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CAPíTULO 4 - A EXISTÊNCIA ÉTICA como a morte, a loucura, a auto-agressão ou a agressão aos outros. Quando uma cultura e uma sociedade defi- nem o que entendem por mal, crime e vício, circunscrevem aquilo que julgam violência contra um indivíduo ou contra o grupo. Simul- taneamente, erguem os valores positivos - o bem e a virtude - como barreiras éticas con- tra a violência. Em nossa cultura, a violência é entendida como o uso da força física e do constrangi- mento psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua natureza e ao seu ser. A violência é violação da integridade fí- sica e psíquica, da dignidade humana de al- guém. Eis por que o assassinato, a tortura, a injustiça, a mentira, o estupro, a calúnia, a má-fé, o roubo são considerados violência, imoralidade e crime. Considerando que a humanidade dos hu- manos reside no fato de serem racionais, do- tados de vontade livre, de capacidade para a comunicação e para a vida em sociedade, de capacidade para interagir com a Natureza e com o tempo, nossa cultura e sociedade nos definem como sujeitos do conhecimento e da ação, localizando a violência em tudo aquilo que reduz um sujeito à condição de objeto. Do ponto de vista ético, somos pes- soas e não podemos ser tratados como coi- sas. Os valores éticos se oferecem, portanto, como expressão e garantia de nossa condi- ção de sujeitos, proibindo moralmente o que nos transformem em coisa usada e manipu- lada por outros. A ética é normativa exatamente por isso, suas normas visando impor limites e contro- les ao risco permanente da violência. Os constituintes do campo ético "'~\ \ Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. A consciência moral não só conhece tais di- ferenças, mas também reconhece-se como ca- paz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso responsável por suas ações e seus sentimentos e pelas conseqüên- cias do que faz e sente. Consciência e res- ponsabilidade são condições indispensáveis da vida ética. A consciência moral manifesta-se, antes de tudo, na capacidade para deliberar diante de alternativas possíveis, decidindo e escolhen- do uma delas antes de lançar-se na ação. Tem a capacidade para avaliar e pesar as motiva- ções pessoais, as exigências feitas pela situa- ção, as conseqüências para si e para os outros, a conformidade entre meios e fins (empregar meios imorais para alcançar fins morais é im- possível), a obrigação de respeitar o estabele- cido ou de transgredi-lo (se o estabelecido for imoral ou injusto). A vontade é esse poder deliberativo e decisório do agente moral. Para que exerça tal poder sobre o sujeito moral, a vontade deve ser livre, isto é, não pode estar submetida à vontade de um outro nem pode estar submeti- da aos instintos e às paixões, mas, ao contrá- rio, deve ter poder sobre eles e elas. O campo ético é, assim, constituído pelos valores e pelas obrigações que formamo con- teúdo das condutas morais, isto é, as virtudes. Estas são realizadas pelo sujeito moral, prin- cipal constituinte da existência ética. O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa, só pode existir se preencher as seguintes con- dições: • ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a exis- tência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele; • ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em 337 digitalizar000.pdf digitalizar0001 digitalizar0002 digitalizar0003 digitalizar0004 digitalizar0005 digitalizar0006 digitalizar0007 digitalizar0008 digitalizar0009 digitalizar0010 digitalizar0011 digitalizar0012 digitalizar0013 digitalizar0014 digitalizar0015 digitalizar0016 digitalizar0017 digitalizar0018 digitalizar0019 digitalizar0020 digitalizar0021 digitalizar0022 digitalizar0023
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