos posteriormente à 
formação do Corpus Iuris Canonici e recolhidos sem muita sistematização, passou a 
exigir, sob a influência do movimento codificador moderno, a codificação do Direito 
Canônico. (SURGIK, 1986, p. 58) 
As objeções contra a oportunidade e a possibilidade da codificação, foram 
superadas por Pio X que, com o motu proprio “Ardue sane munus”, de 1904, e uma 
comissão de cardeais conseguiu a elaboração do Código que ao final de 1916, 
estava completo. 
O Código foi promulgado com a Constituição de Benedito XV, Providentissima 
Mater Ecclesia, de 20/05/1917, e entrou em vigor no dia de Pentecostes, 19/05/1918. 
O Codex Iuris Canonici, se absteve de abordar matérias relativas à liturgia, 
14 
 
concordatas, privilégios e indultos, e aplicado à Igreja latina, sem interferir na 
disciplina da Igreja oriental. 
Apresenta uma sistematização sucinta e uniforme de material legislativo de 
seis séculos, renovando o tratamento do Direito Eclesiástico do ponto de vista da 
Igreja e de suas escolas, e do respeito ao Estado e efeitos do Direito Estatal, 
considerando a tendência que passou a se acentuar a partir da I Guerra Mundial,com a separação entre a Igreja e o Estado (SURGIK, 1986, p. 58). 
Aloísio Surgik (1986, p. 59) ressalta a importância que o Direito Canônico hoje 
revigorado com a reforma de 1983, representa em nosso atual ordenamento jurídico. 
O Direito Estatal contemporâneo e o Direito Eclesiástico formam dois domínios 
distintos, mas vinculados em razão da sua evolução histórica. 
As leis civis são colocadas sob a proteção divina, como mostram os 
preâmbulos das Instituições e do Digesto de Justiniano. O título primeiro do Código 
é uma exposição da fé católica acompanhada de anátemas contra as heresias. 
As leis imperiais relativas à organização eclesiástica figuram no Código, e nas 
compilações posteriores. A legislação eclesiástica de Justiniano em particular 
constitui uma das bases mais sólidas do Direito Canônico e em parte, nas igrejas 
ortodoxas. Entre a administração imperial e a Igreja, a colaboração era contínua. As 
constituições imperiais eram às vezes afixadas nas igrejas. (SURGIK, 1986, p. 59) 
Algumas das conclusões de José V. Salazar Arias apud SURGIK,1986, p.59: 
“A recepção, não tanto dos dogmas, porém dos cânones eclesiásticos na ordenação 
imperial romana, enriqueceu sobremaneira o direito romano, abrindo uma era de todo 
nova na história do direito e dando pé a fenômenos jurídicos que haveriam de se 
repetir sob as mais diversas formas através das legislações dos povos bárbaros, 
primeiro, e dos direitos modernos, depois”. 
Apesar das tendências cesaropapistas de alguns imperadores romanos, com 
grande frequência a legislação eclesiástica da maioria deles não teve o sentido de 
ingerência no governo da Igreja, mas, teve o significado de apoio do braço secular à 
atividade legislativa da Igreja. (SURGIK, 1986, p. 59) 
Os erros jurídicos que cometeram os imperadores romano-cristãos, ao 
quererem impor a seus súditos por leis do Império a nova religião cristã, não tiveram 
como origem nem o dogma, nem os cânones da Igreja, mas fizeram renascer aquele 
sistema pagão em que o chefe do Estado romano era ao mesmo tempo o pontifex 
maximus, com poder absoluto sobre os súditos. 
Ademais, as constituições imperiais que trataram dessas providências tinham 
fundamentalmente um aspecto político, já que os imperadores estavam convictos de 
15 
 
que a unidade religiosa era básica para conservar a unidade política do Império. 
(SURGIK, 1986, p. 59) 
Sendo nosso ordenamento jurídico de tradição indubitavelmente romano-
canônica, o Direito Canônico merece hoje toda a atenção por parte dos estudiosos. 
(SURGIK, 1986, p. 60) 
Instrui Abílio Soares de Vasconcelos (2007, p.4) que, para os romanos, 
casamento era um ato essencialmente privado e contratual, despido de qualquer 
formalismo, não sendo exigida sequer a coabitação. A mulher entregava-se à manus 
(mão, poder) do marido: era o casamento cum manu. Havia a parte religiosa do 
casamento, a confarreatio, em que os contraentes ofereciam suas ofertas aos 
deuses. 
O casamento entre os romanos obedecia a um ritual: a mulher era conduzida 
ao domicílio do marido e entregue, em meio a festejos típicos da época, que 
incluíam o cortejo dos esposos e suas famílias pelas ruas da cidade, o rito de 
entrega do anel, ofertas aos deuses e documento comprovativo do dote 
(instrumentum dotale). (VASCONCELOS, 2007, p. 4) 
Tal cerimonial tinha por finalidade provar publicamente a vontade recíproca 
dos nubentes de fundar um lar, procriar e educar conjuntamente os filhos. Mª Helena 
Diniz (2011, p. 64) aponta, que desde a era romana o matrimônio já interessava ao 
direito. Pela conventio in manum a mulher, que pertencia ao lar paterno, passava 
com seu patrimônio para a manus maritalis, mediante: 
 A confarreatio - casamento religioso, da classe patrícia que ofertava aos 
deuses um pão de trigo. Somente os filhos nascidos deste matrimônio 
poderiam ocupar cargos sacerdotais; 
 A coemptio, espécie de casamento civil da plebe, pela venda fictícia, do pai 
para o marido, do poder sobre a mulher; 
 O usus, espécie de usucapião. O marido adquiria sua mulher pela posse 
consistente na vida em comum durante um ano. 
Em Roma, surgiu a justae nuptiae (matrimônio livre) cujos requisitos eram: 
capacidade e consentimento dos cônjuges e ausência de impedimentos. (DINIZ, 
2011, p. 64) 
 
 
 
16 
 
2.1 O CASAMENTO COMO INSTITUIÇÃO DIVINA 
 
Em se tratando da criação da família, Eduardo de Oliveira Leite (1991, p. 132), 
nos diz que não foi à religião que criou a família, esta é fruto espontâneo da 
evolução humana, mas foi seguramente a Igreja que lhe impôs regras, os contornos 
legais, a forma jurídica, como hoje a entendemos. 
A moral religiosa consolidou uma ética jurídica, voltada ao domínio dos atos 
determinando o que é lícito ou proibido. (LEITE, 1991, p. 132) 
A ideia de casamento, rechaçada e combatida pela Igreja, passa a ser 
considerada como um estado pecaminoso, aceitável àqueles que não conseguem 
viver em continência. (LEITE, 1991, p. 132) 
O casamento é aceito, desde que monogâmico e indissolúvel. Mas os 
modelos são antagônicos. (LEITE, 1991, p. 132) 
A nova ética sexual condena o casamento, pois, por menor mal que ele 
represente, está marcado pelo pecado, pela concupiscência, que acompanha o ato 
sexual. (LEITE, 1991, p. 132) 
A frase de São Jerônimo “As núpcias povoam a terra, a virgindade, o paraíso”, 
determinará toda a filosofia da Idade Média. (LEITE, 1991, p. 132) 
A Igreja se afirma na Idade Média, conforme demonstra Eduardo de Oliveira 
Leite (1991, p. 149) quanto ao legado do Concílio de Niceia na intervenção do 
imperador Constantino, favorável à Igreja, transforma-a num poder espiritual tão 
forte quanto o Império. Criou-se uma Igreja do Estado. 
O casamento passa a ser encarado como uma concessão de Deus àqueles 
que não querem ou não podem guardar continência; logo, é próprio dos fracos, dos 
espíritos menores. (LEITE, 1991, p. 149) 
A moral sexual matrimonial impõe uma vinculação a Deus (continência) 
considerando as uniões matrimoniais, impuras, necessariamente realizadas em 
estado pecaminoso. (LEITE, 1991, p. 132) 
O poder da Igreja começa a se manifestar na ascensão da Idade Média à 
categoria de Estado, dentro do Estado, de poder espiritual ao lado do poder 
temporal cria, na Itália, um autêntico Estado Pontifício, ou no Estado da Igreja.? 
(LEITE, 1991, p. 257) 
O poder do papa se afirma e as consultas de “direito” de família passam a ser 
decididas pela Sé Romana. Questões como: casamentos de dois irmãos com duas 
17 
 
irmãs, limites do parentesco para fins de casamento, possibilidade de desposar uma 
madrasta ou cunhada, são resolvidos de acordo com a lei da Igreja. (LEITE, 1991, p. 
257) 
Afirma-se a legitimidade da Igreja em decidir questões que, até então, eram 
resolvidas pelo Estado. Além do casamento entre parentes próximos e a união da 
viúva com um cunhado, também foram proibidos o concubinato, a adoção, as 
segundas núpcias e o divórcio. (LEITE, 1991, p. 257) 
No limiar do século XI, a Igreja era um poder incontestado na Terra. Uma 
potência ao lado do Estado, que não só coroava e destronava imperadores, como se 
insinuava no tecido da vida doméstica, da herança e do casamento. (LEITE, 1991, p. 
257) 
Dentro deste contexto surge a estrutura jurídica, definindo seus poderes e 
atividades que será definitivamente consolidada através do Direito Canônico. (LEITE, 
1991, p. 257) 
Com o Decreto, de Graciano, a posição de legitimidade, de juridicidade e de 
supremacia da Igreja fica definitivamente assegurada. O papa podia emanar leis 
para toda a cristandade e para a Igreja Suas decisões eram irrefragáveis e 
definitivas: ele podia julgar todos e, por sua vez, não podia ser julgado por ninguém.(LEITE, 1991, p. 257) 
Assim, para consolidar as bases da sociedade secular, o clero moralizou o 
casamento: o que antes era considerado nefasto transforma-se numa instituição 
divina. (LEITE, 1991, p. 257) 
Seguindo essa evolução coube ao doutrinador Hughes de Saint Victor ser o 
primeiro a explicar o casamento que é formado pelo consentimento que se 
materializa no acordo passado com vistas à vida em comum, e que nada tem a ver 
com a união sexual. A consumação não é exigida para a validade do casamento. 
(LEITE, 1991, p. 258) 
Foram as Decretais de Gregório IX que reafirmaram a importância do 
consentimento na formalização do casamento, considerado um contrato consensual. 
(LEITE, 1991, p. 260) 
 
 
 
 
18 
 
3. O CASAMENTO NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO 
 
3.1 O SURGIMENTO DO CASAMENTO CIVIL 
 
Nos ensinamentos de Eduardo de Oliveira Leite (1991, p. 370) fica claro que a 
jurisdição do casamento até o século XVI era exclusiva da Igreja, e a Reforma a 
fonte para a regulamentação do casamento civil pelo Estado. 
O casamento, que era um sacramento, passa a ser um contrato, dependente 
do Estado, o qual é reconhecido para legislar sobre o casamento. (LEITE, 1991, p. 
370) 
As relações entre sacramento e contrato passam a ser encaradas pelos 
regalistas (franceses) como uma disjunção de onde são tiradas deduções práticas, 
estabelecedoras da teoria do casamento civil. (LEITE, 1991, p. 370) 
No final do século XVII a ideia dominante é a de que a Igreja fixa as 
condições necessárias para receber o sacramento, e o Estado regulamenta o 
contrato civil. (LEITE, 1991, p. 370) 
As características fundamentais do casamento na sociedade tradicional 
própria da monarquia absoluta eram a ausência de afeição nas relações 
matrimoniais, e sua coesão vinculada à propriedade e a estirpe. A mulher casada 
torna-se uma incapaz e os poderes do marido são absolutos. Mulher e filhos se 
submetiam ao marido e todo o sistema de princípios e valores é transmitido de pais 
para filhos. (LEITE, 1991, p. 370/371) 
Já no século XVIII a Revolução Francesa altera a estrutura tradicional da 
família, retirando-lhe todo caráter religioso e submetendo-a a um regime leigo, liberal 
e igualitário. (LEITE, 1991, p. 371) 
No século XIX, a Constituição francesa de 1791 separa a lei civil e a religiosa, 
considerando o casamento como contrato civil. (LEITE, 1991, p. 372) 
O código napoleônico reafirma a antiga noção da família hierárquica fundada 
sobre a autoridade do marido e do pai sobre a submissão da mulher e dos filhos. O 
Estado passou a vigiar de perto a família, substituindo o patriarcado familiar pelo do 
Estado. (LEITE, 1991, p. 372) 
Quando do século XX, o homem constata a impotência do Estado e a 
silenciosa omissão da Igreja, procurando em si próprio a soluções para seus 
19 
 
problemas, mas é neste século, nos anos 60 que à vida sexual atinge seu clímax 
marcando assim a nova família, a família nuclear. (LEITE, 1991, p. 373) 
O Direito, determinando os papeis ao marido e a mulher, não encontra 
legitimidade junto ao casal moderno que organiza sua vida como bem entende, 
divide tarefas, fixa o número de filhos e reparte os papeis na vida comum. (LEITE, 
1991, p. 374) 
Para a opinião pública e para o legislador o casamento continua sendo a 
única forma legítima de união entre um homem e uma mulher, mas não para a atual 
geração que não o reconhece como a única instituição legítima para organizar uma 
vida comum durável entre duas pessoas. (LEITE, 1991, p. 374/375) 
 
3.2 CONCEITO E FINS DO CASAMENTO CIVIL 
 
Mª Helena Diniz (2011, p.51), nos esclarece que é o casamento a mais 
importante e poderosa de todas as instituições de direito privado, por ser uma das 
bases da família, que é a pedra angular da sociedade e a peça-chave do sistema 
social, constituindo o pilar do esquema moral, social e cultural do país. 
O casamento é o vínculo jurídico entre o homem e a mulher que visa o auxílio 
mútuo material e espiritual, havendo uma integração fisiopsíquica e a constituição de 
uma família. (DINIZ, 2011, p. 51) 
O matrimônio é uma relação dinâmica e progressiva entre marido e mulher, 
onde cada cônjuge reconhece e pratica a necessidade de vida em comum, para, 
como diz Portalis, “ajudar-se, socorrer-se mutuamente, suportar o peso da vida, 
compartilha o mesmo destino e perpetuar sua espécie”. Reforça essas ideias a 
clássica definição de Clóvis Beviláqua: “o casamento é um contrato bilateral e solene, 
pelo qual um homem e uma mulher se unem indissoluvelmente, legitimando por ele 
suas relações sexuais; estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e de 
interesses e comprometendo-se a criar e educar a prole que de ambos nascer”. 
(DINIZ, 2011, p. 52) 
Assim dentre os fins do matrimônio: 
a) A instituição da família matrimonial, (CC/2002, art. 1.513). 
b) A procriação dos filhos, (CF/88, art. 226, § 7º; Lei nº 9.263/96). A lei permite 
uniões de pessoas que, pela idade avançada ou por questões de saúde, não têm 
condições de procriar. 
20 
 
c) A legalização das relações sexuais entre os cônjuges, dentro do casamento a 
satisfação do desejo sexual, é normal e apazigua a concupiscência. 
d) A prestação do auxílio mútuo. O matrimônio é uma união entre marido e 
mulher para enfrentar a realidade e as expectativas da vida em constante mutação. 
e) O estabelecimento de deveres patrimoniais ou não entre os cônjuges como 
consequência do auxílio mútuo e recíproco. O dever legal de caráter patrimonial que 
têm os cônjuges de prover pelos rendimentos do seu trabalho e de seus bens a 
manutenção da família (CC/2002, art. 1.568) e o não patrimonial, que eles têm de 
fidelidade recíproca, respeito e consideração mútuos (CC/2002, art. 1.566, I e V). 
f) A educação da prole, o dever de gerar, criar e educar os filhos para a vida, 
impondo aos pais a obrigação de lhes dar assistência CC/2002, art. 1.634, e Lei nº 
8.069/90, art. 22). 
g) A atribuição do nome ao cônjuge (CC/2002, art. 1.565, § 1º) e aos filhos; a 
reparação de erros do passado; a regularização de relações econômicas; a 
legalização de estados de fato. (DINIZ, 2011, p. 52/53/54). 
 
3.3 NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO 
 
A concepção contratualista originária do direito canônico prioriza o 
consentimento dos nubentes, a intervenção do sacerdote, na formação do vínculo, e 
aceita pelo racionalismo jusnaturalista do século XVIII, penetrou, com o advento da 
Revolução Francesa, no Código francês de 1804, influenciando a Escola Exegética 
do século XIX e até nossos dias na doutrina civilista. (DINIZ, 2011, p. 54) 
Para essa corrente, o matrimônio é um contrato civil, regido pelas normas 
comuns a todos os contratos, como o consentimento dos nubentes, recíproco e 
manifesto por sinais exteriores. (DINIZ, 2011, p. 54) 
Alguns civilistas veem no casamento um contrato especial ou sui generis, em 
razão de seus efeitos peculiares e das relações específicas que cria, não se lhe 
aplicam como pondera Degni, os dispositivos legais dos negócios de direito 
patrimonial, concernentes à capacidade dos contraentes, aos vícios de 
consentimento e aos efeitos, embora as normas de interpretação dos contratos 
privado possam ser aplicados à relação matrimonial. (DINIZ, 2011, p. 53). 
A concepção institucionalista vê o casamento como instituição social, 
refletindo uma situação jurídica pela vontade dos contraentes, cujas normas, efeitos 
21 
 
e forma encontram-se em lei. Acertada a realização do matrimônio, não lhes é 
permitido discutir o conteúdo de seus direitos e deveres, pelo qual se dará a 
resolubilidade do vínculo conjugal ou as condições de matrimonialidade da prole, 
não é possível modificar a disciplina legal desuas relações. 
Aderido ao estado matrimonial, a vontade dos nubentes é impotente, sendo 
automáticos os efeitos da instituição por serem de ordem pública ou cogentes às 
normas que a regem, portanto iniludíveis por simples acordo dos cônjuges (DINIZ, 
2011, p. 55). 
A doutrina eclética ou mista une o elemento volitivo ao institucional, tornando 
o casamento, como pontifica Rouast, um ato complexo, concomitantemente contrato 
(na formação) e instituição (no conteúdo), sendo mais que um contrato, embora não 
o deixe de ser (DINIZ, 2011, p. 56). 
 
3.4 CARACTERES DO CASAMENTO 
 
Mª Helena Diniz (2011, p.57) os relaciona: 
a) A liberdade na escolha do nubente, 
b) A solenidade do ato nupcial, a norma jurídica reveste-o de formalidades que 
garantem a manifestação do consentimento, a publicidade e validade. 
c) O fato de ser a legislação matrimonial de ordem pública, por estar acima das 
convenções dos nubentes. 
d) A união permanente, indispensável para a realização dos valores básicos da 
sociedade civilizada. 
e) A união exclusiva, até o advento da Lei nº 11.106, de 28 de março de 2005, 
tinha-se o crime de adultério, a violação dessa norma (CP, art. 240 ora revogado). 
 
3.5 CASAMENTO CIVIL E RELIGIOSO 
 
Mª Helena Diniz (2011, p. 65) destaca que no Brasil, por muito tempo, a Igreja 
Católica foi titular quase que absoluta dos direitos matrimoniais. Pelo Decreto de 3 
de novembro de 1827 os princípios do Direito Canônico regiam todo e qualquer ato 
nupcial, com base no Concílio Tridentino e da Constituição do Arcebispado da Bahia. 
Em 19 de julho de 1858, Diogo de Vasconcelos, Ministro da Justiça, 
apresentou um projeto de lei, para estabelecer que os casamentos entre pessoas 
22 
 
não católicas fossem realizados de conformidade com as prescrições de sua 
respectiva religião. Esse projeto, em 1861, transformou-se na Lei nº 1.144, 
regulamentada pelo Decreto de 17 de abril de 1863, impulsionando à instituição do 
casamento civil. Praticavam-se, três tipos de ato nupcial: 
 Católico, celebrado segundo normas do Concílio de Trento, de 1563, e das 
Constituições do Arcebispado baiano; 
 Misto, entre católico e acatólico, sob a égide do direito canônico; 
 Acatólico, que unia pessoas de seitas dissidentes, de conformidade com os 
preceitos das respectivas crenças. (DINIZ, 2011, p. 65) 
Com a República, o poder temporal foi separado do poder espiritual, e o 
casamento perdeu o caráter confessional; o Decreto nº 181, de 24 de janeiro de 
1890, que instituiu o casamento civil em nosso país, no seu art. 108, não era atribuía 
valor jurídico ao matrimônio religioso. Uma circular do Ministério da Justiça, de 11 de 
junho de 1890, determinou que “nenhuma solenidade religiosa (sacramento do 
matrimônio), celebrada nos Estados Unidos do Brasil, constituiria, perante a lei civil, 
vínculo conjugal ou impedimento para livremente casarem com outra pessoa os que 
houverem daquela data em diante recebido esse ou outro sacramento, enquanto 
não fosse celebrado o casamento civil”. Houve até um decreto que estatuiu a 
precedência do casamento civil, punindo com 6 meses de prisão e multa 
correspondente à metade do tempo o ministro de qualquer religião que celebrasse 
cerimônia religiosa antes do ato nupcial civil (Dec. Nº 521, de 26/06/1890, ora 
revogado pelo Decreto nº 11, de 01/01/1991). (DINIZ, 2011, p. 66) 
A Constituição de 24 de fevereiro de 1891, no seu art. 72, §4º, estatuía: “A 
República só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratuita”, 
constituindo o religioso apenas um interesse da consciência individual de cada um. 
Deu-se, a generalização do casamento civil, celebrado paralelamente ao religioso, 
hábito social que perdura até hoje. (DINIZ, 2011, p. 66) 
O Código Civil de 1916 consolidou e regulamentou o casamento civil, sem 
fazer menção ao religioso, que é inexistente juridicamente, sendo as relações desse 
vínculo concubinato. (DINIZ, 2011, p. 66) 
Desaconselháveis às duplas núpcias, a Constituição de 1934, art. 146, 
possibilitou ao casamento religioso efeitos civis, observadas as prescrições legais. A 
Lei nº 379/37, foi parcialmente modificada pelo Decreto-Lei nº 3.200/41, arts. 4º e 5º. 
(DINIZ, 2011, p. 66) 
23 
 
A Constituição de 1946, no art. 163, §1º, manteve a concessão anterior, 
observando os impedimentos e às prescrições da lei, se requeresse o celebrante ou 
qualquer interessado, com inscrição do ato no Registro Público. A Lei nº 1.110, de 23 
de maio de 1950, regulamentou o reconhecimento dos efeitos civis ao casamento 
religioso, quando os nubentes requeressem sua inscrição no Registro, revogando a 
Lei nº 379. (DINIZ, 2011, p. 66) 
A Constituição Federal de 24 de janeiro de 1967, com a redação da Emenda 
Constitucional nº 1/69, no art. 175, §§ 2º e 3º, manteve o casamento religioso com 
efeitos civis, e pela Emenda Constitucional nº 9/77 quebrou a indissolubilidade do 
matrimônio (art. 175, §1º), prevendo sua dissolução nos casos expressos em lei. 
(DINIZ, 2011, p. 66) 
A Constituição de 1988, no art. 226, §1º, estatui que o casamento é civil e 
gratuita a celebração, acrescentando, no §2º, que o religioso tem efeito civil, nos 
termos da lei. (DINIZ, 2011, p. 67) 
O casamento religioso para efeitos civis está disciplinado nos arts. 1.515 do 
Código Civil. (DINIZ, 2011, p. 67). 
 
3.6 DISSOLUÇÕES DA SOCIEDADE, DO VÍNCULO CONJUGAL E DO 
CASAMENTO CIVIL 
 
Nos ensinamentos de Mª Helena Diniz (2011, p. 262/263) a aprovação da 
Emenda Constitucional nº 9, de junho de 1977, instituiu o divórcio no Brasil. 
Regulamentou-o a Lei nº 6.515, de 26 de dezembro de 1977, para regular os casos 
de dissolução da sociedade conjugal e do casamento, revogando os arts. 315 a 328 
do Código Civil de 1916. O novo Código Civil dispôs no seu art. 1.571, que essa 
sociedade termina: 
a) pela morte de um dos cônjuges; 
b) pela anulação do casamento; 
c) pela separação judicial e extrajudicial (CPC, art. 1.124-A); 
d) pelo divórcio. 
Acrescenta, no §1º, que “o casamento válido somente se dissolve pela morte 
de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste 
Código quanto ao ausente”. (DINIZ, 2011, p. 264) 
 
24 
 
4 SISTEMA DE NULIDADES DO CASAMENTO CIVIL 
 
4.1 NORMAS PECULIARES AO REGIME DE NULIDADE OU ANULABILIDADE 
MATRIMONIAL 
 
Quanto ao assunto em análise, adotam-se os ensinamentos de Maria Helena 
Diniz (2011, p. 272), onde esclarece que o sistema de nulidades do casamento 
contém normas próprias que o tornam uma especialização da teoria geral das 
nulidades, logo, não seria prudente adotar no âmbito matrimonial, na íntegra, os 
princípios e critérios do regime das nulidades dos negócios jurídicos. 
Os atos nulos ou de nulidade absoluta (CC/2002, arts. 166 e 167) são os que, 
inquinados por algum vício essencial, não podem ter eficácia jurídica, ou seja, são 
aqueles em que falta elemento essencial (consentimento, objeto lícito, sujeito capaz, 
forma prescrita em lei) à sua formação ou aqueles que, apesar de possuírem os 
elementos essenciais, foram praticados com simulação, infração à lei, à ordem 
pública e aos bons costumes. Se o ato nulo não produz efeito algum, tal não ocorre 
com o matrimônio nulo, pois o art. 1.561, §§ 1º e 2º, do Código Civil de 2002não 
proclama a ausência de efeitos. O casamento nulo, mesmo sem ser putativo, 
acarreta efeitos (CC/2002, art. 1.561 e §2º) como: 
a) comprovação da filiação; 
b) matrimonialidade dos filhos com o reconhecimento da maternidade e da 
paternidade; 
c) manutenção do impedimento de afinidade; 
d) dissuasão de casamento da mulher nos 300 dias subsequentes à 
dissolução da sociedade e do vínculo conjugal pela sentença que decretaa nulidade; 
e 
e) atribuição de alimentos provisionais ao cônjuge que deles precisar 
enquanto aguarda a decisão judicial. (DINIZ, 2011, p. 273) 
Os atos anuláveis ou de nulidade relativa (CC/2002, art. 171) são os que se 
acham inquinados de vício capaz de lhes determinar a ineficácia, mas que poderá 
ser eliminado, restabelecendo-se a normalidade do ato. Ou melhor, quando o defeito 
advém da imperfeição da vontade ou porque emanada de relativamente incapaz ou 
porque sua manifestação se encontra eivada de algum vício que a oblitere, como, 
por exemplo, o erro, ou a coação, temos atos anuláveis. O casamento é também 
25 
 
passível de anulação pelos motivos que invalidam os negócios jurídicos, mas sua 
anulabilidade, não se rege inteiramente pelas normas atinentes às relações 
negociais, podendo gerar vários efeitos civis, principalmente para os filhos havidos 
durante o casamento (CC 2002, art. 1.561, §§1º e 2º). (DINIZ, 2011, p. 273) 
Com base nestas ideias, poder-se-ão fazer as seguintes distinções entre 
nulidade absoluta e relativa, ressaltando as peculiaridades do casamento nulo e 
anulável: 
1) A nulidade relativa é decretada no interesse privado da vítima ou de um 
grupo de pessoas e a absoluta, no interesse de toda a coletividade. 
2) A nulidade relativa pode ser suprida pelo magistrado a requerimento 
das partes, podendo ser, portanto, confirmada (CC/2002, arts. 172 a 175), ao passo 
que a absoluta é insuprível, insuscetível de confirmação (CC/2002, arts. 168 e 169 
parágrafo único). 
 No ato matrimonial há nulidades relativas que podem ser convalidadas, como 
a que resulta de infração do art. 1.550, VI. P. ex.: o casamento perante autoridade 
incompetente ratione loci pode subsistir se celebrado por pessoa que, sem possuir a 
competência legal para exercer publicamente as funções de juiz de casamento, e 
nessa qualidade, tiver levado o ato a assento no Registro Civil, ou se decorridos dois 
anos de sua celebração por autoridade incompetente ratione loci e ratione personae 
sem que tenha sido intentada a ação de anulação (CC/2002, arts. 1.550, VI, 1.554 e 
1.560, II), o casamento nulo produz todos os efeitos como se fosse válido, se houver 
boa-fé de ambos ou de um dos cônjuges (CC/2002, art. 1.561, §1º), e se ambos 
estavam de má-fé os efeitos civis só aos filhos aproveitarão (CC/2002, art. 1.561, § 
2º). 
 Assim, o matrimônio anulável pode confirmar-se pelo decurso de tempo 
(CC/2002, art. 1.560), por fatos supervenientes (CC/2002, arts. 1.550, V, 2ª parte, 
1.551 e 1.559) ou pela vontade dos consortes (CC/2002, art. 1.553). Há, no direito 
matrimonial, nulidade relativa sanável. Se se tratar de casamento anulável pode ser 
confirmado, tacitamente, pelo decurso do tempo, se não for requerido por pessoas 
interessadas em sua anulação no prazo previsto em lei, passando a ser válido; 
desaparece, consequentemente, o vício originário, portanto, jamais poderá ser 
dissolvido, exceto pela morte real ou presumida de um dos esposos ou pelo divórcio. 
(DINIZ, 2011, p. 273/274). 
26 
 
A nulidade relativa não pode ser decretada de ofício pelo órgão judicante; 
pressupões provocação da parte (CC/2002, art. 177). A absoluta é decretada de 
ofício se o juiz tiver em mãos qualquer documento que evidencie falta de elementos 
essenciais (CC/2002, art. 168, parágrafo único), porém a nulidade absoluta do 
casamento, em hipótese alguma, será decidida de ofício pelo magistrado (CC/2002, 
art. 1.549). 
 Tanto o matrimônio nulo como o anulável requer, para sua invalidação, 
pronunciamento judicial em ação ordinária (CC/2002, art. 1.549 e 1.559, 1ª parte), 
pois não opera de pleno direito a nulidade absoluta ou relativa. O juiz não pode de 
ex officio declarar nulidade matrimonial, pois o casamento nulo ou anulável depende, 
para o reconhecimento de sua invalidade, de decisão judicial proferida em ação 
especialmente ajuizada para esse fim, o que não se exige dos negócios nulos em 
geral. Pelo Código de Processo Civil, art. 100, I, a mulher tem foro privilegiado para 
a propositura dessa ação, podendo movê-la no foro de sua residência. 
 Tal ocorre por se tratar de norma especial. Dispõe o art. 155, II, do Código de 
Processo Civil, que tal processo correrá em segredo de justiça. Admite-se nessas 
causas todas as provas reconhecidas em Direito, excluindo-se a confissão, que 
possibilitaria combinações entre os consortes para dissolverem o casamento; a 
revelia, sempre suspeita nessas ações, ante o perigo do art. 129 do Código de 
Processo Civil) CPC, arts. 319 e 320, II); a testemunhal (RT, 130:123). (DINIZ, 2011, 
p. 274). 
É preciso esclarecer que a ação de nulidade ou de anulação é ação de estado, 
sendo processada e julgada por juiz de direito (CPC, art. 92, II); exige, ainda, a 
intervenção necessária do representante do Ministério Público, dispensando a do 
defensor ou curador do vínculo, que devia assistir os atos, argumentando a favor da 
validade do matrimônio, devendo interpor recursos em determinados casos. 
O Ministério Público tem autorização legal de opinar pela nulidade ou 
anulabilidade do casamento, ao passo que o curador do vínculo tinha, 
obrigatoriamente, de defender o matrimônio, mas já se decidiu que sua posição não 
era intransigente, podendo acatar posicionamento adequado à sua convicção. 
Anulado era o processo que preterisse a formalidade substancial da nomeação do 
defensor do vínculo ou da audiência do Ministério Público. O Código Civil não faz 
menção ao curador do vínculo, por não se compadecer com o princípio da 
razoabilidade a proteção absoluta dada ao vínculo do casamento eivado de nulidade 
27 
 
absoluta ou relativa. A lei exigia a sua participação para reprimir ações fundadas no 
interesse comum dos cônjuges de obter a dissolução do vínculo, para convolar 
novas núpcias, quando inexistente o divórcio. Com o novo Código Civil não há mais 
a atuação do curador do vínculo matrimonial para as hipóteses de invalidação do 
casamento; com isso mais tênue fica a sua indissolubilidade. (DINIZ, 2011, p. 
274/275) 
O processo pode iniciar-se pelo pedido de separação de corpos ajuizado pelo 
autor (CC/2002, art. 1.562; CPC, art. 888, VI, RT, 788:247), embora alguns juristas 
como Washington de Barros Monteiro, afirmem, com razão, a desnecessidade da 
prévia obtenção do alvará de separação de corpos se os consortes se encontram 
separados de fato, morando em residências diversas, o que é evidente, uma vez que 
o pedido de separação de corpos é uma faculdade concedida ao consorte e não 
uma obrigação a ele imposta. Realmente, vários julgados, mesmo de superior 
instância, têm indeferido o pedido de separação de corpos formulado por um dos 
cônjuges, alegando sua inutilidade diante da separação já existente. Mas já se 
decidiu que a separação de fato não obsta o pedido de separação de corpos. Apesar 
da medida preparatória não ser obrigatória, ela não é supérflua, uma vez que, com a 
expedição do alvará, a separação, que era meramente de fato, reveste-se de 
juridicidade. Por exemplo, sem ele o marido não pode contestar a paternidade do 
filho havido por sua mulher após a separação de fato (CC/2002, 1.597, II, 1.600, 
1.601 e 1.602); sem ele, ainda, poderá a mulher ingressar, livremente, no domicílio 
do marido e até mesmo em seu leito e vice-versa. Indubitavelmente, não se pode 
negar o direito do consorte de obter decisão que proclame separação de corpos, 
mesmo que esta já exista há longo tempo. 
Não há, portanto, obrigatoriedade do pedido de separação de corpos. O 
cônjuge que a quiser poderá requerê-la, por ser uma medida cautelar colocada à 
sua disposição para proteger sua integridade física e psíquica quando estiver num 
“estado de semidissolução dasociedade conjugal com acirramento de ânimos”, 
como observa Alexandre G. Alcoforado Assunção apud Diniz, 2011, p. 275-276. 
Concedida tal separação, o cônjuge poderá pedir alimentos provisionais para 
assegurar não só a sua sobrevivência e manutenção, mas também a dos filhos do 
casal, na pendência da lide (CPC, art. 852, I; Lei nº 5.478/68 art. 13). Os alimentos 
provisionais serão arbitrados (CC/2002, art. 1.706) pelo juiz nos termos da lei 
processual (CC/2002, art. 2.043), de acordo com as necessidades do alimentando e 
28 
 
com as possibilidades do alimentante e deverão se pagos até o momento em que 
passar em julgado a sentença final de nulidade absoluta ou relativa. O cônjuge tem 
direito aos alimentos provisionais, qualquer que seja o regime de bens, bastando 
que não tenha recursos próprios, seja ele autor ou réu, reconvinte ou reconvindo. 
Pode ele pedir esses alimentos em qualquer fase processual: como preliminar da 
ação, sem necessidade de alvará judicial de separação de corpos ou no curso do 
processo ou, ainda, na pendência de recurso na ação principal, sendo que tais 
alimentos deverão ser processados na instância primária (CPC, art. 853). E se, por 
exemplo, a mulher se julgar lesada considerando pequena tal pensão alimentícia, 
em relação aos rendimentos do marido, poderá agravar a sentença para o Tribunal 
de Justiça. (DINIZ, 2011, p. 276) 
Tanto o pedido de separação de corpos como o de alimentos provisionais são 
medidas cautelares preparatórias do processo principal, de modo que se a ação 
principal não for ajuizada em 30 dias, aquelas medidas perdem sua eficácia (CPC, 
arts. 796, 806, 807, 808 e 852). (DINIZ, 2011, p. 276) 
Da sentença que declarar a nulidade ou anulação do matrimônio não mais 
deve o magistrado, de ofício (CPC, art. 475, I e parágrafo único, com redação da Lei 
nº 10.352/2001), apelar ao Tribunal Superior, haja ou não recurso voluntário da parte 
vencida. Não mais cabe recurso ex officio contra decisão que invalide casamento. 
(DINIZ, 2011, p. 276) 
Uma vez transitadas em julgado, as sentenças de nulidade ou anulação do 
casamento devem ser averbadas no livro de casamento do Registro Civil e no 
Registro de Imóveis (Lei nº 6.015/73, arts. 100 e 167, II, nº 14). Passa, então, a 
sentença de nulidade a produzir efeitos ex tunc, pois embora torne nulo o casamento 
desde a celebração, não é, como vimos alhures, totalmente ineficaz, preservando 
direitos adquiridos onerosamente por terceiros de boa-fé ou por eles obtidos em 
razão de decisão judicial transitada em julgado (CC, art. 1.563), e a de anulabilidade, 
efeitos ex nunc (CC/2002, arts. 1.561 e 1.562). (DINIZ, 2011, p. 276) 
4) A nulidade relativa é alegada pelos prejudicados com o ato ou seus 
representantes (CC/2002, art. 177), e a absoluta, pelos prejudicados com o ato e 
pelo Ministério Público quando lhe caiba intervir (CC/2002, art. 168). Quanto aos 
casamentos anuláveis excepcionalmente, se foram convolados por menores de 16 
anos, admite-se que terceiros (CC/2002, art. 1.552, II e III) promovam a ação. Tem 
legitimação ativa para propor ação de nulidade do casamento qualquer pessoa: 
29 
 
 Que tenha interesse moral (cônjuge, ascendente, descendente, irmão, 
cunhado e o primeiro consorte do bígamo); 
 Econômico (filhos do casamento anterior, colaterais sucessíveis, credores 
dos cônjuges, adquirentes de seus bens); 
 Ou social, como o representante do Ministério Público (CC/2002, art. 
1.549), que tem o dever de pleitear a declaração de nulidade de 
casamento contraído com infração de impedimento ou de casamento 
contraído pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os 
atos da vida civil (art. 1.548, I e II, do Código Civil) (DINIZ, 2011, p. 
276/277). 
5) A nulidade relativa submete-se a prazos decadenciais exíguos e a 
absoluta não prescreve, em regra. Logo, as ações de anulação do casamento estão 
sujeitas a um prazo decadencial que varia de 180 dias a 4 anos e as de nulidade 
poderão ser propostas a qualquer tempo (CC/2002, art. 1.560, I a IV E §§ 1º E 2º) 
(DINIZ, 2011, p. 277). 
Além disso, o regime das nulidades absolutas do casamento está intimamente 
ligado ao sistema dos impedimentos matrimoniais; a ausência de certos requisitos 
para capacidade matrimonial e para a validade do casamento pode levar à nulidade 
relativa do matrimônio e, ainda, a violação das causas suspensivas implica 
irregularidade do casamento, sem acarretar sua nulidade ou anulabilidade, impondo 
tão somente sanções econômicas. (DINIZ, 2011, p. 277). 
 
4.2 NULIDADE MATRIMONIAL 
 
Maria Helena Diniz (2011, p. 278) diz que de acordo com o art. 1.548 do 
Código Civil de 2002, nulo será o matrimônio contraído: 
1 – Pelo enfermo mental, que não tem o necessário discernimento para os 
atos da vida civil, por não estar em seu juízo perfeito. Os loucos e débeis ou 
deficientes mentais não podem convolar núpcias, ante a falta de seu consentimento 
– embora não se firme a herança das enfermidades mentais como nos casos graves 
de oligofrenia e epilepsia -, ainda que não tenham sofrido processo de interdição, 
porque a incapacidade de consentir livre e espontaneamente decorre de suas 
condições pessoais e não do decreto judicial. Nem mesmo se pode afirmar que 
podem casar nos intervalos de lucidez porque quem é louco ou enfermo mental, é 
30 
 
incapaz a qualquer tempo e para todos os efeitos (CC/2002, art. 3º, II.) (DINIZ, 2011, 
p. 278). 
2 – Com infração de qualquer impedimento matrimonial previsto no Código 
Civil, art. 1.521, I a VII. Assim eivado de nulidade estará o casamento entre parentes 
consanguíneos (descendentes, ascendentes e irmãos) ou afins em linha reta ou 
entre pessoas que no seio da família assumem pela adoção posição idênticas aos 
parentes (CC/2002, art. 1.521, I a V), entre pessoas casadas (CC/2002, art. 1.521, 
VI), entre o cônjuge sobrevivente com o autor do homicídio ou tentativa de homicídio 
contra seu consorte (CC/2002, art. 1.21, VII). 
Plenamente justificados estão os impedimentos dos alusivos ao casamento 
entre ascendentes e descendentes e entre irmãos e entre colaterais de terceiro grau, 
em razão de moralidade familiar e para evitar degeneração da raça. Mas não haverá 
impedimento na linha colateral de terceiro grau, ou seja, entre tio e sobrinha, p. ex., 
desde que o ato nupcial seja precedido de exame pré- nupcial (Decreto-Lei nº. 
3.200/41) (DINIZ, 2011, p. 278). 
Os impedimentos resultantes da adoção (CC/2002, art. 1.521, I, III e V) 
decorrem naturalmente, da confiança e do respeito que devem existir numa família. 
(DINIZ, 2011, p. 279) 
Se a organização da família tem base monogâmica, o casamento anterior 
torna nulo o posterior, mesmo que o óbito do consorte das primeiras núpcias já 
tenha ocorrido por ocasião da propositura da ação de nulidade, sendo esta 
procedente se provar que o bígamo foi processado e condenado na justiça criminal 
por sentença transitada em julgado. Se o primeiro matrimônio foi anulado, 
prevalecerá o segundo, não havendo, é claro, bigamia. Igualmente não é bígamo 
quem contrai matrimônio após a dissolução de casamento anterior por sentença de 
divórcio ou por morte real ou presumida do consorte (CC/2002, art. 1.571, I, II, IV e 
§1º). 
Do exposto percebe-se que a nulidade do casamento deriva de enfermidade 
mental grave, que impossibilite o discernimento para os atos da vida civil, incesto, 
bigamia e crime de homicídio ou tentativa de homicídio (CC/2002, art. 1.548, I e II) 
(DINIZ, 2011, p. 279). 
Têm legitimidade processual para propor ação de nulidade do casamento 
(CPC, art. 3º), as pessoas que tiverem legítimo interesse moral, como os cônjuges, 
ascendentes, descendentes, irmãos, cunhados e o primeiroconsorte do bígamo; 
31 
 
interesse econômico, como o filhos do leito anterior, os colaterais sucessíveis, os 
credores dos cônjuges e o adquirentes de seus bens e interesse social, como o 
representante do Ministério Público (CC/2002, art. 1.549) (DINIZ, 2011, p. 280). 
A sentença de nulidade do casamento tem caráter declaratório, pois 
reconhece apenas o fato que o invalida, produzindo efeitos ex tunc (CC/2002, art. 
1.563), sem, contudo, torná-lo inteiramente ineficaz; pelo Código Civil, art. 1.561, §§ 
1º e 2º, admitem-se a paternidade e maternidade dos filhos havidos na constância 
de matrimônio nulo, independentemente da boa ou má-fé dos consortes; protege-se 
o cônjuge de boa-fé; proíbe-se, ainda, para evitar confusão de sangue, que a mulher 
contraia novas núpcias, até 10 meses após a sentença, salvo se antes disso tiver 
dado à luz ou provar inexistência do estado de gravidez (DINIZ, 2011, p. 280). 
 
4.3 ANULABILIDADE DO CASAMENTO 
 
O Código Civil de 2002, no seu art. 1.550, trata dos casos de matrimônio 
anulável ao dispor que há nulidade relativa de casamento contraído por quem não 
completou a idade mínima para casar; pelo menor em idade núbil, não autorizado 
pelo seu representante legal, por vício de vontade (erro essencial sobre a pessoa do 
outro cônjuge e coação); pelo incapaz de consentir ou manifestar, de modo 
inequívoco, o consentimento; pelo mandatário, sem que ele ou outro contraente 
soubesse da revogação do mandato, não sobrevindo coabitação entre os cônjuges, 
pois esta ratificaria o casamento; e por incompetência da autoridade celebrante. 
(DINIZ, 2011, p. 280) 
Pelo art. 1.523, I, do Código Civil, não podem casar, sob pena de nulidade 
relativa (CC/2002, art. 1.550, I), as mulheres e os homens menores de 16 anos, pois 
a puberdade, como observa Planiol, sempre foi exigida em todos os tempos como 
condição do casamento, bem como um certo grau de desenvolvimento intelectual. 
(DINIZ, 2011, p. 280/281) 
Entretanto o legislador, no art. 1.520 do Código Civil de 2002, apresenta uma 
exceção a esse limite mínimo, ao estabelecer que podem casar as mulheres e os 
homens com menos de 16 anos em caso de gravidez ou para evitar imposição de 
medidas previstas no ECA ou cumprimento de pena criminal, antes do advento da 
Lei nº 12.015/2009, no caso, p. ex., de crime contra costumes de ação penal privada 
(CP, art. 107, V), como posse sexual mediante fraude (CP, art. 215), assédio sexual 
32 
 
(CP, art. 216-A). Isso ocorria devido à possibilidade de extinção da punibilidade pela 
renúncia do direito de queixa ou pelo perdão do ofendido (CP, art. 107, I). Nesta 
última hipótese, o magistrado, para coibir a desonra, ou pôr termo ao processo 
criminal, supria a idade da menor, ordenando a separação de bens, que é, nesse 
caso, o regime obrigatório (CC/2002, art. 1.641, III). “O casamento da ofendida com 
quem não fosse o ofensor fazia cessar a qualidade do seu representante legal, e a 
ação penal só podia prosseguir por iniciativa da própria ofendida, observados os 
prazos legais de decadência e perempção” (STF, Súmula 388). 
Atualmente, com a Lei nº 12.015/2009, os crimes contra a dignidade sexual 
procedem por meio de ação pública condicionada à representação (CP, art. 225), 
consequentemente não mais se poderá aplicar o art. 107, V, do Código Penal e, com 
isso, o casamento não é mais causa de extinção de punibilidade criminal. 
Logo, nos casos acima arrolados e nas demais hipóteses criminais contra a 
dignidade sexual elencados no Código Penal, se a vítima for menor de 18 anos, em 
que a ação penal é pública e incondicionada (CP, art. 225, parágrafo único; Súmula 
608 do STF), a parte final do art. 1.520 do Código Civil perdeu sentido, pois o 
casamento não evitará imposição ou cumprimento da pena criminal, visto que a Lei 
nº 11.1106/2005 revogou também o art. 107, VII e VIII, do Código Penal (DINIZ, 2011, 
p. 281/282). 
Outra exceção é a estabelecida no art. 1.551 do Código Civil de 2002, ao 
dispor que “não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que resultou 
gravidez”, pois o impedimento baseia-se na aptidão física, que não pode ser negada 
se houve gravidez. Apesar da irregularidade havida, a família, efetivamente, 
constitui-se com a superveniência do filho, por haver aptidão procriadora. Não há 
interesse social em se anular tal matrimônio por ser preferível que o filho do menor 
encontre ao nascer um lar constituído. (DINIZ, 2011, p. 282) 
Pelo art. 1.553 do Código Civil de 2002 o menor que não atingiu a idade núbil, 
após completá-la, poderá confirmar seu casamento, com a autorização de seus 
representantes legais, se necessária, ou com o suprimento judicial daquela se, 
injustamente, for negada. (DINIZ, 2011, p. 282) 
A anulabilidade por defeito de idade é imposta pela própria natureza. A 
anulação de núpcias convoladas antes da idade legal ou núbil pode ser requerida 
pelo próprio cônjuge menor, dentro do prazo de 180 dias contado da data em que 
perfez essa idade, ou pelos representantes legais (tutores) ou ascendentes (pais, ou, 
33 
 
na falta destes, os avós), dentro de 180 dias contados da data do casamento 
(CC/2002, art. 1.560, §1º) (DINIZ, 2011, p. 283). 
Será anulável o casamento de menor em idade núbil, quando não autorizado 
por seu representante legal (CC/2002, art. 1.550, II). Homem e mulher com 16 anos 
de idade podem casar, desde que haja autorização dos pais, ou de seus 
representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil (CC/2002, art. 1.517). 
O instrumento da autorização para casar deverá ser transcrito, integralmente, na 
escritura antenupcial (CC/2002, art. 1.537). (DINIZ, 2011, p. 283). 
A anulação do matrimônio por falta de autorização dos pais ou dos 
representantes legais ou por inexistência de suprimento judicial do consentimento só 
pode ser promovida: (DINIZ, 2011, p. 284) 
a) Pelas pessoas que tinham o direito de consentir e não assistiram ao ato (pais ou 
tutor) dentro de 180 dias contados da data do casamento. Portanto, se assistiram à 
cerimônia nupcial sem se oporem, se, por qualquer modo (gesticulação, ato etc.), 
manifestaram sua aprovação, não terão legitimidade para pleitear tal anulação, por ficar 
subentendido, então, que, tacitamente, anuíram à realização das núpcias; 
b) Pelo próprio cônjuge menor (CC/2002, art. 1.552, I) dentro do prazo decadencial de 
180 dias, contados da data em que atingir 18 anos (CC/2002, art. 1.555, §§ 1º e 2º) e; 
c) Pelo herdeiro necessário dentro de 180 dias da morte do incapaz (CC/2002, art. 
1.555, §1º, in fine). (DINIZ, 2011, p. 284) 
É ainda, anulável o casamento (CC/2002, art. 1.550, III) se houver por parte 
de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial (CC/2002, art. 1.556) quanto à 
pessoa do outro. Acrescenta o art. 1.557 do Código Civil que se considera erro 
essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: 
 O que diz respeito à sua identidade, honra e boa fama, sendo esse erro tal, 
que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao 
consorte enganado; 
 A ignorância de crime anterior ao casamento que, por sua natureza, torne 
insuportável a vida conjugal; 
 A ignorância, anterior ao matrimônio, de defeito físico irremediável ou de 
moléstia grave e transmissível, por contágio ou herança, capaz de pôr em 
risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; 
34 
 
 O desconhecimento anterior às núpcias de doença mental grave que, por 
sua natureza, acarrete a insuportabilidade ao cônjuge enganado de viver 
com o outro. (DINIZ, 2011, p. 284). 
Para que o erro essencial quanto à pessoa do outro consorte seja causa de 
anulabilidade do casamento é preciso que ele tenha sido o motivo determinante do 
ato nupcial, poisse fosse conhecido não teria havido matrimônio. (DINIZ, 2011, p. 
284). 
No direito anterior, só se anulava casamento por ignorância de crimes 
inafiançáveis e definitivamente julgados por sentença condenatória, como: 
1) Crimes punidos com reclusão em que a pena mínima cominada fosse superior a dois 
anos (CPP, art. 323, I); 
2) Contravenções tipificadas nos arts. 59 e 60 da Lei das Contravenções Penais (CPP, 
art. 323, II); 
3) Crimes dolosos punidos com pena privativa da liberdade, se o réu já tivesse sido 
condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado (CPP, art. 323, III); 
4) Vadiagem (CPP, art. 323, IV); 
5) Crimes punidos com reclusão, que provocassem clamor público ou cometidos com 
violência contra as pessoas ou grave ameaça (CPP, art. 323, V); 
6) Delitos eleitorais previstos nos arts. 289, 290, 291 e s. da Lei nº 4.737/65; 
7) Crimes de preconceito (Lei nº 7.716/89, com alteração da Lei nº 9.459/97), de porte 
ilegal de arma, terrorismo, tortura e crime hediondo (sequestro, estupro (art. 213, §§ 1º e 2º, 
do CP, com redação da Lei nº 12.015/2009), tráfico de entorpecente); 
8) Crime contra a fauna. (DINIZ, 2011, p. 288) 
Para a propositura da ação anulatória bastava que o autor provasse que seu 
consorte praticara um desses crimes anteriormente ao casamento. 
Atualmente, poder-se-á anular o casamento sem condenação criminal do 
cônjuge; mas há quem ache que, como só existe crime depois do trânsito em 
julgado da decisão condenatória, será preciso tal condenação, pois na pendência da 
decisão há presunção constitucional de inocência em favor do acusado. Caberá, ao 
órgão judicante, a tarefa de analisar o pedido, averiguando se a notitia criminis, ou a 
acusação feita contra o cônjuge, tornou insuportável a vida em comum, apesar de o 
fato ter ocorrido antes do casamento. (DINIZ, 2011, p. 288/289). 
A ignorância, anterior ao enlace matrimonial, de defeito físico irremediável, 
capaz de tornar inatingível um dos fins do casamento, que é a satisfação sexual, é 
35 
 
erro essencial que justifica o pedido de anulação de casamento devido à presunção 
juris et de jure da intolerabilidade da vida em comum. 
Defeitos dessa natureza são: hermafroditismo, ou sexo dúbio, deformações 
genitais, ulcerações penianas, hérnias inguinais volumosas, infantilismo, vaginismo 
ou atresia dos órgãos genitais femininos, ausência vaginal congênita; impotência 
coeundi, física ou psíquica, ou mesmo relativa, isto é, se ocorrer apenas com 
relação à consorte e não com outras mulheres; coitofobia (DINIZ, 2011, p. 289) 
A ignorância de moléstia grave e transmissível por contágio ou 
hereditariedade, preexistente ao matrimônio, capaz de pôr em risco a saúde do outro 
consorte ou de sua descendência e de doença mental grave, anterior às núpcias, 
constitui erro essencial, mesmo se curável, dando margem a decretação da 
anulação do casamento, dada a repulsa que o cônjuge enganado teria pelo outro. É 
o que se dá com a esquizofrenia; o sadismo; a oligofrenia; a psicopatia; a epilepsia; 
a lepra;a sífilis;a tuberculose; a blenorragia; a AIDS; a hemofilia; a paranoia; a 
psicose maníaco-depressiva; a hepatite C e outras aqui não nominadas (DINIZ, 2011, 
p. 290). 
Em todos esses casos de anulação do casamento, arrolados no art. 1.557 do 
Código Civil de 2002, só o cônjuge enganado poderá propor a ação anulatória, 
dentro do prazo decadencial de três anos, contado da data da celebração do 
casamento (CC/2002, art. 1.560, III). 
A lei reputa suficiente esse prazo para que, com a convivência conjugal, o 
cônjuge enganado possa perceber a existência de alguma causa de erro essencial 
que justifique a anulação matrimonial (DINIZ, 2011, p. 291). 
A norma jurídica autoriza ao que se casar coagido intentar ação para anular 
seu matrimônio, por ser a coação um vício de consentimento (CC/2002, arts. 1.550, 
III, e 1.558) que atinge a vontade livre quando for causa do ato, decorrendo de 
ameaça grave, injusta e iminente (CC/2002, arts. 151 e 152). 
A coação grave e atual deve ser apreciada atendendo-se às condições 
pessoais da vítima, excluindo-se do seu conceito a ameaça do exercício norma de 
um direito (CC/2002, art. 153). (DINIZ, 2011, p. 292) 
Se o casamento for realizado com pessoa por qualquer motivo coacta será 
anulável (CC/2002, art. 1.558), não podendo, obviamente, constituir a coação 
simples temor reverencial, ou seja, receio de causar desgosto aos pais ou à pessoa 
a quem se deva respeito e obediência. Deveras, pelo Código Civil de 2002, art. 
36 
 
1.558, só é anulável o casamento em virtude de coação moral (vis compulsiva) 
quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado 
mediante temor de mal considerável e iminente para a vida, saúde ou honra, sua ou 
de seus familiares (DINIZ, 2011, p. 292). 
Apesar de o Código Civil e de o Código Penal não mais fazerem menção ao 
rapto, entende-se que não podem contrair matrimônio o raptor ou sequestrador com 
a raptada ou sequestrada, enquanto esta não se achar fora do seu poder e em lugar 
seguro, sob pena de anulabilidade do casamento, pois não estará ela em condições 
de manifestar livremente seu consentimento, uma vez que há presunção juris et de 
jure de coação, que não admite prova em contrário, mesmo na hipótese de rapto 
consensual (CP, art. 221 – ora revogado pela Lei nº 11.106/2005; CC/2002, arts. 
1.550, III, e 1.558), isto é, aquele em que a raptada anui em acompanhar o raptor 
(DINIZ, 2011, p. 293). 
É anulável casamento que se realizar por meio de mandatário, sem que ele 
ou o outro contraente soubesse da revogação ou da invalidade do mandato 
judicialmente decretada, desde que não tenha sobrevindo coabitação entre os 
cônjuges (CC/2002, art. 1.550, V e parágrafo único). 
É anulável casamento realizado perante autoridade incompetente (CC/2002, 
art. 1.550, VI). Trata-se de incompetência ratione loci, logo, só será válido o ato 
nupcial que for celebrado por juiz do distrito em que se processou a habilitação 
matrimonial. 
Anulável será o casamento realizado por juiz que não está em exercício ou 
que celebra o ato fora dos limites de seu distrito, sendo incompetente ratione loci ou 
por substituto legal de juiz de casamento que seja incompetente ratione loci e ratione 
personae. 
A incompetência relativa da autoridade é conducente à anulabilidade do 
casamento. Todavia, se aquela nulidade relativa não for alegada ou provada, dentro 
do prazo decadencial de dois anos, o casamento convalesce do vício e não pode 
mais ser infirmado (CC/2002, art. 1.560, II). 
Pelo novo Codex poderá ser anulado o ato nupcial se se provar, dentro de 
dois anos, sua celebração por autoridade incompetente ratione loci e ratione 
personae (por exemplo, a do substituto do juiz de casamento). 
Uma vez lavrado no Registro Civil, o casamento existe juridicamente, ante a 
fé pública cartorária, não devendo ser declarado anulável se seu celebrante for juiz 
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de casamento (e não seu substituto legal), incompetente ratione loci, em atenção à 
boa-fé dos consortes, protegendo-se o estado de aparência (CC/2002, art. 1.554). 
O Código Civil de 2002 apresenta, portanto, uma solução para amparar a 
boa-fé dos consortes, ao dispor no art. 1.554: “subsiste o casamento celebrado por 
aquele que, sem possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as 
funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro 
Civil”. Para tanto será preciso: boa-fé dos nubentes devidamente habilitados; erro 
escusável e registro, pelo juiz de casamento, das núpcias no livro competente 
(DINIZ, 2011, p. 296). 
O art. 1.554 encerra a controvérsia alusiva à incompetência territorial em 
relação

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