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CAPITALISMO, SOCIALISMO E DEMOCRACIA – SCHUMPETER
CAPÍTULO 20.
A ditadura do proletariado
Relação entre socialismo e democracia (1916). Os socialistas afirmavam ser os únicos e verdadeiros democratas, que jamais deveria ser confundido com a falsificação burguesa. Aumentavam o valor do socialismo acrescentando a ele os valores democráticos. Para eles, democracia e socialismo estavam indissoluvelmente ligados. O controle privado dos meios de produção seria a forma do capitalismo explorar o trabalho e impor os seus interesses sobre as classes trabalhadoras. 
O poder político do capitalismo parece ser uma forma do seu poder econômico. Dai se deduz que não pode haver democracia enquanto existir esse poder e a eliminação desse poder terminará com a exploração do homem pelo homem e marcará o início do governo do povo (argumento marxista).
Apresentar uma teoria mais realista entre os grupos socialistas e o credo democrático e sobre as relações que existem entre socialismo e democracia. 
Uma vez implantado, o socialismo pode ser o próprio ideal de democracia. Através de revolução e ditadura. Marx afirma que gradualmente os socialistas irão assumir as funções da burguesia e haverá o desaparecimento das distinções de classe no curso da evolução. 
Forçar o povo a aceitar alguma coisa que acredita ser boa e gloriosa, mas que ele não quer realmente, constitui o sinal revelador da crença antidemocrática. Caberá ao casuísta decidir se é possível fazer uma exceção para os atos não-democráticos que são perpetrados com o objetivo de concretizar a verdadeira democracia, sendo o único meio para esse fim. 
O argumento em favor da anulação da democracia durante os períodos de transição constitui excelente oportunidade para evitar a responsabilidade por essa mesma ação. 
A história dos partidos socialistas
Nem todos defenderam o credo democrático. 
Há um partido dominante que não oferece oportunidade aos outros. Encontro com Lenin e Stalin. Os métodos usados por eles na Rússia não poderiam ser considerados como democráticos. 
Mas o que significará o socialismo autêntico senão o socialismo que admiramos? Há formas de socialismo que não despertam a lealdade de todos os socialistas e que incluem também os tipos não-democráticos? É possível que um regime socialista não seja democrático. Logo, é preciso saber se e em que sentido ele pode ser democrático.
Os casos em que o socialismo foi experimentado com êxito foram poucos e não muito convincentes. Em 1918, o partido social-democrata alemão optou pela democracia e reprimiu os comunistas. Mas o partido se cindiu. 
A democracia fornecia muito mais benefícios, havia barganha satisfatória para todos. Diante disso, os socialistas tornaram-se democráticos. O partido socialista corria perigo.
Os socialistas adotam a democracia se e quando ela serve aos seus ideiais e interesses e em nenhuma outra hipótese. 
Uma experiência mental
A democracia é um método político. Um certo tipo de arranjo institucional para chegar a uma decisão política, e por isso mesmo, incapaz de ser um fim em si mesmo, sem relação com as decisões que produzirá em determinadas condições históricas. 
A democracia não pode ser um fim em si mesma. É um ideal absoluto. A vontade do povo deve prevalecer.
Embora que a democracia não possa ser um ideal por si mesma, é ainda assim, substituto pois servirá a certos interesses ou ideais pelos quais estamos dispostos a lutar. A democracia não produz sempre os mesmos resultados; deve haver certas condições na sociedade na qual a democracia pode operar de maneira ótima. 
Em busca de uma definição 
Por quem e como as decisões são tomadas na democracia?
A definição de democracia como governo do povo não é suficientemente exata.
A sociedade democrática não faz discriminação, pelo menos em assuntos que interessam os negócios públicos, tais como o direito ao voto. A discriminação (direito ao voto) jamais poderá estar totalmente ausente (idade). A relação entre democracia e liberdade é complexa. 
O modus operandi dos governos são difíceis de explicar. De que maneira é possível o povo governar? Em comunidades pequenas, é possível que todos os indivíduos que compõem o povo participe de todos os deveres da legislação e administração. 
Solução do problema: governo aprovado pelo povo democracia. O povo, como povo, não pode jamais governar ou dirigir governo. Diversas formas pela qual o povo pode participar do governo, influencias e controlar os que realmente governam. 
Para fazer sentido, as palavras delegação e representação devem referir-se não ao cidadão isolado, mas ao povo em geral. Povo delega seu poder a um parlamento que lhe representa. 
Democracia: educa o povo e deixa-o votar livremente. 
CAPÍTULO 21. A DOUTRINA CLÁSSICA DA DEMOCRACIA
O bem comum e a vontade do povo
No século XVIII, a democracia pode ser expressa: método democrático é o arranjo institucional para se chegar a certas decisões políticas que realizam o bem comum cabendo ao próprio povo decidir, através da eleição de indivíduos que se reúnem para cumprir-lhe vontade. 
Há o bem comum que todas as pessoas conhecem (ROUSSEAU), ele implica soluções definitivas para todas as questões. Há também uma vontade comum (vontade de todas as pessoas sensatas) que corresponde ao interesse, bem estar e felicidade comuns. Todos os membros da comunidade, conscientes da meta, discernindo o que é bom do que é mau tomam parte ativa no fomento do bom e combate do mau. Todos em conjunto controlam os negócios públicos. 
A administração de alguns assuntos requer qualidade técnicas e especiais e terá de ser confiada aos especialistas, eles agirão no cumprimento da vontade do povo.
Esse modelo de democracia precisa ser provado. Não há um bem comum determinado que o povo aceite por força da argumentação racional. As pessoas podem desejar outras coisas que não o bem comum, porque para diferentes indivíduos e grupos o bem comum pode significar coisas diversas. Mesmo que houvesse o bem comum ainda assim não teria soluções igualmente definidas para os casos individuais. Não há também vontade geral ou do povo. 
A vontade do povo e a vontade individual 
Embora possa surgir algum tipo de vontade comum ou opinião pública do processo democrático, os resultados não apenas carecem de unidade, mas também de sanção racional. O abandono do bem comum utilitário deixa uma série de dificuldades. 
A vontade do indivíduo é atribuída uma independência e uma qualidade racional que são irrealistas. Para argumentar que a vontade do cidadão é um fator político de respeito, essa vontade deve existir. O homem teria de saber o que deseja defender, essa vontade tem que ser complementada pela capacidade de observar e interpretar os fatos que estão ao alcance de todos e selecionar criticamente as informações sobre os que não estão. A opinião de um homem poderia ser considerada tão boa quanto a de qualquer outro homem. Esse cidadão-modelo teria de fazer tudo isso sozinho, independente da pressão de grupos. 
Mesmo se as opiniões e desejos do cidadão isolado fossem uma condição perfeitamente independente e definida que pudesse ser usada pelo processo democrático, e se todos agissem nela baseados com racionalidade e rapidez ideais, não se seguiria necessariamente que as decisões políticas produzidas por esse processo, baseado na matéria-prima dessas vontades individuais, representariam coisa alguma que, convincentemente, pudesse ser chamada de vontade do povo. Em todos os casos em que as vontades individuais estão muito divididas, muito provável que as decisões políticas produzidas não sejam aquilo que o povo deseja realmente. 
Natureza humana na política
Tratar da determinação e independência da vontade do eleitor, seus poderes de observação e interpretação de fatos, e capacidade de tirar, clara e prontamente, inferências racionais de ambos. Esse assunto inclui-se num capítulo da Psicologia Social que poderia ser intitulado A Natureza Humana na Política. 
Le Bom, ao mostrar as realidades do comportamento humano sobre a influênciada aglomeração “psicologia das multidões”. Leitores de jornais, rádio, internet podem facilmente serem transformados psicologicamente em multidão e levados a um estado de frenesi, no qual, qualquer tentativa de se apresentar um argumento racional desperta apenas instintos animais. Isso é uma prova contra a hipótese da racionalidade. A personalidade humana não é homogênea. Outro exemplo disso é, os consumidores não correspondem a ideia sugerida pelos manuais de economia. Suas necessidades não são absolutamente tão definidas, e as ações provocadas por essas necessidades, nada que pareça racional e imediato. Por outro lado, eles são tão sensíveis à influência da publicidade e outros métodos de persuasão que os produtores muitas vezes parecem ante s orientar do que serem orientados por eles.
No âmbito local, talvez, os indivíduos possam agir de forma racional. Mas no âmbito nacional e externo não o são. Quando há ausência do senso de realidade, sem responsabilidade e sem vontade eficaz gera um cidadão comum ignorante. Esse reduzido senso de realidade explica não apenas a existência de um reduzido senso de responsabilidade, mas também a ausência de uma vontade eficaz. Todas essas questões prejudicam a argumentação da doutrina clássica. 
O senso de responsabilidade reduzido e a ausência de vontade efetiva, por outro lado, explicam a ignorância do cidadão comum: e a falta de bom senso em assuntos de política interna e externa. Essa ignorância é ainda mais chocante no caso de pessoas educadas e muito ativas em esferas não-políticas da vida, do que no de pessoas sem educação e de situação mais humilde.
O cidadão típico, por conseguinte, desce para um nível inferior de rendimento mental logo que entra no campo político. Argumenta e analisa de uma maneira que ele mesmo imediatamente reconheceria como infantil na sua esfera de interesses reais. Torna-se primitivo novamente. O seu pensamento assume o caráter puramente associativo e afetivo. E isto acarreta duas outras consequências de sombria significação. Mesmo que não houvesse grupos políticos tentando influenciá-lo, o cidadão típico tenderia na esfera política a ceder a preconceitos ou impulsos irracionais ou extra racionais. A fraqueza do processo racional que ele aplica à política e a ausência real de controle lógico sobre os resulta dos seriam bastantes para explicar esse fato.
Quanto mais débil o elemento lógico nos processos da mentalidade coletiva e mais completa a ausência de crítica racional e de influência racionalizada da experiência e responsabilidade pessoal, maiores serão as oportunidades de um grupo que queira explorá-las. Tais grupos podem consistir de políticos profissionais, expoentes de interesses econômicos. Sendo a natureza humana na política aquilo que sabemos, tais grupos podem modelar e, dentro de limites muito largos, até mesmo criar a vontade do povo, não sendo uma vontade genuína, mas sim, fabricada. Correspondendo assim, ao que de fato seria a vontade geral.
As informações e argumentos que realmente impressionam ao cidadão, por conseguinte, provavelmente servem a algum fim político. E uma vez que a primeira coisa que o homem faz por seu ideal ou interesse é mentir, esperamos, e na verdade descobrimos, que a informação eficiente é quase sempre adulterada ou seletiva * e que o raciocínio eficiente em política consiste sobretudo em exaltar certas proposições e transformá-las em axiomas, e eliminar outras.
É possível, sem dúvida, argumentar que, em um determinado período de tempo, a psique coletiva poderá desenvolver opiniões que, muitas vezes, nos parecem muito razoáveis e mesmo argutas. A História, todavia, consiste de uma sucessão de situações a curto prazo que podem alterar para sempre o curso dos acontecimentos. Se o povo pode, a curto prazo, ser gradualmente enganado e levado a fazer algo que não deseja, e se essa hipótese não se tratar de caso excepcional que podemos ignorar, então, nenhuma medida de bom senso retrospectivo alterará o fato de que, na realidade, ele nem provoca nem decide casos, mas que os fatos que lhe modelam o destino são habitualmente equacionados e decididos em seu nome. Mais do que qualquer outra pessoa, o a mante da democracia te m todas as razões para aceitar esse fato e defender seu credo contra a acusação de que ele se acha baseado sobre uma ficção.
Razões para a sobrevivência da doutrina clássica 
Sua base teórica está morta, o racionalismo utilitário. Mas por que as pessoas ainda sonham com essa democracia? Está relacionada com a fé religiosa. O quadro que eles desenharam do processo social envolvia aspectos básicos da fé cristã. O criador define o bem comum e os valores supremos. 
CAPÍTULO 22. MAIS UMA TEORIA DA DEMOCRACIA
A luta pela liderança política
A seleção dos representantes é secundária ao principal objetivo do sistema democrático, que consiste em atribuir ao eleitorado o poder de decidir sobre assuntos políticos. O papel do povo é formar governo ou corpo intermediário que formará o executivo nacional. 
O método democrático é um sistema institucional para a tomada de decisões políticas, no qual o indivíduo adquire o poder de decidir mediante uma luta competitiva pelos votos do eleitor. Uma monarquia parlamentar (UK) preenche os requisitos do método democrático porque o monarca está praticamente limitado/nomear o gabinete que o próprio povo, como parlamento, elegeria. Uma monarquia constitucional não pode ser qualificada de democrática porque o eleitorado e o parlamento, embora tendo todos os outros direitos que têm o eleitorado e o parlamento nas monarquias parlamentares, carecem de poder para impor sua vontade quanto à constituição do ramo executivo do governo: neste caso, os ministros são servos do monarca, tanto em forma como em substância, e podem, em princípio, ser nomeados ou demitidos por ele.
Reconhecimento do papel vital da liderança. Os corpos coletivos atuam quase exclusivamente pela aceitação da liderança, que é o mecanismo dominante em praticamente todas as ações coletivas que sejam mais do que simples reflexos. As afirmações sobre o funcionamento e os resultados do método democrático que leva m esse fato em conta serão infinita mente mais realistas do que as proposições que o ignoram. Vontade manufaturada. 
Na medida em que há realmente vontades coletivas autênticas (por exemplo, a vontade dos desempregados de receber pensões por desemprego e a vontade de outros grupos de ajudar), nossa teoria não as negligencia. Pelo contrário, podemos agora colocá-las de maneira exata no papel que realmente desempenham. De mane ira geral, essas vontades não se a firmam diretamente. Mesmo que fortes e definidas, elas permanecem latentes, muitas vezes durante décadas, até que são ressuscitadas por algum líder que as transforma em fatores políticos. 
Nossa teoria não é, naturalmente, mais definida do que o próprio conceito de luta pela liderança. Esse conceito apresenta dificuldades semelhantes ao conceito de concorrência na esfera econômica, com a qual pode ser utilmente comparado. A concorrência jamais está completamente ausente da vida econômica, mas raramente é perfeita. Da mesma maneira, há sempre alguma concorrência na vida política, embora talvez apenas potencial, pelo apoio do povo. No intuito de simplificar o caso, limitamos esse tipo de concorrência, que definirá a democracia, à concorrência livre pelo voto livre. Essa ação justifica-se pelo fato de que a democracia parece implicar um método reconhecido, através do qual se desenrola a luta competitiva, e que o método eleitoral é praticamente o único exequível, qualquer que seja o tamanho da comunidade.
Nossa teoria parece esclarecer a relação que subsiste entre a democracia e a liberdade individual. Se, pela última, entendemos a existência de uma esfera de autogoverno individual, cujas fronteiras são historicamente variáveis (nenhuma sociedade tolera a liberdade absoluta, mesmo de consciência ou palavra, e nenhuma sociedade a reduz a zero), a questão torna-se, evidentemente, uma questão de grau. Já vimosque o método democrático não garante necessariamente maior medida de liberdade individual do que qualquer outro método, em Circunstâncias semelhantes. Pode acontecer justamente o contrário. Mas ainda assim existe relação entre as duas. Se, pelo menos por questão de princípios, todos forem livres para concorrer à liderança política apresentando-se ao eleitorado, isto trará na maioria dos casos, embora não em todos, uma considerável margem de liberdade de expressão para todos.
Ao considerar função primária do eleitorado formar o governo (diretamente ou através de um corpo intermediário), tendemos incluir também na definição o poder de dissolvê-lo. O primeiro significa simplesmente a aceitação de um líder ou grupo de líderes, e o outro a retirada dessa aceitação. Essa ressalva prevê um elemento que o leitor talvez tenha ignorado. Ele pode ter pensado que o eleitorado não apenas instala o governo no poder, mas o controla também. Mas, uma vez que o eleitorado normalmente não controla seus líderes políticos, exceto pela recusa de reelegê-los, ou a maioria parlamentar que o apoia, é conveniente limitar nossas ideias a respeito desse controle da maneira indicada na nossa definição. 
Nossa teoria lança uma luz muito necessária sobre uma velha controvérsia. Quem quer que aceite a doutrina clássica da democracia e, em consequência, acredite que o método democrático deve permitir que os assuntos sejam decididos e a política formulada de acordo com a vontade do povo, não pode negar que, mesmo que essa vontade fosse inegavelmente real e definida, a decisão por simples maioria em muitos casos deturparia e jamais executaria esses desejos. Evidentemente, a vontade da maioria é apenas a vontade da maioria e não a vontade do povo. 
 As rédeas dos governos devem ser entregues àqueles que contam com maior apoio do que indivíduos ou grupos concorrentes. Sistema majoritário. 
Aplicação do princípio 
Nas democracias, a função primária do eleitorado é eleger governo. A eleição implica em quem será o líder. Primeiro-ministro; parlamento; gabinete 
O primeiro e mais importante objetivo de todos os partidos políticos é derrotar os demais e assumir ou conservar o poder. 
O partido é um grupo cujos membros resolvem agir de maneira concertada na luta competitiva pelo poder político. 
A psicotécnica da administração e da propaganda partidária não constituem, pois, acessórios, mas a própria essência da política. Da mesma maneira, o chefe político.
Quanto ao papel do eleitorado, resta a esclarecer apenas um ponto. Já verificamos que os desejos dos membros do parlamento não são a condição suprema do processo que resulta na formação do governo. Afirmação semelhante pode ser feita no que diz respeito ao eleitorado. A escolha, glorificada idealmente como o chamado do povo, não é iniciativa deste último, mas criada artificialmente. E essa criação constitui parte essencial do processo democrático. Os eleitores não decidem casos. Tampouco escolhem com independência, entre a população elegível, os membros do parlamento. Em todos os casos, a iniciativa depende do candidato que se apresenta à eleição e do apoio que possa despertar. Os eleitores se limitam a aceitar essa candidatura de preferência a outras, ou a recusar-se a sufragá-la.
CAPÍTULO 23. CONCLUSÃO
Algumas consequências da análise precedente
Os socialistas afirmam que a democracia implica socialismo, só há democracia nesse regime. Os artigos comprovam que a democracia é incompatível com o socialismo. 
O livro aponta que não há uma inter-relação entre socialismo e democracia, um pode existir sem o outro. Mas também não há incompatibilidade, em algumas circunstancias a máquina socialista pode funcionar de acordo com os princípios democráticos. 
O método democrático funcionará melhor em qual regime socialista ou capitalista? 
 A democracia não significa nem pode significar que o povo realmente governa em qualquer dos sentidos tradicionais das palavras povo e governo. A democracia significa apenas que o povo tem oportunidade de aceitar ou recusar aqueles que o governarão. Método democrático: concorrência livre entre possíveis líderes pelo voto do eleitorado “a democracia é o governo dos políticos”. O êxito pessoal na política implicará uma atitude do tipo profissional e o afastamento de outras atividades para uma posição secundária, embora necessária. Política como carreira, políticos negociam em votos. 
 Dúvidas a respeito da eficiência administrativa da democracia em sociedades vastas e complexas. O processo democrático produz legislação e administração apenas como subprodutos da luta pelos cargos políticos. A luta competitiva incessante para subir e manter-se no poder reveste todas as considerações de política e medidas do preconceito tão admirável mente expressado pela frase citada a respeito do negócio de votos. O funcionamento satisfatório do método democrático depende do cumprimento de certas condições. 
 Qualidade dos homens selecionados para liderança. O método democrático cria políticos profissionais a quem transforma em administradores e estadistas amadores. Grande capacidade de lidar com pessoas. 
Condições para o êxito do método democrático 
 Não há uma defesa ou uma condenação do capitalismo que seja válida em todas as épocas e lugares. Não existe também nenhuma razão contra ou a favor do método democrático. A democracia prospera em ambientes sociais que revelem certas características. As condições para o êxito democrático são: 
O material humano da política seja de qualidade suficientemente alta. A existência de um numero de indivíduos com necessárias qualidades e padrões morais. O método democrático não seleciona entre a população, mas entre os elementos da população que estão dispostos a iniciar uma carreira política. Não é exato que, numa democracia, o povo tenha sempre o tipo e a qualidade de governo que merece. Escolher a partir de uma elite social que aceita a política como coisa perfeitamente natural. 
O campo real de decisões não seja estendido demasiadamente longe. O campo de ação não depende apenas, por exemplo, do tipo e quantidade de assuntos que podem ser resolvidos com êxito por um governo sujeito às tensões de uma luta incessante por sua sobrevivência política: depende também, em qualquer tempo ou lugar, da qualidade dos homens que formam o governo, do tipo da máquina política e do quadro da opinião pública com que deve trabalhar. A democracia não necessita que todas as funções do Estado sejam sujeitas ao seu método político.
O governo democrático na moderna sociedade industrial deve ser capaz de contar, em todos os campos. Incluídos na esfera da atividade pública (não importa se numerosos. Ou não), com os serviços de uma bem treinada burocracia que goze de boa posição e tradição e seja dotada ainda de um forte sentido de dever e um não menos forte esprit de corps. Mais uma vez a questão do material humano disponível reveste-se de importância. 
Autocontrole democrático. Todos admitem, evidentemente, que o método democrático não pode funcionar suavemente a menos que todos os grupos importantes da nação estejam dispostos a aceitar todas as medidas legislativas, enquanto estiverem em vigor, e todas as ordens do governo, desde que emitidas por autoridades competentes. Os eleitores comuns devem respeitar a divisão do trabalho entre si e os políticos que elegem. Uma vez tendo eleito determinado cidadão, a ação política passa a ser dele e não sua. 
A concorrência eficiente pela liderança necessita de muita tolerância com as diferenças de opiniões. O mínimo de autocontrole democrático necessita da existência de um caráter e hábitos nacionais de certo tipo. O governo democrático funcionará com o máximo de vantagens apenas se todos os interesses importantes forem praticamente unânimes na lealdade ao país e aos princípios estruturais da sociedade. O método democrático estará em situação desvantajosa nas épocas de crise. Há situações que é mais sensato abandonar a liderança competitiva e adotar a monopolista. Se o monopólio for eficazmentelimitado a um período definido (como aconteceu originariamente em Roma) ou à duração de um estado de emergência curto, o princípio democrático da liderança coletiva será simplesmente suspenso. Se o monopólio, seja de fato seja de direito, não for limitado no tempo (e, se não limitado no tempo, tenderá a se tornar ilimitado em todos os campos), o princípio democrático é então ab-rogado e surge a ditadura na sua acepção moderna. 
A democracia na ordem socialista 
A democracia moderna cresceu passo a passo com o capitalismo e foi dele consequência. A democracia, no sentido da liderança competitiva, presidiu ao processo de transformações políticas e institucionais, através do qual a burguesia modificou e racionalizou a estrutura social e política que precedeu à sua ascensão: o método democrático foi a arma política dessa reconstrução. A democracia moderna é produto do sistema capitalista. 
A sociedade capitalista, no seu estado de maturidade, estava em boas condições par a fazer da democracia um sucesso. E muito mais viável a autolimitação democrática por uma classe cujos interesses são mais bem servidos por uma política de não-interferência, do que por outra que tende, por natureza, a viver do Estado. O burguês, primariamente absorvido pelos seus negócios particulares, provavelmente mostrará, de maneira gera! (Enquanto esses interesses não forem seriamente ameaçados), muito mais tolerância pelas diferenças políticas e respeito por opiniões de que não partilha, do que qualquer outro tipo de ser humano.
Mas o capitalismo está perdendo suas antigas vantagens. O método democrático não funciona de maneira mais favorável nos casos em que a nação está muito dividida sobre questões fundamentais da estrutura social. 
Não se pode esperar que a democracia funcione satisfatoriamente a menos que a vasta maioria do povo, em todas as classes, esteja resolvida a observar as regras do jogo democrático e que essa observância, por seu turno, signifique que todos concordam basicamente sobre os princípios fundamentais da estrutura institucional. Atualmente, a última condição não está sendo cumprida. Um número tão grande de pessoas já perdeu, e tantas outras perderão, a lealdade aos padrões da sociedade capitalista que, por este motivo apenas, a democracia está obrigada a funcionar com dificuldades cada vez maiores. Na fase por nós imaginada, todavia, o socialismo pode eliminar essa falha. No socialismo, haverá o político profissional cujo meio de agir pode surgir uma casta política, sobre cujas qualidades seria ocioso especular. Por questão de necessidade prática, a democracia socialista pode tornar-se logro maior do que foi até hoje a democracia capitalista. A democracia não significará maior liberdade pessoal. E, mais uma vez, não terá maior semelhança com os ideias entronizados na doutrina clássica.

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