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87 Capítulo 5 Direito Penal Ambiental Seção 1 Conceituação A Lei Federal nº 9.605/1998, denominada genericamente como lei dos crimes ambientais, contém, na verdade, disposições que configuram, por sua natureza, tipos penais e, também, infrações administrativas. Essas últimas, porém, não são objeto deste capítulo, mas do seguinte. Conceitos Conceito de crimes ambientais São considerados crimes ambientais as práticas contra a fauna (Artigo 29 ao Artigo 37); a flora (Artigo 38 ao Artigo 53); os recursos naturais, por lançamento de efluentes que ultrapassem os limites estabelecidos por lei, causando poluição (Artigo 54); o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (Artigo 62 ao Artigo 65); e a administração ambiental (Artigo 66 ao Artigo 69-A). (Todos artigos da Lei Federal nº 9.605/1998). São, também, considerados outros crimes ambientais: • Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a autorização obtida. (Artigo 55 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Deixar de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente (Artigo 55, parágrafo único da Lei Federal nº 9.605/1998). SILVA, Adão Daniel da. Direito Penal Ambiental [material didático]. Direito ambiental. Design instrucional Delma Cristiane Morari. Revisão Contextuar. Palhoça: UnisulVirtual, 2016. 88 Capítulo 5 • Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos (Artigo 56 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Abandonar os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utilizar em desacordo com as normas ambientais ou de segurança (Artigo 56, § 1o, I, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Manipular, acondicionar, armazenar, coletar, transportar, reutilizar, reciclar ou dar destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento (Artigo 56, § 1o, II, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes (Artigo 60 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Disseminar doença, praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas (Artigo 61 da Lei Federal nº 9.605/1998); Conceito de poder de polícia O conceito de poder de polícia, que é de interesse do direito administrativo ambiental, também o é do direito penal ambiental, porque este mantém uma estreita relação com aquele por se utilizar de preceitos comuns, que fundamentam a ação do poder público no que concerne à preservação do meio ambiente. O conceito legal de poder de polícia, aqui, utilizado, encontra-se no Código Tributário Nacional (Lei Federal nº 5.172/1966), no Artigo 78, que afirma: Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. 89 Direito Ambiental A estranheza de se emprestar tal conceito da lei tributária, logo desaparecerá com a introdução do conceito de poder de polícia ambiental no item seguinte. Conceito de poder de polícia ambiental Machado (1989) traduz o seu entendimento quanto ao poder de polícia, como sendo: Poder de polícia ambiental é a atividade da Administração Pública que limita ou disciplina direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato em razão de interesse público concernente a saúde da população, à conservação dos ecossistemas, a disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas ou de outras atividades dependente de concessão, autorização/permissão ou licença do Poder Público de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza. (MACHADO, p.303, 1989). Note-se que há quase total equivalência entre os dois conceitos citados, a diferença fica evidente na ênfase dada às razões de ordem ambiental para disciplinar ou limitar a liberdade, o interesse e o direto de um titular. Milaré (2011) complementa o conceito de poder polícia ao destacar que a tutela administrativa do ambiente é uma garantia constitucional prevista no artigo 225 da Constituição Federal (CF). Segundo esse doutrinador, O poder de polícia ambiental, em favor do Estado, definido como incumbência pelo art. 225 da Carta Magna, e a ser exercido em função dos requisitos da ação tutelar, é decorrência lógica e direta da competência para o exercício da tutela administrativa do ambiente. (MILARÉ, 2011, p.1132). Ainda nas palavras de Milaré (2005), o poder de polícia administrativa é prerrogativa do Poder Público, particularmente do Executivo, e é dotado de atributos da discricionariedade, da autoexecutoridade e da coercibilidade, inerente aos atos administrativo. Seção 2 Tipos de Penais Ambientais De acordo com a Lei de Crimes Ambientais, ou Lei da Natureza (Lei nº 9.605 de 13 de fevereiro de 1998), os crimes ambientais são classificados em cinco tipos diferentes: crimes contra a fauna; crimes contra a flora; poluição e outros crimes 90 Capítulo 5 ambientais; crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural e crimes contra a Administração Ambiental. Crimes contra a fauna São tipificados como crimes as agressões cometidas contra animais silvestres, nativos ou em rota migratória, como: • Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre 1, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida (Artigo 29 da Lei Federal nº 9.605/1998); • Impedir a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida (Art. 29, § 1º, I, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Modificar, danificar ou destruir ninho, abrigo ou criadouro natural (Art. 29, § 1º, II, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Vender, expor à venda, exportar ou adquirir, guardar, ter em cativeiro ou depósito, utilizar ou transportar ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente (Art. 29, § 1º, III, da Lei Federal nº 9605/1998). • Exportar, para o exterior, peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente (Art. 30 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente (Art. 31 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos (Art. 32 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Realizar experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos (Art. 32, § 1º, da Lei Federal nº 9.605/1998). 1 - São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratóriase quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. (Artigo 29, § 3º da Lei Federal nº 9.605/1998). 91 Direito Ambiental • • Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras (Art. 33 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Causar degradação em viveiros, açudes ou estações de aquicultura de domínio público (Art. 33, parágrafo único, I, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Explorar campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização da autoridade competente (Art. 33, parágrafo único, II, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Fundear embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica (Art. 33, parágrafo único, III, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Pescar 2 em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente (art. 34 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Pescar espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos (Art. 34, parágrafo único, I, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Pescar quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos (Art. 34, parágrafo único, II, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Transportar, comercializar, beneficiar ou industrializar espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas (Art. 34, parágrafo único, III, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Pescar mediante a utilização de explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante (Art. 35, I, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Pescar mediante a utilização de substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente (Art. 35, II, da Lei Federal nº 9.605/1998). 2 - Considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora. (Art. 36 da Lei Federal nº 9.605/1998). 92 Capítulo 5 Crimes contra a flora São tipificados como crime as agressões cometidas contra a flora, tais como: • Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção (Art. 38 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção (Art. 38-A da Lei Federal nº 9.605/1998). • Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente (Art. 39 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o Art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização (Art. 40 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Provocar incêndio em mata ou floresta (Art. 41 da Lei Federal nº 9.605/1998); • Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano (Art. 42 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais (Art. 44 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração, econômica ou não, em desacordo com as determinações legais (Art. 45 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento (Art. 46 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Vender, expor à venda, ter em depósito, transportar ou guardar madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela autoridade competente (Art. 46, parágrafo único da Lei Federal nº 9.605/1998). 93 Direito Ambiental • Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação (Art. 48 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia (Art. 49 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação (Art. 50 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente (Art. 50-A, parágrafo único, I, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente (Art. 51 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Penetrar em Unidades de Conservação, conduzindo substâncias ou instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem licença da autoridade competente (Art. 52 da Lei Federal nº 9.605/1998). Tratando das Unidades de Conservação, destaca-se: Unidades de Conservação de Proteção Integral: as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre. (Art. 40, § 1o, da Lei Federal nº 9.605/1998). Unidades de Conservação de Uso Sustentável: as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural. (Art. 40-A, § 1o, da Lei Federal nº 9.605/1998). Crimes de poluição Os lançamentos de matérias ou energia acima dos limites estabelecidos é considerado poluição, sendo tipificados como crime ambiental nas seguintes disposições: 94 Capítulo 5 • Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora (Art. 54 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível (Art. 54, § 3º, da Lei Federal nº 9.605/1998). Outras condutas criminalizadas São tipificadas outras condutas que, de certa forma, guardam alguma relação com a poluição ou tem potencial para causar efeitos disseminados como a poluição pode causar. • Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida (Art. 55, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Deixar de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente (Art. 55, parágrafo único, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ouusar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos (Art. 56 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Abandonar os produtos ou substâncias referidos no caput do artigo 56 ou os utilizar em desacordo com as normas ambientais ou de segurança (Art. 56, § 1o, I, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Manipular, acondicionar, armazenar, coletar, transportar, reutilizar, reciclar ou dar destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento (Art. 56, § 1o, II, da Lei Federal nº 9.605/1998). 95 Direito Ambiental • • Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes (Art. 60 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas (art. 60 da Lei Federal nº 9.605/1998). Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural A seguir, elencamos os crimes que podem ser executados contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural que estão previstos na Lei Federal nº 9.605/1998. • Destruir, inutilizar ou deteriorar bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial (Art. 62, I, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Destruir, inutilizar ou deteriorar arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial (Art. 62, II, da Lei Federal nº 9.605/1998). • Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida (Art. 63 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Promover construção em solo não edificável, ou, no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida (Art. 64 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano (Art. 65 da Lei Federal nº 9.605/1998). 96 Capítulo 5 Crimes contra a administração ambiental Os crimes contra a administração incluem: • Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental (Art. 66 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público (Art. 67 da Lei Federal nº 9.605/1998). • Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental (Art. 68 da Lei Federal nº 9.605/1998); • Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais (Art. 69 da Lei Federal nº 9.605/1998); • Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo (Art. 69-A da Lei Federal nº 9.605/1998); Seção 3 Aplicação de Pena às Pessoas Físicas e às Pessoas Jurídicas O parágrafo 3º do artigo 225 da Constituição Federal (CF) determina que as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Essa previsão constitucional é efetivada no âmbito da legislação ordinária, principalmente, pela Lei Federal nº 9.605/1998, que apresenta as diversas formas pelas quais as condutas lesivas ao meio ambiente se materializam para sujeitar os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a responder a sanções penais e administrativas por suas condutas. 97 Direito Ambiental Responsabilização de pessoas físicas O artigo 2º da referida lei responsabiliza as pessoas físicas que, de qualquer forma, concorrem para a prática dos crimes previstos, incidindo nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. Penas restritivas de direito aplicadas às pessoas físicas As penas restritivas de direito aplicadas à pessoa física, de acordo com o artigo 8º da Lei Federal nº 9605/1998, são: 1. Interdição temporária de direito: proibição do condenado para contratação do Poder Público, recebimento de incentivos fiscais ou benefícios; participação em licitações pelo prazo de 5 anos, nos crimes dolosos e, de 3 anos, nos crimes culposos. 2. Prestação pecuniária: importância de 1 até 360 salários-mínimos, sendo deduzida de eventual reparação civil. 3. Recolhimento disciplinar: baseia-se na autodisciplina e no senso de responsabilidade do acusado. Excludentes de ilicitude, causas de justificação ou descriminantes O artigo 23 do Decreto-Lei Federal nº 2.848/1940 (Código Penal) utiliza a expressão “não há crime” para definir situações que fazem com que o fato, embora típico, não tenha o caráter contrário ao direito. A lei dos crimes ambientais adota a mesma fórmula para apresentar normas permissivas, como se observa nos dispositivos dos itens seguintes. Nos crimes contra a fauna O artigo. 37 da Lei Federal nº 9.605/1998 dispõe que não é crime o abate de animal, quando realizado: 98 Capítulo 5 • em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família (Art. 37, I, da Lei Federal nº 9.605/1998); • para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente (Art. 37, I, da Lei Federal nº 9.605/1998); • por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente (Art. 37, IV, da Lei Federal nº 9.605/1998). Nos crimes contra a flora O artigo 50-A da Lei Federal nº 9.605 dispõe que não é crime: • a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata pessoal do agente ou de sua família (Art. 50-A, § 1o, da Lei Federal nº 9.605); • se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil hectares), a pena será aumentada em 1 (um) ano por milhar de hectare (Art. 50-A, § 2o, da Lei Federal nº 9.605). Nos crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural O artigo 65, § 2o, da Lei Federal nº 9.605/1998 dispõe que não é crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional. Circunstâncias agravantes As circunstâncias agravantes genéricas, previstas no artigo 15 da Lei Federal nº 9.605/1998, são: 99 Direito Ambiental a. reincidência nos crimes de natureza ambiental; b. ter cometido a infração para obter vantagem pecuniária, coagindo outrem;c. expondo a grave perigo a saúde pública ou o meio ambiente; d. concorrendo para danos à propriedade alheia; e. atingindo áreas ou assentamentos urbanos; f. em período de defeso à fauna; g. em domingos ou feriados, à noite, em época de secas ou inundações; h. com emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais; i. mediante fraude ou abuso de confiança; j. com abuso de licença, permissão ou autorização; k. no interesse de pessoa jurídica, mantida por verbas públicas ou beneficiadas por incentivos fiscais; l. facilitada por funcionário público no exercício de suas funções. Há uma circunstância agravante específica, prevista no artigo 40, § 2o, da Lei Federal nº 9.605/1998, referente aos crimes contra a fauna, da Lei Federal nº 9.605/1998 a qual dispõe que a ocorrência de dano, afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância agravante para a fixação da pena. Circunstâncias atenuantes As circunstâncias atenuantes genéricas, previstas no artigo 14 da Lei Federal nº 9.605/1998, são: a. baixo grau de instrução ou escolaridade do agente; b. arrependimento do infrator, com espontânea reparação do dano; c. comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental; d. colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental. 100 Capítulo 5 Causas de aumento de pena Nos crimes de poluição e outros crimes ambientais As causas de aumento de penas por poluição e por outros crimes ambientais incidem na pena cominada se: • do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a modificação do regime climático (Art. 53, I, da Lei Federal nº 9.605/1998); • o crime é cometido: a) no período de queda das sementes; b) no período de formação de vegetações; c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça ocorra somente no local da infração; d) em época de seca ou inundação; e) durante a noite, em domingo ou feriado (Art. 53, II, da Lei Federal nº 9.605/1998); • o crime: I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; e V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos (Art. 54, §2º, da Lei Federal nº 9.605/1998); • o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de um sexto a um terço (Art. 56, §2º, da Lei Federal nº 9.605/1998); • resulta dano irreversível à flora ou ao meio ambiente em geral, as penas são aumentadas de um sexto a um terço para os crimes dolosos previstos na seção dos crimes poluição e outros crimes ambientais (Art. 58, I, da Lei Federal nº 9.605/1998); • resulta lesão corporal de natureza grave em outrem, as penas são aumentadas de um terço até a metade para os crimes dolosos previstos na seção dos crimes poluição e outros crimes ambientais (Art. 58, II, da Lei Federal nº 9.605/1998); • resulta a morte de outrem, as penas são aumentadas até o dobro para os crimes dolosos previstos na seção dos crimes relativos à poluição e outros crimes ambientais (Art. 58, III, da Lei Federal nº 9.605/1998); • o ato realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa (Art. 65, §1º, da Lei Federal nº 9.605/1998). 101 Direito Ambiental Nos crimes contra a administração ambiental A causa de aumento de pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), no caso do crime do artigo 69-A, incide se houver dano significativo ao meio ambiente, em decorrência do uso da informação falsa, incompleta ou enganosa, ao elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente. (Art. 69- A, § 2o, da Lei Federal nº 9.605/1998). Causas de diminuição de pena É causa de diminuição de pena por poluição e por outros crimes ambientais relativos à previsão do artigo 56, §2º, da Lei Federal nº 9.605/1998, se o crime é culposo. Responsabilização de pessoas jurídicas As pessoas jurídicas serão responsabilizadas nas esferas administrativa e penal, não se excluindo a responsabilidade das pessoas físicas. Para o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), a pessoa jurídica pode ser responsabilizada, devendo haver, nesse caso, a dupla imputação (pessoa jurídica e pessoa física). Pode haver a desconsideração da pessoa jurídica (Art. 4º da Lei Federal nº 9.605/1998). Penas restritivas de direito aplicadas às pessoas jurídicas As penas restritivas de direito aplicadas à pessoa jurídica são: 1. Penas aplicadas às pessoas jurídicas: multa, restritiva de direitos e prestação de serviços à comunidade. 2. Suspensão das atividades: quando não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares. 3. Interdição: quando funcionarem sem a devida autorização ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar. 4. Proibição de contratar o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não podendo exceder o prazo de 10 anos. 5. A pessoa jurídica (PJ) constituída ou utilizada para a prática de crimes ambientais terá decretada sua liquidação forçada, sendo considerado seu patrimônio instrumento do crime e perdido para o Fundo Penitenciário Nacional. 102 Capítulo 5 Seção 4 Do Processo Penal Ambiental Imposição da pena ambiental A imposição da pena deve observar: a. a gravidade do fato; b. os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação ambiental; c. situação econômica, no caso de multa. (Art. 6º da Lei Federal nº 9.605/1998). Autonomia das penas restritivas de direito As penas restritivas de direito, conforme dispõe o artigo 7º da Lei Federal nº 9.605/1998, são autônomas e substituem as privativas de liberdade e tem a mesma duração delas quando: a. o crime for culposo ou a pena privativa de liberdade (PPL) for inferior a 4 anos; b. a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime. Suspensão condicional da pena A suspensão condicional da pena pode ser aplicada nos casos de condenação à pena privativa de liberdade não superior a três anos. (Art. 16 da Lei Federal nº 9.605/1998) 103 Direito Ambiental Crimes de menor potencial ofensivo Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (Art. 61 da Lei Federal nº 9.099/1995). Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta para a aplicação imediata da restritiva de direitos ou multa, previstas no artigo 76 da Lei Federal nº 9.099/1995, está condicionada à prévia composição do dano ambiental, salvo em caso de comprovada impossibilidade. Aplicação do Código Penal (CP) e do Código de Processo Penal (CPP) nas infrações e crimes ambientais O artigo 79 da Lei Federal nº 9.605/1998 determina que as disposições do Código Penal (CP) e do Código de Processo Penal (CPP) são aplicadas subsidiariamente, assim, um bom exemplo de aplicação das disposições é o referente à interpretação dasdisposições ambientais. À luz do que dispõe o referido artigo combinado com o artigo 1º do CP (princípio da legalidade), visto que há determinação legal expressa, ou seja, a interpretação das normas penais ambientais não pode ser realizada de forma extensiva ou por analogia. Nesse capítulo, você estudou a Lei Federal nº 9.605/1998, a Lei dos Crimes Ambientais, para lhe auxiliar na avaliação dos aspectos diferenciadores da lei penal ambiental em contraste com o Código Penal e o Código de Processo Penal. _GoBack art68 art69 art69a art3 art69a§2
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