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77 Capítulo 4 Direito Imobiliário Ambiental O parcelamento do solo urbano e suas modalidades são de grande interesse ambiental e, por isso, a Lei Federal nº 6.766/79, que dá consecução às diretrizes constitucionais previstas no artigo 182 da Constituição Federal (CF), são objetos da abordagem deste capítulo, porque a densidade da população humana, que é causa de considerável impacto ao meio ambiente, é proporcional, às vezes, diretamente, outras, inversamente, às variáveis do parcelamento do solo e às limitações administrativas impostas. Além disso, como prevê a Lei Federal nº 6.766/79, só é admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica, na forma definida pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal. Tomando o caso da cidade de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, como exemplo, verifica-se, no artigo 229 da Lei Complementar Municipal de Florianópolis/ SC nº 482/2014 (Lei do Plano Diretor), o quanto a densidade da população humana representa em termos de alteração da qualidade do ambiente, pois, segundo o referido artigo, a destinação de áreas públicas deve ser proporcional à densidade da gleba e que, na medida em que a densidade é aumentada, é necessário acrescer um por cento de área pública para cada 100 hab/ha ou fração de acréscimo. Seção 1 Conceituação Parcelamento do solo urbano O parcelamento do solo urbano é a divisão da terra em unidades juridicamente independentes, com vistas à edificação, podendo ser realizado na forma de loteamento, desmembramento e fracionamento, sempre mediante aprovação municipal. SILVA, Adão Daniel da. Direito Imobiliário Ambiental [material didático]. Direito ambiental. Design instrucional Delma Cristiane Morari. Revisão Contextuar. Palhoça: UnisulVirtual, 2016. 78 Capítulo 4 Modalidades de Parcelamento do Solo Urbano Há duas modalidades de parcelamento do solo urbano, segundo o artigo 2º da Lei Federal nº 6.766/79: loteamento ou desmembramento. a. Loteamento O loteamento apresenta seu conceito no artigo 2º, § 1º, da Lei Federal nº 6.766/79, como: “[...] a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes [...]”. b. Desmembramento O Desmembramento apresenta seu conceito no artigo 2º, § 2º, da Lei Federal nº 6.766/79, como: “[...] a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura de novas vias e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes [...]”. Lote O conceito de lote está no artigo 2º, § 4º, da Lei Federal nº 6.766/79, como o terreno servido de infraestrutura básica, cujas dimensões atendam aos índices urbanísticos definidos pelo plano diretor ou lei municipal para a zona em que se situe. Infraestrutura básica dos parcelamentos O conceito de infraestrutura básica dos parcelamentos está prevista no artigo 2º, § 5º, da Lei Federal nº 6.766/79, como constituída pelos equipamentos urbanos de escoamento das águas pluviais, iluminação pública, esgotamento sanitário, abastecimento de água potável, energia elétrica pública e domiciliar e vias de circulação. Seção 2 Das Formas de Parcelamento do Solo A CF determina no artigo 182 que a política de desenvolvimento urbano é executada pelo poder público municipal e que o plano diretor, aprovado pela câmara municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de 79 Direito Ambiental expansão urbana, por isso é necessário utilizar o disciplinamento da matéria tendo por orientação a previsão do que é aplicado em algum município. As legislações dos municípios de Florianópolis/SC e de São José/SC, então, servem ao propósito de averiguar as condições e exigências que subordinam o parcelamento do solo urbano nas suas duas modalidades. Loteamento O parcelamento de uma gleba de terra por loteamento pressupõe, de acordo com o conceito exposto na lei do parcelamento do solo, a subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, considerando a abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes. O loteamento, também como o desmembramento, não pode abarcar a totalidade da gleba. Assim, há previsão, no caso de Florianópolis, de acordo com o artigo 90 da Lei Complementar Municipal nº 482/2014 (Lei do Plano Diretor), de exigência de reserva de áreas para sistema viário e equipamentos urbanos e comunitários, proporcional à densidade proposta para o empreendimento, obedecendo aos mínimos previstos na legislação respectiva e que, em todos os projetos de parcelamento do solo, o percentual mínimo de área verde de lazer (AVL) será de 10% (dez por cento) e o de áreas comunitárias institucionais (ACI) de 5% (cinco por cento) da área total parcelável. O exemplo de Florianópolis não permite verificar no plano diretor o percentual total excluído da área parcelável que fica reservado para o sistema viário, para as AVLs e para as ACIs, mas, em geral, pode-se dizer que chega a 35% (trinta e cinco por cento). O município de São José/SC, que pertence à área conurbada de Florianópolis, prevê, em sua lei do parcelamento do solo (Lei nº 1.606/1985), parcelamentos situados na Zona Urbana, como as áreas destinadas ao sistema viário, à implantação de equipamentos urbanos e com unitários, bem como os espaços livres de uso público, serão, no mínimo, de 40% (quarenta por cento) do total da gleba, dos quais, um mínimo de 15% será destinado especificamente à Áreas Verdes de Lazer e Áreas Comunitário-Institucionais (Art.7, IV, da Lei nº 1.606/1985). Os percentuais de 35% (trinta e cinco por cento) adotados em muitos municípios e de 40% (quarenta por cento), para o caso de São José, reservados do total da gleba parcelável, se a fiscalização de obras fosse efetiva, resultariam numa enorme redução do impacto ambiental em razão da menor pressão demográfica exercida sobre o ambiente. 80 Capítulo 4 Desmembramento O parcelamento de uma gleba de terra por desmembramento pressupõe, de acordo com o conceito exposto na lei do parcelamento do solo, a existência de um sistema viário existente, desde que não implique na abertura de novas vias e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes. O desmembramento não pode abarcar a totalidade da gleba, pois em cada caso há necessidade de reservar um percentual da gleba para atender condições mínimas de urbanismo e de qualidade de vida para os ocupantes das unidades resultantes do processo de divisão da gleba original. A previsão, no caso de Florianópolis, do artigo 90 da Lei Complementar Municipal nº 482/2014 (Lei do Plano Diretor), exige que todos os projetos de parcelamento do solo devem observar o percentual mínimo de área verde de lazer (AVL) de 10% (dez por cento) e o de áreas comunitárias institucionais (ACI) de 5% (cinco por cento) da área total parcelável. O desmembramento do exemplo, portanto, tem o percentual de 15% (quinze por cento), no mínimo, excluído da área total parcelável que fica reservado para as AVLs e para as ACIs, mas, haja vista que o sistema viário usado é o existente. Seção 3 Obrigações no Parcelamento do Solo Responsabilidade pela infraestrutura Segundo a Lei Federal nº 6.766/79, o empreendedor é responsável por construir a infraestrutura básica dos parcelamentos, pois deve: (1) elaborar o projeto; (2) pedir a aprovação do projeto junto à municipalidade; e (3) executar o projeto (Art. 6º, Art. 8º e Art. 9º, da Lei Federal nº 6.766/79). As obras de infraestrutura básica dos parcelamentos são constituídas pelos equipamentos urbanos de: • escoamento daságuas pluviais; • iluminação pública; • esgotamento sanitário; • abastecimento de água potável; • energia elétrica pública e domiciliar; • vias de circulação. (Art. 2º, § 5o, da Lei Federal nº 6.766/79). 81 Direito Ambiental Não é surpresa, portanto que, na maioria dos municípios, haja tanta demanda por infraestrutura e a razão básica é o reiterado desrespeito à lei federal do parcelamento do solo que já conta com mais de 35 anos de vigência, porque a obrigação do interessado pelo parcelamento está sendo transferida, por falta de fiscalização, para a totalidade dos munícipes que têm boa parte dos tributos arrecadados destinada a custear obras de urbanização de áreas irregularmente parceladas. Garantias da execução da infraestrutura O empreendedor deve oferecer garantias para assegurar ao município a execução das obras no prazo do cronograma. Segundo a Lei Complementar Municipal nº 482/2014, a garantia para execução das obras previstas na legislação de parcelamento do solo deve ser feita pelo empreendedor, segundo uma das seguintes modalidades: I. garantia hipotecária; II. caução em dinheiro, em títulos da dívida pública ou fidejussória; III. fiança bancária; IV. seguro garantia. Parágrafo único. A garantia terá o valor equivalente ao custo orçado para as obras, salvo na garantia hipotecária que não poderá ultrapassar a cinquenta por cento dos lotes. (Art. 99 da Lei Complementar Municipal de Florianópolis/SC nº 482/2014 - Plano Diretor de Florianópolis/SC). Titularidade sobre a infraestrutura A infraestrutura básica dos parcelamentos, os espaços livres de uso comum, as vias e as praças, as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos, constantes do projeto, passam a integrar o domínio do município, segundo o artigo 22 da Lei Federal nº 6.766/79. Prazo para registro Aprovado o projeto de parcelamento do solo pela municipalidade, o prazo para registro, no competente cartório de registro de imóveis, conforme o artigo 18 da Lei nº 6766/79, do projeto de loteamento ou do de desmembramento, é de até 180 (cento e oitenta) dias, sob pena de caducidade da aprovação. 82 Capítulo 4 Efeitos do registro O principal efeito do registro, relativamente às áreas públicas previstas no projeto de parcelamento, está previsto no artigo 22 da Lei nº 6.766/79, porque, desde a data de registro do loteamento, as vias e praças, os espaços livres e as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos, constantes do projeto e do memorial descritivo, passam a integrar os bens da fazenda municipal. Requisitos do parcelamento O artigo 3º da Lei nº 6766/79 determina que somente é admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas ou de expansão urbana, assim definidas por lei municipal. Tal artigo prevê ainda e que há proibições em certas situações. As proibições, não absolutas do parágrafo único do artigo 3º da Lei Federal nº 6.766/1979, servem como orientação segura de onde e em que condições o parcelamento do solo não é recomendável. Prevê o referido dispositivo: I. em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas; II. em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que sejam previamente saneados; III. em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se atendidas exigências específicas das autoridades competentes; IV. em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação; V. em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições sanitárias suportáveis, até a sua correção. (Parágrafo único do Art. 3º da Lei Federal nº 6.766/79) Exigem-se, como requisitos para um loteamento ou para um desmembramento, no que couber, pelo menos, os seguintes requisitos: I. as áreas destinadas a sistema de circulação, à implantação de equipamento urbano e comunitário, bem como a espaços livres de uso público serão proporcionais à densidade de ocupação prevista para a gleba, ressalvado o disposto no § 1º deste artigo; 83 Direito Ambiental II. os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e frente mínima de 5 (cinco) metros, salvo quando o loteamento se destinar à urbanização específica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, previamente aprovados pelos órgãos públicos competentes; III. ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público das rodovias, ferrovias e dutos, será obrigatória a reserva de uma faixa non aedificandi de 15 (quinze) metros de cada lado, salvo maiores exigências da legislação específica; IV. as vias de loteamento deverão articular-se com as vias adjacentes oficiais, existentes ou projetadas, e harmonizar-se com a topografia local. (Art. 4º da Lei Federal nº 6.766/79) Seção 4 Crimes no Parcelamento do Solo Tipificação criminal da conduta Da previsão do artigo 50 da lei federal nº 6.766/1979 Constitui crime contra a Administração Pública, conforme prevê o artigo 50 da Lei Federal nº 6766/1979: I. dar início, de qualquer modo, ou efetuar loteamento ou desmembramento do solo para fins urbanos, sem autorização do órgão público competente, ou em desacordo com as disposições desta Lei ou das normas pertinentes do Distrito Federal, estados e municípios; II. dar início, de qualquer modo, ou efetuar loteamento ou desmembramento do solo para fins urbanos sem observância das determinações constantes do ato administrativo de licença; III. azer ou veicular em proposta, contrato, prospecto ou comunicação ao público ou a interessados, afirmação falsa sobre a legalidade de loteamento ou desmembramento do solo para fins urbanos, ou ocultar fraudulentamente fato a ele relativo. (Art. 50 da Lei Federal nº 6.766/79) 84 Capítulo 4 Da previsão do art. 51 da lei federal nº 6.766/1979 O tipo penal do artigo 51 da Lei Federal nº 6.766/79 atribui a todo agente que, de qualquer modo, concorra para a prática dos crimes previstos no artigo 50 da Lei Federal nº 6.766/79, as mesmas penas àqueles cominadas, considerados em especial os atos praticados na qualidade de mandatário de loteador, diretor ou gerente de sociedade (Art. 51 da Lei Federal nº 6.766/79). Da previsão do art. 52 da lei federal nº 6.766/1979 Constitui crime contra a Administração Pública, conforme prevê o artigo 52 da Lei Federal nº 6.766/79: • registrar loteamento ou desmembramento não aprovado pelos órgãos competentes; • registrar o compromisso de compra e venda, a cessão ou promessa de cessão de direitos; • efetuar registro de contrato de venda de loteamento ou desmembramento não registrado. (Art. 52 da Lei Federal nº 6.766/79) Penas Previstas Penas do artigo 50 da Lei Federal nº 6.766/1979 As penas previstas, de acordo com o artigo 50 da Lei Federal nº 6.766/79, são: • Pena: Reclusão de 1(um) a 4 (quatro) anos e multa de 5 (cinco) a 50 (cinquenta) vezes o maior salário mínimo vigente no País. (Art. 50 Lei Federal nº 6.766/79) • Pena: Reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa de 10 (dez) a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no País, se qualificado, nos termos do artigo 50, Parágrafo único da Lei Federal nº 6.766/79. O crime tipificado no artigo 50 é qualificado, se cometido: 85 Direito Ambiental I. por meio de venda, promessa de venda, reserva de lote ou quaisquer outros instrumentos que manifestem a intenção de vender lote em loteamento ou desmembramento não registrado no Registro de Imóveis competente; II. com inexistência de título legítimo de propriedade do imóvel loteado ou desmembrado, ressalvado o disposto no artigo 18, §§ 4o e 5o, desta Lei, ou com omissão fraudulenta de fato a ele relativo, se o fato não constituir crime mais grave.(Art. 50, Parágrafo único da Lei Federal nº 6.766/79). Penas do artigo 51 da Lei Federal nº 6.766/1979 As penas previstas, de acordo com o artigo 51 da Lei Federal nº 6.766/79, são as mesmas atribuídas às práticas ilegais, previstas no artigo 50 já destacadas. Penas do artigo 52 da Lei Federal nº 6.766/1979 A pena prevista, de acordo com o artigo 52 da Lei Federal nº 6.766/79, é a detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa de 5 (cinco) a 50 (cinquenta) vezes o maior salário mínimo vigente no País, sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis. Estudamos, nesse capítulo, a Lei Federal nº 6.766/1979, Lei do Parcelamento do Solo Urbano, apresentando os institutos de direito imobiliário de importância para a preservação do meio ambiente ou para o controle de sua degradação, de modo a avaliar os aspectos de interesse ambiental no planejamento urbano, a partir da Lei Federal nº 6.766/79. _GoBack art1§2 art2§3 artigo_90 art51
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