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1 Ferramentas de Ergonomia Física Francisco Soares Másculo, Ph.D - UFPB 15.1 INTRODUÇÃO O método ergonômico essencialmente consiste no uso dos recursos dos diversos campos de conhecimento que possibilitem averiguar, levantar, analisar e sistematizar o trabalho e as condições de trabalho. Isso implica na observância, utilizando-se instrumentos de caráter quantitativo ou qualitativo, dos vários aspectos da interação humano x elementos do sistema, avançando a fronteiras além do posto de trabalho. Diversos autores apresentam as mais variadas formas de abordagens metodológicas, métodos, técnicas e ferramentas para os fins a que a Ergonomia se propõe. A quantidade ferramentas ou métodos disponíveis é muito grande. Somente um manual, o “Handbook of Human Factors and Ergonomics Methods”, Stanton at all (2005), lista diversos métodos, que são divididos em seis categorias: métodos físicos, psicofisiológicos, cognitivos-comportamentais, equipe, ambientais e macroergonômicos. No escopo deste capítulo apresentamos o Método OWAS, para análise da postura, o Método OCRA para avaliação da aquisição de LER/DORT, o Método RULA, para avaliação de risco de lesão músculo-esquelética em geral, e finalizando o capítulo é feita a apresentação de duas ferramentas computacionais para avaliação de carga nos discos intervertebrais, o Spinal Dynamics e o HARSim. Se o leitor tiver interesse em se aprofundar no assunto sugerimos a leitura do manual mencionado e as citações apresentadas. 15.2. O método OWAS Dispõe-se de vários métodos e técnicas para o registro e análise das posturas. Eles podem ser descritivos, fotográficos, filmagens, por registros eletromiográficos (atividade elétrica muscular) ou por observação in loco. Dentre eles pode-se citar o sistema OWAS (Ovako Working Posture Analysing System), já mencionado anteriormente, desenvolvido na Finlândia por Karhu, Kansi e Kuorinka, entre 1974 e 1978, em conjunto com o Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, com o intuito de gerar informações para melhorar os métodos de trabalho pela identificação de posturas corporais prejudiciais durante a realização das atividades (KARHU et. al.,1977; JOODE et. al., 2004). A partir de análises fotográficas, foram colecionadas 72 posturas típicas que ocorrem em uma indústria pesada. Estas posturas que são resultantes de diferentes combinações de posturas típicas do dorso (4), dos braços (3) e das pernas (7). Com base na observação da tarefa, é construído um modelo por códigos que será posteriormente classificado em 4 classes distintas, por um grupo de operadores experimentados naquela tarefa e orientados pelo ergonomista. Estas classes vão variar de um nível 1 de gravidade considerado não patológico até 4 onde Capítulo 15 15 2 providências imediatas devem ser tomadas, pois haveria sérios riscos de lesão ao trabalhador. Foi criado um software, o WinOWAS pela Tampere University of Technology, Occupational Safety Engineering, onde todos os procedimentos de análise dos dados são realizados. Este, assim como seu respectivo manual pode ser encontrado na língua inglesa no endereço http://turva.me.tut.fi/owas. Baseia-se no registro de determinadas atividades em intervalos variáveis ou constantes, observando-se a freqüência e o tempo despendido em cada postura. Permite que os dados posturais sejam analisados para catalogar posturas combinadas entre as costas, braços, pernas e forças exercidas, e determinar o efeito resultante sobre o sistema músculo- esquelético; e para examinar o tempo relativo gasto em uma postura específica para cada região corporal, determinando o efeito resultante sobre o sistema ósteo-muscular. É possível obter os dados mediante observação direta (em campo) ou indireta (por vídeo), devendo ser observado todo o ciclo, em atividades cíclicas, e nas atividades não cíclicas ser observado um período de no mínimo trinta segundos. Durante a observação pode-se considerar a fase da atividade que é de interesse, sendo atribuídos valores e um código de seis dígitos. O primeiro dígito do código indica a posição das costas, o segundo indica a posição dos braços, o terceiro a posição das pernas, o quarto indica o levantamento de carga ou uso de força e o quinto e sexto indicam a fase do trabalhador (Figura 15.1). Após a categorização das posturas laborais, o método calcula e classifica a carga de trabalho em quatro categorias, determinando ainda as medidas a serem adotadas (Figura 15.2). Figura 15.1 - Caracterização de posturas pelo método OWAS O método abordado demonstra benefícios no monitoramento de tarefas que impõem constrangimentos, possibilitando identificar as condições de trabalho inadequadas e ao mesmo tempo indicar as regiões anatômicas mais acometidas. 3 Figura 15.2 - Categorias de ação do método OWAS para posturas de trabalho de acordo com o percentual de permanências na postura durante o período de trabalho A Figura 15.3 a seguir mostra a interface de coleta de dados do software WinOWAS com as posições do dorso: ereto, fletido, torcido e fletido e torcido simultaneamente; dos braços: ambos abaixo dos ombros, um acima do ombro, e ambos acima do ombro; e das pernas: sentado, em pé em duas pernas, em pé em uma perna, em pé com os dois joelhos flexionados, em pé com um joelho flexionado, ajoelhado e caminhando. A carga: menor que 10 kg, menor que 20 kg e maior que 20 kg. É permito subdividir as observações em fases do trabalho. No exemplo foi registrada a postura 3 2 4 com a carga 2 (menor que 20 kg) e a fase 2 do trabalho. Figura 15.3: Interface do software WinOWAS de análise de postura com exemplo. 15.1.1 A confiabilidade do OWAS Foi visto que as ferramentas de análise e registro postural apresentavam dificuldades quanto a sua utilização. 4 Uma das dificuldades encontradas está na identificação e registro das posturas. Basicamente, os métodos conhecidos trabalham com registro de imagens por fotografias, vídeos, registros cursivos, e registros de função muscular pelo eletromiograma. Além dessas dificuldades, pode-se citar a questão da subjetividade quando do registro e classificação das posturas. Partindo dessa premissa, Bruijn et. al.(1997) realizaram um estudo apresentando uma forma simples de avaliação da confiabilidade do método OWAS. Os pesquisadores avaliaram a conformidade nas observações realizadas por dois observadores distintos. Para tal, foi exibido um conjunto de 45 slides contendo registros das posturas adotadas por enfermeiras. Os slides foram exibidos para cada observador, e a mesma foi repetida, com os mesmos observadores, dessa vez apresentando os slides de forma misturada, após períodos de quatro semanas e de três meses e meio de diferença entre as exibições. Os resultados mostraram que o índice de concordância entre as categorizações foi de 89% na primeira exibição, 92% na segunda e 90% na terceira. Pinzke e Kopp (2001) realizaram dois experimentos com o intuito de examinar e melhorar a usabilidade e confiabilidade do método OWAS. No primeiro apenas as posturas para os braços foram testadas, uma vez que o método não é muito preciso na definição da posição dos braços, especialmente quando o tronco está inclinado. Um indivíduo foi filmado, e a filmagem foi digitalizada e processada através de filtros, possibilitando que a postura fosse detectada e categorizada pelo programa utilizado (Figura 15.4). Figura 15.4 – Segmentação e classificação das posturas. Fonte: Pinzke e Kopp (2001) Foram analisadas 12 imagens utilizando esse método, e todas foram corretamente classificadas pelo método, segundo as especificações enunciadas pelo OWAS. No segundo experimento, uma rede neural de computadores chamada Expectation based Elastic Template Matching Network(XETM network) foi ensinada a relatar as posturas de um indivíduo segundo o OWAS. A rede foi treinada com 53 imagens, e após o mesmo foram exibidas 138 imagens, as mesmas sendo corretamente classificadas. 15.2. A equação do NIOSH para levantamento de cargas Uma equação amplamente utilizada para determinar a carga máxima a ser levantada em um posto de trabalho, no plano sagital, é a desenvolvida pelo NIOSH (National Institute for 5 Occupational Safety and Health, dos EUA). Na medida em que as condições se tornam mais desfavoráveis os coeficientes reduzem, pois variam de zero a um. Quanto pior a condição no posto de trabalho menor será o coeficiente, o que reduzirá a carga máxima, ou peso limite recomendável. A revisão da equação, realizada pelo comitê do NIOSH no ano de 1994, (WATERS, T. PUTZ-ANDERSON, V.; GARG, A., 1994) completa a descrição do método e as limitações de sua aplicação. De acordo com esta última revisão, a equação NIOSH para o levantamento de cargas determina o limite de peso recomendado (LPR), a partir do quociente de sete fatores, que serão explicados mais adiante, sendo o índice de risco associado ao levantamento, o quociente entre o peso da carga levantada e o limite de peso recomendado para essas condições concretas de levantamento. Os critérios para estabelecer os limites de carga são de caráter biomecânico, fisiológico e psicofísico. CRITÉRIO BIOMECÂNICO Ao manejar uma carga pesada ou ao fazê-lo incorretamente, aparecem uns momentos mecânicos na zona da coluna vertebral – concretamente na união dos segmentos vertebrais L5/S1 – que causam um considerável estresse na região lombar. Das forças de compressão, torção e cisalhamento que aparecem, considera-se a compressão do disco L5/S1 como a principal causa de risco de lombalgia. Através de modelos biomecânicos, e usando dados recolhidos em estudos sobre a resistência de tais vértebras, chegou-se a considerar uma força de 3,4 kN como força-limite de compressão para o aparecimento do risco de lombalgia. CRITÉRIO FISIOLÓGICO Ainda que se disponha de poucos dados empíricos que demonstrem que a fadiga aumenta o risco de danos músculo-esqueléticos, é reconhecido que as tarefas com levantamentos repetitivos podem facilmente exceder as capacidades normais de energia do trabalhador, provocando uma diminuição prematura de sua resistência e um aumento da probabilidade de lesão. O comitê do NIOSH em 1991 compilou alguns limites da capacidade aeróbica máxima para o cálculo do gasto energético, que são os seguintes: Em levantamentos repetitivos, 9,5 Kcal/min será a capacidade aeróbica máxima de levantamento. Em levantamentos que requeiram erguer os braços acima de 75 cm, não se superarão os 70% da capacidade aeróbica máxima. Não se superarão os 50%, 40% e 30% da capacidade aeróbica máxima ao calcular o gasto energético das tarefas de duração de 1hora, de 1 a 2 horas e de 2 a 8 horas, respectivamente. CRITÉRIO PSICOFÍSICO O critério psicofísico se baseia em dados sobre a resistência e a capacidade dos trabalhadores que manipulam cargas com diferentes freqüências e durações. Baseia-se no limite de peso aceitável para uma pessoa trabalhando em condições determinadas e integra o critério biomecânico e o fisiológico, porém tende a sobreestimar a capacidade dos trabalhadores para tarefas repetitivas de duração prolongada. O PLR, Peso Limite Recomendável, é dado pela equação: PLR = 23 x CM x CH x CV x CF x CD x CA Os coeficientes referem-se às medidas mostradas na figura 05 abaixo. H = distância horizontal entre o indivíduo e a carga, posição das mãos, em cm. V = distância vertical na origem da carga, posição das mãos em cm. 6 D = deslocamento vertical entre a origem e o destino, em cm. A = ângulo de assimetria, medido a partir do plano sagital, em graus. F = freqüência média de levantamentos por minutos. C = qualidade da pega. Figura 15.5: Posição padrão de levantamento (Dul & Weerdmeester, 2004). A Tabela 15.1 abaixo mostra como obter os coeficientes de distância horizontais em função de H. Tabela 15.1: Multiplicadores horizontais. Distância Multiplicador Distância Multiplicador Horizontal (cm) Horizontal Horizontal (cm) Horizontal <= 25 1.00 46 0.54 28 0.89 48 0.52 30 0.83 50 0.50 32 0.78 52 0.48 34 0.74 54 0.46 36 0.69 56 0.45 38 0.66 58 0.43 40 0.63 60 0.42 42 0.60 63 0.40 44 0.57 >63 0.00 A Tabela 15.2 abaixo mostra como achar os coeficientes de distância percorrida na vertical em função de D. Tabela 15.2: Multiplicadores de distância percorrida na vertical. 7 Distância Vertical (cm) Multiplicador Vertical <= 25 1.00 40 0.93 55 0.90 70 0.88 85 0.87 100 0.87 115 0.86 130 0.86 145 0.85 160 0.85 175 0.85 > 175 0.00 A Tabela 15.3 a seguir mostra como obter os coeficientes de distâncias verticais em função de V. Tabela 15.3: Multiplicadores verticais. Multiplicador Multiplicador Vertical Vertical 0 0.78 100 0.93 10 0.81 110 0.90 20 0.84 120 0.87 30 0.87 130 0.84 40 0.90 140 0.81 50 0.93 150 0.78 60 0.96 160 0.75 70 0.99 175 0.70 80 0.99 175 0.70 90 0.96 >175 0.00 Altura (cm) Altura (cm) A Tabela 15.4 abaixo mostra como obter os coeficientes de assimetria em função do ângulo A. Tabela 15.4: Multiplicadores de assimetria. Ângulo da Multiplicador Ângulo da Multiplicador Assimetria (o) Assimetria Assimetria (o) Assimetria 0 1.00 90 0.71 15 0.95 105 0.66 30 .90 120 0.62 45 0.86 135 0.57 60 0.81 >135 0.00 75 0.76 A Tabela 15.5 a seguir mostra como se obter os coeficientes de freqüência a partir do número de levantamentos por minuto e da duração do trabalho. Tabela 15.5: Multiplicador de freqüência. 8 A Tabela 15.6 abaixo mostra como obter o coeficiente de manuseio em função da pega. Tabela 15.6: Multiplicadores de manuseio. V < 75 cm V >= 75 cm Boa 1.00 1.00 Aceitável 0.95 1.00 Má 0.90 0.90 Multiplicadores da Pega Qualidade da Pega As seguintes indicações são úteis para a definição da qualidade da pega: Boa: pega de potência ou de gancho, os dedos podem fazer um ângulo de 900 com a palma da mão; comprimento menor ou igual que 40 cm, altura menor ou igual que 30 cm e boas pegas ou recortes; fácil de manipular pela existência de pontos que sejam fáceis de agarrar. Aceitável: Objeto com pegas, mas não permite um ângulo dos dedos < 90º; comprimento <= 40 cm, altura <= 30 cm e más pegas ou recortes; comprimento <= 40 cm, altura <= 30 cm e ângulo dos dedos com a palma da mão <=90º; saco que se possa pegar com pega de potência. Má: ausência de pegas; caixa difícil de pegar, ou por ser demasiadamente grande, ou escorregadia; saco muito cheio, material húmido ou escorregadio, etc.; comprimento > 40 cm; altura maior que 30 cm; dificuldade em pegar; centro de gravidade instável (líquidos, materiais granulosos, etc.), centro de gravidade assimétrico. 15.3. O Método OCRA O método Occupational Repetitive Actions (OCRA) foi desenvolvido pelos Drs. Enrico Occhipinti e Daniela Colombini, a pedido do grupo técnico de estudo das lesões músculo- esqueléticas da Associação Internacional de Ergonomia (IEA), a partir de 1996. As pesquisas deste método foram desenvolvidas no Centro Médico da Comunidade (CEMOC), na Unidade de Pesquisa de Ergonomia da Postura e do Movimento (EPM), em Milão, Itália, e está sendo aplicado em empresas na Europa, principalmente na Itália, desde 1997. 9 No Brasil este método está sendo aplicado em diversas empresas já há algum tempo por demanda da área de Engenharia de Fábrica, no projeto e dimensionamento dos novos postos de trabalhos, como medida preventiva para eliminação principalmente dos riscosbiomecânicos. O objetivo desse método, segundo os autores, é identificar um procedimento para calcular um índice quantitativo, que represente os riscos associados aos movimentos repetitivos dos membros superiores, e estabelecer um número recomendado de movimentos por minuto, considerando algumas variáveis, tais como esforço físico, posturas dos membros superiores e pausas durante a jornada de trabalho. Esse método tem a fórmula semelhante à proposta do National Institute Occupational Safety and Health (NIOSH), para avaliar os riscos de lesão na coluna vertebral, na elevação e no transporte de cargas. Para cada variável definida pelo método é estabelecido um valor recomendado, a partir das quais as condições de trabalho poderão estar influenciando no surgimento das lesões. Por exemplo: no caso dos movimentos das mãos e cotovelos o valor máximo recomendado é de 30 ações por minuto. Outras variáveis a serem consideradas são a força empregada pelos membros superiores, as posturas incorretas na realização da atividade, as pausas e o tempo de exposição no ciclo. Essa análise consiste em uma avaliação integrada dos principais fatores de risco ocupacional para os membros superiores, tais como freqüência, repetitividade, força, postura, ausência de períodos para recuperação de fadiga e elementos complementares (exemplo: tipos de pegas). Todos os fatores partem do número de 30 ações técnicas recomendas por minuto como fator multiplicador. Os demais fatores terão um multiplicador previamente estabelecido. Para se obter o índice de exposição – IE do método OCRA, dividi-se a quantidade de ações técnicas observadas (ATO) pela quantidade de ações técnicas recomendadas (ATR). O resultado é comparado com a referência de classificação de risco para determinação do nível de ação a ser tomada (ver quadro mais adiante). Definição dos principais fatores de risco de L.E.R./D.O.R.T. analisado pelo método OCRA: Freqüência de ações técnicas: para esse fator a literatura considera que o número máximo recomendável é de 30 ações por minuto, com as demais condições de trabalho corretas. Esse número torna-se então uma constante para cada tarefa repetitiva, desde que os outros fatores de risco sejam ideais ou insignificantes; 15.3.1 Fator força (MF): é desnecessário comentar que quanto maior o esforço requerido para executar uma série de ações técnicas, menor a freqüência com que deve ser realizada sem provocar alguma fadiga ou lesão. O escore para o fator força é obtido perguntando ao operador sua percepção de força aplicada, perguntando a este para, dentro da escala de Borg, qual a pontuação ele daria para a própria força aplicada nas atividades desenvolvidas, variando de 0,5 a 10. Após a compilação dos valores coletados, calcula-se a média ponderada. Com este valor, entra-se na Tabela 15.7 e encontra-se o fator multiplicador para força. Tabela 15.7: Cálculo do Fator Multiplicador de Freqüência. 10 15.3.2 Fator postura (MP): segundo Colombini (2005) os modelos já propostos por outros pesquisadores para a descrição de posturas e de movimentos confirmam a presença de risco em graus de articulações que se encontram acima de 50% da amplitude total de articulação. A Tabela 08 mostra as faixas de risco e as respectivas pontuações para as principais articulações dos membros superiores. As amplitudes de articulações que se encontram abaixo dos valores da tabela são limites normais aceitáveis e por isso não são pontuadas. As Figuras 15.6, 15.7 e 15.8 ilustram a cinesiologia dos movimentos das articulações dos ombros, cotovelo e pulso. Tabela 15.8: Pontuação para as articulações dos membros superiores. Figura 15.6: Posições e movimentos da articulação escápulo-umeral (ombro), abdução, extensão e flexão. Pontuação para OCRA. Figura 15.7: Movimentos da articulação do cotovelo, supinação, pronação, flexão e extensão. Pontuação para OCRA. 11 Figura 15.8: Movimentos da articulação do pulso, flexão e extensão, desvio radial e ulnar. Pontuação para OCRA. Um fator que também deve ser considerado conjuntamente com a postura é o tipo de pega, pois alguns são mais desfavoráveis e contribuem para o agravamento das LER/DORT. A Figura 15.9 a seguir ilustra os tipos de pegas. Figura 15.9: Principais tipos de pegas. Fonte: Pavani 2007. De acordo com o tipo de pega teremos uma pontuação específica conforme a tabela 09. Tabela 15.9: Pontuação para os tipos de pegas. De posse da pontuação para as articulações dos membros superiores e para o tipo de pega, calcula-se o fator multiplicador para o desempenho postural, a partir da tabela 15.10. Observando-se a atividade verifica-se se é significante o tempo que cada segmento corpóreo dos membros superiores permanece em dada postura inadequada. Faz-se a pontuação com base na tabela 08, somando-se os valores de pega pertinentes, tabela 09, se for o caso. O fator multiplicador é obtido na tabela 15.10, a partir do valor total do empenho postural. Tabela 15.10: Cálculo do Fator Multiplicador do empenho postural. 12 15.3.3 O multiplicador para a estereotipia (repetitividade) (ME): Segundo Couto (2007) o critério mais antigo e aceito sobre repetitividade e também o mais seguido pelas empresas norte-americanas foi proposto por Silverstein em 1985, ao sugerir que qualquer ciclo de trabalho de duração menor que 30 segundos seria altamente repetitivo, porém seguindo os mesmos critérios metodológicos, mesmo em situações de ciclos maiores de 30 segundos poderiam ser caracterizados como altamente repetitivos, no caso de um mesmo elemento de trabalho ocupar mais que 50% do ciclo. Elemento, neste caso, se refere ao conceito originado dos estudos de tempos e movimento que descreve as atividades humanas no trabalho como um conjunto de tarefas ou elementos padrão (CHAFFIN, 2001). No método OCRA a repetitividade é denominada de estereotipia ou “carência de variações na tarefa”. Para a escolha do fator multiplicador é necessário medir o tempo do ciclo, em segundos, e observar em que faixas de percentuais os gestos dos membros superiores são repetidos no tempo total do ciclo. A partir daí entra-se na tabela 15.11 e determina-se o fator que melhor representa a realidade da atividade. É considerada ausência de risco naquelas atividades que apresentem gestos repetidos em 50% ou menos do ciclo, independente do tempo do ciclo. Tabela 15.11: Cálculo do Fator Multiplicador de Estereotipia. 15.3.4 Multiplicador para a presença de fatores complementares (MC): Os fatores complementares aplicados no método OCRA são: a) Uso de instrumentos vibrantes; b) Exigência de extrema a precisão no posicionamento de objetos; c) Compressões localizadas sobre estrutura anatômica da mão ou do antebraço por parte de instrumentos, objetos ou áreas de trabalho; d) Exposição a temperaturas ambientais ou de contato muito frias; e) Uso de luvas que interferem na habilidade manual; f) Natureza escorregadia das superfícies dos objetos manipulados; g) Execução de movimentos bruscos ou “puxões”; h) Execução de gestos com contragolpes ou impactos repetidos (uso de martelo ou picareta sobre superfícies duras) ou usar a própria mão como martelo. A cada fator complementar identificado na tarefa é atribuída uma pontuação conforme a tabela 12. Especificamente para o fator vibração são atribuídos os valores 8, 12 e 16, respectivamente para 1/3, 2/3 e 3/3 do ciclo: Tabela 15.12: Pontuação para fatores complementares. Parte de Exposição em função do ciclo Pontuação 13 1/3 4 2/3 8 3/3 12 Para determinação do escore final, somam-se todas as pontuações atribuídas para todos os fatores complementares identificados na atividade e obtém-se o fator a partir da tabela 15.13.Tabela 15.13: Cálculo do Multiplicador para Fatores Complementares. 15.3.5 O multiplicador para o fator de períodos de recuperação (MR): Baseando-se na literatura científica, os autores deste método afirmam que, em um turno de trabalho o ideal é ter um período de recuperação fisiológica a cada 60 minutos de trabalho repetitivo e quanto mais horas de trabalho repetitivo sem períodos de recuperação, menor deve ser o número de ações técnicas na atividade. A quantidade de horas sem recuperação é obtida a partir da análise do posto de trabalho e entrevistas com os operadores para o entendimento de como transcorre a jornada de trabalho e como são inseridas as pausas, sejam elas para refeições, necessidades pessoais e/ou para a recuperação do trabalho repetitivo, se houver, mesmo que realizando outras tarefas, como por exemplo, para abastecimento de uma máquina ou bancada, controle do processo, etc. Tabela 15.14: Cálculo do Fator Multiplicador para os Períodos de Recuperação. 15.3.6 O multiplicador para a duração total do trabalho repetitivo no turno (MJ): A duração total das tarefas que envolvem movimentos repetitivos e ou forçados dos membros superiores no turno de trabalho representa um elemento muito relevante para caracterizar a exposição total do trabalhador ao risco de LER/DORT. O método OCRA determina a utilização de um fator multiplicador de acordo com a duração total de tempo, em minutos de todas as tarefas repetitivas, gasto no turno na execução de todas as tarefas repetitivas. O cálculo deste multiplicador é obtido diretamente na tabela 15.15. Tabela 15.15: Cálculo do Fator Multiplicador para a duração das tarefas. A classificação de risco pelo método OCRA: A partir dos fatores multiplicadores encontrados nos itens 15.3.1 a 15.3.6 calcula-se o valor das Ações Técnicas Recomendadas (ATRs), que é dado pela fórmula: 14 ATR = 30 x MF x MP x ME x MC x MR x MJ O valor das Ações Técnicas Observadas (ATOs) é fornecido pelo preenchimento do quadro 01. Vale ressaltar que os cálculos são realizados para cada membro superior. Quadro 15.1: Cálculo das Ações Técnicas Observadas. O índice OCRA é então calculado: IE = ATO / ATR A partir do Índice de Exposição, IE, ou Índice OCRA, o método OCRA classifica o risco, de acordo com os valores encontrados, em três níveis fazendo uma analogia à lógica do semáforo (verde, amarelo e vermelho), conforme demonstrado na tabela acima. Quadro 15.2: Classificação de risco OCRA Fonte: (COLOMBINI et al., 2005) Recomendações: Quando o índice esta abaixo de 2,2 não há previsão de aparecer casos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho no grupo de trabalhadores expostos, não requerendo intervenção no posto de trabalho. Quando o índice estiver entre 2,3 e 3,5 significa que não há risco relevante, porém podem aparecer patologias no grupo exposto. São recomendadas uma avaliação da saúde e melhoria das condições gerais de trabalho. Se o índice for maior que 3,5 a intervenção rápida se faz necessária. Os resultados das análises podem ser úteis para o estabelecimento de prioridades. Exemplo de aplicação do índice OCRA: Em um determinado posto de trabalho de uma empresa industrial é executado o corte da matéria-prima, no qual é utilizado um tipo de prensa.. A tarefa se realiza de três maneiras três formas: três cortes para um modelo, seis ou nove por vez, para outro modelo do mesmo produto. Foto 15.1: Postura do Operador 15 Descrição das Atividades: Posiciona-se uma quantidade de material que possibilita a produção de três, seis ou nove unidades sobre o cepo. Em seguida a faca é posicionada sobre este material centralizando-a pela identificação do produto. Posiciona-se agora o cabeçote sobre a faca. Aciona-se a máquina pressionando os botões do comando bi manual. Com isso a operação de corte é terminada. Reposiciona-se faca três, seis ou nove vezes (começa com a direita, depois esquerda e girando de 180 graus ela é posicionada no meio). Retiram-se os cortes realizados e estes são colocados sobre bancada da operação seguinte. Este movimento é repetido para cortar as três, seis ou nove unidades relativas á matéria prima acima mencionada. Há um movimento final que é a colocação dos resíduos (resto da placa cortada) em um carrinho situado á esquerda do operador. Foi aplicada a ferramenta OCRA, para este posto de trabalho. Abaixo estão os quantitativos encontrados e o resultado. Foram encontrados os valores 19,71 para o membro superior direito e 29,87 para o membro superior esquerdo de índice de exposição OCRA. Pode-se concluir que o trabalho apresenta elevado risco de aquisição de LER/ DORT, Lesão por Esforço Repetitivo / Doença Osteoarticular Relacionada ao Trabalho. Quadro 15.3: Cálculo das ATOs Parte do corpo Ações por ciclo Duração ciclo (min) Frequência (ações/min)Dados do posto para cálcu lo das ATOs 54 54 115,00 115,00 Braço direito Braço esquerdo 0,47 0,47 46000,00 46000,00 Duração da tarefa (min) 400 400 ATO Neste quadro observa-se que o valor das ATOs é de 46000 ações: freqüência de 115 ações por ciclo e duração da tarefa de 400 minutos. Quadro 15.4: Cabeçalho e pontuação dos membros superiores. 16 0 4 Flexão/abdução (+80° e 10 %a 20% do tempo 4 4 0 0 Movimentos nas áreas de risco 0 0 2 2 0 2 2 2 0 0 0 0 Localização: Local (1): Area (2): Posto (3): Cortador Equipe: M o v im e n to s d o c o to v e lo P o s iç õ e s e m o v im e n to e s c á p u lo -u m e ra l Supinação (+60°) Data: xx/xx/xx Membro superior esquerdo Caracterização: Processo (4): cortar Manta Tarefa (5): Opera o equipamneto alfa Ação (6) Membro superior direito Flexão/extensão (+60°) 0 ou 4 0 ou 4 0 ou 2 Escore 0 ou 2 Escore 0 ou 4 Pronação (+60°) Extensão (+20°) Abdução (45° a 80°) Pontuação Pontuação Escore 0 ou 4 0 ou 2 P o s iç ã o e m o v im e n to s d o s p u ls o s Movimento nas áreas de risco Desvio R/U (+15°/20°) Extensão (+45°) Flexão (+45°) 0 ou4 0 ou 3 Pontuação Este quadro mostra as pontuações para a postura dos membros superiores, ombro, cotovelo e pulso. Quadro 15.5: Pontuação para mãos e pega, fatores complementares, estereotipia, número de horas sem recuperação e minutos gastos com todas as tarefas repetitivas. 17 1 0 2 2 3 3 E D x x x x x x Total Repetitividade maior que 80% do tempo ou ciclo entre 1 e 7 segundos (0,7) Repetitividade entre 51% e 80% do tempo ou ciclo entre 8 e 15 segundos (0,85) ( ) Pega em gancho ( ) Movimento dos dedos Tipo de pega e posições dos dedos 0 ou 4 ( x ) Área de pega ampla ( 4 a 5 cm) ( x ) Área de pega estrei ta (1,5 cm) ( ) Pega em pinça ( x ) Pega palmar 0 ou 3 T ip o s d e p e g a e m o v im e n to d o s d e d o s d a s m ã o s Pontuação Escore 0 ou 1 0 ou 2 0 ou 3 0 ou 3 F a to re s co m p le m e n ta re s Ausente (1) ( ) Natureza escorregadia da superfície ( ) Precisão ( x ) Temperaturas ( x ) Uso de luvas C a ra ct e rí ti ca d a e st e re o ti p ia x x ( ) Vibração ( ) Compressão ( ) Impacto ( x ) Movimento brusco Minutos gastos no turno com todas as tarefas repetitivas Números de horas sem recuperação adeqada 3//3 Para qualquer fator complementarindicado para período do ciclo 3 400 Repetitividade 1//3 2//3 No quadro acima é externado os valores para pontuação para as mãos e pega, fatores complementares, estereotipia, número de horas sem recuperação e minutos gastos com todas as tarefas repetitivas. Quadro 15.6: Pontuação para a força. 0,8 1,2 Tempo total A AxB Motivo para uso da força para Borg > ou = 3 15 2 2 0,4 0,6 Duração (%) Escala de Borg B Tempo das ações (seg) 20 Ações com força Pegar o molde (0,800 a 1,200 kg) Puxar e Empurrar o Balancim 2Esforço médio ponderado: São mostrados os cálculos para o fator força: duas ações requerem força, que são classificadas 2 na escala de Borg e é feita a ponderação. Quadro 15.7: Escala de Borg 18 Quadro 15.8: Cálculos dos fatores. Borg 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 >=5 Fator 1 0,85 0,75 0,65 0,55 0,45 0,35 0,2 0,1 0,01 Valor 0-3 4-7 8-11 12-15 16-19 20-23 24-27 >=28 Fator 1 0,7 0,6 0,5 0,33 0,1 0,07 0,03 E D Tarefa(s) Ombro 4 8 Cotovelo 2 2 Pulso 2 2 Total 8 12 Total 14 17 valor: 0 a 3 4 a 7 8 a 11 12 a 15 >=16 Fator: 1 0,95 0,9 0,85 0,8 Nº hora 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Fator 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,45 0,25 0,1 0 Fator 2 1,7 1,5 1,3 1,2 1,1 1 0,5 Constante de frequência de ações por minuto Fator força (esforço percebido) Fator: elementos complementares de risco Fator postura Escore do tipo de pega 6 5 421 a 480 <120 121 a 180 181 a 240 >481 Fator horas de trabalho sem pausa Fator duração total de tarefas repetidas 361 a 420 241 a 300 Minutos 301 a 360 No quadro 15.8 são mostrados os cálculos dos fatores. Quadro 15.9: Cálculo do índice OCRA. 19 D 30 0,65 0,5 0,85 0,8 0,8 1,1 400 2334,00 E 30 0,65 0,33 0,85 0,8 0,8 1,1 400 1540,00 ATO 46000,00 I.E.= ATR 2334,00 ATO 46000,00 ATR 1540 = D Tempo sem pausa Duração da tarefa repetitiva Duração da atividad e Total ATR Risco presente Valores OCRA Até 2,2 Entre 2,3 e 3,5 Maior que 3,5 Nível de risco Aceitável Nº de ações totais observadas ma atividade repeti tiva Nº de ações recomendadas Postura Frequência (constante) = 29,87 19,71= E Risco muito baixo Força Estereoti pia Fatores comple mentare s Neste quadro é mostrado o com são calculados as ATRs e o índice OCRA para os membros direito e esquerdo. 15.3 O Método RULA – Rapid Upper Limb Assessment. Foi um método ou ferramenta desenvolvida por Mc Attamney e Corlett (1993) que objetiva avaliar o risco do trabalhador à exposição de posturas e atividades musculares inadequadas e aquisição de LER/DORT. A sua vantagem é permitir uma análise rápida de grande número de trabalhadores. Baseia-se na observação direta das posturas adotadas das extremidades superiores, pescoço, ombros e pernas, durante a execução de uma tarefa. A análise pode ser efetuada antes e depois de uma ação para verificação da eficiência da mesma. Sua aplicação resulta em um risco descrito por um escore variando entre 1 e 7, onde as pontuações mais altas indicam risco mais elevado. Interpretação do resultado do método RULA: Uma contagem de 1 ou 2 indica que aquela postura é aceitável se não é mantida ou repetida durante períodos longos. Uma contagem de 3 ou 4 indica que é necessária observação mais cuidadosa. É conveniente introduzir alterações. Uma contagem de 5 ou 6 indica que é necessária investigação mais cuidadosa. Devem ser introduzidas modificações rapidamente. Uma contagem de 7 ou mais indica que é necessária investigação mais cuidadosa. Devem ser introduzidas modificações imediatamente. Vejamos a aplicação do método passo-a-passo: 1 – Pontue a posição do braço, segundo o ângulo do ombro (figura 15.10): 20 Figura 15.10: Pontuação para o ombro 2 – Pontue a posição do antebraço, segundo o ângulo do cotovelo (figura 15.11): Figura 15.11: Pontuação para o cotovelo 3 - Pontue a posição do pulso (figura 15.12): Figura 15.12: Pontuação do pulso: 4 – Pontue o giro do punho (tabela 15.16): Tabela 15.16: Pontuação para o giro do punho. 21 5 – Determine a pontuação para a postura, escore A (tabela 15.17): Tabela 15.17: Pontuação da postura para os membros superiores. 6 – Adicionar os pontos pelo esforço muscular (tabela 15.18): Tabela 15.18: Pontuação para o esforço muscular. 7 - Adicionar os pontos pela carga (tabela 15.19): Tabela 15.19: Pontuação para a carga. 8 – Determine o Escore C somando aos pontos do Escore A os pontos obtidos pelos esforços musculares e a carga. 9 – Pontue a posição do pescoço (figura 15.13): 22 Figura 15.13: Pontuação do pescoço 10 - Pontue a posição do tronco (figura 15.14): Figura 15.14: Pontuação do tronco 11 - Pontue a posição das pernas (tabela 15.21): Tabela 15.20: Pontuação das pernas. 12 – Determine o Escore B somando os pontos dos valores dos passos 9, 10 e 11. 13 - Adicionar os pontos pelo esforço muscular (idem tabela 15.18): 14 - Adicionar os pontos pela carga (idem tabela 15.19): 15 – Determinar o Escore D somando o valor do Escore B aos valores obtidos pelo esforço muscular e carga para as extremidades inferiores. 23 16 - Obtenha a pontuação final a partir do cruzamento da pontuação para pescoço, tronco e extremidade inferior, Escore D, com a pontuação da extremidade superior, escore C (tabela 15.21): Tabela 15.21: Pontuação final. Esquema de procedimentos do método RULA: Quadro 15.10: Passos do Método RULA. As figuras a seguir nos mostram uma visualização do escore final e a interpretação do mesmo. 24 Figura 15.16: Recomendações Figura 15.15: Escore final Exemplo de Aplicação do RULA: Considere as figuras 01I e 02I do capítulo de Introdução à Ergonomia. O trabalhador em uma bancada de uma indústria de mineração realiza a operação de enchimento. O trabalhador realiza os procedimentos para acondicionar o produto final em sacos de 20 kg. Após pegar o saco de papelão e abri-lo, ele posiciona-o na balança e move a alavanca do dosador para baixo, assim ele libera o produto que desce por gravidade. Ele controla visualmente o peso na balança e quando o peso estipulado é alcançado, ele fecha o dosador também acionando a alavanca. Em seguida segura o saco por baixo e faz uma rotação de tronco dando dois passos para colocar o saco em uma esteira rolante. Figuras 01I e 02I: Operação de enchimento. Sigamos os passos do RULA e determinemos a pontuação: 1 – Braço: 5, elevação para acionar alavanca do dosador. 2 – Antebraço: 1 3 – Pulso: 1 4 – Giro do punho: 1 5 – Escore A: (5-1-1-1) 5 6 – Esforço muscular: a postura é estática, porém é mantida por menos de 10 minutos e o saco leva 20 segundos para ser cheio. Pontuação zero. 7 – Carga: +3. O saco pesa 20 kg. 8 – Escore C: Escore A + 0 + 3 = 8 9- Pescoço: 1 25 10 – Tronco: 2 11 – Pernas: 1 12 – Escore B: (1-2-1) 2 13 – Esforço muscular (extremidade inferior): 1 14 – Carga (extremidade inferior): 3 15 – Escore D: 2 + 1 + 3 = 6 16 – Pontuação Final: (8 – 6) = 7 Conclusão: Pelo método RULA, Nível 4, deve-se tomar providências imediatas. 15.4 Ferramentas Computacionais - Avaliação postural através de modelos pré-determinados 15.4.1 O Modelo Spinal Dynamics Trata-se de uma metodologia para a análise quantitativa de todas as configurações posturais, as quais acontecem durante uma tarefa de trabalho, de qualquer natureza, e em resposta as variações biomecânicas correspondentesà coluna vertebral, em determinado período de uma atividade. Ele tem demonstrado ser uma ferramenta eficiente para os diagnósticos de etiologia compressiva e de situação patológica relacionada ao desempenho de tarefas de trabalho, onde o mesmo avalia as cargas que correspondem às tensões músculo-esqueléticas desenvolvidas pelo sujeito na execução da tarefa (REBELO, BARREIROS e SILVA, 1995). Este programa é aplicado em duas etapas. A 1ª etapa consiste na quantificação sistemática da freqüência e seqüência temporal das posturas em uma situação de trabalho, onde são executados alguns procedimentos: a) filmagem do indivíduo durante a execução de suas tarefas de trabalho, nos planos frontal e sagital (posterior); b) seleção de categorias posturais, após observação no vídeo, de acordo com critérios pré-definidos, seguindo-se da digitalização e transferência das imagens selecionadas para o computador; c) quantificação da ocorrência temporal destas posturas, através de um programa de computador desenvolvido em Visual Basic for Windows. Nele, cada quadro, que representa uma postura, é apresentado como um ícone na tela do computador. Durante o processo de observação do vídeo, a ativação de mouse de cada ícone de postura inicia a contagem para medir a duração do tempo de ocorrência de cada postura. A 2ª etapa da aplicação do programa que consiste na avaliação do estresse postural biomecânico é realizada com a obtenção da quantificação do stress da coluna vertebral pela aplicação do Spinal Dynamics, um modelo capaz, também, de gerar configurações da coluna vertebral. De acordo com Cartaxo, Masculo e Rebelo (1997), há algum tempo que a determinação exata da relação entre uma dada atividade de trabalho e a probabilidade do aparecimento de patologias tem sido obtida a partir da utilização de modelos numéricos. Assim sendo, a simulação numérica da resposta da coluna vertebral a situações de carga, tem se mostrado o caminho para vários investigadores (Troup et al., 1983; Freivalds et al., 1984; Andres e Chaffin, 1985; McGill e Dorfman, 1985; Chaffin, 1988; Gagnon, Plamondon e Gravel, 1993) nas últimas décadas, sendo que a maior parte desses estudos diz respeito ao desenvolvimento de modelos visando o estudo biomecânico da coluna vertebral, simulando apenas o equilíbrio de forças e momentos aplicados a uma secção da coluna lombar. Baseado nas limitações dos modelos existentes, o laboratório de ergonomia, juntamente com o laboratório de modelação numérica da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), realizaram alguns estudos (Rebelo e Silva, 1992; Rebelo, Barreiros e Silva, 1995) desenvolvendo um modelo antropomórfico que possibilita a 26 quantificação dos esforços em toda a extensão da coluna vertebral, durante as diversas posturas assumidas no trabalho. A resposta mecânica da coluna vertebral a diferentes situações de estresse é modelada pelo método dos elementos finitos, utilizado na análise de estruturas, pois além de uma boa confiabilidade estatística, tem a grande vantagem de não ser invasivo. 15.4.1.1 Formulação numérica do Spinal Dynamics Para a formulação do modelo numérico do Spinal Dynamics, foi necessária a especificação das propriedades geométricas e elásticas (módulo de Young e relação de Poisson), além das dimensões antropométricas dos sujeitos analisados. Na Tabela 22, estão sumariados os parâmetros geométricos que dizem respeito a diferentes níveis da coluna vertebral utilizados pelo Spinal Dynamics. Tabela 15.22 – Parâmetros Geométricos entre C2 e L5 FONTE: CARTAXO, MASCULO E REBELO, 1997. 15.4.1.2 Caracterização postural O modelo necessita da definição exata das posturas que são obtidas a partir da sincronização das imagens, que correspondem às projeções ortogonais da coluna vertebral somando-se a isto o perfil antropométrico do executante da tarefa, de forma a reproduzir uma configuração geométrica de toda a coluna num espaço tridimensional, conforme a Figura 15.17. 27 Figura 15.17 – Análise da inclinação do tronco nos planos sagital e frontal FONTE: REBELO; BARREIROS e SILVA, 1995 Cartaxo et al. (1998), demonstram que a configuração da coluna vertebral, nas posturas, é realizada através de um robô virtual de terceira dimensão (Figura 17), denominado Automaton, onde o mesmo representa a coluna vertebral como uma cascata de 24 vértebras. Neste software, o peso da cabeça é diretamente aplicado à segunda vértebra cervical; as cargas externas aplicadas aos membros superiores para as três primeiras vértebras dorsais ou para as últimas cinco cervicais, sendo divididas em frações iguais entre cada uma destas vértebras. As cargas, relativas ao peso das vísceras e dos órgãos, contidos na caixa torácica, são divididas em fatias paralelas na horizontal, onde o peso de cada uma delas, que atua verticalmente no centro de massa (CM) é transferido a cada vértebra correspondente, acrescentando-se a isto um momento flexor igual ao que a carga exercia em seu ponto original. Conforme os autores mencionados, a técnica utilizada neste programa para a transferência de cargas é baseada no princípio de mover cargas, paralelamente, do local de origem a um ponto correspondente na coluna, e acrescentar o momento flexor, com magnitude, direção e sentido iguais ao do ponto original de aplicação. O programa inclui um módulo para executar análise de pontos de estresse de tensão estática da coluna, baseado na introdução de informações sobre sua postura, geometria e propriedades elásticas da coluna vertebral. Este módulo está baseado em algoritmos de elemento finitos e computa a árvore de tensões dimensionais distribuídas ao longo de todas as 24 vértebras. As forças que são aplicadas à cabeça, tórax e membros superiores (MMSS), são transferidas para as regiões correspondentes da coluna por meio da técnica de somação de torque igual para o qual incidirá no ponto original de aplicação. Este programa tem sido aplicado para estudar diversas tarefas, a exemplo de profissionais que trabalham em hospitais, construção civil, transportes, etc. Figura 18 – Atuação das forças que atuam na coluna vertebral na posição ortostática (repouso) FONTE: CARTAXO, MASCULO E REBELO, 1997. FIGURA 15.19 – Atuação das forças na coluna vertebral durante o movimento de flexão anterior do tronco. FONTE: CARTAXO, MASCULO E REBELO, 1997 28 Seus resultados apresentam-se em forma de gráficos, onde as cargas de estresse, em cada nível da vértebra, são identificadas e comparadas, como pode ser observado nas Figuras (15.18 e 15.19) vistas anteriormente, entre a posição inicial (ortostática) e final (flexão anterior) do tronco. Os gráficos constantes nas Figuras 15.18 e 15.19 representam a força axial, os momentos flexores e a força de cisalhamento das articulações intervertebrais nas regiões dorsal e lombar. A Tabela 15.23 mostra os valores das tensões calculados referentes à Figura 15.18. Nela, podemos verificar se os mesmos estão de acordo com o limite de segurança considerado pelo National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH), que é de dois Megapascais (2Mpa). Ao ultrapassar esse valor, podem surgir fraturas do platô vertebral ou outros processos patológicos. Tal situação é uma conseqüência das posturas envolvidas nas tarefas, que guardam um estreito relacionamento com o layout do posto de trabalho, quando não desenhado ergonomicamente, com a repetição ou manutenção estática da posição do corpo, além das forças aplicadas pelo indivíduo. Tabela 15.23 – Valores para as Forças Axiais, de Corte, Momentos Flexores e Pressão Intradiscal na Flexão Anterior do Tronco FONTE: CARTAXO, MASCULO E REBELO, 1997.15.4.2 Humanoid Articulation Reaction Simulation (HARSim) O HARSim, é a versão mais moderna do Spinal Dinamics, pois avalia o comportamento articular humano quando submetido a uma sobrecarga. Este software realiza a quantificação dos dados, o cálculo das forças e dos momentos que incidem sobre determinado segmento corporal através de modelos que utilizam a técnica dos elementos finitos. Segundo Rebelo (2002), os modelos estáticos abordam o comportamento do corpo humano como uma estrutura em equilíbrio sujeita a um sistema de cargas externas aplicadas a exemplo do Spinal Sagital Plane (SSP) desenvolvido por Chaffin em 1982, e o 3DSSPP, elaborado e utilizado pela Universidade de Michigan. Estes modelos também são válidos nas análises de movimentos realizados a uma velocidade constante ou de reduzido valor, denominado de “pseudodinâmicos”. Os elementos finitos são, há muito tempo, um meio, validado internacionalmente, de calcular determinados esforços no corpo humano, como por exemplo, as forças que agem 29 numa vértebra sujeita a diversos regimes de cargas, sem introduzir sensores dentro do disco intervertebral. Figura 15.20 – HARSim (Humanoid Articulation Reaction Simulation) FONTE: REBELO, 2002. Para efeito de análise, o HARSim leva em consideração algumas variáveis, como: distâncias e ângulos intersegmentares, área seccional das vértebras e segmentos corporais, além de momento de inércia geométrico, para calcular as forças atuantes em 38 segmentos (24 na coluna, 8 nos MMSS e 6 nos MMII) somando 108 graus de liberdade (72 na coluna vertebral, 22 nos MMSS, e 14 nos MMII). Sua idealização biomecânica está pautada em 3 pontos importantes: 1) cargas internas (peso do corpo e do segmento corporal) e externas (aplicadas a qualquer parte do corpo); 2) forma; e 3) rigidez. Referências ANDRES, R O.; CHAFFIN, D. B. Ergonomic analysis of slip-resistance measurement devices. Ergonomics, 28:1065-1079, 1985. BRUIJN, I.; ENGELS, J.A.; GULDEN, J.W.J. van der. A simple method to evaluate the reliability of OWAS observations. Applied Ergonomics 29 (1998) 281-283. CARTAXO, C. et al. Estudo ergonômico do posto de trabalho do armador de laje: uma avaliação quantitativa dos esforços físicos na coluna vertebral. Revista Produção e Sociedade, n. 2, nov. 1998. p. 68-92. CARTAXO, C., MASCULO, F.S., REBELO, F. S. Avaliação do stress postural numa actividade da construção civil no Brasil. Revista Portuguesa de Ergonomia, n. 1, dez. 1997, p. 57-69. CHAFFIN, D. B. Biomechanical modeling of the low back during load lifting. Ergonomics, 31:685-697, 1988. COLOMBINI, D.; OCCHIPINTI, E.; FANTI, M. Il método OCRA per l’analise e la prevenzione del rischio da movimenti repetuti. Manuale per la valutazione e la Gestione del rischio. Milão: Franco Angeli, 2005. DUL, J. & WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. 2ª Edição. São Paulo: Edgard Blücher, 2004. FREIVALDS, A. et al. A dynamic biomechanical evaluation of lifting maximum acceptable loads. Journal of Biomechanics, 17, 251-262, 1984. GAGNON, M.; PLAMONDON, A.; GRAVEL, D. Pivoting with the load. Spine, 18:1515-1524, 1993. JOODE, B.V.W.; VERSPUY, C.; BURDOF, A. Physical workload in ship maintenance: using the observer to solve ergonomics problems. Noldus Information Technology, 2004. Disponível em: <http://www.noldus.com>. KARHU, O.; KANSI, P.; KUORINKA, I. Correcting working postures in industry: a practical method for analysis. Applied Ergonomics, v. 8, n. 4, p. 199-201, 1977. 30 MC ATTAMNEY, L & CORLETT,N, RULA: a survey method for the investigation of work-related upper limb disorders, Applied Ergonomics, 24 (2), 1993. McGILL, K. C.; DORFMAN, L. J. Automatic decomposition of the clinical electromyogram. IEEE Trans Biomed Eng, 32:470-477, 1985. PAVANI, R.A., Estudo ergonômico aplicando o método Occupatinal Repetitive Actions (OCRA): uma contribuição para a gestão da saúde no trabalho. Dissertação, Centro Universitário SENAC, São Paulo, 2007. PINZKE, S.; KOPP, L. Marker-less systems for tracking postures – results from two experiments. Applied Ergonomics 32 (2001) 461-471. REBELO, F.; BARREIROS, L.; SILVA, K. C. da. Computer package for evaluation of the work place postural stress. In: BRAZILIAN ERGONOMICS CONGRESS, 7., 1995, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: SBE, 1995. REBELO,F.S. Avaliação dos problemas músculo-esqueléticos provocados por esforços repetitivos utilizando a aplicação informática: humanoid articulation reaction simulation. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE ERGONOMIA, 7., 2002, Recife. Anais... Recife: ABERGO, 2002. REBELO, F. S.; SILVA, K. C. Spinal dynamics: a three-dimensional model of the mechanical behavior of the vertebral column for ergonomics applications. Motricidade Humana, v. 8, n. 1, 1992. TROUP, J. D. G. et al. A comparison of intra-abdominal pressure increases: hip torque and lumbar vertebral compression in deferential lifting techniques. Human Factors, 25:517-525, 1983. WATERS, T. PUTZ-ANDERSON, V.; GARG, A., Applications Manual For the Revised NIOSH Lifting Equation, Centers for Disease Control & Prevention, NIOSH Pyblication no. 94-110, Washington, 1994. STATION, N et all, Handbook of Human Factors and Ergonomics Methods, CRC Press, New York, 2005. Questões 1 – Quais são os critérios para estabelecer os limites de carga? 2 – Como foi validado o método OWAS? 3 – Comente os critérios para estabelecer os limites de carga: de caráter biomecânico, fisiológico e psicofísico. 4 – O que é o método OCRA? 5 – Descreva as etapas do método OCRA. Exercícios: 1 – Calcule o Peso Limite Recomendável usando a equação do NIOSH, com os seguintes dados: Distância horizontal entre o indivíduo e a carga, posição das mãos (H) = 25cm. Distância vertical na origem da carga, posição das mãos (V) = 75cm. Deslocamento vertical entre a origem e o destino (D) = 30cm. Ângulo de assimetria, medido a partir do plano sagital (A) = 15 graus. F = freqüência média de levantamentos por minutos. A pega é em gancho com os dedos fazendo 90º com a palma da mão. 2 – Instale o software WinOVAS em um computador, escolha um processo de trabalho simples e próximo de você, divida-o em duas fases, faça no mínimo 50 observações das posturas. O que você concluiu sobre as recomendações para ações? 3 – Considere a situação de trabalho com repetitividade das figuras 01I e 02I do exemplo de aplicação do RULA e calcule o Índice OCRA. São dados os seguintes tempos das ações que integram o ciclo de trabalho: Ação Tempo (segundos) 1 – Pegar o saco 2 2 – Abrir o saco 4 3 – Posicionar o saco na balança 1 4 – Acionar a alavanca do dosador 2 5 – Controlar o peso durante o enchimento 12 6 – Fechar o dosador 2 7 – Pegar o saco 2 31 8 – Transportar o saco para a esteira 5 TOTAL: 30
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