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1 Estado de natureza e Estado (Governo) Civil Inicialmente é importante destacar que esse tema diz respeito à Política e, mais especificamente, procura analisar o processo que se deu na evolução da humanidade rumo a um Estado regulado por leis e com um governante (ou governantes), mais ou menos como atualmente. Estado de natureza não é um Estado como uma Nação politicamente organizada. Ele diz respeito ao estado dos indivíduos e é uma situação pré-social nas qual estes vivem isoladamente. Pode-se dizer que é um modo de ser fictício, utilizado por certos filósofos como hipótese para analisar a instituição do Estado (este sim, como Nação politicamente organizada) civil. Para estudarmos esse tema, serão utilizados três exemplos característicos dos chamados filósofos contratualistas (consideram que há um contrato social que marca a transição entre estado natural e estado civil). 1) Thomas Hobbes – inglês do século XVII (1588 – 1679) – Leviatã (1651); 2) John Locke – inglês do século XVII (1632 – 1704) – Dois tratados sobre o governo (1689) 3) Jean Jacques Rousseau – suíço do século XVIII (1712 – 1778) – Do Contrato Social (1762). É possível pensar as concepções sobre o estado de natureza como uma oposição entre bom e mau: BOM MAU INDIFERENTE HOBBES ROUSSEAU LOCKE 2 Vamos iniciar a análise do estado de natureza por Hobbes e Rousseau. Hobbes entende que, em estado de natureza, os indivíduos vivem de forma isolada, em constante luta pela sobrevivência, em que se verifica uma situação de guerra permanente de todos contra todos. Os homens inventaram armas e cercaram as terras, mas são atitudes sem sentido, porque sempre haverá alguém mais forte para tomar a propriedade e mesmo a família do mais fraco. A única lei válida é a lei do mais forte. Já Rousseau, como o gráfico indicou, tem um pensamento inicialmente oposto a Hobbes. Para Rousseau, os indivíduos viviam isolados pelas florestas, sobrevivendo com o que a natureza fornecia, desconhecendo guerras, lutas, com uma atitude benevolente. Esse estado é conhecido sob a forma do Bom Selvagem e é um estado de felicidade. Porém esta termina quando alguém cerca um terreno e afirma: “É meu”. Portanto a propriedade privada dá origem ao Estado de sociedade, no qual passa a haver guerra e lutas pela propriedade. O estado de natureza de Hobbes e o estado de sociedade de Rousseau apresentam uma situação de luta entre fortes e fracos. Para cessar essa situação, os indivíduos decidem passar à sociedade civil, ou seja, ao Estado Civil, criando o poder político e as leis. Esta passagem se dá por meio de um contrato social. Os indivíduos renunciam à liberdade natural e concordam em transferir a um terceiro – o soberano – o poder para criar e aplicar leis. O contrato funda a soberania. O pacto ou contrato social tem legitimidade garantida pelo direito natural: por natureza, todo indivíduo tem direito à vida, ao que é necessário para sua sobrevivência e à liberdade. Por natureza todos são livres, mesmo que uns mais fortes que outros. Conforme o direito romano, um pacto só tem validade se as partes forem livres e iguais e se voluntariamente derem seu consentimento ao que está sendo pactuado. 3 Para Hobbes, os homens reunidos numa multidão, passam, pelo pacto, a constituir um corpo político, uma pessoa artificial chamada Estado. Para Rousseau, os indivíduos são pessoas morais que, pelo pacto, criam a vontade geral como corpo coletivo ou Estado. O soberano: Hobbes e Rousseau diferem quanto a essa definição. Para Hobbes, o soberano pode ser um rei, um grupo de aristocratas ou uma assembléia democrática. O fundamental não é quem seja o soberano, mas o fato de que este detém o poder de modo absoluto e tem o poder de promulgar e aplicar leis, garantir a propriedade privada e exigir obediência incondicional, mas tem que respeitar dois direitos naturais dos governados: o direito à vida e à paz. Para Rousseau, o soberano é o povo, entendido como vontade geral, pessoa moral, livre e coletiva, um corpo político de cidadãos. Os indivíduos, pelo contrato, criaram-se a si mesmo como povo e é a esse que transferem os seus direitos. Desta forma, o governante não é o soberano, mas o representante da soberania popular. Os indivíduos aceitam perder a liberdade para ganhar a individualidade civil, a cidadania. São cidadãos do Estado e súditos das leis criadas por eles mesmos. A visão de Locke Uma questão importante em Hobbes e Rousseau é que a propriedade privada não é um direito natural, mas sim um direito civil. A propriedade privada é um efeito do contrato social e um decreto do soberano. Locke parte da definição do direito natural como direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para a conservação de ambas. Esses são conseguidos pelo trabalho. 4 Locke procura legitimar a propriedade privada como direito natural através de sua origem divina: Deus construiu o mundo e este a ele pertence, é sua propriedade; também criou o homem a sua imagem e semelhança, dando-lhe o mundo para que nele reinasse. Após a expulsão do paraíso, Deus não lhe retirou o domínio do mundo, mas afirmou que o teria com mo suor de seu rosto. Então a propriedade privada é um fruto legitimo do trabalho. Devido à sua origem divina, ela é um direito natural. Locke não considera que o estado de natureza fosse hipotético. Para ele esse estado realmente existiu e não era de guerra inevitável e de egoísmo, mas havia uma arbitrariedade individual (cada um era juiz) e esse é um dos principais motivos das pessoas buscarem entrar num Estado Civil. Outra era a propriedade: Locke reconhece que sem um Contrato não haveria condição de segurança para preservar a propriedade. O Estado existe a partir de um contrato social e sua principal finalidade é garantir o direito natural da propriedade. A teoria de Locke legitima as aspirações da burguesia. Se o Estado não cria a propriedade privada, mas garante-a e deve defendê-la perante os nobres e o s pores, então qual é o poder do soberano? Por meio das leis e do uso de meios legais de violência (exercito e polícia) Deve garantir a propriedade, sem intervir na vida econômica, pois não tendo instituído a propriedade, o Estado não tem poder para nela interferir; Como os proprietários são capazes de estabelecer as regras e normas da vida econômica, entre o Estado e o indivíduo intercala-se uma esfera social, a sociedade civil, sobre a qual o Estado não tem poder instituinte, mas apenas a função de garantidor e árbitro, por meios da lei e da força, os conflitos da sociedade civil; 5 O Estado tem o direito de legislar, mas não o direito de intervir na consciência dos governados. Locke critica o poder absoluto defendido por Hobbes, porque o consentimento dos súditos ao poder do corpo político instituído não retira o direito de insurreição, caso seja preciso limitar o poder do governante. Além disso, o parlamento se fortalece como legítimo canal de representação da sociedade e deve ter poder suficiente para controlar os excessos do poder executivo. Locke defende ainda que a legitimidade do poder se encontra na sua origem parlamentar. Isso significa que ocupar um cargo político não resulta de privilégio aristocrático, mas sim do mandato popular alcançado pelo voto: a representação política torna-se legítima, porém o direito a voto estaria limitado aos cidadãos proprietários de terras.O pensamento de Locke origina o chamado Estado liberal Bibliografia: CHAUÍ, M. Filosofia. São Paulo: Ática, 2000; HOBBES, T. Leviatã. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1997; LOCKE, J. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins editora, 2005; ROUSSEAU, J. J. Do Contrato social. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1997;
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