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Bromatologia Escurecimento Não Enzimático Uma das propriedades mais importante dos açúcares nos alimentos é a da formação de cor característica = cor de caramelo. Os carboidratos, quando aquecidos, iniciam uma série de reações que conduzem à formação de um grande número de com- postos responsáveis pelo aro- ma e sabor dos alimentos. • Essas reações são de 3 tipos distintos, porém a maioria ocorre a partir do açúcar. • De início há formação de cor amarela que vai dourando e chega à cor de caramelo, marrom claro amarelado. • Para que essas reações ocorram há necessidade da presença de alguns fatores combinados: – Temperatura, tempo, umidade, meio ácido ou alcalino e componentes susceptíveis. Escurecimento Não Enzimático • Caramelização • Reação de Maillard • Oxidação do Ácido Ascórbico Escurecimento Não Enzimático • No processamento ou armazenamento, a reação de Maillard e a caramelização são as principais. • Desejável: – Panificação: Pães, biscoitos, bolos – Carnes assadas e cerveja escura – Amendoim e café torrados – Caramelo • Indesejável: – Leite em pó – Suco de Frutas Escurecimento Não Enzimático Caramelização • Utiliza-se sacarose para produzir o caramelo em preparo caseiro de caldas para pudins. • A sacarose pura, aquecida diretamente, funde a 160°C (derrete) torna-se amarela e depois marrom claro. • Neste ponto se adiciona água, por exemplo, para preparo de caldas, ou leite para preparo de leite caramelizado. • Houve portanto alteração na cor, aroma, sabor e textura em relação à sacarose pura. Caramelização • Os açúcares se fragmentam termicamente pela remoção de água, seguido de reações de isomerizações e polimerizações. • Reação é catalisada por H+ e OH- • A reação é autocatalisada pois a água formada acelera a reação. Caramelização • Durante todo o tempo da reação ocorrem desidratações e hidrólises, chegando ao final com predominância de: – Ácidos: • Acético e o fórmico – Aldeídos: • formaldeído e o hidroximetilfurfural - HMF. • Estes são compostos responsáveis pelo aroma, porque são voláteis e pela cor, porque são ativos, recombinam-se e formam o polímero que é um pigmento chamado melanoidina. Caramelização • Com aquecimento a 200ºC a degradação da sacarose se faz por desintegração, com formação de espuma e pigmento, em 3 estágios de formação da cor: – caramelanas (C24H36O16), – caramelenas (C36H50O25) – caramelinas (C125H188O80). • Ao final, os produtos de degradação se recombinam e formam o caramelo. • Se o aquecimento continuar, haverá a carbonização ou queima. Reação de Maillard • Reação que ocorre entre um açúcar redutor quando em solução aquosa, a quente, com um aminoácido produzindo coloração amarela e depois marrom. • No alimento essa reação vai depender da presença do açúcar redutor que dará o grupamento carbonila C=O, vindo de um aldeído ou de uma cetona. Reação de Maillard Aldeído Cetona Reação de Maillard • Não só um açúcar fornece a carbonila, mas também as gorduras que tem esse grupo livre em cada 1 dos 3 ácidos graxos ligados à glicerina. Reação de Maillard • Essa reação é caracterizada pela junção do grupo carbonila do açúcar redutor com o grupo amínico de proteínas, reação esta favorecida em condições de pH neutro ou alcalino. • Os aminoácidos básicos como a hidroxilisina e a lisina que têm grupamentos NH2 extras à ligação peptídica, quando presentes nos alimentos tornam mais provável a reação. • É importante classificar os aminoácidos também quanto à reatividade. O ácido glutâmico é o mais reativo. Reação de Maillard • No leite reagem as proteínas caseína, lactoalbumina e lactoglobulina e o açúcar lactose. • Nas carnes e nos peixes reagem a mioglobulina, a miosina e a actina e como fonte de carbonilas, as gorduras. • Em alimentos preparados com açúcar ou amido onde se adiciona o leite, como os produtos de confeitaria, é comum ocorrer este tipo de escurecimento. Reação de Maillard • A reação ocorre preferencialmente em meio alcalino com 3 etapas distintas. 1ª É necessário a abertura do anel do açúcar (açúcar redutor), que condensa-se com o aminoácido. A ação do calor e a presença de água aceleram a reação. O composto se desidrata e forma a base de Schiff, insaturada e instável. O rearranjamento para a forma cíclica é imediato, mais estável devido a formação da ligação hemi-acetálica. 1ª Etapa Reação de Maillard 2ª Ocorre o rearranjamento de Amadori que é a reação chave para o escurecimento. Ocorre a entrada e saída de um H+, inicialmente formando o catiônico da base de Schiff (capaz de doar prótons) É a forma ceto (cetoseamina), mais estável e que encerra a 2ª etapa. Esta etapa é catalisada pelos aminoácidos presentes. Catálise ácido-base 2ª Etapa Reação de Maillard 3ª Há liberação de CO2 que aparece devido a degradação dos aminoácidos a aldeídos - Degradação de Strecker. Consta de 2 caminhos: A) A partir do produto da 2ª etapa a substância sofre fissão, formando redutonas incolores ou substâncias marrons. As Redutonas constituem o grupamento mais reativo que se forma na reação dando aroma de caramelo. Além de ser a fonte de escurecimento na forma de dehidrorredutona (escurecimento oxidativo). Pode-se formar também o isomaltol e o maltol, este tem aroma de caramelo e é realçador de sabor. Reação de Maillard B) partindo da cetoseamina, chega-se ao hidroximetilfurfural – HMF. O HMF reage com os compostos iniciais, polimeriza-se em outros chegando às melanoidinas. Também formam-se as redutonas, que junto com o HMF levam ao escurecimento e aroma característicos da reação de "Maillard". 3ª Etapa Açúcar Redutor Oxidação do Ácido Ascórbico • Este tipo de escurecimento ocorre numa situação particular. • O alimento deve conter ácido ascórbico e ser suficientemente ácido na faixa de pH 2,0 a 3,5. • Geralmente ocorre em sucos de frutas como o limão, laranjas e pomelos. • O ácido ascórbico possui 1 grupo carbonila, ele deve passar a ácido dehidroascórbico no início da reação que contém 3 grupos carbonilas. • Esta substância recebe 2 H e chega ao ácido 2 ceto, 3 ceto hexurônico que perde 2 moléculas de água e 1 de CO2 chegando ao furfural. Oxidação do Ácido Ascórbico • O aparecimento do furfural já indica a tendência à polimerização e formação das melanoidinas com escurecimento. • Este furfural é um aldeído muito ativo, poderá combinar-se com grupos amino e chegar à reação de "Maillard", mas neste caso, esta reação é típica de meio alcalino, portanto não poderá ocorrer em sucos, mas pode aparecer em repolhos desidratados. Oxidação do Ácido Ascórbico Controle do Escurecimento Não Enzimático • Pode-se intensificar ou evitar as reações. • Podem ocorrer concomitantemente em um alimento desde que haja condição de favorecimento delas ou de predominância de uma sobre a outra. • Os fatores para ocorrência ou controle são: – Temperatura – Umidade – pH Temperatura • Sempre com o aumento da temperatura, as reações podem se iniciar ou serem intensificadas. • Às vezes, o próprio aumento da temperatura pode fazer com que os componentes ou primeiros produtos interajam por outros mecanismos que vão inibir a reação: • A cada 10°C de aumento da temperatura, a cor e o desprendimento de CO2 aumentam 2 a 3 vezes, em sistema-modelo. Glicose + Frutose CaramelizaçãoMaillard Sacarose AAs Formaldeído Umidade • A água cataliza as reações. • Há produção de água na própria reação, tornando-a autocatalizada. • No leite em pó armazenado a 40°C em ambiente que permita a variação da atividade de água (Aw): • Tem-se utilizado a adição de açúcar para diminuir a Aw dos alimentos, com isso aumenta-se o risco de modificar indesejavelmente a cor. • Em solução aquosa o escurecimento é primariamente devido à caramelização, mas no estado seco alcalino prevalesce "Maillard". Leite em pó Aw = 0,6 (Escurecimento mais intenso) Aw > 0,7 (Não ocorre escurecimento) Aw < 0,4 (Não ocorre escurecimento) pH • O efeito do pH na caramelização é intenso: – Em meio ácido: pH 3,5 a 7 – Em meio alcalino: pH 7 a 10 • A reação de "Maillard" é auto inibidora. A perda dos aminogrupos dos aminoácidos leva à sobra dos grupos ácidos. Abaixo de pH 6,0 a reação é desfavorecida. – Ocorre a partir de pH 7,0 • A oxidação do Ác. Ascórbico ocorre mais intensamente na faixa de 2,0 a 3,5 Escurecimento Enzimático • O escurecimento enzimático de vegetais inicia-se em resposta a injúrias físicas e fisiológicas: – Impactos, – Abrasões, – “chilling”, – Excesso de CO2 • Que resultam da oxidação de compostos fenólicos. • Esta reação ocorre geralmente em tecido vegetal quando há rupturas da célula e a reação não é controlada. • Duas enzimas são relevantes na degradação oxidativa dos compostos fenólicos por causarem a produção de polímeros de coloração marrom: – Polifenoloxidase (PPO) – Peroxidase (POD) Escurecimento Enzimático Os pigmentos escuros formados pela ação das enzimas são geralmente acompanhados de mudanças indesejáveis na aparência e nas propriedades sensoriais do produto, desenvol- vendo sabores desagradáveis e perdas na quali- dade nutricional resultando, tam- bém, na diminui- ção da sua vida útil e do seu valor de mercado. Escurecimento Enzimático • As polifenoloxidases fazem parte de um grande grupo de enzimas conhecidas como oxidorredutases, que oxidam fenóis a o-quinonas na presença de oxigênio molecular e produzem pigmentos escuros na superfície de frutas e vegetais cortados. Escurecimento Enzimático • As PPO são encontradas nas plantas, nos animais e em alguns microrganismos, especialmente nos fungos. • Sua atividade enzimática varia de acordo: – Espécie e cultivar; • Sua localização na célula depende da: – Espécie, idade, e maturidade. Escurecimento Enzimático • A PPO está relativamente presente em todos os estágios de desenvolvimento da planta, porém sua atividade é mais elevada nos frutos mais jovens e após uma injúria mecânica ou ataque micro- biano. Escurecimento Enzimático Escurecimento Enzimático • As polifenoloxidases possuem cobre em sua estrutura que promovem a oxidação enzimática dos compostos fenólicos. • Inicialmente produzindo quinonas (compostos de cor ligeiramente amarela) condensam formando pigmentos escuros melaninas. Escurecimento Enzimático Reações catalisadas pela PPO e formação de compostos escuros (melaninas). Escurecimento Enzimático Escurecimento Enzimático O escurecimento enzimático, com algumas exceções, é benéfico para que haja a aceitação de certos alimentos como no desenvolvimento do sabor e da cor do café e do chá preto, na diminuição do amargor e adstringência dos produtos do cacau. Escurecimento Enzimático • As atividades das enzimas são, na maior parte dos casos, indesejáveis em frutas e hortaliças porque a coloração parda que produzem não é agradável. • Diversos métodos têm sido desenvolvidos para inibir o escurecimento enzimático, baseados na eliminação de um ou mais de seus componentes essenciais: – Oxigênio – Enzima – Metais • Cu – PPO • Fe – PDO Controle do Escurecimento Enzimático • Métodos físicos: – Temperatura, – Atmosfera modificada – Recobrimento com películas protetoras – Radiação gama – Altas pressões. Controle do Escurecimento Enzimático • Métodos químicos: baseiam-se em um sistema oxidante que necessita da presença de três compostos: – Enzima – Oxigênio – Substrato. • Para evitar a oxidação é necessário: – Inativar a enzima = Prejudicial ao produto – Eliminar o oxigênio = Difícil Controle do Escurecimento Enzimático • Temperatura Baixa: – A refrigeração constitui o meio mais tradicional para diminuir tanto a atividade da PPO quanto da POD. – As baixas temperaturas (0-4ºC) estão longe do ponto ótimo para essas enzimas, dificultando o acoplamento enzima- substrato. – Deve ser efetuado com muita cautela para que não ocorram problemas como as injúrias causadas pelo frio (“chilling”) ou perda de textura. Controle do Escurecimento Enzimático • Temperatura Alta: – O branqueamento é um tratamento muito utilizado para inativar as enzimas causadoras do escurecimento. – O alimento é aquecido a uma temperatura determinada, mantido por um tempo estabelecido e resfriado rapidamente à temperaturas próximas à ambiente. Controle do Escurecimento Enzimático • O uso de inibidores de escurecimento enzimático em alimentos é restrito pela toxicidade que podem causar dependendo da concentração empregada, e também pelo potencial efeito negativo na textura, aroma, gosto e custos. • Os sulfitos agem diretamente nas enzimas pela diminuição do número de pontes dissulfeto, formando sulfonatos sem coloração. Controle do Escurecimento Enzimático • acidulantes que podem inibir o escurecimento enzimático são os ácidos cítrico, málico e fosfórico. • O ácido cítrico, um dos acidulantes mais comumente usados na indústria de alimentos, pode agir como redutor do pH ou como quelante do cobre da enzima PPO. Controle do Escurecimento Enzimático
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