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Economia do meio ambiente, Aloisio Ely, 4ª edição.

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ECONOMIA
nOMEIO
AMBIENTE
Aloísio Ely
I
_1_1
Recursos Naturais
.---------
I
I
I
I
I
I
I
I
I
~: I~I I
1-1_lalReciclagem Resíduos
Progresso Técnico
e Econômico
Comportamento dos
agentes de produção
e de consumo
I
I
I ~!!!!!!!!!!!!!!!~
! I-.- ---'
~!!!!!!!!!!!!!.•• !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!~.SECRETARIA DE COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTO
I :::J :::J :::J FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATI8TICAn :::J -, Siegfried Emanuel HeuserQl'ALlDADE DO MFlü AMBIENTEPadrões de bem estar social
4!! EDlCÃO Porto Alegre, RS - 1990
Não deixa de ser curioso como
o homem, na sua luta incessante
pelo produzir e pelo reproduzir
social, foi se alienando de sua pró-
pria origem material, como se suas
faculdades superiores lhe assegu-
rassem vôos independentes. A apre-
ensão e o domínio da natureza
lhe fizeram esquecer que o fazer
e o refazer se dão com ela que,
como ele, também integra as foro'
ças produtivas e, portanto, a estru-
tura social. As intervenções na na-
tureza, que lhe modificam a com-
posição sem formas compensató-
rias de restituir-lhe a funcionali-
dade e o equilíbrio, terminam por
cobrar seu preço, cujo limite má-
ximo reside na própria possibili-
dade da existência humana. Res-
tituir funcionalidade e equilfbrio
significa dirigir trabalho para re-
por, sob formas históricas especí-
ficas, todas as subtrações que, ao
longo dos anos, a natureza genero-
samente se permitiu. Parece cada
vez mais claro que, assim como o
reproduzir social pressupõe o re-
produzir humano, implica tam-
bém o reproduzir da natureza. É
preciso que a natureza mantenha
certos predicados, mesmo na sua
metamorfose constante. Assim, pa-
ra o homem. A unidade do mun-
do se estriba em sua materialidade.
Este livro cuida desse aspecto
do reproduzir social. E o faz de
uma forma clara, simples, didáti-
ca, de quem espera não ficar soli-
tário no pioneirismo entre nós.
Mais ainda, de quem vem para con-
tribuir na formação da consciên-
cia sobre o assunto e para mobili-
zar capacidades em tomo de algo
que, sem dúvida, vai ocupar, co-
mo alhures, primeiro plano nas
análises e critérios de alocação de
recursos. Veio em muito boa hora
e con tri bui singularmen te para
uma nova visão social e técnica da
simbiose entre homem c natureza.
Claudio F. A ccurso
Teses publicadas pela FEE:
ALONSO, José Antonio Fialho
(1984). Evolução das desigual-
dades inter-regionais de renda
interna no RS - 1930-1970.
furto Alegre, Fundação de Eco-
nomia e Estatística. (Teses, 9).
AZEVEDO, Beatriz Regina Zago
de (1985). A produção nãoca-
pitalista - uma discussão teó-
rica. Porto Alegre, Fundação
de Economia e Estatística. (Te-
ses, 10).
BENETTl, MariaDomingues(1985).
Origem e formação do coope-
rativismo empresarial no RS.
Porto Alegre, Fundação de
Economia e Estatística. (Te-
ses, 5).
BRUMER, Sara (1981). Estrutura.
conduta e desempenho de mer-
cado da indústria metal-mecâ-
nica gaúcha - 1977. Porto Ale-
gre, Fundação de Economia e
Estatística. (Teses, 2).
CARRION, Rosinha (1984). Par-
ticipação ou manipulação: um
estudo de caso. Porto Alegre,
Fundação de Economia e Es-
tatística. (Teses, 8).
CONCEIÇÃO, Octávio Augusto
(1984). A expansão da soja no
Rio Grande doSul- 1950-1'J75.
furto Alegre, Fundação de Eco-
nomia e Estatística. (Teses, 6).
CORAZZA, Gentil (1986). Teoria
Econômica e Estado (de Ques-
nay a Keynes). Porto Alegre,
Fundação de Economia e Es-
tatística. (Teses, 11).
FISCHER, Sérgio (1982). Séries
univariantes de tempo-metodo-
logia de Box & Jenkins. Porto
Alegre, Fundação de Economia
e Estatística. (Teses, 4).
LENZ, Maria Heloisa(1983). Aca-
tegoria econômica renda da ter-
ra. Porto Alegre, Fundação de
Economia e Estatística. (Te-
ses, 1).
PEREIRA, José Maria Dias (1984).
A participação da alimentação
na inflação brasileira nos anos
70: uma contribuição ao deba-
te. Porto Alegre, Fundação de
Economia e Estatística. (Te-
ses,7).
TARGA Luiz Roberto Pccoits
(I98:!). Ensaio sobre a totali-
dade econômica. Porto Alegre,
Fundação de Economia e Es-
tatística. (Teses, 3).
[FEE-GEDQC
SECRETARIA DE COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTO
_J _l -J FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA
n "1 ~| Siegfrted Emanuel Heuwr
ECONOMIA
DO MEIO
AMBIENTE
UMA APRECIAÇÃO INTRODUTÓRIA
INTERDISCIPLINAR DA POLUIÇÃO,
ECOLOGIA E QUALIDADE AMBIENTAL
Aloísio Ely
4! EDIÇÃO
Porto Alegre, RS -1990
E52 Ely, Aloísio
Economia do meio ambiente: uma apreciação intro-
dutória interdisciplinar da poluição, ecologia e quali-
dade ambiental. 3.ed. rev. ampl. Porto Alegre,
Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel
Heuser, 1988.
180p. ilust.
1. Economia: Meio Ambiente. 2. Meio Ambiente:
Economia. L Fundação de Economia e Estatística
Siegfried Emanuel Heuser. II. Título.
CDU: 33:577.4
577.433
F E E - C E D O C
. UC-TECA
Tiragem: l .000 exemplares Código: 4.028.01
Toda correspondência para esta publicação deverá ser endereçada à:
FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA
Siegfried Emanuel Heuser
Rua Duque de Caxias,1691 - 90.010 - Porto Alegre - RS
As opiniões emitidas neste trabalho não expressam, necessaria-
mente, o ponto de vista da Fundação de Economia e Estatística
Siegfried Emanuel Heuser.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Pedro Simon
Governador
SECRETARIA DE COORDENAÇÃO E PLANEJAMENTO
Teimo Borba Magadan
Secretário
FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA
Siegfried Emanuel Heuser
CONSELHO DE PLANEJAMENTO: Presidenta: Wrana Maria Panizzi. Membros: Hélio Henkin,
Gervásio Rodrigo Neves, Manoel Luzardo de Almeida, Achyles Barcelos da Costa, Nery Santos
Filho, Derbi Bordin.
CONSELHO CURADOR: Armando Carlos Hennig, E liana Donatelli Del Mese, Darcy Braga Lages.
PRESIDENTA:
Wrana Maria Panizzi
DIRETOR TÉCNICO:
Rubens Soares de Lima
DIRETOR ADMINISTRATIVO:
Antônio César Gargioni Nery
CENTRO DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS
Octavio A. C. Conceição
CENTRO DE CONTABILIDADE SOCIAL E INDICADORES
Adalberto Alves Maia Neto
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO
Marilene Brunel Ludwig
CENTRO DE PROCESSAMENTO DE DADOS
Nilson Henrique Elias
CENTRO DE EDITORAÇÃO
Elisabeth Kurtz Marques
CENTRO DE RECURSOS
Nora Ângela Gundlach Kraemer
Para Mariana e Daniela, bem como para todas as
gerações futuras, esta obra seja um argumento de fé e
de esperança de que as mudanças sócio-econômicas
promoverão a melhoria da qualidade do meio ambien-
te deste planeta Terra fmito que cada um de nós aju-
dou a poluir de uma forma ou de outra.
FEE-CEDOC
PREFÁCIO DA TERCEIRA EDIÇÃO
A ciência do meio ambiente, em particular a economia ambiental, continua
embrionária na literatura brasileira, apesar da forte demanda institucional por esses
conhecimentos. A FEE lançou.com pioneirismo nacional, a primeira edição deste li-
vro na primavera de 1986, foi necessária uma segunda edição no início de 1987, a
qual se esgotou no final do mesmo ano.
O interesse demonstrado pelo assunto estimulou-nos para ampliar a terceira
edição, introduzindo um capítulo sobre a política do meio ambiente no Brasil. Esse
capítulo — Política do Meio Ambiente: Fundamentos e Princípios — induz a uma
reflexão normativa sobre os princípios que devem orientar a formulação de uma
política ambiental nacional, que englobe as esferas regional, estaduá e municipal,
servindo como marco de referência teórica para uma ação política efetiva e para o
planejamento com vistas à promoção e à melhoria da qualidade do meio ambiente.
Fatos da maior relevância na história ambiental brasileira registraram-se desde
a primeira edição. A questão ambiental foi incorporada, pela primeira vez na histó-
ria, do planejamento do País através do I Plano Nacional de Desenvolvimento da
Nova República 1986-89, que reservou um capítulo especial para o meio ambiente.
Esse foi substituído pelo Plano de Ação do Governo 1987-91 (PAG) em 1987, o
qual deu ainda maiordestaque ao meio ambiente, chegando a definir uma política
ambiental brasileira, explicitando objetivos, diretrizes políticas, metas e dotações
orçamentárias para os correspondentes programas e projetos ambientais seleciona-
dos dentro de um critério de prioridades nacionais.
Entretanto consideramos a Resolução n9 01/86 do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA) o avanço mais significativo e de maior relevância para a
preservação e melhoria da qualidade do meio ambiente no Brasil. A Resolução
CONAMA n9 01/86, como um instrumento de ação política, é, sem dúvida, o mar-
co de referência, sem similar nacional, que, na prática, representa um freio à genera-
lizada degradação ambiental neste País. Trata-se de um forte dispositivo jurídico e
institucional para o controle do meio ambiente no Brasil. Essa Resolução impõe
uma análise de Estudos do Impacto Ambiental (EIA), bem como pareceres técnicos
e Relatórios de Impacto do Meio Ambiente (RIMA) para todos os programas e pro-
jetos significativos, sejam eles da iniciativa do setor privado ou do setor público.
A integração e a interdisciplinariedade institucionais e científicas não são só
questões intrínsecas dos EIA/RIMA, pois é uma exigência legal que esses sejam ela-
borados por uma equipe integrada e interdisciplinar. Essa exigência surpreendeu o
mundo científico e institucional brasileiro, totalmente despreparado para atendê-la.
O caos decorrente da não-integração da produção científica na Universidade brasi-
leira é uma realidade, bem como é caótica a situação da não-integração institucional
entre os órgãos públicos e privados que fazem prática científica. Vemos, na Resolu-
cão CONAMA n° 01/88, um grande mérito a curto e médio prazos, pois a mesma
forçará uma mudança de mentalidade para uma maior integração científica e insti-
tucional, evitando incalculáveis desperdícios no atual sistema de fazer e refazer as
coisas, com substanciais benefícios para a sociedade brasileira. Além disso, a mesma
resolução abre um amplo mercado para todas as classes profissionais, inclusive para
os economistas e sociólogos brasileiros. Isto significa uma imediata ação de treina-
mento e atualização profissional, principalmente no que diz respeito à integração
científica e institucional. Todos os profissionais, sejam eles cientistas, políticos, go-
vernantes ou empresários, terão que romper com suas "cercas corporativistas" e
aprender o "esperanto científico", se sentar numa mesa redonda, colocando o
homem como o centro de suas preocupações e atenções, falando a mesma lingua-
gem, para viabilizar um mínimo de entendimento e comunicação. O economista
brasileiro, em particular, tem uma parcela importante para contribuir nesse universo
harmônico, sem o qual a qualidade do meio ambiente encontra pouco espaço para
avançar. O bem-estar coletivo depende do prazer de viver de cada cidadão e do nível
da qualidade ambiental que este constrói e desfruta no seu dia-a-dia. Esperamos que
a Constituinte e a futura Constituição garantam esses direitos naturais básicos para a
sociedade brasileira e para o cidadão em particular.
Porto Alegre, agosto de 1988
AloísioEly
PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO
Os atuais e crescentes interesses e preocupações em torno da questão ambien-
tal vêm redimir e redimensionar a persistente ação agressiva do homem na degrada-
ção ecológica do passado para um maior respeito e convivência harmônica com a na-
tureza. Embora existam muitos comentaristas de ecologia e do meio ambiente, há,
contudo, poucos especialistas. Na área econômica, virtualmente nada existe publica-
do em português — com exceção de alguns artigos — que possa atender ao espírito
da interdisciplinaridade do meio ambiente. As disciplinas de política e economia do
meio ambiente continuam excluídas do "curriculum" nos cursos brasileiros de eco-
nomia, fazendo com que o profissional de economia sequer receba uma mensagem
sobre a ecologia e o meio ambiente. Isso, além de lamentável, é uma prova do quan-
to a universidade brasileira está desligada da sua realidade sócio-econômica. Nesse
contexto, o que se pode esperar dos economistas e planejadores quando da elabora-
ção de planos e propostas de desenvolvimento, na formulação e avaliação de políti-
cas que realisticamente irão confrontar-se com os problemas sérios da poluição e de-
gradação da qualidade ambiental?
Os estudos e pesquisas do meio ambiente vêm recebendo uma atenção crescen-
te, principalmente nos países desenvolvidos. Eles englobam interesses interdisciplina-
res das ciências biológicas, exatas e sociais. Existem excelentes livros disponíveis na
literatura estrangeira, bem como periódicos especializados nos diferentes campos
científicos. Todavia a literatura ambiental na língua portuguesa é incipiente, em es-
pecial na área das Ciências Econômicas. Preencher parte dessa vital lacuna do conhe-
cimento estimulou-nos a elaborar esta introdução e abordagem conceituai sobre a
economia do meio ambiente. Não se trata de um texto puramente acadêmico, mas
visa a um público mais amplo, estudantes e profissionais interessados na questão do
meio ambiente. Embora o texto seja dimensionado para a disciplina de economia do
meio ambiente — como uma contribuição conceituai e introdutória -, procuramos
substituir o "economês" por uma linguagem interdisciplinar mais universal.
O meio ambiente é, por definição, uma temática interdisciplinar, e, como tal,
ela está preocupada com o bem-estar do homem. Nossa preocupação no transcurso
deste texto, às vezes intencionalmente repetitivo, é colocar o homem no centro de
todas as atenções. E este, entendemos, deve ser o comportamento do mundo cientí-
fico, cujo esforço deve estar voltado para o homem. Assim, o espírito do trabalho
procura deixar claro que existe a necessidade de um esforço interdisciplinar requeri-
do pelos problemas reais da nossa sociedade. Mesmo que a nível teórico se justifique
uma estrutura científica departamental, na prática, contudo, quando se trata da
ciência aplicada, não há como encontrar soluções sem uma visão interdisciplinar.
Nesse sentido, a Economia tem uma importante contribuição para dar.
Outra idéia transparente ao longo dos capítulos é a necessidade de se organi-
zar um sistema econômico compatível com os ecossistemas para que seja possível
uma sociedade mais humana, justa e estável.
O livro está dividido em oito capítulos. O Capítulo l - Aspectos Concei-
tuais — apresenta alguns conceitos fundamentais da ciência do meio ambiente, incluin-
do a Economia e a ecologia. No Capítulo 2 — Considerações sobre Ecologia — são
tratadas noções básicas de ecologia, como também se dimensiona um paralelo entre
a Economia e a ecologia. Por sua vez, o Capítulo 3 - Problemas, Causas e Fontes da
Poluição Ambiental — discute os principais problemas da poluição, suas causas e
efeitos. Esse capítulo inclui, também, a dimensão econômica da poluição. O Capítu-
lo 4 — A Questão Ambiental e o Pensamento Econômico — apresenta um resumo
das principais correntes do pensamento ambiental. Já no Capítulo 5 — Os Sistemas
Econômicos e o Meio Ambiente —, procuramos interpretar o meio ambiente como
um recurso e um serviço num sistema econômico, além de interpretar o conceito de
sistemas, desenvolvendo algumas características de um sistema econômico nos senti-
dos restrito e amplo do seu significado. Esse capítulo inclui modelos de inter-rela-
ções, tais como o Modelo do Balanço de Matéria (MBM) e os Modelos dos Professo-
res Forrester e Meadows (MFM). No Capítulo 6-0 Sistema de Livre Mercado e o
Meio Ambiente - procuramos analisar aspectos das falhas do mercado capitalista e
suas implicações num sistema econômico. O Capítulo 7 - Níveis e Tendências da
Qualidade Ambiental - apresenta algumas tendências e experiências de controle da
poluição nos Estados Unidos e na Inglaterra. Finalmente no Capítulo 8 — Pensando
no Futuro: Considerações e Especulações sobre o Controle Ambiental —fazemos al-
gumas especulações em torno da questão ambiental e propomos uma nova ordem
econômica internacional e nacional para a organização de um sistema econômico.
É oportuno registrar que este trabalho não é fruto exclusivo do autor, apesar
de as opiniões e interpretações nele emitidas serem de sua inteira responsabilidade.
Queremos agradecer à Fundação de Economia e Estatística e ao Governo do Estado
do Rio Grande do Sul, através de sua Secretaria de Coordenação e Planejamento,
bem como à Universidade Federal do Rio Grande dó Sul que nos deram o supor-
te financeiro indispensável, na qualidade de bolsista, para desenvolver o nosso pro-
grama de doutoramento na Universidade de Reading, na Inglaterra. Essa extraordi-
nária oportunidade viabilizou nossa pesquisa e o desenvolvimento dos conhecimen-
tos nessa fronteira científica das ciências ambientais, cujo tema, além de desafiante,
nos estimula e nos apaixona pelo seu conteúdo humanístico, pela certeza que temos
dos benefícios transferidos às gerações futuras. Em particular, ficamos gratos ao De-
partment of Environment, do Ministério do Governo Inglês, responsável pela admi-
nistração, planejamento e coordenação da qualidade ambiental na Inglaterra, que
nos franqueou, sem restrições, o uso de sua riquíssima biblioteca interdisciplinar,
em particular seu acervo de periódicos, acima de 2.500 títulos. Devemos também
agradecimentos ao nosso orientador da Universidade de Reading, Mr. David Anseln,
por sua paciência, sabedoria e estímulos a nosso trabalho de pesquisa.
Agradecemos, ainda, à Direção da Fundação de Economia e Estatística, onde
desenvolvemos nossas atividades profissionais, pelo apoio logístico em viabilizar a
editoração deste trabalho. Aos colegas, Economistas Duílio de Ávila Bérni da FEE
e Eugênio M. Cánepa da CIENTEC, agradecemos as críticas objetivas indispensáveis
para melhorar a qualidade técnica deste trabalho. Agradecemos, também, a todos
aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a publicação deste texto.
Uma especial gratidão ao reconhecido cientista social, Economista Iguacy Sachs,
que nos soube sensibilizar, motivar, bem como convencer de que o estudo sobre a
qualidade do meio ambiente é uma grande idéia: ela é boa para ti, para mim, para
nós todos, assim como para as Ciências Econômicas.
Aloísio Ely
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
l^ ASPECTOS CONCEITUAIS 3-17
1.1 — Conceito do meio ambiente 3
1.2 — A ciência do meio ambiente e a Economia 4
l .3 — Conceito econômico do meio ambiente 8
1.4 — Economia ambiental e disciplinas auxiliares 11
1.5 — O homem e o meio ambiente 13
1.6 — 0 problema da economia e do meio ambiente 14
2- CONSIDERAÇÕES SOBRE ECOLOGIA 19-45
2.1.— Conceito e natureza da ecologia 20
2.2 - Ecossistemas 22
2.2.1 — Conceito de ecossistema 22
2.2.2 — Os ciclos naturais do meio ambiente 26
2.2.3 — Cadeia e rede alimentar 31
2.3 — Produtividade do ecossistema 36
2.4 — Estabilidade do ecossistema 38
2.5 — A poluição e a estabilidade do ecossistema 39
2.6 — Economia, ecologia e política 41
3- PROBLEMAS, CAUSAS E FONTES DA POLUIÇÃO AM-
BIENTAL 47-70
3.1 - O que é poluição? 47
3.2 — O homem poluidor e produtor de resíduos 49
3.3 — Fontes e causas da poluição ambiental 53
3.3.1 — Fontes da poluição 53
3.3.2 — Causas globais da poluição 57
3.3.3 — Os efeitos biológicos da poluição 62
3.4 — "Flash" histórico dos problemas ambientais 63
3.5 — A dimensão econômica da poluição 64
3.6 — Os ganhadores e perdedores com a poluição 67
4- A QUESTÃO AMBIENTAL E O PENSAMENTO ECONÔMICO . 71-77
4.1 — Escola pessimista 72
4.2 — Escola minimalista 73
4.3 - Escola coletivista (socialista) 73
4.4 — Escola de crescimento zero 74
4.5 — Escola da austeridade 76
4.6 — Escola de prioridades públicas 76
5- OS SISTEMAS ECONÔMICOS E O MEIO AMBIENTE 79-95
5.1 — O meio ambiente como um recurso escasso 79
5.2 — Serviço do meio ambiente 80
5.3 — Uma visão do sistema econômico 81
5.4 — Os significados restrito e amplo do sistema econômico . . 83
5.5 - O Modelo do Balanço de Matéria (MBM) 84
5.5.1 - O MBM simplicado 84
5.5.2 - O MBM esquematizado 86
5 . 6 - 0 Modelo de Forrester e Meadows (MFM) 89
6- O SISTEMA DE LIVRE MERCADO E O MEIO AMBIENTE . . 97-111
6.1 — A função do mercado e dos preços 98
6.2 - O meio ambiente e as externalidades 102
6.3 - O meio ambiente, produção e consumo 104
6.4 — O meio ambiente e o bem-estar: os custos e benefícios
privados sociais 105
6.5 — As falhas de mercado e o meio ambiente 105
6.5. l - Falhas do mercado e o direito da propriedade . 106
6.5.2 — Falhas do mercado e bens coletivos 108
6.5.3 — Falhas do mercado e o Estado 109
7- NÍVEIS E TENDÊNCIAS DA QUALIDADE AMBIENTAL . . . 113-129
7.1 — Casos de melhoramento da qualidade ambiental 116
7.1.1 — O caso das águas de Nova Iorque 116
7.1.2 — Algumas tendências da qualidade do ar nos Es-
tados Unidos 118
7.1.3 — Tendências da qualidade do ar e água na Ingla-
terra 121
7.2 — Casos de deterioração da qualidade ambiental 123
7.2.1 — Uma visão alternativa da qualidade do ar urbano . 123
7.2.2 — Tendências da poluição do chumbo 124
7.2.3 — Acumulação de resíduos sólidos 126
7.2.4 - Deterioração do meio ambiente social e psicoló-
gico 128
8- POLÍTICA DO MEIO AMBIENTE: FUNDAMENTOS E PRIN-
CÍPIOS 131-157
8.1 - Introdução 131
8.1.1 — Fundamentos da política ambiental 131
8.1.2 — Princípios para diretrizes e estratégias ambientais 132
8.2 — Problemas do meio ambiente 134
8.2.1 — Problemas e causas globais 134
8.2.2 — Problemas ambientais locais 137
[FEE-CEDOO
'•: ' í. *••* f* *H •
8.3 — Diretrizes e estratégias ambientais 138
8.3.1 - Diretriz geral: desenvolvimento sustentado . . . 138
8.3.2 - Diretrizes setoriais 139
8.3.3 — Diretrizes para recursos naturais 143
8.4 - Prioridades 143
8.4.1 — Prioridades regionais e locais 144
8.4.2 - Ações emergenciais setoriais 146
8.5 — Estratégias de implantação 147
8.6 - Resumo de mecanismos e instrumentos de políticas am-
bientais com base em Baumol e Oates 148
8.7 — Política ambiental no Brasil 150
8.7.1 — Aspectos institucionais 150
8.7.2 - Base legal 152
8.7.3 — Ação política e planejamento ambiental 152
9- PENSANDO NO FUTURO: CONSIDERAÇÕES E ESPECULA-
ÇÕES SOBRE O CONTROLE AMBIENTAL 159-166
9.1 — Perspectivas futuras 161
9.2 — Uma nova ordem econômica 163
ANEXO - ONU: DECLARAÇÃO SOBRE O AMBIENTE HUMANO . 167
BIBLIOGRAFIA 173
LISTA DE FIGURAS
Figura l — O ciclo da biosfera 27
Figura 2 — 0 ciclo aquático (hidrológico) 28
Figura 3 — 0 ciclo do nitrogênio 30
Figura 4 — 0 ciclo do oxigênio e do dióxido de carbono 31
Figura 5 — Cadeia alimentar linear simplificada na terra 32
Figura 6 — Cadeia alimentar simplificada na água 32
Figura 7 — Pirâmide dos números numa cadeia alimentar 33
Figura 8 — Teia ou rede alimentar na terra 34
Figura 9 - Cadeia aliment." natural africana 35
Figura 10 — Hierarquia e prioridades de objetivos e metas nacionais . . . . 42
Figura 11 — Esquema analítico entre sistema natural e sistema econômico . 52
Figura 12 - Fontes de materiais residuais no meio ambiente 54
Figura 13 — Os significados amplo e restrito do sistema econômico 83
Figura 14 — O MBM simplificado 85
Figura 15 — Retrato esquematizado do MBM e o fluxo da matéria 87
Figura 1 6 — 0 sistema de produção na concepção do MFM 90
Figura 17 — Relações demográficas no MFM 92
Figura 18 — O MFM completo 94
Figura 19 — Os efeitos ambientais no sistema de produção 104
Figura 20 - Médias móveis de cinco anos de oxigênio dissolvido anual-
mente para os principais rios da bacia hidrográfica de Nova
Iorque - 1910-75 117
Figura 21 — Partículas de matérias para cinco distritos da Cidade de Nova
Iorque - 1940-75 118
Figura 22 — Qualidade doareSO2 para seis cidades americanas—1967-72 . 119
Figura 23 — Registro do número de horas-sol-dia no inverno — 1946-75 . . 121
Figura 24 — Percentagem de saturação do oxigênio dissolvidona água do
RioThames- 1930-39,1954 e 1969 122
Figura 25 — Concentrações de monóxido de carbono na Cidade de Nova
Iorque - 1958-76 124
Figura 26 — Poluição industrial do chumbo em Camp Century na Green-
land - 800 a.c.-1950 125
Figura 27 — Evolução dos resíduos sólidos depositados nos arredores da
Cidade de Cincinnati - Ohio - 1931-75 127
FEE-CEüOG
l - ASPECTOS CONCEITUAIS
Um conceito bem definido é meio caminho andado. Uma precisa defi-
nição conceituai e operacional, além de necessária para uma interpreta-
ção univoca, evita prolongadas e desgastantes discussões improdutivas.
Talvez pela imprecisão terminológica, o meio ambiente tornou-se
um assunto polêmico e não raras vezes vem sendo confundido com a eco-
logia, biologia ou mesmo com a imagem da natureza. Faz parte deste ca-
pítulo a definição, discussão e interpretação de alguns termos relevan-
tes à economia do meio ambiente.
1.1 — Conceito do meio ambiente
Embora existam várias interpretações do meio ambiente, pois são
muitos os autores que vêm abordando este assunto, com enfoques cientí-
ficos diferentes, há uma concordância unânime quanto ao significado e
à amplitude do termo: sua abrangência e interdisciplinaridade. Gilpin
(1976, p. 51) define o meio ambiente como: "Todo o meio exterior ao or-
ganismo que afeta o seu integral desenvolvimento".
O meio ambiente contém três elementos-chaves, a saber:
a) meio exterior: significa que o meio ambiente é tudo aquilo que
cerca um organismo (o homem é um organismo vivo), seja o físi-
co (água, ar, terra, bens tangíveis feitos pelo homem), seja o
social (valores culturais, hábitos, costumes, crenças), seja o
psíquico (sentimentos do homem e suas expectativas, segurança,
angústia, estabilidade);
b) organismo: o conceito não especifica o organismo, mas trata dos
organismos bióticos (vivos), tais como as plantas e animais,
entre os quais se destaca o homem;
c) integral desenvolvimento: os meios físico, social e psíquico
são que os dão as condições interdependentes necessárias e su-
ficientes para que o organismo vivo (planta ou animal) se de-
senvolva na sua plenitude, sob o ponto de vista biológico, so-
cial e psíquico.
O homem, como um organismo vivo, só pode desenvolver-se integral-
mente quando convive num ambiente sadio. A ação poluidora do homem é
um suicídio, pois ele destrói e degrada o próprio meio onde encontra as
condições para se desenvolver biológica, social e psiquicamente. Toda
vez que a ação do homem deteriora seu meio ambiente ao ponto de compro-
meter o seu integral desenvolvimento, cria-se um problema de qualidade
ambiental que só o próprio homem pode resolver.
Conforme o conceito acima, o meio ambiente efetivo é todo o meio
exterior ao ser vivo. Esse meio exterior inclui os fatores abióticos
(não vivos) da terra: água, atmosfera, clima, sons, odores e gostos; os
fatores bióticos dos animais, plantas, bactérias e vírus; os fatores
sociais de estética e os fatores culturais e psicológicos.
O caráter de integração e interdisciplinaridade dá ao meio ambien-
te uma imagem totalista, sistêmica e abrangente. No meio ambiente cabe
praticamente tudo: o físico, o social e o psicológico que acompanham a
evolução do homem no seu dia-a-dia. Assim, a idéia da interdisciplina-
ridade e interdependência sistêmica do meio ambiente fica bastante evi-
denciada. Isso sugere que toda e qualquer tentativa para soluções práti-
cas aos problemas do homem deve receber um tratamento interdisciplinar
e global. Além de tudo, o homem é o centro de todas as ações- e aconte-
cimentos no planeta Terra.
1.2 — A ciência do meio ambiente e a Economia
O caráter da interdisciplinaridade científica é, talvez, a questão
mais importante da ciência do meio ambiente que se preocupa com as cau-
sas e com os efeitos das relações interdependentes de tudo aquilo que
cerca e afeta o desenvolvimento do homem para que este obtenha a sua
plenitude biológica, sociológica e psicológica. Essa ciência vem cres-
cendo em importância na medida em que o homem se convence de que qual-
quer solução prática para os seus problemas requer um tratamento in-
terdisciplinar. Assim, como qualquer outra ciência, a Economia tem uma
importante contribuição a dar para a melhoria da qualidade do meio am-
biente e, conseqüentemente, para que o homem construa seu meio de for-
ma a que possa encontrar todas as condições físicas, biológicas, so-
ciais e psicológicas para desenvolver-se integralmente.
A ciência do meio ambiente já está consolidada no mundo científi-
co, e sua importância é destacada pelo sistema de educação formal nos
países desenvolvidos, onde é matéria obrigatória nos cursos secundários
e universitários. O cidadão recebe uma adequada educação ambiental que
o conscientiza da importância e da influência da qualidade ambiental.
Esse é o passo mais importante que uma sociedade pode dar em prol de
uma melhoria na qualidade de vida. Lamentavelmente, nos países em via
de desenvolvimento, apesar de sua crescente manifestação ecológica, as
escolas ainda desconhecem a disciplina do meio ambiente.
Uma das principais características do meio ambiente diz respeito
ao princípio e ao caráter interdisciplinar que a coloca como uma ciên-
cia integradora das demais ciências, quando sua principal preocupação
é a qualidade de vida do cidadão. É o que realmente importa para uma
sociedade estável e pacífica. O mundo científico busca uma consolida-
ção integrada através da ciência do meio ambiente, onde cada ciência
individual tem uma importante contribuição para o aprimoramento da qua-
lidade do meio ambiente e, conseqüentemente, para a melhoria da quali-
dade de vida. Isso vem confirmar que o esforço do homem para o desen-
volvimento científico, seja através das ciências exatas, seja através
das ciências biológicas ou das agrárias e humanísticas, etc., tem ape-
nas uma razão de ser: contribuir para a melhoria de vida e bem-estar so-
cial do homem. É nesse contexto que cresce a importância do papel da
ciência do meio ambiente no esforço do homem de integrar e consolidar
o mundo científico para a mais digna aspiração humana. A qualidade do
meio ambiente é, portanto, não uma questão exclusiva de ecologistas,
biologistas ou conservanionistas. Ela é igualmente importante para o
físico, o matemático, o engenheiro, o médico, o agrônomo, o jurista, o
sociólogo, o político, o economista, etc. Não existem soluções puramen-
te ecológicas, biológicas, jurídicas, agronômicas ou políticas, pois o
meio ambiente, além de seu físico (solo, água, ar), também é social e
psíquico e está inserido numa estrutura político-econômico-social. O
mundo que cerca o homem é um mundo complexo, onde o físico, o so-
. ciai e o psíquico se integram e constituem o ambiente no qual ele
se desenvolve.
A tomada de decisão para uma eficiente alocação dos recursos nu-
ma sociedade já ultrapassa as fronteiras puramente econômicas, pois nem
tudo que é econômico necessariamente é bom para a sociedade e para o
homem. De outro lado, nem tudo pode ser conservado, pois os recursos
devem ser usados para satisfazer as crescentes necessidades humanas.
Entre os extremos — de um lado, a viabilidade econômica e, de outro, a
conservação absoluta dos recursos naturais —, existe um amplo espaço
para uma adequação tecnológica e econômica e uma adequação racional
de consumo, para o qual a ciência do meio ambiente pode sugerir solu-
ções eficientes num esforço interdisciplinar das ciências para a melho-
ria da qualidade do meio ambiente. A deterioração desta qualidade não
é puramente um fenômeno de poluição física do solo, das águas, do ar,
do resíduo, mas sobretudo a poluição social e psíquica. Por exemplo, o
congestionamento urbano e os cinturões da miséria metropolitana levam
ao "stress", à instabilidade e à desintegração social. Isso caracteri-
za um ambiente de desintegração ao invés de integração social e, natu-
ralmente, é umaresultante do sistema econômico-político maior entre as
relações de produção e de consumo da sociedade moderna.
Vale a pena registrar aqui que é profunda a nossa ignorância so-
bre uma visão global do meio ambiente, como se deveria proceder e como
nos afeta. Até a década passada, a visão do meio ambiente restringia-se
a problemas locais, particularmente se tratando de problemas físicos,
tais como a poluição das águas, do ar e da terra, problemas estes que
são de soluções relativamente fáceis. Porém, a própria experiência e o
conceito de meio ambiente ensinam ao homem que existe um só meio ambi-
ente global para trabalhar, estudar e pesquisar. Nesse contexto, a vi-
são de sistema global, de como é constituído o meio ambiente, é de vi-
tal importância para promover a melhoria da qualidade de vida. Assim, a
ação do homem através das relações de produção e de consumo afeta con-
comitantemente a integração dos sistemas ecológicos, biológicos, eco-
nômicos e sócio-psicológicos.
A Terra é um sistema finito formado por uma complexidade de ecos-
sistemas perfeitamente integrados. Ela é uma só. As necessidades huma-
nas crescem em função da explosão geométrica da sua população e dos
ajustamentos às mudanças tecnológicas de produção e da evolução e do
comportamento social do consumo. Isso significa uma ação humana ultra-
dinâmica na tomada de decisões para combinar os recursos escassos no
seu melhor uso alternativo.
O problema central da economia é buscar alternativas eficientes
para alocar os recursos escassos da sociedade. O meio ambiente é um re-
curso escasso como qualquer outro na concepção do economista.
Na medida em que a ação do homem avança tecnologicamente e a po-
pulação se multiplica a taxas geométricas (características dos países
pobres, em particular das populações de baixa renda), jogando crescen-
tes resíduos agrícolas, industriais e urbanos no ar, na água e nos so-
los, poluindo o seu meio físico, social e psíquico, o meio ambiente
torna-se cada vez mais escasso ao ponto de o planeta Terra se tornar
inabitável, ficando comprometida a relação sócio-psicológica da socie-
dade. É exatamente nesta crescente escassez do recurso meio ambiente
que a Economia, como uma ciência, pode e tem condições de dar sua re-
levante contribuição na busca e na melhoria da qualidade de vida.
Como já se afirmou, não existem soluções parciais para o meio am-
biente e não cabe ao economista as apresentar isoladamente. Mas, dentro
da visão interdisciplinar, a economia pode dar o seu recado. Isso fica
muito claro por uma simples analogia: a natureza não polui, é o "homo
sapiens" quem polui. O homem, pelo seu comportamento animal, faz parte
do sistema natural que, pelo ciclo vida e morte, tem uma capacidade ex-
traordinária de produzir resíduos (plantas e animais mortos) e trans-
formá-los, por um processo de reciclagem (decomposição orgânica), em no-
vas formas de vida vegetal e animal. Apesar de produzir resíduos em es-
cala incalculável, a natureza é incapaz de poluir o meio ambiente, pois
reintegra totalmente os resíduos à dinâmica do ciclo produtivo. Está aí
uma lição fundamental da natureza que parece merecer uma maior atenção
na organização político-econômica do "homo sapiens" — a persistir na
produção de crescentes resíduos, através da sua irracional e inadequa-
da estrutura de produção e de consumo. Como o homem usa tecnologias não
adequadas, padrões não adequados de consumo, produz uma exagerada po-
luição — degradando o meio ambiente — por falta absoluta de reciclagem
dos resíduos e por falta de respeito à capacidade de absorção destes pe-
lo meio ambiente. Por isso, diz-se que a poluição é uma conseqüência
lógica da ação do homem na sua irracionalidade produtiva e na sua ir-
racionalidade de consumo que é determinado pelo sistema político-eco-
nômico-social vigente. Aqui nasce o mais simples e básico princípio pa-
ra o economista ambiental: a melhoria de qualidade ambiental está di-
retamente correlacionada ao aproveitamento dos resíduos decorrentes da
produção e do consumo. Em outras palavras, se o"homo sapiens" reciclas-
se todos os seus resíduos, tal como a natureza procede, a sociedade mo-
derna estaria livre da poluição.
Para aqueles de compromisso neutro, ideológica e politicamente, a
receita e a solução do problema ambiental, sob o ponto de vista sócio-
-econômico, são simples: elas se baseiam na reciclagem dos resíduos
produzidos pelo homem através das relações tecnológicas adequadas de
produção e estrutura adequada de consumo. Logicamente, para alcançar es-
ses parâmetros, a sociedade obrigatoriamente terá que optar por uma no-
va ordem econômico-social, isto é, mudanças na organização político-
-econômica que levariam a uma adequação tecnológica e' de consumo. Os
princípios que regem a estrutura político-econômica da sociedade mo-
derna são princípios poluidores. Nessa sociedade não há lugar para me-
lhoria de qualidade de vida, a não ser que haja.mudanças político-so-
ciais que permitam uma nova ordem econômica na adequação tecnológica e
na do consumo.
O que é importante frisar aqui é que a sociedade moderna deveria
preocupar-se mais com o lixo que produz, reciclando-o e incorporando-o
FEE-CEDOG
ao sistema como fontes alternativas de energia e matérias-primas, tal
qual acontece com a natureza. Por isso é difícil imaginar (mais difícil
é acontecer) uma sociedade estável, pacífica e de pleno emprego de re-
cursos. Trata-se da sociedade capitalista, caracterizada pela instabi-
lidade de ciclos e pela quebra de sistemas ecológicos,fenômeno eviden-
ciado principalmente no Terceiro Mundo. É uma sociedade em confronto
com a natureza. Lamentavelmente, o homem moderno não quer assimilar as
coisas mais simples, óbvias, que a natureza lhe ensina: transformar sem
poluir.
A questão econômica de importância, em contraste com a ecológica,
não é só produzir e consumir economicamente, alocando recursos escas-
sos de uma sociedade, mas sim utilizar os recursos desta sociedade de
tal forma que minimize a depredação dos recursos naturais e a deterio-
ração da qualidade do meio ambiente. Até recentemsnte, os recursos na-
turais eram explorados sem maiores restrições, e os resíduos da produ-
ção e do consumo eram descartados livremente no ar, na água e no solo.
Os recursos naturais eram considerados não exauríveis, porque muitos
deles tinham capacidade de auto-regeneração. Há pouco,foi observado e
reconhecido que o processo de auto-regeneração é algo lento e muito com-
plicado; se alguns recursos naturais são superexplorados, o estoque
cairá rapidamente, podendo levar à completa destruição. Também está
evidenciado que o ar, a água e a terra têm capacidade limitada para ab-
sorver e assimilar o lixo humano. E, finalmente, há o reconhecimento
científico universal de que medidas de controle de poluição precisam
salvaguardar a qualidade do meio ambiente e a qualidade da vida humana.
Por isso é importante, para manter uma sociedade estável e sadia,
avaliar os custos e os benefícios sobre o meio ambiente de qualquer
tentativa ou processo de desenvolvimento. Em outras palavras, a socie-
dade deve analisar os efeitos positivos e negativos sobre o meio ambi-
ente de qualquer projeto que envolva a atividade humana na produção e
no consumo. Isto parece ser uma tarefa extremamente difícil, pois al-
guns efeitos ambientais podem ser identificados e analisados qualita-
tivamente e outros não. Todavia não existe justificativa para que não
se faça uma avaliação econômico-social do impacto da atividade do ho-
mem sobre o meio ambiente, utilizando-se processos alternativos. Só as-
sim é possível evitar a depredação dos recursos naturais que também não
podem ser usados como se fossem recursos livres ou sem preço no merca-
do. Um bom sistema administrativo do meio ambiente deveria basear-se no
princípio de evitar a poluição em vez de despoluir. Isso é certamente
mais apropriado do que os altoscustos requeridos pelos investimentos
para despoluir.
Certamente, é mais sábio prevenir do que remediar. Métodos preven-
tivos são universalmente mais eficientes do que os curativos, principal-
mente quando se trata de fenômenos irrecuperáveis e irreversíveis.
O centro do debate econôrnico-ambiental dos anos recentes diz res-
peito aos custos da deterioração do meio ambiente e aos custos de con-
trole ambiental. Para tal, a economia de mercado (sistema capitalista)
e a economia de planejamento central (sistema socialista) precisam re-
visar seus princípios para uma reorganização e reestruturação econômi-
ca: o critério do respeito ecológico, como um princípio universal na
organização econômica, deve fazer-se presente em toda e qualquer ati-
vidade do homem. Nesse sentido,a teoria do ecodesenvolvimento1, recente-
mente consolidada, é uma proposta alternativa de desenvolvimento para
as relações dos problemas da degradação ambiental, onde a economia e a
ecologia se complementam, harmonizando-se na construção de uma socie-
dade sustentável e estável.
A economia do meio ambiente é um importante ramo da Economia, pois
permite discussões de problemas ambientais numa linguagem interdisci-
plinar para a formulação de políticas econômicas e tomada de decisões.
Em outras palavras, ela permite conjugar, com as demais ciências, preo-
cupações ambientais concernentes à mais digna aspiração humana, isto
é, a melhoria da qualidade de vida do homem. Dessa forma, sua importân-
cia reside na contribuição da escolha de políticas, na adequação tec-
nológica do sistema de produção e na adequação dos padrões do compor-
tamento de consumo para a melhoria da qualidade do meio ambiente. Fi-
nalmente, não é de todo infrutífero enfatizar que,se a organização só-
cio-política da sociedade não for capaz de colocar a qualidade do meio
ambiente como prioridade nos seus objetivos básicos de desenvolvimen-
to, a qualidade de vida da população, além de ficar ameaçada, não pas-
sará de um sonho social.
1.3 — Conceito econômico do meio ambiente
A existência da escassez é uma das mais marcantes características
do fenômeno econômico. As Ciências Econômicas vêm concentrando sua aten-
ção na alocação ótima de recursos escassos, buscando maximizar a efi-
ciência econômica e social.
A economia do meio ambiente é o ramo da Economia que estuda e se
preocupa com o meio ambiente no seu mais amplo sentido, isto é, o pro-
blema da escolha material do homem e Ha -sociedade e o quanto estes es-
tão relacionados com o físico, o socj.dl e o natural. Freeman III (1973,
p. 19) escreveu que "(...) como economistas nós estamos interessados
nas influências externas da natureza global somente se estas afetam o
homem direta ou indiretamente". Por exemplo, o efeito da poluição do ar
na saúde humana é um efeito direto sobre o homem. Assim, isso reduzi-
ria indiretamente o bem-estar daqueles que experimentam uma perda caso
a floresta (flora) e a vida selvagem (fauna) sejam reduzidas ou des-
truídas pela poluição do ar.
O ecodesenvolvimento é uma proposta alternativa de desenvolvimento bastante recente,
que desde os meados da década de 70 vem produzindo uma expressiva literatura. A im-
portância do ecodesenvolvimento é expressa pelo periódico trimestral Ecodevelopment
News (1985). Na língua inglesa, recomenda-se ver Riddell (1981), o resumo objetivo
e direto de Cumming (1980), em particular Sachs (1978), um de seus mentores. Já exis-
te alguma bibliografia disponível em português, destacando-se Sachs (1979 a e b e
1983), Oasmann (1973) e Mayer (1984).
A economia do rffeio ambiente vem crescendo em importância desde o
início da década de 70. Segundo Nijkamp (1981, p. 9), isso se deve, en-
tre outras explicações, a duas razões básicas:
a) as externalidades e os custos sociais dos processos produtivos
não são incorporados pelas atividades econômicas. Do ponto de
vista da economia do bem-estar, seria interessante colocar e
aplicar o conceito tradicional das externalidades, das econo-
mias e das deseconomias externas;
b) os problemas da exaustão energética, resíduos nucleares, depre-
dação de recursos naturais, poluição, etc. são de tamanha mag-
nitude que a Economia tem que providenciar uma instrumentação
analítica para enfrentar esses sérios problemas.
Durante a última década, a questão ambiental tem atraído um núme-
ro crescente de economistas2 que não mediram esforços para desenvolver
um instrumental analítico e operacional, teórico e prático. Assim, a
economia do meio ambiente tem-se fundamentado num largo espectro de
visões alternativas e tratamentos amparados em uma ampla gama de prin-
cípios e métodos de outras ciências (item 1.4 —Economia ambiental e
disciplinas auxiliares). A economia ambiental,pelo seu caráter cientí-
fico abrangente, requer, na prática, um tratamento interdisciplinar.
As soluções para os problemas ambientais devem ser concebidas numa vi-
são totalista do conjunto em que o homem se inter-relaciona. Nesse sen-
tido, a ciência do meio ambiente tem uma tarefa árdua de integrar o
o mundo científico, considerando que este está estruturado num sistema
departamental estanque. No momento, o esforço científico parece desen-
volver-se para suas próprias necessidades, e não há preocupações maio-
res por parte dos departamentos científicos atomizados em integrar-se.
Essa é uma dura realidade dentro das universidades brasileiras.Talvez,
para a pesquisa básica, seja razoável, mas para a pesquisa aplicada is-
to é inadmissível. A integração científica inexiste entre os departa-
mentos da mesma faculdade, por exemplo entre os cursos de Ciências Con-
tábeis, Administração e Economia. A pergunta é como um contador, ad-
ministrador ou um economista vai tratar isoladamente de uma empresa
doente? A nível do Estado, os governos agem de forma pior ainda. Criam
um "monstro" administrativo suportado por ministérios ou secretarias
desintegradas. A nível acadêmico e de aplicação científica, é preciso
colocar o homem no centro das atenções e preocupações, e o desenvolvi-
mento científico e a aplicação da ciência devem ser feitos para o bem-
-estar deste homem.
2
São muitos os economistas que vêm contribuindo significativamente para o desenvol-
vimento teórico da disciplina de economia ambiental. Entre eles destacamos alguns:
Sachs (1979a, 1978); Kneese (1971, 1977); Mishan (1981, 1972) Nijkamp (1980); Sene-
ca (1979); Jacoby 4 Pennance (1972); Pearce (1976); Boulding (1962, 1978); Ihjalte
(1977); Freeman III (1973); Maler (1976); Bohm 4 Kneese (1971); Bohn (1973); Meade
(1973); Meister (1977) e outros. Na língua portuguesa, praticamente está tudo por fa-
zer. Até o momento, a melhor contribuição certamente é a de Araújo (1979). Além des-
sa bibliografia, existe uma relação bibliográfica por assuntos em Ely (1983).
10
Os economistas do meio ambiente já manifestaram publicamente que
a economia não pode sozinha oferecer uma resposta final a todos os pro-
blemas ambientais, uma vez que esses problemas em si levantam questões
sobre a relevância dos valores sobre os quais as prescrições econômi-
cas se baseiam. Existe uma relação entre a população e o seu global meio
ambiente que inclui o rural e o urbano, os oceanos, a atmosfera ter-
restre e outros espaços. Como todos os elementos do sistema interagem
de uma forma e outra (veja Capítulo 6), seria ideal e realista que o'
sistema fosse diagnosticado, interpretado e administrado como um todo.
Os economistas e outros cientistas sociais que queiram fazer prática so-
cial e de desenvolvimento devem se dar conta dessa dura realidade e se
preparar para trabalhar numa equipe científica integrada, falando, tam-
bém, uma linguagem interdisciplinar e socialmente universal.
O conceito geral do meio ambiente enquadra-se entre dois limites
de avaliação: o primeiro inclui as mudanças de produção e de consumo e
o impacto sobre o homem no curto e longo prazos; no segundo, omeio am-
biente é visto como um patrimônio ou um tipo de capital não renovável
que produz uma cadeia de vários serviços para o homem. Esses serviços
são tangíveis — tais como as correntes de água e os minerais — ou fun-
cionais — como a remoção, dispersão, armazenagem e degradação de resí-
duos —, ou podem ser intangíveis, tal como uma visão panorâmica (bele-
za de vales, montanhas ou encostas de águas fluviais, lacustres ou
oceânicas).
Nijkamp (1980, p. 4) definiu as relações entre a Economia e o meio
ambiente de forma simples, como mostra o quadro abaixo.
RELAÇÕES ENTRE A ECONOMIA E O MEIO AMBIENTE
ECO
MA
ECO
A
C
MA
B
D
ECO = Economia
MA = Meio Ambiente
O bloco A mostra as relações intra-econômicas que podem ser consi-
deradas como o objeto da economia tradicional e convencional. O bloco B
mostra o impacto da Economia sobre o meio ambiente, tal como a polui-
ção decorrente da atividade econômica sobre a qualidade ambiental. O
bloco C representa os efeitos do meio ambiente sobre a Economia, como,
por exemplo, os investimentos feitos numa área natural de beleza pai-
sagística. O bloco D mostra as inter-relações no meio ambiente, consi-
derados assuntos tradicionais da biologia e da ecologia.
1 1
O quadro acima, como um todo, aponta claramente o campo de estudo
da economia do meio ambiente que concentra sua atenção nos Blocos B e
C. Por isso, pode-se concluir que a economia do meio ambiente é o ramo
da Economia que se ocupa com os problemas da escolha material do homem
e da sociedade, visto que eles estão relacionados com o físico e o na-
tural. O conceito ambiental inclui o comportamento social e psíquico
do homem, razão pela qual é extremamente difícil conceber soluções pa-
ra os problemas do homem sob o ponto de vista estritamente econômico.
A economia ambiental, por isso, é uma parte da Economia voltada à mul-
tidisciplinaridade dos problemas econômicos que desenvolve um método
multidimensional para os problemas do ser vivo. Nesse sentido, a econo-
mia do meio ambiente tem uma mensagem importante para o homem, uma vez
que sua preocupação central consiste em melhorar as condições de vida
animal e vegetal e, em particular, a vida humana. Esse detalhe da eco-
nomia ambiental é básico, pois constituir e melhorar a vida do ser hu-
mano é algo extraordinário quando comparado ao sistema econômico or-
ganizado sobre princípios que permitem a deterioração e a destruição
desta mesma vida. O economista do meio ambiente coloca o bem-estar do
homem como peça central de suas preocupações no processo de desenvol-
vimento e no de organização econômica. Admite que os princípios univer-
sais da satisfação das necessidades básicas, autodeterminação e parti-
cipação do indivíduo no processo de organização político-social e res-
peito ecológicos devem ser satisfeitos por um sistema econômico para
garantir o bem-estar social.3
1.4 — Economia ambiental e disciplinas auxiliares
Já foi referenciado que a economia ambiental, por si só, não é su-
ficiente para resolver os problemas do homem. Existe uma profunda in-
ter-relação científica que permite uma apreciação e um melhor entendi-
mento dos diferentes aspectos que dizem respeito aos problemas ambi-
entais. Essas disciplinas podem originar-se das ciências exatas, so-
ciais e biológicas. Uma sucinta descrição de algumas importantes dis-
ciplinas selecionadas e seus métodos foi elaborada por Nijkamp (1980,
p. 5 e 6), a seguir4.
Física: os princípios físicos são baseados no Modelo do Balanço
de Matéria (veja detalhes adicionais no Capítulo 6). Aqui faz sen-
tido mencionar especialmente a primeira lei da termodinâmica (a
lei da inversão da matéria e energia) e a segunda lei da termodi-
0 ecodesenvolvimento baseia-se em três princípios básicos que têm uma profunda re-
percussão sobre a organização do sistema econômico. Esses princípios são: a) satisfa-
ção das necessidades básicas; b) auto-suficiência e participação; e c) respeito eco-
lógico. Ver os trabalhos de Cumming (1980) e Mayer (1984) e Sachs (1979a).
4
Além de Nijkamp (1980), é útil ver Meister (1977) e Sachs (1979a) que unânimes des-
tacam a importância do tratamento interdisciplinar e multidimensional para os proble-
mas ambientais.
12
nâmica (a escassez da baixa entropia) que são extremamente úteis
no entendimento e na explicação da minimização do fluxo (matéria
e energia), ao invés da maximização da produção.
Ecologia: a base dos princípios da ecologia é o sistema. A energia
e o fluxo da matéria são os elementos centrais para a dinâmica e
o equilíbrio de um ecossistema. Isso permite uma perfeita compa-
ração entre o sistema ecológico e o econômico. Os princípios eco-
lógicos que determinam a estabilidade do ecossistema devem mere-
cer maior atenção por parte dos economistas para organizar um sis-
tema econômico, cuja estabilidade dependerá, além da ecologia, de
princípios de organização política e social.
Legislação: princípios jurídicos associados com a propriedade dos
bens. Aqui, a noção de bens coletivos é importante para a análise
e a avaliação do impacto ambiental da poluição e degradação do
meio ambiente.
Sócio-psicologia: os princípios sócio-psicológicos defendidos na
teoria da escolha social. Modernos enfoques mostram que as prio-
ridades dos homens são passíveis de uma adequada mensuração mesmo
para bens ambientais isentos de preços. A derivação de uma função
preço da demanda não é necessariamente suficiente para se alcan-
çarem níveis satisfatórios de escolha de bens ambientais. Os mo-
dernos métodos de escolha psicométrica oferecem uma grande pers-
pectiva para um tratamento não tradicional.5
Sociologia: princípios sociais relacionados com a capacidade da
sociedade. Parece que a formulação da tolerância do princípio so-
cial é considerada um fenômeno de maior importância no processo de
tomada de decisão social do que o princípio de tolerância ecoló-
gica advindo da biologia.
Pesquisa operacional: princípios de pesquisa operacional deriva-
dos da decisão matemática teórica. Os princípios dos modernos mul-
ticritérios6 oferecem maiores perspectivas para se chegar a um
balanço de crescimento econômico do que o tratamento unidimensio^-
nal baseado em funções de custo, embora este tratamento seja con-
dizente com as análises neoclássicas7.
Geografia: princípios de geografia espacial são gerados pela exis-
tência do espaço físico, onde as ações e as externalidades podem
ser transferidas, enquanto estas são, concomitantemente, restri-
ções no tempo para o crescimento de muitas atividades econômicas.
Muitas deteriorações ambientais surgem em função da limitação do
espaço. Escassez do espaço, entretanto, é um problema relativo,
porque as invenções tecnológicas levam ao uso mais eficiente do
espaço físico. O descongestionamento urbano, a nível de concentra-
ção de resíduos, é uma questão espacial.
Maiores detalhes sobre estes métodos podem ser encontrados em Nijkamp (1979 a e b).
Para uma leitura objetiva recomenda-se ver Nijkamp (1980).
Para informações adicionais ver Nijkamp (1977).
FEE-CEDOC
13
Matemática: princípios matemáticos, da matemática aplicada não-li-
near. Análises de situações de risco, perturbações e desequilí-
brios de longo prazo podem ser estudados pela matemática não-li-
near, particularmente pelos princípios de bifurcação das teorias
das catástrofes. Nesse sentido, os caminhos de transição num sis-
tema dinâmico podem ser tratados e analisados de forma satisfatória8
Esse breve resumo de princípios e visão de algumas disciplinas se-
lecionadas oferece uma base mais integrada e compreensível que carac-
teriza o tratamento multidimensional dos problemas concernentes à eco-
nomia do meio ambiente.
1.5 — O homem e o meio ambiente
Uma das preocupações centrais do homem moderno diz respeito à qua-
lidade de seu meio ambiente. O próprio conceito do meio ambiente colo-
ca o homem como o elementocentral do sistema global, comunicando-se,
de uma forma ou de outra, com todo e qualquer subsistema através de suas
relações. O homem é o foco principal das atenções e, como tal, tem uma
posição de destaque nos demais subsistemas através do progresso eco-
nômico e do avanço tecnológico. Isso, de um lado, vem beneficiando o
seu bem-estar social e, de outro, muitas vezes vem colocando em risco
sua própria sobrevivência, pelo desrespeito às leis fundamentais da na-
tureza, ao deteriorar a qualidade de seu meio ambiente a níveis into-
leráveis. A história dos problemas de poluição e catástrofes ecológicas
é antiga. A poluição vem avançando aceleradamente, após a Segunda Guer-
ra Mundial, principalmente nas regiões metropolitanas congestionadas
e nas áreas industriais. Os altos investimentos impostos ao homem pelo
processo de despoluição para lhe assegurar uma melhor qualidade de vi-
da são fatos reais nos países ricos que estão pagando um preço exage-
radamente alto. Há regiões no mundo, inclusive nos países do Terceiro
Mundo, onde a poluição anda desenfreada e descontrolada. Só para citar
um exemplo, a cidade industrial de Cubatão, em São Paulo, é hoje con-
siderada o ponto geográfico mundial mais poluído, onde o organismo vi-
vo (homem) já não encontra um meio ambiente para se desenvolver inte-
gralmente. O cidadão de Cubatão não tem mais condições humanas normais
de vida.
Os problemas de poluição e seus efeitos negativos sobre o homem
levaram a reconhecer que a qualidade do meio ambiente é um pré-requi-
sito para prosperar econômica e tecnicamente. Não há como melhorar a
qualidade de vida do homem sem uma concomitante preservação ou melho-
ria da qualidade ambiental. Hoje, praticamente todos os países do mun-
do desenvolvido têm definida a qualidade ambiental como um objetivo
prioritário nos seus planos de desenvolvimento econômico e social. Des-
de o final da década de 60, os governos, conscientes do problema da de-
gradação da qualidade ambiental, decidiram investir na despoluição, e o
Pode ser visto, também, em Isard (1979).
cidadão dessas sociedades vem experimentando uma crescente melhoria na
qualidade do seu meio ambiente.9
Nota-se que, na dinâmica dos ciclos naturais,transformação da ma-
téria e fluxos energéticos, a natureza produz incalculáveis quantida-
des de resíduos, mas os incorpora ao ciclo produtivo através da reci-
clagem. O homem, pela sua dinâmica econômica, também produz incalculá-
veis quantidades de resíduos, mas, ao contrário da natureza, não se
preocupa com a reciclagem. Contrariamente, insiste em produzir resíduos
em escala crescente, ignorando a importância da reciclagem. Conseqüen-
temente, a degradação da qualidade ambiental é um fato. Se o homem qui-
ser conviver com uma qualidade ambiental no nível de seus próprios re-
querimentos humanos, é só aceitar humildemente o exemplo singelo da na-
tureza. O homem precisa entender o meio ambiente e não procurar simples-
mente conquistá-lo. O meio ambiente é como uma grande força da natu-
tureza que possui um processo próprio de rejeição de todos os corpos
estranhos que o invadem. Ele poderá aceitar o homem, porém dentro de
suas regras e de suas condições. Como o homem persiste em transgredir,
violentar essas regras ele se incompatibiliza em conviver harmonicamen-
te com a natureza.
1.6 — O problema da economia e do meio ambiente
A degradação do. meio ambiente, interpretada como um problema eco-
nômico, é uma das conseqüências diretas da falha do sistema de mercado
na na alocação eficiente dos recursos ambientais nos seus usos alter-
nativos Freeman III,(1973, p. V). O sistema de mercado falha para os
ditos bens coletivos ou recursos públicos que não podem ser efetivamen-
te apropriados e manejados na ótica do privatismo individual. A bios-
fera, os recursos hídricos e os expressivos ecossistemas são bons exemplos.
É do conhecimento geral que os bens coletivos vêm sendo mal usados
e deles se vem abusando desde a Idade Média. Nos tempos contemporâneos,
o enfoque tem sido substituído pelo problema dos bens coletivos por um
não-enfoque, pois existe a necessidade de adaptar as instituições eco-
nômica e política para tanto, o que foi iniciado pelos países desen-
volvidos na década de 70.
Uma maior preocupação pela deterioração da qualidade ambiental vem
crescendo a níveis internacional e nacional. Essa preocupação vem ques-
tionando a tecnologia e o crescimento econômico: "Crescer para quê?
Crescer a qualquer preço?" Então, também se pergunta,se o público está
genericamente tão preocupado com a questão da deterioração da qualida-
de ambiental, por que o sistema econômico em vigor continua a produzir
crescentes deteriorações ambientais ao invés de melhoramentos? Mesmo
que alguns países ricos tenham obtido resultados positivos pelo contro-
9
Informações sobre programas de melhoria e política do meio ambiente e perspectivas
futuras podem ser vistas em Dix (1981); 0'Riordan (1981); U.S. Council on Environment
Qualily (1980); HSMO (1980, 1979). Relatórios de Avaliação da UNEP, ECSC/EEC e OECD.
15
lê da poluição — especialmente a melhoria da qualidade ambiental físi-
ca (melhoria da qualidade das águas, ar, ruído, etc.) —, contudo outros
aspectos de deterioração ambiental vêm evidenciando crescentes proble-
mas, tais como: altos índices de desemprego; aumento da criminalidade;
crescentes protestos, agitações e violências públicas; greves; desagre-
gação racial; um estado ambiental de insatisfação, instabilidade, etc.
Nos países do Terceiro Mundo, somam-se a tudo isso analfabetismo, .as-
saltos, fome, concentrados nos cinturões da miséria metropolitana. Em-
bora essa seja uma questão complexa e difícil, o fato é que o proble-
ma existe, portanto tem suas causas. Averiguar e dimensionar essas cau-
sas, bem como indicar soluções apropriadas é o problema central. Há
economistas que dizem que a maioria das respostas retorna às externa-
lidades, isto é, o fato de serem excluídos os custos sociais dos pro-
cessos de produção do setor privado.
O setor público vem assumindo crescente poder de intervenção na
Economia, porque, no todo, através de seus agentes, sejam eles empre-
sas públicas, estatais, institutos, fundações, etc., tem a seu favor a
força da polícia que a lei lhe confere, além de concessões de monopó-
lios públicos. A ineficiência do setor público, adicionada aos proble-
mas do setor privado, afeta seriamente o meio ambiente sob o ponto de
vista do sistema econômico global. O problema das externalidades e a
incorporação dos custos sociais deverão ser considerados tanto pelo se-
tor público quanto pelo setor privado, numa visão global do sistema10.
A nível das respostas da demanda de mercado, agentes econômicos
deixam de incluir os custos sociais nas operações produtivas e nos pre-
ços dos bens e serviços. O resultado disso é que os preços dos bens de
consumo se mantêm baixos demais, e os consumidores compram quantidades
excessivas de certos produtos, cujos processos de produção são polui-
dores; por exemplo, as indústrias de papel e curtumes, localizadas nas
periferias residenciais urbanas e próximas a vias aquáticas. Dessa for-
ma, os perdedores da poluição subsidiam os consumidores de papel e cal-
çados. Ao mesmo tempo, o preço dos automóveis não reflete o custo so-
cial para a sociedade. Os usuários dos carros não pagam pela poluição
do ar que eles criam. Poluição e deterioração da qualidade ambiental
refletem, em grande parte, a falha do sistema de preços pela presença
de externalidades e custos sociais substancialmente mais elevados do
que os custos privados.
Em princípio, sob o ponto de vista da eficiência alocativa dos
recursos para os desejos da sociedade, o preço final de consumo deveria
incluir os custos privados e sociais. Por exemplo os carros, que deve-
riam incluir uma taxa de purificação dos motores, bem como um preço pa-
ra a despoluição do ar que se deseja manterpuro e respirável. Situa-
ções similares podem ser identificadas e aplicadas para poluições aéreas,
terrestres e hídricas em muitas áreas industriais.
Segundo os mentores do ecodesenvolvimento,as teorias convencionais de desenvolvimen-
to devem ser repensadas. Ver notas 1 e 3 deste capítulo para maiores informações.
16
O controle da poluição confronta-se com um misto de fatores eco-
nômicos e políticos na maior parte dos problemas ambientais.Bach (1971.
p. 580) argumenta na sua obra de economia clássica que o sistema de li-
vre mercado não tem condições de oferecer um mecanismo adequado para
eliminar a poluição nos Estados Unidos; as externalidades são expres-
sivas e as falhas do sistema de livre mercado são esperadas em tal ca-
so. Por outro lado, também não fica evidenciado que o regular processo
político oferece uma alternativa efetiva. O autor ainda enfatiza que a
tarefa para eliminar a poluição nos Estados Unidos será um caminho
longo e duro tanto econômica quanto politicamente. "Você precisará de-
cidir o quanto de dinheiro e conforto deseja pagar para um nível de des-
poluição e o quanto desejará estar envolvido no processo político pa-
ra alcançar as metas propostas."
Os diagnósticos sobre a deterioração do ambiente físico explicam
que existe um custo externo nos livres contratos privados em mercados
competitivos alicerçados no lucro que conduz os contratantes a negli-
genciarem os efeitos sobre a sociedade. O Professor Jacobyà Pennance
(1972, p. 6) escreveu que a degradação da qualidade ambiental é um re-
sultado de três influências básicas: primeiro, a crescente concentra-
ção populacional; segundo, o crescimento da economia; e, terceiro, o
avanço tecnológico. Ele também confessa, dadas as relações do Governo
com a Economia, que é pouco provável que o sistema econômico incorpore
com sucesso as externalidades. Jacoby admite a existência de uma so-
fisticada e complexa rede de relações entre o Governo, a indústria e o
público em geral, que o leva a duas premissas: a população ter cresci-
do a taxas incompatíveis com o bem-estar, pela falha do^sistema políti-
co através da ação governamental que estabelece padrões desejados de
produção e consumo; e, se o Governo falha, não se pode esperar que o
mercado competitivo atenda à demanda pública sem agredir e deteriorar
o meio ambiente.
O problema econômico da crise ambiental muitas vezes é difícil de
separar de outros efeitos sociais e políticos. Mas,para Pennance(1971,
p. 9), o problema central do assunto é descobrir algum caminho para in-
troduzir as externalidades na tradicional economia de escolha, incor-
porando custos externos de tal forma que os custos totais da socieda-
de sejam considerados pelos indivíduos na sua escala de consumo. Isso
implica a redução de escalas daquelas atividades que geram altos cus-
tos externos e o estímulo àquelas que geram benefícios externos.
O critério do que é econômico e do que não é econômico, na opinião
de Meister (1977, p. 1), tem jogado uma regra básica na configuração
das atividades do mundo moderno. Pearce (1976) escreveu que o homem
econômico deixa de ser um bem atrativo animal. A visão do homem sobre
o mundo está condicionada pelo interesse individual, apesar de ele re-
conhecer suas obrigações e direitos, obedece a sua consciência, cuida-
dos com outros e mesmo atos sem malícia, ele tende a existir fora das
diretrizes da teoria da economia ambiental. O mesmo autor argumenta que
ninguém gostaria de sugerir que o comportamento humano é norteado so-
mente por interesses pessoais; a Teoria Econômica convencional é neces-
sariamente incompleta como uma teoria que descreve o comportamento do
homem quando confrontado com situações de escolhas alternativas.
A colocação de Pearce torna-se bastante relevante no momento em
que se pretende usar a Teoria Econômica para resolver problemas corren-
17
tes do meio ambiente. Meister (1977, p. 2) coloca, neste contexto, qua-
tro generalizações:
a) para existir e satisfazer suas necessidades, o homem, sem dú-
vida, terá que interferir no meio ambiente;
b) essas interferências têm crescido em número e magnitude com o
crescimento econômico e com o avanço tecnológico;
c) existe uma finita disponibilidade de recursos (incluindo o meio
ambiente natural) para satisfazer as necessidades do homem;
d) a alocação desses recursos finitos dependerá da multiplicidade
de interesses e metas da sociedade, tais como o aumento e a dis-
tribuição da renda, o pleno emprego, o aumento da melhoria am-
biental, etc.
A razão fundamental dessas proporções é mostrar que o homem, na
tentativa de satisfazer suas necessidades, fatalmente virá perturbar o
equilíbrio do meio ambiente natural, segundo os atuais padrões e com-
portamento de consumo e produção. Na hipótese de uma densidade popula-
cional baixa e recursos abundantes, a capacidade do meio ambiente não
será afetada ao absorver os efeitos da atividade econômica do homem.
Aqui, talvez, faça sentido indagar sobre a função do economista. O Ca-
pítulo 4, que trata da evolução do pensamento econômico ambiental, aju-
dará a esclarecer melhor essa colocação, pois o uso dos critérios eco-
nômicos dentro dos limites das restrições físicas, sociais e institu-
cionais leva a que se perceba que uma longa caminhada terá que ser tri-
lhada para um claro entendimento e compreensão dos problemas econômicos
ambientais. O sucesso de políticas para a melhoria da qualidade ambi-
ental depende muito da clareza do pensamento e da consistência da Teo-
ria Econômica.
FEE-GEOOC
2 - CONSIDERAÇÕES SOBRE ECOLOGIA
A ecologia e a Economia integram-o mesmo meio ambiente. Por isso é
praticamente impossível falar da economia do meio ambiente sem uma re-
ferência correspondente à ecologia. Seja onde for, toda a ação econômi-
ca e social do homem tem um impacto positivo ou negativo sobre o meio
ambiente. O homem depende da natureza e sempre continuará a depender
dela: em uma região particular, ele compartilha as características com
o ecossistema, com o qual ele se envolve, bem como é influenciado,bio-
lógica e socialmente. Existe uma relação muito íntima entre a ecologia
e a Economia, pois o uso de recursos naturais escassos, pelas ativida-
des diversificadas do homem, afeta diretamente os ecossistemas. Essa é
a questão central que deve motivar os estudantes de Economia, assim co-
mo de outras ciências sociais, a se interessarem pela ecologia e pela
natureza, uma vez que toda e qualquer proposta prática para as soluções
dos problemas do homem, necessariamente, se confronta com a ecologia e
com o meio ambiente.11
O que é ecologia? E quais são suas relações com o meio ambiente e
com a Economia? As crises ecológicas já foram apocalipticamente proje-
tadas e associadas à imagem do "dia do juízo final".12 Os movimentos
ecológicos e de preservação da natureza vêm crescendo em importância
no mundo inteiro, particularmente nos países desenvolvidos,onde já evo-
luíram para agremiações político-partidárias. Na Inglaterra existe o
Green Party, na Alemanha são conhecidas como Die Grünen. Os políticos
não ignoram a potencialidade desses grupos de pressão que lutam por uma
melhoria ambiental e por alternativas de organização econômica para a
sociedade.
A consciência ecológica está inclusive pressionando a revisão de
muitas teorias tradicionais nas ciências sociais e,também, dos concei-
tos de eficiência na alocação dos recursos numa sociedade. No campo da
Economia, vêm-se questionando os sistemas econômicos e os princípios
que regem a organização econômica e as relações com o sistema político-
-social.
Não cabe aqui escrever um tratado de ecologia,13 mas fazer algu-
mas referências à mesma que se julgam necessárias à economia do meio am-
Em princípio, não existe conflito entre o homem e a ecologia: como animal, o homem
integra-se perfeitamente às regras do ecossistema; como "honra sapiens", o homem, no
usu desua intsligência, cria toda a sorte de problemas com a natureza. A destruição
irracional dos recursos naturais é o exemplo mais típico_ da irracionalidade humana.
Para uma leitura adicional sobre esse assunto, sugere-se The Ecologist (1972); IUCN
(1980); Brandt (1980); Mesdows et alii (1972b);
Existem muitos lr<ros-texto de ecologia. Para iniciantes reco.nenda-se Watt (1973);
Odum (1969); Avila-Pires (1983); Dajoz (1978).
20
biente. Assim, tratar-se-á de alguns conceitos básicos de ecologia e de
relações importantes entre a Economia, a ecologia e o meio ambiente.14
2.1 — Conceito e natureza da ecologia
A ecologia é um ramo das ciências humanas bastante antiga, Avila-
-Pires (1983, p. 17) escreveu que
"(...) a ecologia, como disciplina, tornou-se independente
no século XX. Entretanto, por abranger o estudo das inter-
-relações dos organismos com o ambiente,alguns dos seus as-
pectos e de suas aplicações podem ser identificados nas ob-
servações empíricas do homem das cavernas (...) Hipócrates
de Cos (400 A.C.) lançou os fundamentos da Ecologia Médica,
no seu ensaio: ' Águas, Ares e Lugares'. Lamarck e Darwin desenvol-
veram, no século passado, as duas linhas fundamentais da
ecologia, enfatizando, respectivamente, a influência dos fa-
tores do meio físico sobre os organismos e o papel de compe-
tição biológica na seleção natural. Haeckel, divulgador das
idéias de Darwin, batizou a nova ciência em 1866. Claude Ber-
nard distinguiu o meio interior do meio ambiente, abrindo,as-
sim, um novo campo à pesquisa ecológica: a ecologia dos mi-
croorganismos".
Em 1974, o I Congresso Internacional de Ecologia foi realizado em
Haia, quase dois milênios e meio após Hipócrates estabelecer os funda-
mentos de ecologia médica. Um importante resultado desse congresso diz
respeito à uma nova filosofia de trabalho que cristalizou a moderna vi-
são integrada do universo. O homem, finalmente, ganhou consciência de
sua posição e do papel que desempenha na biosfera e compreendeu a sua
responsabilidade para com a sua própria espécie e para com a natureza
que o cerca.
Holister & Porteous (1976, p. 83) definem a ecologia como sendo
"(...) o estudo das relações entre organismos vivos, entre os organis-
mos entre si e entre eles e o seu meio ambiente, especialmente comuni-
dades de animais e de plantas, seus fluxos energéticos e suas inter-
-relações com a circunvizinhança". Como se vê, o conceito de ecologia
é complexo e abrangente. Para o cidadão comum, a imagem da ecologia mui-
tas vezes não vai além da natureza (das plantas, das águas e dos solos),
quando não se limita ao símbolo da árvore verde.
A ecologia preocupa-se com o estudo dos organismos vivos e suas
circunvizinhanças (o meio ambiente). Além do caráter de inter-relações
14 O Instituto de Biociências da UFRGS administra cursos de ecologia inclusive a nível
de mestrado. Todavia as ciências sociais, entre elas a Economia, não oferecem disci-
plinas voltadas ao meio ambiente ou à ecologia. Lamentavelmente, ainda não há disci-
plinas formais de economia do meio ambiente nas faculdades de Ciências Econômicas do
Brasil.
21
dos organismos vivos entre si e com o meio ambiente, é preciso desta-
car duas características importantes: primeiro, a ecologia trata de or-
ganismos vivos, e, portanto, é impossível referir-se à ecologia de uma
pedra ou de um copo de água; segundo, o homem não é explicitamente men-
cionado nesse conceito (PLOEG, in NIJKAMP, 1976, p. 18). O homem é vis-
to como um dos componentes da biosfera, isto é, a parte da terra onde
existe vida. Mas o homem, sem dúvida, é o organismo mais importante, o
qual,por definição, ocupa um lugar de destaque em qualquer ecossistema
onde ele se faz presente.
Tanto no campo prático como no teórico, a ecologia pode ser sub-
dividida em ecologia humana e bioecologia. Subdivisões adicionais da
ecologia são possíveis,como a ecologia humana que se preocupa com o ho-
mem ecológico e social. Para a Biologia, a distinção entre plantas e
animais parece ser menos relevante do que uma classificação de acordo
com os níveis de uma cadeia alimentar (ODUM, 1971, pp.8-11). A ca-
deia alimentar faz parte de um ecossistema. Dentro de um sistema po-
de ser distinguida uma série de subdivisões que são, até certo pon-
to, independentes de um ou de outro, assim chamado, ecossistema (ver
item 2.2).
Odum (1962, p. 211) introduziu os conceitos de estrutura e de fun-
ção do ecossistema na i>finição da ecologia, dando-lhe maior precisão
conceituai:
"(...) ecologia é muitas vezes definida como o estudo das
inter-relações entre os organismos e o meio ambiente. Eu
sinto que esta definição convencional não é apropriada: ela
é por demais vaga e aberta. Pessoalmente, eu prefiro defi-
nir a ecologia como o estudo da estrutura e função dos ecos-
sistemas.
"Em outras palavras menos tecnológicas: o estudo da estru-
tura e da função da natureza".
Odum entende por estrutura o seguinte:
- a composição da comunidade biológica, incluindo espécies, núme-
ros, biomassa, história da vida e distribuição espacial das po-
pulações;
- a qualidade e a distribuição de materiais abióticos, tais como
os nutrientes, água, etc.;
- a amplitude das condições de existência, como a temperatura, a
luz,.etc.
Esses três grupos da estrutura ecológica apenas são convenientes
para o estudo de situações aquáticas e terrestres.
Como função ecológica o autor considera:
- a taxa do fluxo da energia biológica através do ecossistema, is-
to é, as taxas de produção e as de respiração das populações e
da comunidade;
- a taxa da ciclagem da matéria ou dos nutrientes, ou seja, os ci-
clos bioquímicos;
22
- a população biológica ou ecológica, incluindo a regulação dos
organismos pelo meio ambiente (por exemplo, no fotoperiodismo)e
a do meio ambiente pelos organismos (por exemplo, na fixação do
nitrogênio por organismos).
Os tipos comunitários terrestres e aquáticos têm várias caracte-
rísticas estruturais comuns. Entretanto todas as espécies aquáticas,
como também as terrestres, necessariamente têm os mesmos três componen-
tes biológicos: produtores ou plantas verdes fixadores de energia lu-
minosa; animais ou macroconsumidores que consomem partículas de matéria
orgânica; e microorganismos decompositores que dissolvem a matéria or-
gânica, liberando nutrientes. Os ecossistemas devem ser supridos com os
mesmos materiais vitais, tais como nitrogênio, fósforo, minerais, etc.,
e são regulados e limitados pelas condições de existência da luz e da
temperatura.
2.2 — Ecossistemas
2.2.1 — Conceito de ecossistema
O conceito de sistema vem crescendo em importância no mundo ci-
entífico. Em tempos mais recentes, a Teoria Geral dos Sistemas15 vem
tomando espaço no meio científico e no planejamento econômico-social,
dada a sua visão totalista das coisas, principalmente no campo das ci-
ências sociais e naturais. A teoria baseia-se nas relações e na depen-
dência entre os elementos de um particular sistema. Entende-se por sis-
tema um conjunto de elementos concretos ou ideais, entre os quais exis-
tem relações ou é possível definir relações. Esse é um conceito gené-
rico e passível de aplicação para qualquer sistema particular. Confor-
me o conceito acima, qualquer sistema tem dois componentes básicos:
- um conjunto de elementos - estes elementos são identificados
quando se fala de um sistema específico, por exemplo, num sis-
tema econômico identificam-se facilmente o produtor e o consu-
midor como elementos concretos. Num sistema natural, podem ser
identificadas facilmente água, terra, ar, plantas e animais co-
mo elementos concretos;
- a existência de relações ou a possibilidade de definir rela-
ções - a existência de relações entre os elementos de um sis-
tema caracteriza a sua dinâmica, pois a intensidade dessas re-
lações confere ao sistema a sua vitalidade. Essas relações, por
existirem no próprio sistema,

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