Buscar

Resumo Direito no Brasil Colonial

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIREITO NO BRASIL COLONIAL 
1. INTRODUÇAO
O direito, no Brasil colonial, sofreu a mesma sorte da cultura em geral. Assim, “o direito como a cultura brasileira, em seu conjunto, não foi obra da evolução gradual e milenária de uma experiência grupal, como ocorre com o direito dos povos antigos, tais o grego, o assírio, o germânico, o celta e o eslavo”. A condição de colonizados fez com que tudo surgisse de forma imposta e não construída no dia-a-dia das relações sociais, no embate sadio e construtivo das posições e pensamentos divergentes, enfim, do jogo de forças entre os diversos segmentos formadores do conjunto social. Com a devida precaução, salvo exceções que confirmam a regra, foi uma vontade monolítica imposta que formou as bases culturais e jurídicas do Brasil colonial. A colonização foi um projeto totalizante, cujo objetivo era ocupar o novo chão, explorar os seus bens e submeter os nativos ao seu império pela força, sempre que necessário. O mesmo se deu com os negros, trazidos aqui na condição de escravos. A construção de uma cultura e identidade nacionais, por conseguinte, nunca foi uma empreitada levada a sério no Brasil. 
Os elementos formadores da cultura em geral, e do direito especificamente, no Brasil Colonial, tiveram origem em três etnias ou raças distintas. É evidente que essa formação não foi uma justaposição em que as condições particulares de cada raça tenham sido respeitadas. Antes, foi uma imposição dos padrões dos portugueses brancos aos índios e aos negros. 
Os indígenas, na formação da cultura em geral, tiveram a oportunidade de contribuir de forma razoável. O mesmo não ocorreu, infelizmente, quanto ao direito. As nações dos nativos que aqui habitavam, quando da chegada da colonização, viviam num período neolítico em que foi comum a confusão entre o direito e o divino, e os tabus e o misticismo eram formas de resolução para as questões jurídicas. Quanto aos negros, a sorte não foi diferente; a condição de escravos, ao serem arrancados de suas nações na África e jogados em senzalas, fez com que houvesse uma grande desintegração de suas raízes. Mesmo assim, apesar de todas essas diversidades, a cultura dos negros, seus costumes, suas crenças e tradições se fazem presentes, de forma razoável, em nossa identidade nacional. No que diz respeito, especificamente, ao direito, também foram eles mais objetos, coisas, do que sujeitos de direito.
Para a análise do direito no Brasil colonial e sua construção até os dias atuais, devemos atentar para o contexto histórico quanto ao processo de formação cultural, econômica, política e social, ou seja, todos os meios de produção que a sociedade brasileira desenvolveu e absorveu como fator que irá refletir no campo jurídico bem como na legislação nacional, contudo a construção cultural e a identidade própria resulta de um processo de miscigenação de etnias que por sua vez foi alvo de diretrizes no âmbito da formação jurídica,sendo a cultura do colonizador(português)prevalecendo sobre a do indígena e dos negros. Observado num primeiro momento a preponderância de imperialismo colonizador cuja finalidade era pautada na exploração de recursos naturais, imposição de cultura, costumes e ordenações jurídicas voltadas para satisfação de interesses próprios, isso era e foi de fato o nosso processo de formação que carrega características e vícios até os dias atuais,que ao longo do processo de mudanças de governo, que vai desde o período colonial até o republicano, ganharam apenas faces diferentes, entretanto o sistema jurídico sempre esteve atrelado e manipulado por aqueles que estiveram no poder.
Frase literária de Alfredo Bosi, retrato social no Brasil colônia:
(...) povos de origem tribal em diferentes estágios culturais, todos eles beirando, porém, o neolítico, despossuídos por completo de uma regulamentação realmente jurídica, mas antes dominados ainda pelo império da norma indiferenciada de cunho sagrado. Era, pois, o direito português que deveria construir a base de nosso direito nacional sem maiores competições. Também no âmbito jurídico temos aqui mais uma ocupação do que uma conquista. [Grifos nossos]
2. O DIREITO PRIMITIVO
 Os povos de origem tribal que habitavam no Brasil, viviam no período neolítico, confundindo o direito e o divino. Os tabus e o misticismo eram formas de resolução para as questões jurídicas dos índios. Viviam em diferentes estágios culturais não possuindo uma regulamentação jurídica, as normas existentes eram de cunho sagrado.
 Segundo o jurista Silvio A. Basto, organização tribal é de pouco interesse, pois o estudo das instituições posteriores, a investigação das estruturas jurídicas indígenas, sem nenhuma repercussão no direito colonial. O Português impôs as novas gentes o seu direito. Transferiu com sangue os costumes, as leis e as configurações jurídicas.
 Apesar de escassas as contribuições cientificas, quanto o aspecto jurídico, cabe, no entanto, apresentar um resumo do que se tem feito até hoje no sentido de exumar das sombras do passado aquilo que convencionou chamar “o direito primitivo dos selvagens”.
 Pode falar-se em “direito selvagens”? Os índios não realizaram práticas jurídicas capazes de repercutir na legislação posterior. Talvez seja preferível a expressão “instituições primitivas”, como fez o escritor Francês Ernest Glazon: “Lês instituições primitives du Brésil”.
 Estudo Interessante, que cabe citar, é o de Rodrigo Otávio, intitulado “Os Selvagens Americanos perante o direito”, em que dedica capitulo ao “Direito Primitivo dos Selvagens”.
 A primeira observação de Rodrigo Otávio, segundo a esteira de Glazon, é quanto ao comando das tribos, se os selvagens tiveram um “Rei”, possuíam sem duvida, um chefe, que chamavam “Morubixata”, geralmente o mais forte, o mais capaz e hábil.
 Quanto á existência ou não de leis entre os índios chegavam-se á conclusão de que nas relações entre indivíduos da mesma tribo ou entre as próprias tribos, havia “princípios rígidos e imperiosos de direito” e “costumes inveterados de natureza jurídica”.
 Organização Jurídica: segundo escritores, seguindo a trilha dos escritores observou a família indígena e sua configuração.
- Na linguagem Tupi havia a palavra que se aplicava ao casamento: Mandacaba
- O ato de contrair matrimônio se chamava jemomendar, era uma união estável.
- Existiam graus de parentesco: pais, avôs, tios, sobrinhos, netos, sogro, sogra, o que revela o sentido do parentesco natural civil.
 Alguns Etnógrafos e sociológicas que referem casos de matriarcado cremos ter preponderante, nas tribos brasileiras, a ascendência paterna. O adultério era fortemente condenado e punido, com seriedade.
 Alguns autores referem-se que tribos como os índios Chambioás, teriam por hábito queimar as mulheres adúlteras. (a pratica da fogueira).
 Sob o aspecto criminal puniam severamente o homicídio. A pena de morte se aplicava como “a vingança de sangue”, quer pela tribo, coletivamente, quer por um representante da vitima, caraima, numa espécie de talião
 Os direitos indígena foram aniquilados nessa época, prevalecendo o Direito da Metrópole. Nesse sentido, aliás, eles somente foram reconquistados com a Constituição Federal de 1988.
 
A história da evolução do Direito no Brasil pode ser dividida em dois grandes e distintos momentos, o primeiro quando inexistentes os elementos formadores do Estado Brasileiro, sendo este uma colônia de Portugal , e tendo todo o seu ordenamento jurídico importado da metrópole lusitana, e o segundo momento que ocorre a partir da libertação do jugo de Portugal, culminando em liberdade jurídica e política do Brasil que passa a produzir suas próprias leis.
Neste trabalho, nos detivemos em estudar o primeiro momento, o surgimento do Direito no Brasil Colônia, para tanto analisamos um documento histórico que nos possibilitarácompreender como se deu esta construção em sua origem.
O processo de construção do Direito está intimamente relacionado com a questão do poder exercido não somente pelo povo diretamente através de suas lutas históricas na busca da melhoria de condições de vida, mas também pelo Estado como representante deste mesmo povo, pelo menos em tese, pois, como adverte Foucalt, “o poder não é uma substância, algo que se detém, mas uma relação. Trata-se de uma prática social e, como tal, constituída historicamente”.
Da mesma forma, o Direito é constituído historicamente em consonância com a evolução da sociedade, em contrapartida, o Direito no Brasil colônia não se deu como resultado do processo de evolução das relações entre os nativos, mas sim configurou como um sistema de regras impostas pelo colonizador, como afirma Wolkmer.
De certo, quando chegaram no Brasil, os portugueses não se depararam com uma regulamentação jurídica instituída de forma escrita, mas não podemos dizer que os índios que aqui viviam eram desprovidos de relação jurídica a ponto de sua história ser desconsiderada na criação de uma legislação que iria reger todas as suas relações vindouras.
O surgimento de uma estrutura jurídica no Brasil Colônia configura-se não como uma conquista do povo brasileiro (índio), mas, como uma conquista dos portugueses que criaram um cenário político, cultural, econômico e jurídico ideal às suas convenções.
Este processo de conquista pelos portugueses iniciou-se em seu primeiro contato com os índios, como veremos no trecho a seguir retirado da carta de Pero Vaz de Caminha ao então Rei de Portugal D. Manuel I.
Uma breve excursão pela história do desenvolvimento da justiça brasileira:
Quando Martim Afonso de Sousa desembarcou no Brasil, em 1530, com a primeira expedição colonizadora, veio com amplos poderes, incluindo os judiciais e policiais. A instalação, com Tomé de Sousa, de um Governo-Geral no Brasil, em 1549, foi o marco inicial da estruturação do Judiciário brasileiro.
A fim de consolidar o domínio português no litoral, a 7 de Janeiro de 1549 Tomé de Sousa foi nomeado como primeiro governador-geral do Brasil, recebendo Regimento para fundar, povoar e fortificar a cidade de Salvador, na capitania real da Bahia.
Na Bahia, surgiu a figura dos juízes do povo, eleitos pela população local, que perdurou de 1644 até 1713. Outra figura com jurisdição restrita era a dos almotacés, que julgavam as causas relativas a obras e construções, cabendo de sua decisão recurso para os ouvidores da comarca (extintos por Lei de 26 de agosto de 1830).
Em cada comarca, o corregedor passou a ser a autoridade judiciária superior sobre ouvidores e demais juízes. No entanto, esse sistema monocrático de estruturação judiciária demonstrou seu ponto fraco no abuso de poder com que se administrava a Justiça em muitas capitanias e na própria sede do governo-geral.
4. FATORES QUE CONTRIBUIRAM PARA A FORMAÇÃO/IMPOSIÇÃO DO DIREITO NACIONAL (Walter Vieira do Nascimento)
O prestígio e influência da Igreja se vêem, entre outras coisas, no fato de o Brasil já estar incorporado legalmente (por decisão do Papa) a Portugal antes mesmo de ser descoberto. A partir de 1500, ao longo de 3 séculos, não se fala de direito brasileiro. O direito no Brasil veio do descobridor.
Como não havia uma política de colonização racional e eficiente, nos primórdios do descobrimento o Brasil não havia um aspecto legal de organização, mas apenas algumas precárias feitorias. A Bula de 1506 – Papa Júlio II – confirma os direitos de Portugal sobre as terras do Brasil. Tomé de Souza implantou as bases de um governo capaz de possibilitar uma unidade garantidora de posse efetiva de Portugal sobre as terras do Brasil.
Notamos assim que “O contato cultural” torna-se um fator da IMPOSIÇÃO DO DIREITO neste momento, haja vista que, por trás de uma missão de evangelização, nada mais foi que uma colonização exploradora e marcada de interesses (enriquecimento) (grifo nosso). Normas elencadas, escritas, impositivas e organizadas demonstrando superioridade e domínio pelo país colonizador (grifo nosso
4.3 Libertação Econômica
Fatores que principiam a formação do caráter do direito nacional:
- Revogação das leis que proibiam qualquer espécie de atividade industrial no Brasil (Só queriam retirar do Brasil a matéria prima);
- Isenção tributária sobre matéria-prima importada para a indústria;
- Liberdade completa de exportação;
- Fundação do Banco do Brasil.
A política implantada por D. João VI atendeu mais ao favorecimento de um intercâmbio com a Inglaterra.
A Carta-Régia de 1808 é a nossa primeira carta de alforria econômica (fator de formação do direito), o título primitivo da nossa emancipação comercial – a entrada de navios de todas as nações amigas em portos brasileiros e a saída dos nossos para portos estrangeiros.
5 FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A FORMAÇÃO/IMPOSIÇÃO DO DIREITO NACIONAL (Cláudio Valentim Cristiani)
CRISTIANI, expõe como foi feita a implementação do “direito” após a chegada dos portugueses:
“Pelos portugueses colonizadores o Brasil nunca foi visto como uma verdadeira nação, mas sim como uma empresa temporária, uma aventura, em que o enriquecimento rápido, o triunfo e o sucesso eram objetivos principais”.
“(...) A condição de colonizados fez com que tudo surgisse de forma imposta e não construída no dia-a-dia das relações sociais”.
São mostradas algumas características desse direito primitivo:
“A primeira grande fase desse período foi marcada pelas leis de caráter geral e pelos forais... Buscavam, essas leis de força nacional, a centralização do poder nas mãos da monarquia”.
“Mesmo com leis de validade nacional, havia questões locais que eram normalizadas e tinham soluções no seu próprio âmbito (feudo). Daí a instituição dos forais, que se mostravam como verdadeiras miniaturas de constituições políticas durante a Idade Média”.
“A fase em que houve a aplicação dos forais corresponde ao início da colonização (...)
Expõe-se o funcionamento das três ordenações que vigoraram no Brasil Colonial:
“As leis gerais, salvo casos particulares, eram consideradas vigentes no Brasil-Colônia e seu ajustamento fez surgir três grandes ordenações, a saber: Ordenações Afonsinas, Ordenações Manuelinas e Ordenações Filipinas”.
Depois da era das Capitanias Hereditárias, o Direito na época do Governo-geral:
“Com a adoção do Governo-geral, os poderes locais foram diminuídos e houve, conseqüentemente, uma centralização das decisões, inclusive com maiores possibilidades de recursos para pleitear-se reforma das decisões”.
“Sucintamente, pode-se dizer que a administração da Justiça, na primeira instância, era realizada por diversos operadores jurídicos cujas competências, muitas vezes, eram similares ou muito próximas”.
Sobre as autoridades eleitas pela Coroa Portuguesa para exercer a atividade jurista no Brasil Colonial:
“Certamente, a Metrópole, para garantir o seu domínio, tratou de enviar à Colônia um corpo burocrático de agentes públicos... Portugal pretendeu formar uma burocracia profissionalizada na Colônia a fim de proteger os seus interesses e sufocar as pretensões locais”.
“A formação e organização do Poder Judiciário, na esteira do que ocorreu com o governo em geral, deu-se, na Colônia, por meio da burocracia e das relações pessoais de parentescos... À elite local era extremamente conveniente a união com o corpo burocratizado de operadores jurídicos”.
“Como a aristocracia brasileira era formada pela riqueza em terras, logo os magistrados tornaram-se proprietários de uma fazenda de cana-de-açúcar ou de um engenho, com isso alcançando a riqueza necessária para se igualarem ao status da nobreza”.
“Pode-se dizer que os magistrados de então não eram pessoas afastadas dos interesses da elite dominante, antes dela faziam parte”.
6.2 OS OPERADORES JURIDICOS E A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA
	A administração da justiça, no período das capitanias hereditárias, estavaentregue aos senhores donatários, que exerciam as funções de administradores, chefes militares e juízes.
	A primeira autoridade da justiça colonial foi o cargo particular de ouvidor (que acabou se tornando o cargo mais importante durante a segunda fase da colonização), que se renovava no período de 3 anos.
	O crescimento das cidades e da população aumentou os conflitos, determinando o alagamento do quadro de funcionários e autoridades da justiça.
	O primeiro Tribunal da Relação, criado em 1587 para atuar na colônia, não chegou a entrar em funcionamento, sendo criado um segundo Tribunal da Relação, oficializado para ocorrer na Bahia.
	Com o funcionamento do Tribunal de Relação no Brasil, consolidou-se uma forma de administração da justiça não mais efetuada pelo ouvidor-geral, mas centrada na burocracia de funcionários civis preparados e treinados na metrópole.
	A carreira de magistrado estava inserida na rigidez de um sistema burocrático que delineava a circulação e a prestação de serviços na metrópole e nas colônias.
	O acesso a magistratura impunha certos procedimentos de triagem, com critérios de seleção baseados na origem.
	Para ingressar na carreira a condição indispensável era ser graduado na Universidade de Coimbra, de preferência em Direito Civil ou Canônico.
	O prazo para o juiz ficar no Brasil era de 6 anos.
	O magistrado além das funções de natureza judicial acumulava-as com outras, como o Ministério Público e as atividades políticas e administrativas que o tornavam de fato um membro do Governo Colonial.
	A administração da justiça atuou sempre como instrumento de dominação colonial.
	Havia a influência da igreja católica à época, e a presença da justiça eclesiástica.
	A especificidade da estrutura colonial da justiça favoreceu um cenário institucional que inviabilizou, desde seus primórdios, o pleno exercício da cidadania participativa e de práticas políticas legais descentralizadas, próprias de sociedade democrática e pluralistas.
	Conclui-se finalmente que, a legalidade colonial brasileira excluiu o pluralismo jurídico nativo, reproduzindo as necessidades da metrópole mercantilista, com uma justiça colonial de tradição centralizada e formalista visando aos interesses elitistas.
7. AS LEIS GERAIS E AS PRINCIPAIS ORDENAÇÕES
Através do reinado de Afonso II, após o ano de 1210, com a independência de Portugal das dinastias espanholas, dando-se início ao período nacional do direito português, fase marcada pela institucionalização de leis de caráter nacional, que foram, as leis gerais, decretadas para todo o território lusitano, passando a prevalecer a força da lei nacional, um sistema que passou a se manifestar por um cunho de administração centralizada, que se à medida que o governo português se afirmava como reino forte e poderoso. As leis gerais visavam à centralização do poder nas mãos da monarquia, e nessa mesma fase, instalaram-se as cortes em Portugal, como uma decorrência do próprio fato de que as leis gerais eram a elas submetidas para discussão e votação, tais cortes constituíam órgãos com funções legislativas, quando ouvidas nas deliberações de ordem geral, tinha muitas vezes um papel de órgão antes consultivo do que deliberativo, se assemelhando à alguns modernos parlamentos políticos ou corporativos nos tempos atuais. No início as cortes eram compostas por representantes da nobreza e do clero, passando mais tarde a ser apresentar também representantes do povo.
Foram diversos acontecimentos que marcaram a evolução do Direito lusitano, onde rei D. Dinis (1279 – 1325), que ai assumir o trono, e por ser homem de visão e dado as letra, empenhou-se em incentivar a economia e a cultura em Portugal, desenvolvendo assim no seu governo as ciências jurídicas. Foram dois os acontecimentos que marcaram essa evolução jurídica.
O primeiro foi realizada a tradução e aplicação no território português, as leis das Sete Partidas, promulgada por Afonso X da Espanha em 1263, uma lei baseada no direito romano e no direito canônico.
O segundo acontecimento foi a fundação da Universidade de Coimbra, que como currículo constava o ensino dos dois citados direitos.
Com os incentivos de rei, houve uma penetração maior do Direito romano nos usos e praxes, chamando-se assim de foro lusitano. O mesmo pode dizer do direito canônico que teve maior incidência a partir da leis geais no ano de 1210, sendo certo que por volta de 1361, o clero reclamava contra a justiça régia por entender que vinha tendo mais preferência a aplicação da Lei das Sete Partidas em desfavor da igreja. Dentre tantos acontecimentos, deveram-se também a D. Dinis algumas providências de caráter processual como: a separação da jurisdição militar da jurisdição civil; a aplicação de novas normas na administração da justiça através da Lei das Portarias; a regularização do direito de apelar diretamente para o rei.
Todos esses acontecimentos jurídicos foram impostos ao Brasil por se colônia, nossas leis não foram surgindo gradativamente, no dia-a-dia das relações sociais, as leis eram totalitárias, monolíticas, impostas nas colônia com o único objetivo, de ocupar a nova terra e explorar seus bens.
	8. A ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL COLÔNIA
Com a chegada da corte real ao Brasil, vieram, também, os juízes, que eram chamados de ouvidores do cível e ouvidores do crime (o nome variava conforme a especialidade que julgavam). Estes juízes formaram o que denominou-se Casa da Justiça da Corte. Além das Ordenações, as fontes normativas utilizadas pelo judiciário da época eram: 
- “Lex Romana Wisigothorum – direito comum dos povos germânicos; Privilégios – direitos assegurados aos nobres pelos reis; Existiram de 1644 até 1713. Foram extintos por Lei de 26 de agosto de 1830.
- Forais: leis particulares locais, asseguradas pelos reis.”
Com a expansão do reino pela reconquista do território da península ibérica aos mouros, e a uniformização das normas legais, consolidadas nas Ordenações do Reino (Afonsinas de 1480, Manoelinas de 1520 e Filipinas de 1603), foram surgindo outras figuras para exercerem a função judicante e aplicarem as diversas formas normativas:
- Juízes da Terra (ou juízes ordinários) – eleitos pela comunidade, não sendo letrados, que apreciavam as causas em que se aplicavam os forais, isto é, o direito local, e cuja jurisdição era simbolizada pelo bastão vermelho que empunhavam (2 por cidade).
- Juízes de Fora (figura criada em 1352) – nomeados pelo rei dentre bacharéis letrados, com a finalidade de serem o suporte do rei nas localidades, garantindo a aplicação das ordenações gerais do Reino.
- Juízes de Órfãos – com a função de serem guardiões dos órfãos e das heranças, solucionando as questões sucessórias a eles ligados.
- Provedores – colocados acima dos juízes de órfãos, para o cuidado geral dos órfãos, instituições de caridade (hospitais e irmandades) e legitimação de testamentos (feitos, naquela época, verbalmente, o que gerava muitos problemas).
- Corregedores – nomeados pelo rei, com função primordialmente investigatória e recursal, inspecionando, em visitas às cidades e vilas que integravam sua comarca, como se dava a administração da Justiça, julgando as causas em que os próprios juízes estivessem implicados.
- Desembargadores - magistrados de 2ª instância, que apreciavam as apelações e os recursos de suplicação (para obter a clemência real). Recebiam tal nome porque despachavam ("desembargavam") diretamente com o rei as petições formuladas pelos particulares em questões de graça e de justiça, preparando e executando as decisões régias. Aos poucos, os reis foram lhes conferindo autoridade para tomar, em seu nome, as decisões sobre tais matérias, passando a constituir o Desembargo do Paço.
A Casa da Justiça da Corte passou, então, a se chamar Casa da Suplicação, mudando também sua função, constituindo-se um tribunal de apelação. A Casa da Suplicação era formada por duas mesas, uma civil (do Civil) e uma criminal (do Crime), tambémconhecida como “casinha” e formalmente chamada de Desembargo do Paço (julgava as apelações criminais onde a pena imputada fosse a pena de morte, podendo ser agraciada, ou não, com a concessão da clemência real.
Em 1521 o Desembargo do Paço transformou-se em corte independente e especial.
Em 1532 foi criada a Mesa de Consciência e Ordens para resolver os casos jurídicos e administrativos que contavam com foro privilegiado, que eram os que referiam-se às ordens militar-religiosas: Ordem de Cristo, Ordem de Avis e Ordem de Santiago. Com o tempo a Mesa de Consciência e Ordens excedeu suas funções e passou a julgar as causas eclesiásticas que envolviam os clérigos do reino.
Com a instituição dos Tribunais de Relação8 como cortes de 2ª instância, a Casa da Suplicação passou a ser a Corte Suprema para Portugal e as Colônias. “Assim, a Casa da Suplicação passou a ser o intérprete máximo do direito português, constituindo suas decisões assentos que deveriam ser acolhidos pelas instâncias inferiores como jurisprudência vinculante.” O Corregedor ou o Provedor é quem decidia o que podia ser considerado como instância última (a indicação das instâncias recursais variava pelo valor da causa) e, conforme o valor, a apelação poderia ser direta para o Tribunal de Relação.
“Essa é a origem do instituto da alçada como limite valorativo para revisão de determinada decisão.”
8.1 PRIMEIROS TRIBUNAIS NO BRASIL COLÔNIA
Em 1587, Filipe II criou um Tribunal de Relação no Brasil: o Tribunal de Relação da Bahia. Com a criação desse órgão colegiado, houve um declínio nos poderes dos ouvidores. Sob pressão dos Governadores-Gerais (que controlavam os ouvidores), o tribunal de Relação da Bahia foi extinto em 1626, voltando a ser reinstalado em 1652, desta vez como Corte Superior Brasileira. Em 1734 foi criado o Tribunal de Relação do Rio de Janeiro (para desafogar o excesso de processos que comprometiam o bom funcionamento do Tribunal de Relação da Bahia).
É de se notar – e impossível deixar que passe despercebido aos olhos mais atentos – que a burocracia está no âmago da Justiça brasileira desde o seu nascimento, desde a sua criação. O sistema judicial e o sistema jurídico (com diferenças entre ambos, no que tange à semântica) herdaram uma estruturação altamente burocrática e, talvez, por isso, devido aos vários postos e cargos que engendram a máquina judiciária – no passado e hodiernamente – temos uma Justiça arcaica e lenta. Também não podemos deixar de frisar o papel que o sistema jurídico teve nos primeiros séculos, onde serviu tão somente como instrumento de manutenção do poder imperial português; onde não havia uma justiça plena e igualitária como a “conhecemos” nos dias modernos (ou pelos menos como pretendemos que ela seja).
Segundo Wolkmer, durante o período colonial, os bacharéis brasileiros eram preparados e treinados para servir aos interesses da administração colonial. A arrogância profissional, o isolamento elitista e a própria acumulação do trabalho desses magistrados (...) motivaram as forças liberais para desencadear a luta por reformas institucionais, sobretudo, para alguns, no âmbito do sistema de justiça.
Não atentemos somente às críticas negativas, pois também é louvável a evolução que o sistema judicial brasileiro experimentou neste período, com uma estrutura complexa (um sinal positivo, por que não?), pois é na complexidade que as várias formas de pensar se encontram e interagem, formando – ou ao menos tentando formar – e experimentando, um Direito moderno e evolutivo por natureza.
9. PODER JUDICIÁRIO: DA COLONIZAÇÃO A ATUALIDADE- DAS CRÍTICAS ÁS SOLUÇÕES
9.1 O Período Colonial
9.1.1 Cidadania inexistente
Durante o período da colonização brasileira os portugueses construíram um país dotado de unidade territorial e cultural. Entretanto, forjaram também uma sociedade escravocrata, uma economia baseada na monocultura e no latifúndio e uma população essencialmente analfabeta sendo tudo isso fruto de um Estado absolutista opressor. 
 Nesse quadro brevemente descrito, falar de cidadão brasileiro é algo difícil, uma vez que, na verdade, ele não existia. A própria estrutura social, política, econômica e cultural do período impediam a evolução do conceito de cidadania na colônia portuguesa.
 A grande massa de escravos não tinha praticamente nenhum direito, estando reduzida a uma aviltante condição de propriedade. Na verdade, “os escravos não eram cidadãos, não tinham os direitos civis básicos à integridade física (podiam ser espancados), à liberdade e, em casos extremos, à própria vida, já que a lei os considerava propriedade do senhor, equiparando-os a animais” (CARVALHO, 2002, p. 21).
 A população livre também não podia ser qualificada como sendo constituída de cidadãos, pois, além de ser em sua maioria esmagadora analfabeta, vivia em total dependência dos senhores locais, à mercê de interesses e ambições pessoais desses.
          Se escravos e população livre não podiam ser considerados cidadãos, os senhores também não o eram, pois não passavam de homens ricos que absorviam parte das funções do Estado, inclusive as judiciais. “Eram, sem dúvida, livres, votavam e eram votados nas eleições municipais. Eram os ‘homens bons’ do período colonial. Faltava-lhes, no entanto, o próprio sentido da cidadania, a noção de igualdade de todos perante a lei” (CARVALHO, 2002, p. 21).
           Disso tudo se depreende que colonização e cidadania eram idéias absolutamente incompatíveis, opostas, inconciliáveis pela sua própria natureza. Onde prevalece uma a outra não viceja, pois os direitos civis beneficiavam poucos, os direitos políticos menos ainda e os direitos sociais sequer figuravam como sendo obrigação do Estado, além do que não existia um senso de nacionalidade presente nessa população.
           Dessa forma, falar de relação entre Poder Judiciário e cidadão no período colonial é falar de um grande número de órgãos de poder decisório sem transparente definição de competências e de uma sociedade escravocrata composta em sua maioria de excluídos (escravos, mulheres e homens livres não proprietários) e de uns poucos aptos a terem acesso a essa incipiente estrutura de poder, ainda assim sem a verdadeira noção de cidadania.
9.1.2 O CONCEITO DE ACESSO À JUSTIÇA
O direito de acesso à Justiça pode ser identificado como sendo um tema de fundamental importância em um país como o Brasil alicerçado em profundas desigualdades sociais. Tais desigualdades por não serem objeto de efetiva preocupação dos governantes competentes para a solução deste problema, deságuam muitas vezes no Judiciário e daí a necessidade constante de implementação deste direito e o aperfeiçoamento de seus mecanismos de efetivação. 
O conceito de acesso à justiça e os instrumentos que possibilitam sua efetivação são relativamente novos a história do Brasil. Datam, sobretudo, das últimas décadas do século XX. Entretanto, faz-se necessário um retorno ao passado para melhor compreender a evolução dos diversos aspectos que o informam.
Pode-se dizer que desde a chegada dos Portugueses ao Brasil até o final do século XVIII e início do século XIX, muito pouco ou quase nada se falou sobre o acesso à justiça no ordenamento jurídico luso-brasileiro. Identifica-se algo muito rudimentar, por exemplo, nas chamadas Ordenações Filipinas. 
 As ordenações não supriram todas as necessidades da Colônia tornou-se então obrigatório a promulgação avulsa e independente de várias “Leis Extravagantes” versando sobre tudo, sobre matérias comerciais (letra de câmbio, seguros, câmbio marítimo).
 A partir do século XVIII, com as reformas pombalinas, a grande mudança em matéria legislativa foi a “LEI DA BOA RAZÃO (1769) que definia regras centralizadoras e uniformes para a interpretação e aplicação das leis, no caso de omissão, imprecisão ou lacuna. A Lei da Boa Razão minimizava a autoridade do direito romano da glossa e dos arestos, dando “preferência e dignidadeàs leis patriarcais é só recorrendo àquele direito, subsidiariamente, se estivesse de acordo com o direito natural e as leis das nações Cristãs iluminadas e polidas, se em boa razão fossem fundadas”.
 Não resta dúvida de que o principal escopo dessa legislação era beneficiar, favorecer e defender os intentos políticos e econômicos da Metrópole. A experiência político-jurídica colonial reforçou uma realidade que se repetiria constantemente na história do Brasil: a dissociação entre a elite governante e a imensa massa da população. O governo português ultramar evidenciava pouca atenção na aplicação da legislação no interior do vasto espaço territorial, pois seu interesse maior era criar regras para assegurar o pagamento dos impostos e tributos aduaneiros, bem como estabelecer um ordenamento penal rigoroso para precaver-se de ameaças diretas a sua dominação.
 O modelo jurídico predominante durante os primeiros dois séculos de colonização foi, por conseqüência, marcado pelos princípios e pelas diretrizes do Direito Alienígena-segregador e discricionário com relação á própria população nativa- revelando, mais do que nunca as intenções e o comprometimento da estrutura elitista do poder.
 Os magistrados partiam de Portugal a fim de ocuparem os postos no Poder Judiciário local. Burocratas que eram, tinham por finalidades representar os interesses da Metrópole e não as aspirações locais.
 Os magistrados, em regra geral, não eram integrantes da nobreza: seu principal objetivo era chegar á nobreza. Eles vinham para a Colônia com o intuito de obter um status social elevado e para isto estavam dispostos a tudo para conseguir e garantir privilégios para si e para os seus. Revelavam lealdade e obediência enquanto integrantes da justiça criada e imposta pela coroa, o que explica sua posição e seu poder em relação aos interesses reais, resultando em benefícios nas futuras promoções e recompensas. Na verdade a magistratura lusa, de cujo núcleo nasceu à brasileira, ainda que tenha de estrutura burocrática, adquirira condição de organização moderna e profissional, habilitando-se a tarefas de natureza política e administrativa.
 Atualmente, no Brasil, apesar dos juízes estarem mais presos aos limites das leis, pois nosso direito é estritamente positivista e dogmático,  temos notado que muitos membros do poder judiciário já estão despontando em decisões de caráter moderno e social, sem que isso signifique a perda da imparcialidade ou desrespeito às leis; e isso é muito salutar. Inclusive muitos juízes têm participado de tratados e convenções internacionais. 
     O judiciário deve acompanhar a tendência mundial de atualização da justiça, pois assim mostrar-se-á com a mentalidade mais aberta e preparada para julgar casos que reclamem uma nova visão:  a visão da modernidade. As decisões têm que observar, além dos dispositivos legais, a aplicação dos princípios mais modernos discutidos e adotados em caráter planetário, interpretando as leis levando-se em conta a sua atualização e adaptação às questões atuais.  Além disso, os juízes devem participar mais da sociedade, sem que com isso implique em comprometimento, pois há inúmeras formas de participação social. Participar não é sinônimo de comprometimento e nem de indiscrição, além do que fornecerá a ele maior  e direto conhecimento dos anseios dos diversos segmentos da sociedade, o que só o ajudará a fazer uma justiça mais adequada aos parâmetros sociais.
10. CONCLUSÃO
É bem verdade que o Brasil Colonial nunca foi visto como uma nação, mas sim como uma terra de exploração de mão de obra e de bens, era visto como uma terra de enriquecimento rápido. Com isso, o direito no Brasil acabou surgindo de forma imposta pelos colonizadores e não algo construído com dia-dia das relações sociais.
Os magistrados vinham de Portugal com a intenção de ocupar os postos no poder judiciário no Brasil Colônia e tinham por finalidade os interesses da metrópole e não os interesses locais. 
O modelo jurídico predominante no período da colonização foi, por conseqüência, marcado pelos princípios e diretrizes do Direito Alienígena, que revelava, mais do que nunca, as intenções e o comprometimento da estrutura elitista do poder. Encontrava-se no Brasil Colônia, uma elite local com esquemas formados de corrupção e manutenção do status quo e, também, magistrados dispostos a tudo para garantir os próprios privilégios. Magistrados estes escolhidos através de um sistema de cooptação. Contudo, a imparcialidade e a neutralidade estavam sempre comprometidas devido a prática vigente de troca de favores e o tráfico de influências. 
Desde o início da colonização usou-se no Brasil as leis e instituições portuguesas e uma das principais características das imposições da época foram as leis de caráter geral e os forais. Buscavam, essas leis de força nacional, a centralização do poder nas mãos da monarquia. Nesse período histórico, não existia uma burocratização quanto aos procedimentos, pois concentrava-se em uma só pessoa o poder de legislar, julgar e acusar. É importante esclarecer que as crenças e valores trazidos pelos brancos colonizadores predominaram na formação cultural brasileira, bem como o Direito português que imperava de forma soberana na época. Logo desde o início se percebe o interesse do direito nacional, não como um bem para a coletividade e sim para benefício de poucos. E essa herança histórica, influenciou consideravelmente o modelo jurídico atual, o que não exclui a possibilidade de se pensar num direito dinâmico renovado que aponte para efetivas transformações, ou seja, não podemos dizer que não existem operadores jurídicos comprometidos com a justiça, pois estes, antes que juízes, promotores, advogados são verdadeiros cidadãos
BRASIL IMPÉRIO A REPÚBLICA 
A principal característica do Estado no Brasil tem sido a de antecipar-se aos grupos e classes sociais na determinação de nossa história. Esta é rica em exemplos que confirmam que todas as modificações político-econômicas e a incorporação de direitos básicos à ordem jurídica foram efetivadas sempre levando em conta a necessidade de introduzir estruturas modernas, mas com a preservação do antigo modelo de dominação, através da construção de alianças entre as novas e as antigas classes proprietárias, ocasionando a conseqüente exclusão da maioria da população do processo político decisório e da definição dos parâmetros necessários para o desenvolvimento da sociedade e do bem-estar público.
Os padrões de dominação dos períodos anteriores sempre foram absorvidos pela elite insurgente, havendo uma conciliação entre a velha e a nova elite, para que fosse possível a convivência, mesmo que circunstancial, dos dois modelos sem a necessidade de destruição do antigo padrão de dominação. Assim, a incorporação de direitos, as modificações econômicas e políticas realizadas no país sempre foram introduzidas pelo Estado, de cima para baixo, com o atendimento dos interesses das classes emergentes, dando origem ao processo que se denomina de "modernização conservadora" [01]. Então, quando se analisa os principais acontecimentos políticos de nossa história, desde a Independência do Brasil até a implantação da Nova República, vê-se uma constante: a conciliação entre os velhos donos do poder e os setores sociais emergentes sob a condução do bastão estatal, transformando pouca coisa para que tudo permaneça como está no poder. Isto, sem dúvida, impediu a formação de uma sociedade democrática com traços nacionais mais sólidos, impossibilitando a realização do direito ao exercício da cidadania democrática para amplos setores da população brasileira.
�
EVOLUÇÃO HISTÓRICO-POLÍTICA
O estatismo autoritário brasileiro tem suas raízes no "arcaísmo da dominação de tipo oligárquico-patrimonial, herdado da estrutura colonial portuguesa, aliado ao artificialismo da introdução da ideologia liberal" [02] em nosso país. Nesse sentido, o formalismo, o artificialismo das leis e a concepção tutelar do poder encontramsua razão histórica no modo peculiar com que foi introduzida pelos portugueses a democracia no Brasil. A dominação ibérica trouxe traços distintivos caracterizadores do processo evolutivo da formação do Estado brasileiro. Sobre essa dominação, o prestigiado intérprete da formação da sociedade brasileira, Sérgio Buarque de Holanda, diz o seguinte: "O que principalmente a distingue é, isto sim, certa incapacidade, que se diria congênita, de fazer prevalecer qualquer forma de orientação impessoal e mecânica sobre as relações de caráter orgânico e comunal, como o são as que se fundam no parentesco, na vizinhança e na amizade" [03].
Dessa forma, as estruturas de poder no Brasil foram consolidadas e representadas, e de certa forma ainda são, sobre valores e práticas ínsitas ao processo de formação do Estado brasileiro. Citando mais uma vez Sérgio Buarque, este, em uma precisa interpretação, entende que os valores de organização social trazida pelos portugueses foram representativas das estruturas de poder aqui fundadas, eis o que diz o historiador sobre os valores enaltecidos na estruturação da sociedade e do Estado: "o peculiar da vida brasileira parece ter sido uma acentuação singularmente enérgica do afetivo, do irracional, do passional, e uma estagnação ou antes uma atrofia correspondente das qualidades ordenadoras, disciplinadoras, racionalizadoras" [04].
Em nosso país houve apenas uma adaptação dos princípios e instituições democráticas, porém com a continuidade dos interesses e privilégios dominantes de modo a garantir o predomínio quase absoluto das elites (agrárias, industriais e burocráticas), de outra parte, tratou-se de generalizar a idéia autoritária e elitista que considera o povo como imaturo e despreparado para o exercício da democracia e, portanto, para organizar a sociedade e o Estado. Isso evidencia a "imaturidade do Brasil escravocrata para transformações que lhe alterassem profundamente a fisionomia" [05].
Tal idéia disseminadora e perpetuante do preconceito contra os pobres, mestiços e negros, verificou-se no início da República, com uma dura decisão política denegatória da condição de cidadania, ao serem substituídos, como força de trabalho, por imigrantes. Nada mais comum que a elite, transportada de súbito para as cidades, carregasse consigo a mentalidade, os preconceitos, e o teor de vida que tinham sido atributos específicos de sua primitiva condição.
A República, assim, surge mantendo os mesmos padrões de dominação, embora tenha modificado as estruturas de poder. Nada mais representativo de um movimento que se iniciou restrito a determinados grupos de interesse, sendo quase nula a participação popular.
A Constituição da primeira República tinha um fundo puramente liberal, garantiu e enunciou as clássicas liberdades privadas, civis e políticas, silenciando sobre a proteção ao trabalhador.
Ainda na República, quanto ao novo modelo eleitoral, embora deixe de ter por base o voto censitário, ainda não se torna um direito universal, já que a cidadania política não poderia ser exercida por mulheres, mendigos, religiosos, soldados e analfabetos. O significado desta restrição é profundamente antidemocrático, pois num país recém saído da escravidão, a maioria dos ex-escravos ainda eram analfabetos.
Tal quadro agravava-se mais ainda com um poder político impessoal e não submisso a nenhuma lei.
O coronelismo e o clientelismo foi uma mancha difícil de apagar, perpetuou e ainda insiste em dar sinais de vida. Antes, o coronelismo distinguia-se mais pelo compromisso entre poder privado e poder público. O compromisso derivava de um longo processo histórico e se enraizava na estrutura social. O clientelismo, isto é, a troca de favores com o uso de bens públicos, sobretudo empregos, tornou-se a moeda de troca do coronelismo. O coronel nomeava, ou fazia nomear, filho, genro, cunhado, primo, sobrinho. A urbanização, a industrialização, a libertação do eleitorado rural e o aperfeiçoamento da justiça eleitoral iriam enterrar coronéis e coronelismo.
O coronelismo, como sistema nacional de poder, sofre grande golpe quando Getúlio Vargas assume o poder em 1930, decretando intervenção federal na maioria dos estados, "buscando desarmar o poder das oligarquias estaduais e o sistema coronelista" [06]. No entanto, traços desse tipo de dominação continuaram, e como dito antes, as elites políticas não se exaurem ou extinguem, mas se transformam e se amoldam ao contexto político-histórico. Assim foi que o Coronelismo conseguiu sobrevida, inclusive sobrevivendo nos dias atuais, isto é, os coronéis não desapareceram. E surgiu o novo coronel, metamorfose do antigo, que vive da sobrevivência de traços, práticas e valores remanescentes dos velhos tempos. O historiador José Murilo de Carvalho faz uma interessante observação, para ele "o coronel de hoje não vive num sistema coronelista que envolvia os três níveis de governo, não derruba governadores, não tem seu poder baseado na posse da terra e no controle da população rural. Mas mantém do antigo coronel a arrogância e a prepotência no trato com os adversários, a inadaptação às regras da convivência democrática, a convicção de estar acima da lei, a incapacidade de distinguir o público do privado, o uso do poder para conseguir empregos, contratos, financiamentos, subsídios e outros favores para enriquecimento próprio e da parentela [07]".
Com Getúlio no poder, sob a égide de uma ideologia estatista, inaugura-se o modelo paternalista de governo, com a assimilação de parte das reivindicações sociais pelo Estado, com vistas ao controle estatal das massas. Como exemplo, "teve por objetivos principais reprimir os esforços organizatórios da classe trabalhadora urbana fora do controle do Estado e atraí-la para o apoio difuso ao governo" [08] e ainda "o governo se atribuiu um papel de controle da vida sindical" [09].
Decidido a constitucionalizar o país, o Governo Provisório – sob a liderança de Getúlio – realiza eleições para a Assembléia Nacional Constituinte em maio de 1933. Após meses de debate a Constituinte promulgou a Constituição, a 14 de julho de 1934.
A constituição de 1934 inaugura a fase do constitucionalismo social entre nós, com a introdução e elevação dos direitos sociais ao texto constitucional. Influenciada pela Constituição de Weimar, de 1919, e pelo corporativismo, continha inovações e virtudes. Dedicou um título à Ordem Econômica e Social, iniciando a era da intervenção estatal. Criou a Justiça do Trabalho e o salário-mínimo, institui o mandado de segurança, acolheu expressamente a ação popular e manteve a Justiça Eleitoral, criada em 1932. Sua grande força renovadora consistiu na solução social dada ao seu contexto.
Em uma fórmula de compromisso entre capital e trabalho, a Constituição de 1934 delineou o arcabouço formal de uma democracia social, que não se consumou, vigorando por um ano só, até 1935, quando a decretação do Estado de sítio suspendeu seus efeitos.
Em 1937, sob argumento da natureza insurgente das novas formações partidárias, Getúlio revoga a Constituição de 1934 e outorga uma nova Carta Constitucional ao país. Tem início o Estado Novo, período em que dominou o controle despótico do presidente.
A Carta outorgada fortaleceu o Poder Executivo; atribuiu a este intervenção mais direta e eficaz na elaboração das leis; reduziu o papel do parlamento nacional; conferiu ao Estado a função de orientador e coordenador da economia nacional; reconheceu e assegurou os direitos de liberdade, de segurança e de propriedade do indivíduo, acentuando, porém, que devem ser exercidos nos limites do bem público.
A Constituição de 1937, entretanto, não desempenhou papel algum, substituída pelo mando personalista e autoritário de Getúlio. Foi Governo de fato, de suporte policial e militar, sem submissão sequer formal à Lei maior. "Houve ditadura pura e simples, com todo o Poder Executivo e Legislativo concentrado nas mãos do Presidente da República, que legislava por via de decretos-lei que ele próprio depois aplicava,como órgão do Executivo" [10].
Já desgastado, Getúlio Vargas dá início a uma série de medidas liberalizantes. E num jogo político complexo, alegando como uma das causas a possível interferência à seguinte sucessão presidencial, as Forças Armadas força a queda de Vargas em outubro de 1945. Aprovada a Assembléia Constituinte no mesmo ano, a nova Constituição é promulgada em 18 de setembro de 1946.
A Constituição de 1946, como instrumento de governo, foi deficiente e desatualizada, mas como declaração de direitos e de diretrizes econômicas e sociais, foi ágil e avançada. Continha ampla e moderna enunciação dos direitos e garantias individuais, bem como de regras atinentes à educação e à cultura, e de princípios que deviam reger a ordem econômica e social. Introduziu a regra de que a lei não poderia excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual; previu a obrigatoriedade do ensino primário; a repressão ao abuso do poder econômico; condicionou o uso da propriedade ao bem-estar social; consignou o direito dos empregados à participação no lucro das empresas; no capítulo referente à cidadania, o direito e a obrigação de votar foram conferidos aos brasileiros alfabetizados, maiores de 18 anos, de ambos os sexos, completando-se assim, no plano dos direitos políticos, a igualdade entre homens e mulheres [11], e dentre outras medidas.
De um modo geral, a Constituição de 1946 repetiu os pontos de vista essenciais existentes na Constituição de 1934. Não aderiu ao socialismo nem tampouco se manteve na linha rígida do individualismo. Inspirou-se na técnica da democracia social e econômica, dando ênfase à família, educação e cultura, permitiu técnicas mais amplas de intervencionismo, estendeu ao trabalhador rural as garantias dadas a operários, embora nunca se aplicassem tais medidas em proveito do campesinato.
Para o constitucionalista Luís Pinto Ferreira, "essa Constituição foi um ponto de contato e significou um retorno à legalidade da democracia brasileira" [12]. Ela restaurou as liberdades e garantias tradicionais asseguradas ao povo brasileiro e que a ditadura anteriormente havia violado.
Entretanto, faltou substancial efetividade à Carta de 1946, notadamente pela não edição da maior parte das leis complementares por ela previstas ou impostas, o que não obstou, porém, a tarefa de redemocratização, propiciando condições para o desenvolvimento do país durante os quase vinte anos que o regeu.
Em um contexto amplo, quando o eleitorado começou a emancipar-se, o golpe de 1964 paralisou a experiência e atrasou o aprendizado democrático por longos 26 anos.
Durante a vigência da Carta de 1946, sucederam-se instabilidades políticas e conflitos constitucionais de poderes, agravadas pelo suicídio de Getúlio Vargas em 1954, que reassumira o poder após o apagado governo de Eurico Gaspar Dutra. O Vice-Presidente Café Filho assume a chefia do Governo, para completar o mandado. Adoece Café Filho e assume o Presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz, que é deposto por um movimento militar liderado pelo General Teixeira Lott, que também impede Café Filho de retornar à Presidência. Assume o Presidente do Senado, Nereu Ramos, que entrega a Presidência a Juscelino Kubitschek. Este assume a presidência. Para suceder Juscelino, foi eleito Jânio Quadros, que sete meses depois renuncia. Assume o Vice-Presidente João Goulart, contra o qual surge forte reação militar. É tolhido em suas prerrogativas por uma emenda constitucional parlamentarista que logo depois é postergada por um plebiscito que cobra a volta ao presidencialismo. Mas no fim, em complexo e turbulento quadro político, sem uma base de apoio sólida, homogênea e articulada, e defrontando-se com forças poderosas, Goulart cai, no dia 1º de abril de 1964, com o Movimento Militar instaurado no poder.
Aos poucos, a mudança da política econômica, as intervenções nos sindicatos, a dissolução dos partidos políticos, a anulação quase completa dos poderes do parlamento e a retirada das eleições da agenda pública definiram o caráter antidemocrático do novo regime. Este veio a cancelar as oportunidades e quaisquer condições para a participação popular e impôs a anulação da própria existência de uma comunidade cívica, já que a partir de então ninguém podia participar do espaço público, pelo simples motivo de que ele não existia mais.
Começa então o regime dos Atos Institucionais. Numa sucessão, foram determinadas suspensões temporárias dos direitos políticos e a cassação de mandatos parlamentares. Com o Ato Institucional n. 4, foi atribuído ao Congresso Nacional o poder de aprovar uma nova Constituição, elaborada obviamente pelo governo militar, assumindo este o papel ínsito e originário que pertence ao povo, ao se auto-atribuir titular do Poder Constituinte Originário. No mais, o Congresso antes homologou do que elaborou o novo Texto.
A rigor técnico, foi Carta outorgada o que foi feito em 24.1.67. Ela reduziu a autonomia individual, permitindo a suspensão de direitos e garantias constitucionais, além de hipertrofiar o Poder Executivo. Diante, ainda, de instabilidades, é editado o Ato Institucional n. 5 em 1968. Após, o Estado representado pela doutrina da segurança nacional se coloca acima dos direitos e garantias individuais. Atribuiu competência ao Executivo para legislar quando do recesso dos órgãos legislativos de qualquer dos três níveis de governo; possibilidade de intervenção federal nos Estados e Municípios sem as limitações previstas na Constituição; poder ao Presidente da República de suspender direitos políticos e cassar mandados eletivos de todos os níveis; suspensão das garantias da magistratura; possibilidades de confisco dos bens; suspensão dos habeas corpus nos casos de crimes políticos e outros; exclusão da apreciação judicial dos atos praticados com base no Ato Institucional que se editava, bem como de seus Atos Complementares.
Tem início a ditadura plena. A censura à imprensa, sem sombra legal, torna-se prática disseminada. A tortura aos adversários políticos, geralmente presos de forma ilegal, reproduz-se sem limites, além da repressão à atividade partidária e a politização das forças armadas.
Já em 1969, não podendo permanecer no exercício da Presidência, Costa e Silva é substituído por Pedro Aleixo, que é impedido de assumir pelos três Ministros militares que completam o preparo de um novo texto constitucional, promulgado em 17.10.69 com a roupagem de Emenda Constitucional n.1 à Constituição de 1967.
Materialmente era uma nova Constituição. "A emenda só serviu como mecanismo de outorga, uma vez que verdadeiramente se promulgou texto integralmente reformulado" [13]. Nota-se que esta Constituição teve vigência meramente nominal em grande número de seus preceitos. Com efeito, salvante sua parte orgânica, jamais se tornou efetivo o amplo elenco de direitos e garantias individuais, paralisados pela vigência indefinida do Ato Institucional n.5.
Somente a partir de 1974, durante mandato Presidencial do General Ernesto Geisel, que teve início o processo lento e gradual de refluxo do poder ditatorial. E daí para frente assumem os presidentes empossados o compromisso de restaurar a legalidade democrática. E neste propósito de restauração democrática, depois de conturbada disputa presidencial, a 15 de janeiro de 1985, Tancredo e Sarney obtiveram uma vitória nítida no Colégio Eleitoral. "Por caminhos complicados e utilizando-se do sistema eleitoral imposto pelo regime autoritário, a oposição chegava ao poder" [14].
Eleito, Tancredo não chega a tomar posse, é acometido de grave doença e falece. Assume, pois, o Vice-Presidente. Pela Emenda Constitucional n.26 [15], de 27 de novembro de 1985, é convocada uma Assembléia Nacional Constituinte [16], eleita a 15 de novembro de 1986, para elaborar uma nova Constituição do Brasil, tencionando com esta Carta a volta da democracia à agenda pública.
Apesar da composição essencialmente conservadora do Congresso Constituinte, da manipulação descarada dos Constituintes,além do uso incontido do poder econômico, o Texto Constitucional de 1988 trouxe algumas inovações e avanços democráticos importantes, como resultado de um amplo processo de negociações, levado a efeito principalmente pela pressão e participação da sociedade civil organizada, servindo-se dos mais diversos movimentos sociais e populares.
A constituição de 1988 inaugurou uma nova ordem institucional no país, com o retorno do regime democrático de governo, avançando consideravelmente com relação ao estabelecimento de mecanismos modernos essenciais para o exercício da democracia e também no que se refere à declaração dos direitos sociais.
�
CONCLUSÃO
Pelo exposto, numa sucessão de percalços, aclaram-se os casos de falência da legitimidade do poder na experiência constitucional brasileira, pela inaplicação das normas constitucionais vigentes a cada época. Corrobora-se ainda, o fato de, desde a independência termos tido oito Constituições, numa demonstração incontestável de dramaticidade, instabilidade e falta de continuidade de nossas instituições políticas.
De fato, em ambiente tão perturbado, o exercício efetivo dos Direitos, sobretudo dos fundamentais, encontra, não raras vezes, malogrado êxito. Fato atribuído, sobretudo, pela não aquiescência ao sentido mais profundo da Constituição por parte das classes dominantes, que constroem uma realidade de poder própria, refratária a uma real democratização da sociedade e do Estado.
Isso, incontestavelmente, impossibilitou a realização do direito ao exercício da cidadania democrática, bem como a existência digna e democrática do povo brasileiro, obstados de seus direitos fundamentais.
Mas ainda hoje continua a luta pela cidadania e pela consolidação do espaço público, como umas das essenciais reivindicações da população. Para instituirmos um espaço público altamente democratizado, com efetivo respeito e cumprimento aos direitos fundamentais, precisamos desenraizar da cultura política do Brasil, de vez, a estrutura patrimonialística, autoritária e burocrática. Precisamos ainda, mudar a atuação do Estado no Brasil, que aparece como único sujeito de nossa história e condutor da vida econômica e política, como tutor da sociedade, substituindo-a em sua função de protagonista dos processos de transformação.

Outros materiais