Buscar

padronização de western blotting para diagnostico do mormo em equídeos

Prévia do material em texto

XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. 
 
PADRONIZAÇÃO DE WESTERN BLOTTING PARA DIAGNÓSTICO 
DO MORMO (Burkholderia mallei) EM EQUÍDEOS 
 
Marcus Vinícius Dias Falcão
1
, Vania Lucia de Assis Santana
2
, Cristiane de Melo Vasconcelos
3
 Cecilia Maria de Souza 
Leão e Silva
4 
Marcília Maria Alves de Souza
5
 Luiz Evandro da Silva
6
 Mariana Lumack do Monte Barretto
7
 
 
 
Introdução 
O mormo constitui-se em uma doença altamente contagiosa dos solípedes causada pela Burkholderia mallei, uma 
bactéria Gram-negativa, não móvel e cocobacilo aeróbio (Loeffler, 1886; Yabuuchi et al., 1992), composta de uma 
cápsula de polissacarídeo, sendo esta estrutura responsável pela sua virulência (Popov et al., 1995, 2000; Fritz et al., 
1999, 2000; Deshazer et al., 2001). A B. mallei primariamente infecta cavalos, burros e mulas, entretanto humanos são 
considerados hospedeiros acidentais (Waag & Deshazer, 2004). 
 Animais infectados assintomáticos são a principal via de transmissão do mormo, sendo a bactéria carreada por meio 
das secreções contaminadas oriundas das lesões pulmonares, constituindo-se deste modo, as vias aéreas a principal via 
de eliminação da B. mallei (Radostits et al., 2002). A via oral é a principal via de infecção, podendo também ocorrer à 
contaminação por via respiratória, cutânea ou genital (Radostits, 2002). Ocasionalmente, pode infectar felídeos através 
da ingestão de carne de cavalo contaminada (Galati, 1973; Hart, 1916). 
 A B. mallei está relacionada na lista de doenças da Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE) como doença de 
importância de saúde pública, e devido ao seu alto potencial de infecção é referenciada como agente de bioterrorismo 
(Derbyshire 2002; Ulrich et al., 2006; Witlock et al, 2007; Losada et al., 2010). O diagnóstico precoce de mormo 
constitui um dos mais importantes e difíceis tarefas que enfrentam médicos e médicos veterinários no trabalho sanitário 
(Moller & Eichhorn, 1911) e ainda depende de provas sorológicas. De acordo com a OIE (2013) o diagnóstico 
compreende o teste sorológico, alérgico e o isolamento bacteriano. Para o teste da maleína, observa-se uma resposta 
celular evidenciada por reação inflamatória intradermo-palpebral. Já o teste de fixação do complemento (TFC) o qual 
apresenta alta especificidade, baseia-se na detecção de anticorpos específicos contra a B. mallei que podem ser 
detectados uma semana após a infecção. Western Blotting (WB), também conhecido como imunoblotting (IB), é uma 
técnica bem estabelecida e amplamente utilizada para a detecção e análise das proteínas. O método é baseado na 
construção de um complexo anticorpo-proteína através da ligação de anticorpos específicos em proteínas imobilizadas 
sobre uma membrana e a detecção de anticorpo ligado a partir de vários métodos de detecção (GE Handbook, 2011). A 
técnica de IB foi usada como padrão ouro por Elschner, et al. 2011. O teste detecta animais com clínica inaparente e 
aqueles infectados na fase crônica (Schlater, 1992). Os benefícios do WB em soros anticomplementares já foi destacado 
por Katz, et al., 1999 & Elschner, et al. 2011. No Brasil, aplica-se o TFC para trânsito animal e, em alguns casos, a 
aplicação da maleína (BRASIL, 2004). 
O presente trabalho objetivou padronizar a técnica de Western Blotting para o diagnóstico de mormo em equídeos. 
 
Material e métodos 
 Foram processadas 45 amostras de asininos e 19 amostras de muares, totalizando 64, utilizando-se a técnica de 
Western Blotting segundo Elschner et al. (2011) no Laboratório Nacional Agropecuário de Pernambuco (LANAGRO-
PE). A técnica preconiza a preparação do antígeno lipopolissacarídeo (LPS) parcialmente purificado a partir dos três 
cepas virulenta de B. mallei (Bogor, Zagreb e Mukteswa) (Elschner, et al., 2011). O antígeno é transferido para uma 
membrana de 0,45µM de nitrocelulose (Invitrogen®) usando o Novex Blot Module (Invitrogen®). A membrana foi 
acondicionada em Blocking solution (Candor Bioscience®), durante noite, lavada e cortada em tiras de 3 mm e 
armazenado a -20 ° C. As tiras foram colocadas para reagir com soro testado na diluição de 1:50 com solução Low 
Cross (LC) (Invitrogen®) por 1,5h em seguida realizou-se a lavagem com solução Washing buffer (Candor 
Bioscience®), três vezes de 20 minutos. Prosseguindo, as tiras foram incubadas durante 1,5 horas em conjugado IgG 
com fosfatase alcalina antihorse (IgG AP antihorse) (Sigma® ) na diluição de 1:5000 com LC . Realizou-se outra 
lavagem com a mesma solução anteriormente citada. Na fase indicadora da reação, utilizou-se o substrato NBT-BCIP 
 
1 Primeiro Autor é discente da Universidade Federal do Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 
52171-900. E-mail: mdfalcao@gmail.com. 
2 Segunda Autora é Fiscal Federal Agropecuária do Laboratório Nacional Agropecuário, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Rua 
Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900. 
3 Terceira Autora é discente da Universidade Federal do Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 
52171-900. 
4 Quarta Autora é discente da Universidade Federal do Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 
52171-900. 
5 Quinta Autora é Fiscal Estadual Agropecuária do Laboratório Nacional Agropecuário, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Rua 
Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900. 
6 Sexto Autor e Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois 
Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900. 
7 Sétima Autora é discente da Universidade Federal do Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 
52171-900. 
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. 
 
(Invitrogen®), durante 10 minutos ou até surgirem as bandas de lipopolissacarídeos (LPS). A reação foi parada com 
água ultrapura. Os resultados positivos são bastantes confiáveis devido à detecção dos lipopolissacarídeos por peso 
molecular de 37 kDa, enquanto que o negativo não apresenta marcação no strip e o resultado inconclusivo apresenta-se 
entre o negativo e o positivo, porém não marcado na fita (figura 1). 
 
Resultados e Discussão 
Dentre as amostras de asininos processadas, 15 apresentaram-se positivas e 30 negativas. Dentre as amostras dos 
muares, 4 foram positivas e 15 negativas. Todos os testes foram acompanhados de soros controles cujos resultados eram 
anteriormente conhecidos, para certificação do resultado apresentado no teste. Comparado ao TFC, o Western Blotting 
apresenta-se apto a suplementá-lo, por evitar os falsos positivos existentes no primeiro (Elschner et al. 2011). 
Entretanto, o teste de WB para diagnóstico da B. mallei apresenta reação cruzada, devido aos epítopos produzidos pelos 
anticorpos durante a infecção com os epítopos dos anticorpos produzidos por infecção por B. Pseudomallei, levando ao 
aparecimento de animais falsos positivos (Elschner et al. 2011). 
Com a realização do teste segundo Elschner et al. (2011), foi comprovada a eficiência do WB como teste confiável 
em muares e asininos, por se tratar de uma detecção por peso molecular dos lipopolissacarídeos. Mesmo com a 
utilização de anticorpo anti IgG específico para equinos, o teste mostrou-se eficiente quando utilizado para muares e 
asininos, portanto, não é relevante o anticorpo conjugado para a realização da prova, porque os muares e asininos 
pertencem ao mesmo gênero, apenas com diferença na espécie. Desta forma, o uso do WB na detecção do mormo em 
muares e asininostorna-se um aliado no diagnóstico desta doença nas áreas endêmicas, mostrando-se como teste 
complementar quando comparado ao teste oficial preconizado pela OIE (2013), o qual apresenta variação quanto à 
técnica e o antígeno utilizados (Khan, 2011). 
 
Agradecimentos 
 Agradeço ao CNPq pela concessão da bolsa e aos colaboradores. 
 
Referências 
Brasil. Instrução Normativa nº 24, de 05 de abril de 2004. Aprova as Normas para o Controle e a Erradicação do 
Mormo. Diário Oficial da União de 12/04/2004, Seção1, Página 7. 
 
Cravitz, L., Miller, W.R. Immunologic studies with Malleomyces mallei and Malleomyces pseudomallei I: Serological 
relationships between M. mallei and M. pseudomallei. J Infect Dis 1950, 86:46-51. 
 
Deshazer, D.; Waag, D.M.; Fritz, D.L.; Woods, D.E. Identification of a Burkholderia mallei polysaccharide gene cluster 
by subtractive hybridization and demonstration that the encoded capsule is an essential virulence determinant. Microb 
Pathog, 2001. 30: 253–269. 
 
Elschner, M. C. et al. Use of Western Blot Technique for the Serodiagnosis of Glanders. BMC Veterinary Research, 
2011. 7:4 
 
Fritz, D.L.; Vogel, P.; Brown, D.R.; Deshazer, D.; Waag, D.M. Mouse model of sublethal and lethal intraperitoneal 
glanders (Burkholderia mallei). Vet Pathol, 2000. 37: 626–636. 
 
Galati, P; Pucciniv; Contentof: An outbreak of glanders in lions. Histopathological findings. Acta Med Vet 19:261-277, 
1973. 
 
GE Handbooks - Western Blotting - Principles and methods, 2011. 
 
Hart, A.: Glanders in wild animals kept in zoological gardens. J Am Vet Med Assoc49:659-663,1916. 
 
Khan, I.; Wieler, L.H.; Melzer, M.; Gwida, M.; Santana, V.L.A.; de Souza, M.M.A; Saqib, M.; Elschner, M.C.; 
Neubauer, H. Comparative evaluation of three commercially avaible complement fixation test antigens for the diagnosis 
of glanders. Veterinary Record. 2011. 
 
Katz, J. B., Chieves, L. P., Hennager, S. G., Nicholoson, J. M. Fisher, T. A., Byers, P. E. Serodiagnosis of equine 
piroplasmosis, dourine and glanders using na arrayed immunoblotting mothod. Journal of Veterinary Diagnosis 
Investigation, 11, 292 – 627, 1999. 
 
Loeffler, F. Die Ätiologie der Rotzkrankheit. Arb Kaiserl Gesundh Amt Berlin 1: 141-198, 1886. 
 
Mohller, J.R., Eichhorn, A. The diagnostic of glanders. Washington, 1911. 
 
Neubauer, H. Sprague, L. D., Zachria R. Serodiagnosis of Burkholderia mallei infections in horses: state-of-theart and 
perspectives. J Vet Med B 52:201–205. 2005. 
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. 
 
 
Manninger, R., Rotzkrankheit, In Spezielle Pathologie und Therapie der Haustiere. Volume 1. 9 edition. Edited by: 
Marek J, Manninger R, Mocsy J. Jena: Gustav Fischer; 1945:591-627. 
 
OIE: Glanders. 2013, Capítulo 2.5.11: Disponível em: [http://www.oie.int]. 
 
Popov, S.F.; Kurilov, V.; Iakovlev A.T. Pseudomonas pseudomallei and Pseudomonas mallei – capsule-forming 
bacteria. Zh Mikrobiol Epidemiol Immunobiol 5: 32–36, 1995. 
 
Popov, S.F.; Tikhonov, N.G.; Piven, N.N.; Kurilov, V.; Dement’ev, I.P. The role of capsule formation in Burkholderia 
mallei for its persistence in vivo. Zh Mikrobiol Epidemiol Immunobiol. 3: 73–75, 2000. 
 
Radostits, O.M.; Gay, C.C.; Blood, D.C. Hinchchcliff, K.W. Cap 20 – Doenças Bacterianas – V. In. Radostits, O.M.; 
Gay, C.C.; Blood, D.C. Hinchchcliff, K.W. Clínica Veterinária. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. p.869-871. 
2002. 
 
Turnbull, A., Wernery, U.; Wernery, R., Anandh, J.P., Kinne, J. U, Survey of six infectious diseases of feral donkeys in 
United Arab Emirates. Eq Vet J 2002, 14:33-38. 
 
Waag, D.M.; Deshazer, D. Glanders: new insight into na old disease. Biological weapons defense: infectious diseases 
and counterbioterrorism. Totowa, NJ: Humana Press Inc, PP 209-237, 2004. 
 
Yabuuchi, E.; Kosako, Y.; Oyaizu, H.; Yano, I.; Hotta, H.; Hashimoto, Y.; Zaki, T.; Arakawa, M. Proposal of 
Burkholderia gen. Nov. and transfer of seven species of the genus Pseudomonas homology group II to the new genus, 
with the type species Burkholderia cepacia (Palleroni and Holmes 1981) comb. Nov. Microbiol Immunol 36: 1251-
1275, 1992. 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. 1, Resultado negativo; 2, Resultado inconclusivo; 3, Resultado positivo (Elschner et al., 2011).

Continue navegando