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1 História da Ergonomia Francisco Soares Másculo, PhD, UFPB Mario César Vidal, Dr, COPPE/UFRJ Primeira definição A primeira definição de Ergonomia foi feita em 1857 na égide do movimento industrialista europeu. Esta definição foi feita por um cientista polonês, Wojciech Jastrzebowski numa perspectiva típica da época, de se entender a Ergonomia como uma ciência natural em um artigo intitulado "Ensaios de Ergonomia, ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza". Esta primeira definição estabelecia que... A Ergonomia como uma ciência do trabalho requer que entendamos a atividade humana em termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação (Jastrzebowski, 1857). KARWOWSKY (1991), assim descreve o texto pioneiro: A partir de que Wojciceh Jastrzebowski da Polônia (1857) definiu Ergonomia juntando dois termos gregos, ergon=trabalho e nomos=leis naturais, os pesquisadores têm procurado estabelecer as leis fundamentais baseadas nas quais este disciplina em desenvolvimento pode ser classificada como uma ciência. O conceito de Jastrzebowski para esta proposta trata da maneira de mobilizar quatro aspectos da natureza anímica, quais seriam, a natureza físico-motora, a natureza estético-sensorial, a natureza mental-intelectual e a natureza espiritual-moral. Esta ciência do trabalho, portanto, significava a ciência do esforço, jogo, pensamento e devoção. Uma das idéias básicas de Jastrzebowski é a proposição chave de que estes atributos humanos deflacionam-se e declinam devido a seu uso excessivo ou insuficiente.. Recuperando este pensamento inaugural e adequando-o a um paradigma de modernidade podemos dizer que a Ergonomia visou desde seus primórdios entender a realidade da atividade de trabalho sem juízos de valor ou suposições pessoais acerca do modo como acontecem. Esse entendimento despojado de preconceitos de qualquer ordem (na acepção da palavra sem pré-conceitos sobre a atividade e a forma como acontece na situação real de trabalho) é onde reside a força da Ergonomia, capaz de produzir descrições extremamente pertinentes do que se passa num local de trabalho, no uso e manuseio de um produto, no emprego de um software, ou na adoção de um esquema organizacional de trabalho. Para a equipe de Ergonomia interessa em primeiro lugar como as coisas acontecem. Ergonomia no período clássico Os primeiros estudos sobre as relações entre homem e o trabalho se perdem na origem dos tempos: em termos arqueológicos, é possível demonstrar que os utensílios de pedra lascada se miniaturizaram, num processo de melhoria de manuseabilidade e que teve por resultados produtivos, o ganho de eficiência na caça e coleta. O ganho de eficiência no processo de caça permitiu uma nova forma de divisão do trabalho podendo as mulheres se ocupar dos 2 bebês e com isso reduzindo a mortalidade infantil, o que viabilizou um expressivo aumento da população de humanos. Existem também no Museu do Louvre papiros egípcios que denotam recomendações de natureza ergonômica para a construção de utensílios de construção civil, assim como desenhos de arranjos organizacionais para o canteiro de obras de pirâmides. Na Antigüidade, aparecem algumas referências como as alusões às deformações posturais apontadas por Plaute. Neste mesmo período, anotam-se trabalhos no campo da toxicologia e da patologia do trabalho, abordando particularmente riscos físicos como os impactos da temperatura e da umidade (Villeneuve, Idade Média; Coulomb e Lavoisier, séc. XVIII), riscos ergonômicos como a adoção de posturas inadequadas (Villeneuve, Idade Média). Entretanto, é no período dito moderno onde mais elementos podem ser aludidos dada a existência de fontes históricas mais consistentes como os estudos de manuseio inadequado de cargas (Vauban e Bélidor, séc XVII), riscos químicos como inalação de vapores e poeiras (Fourcroy, séc XVIII). Existem, também, registros de estudos de biomecânica e antropometria (Leonardo Da Vinci), trabalhos de higiene industrial, basicamente sobre ventilação e iluminamentos dos locais (Désargulires, Hales e Camus, séc XVI; D'Arret, séc. XIX) e de Medicina do Trabalho, tanto num âmbito específico de afecções profissionais (Ramazzini e Tissot, séc XVIII), como na epidemiologia (Villermé e Patissier, séc. XIX). Este último século é também a origem da Higiene do Trabalho (D'Arret, regras de higiene nas fábricas; Patissier, mentor do movimento para criação da Inspeção do Trabalho na França). Importantes menções cabem ser feitas ao período que circundou a chamada revolução industrial, que não pode ser limitada a avanços nos processos técnicos mas a toda uma evolução das formas de divisão do trabalho e das formas de interação entre pessoas e equipamentos técnicos. Ergonomia na primeira metade do século A virada do século XIX para o século XX caracterizou-se pela passagem dos fisiologistas aos engenheiros como os principais agentes ergonômicos. Já no início deste último século, a proposta de F.W. Taylor não se limitava a um novo projeto organizacional. Seu estudo sobre as pás – de capacidade maior para o manuseio do carvão, material mais leve, e de menor capacidade para o minério, material mais pesado é, sem sombra de dúvida, um dos primeiros trabalhos empíricos de Ergonomia publicados que temos notícia. Isto não se deu por acaso, pois já havia alguns estudos que permitiam esse tipo de concepção. Os fisiologistas do final do século XIX já haviam desenvolvido uma série de métodos, técnicas e equipamentos que permitiam, finalmente, mensurar efetivamente o desempenho físico do ser humano: o esfigmógrafo, o cardiógrafo, o pneumógrafo (Marey), ao mesmo tempo em que se aprofundava o estudo teórico acerca do desgaste fisiológico e da energética muscular. Em relativa contemporaneidade a Taylor, J. Amar verificava, de forma experimental, os princípios apontados por Taylor, então acusados de falta de embasamento. O trabalho de J. Amar é, nesse sentido, um verdadeiro clássico sobre a fisiologia experimental do trabalho. Suas formulações constituem-se no primeiro dos paradigmas da Ergonomia: o homem como transformador de energia, ou, como o próprio autor denomina, O Motor Humano. Esta interpretação mecânica serviu de paradigma científico do início do século XX até a sua segunda metade, portanto, o período de expansão da base material da produção industrial no planeta. Ela se consolida a partir de 1915 quando, na Inglaterra, foi formado um comitê destinado a estudar a saúde dos trabalhadores empregados na indústria de guerra, uma espécie de assistência técnica ao fator humano na indústria. Esse comitê, formado por médicos, fisiologistas e engenheiros, atacou, na época, uma ampla variedade 3 de questões de inadaptação entre trabalho e trabalhadores envolvidos nessa produção. Estes resultados se mantiveram nos tempos (breves) de paz entre as Duas Grandes Guerras. Forma-se a Ergonomia Clássica no início do pós-guerra, enquanto uma disciplina estruturada a partir da atividade dos grupos citados. A definição de Ergonomia adotada por estas pessoas foi a seguinte: Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia, e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento. Esta Ergonomia com seu paradigma mecânico/termodinâmico do ser humano foi o desaguar de atividades milenares a partir de diversas disciplinas científicas como mostra o quadro 1. Disciplinas formadoras Autores Filosofia (cognição) Platão. Aristoteles Medicina Ramazzini, Villermé, Tissot Fisico-química Lavoisier, Coulomb Fisiologia do Trabalho Amar, Chaveau, Marey Engenharia do Produto Da Vinci, Vauban, Jacquart OrganizaçãoTaylor, Gilbreth, Ford Quadro 1: Principais disciplinas formadoras do pensamento ergonômico clássico A Ergonomia na II Guerra Mundial: importância dos Fatores Humanos e no pós-guerra Na II Guerra Mundial, a falta de compatibilidade entre o projeto das máquinas e dispositivos e os aspectos mecânico-fisiológicos do ser humano se agravou com o aperfeiçoamento técnico dos motores. Foram registradas situações terríveis, agora atingindo tropas e materiais bélicos em pleno uso. Os aviões, por exemplo, passaram a voar mais alto e mais rápido. Os pilotos, porém, sofriam da falta de oxigênio nas grandes altitudes, perda de consciência nas rápidas variações de altitude exigidas pelas manobras aéreas, e vários outros "defeitos" no sub-sistema fisiológico. Os projetistas não consideraram as alterações do funcionamento do organismo em diversas altitudes quando submetidos a acelerações importantes! Como conseqüência, muitos aviões se perderam. A perda do material bélico era importante, vultosa e por si só justificaria esforços. No entanto, dado que o treinamento de um piloto levava dois a quatro anos, a perda de um piloto treinado se constituía em perda irreversível no timing da guerra. Nessas novas circunstâncias foram formados, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, novos grupos interdisciplinares, agora com a participação de psicólogos juntados aos engenheiros e médicos. Os objetivos eram os de "elevar a eficácia combativa, a segurança e o conforto dos soldados, marinheiros e aviadores". Os trabalhos desses grupos foram voltados para a adaptação de veículos militares, aviões e demais equipamentos militares às características físicas e psicofisiológicas dos soldados, sobretudo em situações de emergência e de pânico. E o que nos interessa particularmente, estes estudos se baseavam na análise e nos estudos dos materiais que retornavam e no relato de seus problemas operacionais. Assim sendo, em seu nascedouro, a Ergonomia se alimentou profundamente de dados e estudos de manutenção bélica. Segundo nos relata Iida (1990), os cientistas que haviam participado desse esforço de guerra decidiram continuar a empreitada voltando-se para a produção civil, utilizando os 4 métodos, técnicas e dados obtidos para a indústria. Numa precursora forma de extensão universitária, são formados laboratórios universitários para atender a demandas industriais, com sucesso. Em decorrência é formada em 1947 a primeira sociedade de Ergonomia do planeta, a Ergonomics Research Society. Nasce a corrente de Ergonomia chamada de Fatores Humanos (Human Factors & Ergonomics ou HFE ), como uma continuidade da prática acima mencionada em operações civis. Desde então, a corrente HFE tem buscado responder à seguinte pergunta: o que se sabe acerca do ser humano e que pode ser empregado nos projetos de instrumentos, dispositivos e sistemas? Em suas interfaces com o operador humano, a HFE, até o presente, tem sido baseada em procedimentos experimentais que vão do laboratório clássico para o estudo de fatores humanos em si mesmo até as modernas técnicas de simulação, buscando uma melhor conformação das interfaces entre pessoas e sistemas técnicos. Os principais tratados de Ergonomia foram produzidos nos anos 60 tendo como dominante a abordagem HFE. Os mais interessantes a nosso ver são: Woodson e Conover, (USA, 1966) e Grandjean (Suiça, 1974). Uma compilação simplificada destes livros pode ser obtida em Iida (1991). Mais recentemente o vasto material HFE, acrescido das experiências de sua aplicação em algumas situações típicas – layout de postos de trabalho, design de cockpits e consoles de salas de controle, desk informático e outros- deram origem a uma metodologia especial, chamada de listas de pontos de verificação (ergonomic checkpoints) cuja referência mais adequada é o "Ergonomic Checkpoints" editado pela International Labour Office, em Genebra, com o apoio da International Ergonomics Association (IEA). No Brasil, há um bom tratado traduzido – um dos livros de E. Grandjean – aqui lançado pela Editora Bookmans, sob o título "Ergonomia". No período do pós-guerra surgiu uma outra vertente da Ergonomia, ensejada pelas necessidades da reconstrução do parque industrial europeu dizimado. No bojo de um amplo pacto social, o projeto de reconstrução abria uma janela para o estudo de condições de trabalho, tendo como emblema a Fábrica de Automóveis Renault que, dadas suas características peculiares, tornar-se-ia um modelo da nova política industrial francesa. A Renault é a primeira indústria francesa a criar um laboratório industrial voltado para a Ergonomia. Esta segunda vertente deu origem à escola francesa que tem como origem uma questão própria: como conceber adequadamente os novos postos de trabalho a partir do estudo da situação existente? Desta preocupação nasce em 1949 com Suzanne Pacaud, a análise da atividade em situação real, resgatada em 1955 por Obrendame & Faverge como Análise do Trabalho. Estes autores preconizavam que o projeto de um posto de trabalho deveria ser precedido por um estudo etnográfico da atividade e mostravam o distanciamento entre as suposições iniciais e o auferido nas análises. A proposta veio a ser formalizada somente em 1966 por Alain Wisner já como Análise Ergonômica do Trabalho (AET). A Ergonomia no Brasil: da universidade para a empresa Nos primórdios vamos encontrar três vertentes, a primeira oriunda das escolas de engenharia de produção com desdobramento sobre os cursos de desenho industrial, a segunda instituída na nascente escola brasileira de design e a terceira uma formação de origem na psicologia humanista. A primeira vertente se origina nos trabalhos do Prof. Sérgio Penna Kehl, na Escola Politécnica da USP, com a abordagem do tópico "O Produto e o Homem", na disciplina Projeto de Produto, no curso de Engenharia de Produção. Segundo Moraes (1999) e Bezerra (2000), a partir desta disciplina o Prof. Sérgio Kehl vislumbra um grande caminho e, nesse sentido, funda o GAPP (Grupo Associado de Pesquisa e Planejamento), que passa a oferecer a Ergonomia como um dos itens de consultoria. O saber então incipiente de 5 Ergonomia é apropriado em várias empresas de economia mista brasileiras, como a Companhia Siderúrgica Nacional, a COSIPA e o METRÔ de São Paulo. Nesse processo, é formado um segundo quadro importante da Ergonomia, do qual faz parte o professor Itiro Iida. Incentivado por Penna Khel, o professor Iida funda a disciplina de Ergonomia na USP, publicando a apostila "Ergonomia: notas de aula" que viria a ser um dos livros mais procurados da disciplina. Buscando aprofundar-se, Iida inicia e conclui seu doutorado na USP defendendo a primeira tese acadêmica da Ergonomia Brasileira, intitulada "A Ergonomia do Manejo", ainda hoje uma referência metodológica em avaliação de produtos. Com esse título, Iida dirige-se ao Rio, convidado a lecionar no emergente centro que era a COPPE/UFRJ. A formação, pesquisa e desenvolvimento na COPPE se tornam referência da Ergonomia nascente. Como registros deste processo temos a visita do então presidente da Ergonomics Research Society, prof. Colin Palmer, cujas palestras em Ergonomia vieram a se transformar no primeiro Livro de Ergonomia publicado no Brasil. No plano do desenvolvimento, vários projetos como o design da linha de equipamento odontológico da Dabi-Atlante, que até hoje mantém as características ali desenvolvidas e o trabalho "Aspectos Ergonômicos do Ônibus Urbano", publicado pela STI, em 1976, que muito influenciou a mudança dos veículos, desde então. É ainda na COPPE que se gera o livro "Ergonomia – Projeto e Produção", publicado pela Editora Edgard Blucher, em 1990, de grande importância no cenário da Ergonomia de Língua Portuguesa. A segunda vertente primordial passa pela nascente Escola Superior de DesenhoIndustrial, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ. Nessa escola, o professor Karl Heinz Bergmiller inicia o ensino de Ergonomia para o desenvolvimento de projetos de produtos, segundo o modelo de Tomás Maldonado, da Escola de Ulm, na Alemanha. Incentivado por seu professor Sergio Penna Khel, Itiro Iida já trabalhando no Rio de Janeiro, se orienta com o Prof. Bergmiller com vistas à sua tese de doutorado e, por via de conseqüência, passa a ensinar Ergonomia na ESDI em 1971. A partir dessa experiência, a Ergonomia se manteve como disciplina nos cursos de desenho industrial, uma vez que a ESDI se tornou uma matriz curricular dos cursos de design no Brasil. Ela se torna disciplina obrigatória também para os cursos de Design. A terceira vertente primordial refere-se à construção na Psicologia. Ela compreende as ações do professor Franco Lo Presti Seminério no ISOP (Instituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais), da Fundação Getúlio Vargas e do Prof. Paul Stephanek no curso de Psicologia da USP em Ribeirão Preto. Entusiasta da Ergonomia, o Prof. Seminério consegue promover, em 1974, o I Seminário Brasileiro de Ergonomia, marco fundamental na história da Ergonomia brasileira, e aberta com a presença do então Ministro do Trabalho e de muitas outras personalidades. Em decorrência das repercussões, FGV e COPPE se reúnem para implantar em 1975, o primeiro Curso de Especialização em Ergonomia, no Brasil. Por este curso passaram vários ergonomistas, que hoje lecionam em diferentes cursos e trabalham na estruturação de grupos de Ergonomia nas empresas. Em março de 1990, em meio às várias ações do chamado Plano Collor, desativou-se parte da FGV, extinguiu-se o ISOP e, conseqüentemente, o curso de Ergonomia que de 1975 até 1989, só não fora realizado em duas oportunidades. Na USP de Ribeirão Preto a Ergonomia na Psicologia, infelizmente ficou restrita a uma breve inserção curricular na cadeira de Psicologia do Trabalho. A fase puramente universitária A partir do quadro primordial se forma todo um panorama da Ergonomia, que elencava não apenas os centros universitários como a COPPE, a ESDI e a FGV, mas igualmente com a criação do grupo do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) juntamente com o crescimento da Ergonomia no bojo do desenvolvimento da pós-graduação brasileira. O forte incentivo à criação de mestrados no país faz surgir outros grupos voltados para Ergonomia na engenharia de produção como é o caso da UFPb, da UFSCar, 6 da UFSM, da UFSC. A estes se somaram a chegada dos grupos de pesquisa ligados à área de saúde como a Faculdade Paulista de Medicina e a FIOCRUZ.. Paralelamente cresce a oferta de cursos de graduação em desenho industrial e através dele a embrionária configuração do atualmente chamado Ergodesign. Despontam novos cursos no Rio de Janeiro (EBA/UFRJ), na Universidade Federal da Paraíba (Campina Grande), em Minas Gerais, na Universidade Federal de Santa Maria, em Curitiba. Para estes locais convergem muitos dos formados na COPPE, que se torna o principal centro de pós-graduação relacionado à Ergonomia. Estavam dadas as condições para a consolidação da Ergonomia no Brasil, ainda que restrita ao meio universitário. Neste processo há que se destacar o papel desenvolvido pelo CNAM – Conservatoire National des Arts et Métiers- em Paris, França, a partir da iniciativa do professor Franco Lo Presti Seminério, que implementa a vinda do professor Alain Wisner, diretor do CNAM, ao Brasil já no Seminário de 1974. O professor Wisner tornou-se um grande incentivador da Ergonomia brasileira e colaborou com os primeiros trabalhos de Ergonomia da FGV/RJ (Fundação Getúlio Vargas) em convênio com a COPPE, sobre a plantação de cana de açúcar, em Campos. Para o CNAM dirigiram-se vários brasileiros que buscavam uma formação mais avançada em Ergonomia, ao nível de doutoramento. Atualmente, os mais de vinte egressos do CNAM distribuem-se por vários estados e cidades brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre, Belo Horizonte e Brasília) em centros de ensino e de pesquisa. A partir daí, a formação e a pesquisa em Ergonomia se desenvolvem consideravelmente inclusive com a criação de várias oportunidades de mestrado e de doutoramento, na COPPE, na UFSC, na USP e mais recentemente na UFPb. No campo das publicações a Ergonomia lidera a produção acadêmica no design e é o segundo vetor da área de Engenharia de Produção. A fase de disseminação Com o crescimento da formação em quantidade e em qualidade da produção acadêmica na área, e das oportunidades de trabalho, atualmente a Ergonomia encontra-se em fase de ampla disseminação. No plano educacional, a Ergonomia se espraia para além da engenharia de produção e do design. Nessa nova onda, fisioterapeutas, administradores e outras formações de graduação buscam incluir a Ergonomia em seus conteúdos programáticos. Ainda no campo universitário, a Ergonomia teve um processo inicial de desenvolvimento no campo da pós- graduação de terceiro grau (especialização), com o curso de Ergonomia realizado pelo ISOP/FGV. Este trabalho pioneiro do Prof. Franco Seminério fora descontinuado em 1989, pelo governo federal, juntamente com aquela histórica entidade. O processo começa a retomar novamente a partir da USP, seguida pela PUC-RIO, UFRGS e pela COPPE/UFRJ, com uma incipiente tentativa da UFMG, que acabou descontinuada. Neste ano de 2000 se formaram especializações destinadas à formação prática – um total de oito existentes até o presente, com destaque a uma interessante iniciativa no campo da Ergonomia agrícola, pela Universidade Federal de Viçosa em parceria com a Fundação Educacional de Caratinga (MG). No plano público, o Ministério do Trabalho se apresenta como forte interlocutor em três momentos, ligados à atuação de sua Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalhador. Eterno foco de disputa interministerial, sobretudo com a área da saúde, esse segmento quase chega a ser absorvido pelo Ministério da Saúde nos anos 80. No entanto, a partir de 1991 é sancionada após o processo tripartite a nova redação da Norma Regulamentadora de número 17, que baliza a exigência normativa sobre a Ergonomia. Após sua edição, a norma passou um período de incubação social, onde o próprio corpo de auditoria fiscal do 7 atual Ministério do Trabalho e Emprego colocava reticências quanto a sua aplicabilidade enquanto instrumento de fiscalização. Com a combinação do avanço universitário da Ergonomia e a própria qualificação de quadros da auditoria fiscal em centros de excelência no Brasil e no exterior, o quadro evolui e a partir do ano de 2000 o Ministério prioriza a Ergonomia na Fiscalização e cria uma inédita Comissão de Ergonomia no Ministério. No plano de mercado, esse aspecto tem efeitos concretos e a demanda de Ergonomia aumenta a contar pelo crescimento considerável do número de licitações ocorridas, e pelo incremento significativo do número de acessos ao portal da ABERGO. Os congressos de Ergonomia dobram seu patamar histórico e hoje se situam numa faixa de quatrocentos participantes, com a chegada de várias empresas que passaram a integrar a feira do evento, até então inexistente. Para finalizar, é importante assinalar que várias empresas buscam profissionais de Ergonomia para atividades de consultoria e algumas já buscam delinear o cargo e as atribuições do ergonomista em seus organogramas. Atenta a isso, a ABERGO já exibe em seu portal (http://abergo.pep.ufrj.br) uma definição do cargo de ergonomista na empresa. Questões a) Quais foram as primeiras manifestações de aplicação de Ergonomia? b) Como se formou a Ergonomia Clássica? c) Considerando o caráter de multidisciplinaridade da Ergonomia cite algumas de suas disciplinas formadoras. d) Mencione os dois professores precursores da Ergonomia no Brasil.e) Na fase moderna da Ergonomia resuma os fato mais importantes. Referências Iida I. (1990) Ergonomia, Produto e Produção, Edgard Blucher, São Paulo, Karwowsky W. (1991) – Complexity, Fuzziness and Ergonomic Incompatibility Issues in the Control of Dynamic Work Environments, Ergonomics, 1991, 34 (6), 671-686. Másculo, F.S. (2008) – Ergonomia e Higiene e Segurança do Trabalho, em Introdução à Engenharia de Produção, Campus/Elsevier. Rio de Janeiro. Menezes, J.B. (2000) – A contribuição do Prof. Sergio Penna Khel à implantação da Ergonomia no Brasil. Palestra de abertura do X Congresso Brasileiro de Ergonomia. Moraes A. (1999) – Quando a primeira sociedade de Ergonomia faz 50 anos, a IEA chega aos 40, a Associação Brasileira de Ergonomia debuta com 16. Palestra de abertura do IX Congresso Brasileiro de Ergonomia, Salvador. Anais do Abergo ´99. Palmer, C. (1972) Ergonomia. FGV/RJ, Rio de Janeiro. Vidal M.C. (1991) – Os paradigmas em Ergonomia. Palestra central do I Encontro Paradigmas em Saúde do Trabalhador. DAMS/UFRJ. Texto completo disponibilizado em http:www.gente.ufrj.br. Vidal M.C. (1993 b ) – Os paradigmas em Ergonomia. In: Gontijo L.A. e Souza, R.J. Anais do II Congresso Latino-Americano de Ergonomia, ABERGO/FUNDACENTRO, Florianópolis, 1993, pp 137-139. Vidal M.C., Meirelles L.A., Másculo F.S. e Conte F.P. (1976) – Introdução à Ergonomia. AEPGP/PEP/COPPE. (mimeo.). Vidal, M.C. (2002) Ergonomia na Empresa-Útil, Prática e Aplicada, EVC, Rio de Janeiro, RJ. Wisner A. (1979) – Antropotecnologia: ferramenta de pesquisa ou charlatanismo? in Wisner A. (1979), Textos genéricos sobre Ergonomia 1966-1979. Laboratório de Ergonomia do CNAM, França. Wisner A. (1994) – L'organisation de l'entreprise et du travail lors des transferts de technologie. Texto original dedicado, LENET/CNAM, Paris. Wisner A. (1996) – Aspects psychologiques de l'Antropotechnologie. in: Le Travail Humain, Número spécial 1996.
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