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História da Tecnologia

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L)isciplina de liistoria da TecnologidTodas as licenciaturas 
Professora 1Ioutc)ra Maria Paula DiogoISACSA-SE IFC 
METODOLOGIA E CONCEITOS 
OBJECTO DA HISTÓRIA DA TECNOLOGIA 
Os padrões culturais contemporâneos incorporam os valores da 
tecnologia como parte integrante da própria definição do conceito de 
humanidade. Esta noção de um quadro tecnológico profundamente 
actuante no interior de um complexo civilizacional desenvolve-se, de forma 
mais acentuada, a partir do processo de industrialização do século XVIII, 
identificando, num primeiro momento, as relações entre o crescimento 
económico e o potencial técnico e penetrando, posteriormente, a própria 
estrutura mental e conceptual da sociedade. 
Esta rede complexa de interrelações e de interdependências entre o 
aparelho tecnológico e a dinâmica global do todo social, suscita, em 
temos metodológicos, um conjunto de abordagens que podemos 
estruturar em torno de dois polos básicos: 
privilegiar de uma análise fundamentalmente operativa, cujos 
centros conceptuais são as noções de artefacto e prática 
técnicos, associando-se a mudança tecnológica com novos 
maquinismos; os elemento cognitivos e socio-económicos 
aparecem enquanto acessórios deste processo. 
compreender a tecnologia enquanto fenómeno cognitivo e 
eminentemente social, numa teia social, económica e política, 
centrando-se numa abordagem epistemológica em torno da 
natureza do conhecimento tecnológico, da sua produção por 
uma comunidade especializada e das suas funções enquanto 
Disciplina de 1 Iistoria da TecnologiaPTodas as Iicmciaturas 
Professora Iloutwa Maria l'aula DiogdSACS.4-SIIFC 2 
elemento económico, social, político e cultural. Os produtos 
técnicos, são vistos, pois, não como um fim em si, mas como um 
meio para a compreensão de uma realidade mais vasta e 
complexa. 
E claro que estas duas grandes vertentes de investigação não se 
excluem mutuamente; em todos os trabalhos na área da história da 
tecnologia é bem patente a consciência desta articulação bipolar" o lado 
técnico das técnicas e a componente civilizacional da actividade técnica. 
Contudo, a diferente focalização das suas estruturas de abordagem 
naquele eixo dicotómico coloca questões diferentes nos níveis da 
metodologia, da direcção das problemáticas e das fontes. 
A própria definição dos conceitos de invenção e de inovação 
reveste-se de dificuldades, na medida em que o contorno das suas 
fronteiras é muito ténue. A sua capacidade operativa na análise da 
mudança tecnológica tem sido largamente influenciada pela sua utilização 
nos campos da economia e da sociologia. 
Embora de uma forma necessariamente esquemática, parece 
possível constituir dois pares de associação fundamentais: invenção-ideia 
e inovação-uso. Desta forma, torna-se possível identificar a componente 
criativa da invenção, cuja consequéncia material é um novo artefacto 
tecnico (novo, no sentido de aquilo que anteriormente não existe sob 
aquela forma, não execluindo, portanto, as possíveis ligações de tipo 
cumulativo) e a vertente produtivalcomercial da inovação, em que o 
artefacto se transforma em objecto público, social. 
Disciplina dc 1Iistc)ria da Tecnologiall'odas as liçenciaturai 
l'r-otèsiora Iloiitora Maria Paula DiogolSACSA-SI11.C 
O acto de inventar, entendido enquanto um acto criativo, reveste-se 
de muitas dificuldades em termos de uma análise; a construção de uma 
"teoria da invenção" não é possível, na medida em que nela intervêm 
factores extremamente diversificados, ora individuais ora sociais, que 
motivam percursos muito diferentes para a invenção. Têm-se, no entanto, 
procurado identificar alguns elementos recorrentes: o estímulo social da 
necessidade, a existência de um meio receptivo a mudança, a capacidade 
de acesso a informação (educação, experiência, conhecimentos 
acumulados eom outros exemplos), o peso do reconhecimento no interior 
de uma comunidade especifica. 
A inovação é um processo de características eminentemente 
sociais, englobando componentes dos mundos económico, social e 
cultural. Do ponto de vista económico, a inovação técnica corresponde 
a uma resposta a uma modificação das condições do mercado (e, por 
extensão, das relações entre a procura e a oferta), resposta esta capaz de 
produzir mudanças na combinação dos factores produtivos 
(capitalltrabalho). No plano social e cultural, a inovação associa-se, por 
um lado, as necessidades sociais e, por outro, a existência de grupos 
activos de agentes do progresso tecnológico, nomeadamente os 
empresários (na área económica) e os engenheiros (no sistema técnico) 
estimulados por um meio receptivo à mudança. 
Ao conceito de inovação liga-se a problemática da difusão 
tecnológica, aspecto particularmente importante para o caso português, 
na medida em que, enquanto país periférico, nos confrontamos com a 
questão da importação de tecnologia externa. 
Ilisciplina de 1 hstoria da 'l'ecnologiaflodas as licenciaturas 
l'rofcsscra Doutora Maria l'aula Diogo/SACSA-SHFC 
A capacidade de integração e assimilação da inovação (quer 
directamente, quer por canais de difusão) está intimamente ligada ao tipo 
de estruturas económicas, sociais e culturais da área receptara. 
Os agentes de difusão da nova tecnologia podem agrupar-se em 
três grupos: 
agentes individuais (artífices especializados detentores de um 
novo saber) 
agentes institucionais (sociedades, jornais, enciclopédias) 
agentes econórnicos (exportação de equipamento e de técnicos 
a ele associados). 
A eficácia de funcionamento destes canais difusores depende, tal 
como acontece para o próprio processo de industrialização, das 
condições específicas da área que funcionará como "recipiente" da 
nova tecnologia: 
factores econórnicos e sociais (nível da procura, capitais 
acumulados, custo da mão-de-obra, adequação dos recursos 
naturais, infraestruturas de apoio, custo global da mercadoria 
produzida e sua competitividade no mercado) 
factores políticos (empenhamento de políticas governamentais) 
factores culturais (existência de conhecimentos técnicos e 
científicos sedimentados, condições de desenvolvimento de 
aptidões técnicas entre os utilisadores, nomeadamente ao nível 
da aprendisagem formal, resistências valorativas face ao novo). 
MUDANÇA TECNOLÓGICA 
Em 1962, Thomas Kuhn publica The Structure of Scientific 
Revolutions, uma obra fundamental para a reflexão sobre o peso e o papel 
Disciplina de Historia da Tecnologia/Todas as lictmciatura:, 
I'rofessora Doutora Maria Paula DiogoISACSA-SI F C 
da continuidade e da descontinuidade na mudança dos sistemas 
cognitivos. Embora a tese de Kuhn se refira especificamente a estrutura 
científica, os conceitos de paradigmalciência normallruptura vão 
impulsionar o debate na história da tecnologia em torno das relações entre 
diferentes quadros técnicos. Encontramo-nos ainda hoje em plena 
reflexão sobre as diversas opções de análise face ao evoluir do meio 
tecnológico. 
Uma parte muito significativa de autores, desde os clássicos A.P. 
Usher e S.C. Gilfillan até aos mais recentes M. Daumas, G. Basalla, R.A. 
Buchanan e C. ~reeman*, tem defendido uma opção de tipo 
continuista, embora as suas análises apresentem diversas matizes de 
combinação dos conceitos de evolucionismo, conhecimento 
cumulativo, invenção individual e aceleração. 
A oposição ao modelo kuhniano apoia-se numa interpretação da 
tecnologia enquanto, fundamentalmente, um corpo material: o facto de 
estarmos perante objectos tri-dimensionais (e não estruturas mentais 
cognitivas) justifica a resistência a uma mudança abrupta característica da 
descontinuidade. 
Apesar de se considerar indiscutível que o sistema tecnológico tem 
características, ao nível da materialidade, que impedem uma aplicação 
linear do modelo de Kuhn, parece, contudo, possível e desejável manter 
em aberto ahipótese da discontinuidade. É evidente que esta abordagem 
pressupae um entendimento da tecnologia, não predominantemente 
em termos do objecto técnico, mas, principalmente, como um sistema 
mais lato, no qual o elemento cognitivo, isto 6 a produção do saber 
técnico, desempenha um papel relevante. Trata-se de diferenciar o 
momento em que a influência cumulativa anterior é superada por uma 
1)ixiplina de flistoria da Tecnologiairodas as lic~mciaturas 
Professora Iloutora Maria Paula IIiogolSACSA-SIW 
postura genuinamente nova que, não excluindo a herança de opções 
técnicas que a precedem, dela se diferenciam, configurando um sistema 
técnico diferente, autónomo. É verdade que o totalmente novo não existe 
em termos tecnológicos: é sempre possível encontramos elementos 
pontuais de técnicas anteriores nas novas propostas; o peso da 
experiência, de tudo aquilo que já se sedimentou e cristalizou sob a forma 
de anteriores sistemas técnicos (em termos de conhecimentos e de 
artefactos) é importante; contudo, a descontinuidade não pressupõe o 
apagar do passado, mas antes a presença de novas atitudes, de novas 
formulações de respostas aos problemas técnicos. 
Embora haja alguns casos muito interessantes de aplicação do 
modelo de Kuhn a história das tecnologias, os conceitos kuhnianos de 
"ruptura" , de "paradigma" e de "incomensurabilidade entre 
paradigmas" põe, de facto, alguns problemas metodológicos quando 
aplicados à tecnologia: por um lado, e tal como o referiram os partidários 
da visão continuista, não há um corte radical entre diferentes sistemas 
técnicos e, por outro, a coexistência entre eles é possível quer em termos 
da prática (sua utilização no sector produtivo) quer mesmo no interior da 
comunidade técnica. 
Pensar o problema da descontinuidade na sucessão dos sistemas 
técnicos não se esgota, contudo, no modelo de Kuhn. Este baseia-se, em 
termos diacrónicos, no conceito de sucessão; é precisamente esta noção 
de linearidade, de sequência de blocos separados, que encontra 
dificuldades quando transposta para o meio técnico. Ao contrário, o 
modelo alternativo proposto por I. Lakatos e apoiado por P. 
~ e ~ e r a b e n d ~ propõe o conceito de co-presença, de "justaposição" de 
projectos de investigação. Um sistema técnico é substituido por outro 
quando atinge o seu limite estrutural, ou seja na parte final do seu período 
llisciplina de TIistOria da TecnologiaíTodas as licenciaturas 
Professora Iloutora Maria Paula DiogoJSACSA-SEiE'C 
de expansão, quando se esgotam as possibilidades de aperfeiçoamento 
(em termos técnicos e produtivos); contudo, a presença deste novo 
sistema tecnológico não exclui as soluções adoptadas anteriormente, que 
podem persistir durante um largo período. 
Um sistema tecnológico funciona numa dupla dimensão de 
teoriatprática, cuja interacção não se pode definir em termos sequenciais. 
As relações entre ciência e técnica são complexas e modificam-se 
profundamente no tempo; tratam-se de duas áreas autónomas em 
constante diálogo, cuja interacção se faz em termos dialéticos e não 
hierárquicos. 0 s estudos sobre a influência da ciência em momentos de 
mutação cruciais, como por exemplo a expansão técnica durante a 
revolução industrial inglesa, são contraditórios, opondo teses 
eminentemente empiristas a interpretações que acentuam as relações 
existentes entre os produtores do saber técnico e os cientistas. 
Embora na sociedade contemporânea as relações entre ciência e 
tecnologia ou, se quisermos, entre investigação fundamental e aplicada, 
sejam muito profundas, este relacionamento não é válido em outros 
períodos históricos. A tecnologia anterior ao Renascimento desenvolve-se 
alheada da ciência; o Renascimento irá introduzir algumas rotas de ligação 
que virão a ser retomadas e largamente ampliadas nos séculos XIX e XX 
com o desenvolvimento de indústrias (como a química, a eléctrica, a 
electrónica e microelectrónica) baseadas no conhecimento científico. 
Entre os séculos XVI e XIX, a intensidade dos contactos entre as duas 
áreas é muito variável, permitindo situações muito diversificadas no 
interrelacionamento entre ciência e tecnologia. 
Disciplina de 1 IistOria da IecnologiaíTodas as licenciaturas 
13ufessora Lloutora Maria Paula IIiogolSACSA-SIiFC 
Contudo, a tecnologia deve ser sempre entendida enquanto um 
conhecimento específico, algumas vezes gerado a partir da ciência, outras 
vezes resultante da sua própria lógica interna. A estrutura tecnológica é, 
fundamentalmente, formada por ideias; os objectos técnicos, os artefactos, 
constituem apenas a parte visível dessas respostas cognitivas. Assim, a 
questão da mudança tecnológica tem de ser entendida como um fenómeno 
de mudança na estrutura do conhecimento, no qual participam, primeiro, a 
comunidade que produz e gera esse tipo de conhecimento e, depois, os 
meios económico, social e político envolventes. 
-- 
I Cf. M. Daurnas, "L'Histoire des Techniques: son objet,ses limites, ses méthodes", Revue dfHistoire 
des Science, 1969 (tomo XXII), pp.5-32. 
Cf. A.P. Usher, A History of Mechanical Inventions, Cambridge (Mass.), Harvard University 
Press, 1954 (2.edição)(l. edição de 1929); S.C. Gilfillan, Inventing the Ship, Chicago, Follett, 1935 
e The Sociology of Invention, Chicago, Follett, 1935; M. Daumas, "Introdução", Histoire Générale 
des Techniques, Tomo I11 (L'expansion du machinisme), Paris, P.U.F., 1968 e "L'Histoire des 
Techniques: son objet, ses limites, ses methodes", Revue dlHistoire des Sciences, T.XXI1, 1969; C. 
Freeman, J. Clarke c L. Soete, Unemplopent and Technical Innovation, Londres, Frances Pinter, 
1982; S. Kuznets, Economic Change: Selected Essays, Londres, Heinemann, 1974, G. Basalla, The 
Evolution of Technology, Cambridge, Cambridge University Prcss, 1988, R.A. Buchanan, The 
Structure of Tehnological Revolution, Bath, Centre for the History of Technology, Science and 
Society, 199 1. 
I. Lakatos, "Falsification and the Methodology of Scientific Research Prograrnrnes" in I. Lakatos e 
A. Musgrave (eds), Criticism and the Growth of Knowledge, Londres, Cambridge Univ. Press, 
1970, pp.91-196; P. Feyerabend, "Consolations for the Specialist" in I. Lakatos e A. Musgrave 
(eds), Criticism and the Growth ofklnowledge, Londres, Cambridge Univ. Press, 1970, pp. 197-230. 
REFLEXÕES EM TORNO DA HISTÓRIA DA TECNOLOGIA 
METODOLOGIA E CONCEITOS 
1. Como definir o obiecto da História da Tecnologia? 
conjunto de 
/sistema cognitivo 
I 1 o objecto / o maquinismo 
* natureza do conhecimento técnico 
* comunidade produtora do saber técnico 
* relações com o todo social 
2. Como definir o suieito da História da Tecnologia? 
1 
a kombidade de produtores técnico4 
a inve ção como acto criativo de um indivíduo " 
J, 
a invenção como corolário de um trabalho colectivo 
que se cristaliza num indivíduo 
3. A mudança na História da Tecnologia 
. Modelo kontinuísta) 
Modelo bescontinuístd 
A 
Sucessão Justaposição 
4. As relações Ciência e Tecnologia 
Disciplina: História da Tecnologia 
Tecnologia e Progresso 
Maria Paula Diogo 
"-Oh Jacinto, para que servem todos estes instrumentozinhos? Houve já ai um desavergonhado 
que me picou. Parecem perversos ... São úteis? 
Jacinto esboçou, com languidez, um gesto que os sublimava. Providenciais, meu filho, 
absolutamente providenciais (...)!" 
Eça de Queirós, As Cidades e as Serras 
"lt was on a dreary night of November, that I beheld the accomplishment of my toils. With an 
anxiety that almost amounted to agony, I collected the instruments of life around me, that might 
infuse a spark of being into the liveless thing that lay at my feet. It was already one in the moming; 
the rain pattered dismally against the panes, and my candle was nearly burnt out, when, by the 
glimmer of the half-extingueshed light, I saw the dull yellow eyeof the creature open;" 
Mary Shelly, Frankenstein 
A ideia de progresso incorpora a nossa matriz civilizacional desde o 
Renascimento. As civilizações clássicas percepcionavam-se a si próprias como 
degradações face a estádios anteriores de grandiosidade: toda a mitologia grega 
sustenta a existência de tempos heroicos e felizes num passado inacessível. Na 
grelha conceptual da Idade Média o conceito de mudança está ausente, não 
sendo esta conhecida ou desejada. A própria eternidade (para a qual a vida 
terrena constitui um estádio em trânsito) é pensada em termos de um estrutura 
hierárquica e imutável I. 
O Renascimento introduz a ruptura face a ideia estática e ciclíca 
medieval, operando uma rotação do centro intelectual, que se desloca de um eixo 
eminentemente teológico para um quadro antropocêntrico, cuja base explicativa 
assenta num modelo causalista. Esta nova visão do mundo privilegia a ciência 
como elemento central do pensamento, associando, assim, a vivência humana o 
princípio do progressivo. Não estamos ainda perante um pensar do tempo 
histórico sob a forma de progresso, mas fundamentalmente na presença de um 
tipo de pensamento que comporta a noção de renovação e de melhoria2. 
Por outro lado, no decorrer do século XVI, a importância do saber 
prático, o peso das coisas técnicas, assume uma dimensão nova, alterando 
o seu relacionamento com as formas culturais institucionalizadas. Assim, a 
associação de indignidade ao trabalho prático (tendo como contraponto a de 
dignidade das actividades contemplativas e liberais) e a concepção do saber 
como secreto e restrito a uma elite, são questionadas, quer por homens não 
letrados ligados a um saber empírico (ou seja, sem uma formação académica), 
quer pelos próprios humanistas. 
A construção da matriz cultural moderna, assente numa nova valoração 
dos procedimentos teórico e prático do conhecimento e, portanto, na concepção 
de uma ciência ligada a experiência e ao mundo real, torna-se um passo 
fundamental na definição do conceito de progresso que encontraremos no século 
seguinte. A consciência da importância da dimensão prática do saber 
enquanto forma de acesso ao conhecimento da natureza, é decisiva na 
ruptura com os quadros cognitivos clássico e medieval. 
O conceito de progresso torna-se mais claro no decorrer de um debate 
que, sob diversas formas, percorrerá os séculos XVI (segunda metade) e XVII, 
confrontando os "modernos" e os "antigos", numa tentativa de libertação da 
nova sociedade dos fantasmas da civilização clássica. Os partidários da 
superioridade dos modernos apoiam a sua posição em dois pontos básicos: a 
destruição da concepção clássica do mundo através de uma nova imagem 
espacial formada a partir das descobertas geográficas, em que o conceito 
tradicional da cidade como unidade fulcral do espaço perde importância em favor 
de uma ideia de mundialização e, o que nos interessa particularmente, a 
afirmaçiío do conceito de progresso fundada a partir evolução técnica. 
A consciência do poder dos modernos, traduzido através das suas 
capacidades de compreensão do mundo e de intervenção na natureza e na 
sociedade, altera profundamente a dialética do imaginário temporal: a "Idade de 
Ouro", colocada tradicionalmente num tempo passado, desloca-se para o 
presente; a noção de progresso toma-se o eixo orientador no novo sistema 
cultural, sendo a componente tecnológica um elemento fundamental 
Com o Novum Organum (1620) de Francis Bacon, a ideia de progresso 
liga-se explicitamente à de crescimento científico e técnico, introduzindo um 
quadro conceptual radicalmente novo: a cultura assente em elementos retóricas e 
literários, Bacon propõe uma grelha de conhecimento alternativa, baseada na 
articulação das dimensões técnica e científica. A característica fundamental 
desta nova matriz cognitiva é a sua capacidade de progredir: 
"( ...) nas artes mecânicas, que se fundam na natureza e na 
luz da experiência, vemos suceder o contrário (face às 
formas culturais tradicionais): elas (...) como se penetradas 
por um espírito vital, continuamente crescem e progridem: 
antes toscas, depois convenientes, enfim refinadas, sempre 
pr~gredindo."~ 
A nova postura proposta por Bacon esboça a projecção do conceito de 
progresso sobre, não apenas o presente, mas também o futuro; o progresso não 
se encerra no que foi alcançado, antes implica a procura para chegar ao que 
ainda não sabemos (em relação a ideia aristotélica do conhecimento acabado 
em que o que não é conhecido é remetido para o domínio do não-possível o 
carácter inovador da tese baconiana é extremamente claro). 
Englobando sucessivas novas contribuições na linha aberta por Bacon - 
Descartes, Pascal, Leibniz e Locke - a noção de progresso é claramente 
assimilada para os padrões mentais europeus com a célebre Querelle des 
Anciens et des Modemes (1688-97), corolário da controvérsia sobre a oposição 
entre os "Modernos" e os "Antigos" iniciada no século anterior. 
Embora a "querelle" se centrasse directamente sobre as questões no 
campo da literatura e da poesia, na verdade os problemas por ela postos ecoam 
todo um conjunto de modificações de posturas mentais que se vinham 
desenvolvendo ao longo dos últimos cem anos, em especial face aos papéis da 
indústria, da ciência e da técnica, cristalizando a visão seiscentista da 
modemidade e do progresso. 
A polémica entre o antigo e o novo e a reflexão sobre o significado e a 
substância do conceito de progresso, assume em Inglaterra características 
diferentes, na medida em que, partindo de uma forte tradição baconiana, todo o 
debate se estruturará em torno das ligações entre a ciência, a técnica e o 
progresso, afastando da polémica os campos da oratória e da estética. A 
questão do progresso definia-se na área das invenções, da observação e da 
experiência. Neste sentido, a defesa da superioridade dos modernos 
assenta explicitamente nas suas conquistas científicas e técnicas, 
assumidas enquanto elementos identificativos do progresso da humanidade 
O século XVIII consolida e difunde esta nova visão sobre a natureza e as 
componentes do progresso, assente na capacidade de compreender o mundo, 
de o interpretar cognitivamente, em função de um elemento essencial - a 
razão. A associação entre as noções de felicidade e de progresso, 
articulando-se este num duplo eixo ciência-técnicalsocial-político, está bem 
evidente na obra de D'Alembert, Montesquieu, Voltaire, Helvétius, Condillac e do 
Barão d' HOI bach4. 
As obras dos enciclopedistas desempenham um papel fulcral na 
assimilação, por parte da consciência europeia, da noção de progresso 
como elemento integrante da histbria humana. A par deste processo de 
sedimentação, o século XVIII contribui de forma inovadora na arquitectura do 
conceito de progresso, através dos trabalhos de Kant, Turgot e Condorcet, cujas 
reflexões virão a constituir um referencial na ideologia do progresso do século 
XIX. 
Kant, ao contrapor o conhecimento empírico à ideia do absoluto, constitui 
uma reserva do ideal, da perfeição, permitindo a definição de uma rota evolutiva 
que caminha no sentido desse inacessível; no plano diacrónico, a sociedade tem 
como objectivo final o atingir de uma estrutura política perfeita. Esta capacidade 
para o progresso, intrínseca à humanidade (considerada como uma disposição 
moral), torna-se evidente através da própria história, citando Kant, como exemplo, 
a Revolução Francesa. 
Com Condorcet, o conceito de progresso incorpora uma nova dimensao 
de materialidade. O Esquisse d'un tableau histonque des progrès de I'esprit 
humain (1795) constitui a síntese de uma nova forma de compreender a 
sociedade humana, em termos da sua evolução, assente numa absoluta 
confiança na força irresistível e positiva do progreso, entendido este como uma 
emanência do racionalismo e da ciência. 
A sociedadehumana é vista por Condorcet como uma massa orgânica 
em evolução, caminhando desde a infância até à maturidade, percorrendo 
uma escala ascendente, em que os diversos estádios se interligam através 
de faixas transitórias. Estes momentos de passagem são entendidos, não 
como regulares e mecânicos, mas como períodos de confronto entre grupos de 
interesses opostos. 
O papel de vanguarda neste impelir da humanidade para um ordem 
melhor cabe aos cientistas, grupo detentor dos princípios e da prática da 
racionalidade. Esta ideia de uma classe liderante formada por especialistas (e 
não por políticos, por "homens de estado"), será extremamente importante na 
concepção europeia moderna do progresso, configurando o " mito da caixa preta", 
metáfora de um conhecimento detido e manipulado apenas por alguns (os 
especialista, os "feiticeiros" da contemporaneidade). 
O século XIX irá reformular a estrutura interna do conceito de progresso 
transferindo para o seu centro a componente tecnológica. Esta passagem de 
uma dimensão fundamentalmente ligada as ciências puras para um universo 
assente na prática, está na base de uma profunda alteração da forma como o 
homem percepciona a sua relação com o mundo exterior e como formula a sua 
experiência cognítíva. A máquina, o objecto tecnico, a capacidade de agir 
efectivamente sobre o natural, toma-se um elemento crucial da cultura e do 
imaginário oitocentista, repercurtindo e repercurtindo-se nas estruturas socio- 
económicas industriais. 
O primeiro momento teórico significativo desta rotação no centro do 
conceito de progresso é a obra de Saint-Simon. Saint-Simon vive na ante-câmara 
de uma época de profunda mutação: o processo de industrialização inglês ainda 
se encontrava numa fase inicial, a França apenas dava os seus primeiros passos 
na sentido da introdução sistemática de uma tecnologia industrial e a restante 
Europa pertencia ainda a um espaço económico, social e político tradicional. 
Contudo, Saint-Simon tem uma percepção extremamente clara do papel da 
indústria na emergência e configuração de uma nova sociedade - a 
sociedade industrial - que por ele 6 concebida como portadora dos 
elementos de progresso necessários à felicidade humana. Neste sentido, 
afirma: 
"ln the new political order, social organization will have for 
its sole and permanente purpose the best possible use for 
the satisfaction of human needs of all the knowledge 
acquired in the sciences, the fine arts, and the indu~try."~ 
O mito da Idade de Ouro é, uma vez mais, transformado: é o futuro (e já 
não o passado, como nos clássicos e medievais, nem o presente, como nos 
modernos) que se identifica com uma era da felicidade e da abundância; o 
presente de Saint-Simon é um momento de passagem, na rota imparável do 
progresso, para a construção de uma sociedade ideal. Este futuro desenha-se no 
interior da sociedade industrial, através dos avanços da ciência e das técnicas; 
assim, Saint-Simon identifica, no plano do real, os elementos definidores da 
sociedade perfeita. A máquina assume-se numa nova dimensão, não apenas 
como um objecto, mas como símbolo de um quadro tecnológico radicalmente 
diferente, quer quantitativa quer qualitativamente, ele próprio vector de definição 
da nova sociedade. 
A ideia de vanguarda orientadora proposta por Condorcet, é retomada 
por Saint-Simon e adaptada à nova matriz industrial: o especialista, o 
profissional, desdobra-se no sentido de cobrir as áreas do saber teórico 
(cientistas e engenheiros), da aplicação prática (engenheiros e industriais) e 
da expressão (artistas). 
Pela importância do elemento técnico associado a uma ideologia 
industrializante (modelo que orientará o século XIX europeu) o saintsimonismo 
foi considerado como a "religião dos engenheiros"' tendo como "catedral" a 
École Polytechnique. 
A associação dos conceitos de progresso e de industrialização que vimos 
em Saint-Simon torna-se axiomática quando analisamos o século XIX. De facto, 
tal como já referi acima, Saint-Simon dera um corpo a ideia abstracta de 
progresso e essa vertente material tornou-se omniscente: para o século XIX o 
crescimento tecnológico identifica-se com o crescimento da própria humanidade. 
O que é particular ao século XIX em termos da sua relação com o 
conceito de progresso é, por um lado, a sua integração no quotidiano mental 
e cultural (deixando de pertencer exclusivamente ao universo conceptual dos 
intelectuais) e, por outro, a sua objectualização (a máquina). 
Este processo de massificação da temática do progresso acentua o 
estatuto de inevitabilidade da evolução, pensada num quadro temporal linear e 
contínuo6. Todo o século XIX e o primeiro quartel do século XX interpreta o 
progresso como uma função do crescimento técnico e económico, projectando as 
suas aspirações de felicidade num imaginário tecnológico que se identifica com o 
próprio exercício do poder. O elemento técnico constitui-se como o meio, o 
veículo, através do qual a estrutura cognitiva do universo científico penetra e 
interage no mundo social. A fé na ciência transmuta-se, na realidade, para uma 
crença no poder da técnica, ou seja na capacidade efectiva de resolver os 
problemas. 
É neste quadro de apropriação do saber técnico utilizável que podemos 
compreender a questão da valoração do sistema tecnológico. O século XIX tem 
uma visão claramente optimista da tecnologia na medida em que ela 
potencializa um progresso material conotado positivamente. A máquina funciona, 
física e metaforicamente, como o centro do sistema técnico, permitindo o acesso 
as dimensão quantitativa e qualitativa presentes no conceito de progresso. 
O número e a heterogeneidade dos objectos tkcnicos (do telefone a 
fábrica, do elevador a locomotiva) configura, num primeiro plano, uma nova 
realidade ao nível da produção e do consumo e, num plano simbólico, 
identifica a capacidade do homem de dominar o espaço e o tempo de uma 
forma totalmente nova. Quando o Jacinto de A Cidade e as Serras identifica a 
civilização com a técnica - "Só o fonógrafo (...) me faz verdadeiramente sentir a 
minha superioridade de ser pensante e me separa do b i ~ h o . " ~ não são apenas os 
objectos que se referenciam, mas todo um quadro cultural estruturado a partir da 
identificação da tecnologia com a felicidade humana. 
As exposições industriais que se realizam na Europa a partir de meados 
do século XIX ecoam, através do êxito que obtêm, essa importância do elemento 
tecnológico na sociedade contemporânea, quer em termos materiais quer no 
plano mental; a literatura tecnológica ligada a ficção encontra um forte apoio no 
público - basta lembramo-nos das obras de Júlio Verne (Viagem ao Centro da 
Terra, 20 000 Léguas Submarinas) e de H.G. Wells (A Máquina do Tempo) - ao 
evocar, sob diferentes perspectivas críticas, a capacidade do homem de actuar 
sobre as leis da natureza. 
Neste sentido, o imaginário oitocentista e do princípio do nosso século 
materializou o conceito de progresso na máquina, e, através dela, impregnou-o 
das noções de movimento, de velocidade e de mudança 
O caminho de ferro assume, neste contexto, um papel de grande 
importância, incorporando de forma particularmente evidente os elementos 
tecnológicos e a noção de progresso. Em toda a Europa, o debate em torno da 
implementação das linhas férreas se assumiu como a oposição entre os 
partidários da "ordem antiga" e os da "nova ordem". 
Até I Guerra Mundial, apenas alguns intelectuais levantaram dúvidas 
sobre este optimismo acrítico; o mito de Frankenstein, que retoma, na 
essência, o mito grego de Prometeu, ou seja a punição pela apropriação pelos 
homens de algo que pertence aos deuses, permaneceu adormecido. Contudo, 
ocasionalmente era acordado, como, por exemplo, por Rousseau no século XVIII 
e por Nietzsche no século XIX. Para Rousseau, a tecnologia é corruptora doshomens, privando-os da sua inocência: em vez de actuar como um elemento 
constitutivo da felicidade, o progresso técnico impede a sua realização efectiva; 
em Nietzsche a noção do não-racional, do não-mecânico choca a idolatrização da 
máquina característica do seu século (a máquina, o homem-máquina, a 
sociedade-máquina, o universo-máquina). Num outro plano, escritores como H.G. 
Wells, cujas obras, como vimos, desempenhavam um papel relevante na 
massificação de uma cultura tecnológica, abriam os seus textos a uma possível 
leitura crítica desse futuro povoado de máquinas. 
No período entre guerras e durante a II Guerra Mundial, operou-se uma 
mudança radical na visão sobre o sistema tecnológico, construindo-se um 
discurso profundamente pessimista apoiado, por um lado, na vertente militar 
das aplicações técnicas (Hiroxima tornava-se um paradigma de uma técnica 
belicista) e, por outro, na identificação do sistema tecnológiw como aparelho 
ideológico repressivo. 
A chamada de atenção para o perigo de um crescimento do potencial 
técnico em função das aspirações de domínio pela força militar, num clima 
marcado, primeiro pela II Guerra Mundial e, depois, pela guerra fria, apoia-se, 
fundamentalmente, na própria comunidade científica e de tecnólogos: Einstein 
escreve, em 1945, ao Presidente norte-americano Roosevelt, no sentido de 
alertar para as consequências da utilização da bomba atómica (duplo tecnológico 
das investigações nucleares); Openheimer, ao assistir a primeira experiência 
nuclear, cerca de um mês antes do lançamento da bomba, disse: "I am become 
death, the Shatterer of ~ o r l d s " ~ . O problema da ética torna-se um elemento 
central na produção dos discursos e das práticas das comunidades científica e 
tecnológica; o conceito de humanismo redimensiona-se a luz de um novo tempo 
em que a ciência e a tecnologia perderam a sua inocênciag. 
Por outro lado, a projecção do sistema técnico num aparelho ideológico 
opressor, regido apenas por leis de dominação e de eficácia, tem sido sustentada 
por sociólogos como Lewis Mumford e Marcuse, tendo integrado o nosso universo 
cultural sob a forma literária do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e do 
1984 de George Orwell. 
Vivemos hoje na consciência do confl icto intrínseco ao progresso: 
substituímos a crença num progresso triunfal ou num crescimento fatal, pela 
interrogação crítica do nosso espaço mental, pelo desejo, mesmo que 
assumidamente utópico, de reconstrução de um universo reconciliado com seu 
projecto cognitivo; pensar de novo o papel da ciência e da tecnologia, não 
como discursos redutores da especificidade humana, mas como meios para a 
consubstanciar na sua totalidade. 
Esta concepçao medieval do mundo humana é espelhada na concepçao dos cosmos: o universo medievel é 
fmito, fechado e profundamente hirarquizado, quer em termos da posipao fisica dos seus elementos , quer no 
seu peso valorativo. Neste sentido cf. A. Koyré, Do Mundo Fechado ao Universo Injinito, Lisboa, Gradiva, 
s.d. e Études dzistoire de la Pensée Scientgque, Paris, Gallirnard, 1985. 
Garcia Morente afirma: "O que o despertar da Renascença traz ao mundo europeu é, antes de tudo, uma 
sensaçao de sensaboria, um inquietude, um a B de variaçao e de expansao. (...) Os homens da Renascenpa, no 
alvor da modernidade, creêm que pode e deve estabelecer-se uma melhor ordem de coisas, tanto na ciência 
como na vida, na arte como na política e na religiao.", Garcia Morente, A Crença no Progresso, Lisboa, Seara 
Nova, 1936,p.12. 
Bacon, Novum Organum, 1620, in R.L.Ellis ,J. Spedding, D.D. Heath (eds), The Works ofFrancis Bacon, 
Londres, 1 8 57 -74, Vo1.7, I, PP.45 7-8 ("De augmentis"), citado por Paolo Rossi, Op. Cit. p.76. 
D'Alembert, Discours Preliminaire (introduçao a Enciclopédia), Montesquieu, L'Esprit des Lois, 
Voltaire, Essais sur les Moeurs et I'Esprit des Nations, Helvétius, De llEsprit, Condillac, Traité des 
Septimes e Barao d'Holbach, Système de la Nature (sem dúvida a obra mais radicalmente 
materialista dos filósofos iluministas), todas obras da segunda metade do século XVLII. Na oposiçao 
desta linha dominante sobre o progresso encontramos Rousseau e o mito do "bom selvagem" 
(Rousseau, Discours sur les Arts et les Sciences) e também, embora de uma forma muito mais 
moderada, Diderot com a sua crítica a identivicaçao do progresso com o luxo material (Diderot, 
Pensées Philsophiques). 
Saint-Simon, Oeuvres, citado por Sidney Pollard, The Idea of Progress, Londres, C.A. Watts, Co.Lda., 1968, 
p.105. 
A ideia do contínuo na evoluçao é bem clara nas palavras de: "( ...) conceber cada um destes estados sociais 
consecutivos como o resultado necessário do precedente e o motor indispensável do seguinte (...)", A. Comte, 
Cours de philosophie positive, in Patrick Gardiner, op. cit., p. 100. Por outro lado a noçao de inevitabilidade 
integra numerosos elementos da visao popularizada de Darwin e da evoluçao das espécies. Desta aproximaçao 
do mundo social e biológico (via Darwin) é exemplar a obra de Herbert Spencer (cf. H. Spencer, The 
Principles o f Sociology, 1876-97. 
" Eça de Queirós, A Cidade e as Serras, (1 90 I), Lisboa, Livros do Brasil, s.d., pp. 19-20. Toda esta obra de 
Eça de Queiroz é extremamente rica em referência sobre a v iao do início do século sobre as relaçoes entre a 
ciência, a técnica, a civilizaçao e o progresso, sintetizadas de forma brilhante na célebre equaçao 
Suma ciência 
x = Suma felicidade 
Suma potência 
(Eça de Queirós, Op.Cit., p. 17). 
8 A frase de Openheimer é uma citaçao do Bhagavad-Gita, um dos livro sagrado do hinduísmo. Sobre a 
posiçao de Einstein cf A.M. Nunes dos Santos (int. sel. e notas) Refexoes, encontros e dialogos com Albert 
Einstein e Homenagem a Albert Einstein - Testemunhos e controvérsia. 
Cf por exemplo, A.M. Nunes dos Santos, C. Auretta, J.L. Câmara Leme, A Responsabilidade do Cientista e 
outros Escritos, Lisboa, Publicaçoes D. Quixote, 1992. As questoes éticas da ciência e da tecnologia poe-se 
hoje com grande acuidade no campo da biologia e da genética; em termos da percepçao pública deste tipo de 
problemas, o cinema tem desempenhado um papel fulcral, a imagem do que acontecera no h a l do século XiX 
e princípio do nosso século com a literatura, através de obras como Blade Runner ou os dois filmes da série 
The Terminator. 
TECNOLOGIA E PROGRESSO 
1. A imutabilidade do mundo medieval e a noção de recapitulação; 
ausência do conceito de mudança. 
2. Renascimento: 
a introdução dos conceitos de renovação e de melhoria, 
ligados ao novo quadro conceptual assente num modelo 
causalista. 
valorização do saber prático e, por extensão, técnico 
preocupação em harmonizar os saberes teórico e prático, 
reconhecendo as suas especificidades 
3. O debate entre os Antigos e os Modernos (séculos XVI e XVII): a 
defesa da superioridade dos Modernos com base na evolução técnica. 
4. O Iluminismo e o domínio da razão (século XVIII): associação das noções 
de razão-felicidade-progresso. 
5. Kant e a capacidade intrínseca da humanidade para progredir; a rota 
para a perfeição inacessível. 
6. Saint-Simon e a "materialização" do conceito de progresso 
7. O século XIX e a fé no poder ilimitado da ciência e da técnica para 
alcançar a sociedade perfeita; a máquina omnipresente; a visão optimista 
do mundo técnico. 
8. O século XX: do pessimismo das duas guerras mundiais a atitude de 
aceitação crítica. 
Disciplina de História da Tecnologia 
Professoríi Doutora Maria Paula DiogoISACSA-SHFC 
APONTAMENTOSGUIA PARA A MATÉRIA 
1. Primeiros gestos técnicos 
A história da técnica começa com as comunidades de Homo Habilis (há 
cerca de 2 500 000 anos), em que, pela primeira vez, encontramos a acção 
propositada, intencional, do homem sobre um elemento existente na 
natureza (primeiro a pedra (silex), depois outros materiais como o osso,o 
chifre, a madeira), de forma a transformá-lo para um fim específico. Cria- 
se, pois, o artefacto. 
Com a revolução neolítica --, sedentarizaçãcr-, economia produtora 
agricultura e pastoreio 
Novas técnicas 
.1 da pedra lascada (Paleolítico e Mesolitico) a pedra polida 
objectos especializados de trabalho da terra 
técnicas do fogo: cerâmica, metal 
técnicas do quotidiano: tecelagem, mobiliário 
O final do neolítico assiste a grande revolução urbana na zona do crescente 
fértil, que se traduz no nascimento dos grandes impérios pré-clássicos, 
nomeadamente Egipto [e Mesopotâmia] 
b técnicas "leves": escrita; cálculo numérico I técnicas "pesadas": grandes construções: pirâmides; canais 
de irrigação e diques 
r* . tecnicas de construção: limos; plano inclinado; alavanca; formas 
geométricas estáveis (pirâmides, trapézios) 
resolução empírica e singular dos problemas 
=> a técnica não apenas em termos operativos, mas como elemento 
estruturante e fundamental do império 
Disciplina de História da Tecnologia 
Professora Doutora Mana Paula DiogoISACSA-SHFC 
As civilizações clássicas: Grécia e Roma 
(ex: Heron 
de Alexandria): 
relógio elemento 
I Iúdico I J 
I mecani mo automáticos t 
em termos de técnicas" pesadas": complexificação dos 
"estaleiros1': de construção x: Amhytas de Tarento) 
I s de elevação I parafus e roldana + gruas, guinchos I. 
sistem complexos de alavancas 
e a matemática ao serviço da técnica (ex: Arquimedes) 1 
e a importância técnicas "pesadas": as técnicas de construção 
I 
aperfeiçoamento de sistemas construtivos 
anteriores, com base no arco: abóbodas, cúpulas 
e arcadas 
aperfeiçoamento de técnicas e instrumentos 
de engenharia: estudos de orografia e de 
topografia; técnicas de terraplanagem e de 
embasamento; invenção das cofragens e 
cimbres; uso dos grampos de metal para 
fortalecer as juntas 
H novos materiais, mais econórnicos e fáceis de 
trabalhar: os opus, nomeadamente o opus 
caementicium (cal, areia, pequenos pedaços de 
calcário, pozolana, cascalho e restos de 
materiais cerâmicos), semelhante ao cimento 
novas ideias técnicas: normalização, 
construção por módulos pré-fabricados; conceito 
de "texto técnico" 
3 a técnica não apenas em termos operativos, mas como 
elemento estruturante e fundamental do império romano: 
estradas, pontes, aquedutos, urbanismo (ex: Vitruvius e o tratado 
De Architectura) 
Disciplina de História da Tecnologia 
Professora Doutora Maria Pada DiogoISACSA-SHFC 
3 A civilização romana permite analisar a confluência de duas 
atitudes quase antagónicas que predominam, uma no Egipto 
e, outra, na Grécia: do Egipto, Roma herdou o interesse pelas 
tecnologias pesadas e a sua necessidade como pilar estrutural 
do seu império; da Grécia, a civilização romana, bebeu a 
importância dos conhecimentos abstractos para a resolução 
das questões técnicas. 
3. Idade Média 
No período medieval dois grandes tipos de evolução técnica: 
um orientado fundamentalmente em torno de questões 
materiais, englobando o conjunto de modificações as quais é 
reconhecível uma utilidade no plano económico 
(dominantes entre os séculos V e XI); por outro lado, este tipo 
de inovações desenvolvem-se a partir da própria prática, 
muitas vezes da experiência quotidiana, não envolvendo uma 
componente de reflexão teóricalabstracta. 
\ um orientado fundamentalmente em torno de questões 
simbólicas (poder, religiosidade), englobando o conjunto de 
modificações sem utilidade económica directamente 
reconhecível (dominantes a partir do século XII) [cf. esquema de 
A Pacey, The Maze of Ingenuity, p.281; por outro lado, a resolução 
deste tipo de questões implica uma acção conjunta de 
conhecimentos científicos (nomeadamente de geometria, 
matemática e física) e especificamente técnicos 
(nomedamente os dos mestres-pedreiros) 
\ * Até ao sec. XII \ as modificações na agricultura (sec.X) \ substituição do arado pela charrua \ novo método de atrelagem \ afolheamento trienal \ a importância do moinho como elemento central de um sistema energético \ desenvolvimento de maquinaria ligada aos têxteis (teares, fiação) 
a importância da metalurgia, impelida pela procura de 
objectos de metal (cf. agricultura, meMnica, . . . ) a retoma 
da actividade mineira 
* Sec. XII-XV: modificação da estrutura económica e social 
Disciplina de História da Tecnologia 
Professora Doutora Maria Paula DiogoISACSA-SHFC 
Contexto: secs. XII-XIII : melhoria alimentar; melhoria dos transportes; 
retoma comercial; crescimento das cidades; primeiras universidades 
i. A construção das grandes catedrais 
Questões técnicas fundamentais: 
ao longo do sec. XI: substituição dos tectos em madeira 
por abóbadas em pedra, usando a pedra aparelhada sem 
argamassa; fortes pilares interiores, no alinhamento dos 
contrafortes exteriores que sustentavam as pressões 
sec. XII: a importância simbólica da verticalidade 
a introdução do arco em ogiva e a fragmentação da 
abóbada com base na cruzaria de ogivas: 
possibilidade de cobrir espaços mais amplos 
redistribuição das forças: pilares de sustentação 
mais leves, pela sua multiplicidade; um novo tipo de 
contraforte (o botaréu) e os arcobotantes (que 
transferiam oas pressões das abóbadas mais altas 
para os botaréus e destes para os alicerces do 
chão. 
A resolução deste tipo de problemas técnicos passa pelo 
domínio simuitâneo de questões do saber teórico (áreas da 
física, da geometria e da matemática) e do saber prático 
(experiência empírica dos mestres-pedreiros), aliando, pois, a 
ciência a técnica. 
=. É na resolução dos problemas postos pela arquitectura gótica 
que se centra uma das principais áreas de vanguarda do 
desenvolvimento técnico, quer no plano operativo (resolução 
efectiva dos problemas), quer no plano cognitivo 
(desenvolvimento de um corpus de conhecimento 
técnico) o que é bem evidente na importância que o projecto 
e os tratados assumem neste período (ex: Villard de 
Honnecourt) 
É precisamente neste contexto que o trabalho manual se 
valoriza, abrindo as portas para um novo estatuto social para 
os detentores e manipuladores do(s) sab(es) técnico(s); 
estamos na "pré-história" do engenheiro moderno. 
2. O desenvolvimento do interesse pela mecânica - os relógios de 
pesos, a regularidade do tempo e o seu estatuto público; o 
movimento perpétuo e o magnetismo (ex: Pierre de Maricourt) 
Disciplina de História da Tecnologia 
Professora Doutora Maria Paula DiogoISACSA-SHFC 
4. O Renascimento 
O Renascimento é um período riquíssimo, quer no plano da tecnologia, quer 
no da ciência, tornando-se mais acentuado, por um lado, a importância da 
ciência na resolução de problemas técnicos e, por outro a importância 
da técnica como forma/método de compreender e dominar o mundo. 
Sendo impossível percorrer, no âmbito desta disciplina, toda a 
multiplicidade renascentista, optamos pela análise de quatro aspectos 
paradigmáticos, cristalizados em três figuras: 
1. Leonardo da Vinci: a importancia da observação e da 
experimentação 
a minúcia da observação e do registo como elementos- 
base do projecto, da hipótese 
= a experimentação na prática da hipótese: os 
mecanismos: armasa de guerra e de voo 
um primeiro olhar sobre "tecnologias domésticasJJ 
2. Francis Bacon: o profeta da tecnologia 
formalização de um programa de implementação da 
ciência e da tecnologia na Europa: 
> critica o saber clássico 
> critica os quatro obstáculos ao conhecimento 
(psicológicos, educacionais e sociais, sistemas 
de pensamento fechados e questões de 
comunicação e circulação do saber) 
propõe uma nova metodologia: o causalismo 
= afirma a existência de invenções empíricas e invenções 
baseadas na ciência - a autonomia do pensar e do fazer 
técnicos 
concebe o conhecimento como forma de dominar a 
natureza - o conceitode "ciência útil" 
= as obras cruciais do programa baconiano: Novum 
Organum e New Aflantis 
Nota: Bacon participa na Querelle entre os Antigos eos Modernos, pelo lado 
destes [cf. apontamentos sobre o conceito de progresso e tecnologia] 
3. Galileu: a matemática e a física na tecnologia 
dois pressupostos fundamentais: a matemática é o 
alfabeto do universo; as leis da natureza são simples e 
matemáticas (tradição grega via Arquimedes); assim, a 
Disciplina dc História da Tecnologia 
Professora Doutora Maria Paula DiogoISACSA-SHFC 
resolução das questões técnicas passam pela aplicação 
das leis científicas vindas da matemática e da física 
na área tecnológica, temos quatro áreas de contribuição 
de Galileu 
I. estudo do movimento e conceito de atrito + balística; 
técnicas militares 
2. a concepção e construção de instrumentos científicos: 
telescópio, pêndulos associados aos relógios, termómetros 
3. novo conceito de máquina e de critérios de eficácia 
P máquina não como um objecto que engana 
pontualmente a natureza, mas sim que aplica as 
forças da natureza de forma mais eficaz e 
rentável 
P eficácia = total do trabalho realizado 
tempo de realização 
O funcionamento de uma máquina (= agente + mecanismo) equivale 
a um sistema de alavancas, em que, numa situação de perfeição, não 
existe diferença entre a força de equilíbrio e a força necessária ao 
movimento ( A x AC = B x BC, sendo A e B corpos; C o fulcro da 
alavanca e AC e BC o espaço entre de A e B ao fulcro). Sendo, pois, 
os produtos iguais , se soubermos a força de uma agente, podemos 
calcular o peso que pode suportar, ou seja o trabalho aplicável a uma 
máuina perfeita. A eficiência real de uma máquina baseia-se, pois, na 
relação trabalholforça, que permite contabilizar os efeitos da fricção. 
P A aferição da de uma máquina passa a fazer-se, 
pois, não por critérios qualitativos, mas sim 
quantitativos. A máquina não é um objecto 
singular; partilha, sim de leis de funcionamento 
gerais, traduzíveis na eficiência da aplicação de 
uma força 
[Nota: a uniformização da medida de eficiência só 
acontece em 1784, com James Watt e a unidade cv] 
4. estudos nos campos da resistência de materiais 
(questões das secções e das dimensõos) e da dinâmica. 
4. o engenheiro-tipo do Renascimento 
novo estatuto intelectual: domínio da geometria e da 
álgebra + prática de trabalho de campo 
tradição e inovação nas escolas germânica e italiana: 
mecanismos militares e civis; armas; fortificação 
Disciplina de Histona da Tecnologia 
Professora Doutora Mana Paida DiogoISACSA-SHFC 
a importância da exploração de minas e da evolução da 
metalurgia, no plano teórico (a terminologia) e prático (ex: 
os Tratados (os "De Res Metallica" de Georg Bauer 
Agricola) . 
Dois outros aspectos são fundamentais para compreender a forte e rápida 
implementação e difusão da técnica a partir do Renascimento: 
a perspectiva como forma de representação rigorosa: o desenhar de 
uma máquina de tal forma que ela poderia ser replicada num outro 
lugar 
a imprensa, como sistema técnico crucial na circulação dos novos 
saberes (Jean Gutenberg, tipografia, cerca de 1450) 
Disciplina de História da Tecnologia 
Professora Doutora Maria Paula DiogoISACSA-SHFC 
5. O período das Luzes 
A segunda metade do século XVII e primeira metade do século XVIII 
são cerca de cem anos de maturação técnica; contudo a importância do 
elemento técnico acentua-se no plano ideológico, uma vez que o meio 
técnico toma possível o conceito de uma ciência que domina a natureza (cf. 
Descartes). 
O século XVIII, globalmente conhecido como o período do Iluminismo (ou o 
Século das Luzes), integra no plano filosófico e no mundo cultural a importância 
da ciência e da tecnologia. Na linha de Francis Bacon (cf. apontamentos 
anteriores), os filósofos iluministas (como, por exemplo, em França, D' Alembert, 
Voltaire, Diderot, La Mettrie, na Alemanha, Kant e, na Grã-Bretanha, Hume) 
defendem a razão como elemento fundamental da felicidade humana. O conceito 
de razão identifica-se, evidentemente com as práticas científica e tecnológica. 
Assim, a felicidade humana passa a identificar-se, ela própria, com a ciência e a 
tecnologia (cf. apontamentos Tecnologia e Progresso). É, aliás, para levar a 
prática esta triologia (felicidade/ciência/tecnologia) que surge a Encyclopédie (28 
volumes profusamente ilustrados, publicados entre 1751 e 1772, sob a direcção 
de Diderot e de D' Alembert, e que constitui o paradigma de todas as 
enciclopédias posteriores) cujo objectivo era, precisamente, reunir em artigos 
sucintos e claros, escritos por especialistas, o conhecimento das várias áreas do 
saber, permitindo a todos (ou seja, aos não-especialistas) o seu acesso. 
Aspectos técnicos fundamentais 
1. técnicas militares (balística; montagem de peças de artilharia) 
2. os mecanismos: autómatos, jogos de água e outros 
mecanismos; mecanismos aplicados aos têxteis 
3. interesses científicos, aplicações técnicas: ar e electricidade 
4. técnicas do quotidiano: a vulgarização do vidro 
Disciplina de História da Tecnologia 
Professora Doutora Maria Paula DiogoISACSA-SHFC 
1. Técnicas militares 
sedimentação dos conhecimentos desenvolvidos durante o 
Renascimento, sobre velocidade, aceleração e resistência (cf. Galileu), 
de forma a torná-los procedimentos de rotina 
a balística torna-se uma área privilegiada de intervenção da engenharia: 
publicação de vários tratados, dos quais o mais importante é o de 
Niccolo Tartaglia 
importância da normalização: ex: os calibres das armas e as diversas 
peças constitutivas das armas 
2. Mecanismos: 
P mecanismos aplicados aos têxteis, que levam a um aumento 
significativo na produção têxtil 
introdução da lançadeira mecânica, por John Kay, em 1733 
outros mecanismos sucedem-se a lançadeira mecânica, permitindo 
uma rentabilização dos novos mecanismos (sistema técnico; cf. Leis 
de Kranzberg): ex: a Jenny, de Hargraves (1764), a Waterframe, de 
Arkwright (I 769) 
P autó atos, jogos agua e outros mel T função Iúdica, "maravilhamento" 
anismos 
sentido renasceitista 
produção de efe 
no título as palav-as 
tradição que se 
nos mecanismos 
importância: 
mecanismos 
ex: os autómatos 
perante a "magia natural" (no 
r identifica este termo com 
obras sobre mecanismos têm 
do termo, qi 
tos, pelo que muitas 
Magiae Naturallis 
'ilia nos autómatos d 
de relógios da Idade 
desenvolvimento de 
de Vaucanson 
I Grécia clássica (cf. Heron) e 
Média 
proficiência na área dos 
Disciplina de História da Tecnologia 
Professora Doutora Mana Paida DiogoISACSA-SHFC 
1 
(jogos de água) 
a importância dos jardins, que si 
artificial e perfeitamente controlad 
natureza 
a água é um elemento-chave dos 
decorativo, em cascatas e fontes e, 
água que, de surpresa, atingiam 
associa-se a música aos repuxos, 
importância: a manutenção dos rr 
funcionamento dos jogos de águ;~, 
deste período rotinar e desenvolver 
área 
ex: a máquina de Marly e o palácio 
(outros mecanismos) 
tradição que se filia nos mecanismos de relógios da 
Idade Média, a qual se junta, nos séculos XVII e XVIII, 
o interesse crescente pela medição e a precisão 
importância: sedimentação de conhecimentos na área 
dos mecanismos e desenvolvimento de novas 
aplicações na área dos instrumentos 
exoS: a balança de Gilles Roberval (1669); o relógio de 
pêndulo de Huygens (cerca de 1650) e o de George 
Graham (1721), este apenas com uma variação 
máxima de um segundoldia; as máquinas de calcular 
mecânicas: a máquina de Schickard (1623), para 
adição e subtracção; a máquina de Pascal (1645), 
também para adição e subtracção, com uma versão 
comercial (a Pascaline); a máquina de Leibniz (finais 
de século XVII), para as quatro operações aritméticas. 
bolizam, na sua organizaçãoas 
, o triunfo do homem sobre a 
ardins, aparecendo, no plano 
no plano Iúdico, em jactos de 
pessoas; em alguns casos, 
a!ravés de caixas de ar. 
ecanismos que asseguram o 
permitirá aos engenheiros 
os seus conhecimentos nesta 
Je Versailhes (França) 
.c 
Disciplina de História da Tecnologia 
Professora Doutora Maria Paula DiogoISACSA-SHFC 
3. interesses científicos, aplicações técnicas 
P electricidade 
demonstrações públicas de grande sucesso no âmbito do 
galvanismo (ex. em França, com o Abade Nollet); importância: 
aproximação do público a ciência e aos procedimentos técnicos 
experiências de Benjamin Franklin, quer em termos teóricos (a 
construção de uma teoria geral da acção eléctrica, a introdução de 
conceitos de +I-, positivolnegativo, carga, bateria) quer práticos 
(estudo das descargas eléctricas e invenção do pára-raios); 
importância: torna visível, em termos do público, a importância da 
ciência e da técnica como forma de melhorar as condições de vida 
> ar e vácuo 
experiências sobre o ar (ex: os hemisférios de Magdeburgo); a 
questão da pressão atmosférica (Huygens, Papin e Leibniz) 
1 
as primeiras máquinas a vapor - máquinas atmosféricas, que 
utilizam não a pressão do calor no ciclo motor, mas sim a acção I 
da pressão do ar sobre o pistão na fase de condensação 
exos: 
1 
Savew: a máquina "amiga do mineiro" (para bombear 
água das minas) (1698), que será aperfeiçoada pelo 
português Bento de Moura Portugal 
Papin: a máquina a vapor experimental (1707); vapor 
produzido no cilindro por uma caldeira móvel 
Newcomen: a máquina a vapor como objecto técnico 
(1712 ); vapor injectado no cilindro por uma caldeira 
exterior 
Watt: a primeira máquina a vapor realmente utilizável 
no plano económico (1 770); condensador separado 
4. técnicas do quotidiano: a vulgarização do vidro 
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Professora Doutora Mana Paula DiogoISACSA-SHFC 
6. Revolução Industrial - a Civilização Industrial 
A revolução industrial (a partir da segunda metade do século XVIII) alicerça 
definitivamente o domínio da técnica como pilar da economia europeia e, 
por extensão mundial. Os objectos técnicos multiplicam-se e são a base 
de toda a estratégia de desenvolvimento. Entramos na era industrial. 
Aspectos técnicos fundamentais 
1. energia 
2. maquinaria 
3. sectores de ponta 
4. revolução nos transportes 
1. energia (ordem cronológica) 
novas fontes energéticas -+ novos tipos de energia + novas utilizações 
(ver esquema de transmissores de energia) 
da madeira a hulha: a necessidade de alimentar os altos fornos, ou 
seja a questão das temperaturas possíveis de alcançar e manter 
os combustiveis líquidos: gasolina e óleos pesados 
a electricidade: energia "impalpável"; inicia um novo tipo de 
relacionamento entre energia e unidade consumidora, ao introduzir a 
possibilidade de transmitir a energia a grandes distâncias (conceito 
de rede) e ao permitir grandes modelações no fluxo energético; a 
construção de centrais eléctricas intensifica-se a partir de 1880 
2. maquinaria (ordem cronológica) 
vapor e energia hidraulica 
P modelo inglês: a opção pela máquina a vapor 
a importância dos recursos minerais 
as primeiras máquinas a vapor atmosféricas (Savery e 
Newcomen) 
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motores eléctricos 
o dínamo de Gramme e a criação de um gerador eficaz de 
corrente eléctrica contínua (1 871 ) 
o transformador (1880) e a adopção da corrente eléctrica 
alternada 
primeiros usos massivos ligados a iluminação 
em termos industriais, a electricidade modifica a organização da 
cadeia produtiva, passando a associar a cada máquina um motor; 
implica o conceito de distribuição em rede 
3. sectores de ponta (ordem cronoiógica) 
a indústria têxtil 
tradição de desenvolvimento ao nível dos teares e das 
manufacturas têxteis 
no caso inglês, situação muito favorável devido a abundância 
de matéria-pima e de mão de obra (resultado da revolução 
agrícola inglesa que precedeu o arranque industrial) 
emprega baixa tecnologia, o que, por um lado, não implica 
grandes investimentos de capitais e, por outro, permite o uso 
de mão-de-obra não especializada 
aumento do ritmo de produção devido a introdução de novos 
dispositivos técnicos (a lançadeira mecânica de John Kay, a 
spinning-jenny de James Hargreaves (1 765) e a a water-frame 
de Richard Arkwright (1 767) 
da metalurgia à siderurgia (do ferro ao aço) 
a importância dos altos-fornos 
problema da resistência dos materiais: do protótipo a 
realidade; a transposição da escala: contribuições de 
Buonaiuto Corini (diferenças de peso dos materiais) e de 
Galileu (resistência a quebra) 
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a construção de máquinas mais resistentes, logo passíveis de 
suportarem maiores débitos energéticos 
o fabrico do aço: as experiências de Krupp (aço muito caro); o 
conversor de Bessemer (produzir mais e a menor preço); os 
afinamentos de Thomas e de Gilchrist 
a importância do ferro e do aço como elementos 
arquitectónicos e de engenharia: a arquitectura do ferro e os 
promeiros arranha-céus 
novas indústrias com forte intervenção científica 
ex: a química industrial 
4. revolução dos transportes de pessoas, bens e sinais 
linhas férreas, estradas, canais, pontes, 
comboio, automóvel, ... 
telégrafo, telefone, . .. 
1 7. A CivilizaçBo Industrial: o século XIX I 
século XIX, tem uma fé que poderíamos designar de quase acrítica, 
na capacidade da técnica resolver todos os problemas da 
humanidade e de intervir decisivamente no aumento dos níveis de 
bem estar da população em geral. De facto, o século XIX integra o 
meio técnico no plano do senso comum. 
> os objectos técnicos transformam o quotidiano 
(electrodomésticos) e modificam a percepção do 
espaço e do tempo 
P os espaços de vivência modificam-se: as cidades 
crescem horizontal e verticalmente (ex: centros1 
subúrbios; arranha-céus); os hábitos de consumo 
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alteram-se (ex: os "grands magasins"); a gestão do 
tempo modifica-se 
P as grandes exposiçaes universais permitem, a par de 
objectos como o comboio, o telégrafo, o elevador, 
visualizar o poder da técnica 
podemos designar o século XIX como a idade da ciência e da 
técnica 
> os centros de investigação diversificam-se (ex: EUA, 
Alemanha) 
> exploram-se novos domínios tecnológicos 
P o objectivo da ciência e da técnica é intervir em toda a 
sociedade e não apenas no sector produtivo 
P a percepção do mundo exterior altera-se em função de 
um olhar técnico (ex: a fotografia, o cinema) 
P os conceitos de medição e de quantificação tornam-se 
axiais no plano dos valores 
a figura do engenheiro torna-se o centro da civilização industrial: a 
tradição prática inglesa e o formalismo educativo francês - a 
"workshop cultureJJ versus as "Grandes €coles"; a profissionalização 
do engenheiro não-militar e as associações profissionais. 
8. O século XX: produção em massa e globalização 
Algumas linhas de reflexão 
1. Características das tecnologias do século XX: 
a) a institucionalização do processo inventivo: a figura do inventor 
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Professora Doutora Maria Patda DiogoISACSA-SHFC 
individual é substituída claramente pelas equipas de investigação (processo 
iniciado no século XIX); 
b) a relação tecnologia-investimento-inovação como eixo crucial da 
resolução dos chamados "problemas cruciais"; forte relação 
indústria/universidades (tecnologias de forte I&D, ou seja, research 
intensive") 
c) o carácter contagiante, tentacular, "horizontal" das novas tecnologias: 
do nichotécnico para o tecido tecnológico e para a sociedade em geral; 
d) uma nova relação entre produção de tecnologia e consumo de 
tecnologia: o carácter mediador do botão (não é necessário compreender 
os fundamentos científicos e tecnológiws de um aparelho para o utilizar) 
e) exemplos paradigmáticos de tecnologias do século XX: 
* o motor de combustão interna: os casos do automóvel e do avião; 
* a indústria química, nomeadamente os novos materiais; 
* electricidade e electrónica: o carácter utilitário da electricidade; a 
revolução electrónica: os semicondutores e o computador. 
2. energias: a importância da electricidade; mais recentemente a energia 
nuclear e as energias alternativas 
3. produção em massa: 
primado do utilitarismo: a tecnologia como a grande fonte do 
"bem social" (qualidade de vida e bem estar) 
a democratização do objecto (questões relacionadas: 
seriação, estandartização, linhas de montagem); o exemplo do 
modelo T da Ford 
Discipliiu de História da Tecnoiogia 
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opções para o binómio qualidadelquantidade: o design 
industrial: criação de uma "estética da era da máquina" 
a tecnologia doméstica: nova gestão do tempo privado 
4. o modelo da ciência e da tecnologia planificadas; relações 
ciêncidtecnologidsociedade 
grupo de Bemal: o retomar das teses de Francis Bacon no 
século XX: a ciência e a técnica como motores de mudança na 
sociedade e, se bem planeadas, como resolução deos 
problemas da sociedade contemporânea 
sucesso dos "projectos de investigação orientados": 
competitividade, colaboração e estímulo em ambientes 
"fechados"; os exemplos de Los Alamos e de Silicon Valley 
Big Science e Big Technology: políticas científicas e 
tecnológicas, que exigem grandes investimentos públicos, 
levando a necessidade de uma justificação política de tipo 
nacionalista: os exemplos dos projectos ligados a defesa e a 
conquista do espaço. O perigo de uma ciência e tecnologia 
autistas. 
A produção e o manuseamento do "conhecimento codificadoJ' 
e o controle social da tecnologia: risco e 
incertezdconfiança e pericialidade 
Globalização: a interdependência da economia mundial na 
teoria do sistema-mundo; as tecnologias de comunicação e a 
importância da ordem mundial da informação. 
Expansão industrial e intervenção tecnológica na natureza: as 
ameaças ao meio-ambiente global. Algumas opções 
alternativas: para uma nova economia - o Small is Beautiful 
de Fritz Schumacher; para uma nova vivência urbana - 
arquitectura e engenharia civil no projecto de Buckminster 
Fuller e no Foster Studio; para uma nova relação 
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tecnologialambiente - o Whole Earth Catalog e os grupos 
políticos "verdes". 
5. as novas vanguardas técnicas 
os materiais sintéticos e as novas combinações: o exemplo dos 
plásticos 
a transmissão de informação - a electrotecnia e a 
informática: 
tubos de vácuo 
transístor (1 948), inventado por Bardeen, Brattain e 
Shockley, investigadores dos Laboratórios Bell; 
baseado nas características dos semicondutores, que 
permitem realizar as tarefas dos tubos de vácuo 
(reenvio, amplificação e modulação de sinais eléctricos) 
com dimensões muito mais pequenas, fiabilidade 
superior e custos consideravelmente menores 
circuitos integrados (1958), inventado por Kilby, 
investigador da Texas Instruments; utilização do silício 
miniaturização: o trabalho dos investigadores dos 
Laboratórios Bell e investigadores de Silicon Valley 
do ENIAC ao computador pessoal: do público ao 
privado 
a World Wide Web 
biotecnologia 
6. CiQncia, Tecnologia e Responsabilidade Social 
AS "LEIS DE KRANZBERG" 
laLei: A tecnologia não é boa, nem má e também não é neutra 
A tecnologia interage, necessariamente, com o complexo civilizacional em 
que se move. Contudo, os resultados desta interacção diferem em função 
dos contextos económicos, sociais, políticos, culturais, demográficos e 
temporais específicos 
2aLei: A invenção é a mãe da necessidade 
Todas as invenções, para se tomarem realmente eficazes e eficientes, 
requerem o desenvolvimento de tecnologias auxiliares. 
3aLei: A tecnologia desenvolve-se em "pacotes" 
Os mecanismos são sistemas, ou seja são estruturas coerentes compostas 
por componentes interactivos. 
4aLei: As políticas tecnológicas são decididas, prioritariamente, com 
base em critérios não-técnicos 
Apesar do peso da consultadoria técnica a cargo de peritos, as decisões 
sobre o desenvolvimento elou uso de uma determinada tecnologia, faz-se, 
fundamentalmente, em função de critérios que são exteriores a própria 
tecnologia 
SaLei: Toda a História é importante, mas a História da Tecnologia é a 
área mais relevante 
As características da sociedade contemporânea, marcada pelos processos 
de globalização, colocam a tecnologia como seu pilar fundamental. Conhecer 
os seus mecanismos e funções, torna-se, pois, crucial. 
GaLei: A Tecnologia é uma actividade humana; a História da Tecnologia 
também 
A tecnologia é um facto social, pelo que tem de ser compreendida sempre no 
contexto de um "caldo" civilizacional mais vasto. Assim, apesar de ser 
possível falar-se de um "determinismo tecnológico", as escolhas são, em 
última instância. humanas.

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