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Revista Cult O que o feminismo ensina à política Revista Cult

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18/04/2016 Revista Cult O que o feminismo ensina à política ­ Revista Cult
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O que o feminismo ensina à política
Publicado no Zero Hora em 10 de maio de 2015
Martha Rosler, ‘Nature Girls (Jumping Janes)’, uit de serie ‘Body Beautiful or
Body Knows No Pain’, 1966­72, fotomontage
A democracia brasileira não está consolidada, ao contrário, ela parece ameaçada. Os prejuízos
da ditadura militar ainda se fazem sentir nas marcas autoritárias visíveis no parlamento atual,
assim como nas esferas micrológicas da vida cotidiana, bem como em todas as instituições.
Camadas da sociedade vivem amedrontadas, outras tantas pagam todos os preços sociais da
humilhação e da exploração. A violência partilhada por todos e, e em seu profundo lastro
político­econômico, provocada por poucos, parece insuperável tanto ao nível simbólico quanto
material e físico.
Apesar da precariedade concreta de nossa democracia, o desejo que a mantém viva – e que
impulsiona várias de suas realizações na contramão do autoritarismo como tendência
dominante – é sinal de que podemos avançar. Numa aliança entre trabalho e conhecimento,
dizer que um outro mundo é possível é bem mais do que utopia abstrata. A criação de um novo
partido político na cena brasileira atual é efeito do profundo desejo de democracia que anima
nossos pensamentos e ações na intenção de uma sociedade justa, aquela em que a igualdade
de direitos se torna concreta para todos os excluídos enquanto, ao mesmo tempo, são
respeitadas suas singularidades.
Metade da humanidade (no sentido de conjunto concreto de seres humanos e não no sentido
de uma ideia abstrata) é composta de mulheres que, ao mesmo tempo, foram excluídas de
direitos historicamente. Na política, na economia, na educação, na saúde, nas ciências e nas
artes, a participação das mulheres foi proibida ou controlada, tendo como cenário o vasto
espectro da dominação masculina. As mulheres deveriam ficar em casa alienadas da esfera
Marcia Tiburi é filósofa
Marcia Tiburi é graduada em filosofia e artes e mestre
e doutora em filosofia. Publicou diversos livros de
filosofia, entre eles “As Mulheres e a Filosofia” (Ed.
Unisinos, 2002), Filosofia Cinza – a melancolia e o
corpo nas dobras da escrita (Escritos, 2004);
“Mulheres, Filosofia ou Coisas do Gênero” (EDUNISC,
2008), “Filosofia em Comum” (Ed. Record, 2008),
“Filosofia Brincante” (Record, 2010), “Olho de Vidro”
(Record 2011), “Filosofia Pop” (Ed. Bregantini, 2011) e
Sociedade Fissurada (Record, 2013). Publicou também
romances: Magnólia (2005), A Mulher de Costas
(2006) e O Manto (2009), Era meu esse Rosto (Record,
2012). É autora ainda dos livros Diálogo/desenho,
Diálogo/dança, Diálogo/Fotografia e Diálogo/Cinema
(ed. SENAC­SP).
É professora do programa de pós­graduação em
Educação, Arte e História da Cultura da Universidade
Mackenzie e colunista da revista Cult.
EDIÇÃO  211
  
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18/04/2016 Revista Cult O que o feminismo ensina à política ­ Revista Cult
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pública. A posição subalterna de tantas pessoas imposta pela dominação masculina não trouxe
nada de bom a ninguém.
As mulheres atravessaram a história como sujeitos de reivindicações. Aviltadas, violentadas,
impedidas de participar da vida pública, as mulheres lutaram pelo direito à educação, ao
trabalho, ao voto. Lutam ainda hoje por direitos que vão da representação política à
equiparação salarial, da liberdade relativa ao próprio corpo ao direito à singularidade.
A essa luta que tem início com as mulheres, luta experimentada em todas as culturas, deu­se o
nome de feminismo. Esse nome ainda assusta algumas pessoas que não percebem que a luta
feminista poderia não ter nome algum e que, mesmo assim, continuaria produzindo os
melhores frutos que a árvore da emancipação poderia dar.  O feminismo é luta por
emancipação sem violência.
Como método de transformação política, o feminismo tem muito a nos ensinar.
As mulheres foram desconsideradas em muitos âmbitos das atividades humanas. No entanto,
hoje, quando ocupam os espaços do trabalho e do conhecimento, sabemos que sua força é
desejada enquanto, ao mesmo tempo, não é reconhecida. Sabemos que grande parte das
famílias em todas as classes sociais é sustentada por mulheres. Em palavras muito simples,
podemos dizer que as mulheres são a mais profunda força de sustentação social. Nas mais
diversas crises, as mulheres estão sempre prontas e disponíveis para todos os tipos de esforços
na proteção das bases da sociedade.
Apesar de não serem reconhecidas como deveriam, e de não terem direitos necessários
garantidos, as mulheres seguem como uma espécie de força que se recria em silêncio.  Ora, por
que não dar a elas o poder? Por que não poderiam representar ai mesmas na esfera pública,
sobretudo, no governo?
A criação de um Partido Feminista Democrático é capaz de contemplar todos os sujeitos
silenciados para que tragam sua contribuição à construção de um outro poder. Um poder
compreensivo e participativo. Um poder voltado ao diálogo. Um poder crítico do próprio
poder. Um poder capaz de criar democracia contra toda forma de opressão, mas também
contra toda forma de engodo e cegueira social. Um poder emancipatório que possa integrar a
todos de maneira lúcida contra jogos de dominação e exploração e, assim, extirpá­los.
O partido feminista é um partido que contempla as mulheres e todos os que se reconhecem
como mulheres, mas também de todos os que lutam a partir da ético­política feminista. É,
sobretudo, um partido de singularidades que pretende a produção do comum como esfera da
partilha democrática do poder.
O partido feminista é o lugar da prática lúcida e aberta a todas as pessoas independentemente
de suas raças, crenças, sexualidades e classes sociais que busca, por diversos caminhos,
mudanças na ordem das mentalidades e das práticas sociais injustas. A criação do partido é
um passo decisivo nessa transformação que se torna a cada dia mais urgente.
A aposta é na criação de um poder livre de ressentimento. Aposta na amizade filosófica entre
mulheres e todos aqueles que desejam um mundo ecológica e socialmente viável para todos os
seres que existem. Na base, o feminismo é ético­política ecologista. Visa um mundo melhor em
que cada pessoa como ser social responda pela humanidade concreta.
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Fatima Dias  •  um ano atrás
Márcia, brilhante reflexão sobre a condição da mulher na nossa sociedade. O
Partido Feminista Democrático será um marco na historia das mulheres, no
sentido do seu reconhecimento como protagonistas das mudanças na ordem
das mentalidades e das praticas sociais desiguais. Vamos a luta!!!! A sororidade
entre as mulheres fara toda a diferença... Avançar é preciso. Saudações a você
por ser a idealizadora dessa vontade criadora!!! Estou nessa luta com vocês e
continuarei acompanhando todo o processo. Avante!!!!!
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