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MÉTODOS DE TRABALHO DO DIREITO CONSTITUCIONAL BPDEA ~ ~&..e.-~ ilPl1Jlcaol.bD-rolIlll &tIonllI..Al,( •.-&o R~s;mco.Ã7fQ.t N"'o FAÇA Co"l'" ct:::l':t:"li Tradução: Peter Naumann Friedrich Müller 33 edição revista e ampliada . RENOVAR Aio de Janeiro. São Paulo. Recife 2005 34 ~4 & 5' •• o""f, ~~~ ~ 'j 1 ~, ~ i 1 '"- 1. 35 Bearbeiten. •• Betroffenen. a) Metódica e teoria das funções Capítulo IH ESBOÇO DE UMA METÓDICA DO DIREITO CONSTITUCIONAL. A metódica do trabalho é uma metódica de titulares de funções. Em nível hierárquico igual ao lado da jurisprudên- cia c da ciência jurídica, a legislação, a administração e o governo trabalham na concretização da constituição. Tal trabalho sobre* a constituição orienta-se integralmente se- gundo normas: também a observância da norma, em virtu- de da qual deixa de ocorrer um conflito constitucional ou um litígio, é concretização da nonna. Em cada caso as per- tinentes prescrições de direito (constitucional) motivam de modo específico o comportamento de titulares de fun- ções e outros destinatários. Também os atingidos* * que participam da vida política e da vida da constituição de- sempenham funções efetivas de concretiz.ação da constitui- 1. Fundamentos da metódica jurídica t f 1 •r, L7: j 1 '1 j,. I ~- êõnstitucionaL Pelo simples fato deles reduzirem a realiza- çãõ do direito à interpretação, a concretização da norma à mfêrpretação do texto da norma, os canones já não podem ser suficientes para a concretização da norma no direito constitucional. Diante disso, uma metódica do direito constitucional sistematicamente elaboranda deve pesqui- sar a estrutura da normatividade; e isso significa, já que a concretização da norma evidencia ser um processo estrutu- rado, que ela deve pesquisar a estrutura das normas jurídi- cas. A metódica jusconstitucional deve ser fundamentada por uma teoria do direito: mas não por uma teoria sobre o direito (seja ela de natureza teológica} ética, filosófica, so- ciológica, político-ideológica), mas por uma teoria do direi- to, quer dizer, por uma teoria da norma jurídica. Ela é "hermenêutica" no sentido aqui definido. Circunscreve a peculiaridade fundamental da estrutura normativa, diante de cujo pano de fundo devemos ver o trabalho prático da metódica jurídica. ção de uma abrangência praticamente não superestimável, ainda que apareçam menos e costumem ser ignorados me- todologicamente: por meio da observância da norma, da obediência a ela, de soluções de meio termo e arranjo no quadro do que ainda é admissível ou defensável no direito constitucional, e assim por diante. Se a constituição deve desenvolver força normatival, a "vontade à constituição", que é uma vontade para seguir ou concretizar e atualizar a constituição, não pode permanecer restrita à ciência jurídi- ca enquanto titular da função no sentido mais amplo e aos titulares de funções no sentido mais estrito, que foram ins- tituídos, encarregados, legitimados e dotados de compe- tências de decisão e sanção pela constituição e pelo ordena- mento jurídico, mediante prescrições de competências. Esse nexo não eleve ser perdido de vista, embora não caiba aqui desenvolver uma teoria das funções em termos de direito constitucional e teoria constitucional2. Condiçõ- es, possibilidades e limitação da metódica jurídica são inte- gralmente determinadas pela configuração das respectivas funções do ofício, das tarefas e do trabalho. Métodos de trabalho determinam-se pela espécie e tarefa do trabalho. A tarefa da práxis do direito constitucional é a concretiza- ção da constituição por meio da instituição configuradora de normas jurídicas e da atualização de normas jurídicas no Poder Legislativo, na administração e no governo; ela é a concretização da constituição que primacialmente contro- la, mas simultaneamente aperfeiçoa o direito na jurispru- dência, dentro dos espaços normativos*. A obtenção, a pu- blicação e a fundamentação da decisão são declarados de- veres por meio de ordem do direito positivo, em grau e de I 2 Hcsse 1. Cf. Hesse lI, pp. 192 ss. normative Spielraume. modo mutantes. A publicação da decisão (da norma jurídi- ca, da portaria governamental ou administrativa, da senten- ça judicial) é um elemento do ordenamento da estatalidade jurídica. A representação e publicação da fundamentação deve, por um lado, convencer os atingidos, por outro tornar a decisão controlável para um possível reexame por tribu- nais de instância superior, para outras chances da tutela jurídica e com vistas à questão da sua conformidade à (0115- tituição. Um outro efeito consiste na introdução da detisão publicada e fundamentada na discussão da práxis e dá ciên- cia jurídicas e da política jurídica e constitucional. Junta- mente com a formação da tradição, a crítica e o controle por ela causados} essa discussão integra em função consul- tiva as tarefas principais da ciência jurídica, ao lado da teo- ria, cujas questões especificamente didáticas não nos inte- ressam aqui, e ao lado da solução de problemas de casos atuais. De acordo com a medida dessa estrutura distinta de tarefas, a práxis jurídica não está obrigada à reflexão her- menêutica e metódica explícita, mas seguramente à busca de ulTla metódica que permite representar e verificar racio- nalmente a relevância de critérios normativos de aferição para a decisão, a relevância dos elementos do caso afetados por esses critérios de aferição e a sustentabilidade da deci- são; de uma decisão que deve ser apurada a partir da me- diação metodicamente diferencianda de ambos componen- tes por meio da concretização da "pertinente" norma jurí- dica enquanto "norma de decisão". A metódica de'/c poder decompor os processos da elaboração da decisão l:: da fun- damentação expositiva em passos de racioCÍnio suficiente- mente pequenos para abrir o caminho ao feed-back * con- trolador por parte dos destinatários da norma, dos afetados • Rückkopplung. 37 1 ,". ~.~. . - 39 Cf. genericamente Huber, Hesse 11,pp. 15 s. sprachlicho 4 apenas em linguagem* pelo teor literal, pode ser "repre- sentado" apenas pelo modo peculiar à linguagem. Não é o teor literal de uma norma (constitucional) que regulamen- ta um caso jurídico concreto, mas o órgão legislativo, o órgão governamental} o funcionário da administração pú- blica, o tribunal que elaboram, publicam e fundamentam a decisão regulamentadora do caso, providenciando, quando necessário, a sua implementação fáctica - sempre confor- me o fio condutor da formulação lingüística dessaJnorma (constitucional) e com outros meios metódicos auxiliares da concretização. '" A não-identidade de norma e texto da norma, a não- vinculação da normatividade a um teor literal fixado e pu- blicado com autoridade ressalta também do fenômeno do direito consuetudinário. Não se duvida da sua qualidade jurídica, embora ele não apresente nenhum texto definido com autoridade. Essa propriedade do direito, de ter sido elaborado de forma escrita, lavrado e publicado segundo um determinado procedimento ordenado por outras nor- mas, não é idêntica à sua qualidade de norma. Muito pelo contrário, ela é conexa a imperativos do Estado de Direito e da democracia, característicos do estado constitucional burguês da modernidade. Mesmo onde o direito positivo dessa espécie predominar, existe praeler constitutionent um direito (constitucional) consuetudinário com plena qualidâde de norma4. Além disso mesmo no âmbito do di- reito vigente a normatividade que se manifesta em decisões práticas não está orientada lingüisticamente apenas pelo texto da norma jurídica concretizanda. A decisão é elabora- da com ajuda de materiais legais, de manuais didáticos, de Müller r, e.g. pp. ] 47 ss. G rundsachverhal t.* 3 38 Quando juristas falam e escrevem sobre "a" constitui- ção, referem-se ao texto da constituição; quando falam "da" lei, referem-se ao seu teor literal. Mas um novo enfo- que da hermenêutica jurídica3 desentranhou o fundamen- tal conjunto de fatos* de uma não-identidade de texto da norma e norma. Entre dois aspectos principais o teor literal de uma prescrição juspositiva é apenas a "ponta do ice. berg". Por um lado, o teor literal serve via de regra à formu- lação do programa da norma, ao passo que o âmbito da norma normalmente é apenas sugerido como um elemento co-constitutivo da prescrição. Por outro lado a normativi. dade, pertencente à norma segundo o entendimento veicu- lado pela tradição, não é produzida por esse mesmo texto. Muito pelo contrário, ela resulta dos dados extralingüísti- cos de tipo estatal-social: de um funcionamento efetivo} de um reconhecimento efetivo e de uma atualidade efetiva desse ordenamento constitucional para motivações empíri- cas na sua área; portanto, de dados que mesmo se quisésse- mos nem poderiam ser fixados no texto da norma no senti- do da garantia de sua pertinência. Também o "conteúdo" de uma prescrição jurídica, i. é, os impulsos de ordenamento, regulamentação e critérios de aferição que dela partem (porque publicados, veiculados} transmitidos, aceitos e ob- servados), não estão substancialmente "presentes" no seu teor literal. Esse conteúdo também pode ser formulado b) Normatividade, norma e texto da l10rma 0. :. .~ por ela, dos titulares de funções estatais (tribunais reviso- -o,.. res} jurisdição constitucional etc.) e da ciência jurídica. comentários e estudos monográficos, de precedentes e de material do Direito Comparado, quer dizer, com ajuda de numerosos textos que não são idênticos ao e transcendem o teor literal da norma. Em meio à massa dos materiais de trabalho resultantes da práxis e da ciência jurídicas, a metódica jurídica dispõe de matéria suficiente para elaborar as suas próprias condi- ções fundamentais. Isso vale também diante do estado atual dos esforços em interligar ciência jurídica e teoria da cOlllunicação. Analogamente ao esboço aqui realizado dos pressupostos teóricos da metódica do positivismo legalista, foi mostrado pela teoria da comunicação que a metódica jurídica tradicional apresenta, com a sua concentração na teoria da interpretação do texto, com o seu conceito-meta de univocidade, com a sua idéia ele um "conteúdo" pronto, previamente dado como grandeza orientadora na norma ju- rídica, e com um "significado" abstraído e abstraível da composição tjpográfica, elementos de um estilo ontológico de raciocínio~. Diante disso propõe-se para a cornpreensão das normas jurídicas o modelo do sistema imperativo de comunicação. Apesar de muito elucidativo, esse enfoque pode contri- buir muito pouco para o aperfeiçoamento da metódica ju- rídica, pois para sistemas de comunicação desenvolvidos a descrição factual * acaba ocupando o primeiro plano no lu- gar do modelo de fundamentos da situação imperativa de comunicação, em virtude da complexidade necessariamen- te mais elevada nesses sistemas. A isso cOl'responde que os fundamentos de uma hermenêutica jurídica que aponta para além do positivismo legalista s6 foram obtidos a partir 5 Hom I, e.g. pp. 24 SS., lOS, 157 SS. e 160 ss; Hom lI, e.g. pp. 557 SS., 580 S., 585 e 587. dingliehe Deskription. 40 ".1 '::íiiiÍllil!. da observação do trabalho jurídico na práxis e na ciência. Ao lado das mencionadas correspondências às análises de hermenêutica jurídica e teoria da comunicação, devemos enumerar ainda as seguintes: a técnica de comunicação orienta a futura atuação conjunta dos membros do grupo social. Essa atuação conjunta forma respectivamente uma estrutura relativamente constante de nexos de ação c orga- nização e de nexos materiais. Estes não são substancial- mente circunscritos pela expressão lingüística da nofma ju- rídica, não estão nela "contidas" quanto ao seu"objeto*. Conceitos jurídicos no texto da norma fornec'ém apenas em determinados casos (no âmbito da norma gerado pelo direito, como e.g. em prazos, datas e prescrições meramen- te processuais) descrições factuais do que é referido**; em regra eles evocam apenas enquanto conceitos sinalizadores e concatenadores o que se pensa como correspondência na realidade social. O texto da norma não "contém" a norma- tividade e a sua estrutura material concreta. Ele dirige e limita as possibilidades legítimas e legais da concretização materialmente determinada do direito no âmbito do seu quadro. Conceitos jurídicos em textos de normas não pos- suem "significado", enunciados não possuem "sentido" se- gundo a concepção de um dado orientador acabado. **. Muito pelo contrário, o olhar se dirige ao trabalho concreti- zador ativo do "destinatário" e com isso à distribuição fun- cional dos papéis que, graças à ordem *. **jurídico-positiva do ordenamento jurídico e constitucional, foi instituída para a tarefa da concretização da constituição e do direito. der Saehe naeh. •• dcs Gemeinten. ••• eines abgesehlossen Vorgegebenen. • ••• Anordnung. 41 " I c) Norma, texto da norma e estrutura da norma Conforme mostra a análise da práxis jurídica, a norma- tividade é um processo estruturado. A análise da relação entre normatividade, por um lado, e norma e texto da nor- ma, por outro lado, prolonga-se na análise da estrutura da norma. "Estrutura da norma e normatividade" serviu6 de deixa para a análise da relação entre direito e realidade na herme- nêutica jurídica, quer dizer, para uma área parcial do enfo- que indagativo. de uma metódica do direito (constitucio- nal). Depois do que foi dito aqui, "estrutura da norma e normatividade" simultaneamente representam também o esboço de uma metódica do direito constitucional a ser tentado na direção além ao positivismo legalista, que abran- ge, ao lado de elementos dogmáticos e metodológicos no sentido mais restrito, entre outras coisas também a herme- nêutica no sentido da definição aqui utilizada. O teor literal expressa o "programa da norma", a "or- dem jurídica" tradicionalmente assim compreendida. Per- tence adicionalmente à norma, em nível hierárquico igual, o âmbito da norma, i. é, o recorte da realidade social na sua estrutura básica, que o programa da norma "escolheu" para si ou em parte criou para si como seu âmbito de regulamen- tação (como amplamente no caso de prescrições referentes à forma e questões similares). O âmbito da norma pode ter sido gerado (prescrições referentes a prazos, datas, prescri- ções de forma, regras institucionais e processuais etc.) ou não-gerado pelo direit07. Na maioria dos casos valem as 6 Müller I. 7 Cf. art. 10 aI. 1, art. 30 aI. 2 e 3, art. 4° aI. 1, art. 5° ai 3, frase 1 da Lei Fundamental e prescrições comparáveis. • Fragestellung. I." . duas coisas: o âmbito da norma apresenta tanto componen- tes gerados quanto componentes não-gerados pelo direito: Assim, no âmbito da norma do art. 21 aI. 1 frase 1 da LeI Fundamental a constituição efetiva de orientações e esfor- ços políticos e a sua respectiva programática conteudística não são gerados pelo direito, diferentemente das f~rmas jurídicas da associação como e.g. sociedade sem capacl~ade jurídica., sociedade com personalidade jurídica etc. Ar.n; bitos de norma como o da Seção VIII da Lei Fundament'al ou como e.g. aqueles que se referem à jurisdiçã09 p~ov~m, tais como são evocados pelos correspondentes teores lIte- rais das normas, ser quase inteiramente gerados pelo direi- to e com isso mais precisa e confiavelmente formuláveis no texto da norma do que os âmbitos de norma dos direitos fundamentais ou de normas principiológicas constitucio- nais 10. No direito constitucional evidencia-se com especial nitidez que uma norma jurídica não é um "juízo hipotético" isolável diante do seu âmbito de regulamentação, nenhuma forma colocada com autoridade por cima da realidade, mas uma inferência classificadora e ordenadora a partir da es- trutura material do próprio âmbito social regulamentado. Correspondentemente, elementos "normativos" e "empí- ricos" do nexo de aplicação e fundamentação do direito que decide o caso no processo da aplicação prática do di:ei- to provam ser multiplamente interdependentes ~ c~m l~SO produtores de um efeito normativo de nível ~lera~qU1c,o igual. No âmbito do processo efetivo da concretlzaçao pra- tica do direito, "direito" e "realidade" não são grandezas 8 .Arts. 83 ss. da Lei Fundamental. 9 E.g. arts. 92 ss. da Lei Fundamental. 10 Como arts. 2Ô. 21, 79 aI. 3 da Lei Fundamental e outros artigos similares. • Rechtsfahigkeit. 43 f 45 13 BVerfGE 6, pp. 132, 142 S5. e 1475. Sachgegebenheit. nal na práxis da realização do direito. Uma regra jurídica produz o esboço vinculante de uma ordem materialmente caracterizada, que no entanto não se dissolve no fato dela ser materialmente determinada *. O âmbito da norma entra no horizonte visual da norma jurídica bem como da norma da decisão unicamente no enfoque indagativo determinado pelo programa da norma. Legislação, administração e tribu- nais que tratam na prática o âmbito da norma como norma- tivo, não sucumbem a nenhuma normatividade apócrifa do fáctico. O Tribunal Constitucional Federal voltou-se com razão contra a acusação de que tal procedimento decorreria de um "sociologismo" ou de que ela teria se devotado a uma metódica "não-jurídica"l3. A objeção de que uma parte desse enfoque hermenêu- tico já poderia ser solucionada com os métodos tradicionais da interpretação de Savigny ignora que os canones fazem com isso algo que pela sua concepção não deveriam fazer. Na práxis jurídica cabe-lhes constantemente encobrir por meio da linguagem partes integrantes do âmbito da norma que em verdade (co)determinam a decisão do caso jurídico por força da sua própria consistência material e justamente não podem ser identificados com ajuda dos canones. Não por último em tais discrepâncias, constatou-se sempre de novo que a mera fidelidade às regras de Savigny necessaria- mente ~ermanece fictícia também no direito constitucio- nal. Não em último lugar, as diferenças das várias discipli- nas setoriais da ciência do direito estão fundadas na dife- rente autonomia material dos âmbitos da norma. Em pres- crições referentes à forma, em normas processuais e orga- que subsistem autonomamente por si. A ordem * e o que por ela foi ordenado são momentos da concretização da norma, em princípio eficazes no mesmo grau hierárquico, podendo ser distinguidos apenas em termos relativos. O âmbito da norma não é idêntico aos pormenores ma- teriais do conjunto dos fatos. Ele é parte integrante mate- rial da própria prescrição jurídica'l. Da totalidade dos da- dos afetados por uma prescrição, do "âmbito material", o programa da norma destaca o âmbito da norma como com- ponente da hipótese legal normativa * *. O âmbito da norma é um fator co-constitutivo da normatividade. Ele não é uma soma de fatos, mas um nexo formulado em termos de pos- sibilidade real de elementos estruturais que são destacados da realidade social na perspectiva seletiva e valorativa do programa da norma e estão via de regra conformados de modo ao menos parcialmente jurídico. Em virtude da COn- formação jurídica do âmbito da norma e em virtude da sua seleção pela perspectiva do programa da norma o âmbito da norma transcende a mera facticidade de um recorte da rea- lidade extrajurídica. Ele não é interpretável no sentido de uma "força normativa do fáctico"'2. Com isso a norma jurí- dica prova ser um modelo de ordem materialmente carac- terizado * * *, esboço vinculante de um ordenamento parcial da comunidade jurídica que representa o enunciado jurídi- co em linguagem e na qual os fatores ordenante e ordenan- do necessariamente formam uma unidade e se comple- mentam e reforçam reciprocamente de forma incondicio- 11 Müller r, e.g. pp. 107 S., 1I7 S., 125 S., 131 SS., 137 5S., 142 5S., 184 SS. e 201 SS. 12 Müller r, pp. 127, 172 S., 184 5S., 201 55. li< Anordnung. *. Normativtatbestand. * • li< sachgepragtes Ordnungsnlodell. 44 .' ,\ .' ", ,~,, .:;... ;: .., ,'; t ., , " 47 Enquanto forem indicadas como "métodos" da práxis e da ciência jurídicas somente regras da interpretação, a es- trutura da realização prática do direito terá sido compreen- dida de forma equivocada. A interpretação do teor literal da norma é um dos elementos mais importantes no proces- so da concretização, mas somente um elemento. Uma me- tódica destinada a ir além do positivismo legalista deve in- dicar regras para a tarefa da concretização da norma no sentido abrangente da práxis efetiva. Não pode aferrar-se nem ao' dogma da evidência nem ao dogma voluntarista. Não pode conceber o processo bem como a tarefa da reali- zação do direito normativamente vinculada como uma mera reelaboração de algo já efetuado. Ela deve elaborar os problemas da "pré-compreensão" da ciência jurídica e d.o fato da concretização estar referida ao caso. Ela deve partir in tOtWll de uma teoria da norma que deixa para trás o positivismo legalista . d) Concretização da norma ao invés de interpretação do texto da norma _ a posição normativa da prescrição jurídica a ser con- cretizada, na sua codificação ou no ordenamento jurídico (constitucional) (assim e.g. a peculiaridélde de normas da Parte Geral do Código Civil Alemão [BGB) ou as cláusulas gerais compensatórias, conscientemente incluídas em uma codificação elaborada, como os 99138,242 e 826 do BGB; ~ na Lei Fundamental: determinação da forma de estado, de- terminações dos objetivos do estado, imperativos doJEsta- do de Direito de concretude variável, mandatos de législa- ção, diretrizes constitucionais, normas materiais ~teferen- tes a critérios de aferição, prescrições de competência, re- gras organizacionais e processuais, direitos fundamentais). •.;. • Vervveisungsvorschriften. •• Legaldefinitionen. nizacionais, em prescrições de remissão*, definições le- gais** e em regulamentações com enunciado jusdogmáti- co-conceitual numérica ou individualmente determinado os âmbitos das normas desaparecem por trás dos programas das normas. Quase nunca fornecem à práxis pontos de vista adicionais para a concretização. Mas quanto mais material- mente vinculada for uma norma, quanto mais partes inte- grantes não-gerados pelo direito contiver o seu âmbito da norma, tanto mais a sua implementação carecerá dos resul- tados de análises do âmbito da norma. No caso de prescri- ções de direito constitucional os âmbitos da norma fre- qüentemente são fecundos e possuem um peso decisivo para a concretização. Por isso a práxis jurisprudencial de tribunais constitucionais tem um valor paradigmático em termos de conhecimento. Fatores tipológicos da estrutura da norma e com isso das condições distintas da concretização da norma são, por exemplo: -:-. a peculiaridade do âmbito material (de novo tipo ou tradicIonalmente assegurado, de maior ou menor relevân- cia política e social, gerado pelo direito, "de gênese natu- ral" ou ambas as coisas em uma determinada relação de mistura etc.), - a conFiabilidade do texto da norma na formulação do programa da norma, - a precisão do programa da norma formulado no teor literal da prescrição por ocasião do destaque do âmbito da norma do âmbito material, i. é, dos nexos materiais mais genéricos da prescrição jurídica, _ - o grau e o esta~o do tratamento (científico) de uma ~re: ?e regul~menta5ao dentro e fora da ciência e da práxis jundICas e, nao em ultimo lugar, 46 \ I I Conforme foi mostrado a concr' - de razões não pode ser um ' d' etlzaçao por uma série .. A proce Imento mmtlvo. normatividade eramente cog-_ comprova-se ap mentaçao de questões J'u 'd' enas na regula-fi Icas concretas EI' . mente no processo de ta' I ~ a e eXigida so- adquire eficácia Normas IjSU~~J~amentaçoes e só com isso caso, mas referidas a ele s dI lcas nã~ são dependentes do . ., , en o que nao co t' .pnontario se se trata d ns ItUl problema d e um caso efetiv' ou e um caso fictício U amente pendented . . ma norma não ' (e mterpretação porque e à d'd e apenas) carente ca" I "evidente", porque e à m; dI a que el,a não é "unívo- clareza" _ mas sobret d me I a que ela e "destituída de um caso (real ou fictíci~) 0Jorque ela deve ser aplicada a dica tradicional (i é' . mt norma no sentido da metó- parecer "clara" ou ~~s~~~,or ,Itera)~ de uma norma) pode caso prático ao qual el d UOlvoca no papel. Já o próximo f . a eve ser aplicada d f se a Igure extremament "d o, po e azer que ela e'd o e lestltUlda de I "VI enCla sempre some t . c areza , Isso se_ N n e na tentativa efetO d zaçao. Tela não se" ]' " I lva a concreti- conjunto de fatos iguaalPIca a go pronto e acabado a um d O mente compre ' Io. positivismo legalista I ens.lve como concluí- Mas "a" norma J'urídica _a ego,u e contmua alegando isso. " nao esta pronta I "bmente concluída. EI' , I 1cm su stancial- critível da ordem nor~:~m n~.~eo m~:erialmente circuns- ~a metódica racional. Essev~, , 1 t~~C1avel com os recursos mdividual na norma d d ~~c eo é concretizado no caso t b' e eClsao e com isam em tornado nítid d'f . so quase sempre q 'd o, 1 erenClado mat . IueCl o e desenvolvid d d ' ena mente enri- sível no Estado de D' o . entro os limites do que é admis f lrelto (deter . d - unção limitadora do text d mma os sobretudo pela lhamento * e concretização ore~' norma )d'Por meio de deta-_____ Iprocas a norma (nem con- • Prazisierungo 48 cluída nem isolável) junto ao conjunto de fatos e do conjun- to de fatos (igualmente nem isolável, nem nesse sentido "concluído") junto à norma descobre-se em um procedi- mento sempre normatívamente orientado o que deve ser de direito nOcaso individual, em conformidade com a pres- crição jurídica, Um enunciado jurídico não funciona meca- nicamente. A própria doutrina do "sens clair" de direitos estrangeiros, que afirma que conceitos aparentemente uní- vocos não podem ser submetidos à interpretação, SÓ chega a essa afirmação mediante a antecipação interpretativa do possível sentido da norma14. A "subsunção" é apenas apa- rentemente um procedimento lógico formal; na verdade, é um procedimento determinado no seu conteúdo pela res- pectiva pré-compreensão de dogmática jurídica. Depois do exposto já não é mais possível compreender com sentido* a concretização ou apenas, em formulação mais estrita, a interpretação do texto como reconstrução do que foi intencionado pelo dador da norma no sentido da identificação da sua "vontade" ou da "vontade" da norma jurídica. A simples futuridade* * dos casos regu]amentan- dos e conseqüentemente das decisões individuais atribuen- das a uma norma determinada faz que nem "a" vontade nem "a" decisão de uma prescrição em si possam ser iden- tificadas. Em contrapartida, a possibilidade para posições decisionistas (e tributárias do positivismo legalista) de iso- lar a "vbntade" e colocá-la em caso de conflito acima do teor normativo metodicamente elaborado, no fundo já não é mais um problema do direito, mas uma questão de poder histórico de fato; não mais um problema da ciência do di- 14 Müller 1, pp. 45 5; cf. também Esser IV, sinnvoll. •• Zukünftigkeit. 49 so Grundtatbestand. * * Geisteswissenschaften. 51 15 Cf. também Esser IV. Aussagekraft. mento" cognitivo passa, na concretização científica diante de um caso fictício, ni.tidamente para o primeiro plano. A força enunciativa * de uma norma para um caso é p~r assim provocada por esse mesmo caso. Em um procedI- mento, que ganha gradualmente em precisão .p~r m~io, d.a _ verificação recíproca da(s) prescrição (prescnçoes) Jundl- ca(s) considerada(s) relevante(s) junto aos .compone~tes para elas relevantes do conjunto de fatos e, Il1versaryen~e, dos componentes do conjunto de fatos - tratados, a gUIsa de hipótese de trabalho, como :el~vantes j~nt~à nO,r~a que lhes é provisoriamente atnbulda (ou Ju.nto a vanas prescrições jurídicas) -, os elementos normatIvos e os eI.e- mentos do conjunto de fatos assim selecionados "com VIS- tas à sua reciprocidade" continuam sendo concretizados, igualmente "com vistas à sua reciprocida~e", uns ju~t~ aos outros (e sempre com a possibilidade do Insucesso, J. e, da necessidade de introduzir outras variantes de normas ou normas à guisa de hipótese de trabalho). A soluçã?,_i. é, a concretização da norma jurídica em norma de decrsao e do conjunto de fatos, juridicamente ainda não dec~di~o, em caso jurídico decidido deve comprovar a convergencJa ma- terial de ambos publicá-la e fundamentá-lals., I 1/ ,O que foi dito até agora já torna claro que pape a pre- compreensão" da norma concretizanda e do cas,o?es~m?~- nha no trabalho jurídico. No contexto da metodlca Jundl- ca, "pré'-compreensão" pode significa.: s~me~~e pré-com- preensão jurídica, não pré-compreensao fllosoflCa ou ge~e- ricamente própria das ciências humanas. Isso vale tambe,:n diante dos elementos não-jurídicos da pré-compreensao "ideológica" no sentido abrangente, diante do caráter de rei to, mas uma questão de metafísica da história e de ideo- logia prática. O dogma voluntarista descende da pandectística e foi assimilado por ela da teoria do Direito Público dos inícios do positivismo, sobretudo por Gerber e Laband. Ele se prolongou na representação mental da norma jurídica como ordem e privou com a separação de direito e realida- de a norma enquanto alegado imperativo hipotético da re- lação material com o seu âmbito de regulamentação e vi- gência. Não é possível descolar a norma jurídica do caso jurídi- co por ela regulamentando nem o caso da norma. Ambos fornecem de modo distinto, mas complementar, os ele- mentos necessários à decisão jurídica. Cada questão jurídi- ca entra em cena na forma de um caso real ou fictício. Toda e qualquer norma somente faz sentido com vistas a um caso a ser (co )solucionado por ela. Esse dado fundamental * da concretização jurídica circunscreve o interesse de conheci- mento peculiar da ciência e da práxis jurídicas, especifica- mente jurídico, Como um interesse de decisão. A necessida- de de uma decisão jurídica (também de um caso fictício) abrange a problemática da compreensão, os momentos e procedimentos cognitivos. No entanto, a decisão jurídica não se esgota nas suas partes cognitivas. Ela aponta para além das questões "hermenêuticas" da "compreensão", no sentido genericamente peculiar que "hermenêutica" e "compreensão" têm nas ciências humanas* *. É claro que a relação entre os elementos cognitivos e os elementos não- cognitivos no processo de concretização muda conforme a função jurídica exercida e que e.g. o interesse de "conheci- pré-julgamento" genericamente válido para toda e qual- quer compreensão. A dogmática, a teoria e a metódica do direito (constitucional) devem disponibilizar meios para fundamentar os momentos especificamente jurídicos desse caráter de pré-julgamento autonomamente como pré-com- preensão normativa e materialmente referida do universo jurídico, para delimitá-la de forma c1arificadora, diferen- ciá-la e introduzi-Ia destarte no processo da concretização enquanto fator estruturado, controlável e discutível. A pré- compreensão jurídica e a sua justificação racional - na práxis do direito constitucional em larga escala congruente com a inserção de conteúdos da teoria do estado e da cons- tituição - é assim o lugar de uma crítica das ideologias que nasce da práxis e não deve ser feita autosuficientcmente com vistas à própria práxis, mas com vistas à racionalidade e correção da decisão a ser tomada. Diante da ciência do direito, tradicionalmente concebida como ciência humana normativa referida à realidade, a pergunta pela sua objetivi- dade e vigência universal se coloca de forma especial. A ciência do direito distingue-se da "objetividade" das ciên- cias naturais em virtude da sua matéria "histórica"; distin- guc-se do modo de trabalho das ciências humanas "com- prcensivas" pela sua vinculação a normas jurídicas "vigen- tes". O postulado da objetividade jurídica não pode ser formulado no sentido de um conceito ideal "absoluto"; pode, no cntanto, ser perfeitamente formulado como pos- tulado de uma racionalidade verificável da aplicação do di- reito, suscetível de discussão, e como postulado da sua ade- quação material"" no sentido da caracterização material de prescrições jurídicas e da inclusão dos elementos mate- riais de norrnatividade na concretização. A objetividade ju- Vorurteilshaft igkeit. •• Sachgerechtigkeit. 52 ~ , , -::! ~. ~ -.~ ~ :.. ? )~ o;'" "~ ~,1 , :i..' .) 2i~, .. 2' " i -...;,.,, ~t,, ,, ~ !~'\,), -:. , L rídica não pode alegar defrontar-se com a prescrição e o caso sem "pressupostos". Tais pressupostos já são dados com a linguagem que abrange tanto as prescrições jurídicas quanto os intérpretes. Eles atuam, outrossim, como conhe- cimento de nexos materiais, de dados da experiência e so- bretudo como posições, esforços e teores materiais de teo- ria jurídica, de teoria do estado, de teoria constitucional, de dogmática e de teoria do direito e da constituição; 'por conseguinte, como forças motivadoras preexistentes à con- cretização individual. A ciência jurídica deve, não em últi- mo lugar, verificar nesse sentido os seus pressupostos, dife- renciá-los e expô-los sem falseamento e embelezamento em termos de método. O que foi dito segue da natureza da ciência jurídica enquanto ciência prática. No Estado Democrático de Di- reito, a ciência jurídica não pode abrir mão da discutibilida- de ótima dos seus resultados e dos seus modos de funda- mentação. Mesmo na sua condição de ciência nonnativa ela tem por encargo a intenção de uma vigência universal (que só racionalmente realizável). A necessidade da racio- nalidade mais ampla possível da aplicação do direito segue da impossibilidade da sua racionalidade integral; admitir esta última significaria ignorar o caráter de decisão e de valoração do direito. Essa confissão circunscreve o campo do possível. Sem a sobriedade do excesso racionalista a ideologi'a poderia desenvolver-se sem limites e controles . A concretização jurídica não é "reelaboração"* de valo- rações legislativas; não é "reelaboração de con~iguraç~es espirituais objetivamente fornecidas como onentaç~es prévias"16. A norma jurídica deve regulamentar uma qum- 16 Cana ris, pp. 145 S5. e 148. "Nachvollzug" . 53 r o; t <,f t ~ '.::..t 'i ~ ,< 1 ,"".:' ~~ ;}.,~~ :1,. ;; lJ ;.t: te:.~. ",lf "'lt p .~~ :~ l~~. ',i": 'p.t n ~1 { t t 1"1' .if i;t ,f~ ~., ;~ 55 Gemeinwcsen . •• ausgebautc Verfassungsgerichtsbarkcit. sociedade estatalmente organizada"', e.g. da Lei Funda- mental de Bonn. Como questões de método são questões materiais, os problemas de uma metódica do direito cons- titucional que deve ser elaborada aqui e hoje não podem ser separados da peculiaridade dessa Lei Fundamental, dos seus teores materiais e do destino desse ordenamento constitucional na história da República Federal da Alema- nha até os noSSOSdias. Assim é de importância para a me- tódica do direito constitucional se ela deve ser desenvolvi- da em meio a um ordenamento jurídico com ou sem~juris- dição constitucional, institucionalizado nos seus pGrmeno- res"'"' . O sentido histórico-político de uma constituição re- side no fato dela ser o ordenamento fundante de uma de- terminada sociedade, incluídas as suas forças divergentes. O direito constitucional diz respeito à fundamentação da sociedade estatalmente organizada e do seu ordenamento jurídico global. Suas prescrições não estão garantidas por normas jurídicas hierarquicamente superiores. Seus âmbi- tos de regulamentação são como rendas, malhas com pon- tos largos, fundamentais, "políticos" I expostos em grau mais elevado à transformação histórica. São gerados pelo direito em grau especialmente reduzido, são pré-caracteri- zados de modo especialmente reduzido por tradições jurí- dicas detalhistas. A combinação de uma tal "abertura" es- trutural com a finalidade normativa da fundamentação da sociedade estatalmente organizada e de todo o ordenamen- to jurídico torna compreensíveis as dificuldades H'aiores e específicas da instituição e concretização de nornus cons- titucionais. Igualmente nítida se afigura a necessidade de desenvolver um método próprio do direito constitucional, independente da metódica da história do direito, da metó- S4 • "Auslcgung", "Interpretation" . •• "Nachvollzug". ••• Auslcgung. e) Direito con.stitucion.al e metódica estruturante tessência indeterminada de casos jurídicos práticos, nem concluída nem suscetível de ser concluída na direção do futuro. Tais casos jurídicos não podem nem devem ser pré- "solucionados" qualitativa e quantitativamente pelo legis- lador. A sua regulamentação com base na norma jurídica (e, entre outros fatores, com ajuda do seu teor literal), consis- te em partes essenciais de algo difcrente da "reelaboração". De reelaboração de decisões legislativas só se pode falar em um sentido condicionado onde se trata de teores normati- vos "determinados" (âmbitos de normas definidos e gera- dos pelo direito, tais como prescrições puramente formais referentes a trâmites processuais, prazos e datas, normas sobre a composição de um tribunal, prescrições numerica- mente determinadas etc.). Mas a práxis sabe à saciedade que mesmo em tais casos-limite as dificuldades e a "falta de clareza" são inevitáveis. As competências stricliore sen- su., repartidas pelo ordenamento constitucional e jurídico entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário não são competências para a "explicação"", "recapitulação" ** de textos de normas, mas competências para a concretização jurídica e a decisão do caso com caráter de obrigatoriedade, em cujo quadro a interpretação enquanto explicação" '"'"do texto constitui um elemento certamente importantc, mas apenas um elemento entre outros. No contexto prcsente não se pode partir "da" constitui- ção, também não do tipo ocidental da constituição burgue- sa moderna, mas só da constituição de uma determinada ,~.;--, ... dica da teoria do direito, da metódica do Direito Civil e do Direito Penal e que se oriente segundo essas dificuldades. Na Alemanha a história do direito constitucional compro- metido com os princípios do Estado Liberal de Direito e a democracia ainda é recente. Mais recente ainda é a tradição da jurisdição constitucional alemã. A falta de figuras jurídi- cas e padrões de decisão pré-formados, que nessa medida servem de base para novos desenvolvimentos, ainda carac- terizará por muito tempo a metódica do direito constitu- cional em todas as áreas da concretização, não em último lugar também na jurisprudência constitucional e na ciência. Não obstante essa situação, o direito constitucional, a legis- lação constitucional e a concretização da constituição têm a incumbência de atualizar a unidade política da associação da sociedade no Estado *, de fornecer fundamentos e crité- rios de aferição à instituição e efetivação de normas no ordenamento jurídico infraconstitucional e de assegurar, paralelamente a essa garantia de legalidade, também a ge- ração, o reconhecimento e a preservação da legiti1nidade no sentido do que é aceito como conteúdo "correto" pela so- ciedade. A legalidade e a legitimidade das áreas setoriais do di- reito devem ser mantidas pela constituição, a legalidade e legitimidade do ordenamento constitucional só podem ser mantidas por esse mesmo ordenamento. A "metódica estruturante" aqui apresentada é desenvol- vida com base no e com vistas ao direito constitucional. A denominação "metódica estruturante" resume o que foi dito sobre a estrutura de norma e texto da norma de nor- matividade e processo de concretização, sobre o n~xo entre concretização estruturada da norma e as tarefas das fun- ções individuais da práxis jurídica, sobre a não-identidade • Staatlicher Verband. 56 de norma e texto da norma e sobre a não-identidade de concretização e interpretação; resume, outrossim, os enun- ciados sobre o papel da pré-compreensão, do "sistema", da "axiomática" e da "tópica". A metódica estruturante analisa as questões da implementação interpretante e concretizan- te de normas em situações decisórias determinadas pelo caso. Ela apreende a hierarquia igual de elementos do pro- grama da norma e do âmbito da nor~a. Ela pro~~ra desen- volver meios de um trabalho controlavel de deClsao, funda- mentação e representação das funções jurídicas. Com isso ela se move na direção da exigência de encontrar' graus de interpretação "à maneira" de Savigny, que sejam con~or- mes ao direito constitucional atuall7. Diante da necessIda- de de estruturas normativas relativamente indistintas ela fornece com vistas a demandas futuras de regulamentação às "instituições de redução da indeterminidade, internas. a? sistema"18, os instrumentos que nem Savigny nem o POSItI- vismo legalista tinham oferecido. Isso pressupõe a com- preensão de que mesmo os enfoques ontológi~os e ~enome- nológicos, normológicos, decisionistas e soclOl?glsta~, de que nem os caminhos intermediários de ~m ~SInC~e~ls:no harmonizador de métodos ou de uma medlaçao dlaletlca, polar ou correlativa, nem os de uma metódica tópica ou de uma realização ponderante de "valores" da metódica da práxis e da ciência constitucional lograram disponibilizar fundamentos e meios suficientesl9. Em correspondência ao seu procedimento estruturante essa metódica não fala de "graus" ou "estágios" da interpre- tação, mas de "elementos" do processo de concretização. Savigny esclarece com a denominação "elementos" que os 17 Até aqui For5thoff m, p. 525. 18 Luhmann Il, p. 52. 19 Müller I, pp. 2455., 4755., 77 55. e passim. 57 asp~c;~~ de ~ét~do não constituem "espécies da interpre- taçao separavelS umas das outras, mas momentos de um processo unitário de interpretação, e que a sua relação so- n:ente pode. ser determinada com vistas à estrutura mate- nal d.o cas.o J.urí9ico individuaFo. Para além de Savigny de- v:m Ir a ,?lsttnçaO e?,tre norma e texto da norma e a aplica- çao. dos elementos por ele formulados ao direito consti- tucIOnal, o processa~lento crítico da reflexão metodológica ~laborada desde entao pela práxis e pela ciência a inclusão os pontos de vista oriundos do âmbito da n~rma e d ~orm,s do Es,-,dode, Direito que se referem ao modo J~ rab~lho da praxls JundlCa. Isso equivale a um corte na dis- cussa~ sobre o ~~todo na ciência jurídica. Em virtude da sua nao-~or,mat~vldade, nunca se poderá estabelecer uma or~em hler~rqulca vinculante entre os elementos metódi- cos. TentatIvas nessa direção, empreendidas por Savigny e aut?r.es po~teriores2l, fracassaram não por razões de uma defl~dlente. intensIdade da pesquisa, mas devido a uma ne- cessl ade inerente ao objeto * * . A_"metódica estruturante" é uma metódica jurídica. Ela nao transfere a hermenêutica filosófica à ciência jurídi- c~, mesmo se na primeira, sob o ponto de vista da "apl'c çao" d " , I a-._ .e. a, ~re-compreensão" que inclui o intérprete, a cle~?ClaJundlca possa ser compreendida como um paradig-;a :./elas razões mencionadas a metódica jurídica só po- ber~undafmen_tar-se na análise de técnicas práticas de tra- a. :? nas unçoes da concretização do direito e da consti- tUlçao. 20 v. Savigny I. p. 212, 213, 215 e 320. 2] Kriele, pp. 67 SS., 85 S5. e 97 55. 22 Gadamer, pp. 280, 290 5S., 307 55., 315 e 323. Auslegung. •• saehliche Notwendigkeit. 58 2. Elementos da concretização da norma Segundo a sua origem devemos distinguir dois grupos de elementos de concretização. O primeiro abrange os re- cursos do tratamento da norma no sentido tradicional, i. é, o tratamento do texto da norma. Esses recursos não se refe- rem apenas aos textos das normas, mas também à formula- ção de não-normas em linguagem. Um segundo grupo não diz primacialmente resp~ito à interpretação de textos normativos ou não-normativos. Ele abrange os passos de concretização, por meio dos quais são aproveitados os pontos de vista com teores materiais, que resultam da análise do âmbito da nonna da prescrição im- plementanda e da análise dos elementos do conjunto de fatos destacados como relevantes no processo de concretização por via de detalhamentos recíprocos. a) Elementos metodológicos strictiore sensu Compreende-se por esses elementos os aspectos da in- terpretação gramatical, histórica, genética, sistemática e teleológica, além disso os princípios aqui discutidos da in- terpretação da constituição e os problemas da lógica formal e da axiomatização no direito constituciona1. Por essa razão os elementos do âmbito da norma e do âmbito do caso (conjunto de fatos) não pertencem a esse grupo de elemen- tos, pois não se referem em primeira linha à interpretação de textoS. Por fim, os elementos dogmáticos, de técnica de solução, de política constitucional e de teoria desempe- nham um papel igualmente considerável para a metódica do direito constitucional, por ocasião da concretização da constituição. No entanto, embora eles sejam tratados mui- tas vezes como normativos na práxis, não se direcionam primacialmente para uma concretização da norma jurídica, 59 00000001 00000002 00000003 00000004 00000005 00000006 00000007 00000008 00000009 00000010 00000011 00000012 00000013 00000014
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