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Ética, Política e Sociedade

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ÉTICA, POLÍTICA E SOCIEDADE�
INTRODUÇÃO�
A moral, de modo geral e estrutural, faz parte do processo de socialização, responder às necessidades práticas de estabelecimento de normas específicas e deveres e tem como objetivos a convivência social e o processo de socialização (BARROCO, 2001).
Partindo dessa concepção, e divergindo de todas as outras que posicionam a moral como um mero conjunto de princípios abstratos, formais e sem relacionamento com a história, compreenderemos a moral como resultado do homem concreto, do ser historicamente construído e que, exercendo uma função social (a moral), pode ser colocada como mecanismo a serviço de interesses dos detentores do poder.
A moral interfere nos papéis sociais, donde a sua caracterização como um modo de ser, um ethos que expressa à identidade cultural de uma sociedade, de uma classe, de um extrato social, num determinado momento histórico. Por sua perspectiva consciente, ou seja, pelo fato de o individuo aceitar intimamente os valores, passa a fazer parte do seu caráter; por sua função integradora, estabelecendo vínculos sociais, está presente em todas as atividades humanas (BARROCO, 2001, p. 43).
As investigações, os debates e todas as reflexões no campo da moral suscitam os questionamentos sobre o campo da ética. Partimos dessa analise para definir a ética como o resultado da passagem da posição que meramente restringe-se às experiências vividas na esfera moral para uma postura reflexiva diante das mesmas, ou, se melhor considerarmos, uma relação entre a moral efetiva, vivida e as noções e elaborações teórico-filosóficas daí originárias.
Esse campo do conhecimento, assim como qualquer outro tipo de produção humana e social, origina e sustenta ideias e concepções que apontam determinados direcionamentos sociais, podendo condicionar suas opções pela estrutura econômica e seus reflexos na vida social, apontando mudanças no seu percurso histórico. Assim, a ética é considerada como teoria, como investigação ou uma maneira de explicar algum tipo de experiência social ou forma de comportamento humano (OLIVEIRA, 1998).
A ética realiza sua natureza de atividade propiciadora de uma relação consciente com o humano-genérico quando consegue apreender criticamente os fundamentos dos conflitos morais e desvelar o sentido e determinações de suas formas alienadas; quando apreende a relação entre singularidade e universalidade dos atos ético-morais; quando responde aos conflitos sociais resgatando os valores genéricos; quando amplia a capacidade de escolha consciente; sobretudo, quando indaga radicalmente sobre as possibilidades de realização da liberdade, seu principal fundamento (BARROCO, 2001: 56) 
Enfocaremos então, que a ética, apesar de ter a moral como objeto de estudo, não funda a moral, mas volta-se para esse fenômeno sócio-histórico, refletindo sobre ele, investigando os seus nexos condicionantes e determinantes, na busca pelo conhecimento. Nesse sentido, podendo até formular conceitos, interferir, exercer influência nesse campo, partindo dos seus questionamentos e das suas considerações teórico-filosóficas.
O CAMPO DA ÉTICA�
	Os problemas éticos caracterizam-se pela sua generalidade e isto os distingue dos problemas morais da vida cotidiana, que são os que se nos apresentam nas situações concretas. Mas, desde que a solução dada aos primeiros influi na moral vivida – sobretudo quando se trata não de uma ética absolutista, apriorística ou puramente especulativa —, a ética pode contribuir para fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral. Assim, por exemplo, se a ética revela uma relação entre o comportamento moral e as necessidades e os interesses sociais, ela nos ajudará a situar no devido lugar a moral efetiva, real, de um grupo social que tem a pretensão de que seus princípios e suas normas tenham validade universal, sem levar em conta necessidades e interesses concretos. Por outro lado, se a ética, quando trata de definir o que é o bom, recusa reduzi-lo àquilo que satisfaz meu interesse pessoal, exclusivo, evidentemente in​fluirá na prática moral ao rejeitar um comportamento egoísta como moralmente válido. Por causa de seu caráter prático, en​quanto disciplina teórica, tentou-se ver na ética uma disciplina normativa, cuja função fundamental seria a de indicar o com​portamento melhor do ponto de vista moral. Mas esta caracte​rização da ética como disciplina normativa pode levar — e, no passado frequentemente levou — a esquecer seu caráter propriamente teórico. 
	Certamente, muitas éticas tradicionais par​tem da ideia de que a missão do teórico, neste campo, é dizer aos homens o que devem fazer, ditando-lhes as normas ou prin​cípios pelos quais pautar seu comportamento. O ético transfor​ma-se assim numa espécie de legislador do comportamento moral dos indivíduos ou da comunidade. Mas a função fundamental da ética é a mesma de toda teoria: explicar, esclarecer ou inves​tigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos corres​pondentes. Por outro lado, a realidade moral varia historica​mente e, com ela, variam os seus princípios e as suas normas. A pretensão de formular princípios e normas universais, deixan​do de lado a experiência moral histórica, afastaria da teoria precisamente a realidade que deveria explicar. Também é certo que muitas doutrinas éticas do passado são não uma investiga​ção ou esclarecimento da moral como comportamento efetivo, humano, mas uma justificação ideológica de determinada moral, correspondente a determinadas necessidades sociais, e, para isto, elevam os seus princípios e as suas normas à categoria de princí​pios e normas universais, válidos para qualquer moral. Mas o campo da ética nem está à margem da moral efetiva, nem tam​pouco se limita a uma determinada forma temporal e relativa da mesma.
	A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerado porém na sua totalidade, diversidade e variedade. O que nela se afirme sobre a natureza ou fundamen​to das normas morais deve valer para a moral da sociedade grega, ou para a moral que vigora de fato numa comunidade humana moderna. É isso que assegura o seu caráter teórico e evita sua redução a uma disciplina normativa ou pragmática. O valor da ética como teoria está naquilo que explica, e não no fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situa​ções concretas.
	Como reação a estes excessos normativistas das éticas tra​dicionais, procurou-se nos últimos tempos limitar o domínio da ética aos problemas da linguagem e do raciocínio moral, re​nunciando-se a abordar questões como a definição do bom, a essência da moral, o fundamento da consciência moral, etc. Pois bem; embora as questões sobre a linguagem, natureza e signifi​cado dos juízos morais tenham uma grande importância — e, por isto, se justifique que sejam estudadas de maneira especial na meta-ética —, não podem ser as únicas questões tratadas na ética e também não podem ser abordadas independentemente dos problemas éticos fundamentais, levantados pelo estudo do comportamento moral, da moral efetiva em todas as suas mani​festações. Este comportamento se apresenta como uma forma de comportamento humano, como um fato, e cabe à ética expli​cá-lo, tomando a prática moral da humanidade em seu conjunto como objeto de sua reflexão. Neste sentido, como qualquer teo​ria, a ética é explicação daquilo que foi ou é, e não uma simples descrição. Não lhe cabe formular juízos de valor sobre a prática moral de outras sociedades, ou de outras épocas, em nome de uma moral absoluta e universal, mas deve, antes, explicar a razão de ser desta pluralidade e das mudanças de moral; isto é, deve esclarecer o fato de os homens terem recorrido a práticas morais diferentes e até opostas.
	A ética parte do fato da existência da história da moral, isto é, toma como ponto de partida a diversidade de morais no tempo, com seus respectivos valores, princípios e normas. Como teoria, nãose identifica com os princípios e normas de nenhuma moral em particular e tampouco pode adotar uma atitude indi​ferente ou eclética diante delas. Juntamente com a explicação de suas diferenças, deve investigar o princípio que permita com​preendê-las no seu movimento e no seu desenvolvimento.
	Como as demais ciências, a ética se defronta com fatos. Que estes sejam humanos implica, por sua vez, em que sejam fatos de valor. Mas isto não prejudica em nada as exigências de um estudo objetivo e racional. A ética estuda uma forma de comportamento humano que os homens julgam valioso e, além disto, obrigatório e inescapável. Mas nada disto altera minimamente a verdade de que a ética deve fornecer a compreen​são racional de um aspeto real, efetivo, do comportamento dos homens.
Definição da Ética
	Assim como os problemas teóricos morais não se identi​ficam com os problemas práticos, embora estejam estritamente relacionados, também não se podem confundir a ética e a moral. A ética não cria a moral. Conquanto seja certo que toda moral supõe determinados princípios, normas ou regras de comporta​mento, não é a ética que os estabelece numa determinada comu​nidade. A ética depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o prin​cípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais.
	A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, é ciência de uma forma especí​fica de comportamento humano.
	A nossa definição sublinha, cm primeiro lugar, o caráter científico desta disciplina; isto é, corresponde à necessidade de uma abordagem científica dos problemas morais. De acordo com esta abordagem, a ética se ocupa de um objeto próprio: o setor da realidade humana que chamamos moral, constituído — como já dissemos — por um tipo peculiar de fatos ou atos humanos. Como ciência, a ética parte de certo tipo de fatos visando des​cobrir-lhes os princípios gerais. Neste sentido, embora parta de dados empíricos, isto é, da existência de um comportamento moral efetivo, não pode permanecer no nível de uma simples descrição ou registro dos mesmos, mas os transcende com seus conceitos, hipóteses e teorias. Enquanto conhecimento cientí​fico, a ética deve aspirar a racionalidade e objetividade mais completas e, ao mesmo tempo, deve proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e, no limite do possível, comprováveis. Certamente, esta abordagem científica dos problemas mo​rais ainda está muito longe de ser satisfatória, e das dificuldades para alcançá-la ainda continuam se beneficiando as éticas es​peculativas tradicionais e as atuais de inspiração positivista.
	A ética é a ciência da moral, isto é, de uma esfera do com​portamento humano. Não se deve confundir aqui a teoria com o seu objeto: o mundo moral. As proposições da ética devem ter o mesmo rigor, a mesma coerência e fundamentação das proposições científicas. Ao contrário, os princípios, as normas ou os juízos de uma moral determinada não apresentam esse ca​ráter. E não somente não têm um caráter científico, mas a expe​riência histórica moral demonstra como muitas vezes são in​compatíveis com os conhecimentos fornecidos pelas ciências natu​rais e sociais. Daí podermos afirmar que, se se pode falar numa ética científica, não se pode dizer o mesmo da moral. Não existe uma moral científica, mas existe — ou pode existir — um co​nhecimento da moral que pode ser científico. Aqui, como nas outras ciências, o científico baseia-se no método, na abordagem do objeto, e não no próprio objeto. Da mesma maneira, pode-se dizer que o mundo físico não é científico, embora o seja a sua abordagem ou estudo por parte da ciência física. Sc, porém, não existe uma moral científica em si, pode existir uma moral compatível com os conhecimentos científicos sobre o homem, a sociedade e, em particular, sobre o comportamento humano mo​ral. É este o ponto em que a ética pode servir para fundamentar uma moral, sem ser cm si mesma normativa ou preceptiva. A moral não é ciência, mas objeto da ciência; e, neste sentido, é por ela estudada e investigada. A ética não é a moral e, portanto, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescri​ções; sua missão é explicar a moral efetiva e, neste sentido, pode influir na própria moral.
	Seu objeto de estudo é constituído por um tipo de atos humanos: os atos conscientes e voluntários dos indivíduos que afetam outros indivíduos, determinados grupos sociais ou a so​ciedade em seu conjunto.
	Na definição antes enunciada, ética c moral se relacionam, pois, como uma ciência específica e seu objeto. Ambas as pala​vras mantêm assim uma relação que não tinham propriamente cm suas origens etimológicas. Certamente, moral vem do latim mos ou mores, "costume" ou "costumes", no sentido de con​junto de normas ou regras adquiridas por hábito. A moral se refere, assim,'ao comportamento adquirido ou modo de ser con​quistado pelo homem. Ética vem do grego ethos, que significa analogamente "modo de ser" ou "caráter" enquanto forma de vida também adquirida ou conquistada pelo homem. Assim, portanto, originariamente, ethos e mos, "caráter" e "costume", assentam-se num modo de comportamento que não corresponde a uma disposição natural, mas que é adquirido ou conquistado por hábito. É precisamente esse caráter não natural da maneira de ser do homem que, na Antiguidade, lhe confere sua dimen​são moral.
	Vemos, pois, que o significado etimológico de moral e de ética não nos fornecem o significado atual dos dois termos, mas nos situam no terreno especificamente humano no qual se torna possível e se funda o comportamento moral: o humano como o adquirido ou conquistado pelo homem sobre o que há nele de pura natureza. O comportamento moral pertence somente ao homem na medida em que, sobre a sua própria natureza, cria esta segunda natureza, da qual faz parte a sua atividade moral.
CONCEPÇÕES ÉTICAS FUNDAMENTAIS�
	As concepções Éticas nascem e se desenvolvem como respostas aos problemas sociais e históricos concretos surgidos nas relações entre os homens, em especial problemas que se relacionam com o comportamento moral. A determinação social e histórica dos problemas humanos determina a dimensão social e histórica das concepções Éticas na medida em que os tem como objeto. Abordar criticamente as concepções Éticas demanda partir, portanto, dos problemas humanos. Identificá-los exige, por sua vez, uma abordagem das estruturas sócio-econômicas, políticas e morais da sociedade que os determina.
PLATÃO (V e IV a. C.)
	A Ética de Platão possuiu como fundamento primeiro a sua concepção metafísica. Para ele haveria o mundo sensível, que apoiaria-se nas ideias imperfeitas e fugazes, que constituiriam a falsa realidade, e o mundo das Ideias, que seriam permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que constituiriam a verdadeira realidade e que teria como cume a Ideia do bem (divindade, demiurgo do mundo). O segundo fundamento foi a doutrina da alma. Para ele o homem seria animado por três almas: a racional (razão), que contemplaria e queria racionalmente, a colérica (vontade ou ânimo), que comandaria a vontade e não queria racionalmente, e a desejante (concupiscente ou apetite), que comandaria as necessidades corporais e também não queria racionalmente. Assim, (Vasquez, 1989, p. 238 e 239).
	Pela razão, como faculdade superior e característica do homem, a alma se eleva – mediante a contemplação – ao mundo das ideias. Seu fim último é purificar ou libertar-se da matéria para contemplar o que realmente é e sobretudo a Ideia do Bem. Para alcançar esta purificação, é preciso praticar várias virtudes, que correspondem a cada uma das partes da alma e consiste no seu funcionamento perfeito: a virtude da razãoé a prudência; a da vontade ou ânimo, a fortaleza; e a do apetite, a temperança. Estas virtudes guiam ou refreiam uma parte da alma. A harmonia entre as diversas partes constitui a quarta virtude, ou justiça O homem não alcançaria a plena perfeição isoladamente. A Ideia do homem somente se realizaria enquanto bom cidadão e no Estado ou comunidade política. Enfim, a Ética assumia conseqüência por meio da Política.
Platão, por meio da obra A República, projetou a estrutura e hierarquia das almas no Estado. Nele cada parte corresponderia a uma classe especial, cumpriria a sua virtude e tarefa e declinaria sobre as demais. Assim, (Vásquez, 1989, p. 239):
(...) à razão, a classe dos governantes – filósofos, guiados pela prudência -; ao ânimo ou vontade, a classe dos guerreiros, defensores do Estado, guiados pela fortaleza; e ao apetite, os artesãos e os comerciantes, encarregados dos trabalhos materiais e utilitários, guiados pela temperança. Cada classe social deve consagrar-se à sua tarefa especial e abster-se de realizar outras. De modo análogo ao que sucede na alma, compete à justiça social estabelecer na cidade a harmonia indispensável entre as várias classes. E, com o fim de garantir esta harmonia social, Platão propõe a abolição da propriedade privada para as duas classes superiores (governantes e guerreiros) O homem deveria fugir dos excessos. A ênfase excessiva em uma boa ação desencadearia o seu próprio contrário, enquanto que boas ações de nada adiantariam frente a práticas ordinariamente ruins. A conduta deveria ser forjada pelo hábito de possuir bons costumes e não tanto em realizar boas ações.
	O bem é organizar a cidade tendo como base o verdadeiro conhecimento, de forma que as funções necessárias à cidade – a satisfação das necessidades básicas dos habitantes, a defesa do território e a administração – corresponda às aptidões de cada um – produtores (camponeses e artesãos), guerreiros e legisladores. Identificar as aptidões por meio da educação e seleção dos homens para as funções permitiria determinar e definir as virtudes particulares, bem como a virtude que compreenderia todas elas, qual seja, a justiça como cumprimento da função que caberia a cada parte no Estado. E concluiu que “ Os males não cessarão para os homens antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder ( Platão apud Abrão, 1999, p. 52 e 53 ). 
	A ética de Platão unificava Moral e Política. A perfeição humana, embora tendo o indivíduo como ponto de partida, formava-se no Estado e por meio da subordinação do indivíduo ao Estado ou comunidade política. Perfeição esta impedida para quem não possuísse vida moral, isto é, o escravo.
ARISTÓTELES (séc. IV a. C.)
	A Ética de Aristóteles possuiu como fundamento primeiro o reconhecimento de que os únicos indivíduos existentes seriam os indivíduos concretos, isto é, a ideia existe nos seres humanos individuais. Aristóteles rompia, assim, com o dualismo ontológico de Platão, o qual separa o mundo sensível do mundo das Ideias. Em segundo lugar, compreendia que haveria um movimento universal de passagem incessante do que existe em potência ao ato, seja no mundo natural, por exemplo, da passagem da semente à planta, seja no mundo social, por exemplo, da passagem do homem ao ser humano. Apenas Deus seria ato puro. O homem seria atividade de passagem da potência (homem) ao ato (ser humano). Esta passagem deveria se orientar para Aristóteles pelo fim último do homem, qual seja, a felicidade. Por tal compreendia-se a atividade humana representada pela vida teórica ou contemplação guiada pela razão, que expressaria características elevadas do homem. Atividade humana representada pelo prazer e pela riqueza expressariam características baixas do homem. 
	A vida teórica ou contemplação realizaria-se por meio da aquisição de certas formas de agir que os homens adquiririam ou conquistariam pelo exercício, de forma a aprimorar a sua dimensão racional e conter a sua dimensão irracional. Estas formas de agir seriam virtudes. Elas poderiam ser intelectuais, que se operariam na dimensão racional (razão) do homem, e práticas ou Éticas, que se operariam na dimensão irracional (não razão) do homem, isto é, nas paixões e apetites humanos.
	A felicidade decorreria da natureza racional do homem, porque seria fruto do exercício do intelecto no campo moral e porque aspiraria ao que seria razoável. Seria, portanto, uma conseqüência da vida contemplativa e sossegada, distanciada das perturbações do cotidiano. Em Aristóteles, (Vasquez, 1989, p. 240 e 241):
(...) a virtude consiste no termo médio entre dois extremos (um excesso e um defeito). Assim, o valor está entre a temeridade e a covardia; a liberalidade, entre a prodigalidade e a avareza; a justiça, entre o egoísmo e o esquecimento de si. Por conseguinte, a virtude é um equilíbrio entre dois extremos instáveis e igualmente prejudiciais. Finalmente, a felicidade que se alcança mediante a virtude, e que é o seu coroamento, exige necessariamente algumas condições - maturidade, bens materiais, liberdade pessoal, saúde etc -, embora estas condições não bastem sozinhas para fazer alguém feliz.
	A Ética de Aristóteles, que tal qual a de Platão, está unida à sua filosofia política, também unificou por conseguinte Moral e Política. Para Aristóteles, à medida em que o homem seria um ser por natureza social e político, lança mão da moral esclarecida pela virtude. Seu objetivo seria realizar o ideal da vida teórica ou contemplativa na qual se basearia a felicidade por meio a comunidade política. A vida moral não seria um fim em si mesmo, mas um meio ou condição para uma vida verdadeiramente humana, isto é, para a conquista da vida teórica ou contemplativa na qual consiste a felicidade.
	A vida moral, que não poderia ser conduzida por um indivíduo isolado, mas pela comunidade, também não poderia ser participada por todos. Apenas a minoria de alma superior, os aristoi a poderia vivenciar plenamente. Os homens comuns, cujas almas não se encontrariam plenamente desenvolvida, a poderiam vivenciar apenas de forma parcial e imperfeita. Quanto aos escravos, que não possuiriam almas de homens, mas de escravos, estariam natural e completamente excluídos de qualquer vida moral. Daí a glorificação dos regimes políticos (aristocracia, monarquia e república), exercidos em última instância pela aristocracia, em detrimento dos regimes apolíticos (oligarquia, tirania e democracia), exercidos em última
instância pelos homens comuns.
O Mundo Medieval Ocidental e a Ética
O Mundo Medieval Ocidental articulou-se a partir de uma formação social e econômica senhorial e feudal. Esta formação teve origem no interior do Baixo Império Romano por meio da ruralização da sua população, do retrocesso demográfico, do esvaziamento do comércio, do refluxo monetário, das guerras civis e das invasões.
Ética Religiosa
A Ética cristã partia de um conjunto de verdades reveladas ao homem por Deus. Estas verdades definiriam Deus como criador do homem e do mundo, das relações que o homem deveria manter com Deus e da vida moral para que os homens pudessem alcançar a salvação no outro mundo. Deus seria um ser pessoal, bom, onipresente, onisciente e onipotente. Deus seria o fim último, bem superior e valor supremo do homem, alcançado por meio da obediência e do cumprimento dos seus mandamentos. A essência da felicidade (a beatitude) seria a contemplação de Deus. Deus encontraria-se acima da sociedade e do Estado ou comunidade política; o amor divino acima do amor humano; e a ordem sobrenatural acima a ordem natural.
	A doutrina cristã das virtudes incorporaria as virtudes morais fundamentais - que seriam a prudência, a fortaleza, a temperança e a justiça; as virtudes de escala humana voltadas para a regulação das relações entre os homens - que seriam o respeito, o trato e a responsabilidade; e as virtudes supremas ou teológicas - que seriam a fé, a esperança e a caridade. As virtudes de escala divina seriam, portanto, superiores e voltadas paraa regulação das relações entre Deus e os homens.
	A conduta humana de acordo com as virtudes cristãs permitiria ao homem, após a sua morte (no e para o mundo), elevar-se para a ordem divina e sobrenatural, onde encontraria a vida plena, a imortalidade, a felicidade, a perfeição. A Ética cristã introduziria no universo humano a ideia de igualdade entre os homens – visto que todos seriam iguais perante Deus e efetivamente o seriam entre si no paraíso – e a ideia de justiça – visto que não haveria opressão, domínio ou exploração no paraíso. Mas, contraditoriamente, justificaria a desigualdade e a injustiça no mundo real, visto que concebia a igualdade e a justiça como somente possível no mundo sobrenatural. O mundo humano, que seria um mundo fundado e permeado pelo pecado, e de onde decorreria a dor, o sofrimento, a guerra, a exploração, não poderia dar lugar a igualdade e a justiça. Conforme Vasquez, ( 1989, p. 245):
(...) o cristianismo deu aos homens, pela primeira vez, incluindo os mais oprimidos e explorados, a consciência da sua igualdade, exatamente quando não existiam as condições reais, sociais, de uma igualdade efetiva, que – como hoje sabemos – passa historicamente por uma série de eliminações de desigualdades concretas (políticas, raciais, jurídicas, sociais e econômicas). Na Idade Média, a igualdade só podia ser espiritual, ou também uma igualdade para o amanhã num mundo sobrenatural, ou ainda uma igualdade efetiva mas limitada no nosso mundo real a algumas comunidades religiosas.
	A Ética religiosa cristã medieval tendeu, enfim, a regular a conduta humana tendo Deus como fim, bem e valor supremo. Para esta Ética a vida moral se realizaria plenamente somente quando o homem alcançasse a ordem sobrenatural.
O Mundo Moderno Ocidental e a Ética
	O Mundo Moderno Ocidental articulou-se a partir de uma formação social e econômica aristocrática, absolutista e feudal. A revolução urbana e comercial em curso reduzia progressivamente a importância da vida rural e das normas da vida cristã tradicional; o crescente deslocamento da riqueza da terra para o comércio, a manufatura e o banco e as revoltas camponesas ameaçavam o domínio aristocrático; o espírito racionalista, humanista, investigador e manipulador, era responsável pelo abalo dos alicerces da Igreja Católica. Estes processos determinavam a necessidade de um redesenho da ordem aristocrática.
	No plano político, a fragmentação política e administrativa medieval deu lugar a centralização política e administrativa por meio da criação dos Estados nacionais modernos. Emergiu o Estado aristocrático, absolutista e feudal como uma gigantesca máquina política, fiscal e militar para fazer frente a uma dupla ameaça. De um lado, a burguesia em ascensão econômica e moral, mas pressionada pelos impostos e impedida de compor as funções burocráticas civis e militares do Estado, salvo funções ministeriais delegadas pelo rei. De outro lado, os camponeses em rebelião contra o monopólio da terra, as obrigações aristocráticas e clericais (em produção, trabalho ou dinheiro) e os impostos, totalmente impedidos de qualquer participação e decisão política. O Estado constituía-se, enfim, em um instrumento para recolher parte da riqueza burguesa (e das camadas populares) e redistribuí-lo em favor da aristocracia e para preservar a extração da renda da terra gerada pelos camponeses, também em favor da aristocracia.
	E, ao final dos tempos modernos, a burguesia estendeu o seu domínio econômico à esfera política por meio das revoluções burguesas. O objetivo era imprimir uma nova qualidade ao processo de transformação da sociedade à sua imagem e semelhança.
	No plano ideológico-cultural, a religião deixou de ser a forma ideológica dominante e a Igreja Católica perdeu a sua condição de guia espiritual. De um lado, ocorreu a separação daquilo que a Idade Média havia unificado: a razão separou-se da fé (e a filosofia, da teologia); a natureza separou-se de Deus (e as ciências naturais, dos pressupostos teológicos); o Estado separou-se da Igreja (e as doutrinas políticas, dos preceitos sacros); e o homem separou-se de Deus (e a humanidade constituída de autarcia, livre-arbítrio e poder transformador, da determinação divina). De outro lado, ocorreu a afirmação do humanismo individualista burguês, de forma a consolidar a ideia de homem autárquico, constituído de livre arbítrio e que manipularia a realidade em favor dos projetos econômicos, políticos e sociais de caráter pessoal, e a harmonizar esta ideia com a ideia de que a livre iniciativa de todos convergiria para uma integração e
satisfação de todos. 
	O homem moderno percebeu-se no centro da Política, da Ciência, da Arte e da Moral. Tal percepção libertou a Ética dos pressupostos teológicos medievais e a fez crescentemente antropocêntrica, embora ainda convivesse com um homem tratado por vezes de maneira abstrata e possuidor de uma natureza universal e imutável.
O Mundo Moderno Ocidental 
KANT (Immanuel Kant / 1724-1804)
	Kant, tendo em vista o conhecimento, centrou no sujeito a relação sujeito-objeto. O que o sujeito conhece seria o produto da sua consciência. Esta relação também estava presente na abordagem da Moral. Kant concebia o homem como um sujeito cognoscente ou ativo moral. O sujeito, que seria consciência moral, daria a si mesmo a sua própria lei.
	A Ética de Kant parte do fato da moralidade. Este fato (moralidade) implicaria na responsabilidade do homem sobre os seus atos e na consciência do seu dever. Todavia, esta consciência implicaria admitir que o homem seria livre. Assim, (Vasquez, 1989, 249).
(...) dado que o homem como sujeito empírico é determinado casualmente e a razão teórica nos diz que não pode ser livre, é preciso admitir então, como um postulado da razão prática, a existência de um mundo da liberdade ao qual pertence o homem como ser moral A moralidade implicava na questão do fundamento da bondade dos atos. A resposta de Kant foi que (Kant apud Vasquez, 1989, p. 143).
	Nem no mundo nem também, em geral, fora do mundo é possível conceber alguma coisa que possa considerar-se boa sem restrições, a não ser unicamente uma boa vontade (...). A boa vontade não é boa pelo que possa fazer ou realizar, não é boa por sua aptidão a alcançar um fim que nos propuséramos; é boa só pelo querer, isto é, é boa em si. Considerada por si só, é, sem comparação, muitíssimo mais valiosa do que tudo o que poderíamos obter por meio dela.
	Para Kant a boa vontade seria o agir por puro respeito ao dever, seria a sujeição do homem à lei moral. A boa vontade seria, portanto, um mandamento incondicional, universal e absoluto, isto é, um mandamento a que todos os homens, durante todo o tempo e em qualquer período histórico, circunstâncias e condições deveriam cumprir. Esse mandamento, denominado por “imperativo categórico”, foi recomendado por Kant como fórmula de aplicação na vida prática por meio da máxima “age de maneira que possas querer que o motivo que te levou a agir se torne uma lei universal”.
	Para a Ética de Kant o homem teria que ser reconhecido como fim. Ele agiria por puro respeito ao dever e obedeceria apenas a sua consciência moral. Assim, todos os homens seriam fins em si mesmos e, como tais, formariam parte do mundo da liberdade ou do reino dos fins. Seria imoral o mundo concreto que reduz o homem a um meio (fator de produção, mercadoria etc) e que eleva os meios a um fim (capital, poder político etc). Esta Ética possuiu, portanto, um profundo conteúdo humanista e moral. Assim, (Vasquez, 1989, p. 250).
	A ética kantiana é uma ética formal e autônoma. Por ser puramente formal, tem de postular um dever para todos os homens, independentemente da sua situação social e seja qual for o seu conteúdo concreto. Por ser autônoma (e opor-se assim às morais heterônomas nas quais a lei que rege a consciência vem de fora), aparece como a culminação da tendência antropocêntrica iniciada no Renascimento, em oposição à ética medieval. Finalmente, por conceber o comportamentomoral como pertencente a um sujeito autônomo e livre, ativo e criador, Kant é o ponto de partida de uma filosofia e de uma ética na qual o homem se define antes de tudo como ser ativo, produtor ou criador.
HEGEL (Georg Wilhelm Friedrich Hegel / 1770-1831)
	Hegel, também seguindo o caminho dos românticos alemães, compreendia o processo histórico como manifestação do Espírito Absoluto, isto é, como manifestação do Espírito Absoluto em progressão, sob um contexto rico de determinantes e de contradições. Espírito Absoluto que se apresentaria em uma dimensão objetiva (Estado ou sociedade política), cujo plano orientaria-se pela universalidade e pelo mediato, e uma dimensão subjetiva (sociedade civil ou os homens em sua vida privada), cujo plano orientaria-se pelo particular e pelo imediato. Para Hegel o objetivo da conduta humana seria buscar a integração e perfeição expresso no Estado, instituição que seria a “totalidade Ética”, Deus que se realizava no mundo. A Ética seria, portanto, a Filosofia do Direito (Abbagnano, 1998, p. 381 e 382).
	O Estado seria o ápice do que ele denomina “eticidade”, isto é, da moralidade que ganharia corpo e substância nas instituições historicamente construídas e que a garantiriam, enquanto que a “moralidade” por si mesma seria simplesmente intenção ou vontade subjetiva do bem. Mas, por sua vez, o bem seria a essência da vontade em sua substancialidade e universalidade, isto é, a liberdade realizada, o objetivo final e absoluto do mundo, ou seja, o próprio Estado.
	Para Hegel a moralidade seria a intenção ou a vontade subjetiva de realizar o que se acha realizado no Estado. Esta Ética seria, portanto, sistêmica e estadolatra, sendo o conceito de Estado o seu ponto de partida e o seu ponto de chegada.
O Mundo Contemporâneo Ocidental e a Ética
	Na Europa do final do século XVIII consolidaram-se a sociedade burguesa e o capitalismo por meio, respectivamente, da Revolução Burguesa e da Revolução Industrial.
	A Revolução Burguesa, iniciada por meio da Independência dos Estados Unidos (1776) e da Revolução Francesa (1789), evidenciou a crise de hegemonia aristocrático-feudal. Todavia, a ascensão da burguesia à condição de classe dominante não foi acompanhado, imediatamente, pela construção da sua hegemonia. A resistência aristocrática, de um lado, e a presença do movimento proletário com a bandeira vermelha, de outro, despertou o temor da burguesia e da sua representação política.
NIETZSCHE (Friedrich Wilhelm Nietzsche / 1844-1900)
	Para Nietzsche os valores e a própria hierarquia dos mesmos seria também de todo independente da escolha humana. Para Nietzsche, todavia, seria a hierarquia dos valores vitais, dos valores em que se encarna a Vontade de Poder. Nietzsche criticou a moral corrente e enxergou nela formas camufladas de egoísmo e hipocrisia. Daí o seu imoralismo constituir-se tão somente na proposta de uma nova tábua de valores, fundada no princípio de aceitação entusiástica da vida, na preeminência do espírito dionisíaco. Pretendeu, enfim, substituir as virtudes da moral tradicional pelas novas virtudes em que se exprimisse a vontade de potência.
	Para Nietzsche seria virtude toda paixão que dissesse sim à vida e ao mundo, de forma a buscar altivez, alegria e saúde; amor sexual, inimizade e guerra; veneração, belas aptidões, boas maneiras, vontade forte, disciplina da intelectualidade superior, vontade de potência, reconhecimento para com a terra e para com a vida. O que seria rico e queria dar, queria recompensar a vida, dourá-la, eternizá-la e divinizá-la.
Nietzsche considerou a natureza do homem como sendo a vontade de potência, de forma a deduzir dela a tábua de valores morais que deveriam dirigir o homem para a realização da vontade de potência em um mundo de super-homens.
O MARXISMO
	Para Marx (1818-1883) o homem seria um ser real, isto é, unidade indissolúvel entre espírito e matéria, teórico e prático, subjetivo e objetivo. O homem seria um ser da práxis, isto é, por meio da ação prática e refletida sobre o mundo transforma-o e, transformando-o, transforma a si mesmo. O homem seria um ser social, isto é, produz relações sociais de produção sobre as quais outras relações sociais são erguidas. O homem seria um ser histórico, isto é, as relações materializadas em uma formação econômico-social concreta, fruto de um longo curso histórico, convive com transformações contínuas motivadas por contradições que lhes seriam intrínsecas, e que poderiam ser evolucionárias – que ocorreriam em uma estrutura que se conservaria, embora estivesse sob constante remodelação – e/ou revolucionária – que romperia com a estrutura vigente e que geraria uma nova estrutura. E o homem estaria submetido a um processo histórico-social objetivo e inevitável, isto é, um processo do qual não poderia se alienar e não estaria por ele totalmente determinado, mas no âmbito do qual poderia criar o possível. 
	A concepção Ética de Marx, posteriormente desenvolvida por outros pensadores e que passou a integrar a chamada “filosofia marxista” ou “filosofia da práxis”, permitiu conceber a Moral de uma forma peculiar e original. Para o marxismo a Moral expressaria um caráter de classe e constituiria em parte da superestrutura, isto é, do universo político, jurídico e ideológico da sociedade. Nesse sentido cumpriria a função social de legitimar e justificar as relações sociais e as condições de existência dos indivíduos, segmentos e classes sociais de acordo com a perspectiva da classe dominante.
	A Moral na sociedade se expressaria por meio da coexistência de uma diversidade de expressões morais. Tal realidade decorreria da desigualdade social, o que impediria subsistir um sistema moral único. Qualquer tentativa de alcançar uma universalidade moral sob o clivo da desigualdade social não passaria de uma tentativa de ocultar uma moral particular e de impô-la aos outros.
	A Moral dominante em cada sociedade ou em cada classe social agregaria, objetivamente,	 de forma contraditória e conflituosa, elementos de conduta moral negativos e positivos, superados e atuais. Este processo, que seria dialético, definiria, ainda que com períodos de recuo, a conquista de uma moral verdadeiramente humana e universal. A Moral seria construída em função da necessidade objetiva dos homens, sob uma determinada formação econômico-social concreta. Portanto, a Moral seria sempre fruto de um processo histórico complexo, conflituoso e datado.
	A Moral poderia ser concebida sob uma práxis revolucionária, tendo em vista a transformação radical da sociedade. Para tanto, deveria superar o moralismo utópico e ingênuo – para assegurar que a ação política tenha potência – e preservar preceitos morais calcados na equidade, na justiça – para assegurar a legitimidade da ação política.
	A Moral necessária à transformação social exigiria, ainda, a responsabilidade e o compromisso para com a luta contra a barbárie social. Barbárie esta que, por exemplo, poderia se materializar por meio de um fascismo social - no contexto da sociedade hiper-tecnológica e excludente – ou de um brutal regresso tecnológico e social – no contexto de uma crise estrutural da sociedade capitalista e burguesa, mas sem que o mundo do trabalho possa apresentar uma alternativa política e social.
EXISTENCIALISMO
	Para Sartre não existia nem Deus, nem uma dimensão supra humana. Portanto, não existiriam valores, princípios ou normas que possuíssem objetividade, transcendência ou universalidade para dirigir o comportamento humano. O homem não possuiria, à priori, fundamento de valor que o dirigisse. O homem seria um ser sem ração de ser e entregue a si mesmo.
	Para Sartre o homem seria, portanto, liberdade. Por meio da liberdade materializaria o que escolheu ser. A liberdade seria a única fonte de valor do homem, isto porque lhe permitiria escolher e, esta escolha, implicaria na definição e qualificação de valor para si mesmo. Como cada homem deveria criar ou inventar os valores ou as normas que guiarãoo seu comportamento, o valor de cada ato humano seria avaliado na relação direta com o seu grau de liberdade que realizaria. Conforme Vasquez, ( 1989, p. 254):
Cada ato ou cada indivíduo vale moralmente não por sua submissão a uma norma ou a um valor estabelecido – assim renunciaria à própria liberdade -, mas pelo uso que faz da própria liberdade. Se a liberdade é o valor supremo, o valioso é escolher e agir livremente.
A aproximação de Sartre com o marxismo o levaria a conceber o homem como um ser social. Dessa forma, o exercício da liberdade pessoal como fim também tem que ter como fim a liberdade dos outros, de forma que o homem individual comprometeria-se com a liberdade da humanidade.
	Para Sartre a vida seria uma constante escolha e compromisso realizada sob o valor supremo da liberdade.
� Esta apostila é resultado reflexões e a somatória de trechos retirados de livros e artigos referentes à temática analisada pela disciplina.
� SANTOS, Fábio Fraga. Uma discussão sobre a ética profissional do assistente social e sua relação com os fundamentos ontológicos sociais da vida humana. UNESP, 2010. Artigo completo disponível no site: HTTP// seer.franca.unesp.br/index.php/SSR/article/viewFile/139/193
� VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 18. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
� Texto retirado da dissertação de Walmir Barbosa - Mestre em História das Sociedades Agrárias e professor na UCG e do CEFET-GO.
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