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ESTUPRO DE VULNERÁVEL: A IRRELEVÂNCIA DO CONTATO FÍSICO PARA O TIPO PENAL

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ESTUPRO DE VULNERÁVEL: A IRRELEVÂNCIA DO CONTATO FÍSICO PARA CARACTERIZAÇÃO DO TIPO PENAL.
Daniele Oliveira Almeida¹[1: 1 * Aluna do 2º semestre do curso de Direito do Centro Universitário Católica Rainha do Sertão. 2 ** Aluna do 2º semestre do curso de Direito do Centro Universitário Católica Rainha do Sertão1 * 3*** Professor do curso de Direito do Centro Universitário Católica Rainha do Sertão. Especialista em direito penal e processo penal. Mestrando em direito penal. 	]
Ingridi Emanuela Rodrigues Soares **²
José Carneiro Rangel Junior **3
RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar e expor uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) relacionada ao delito de estupro de vulnerável que indica uma possível mudança nos julgados. Para isso o leitor ira conhecer alteração legislativa promovida pela Lei nº 12.015/09. Posteriormente, serão feitas abordagens de decisões do STJ que mais repercutiram nacionalmente, as quais sinalizaram que nem sempre esse foi um órgão vanguardista, mostrando no presente momento ser inovador através de sua decisão excepcional. Ao final, discute-se a necessidade de analisar o contato físico para caracterizar o tipo penal cujo enquadramento revela condutas violadoras da dignidade sexual do vulnerável que devem ser reprovadas pelo direito mesmo que não exista o contato físico, fazendo uma crítica sobre a relevância do contato físico para caracterização do delito.
PALAVRAS-CHAVES: DELITO DE ESTUPRO; ESTUPRO DE VULNERÁVEL; DECISÃO EXCEPCIONAL; CONTATO FÍSICO.
INTRODUÇÃO
O estupro é um dos crimes sexuais mais graves e possui inúmeras interfaces. Todas têm em comum os danos pessoais (moral, físico, psicológico e sexual). Entretanto, na contemporaneidade, existem comportamentos que ofendem a dignidade sexual de outrem, e por vezes são mascarados e ditos como normais. Por isso faz-se necessário à construção desse trabalho, pois visa analisar racionalmente as possibilidades dos casos concretos em que acontece o dano a vítima.
A problematização se dá em torno da controvérsia acerca da relevância ou não do contato físico para caracterização do delito de estupro de vulnerável, onde existem reiteradas decisões que convergem para uma interpretação de que para ter o crime é necessário o contato com a vítima e a violência comprovada por meio de exames de corpo de delito. Contudo, em meio a tanta desproteção de menores vulneráveis, os quais frequentemente têm sua dignidade sexual atingida de maneira inaceitável, este trabalho destaca a importância de uma decisão excepcional sobre o assunto, haja vista que existem atos libidinosos que, manifestamente, configuram o delito em questão, já que a dignidade sexual do vulnerável é incontestavelmente violada, hipóteses em que o agente deve ser responsabilizado pelos seus atos.
1. O DELITO DE ESTUPRO COM O ADVENTO DA LEI 12.015/2009
O código penal brasileiro foi criado pelo Decreto-lei 2.848/1940 e desde a sua criação muitas foram às mudanças, com o objetivo do direito de acompanhar a dinâmica social. Uma das mais importantes foi feita com o advento da Lei 12.015/09, sendo esta, responsável por muitas modificações nos crimes sexuais. Além da criação de novos tipos penais foi feita a mudança de nomenclatura do título VI da parte especial do Código Penal. A respeito disso, o doutrinador Fernando Capez explica: 
Frisa-se também que, com a nova redação da Lei 12.015/2009, o título que antes se denominava “Dos crimes contra os costumes”, passou para “Dos crimes contra a dignidade sexual”. Essa mudança foi uma grande revolução a respeito da proteção que se buscava com a antiga denominação. Isso porque antes se visava uma proteção aos bons costumes, uma moral almejada pela sociedade, ou seja, buscava-se saciar o interesse de terceiros como bem relevante. Com a constante evolução da sociedade, fez-se necessária a concepção de um novo bem jurídico a ser tutelado, sem ter como relevância os padrões éticos buscados pela antiga sociedade já defasada, mas sim a relevância da dignidade do indivíduo que sofre o risco dos atos sexuais (CAPEZ, 2012).
Em razão do princípio da isonomia, a lei penal não poderia mais estabelecer distinções entre homens e mulheres baseados apenas no gênero. Assim, ambos tornam-se passíveis de serem autores ou vítimas do delito de estupro. Tendo por como parâmetro o princípio da dignidade da pessoa humana, uma vez que constitui fundamento do Estado Democrático de Direito. Vale ressaltar que não se trata, portanto, de uma divisão de sexos, pois esta dignidade decorre da própria natureza humana, em que a dignidade não é um empréstimo do Estado, mas sim inerente a todas as pessoas, como mostra Marco Antônio Marques da Silva:
A dignidade decorre da própria natureza humana, o ser humano deve ser tratado sempre de modo diferenciado em face da sua natureza racional. É no relacionamento entre as pessoas e o mundo exterior e entre o Estado e a pessoa que se exteriorizam os limites de interferência no âmbito desta dignidade. O seu respeito, é importante que se ressalte, não é uma concessão do Estado, mas nasce da própria soberania popular, ligando-se à própria noção de Estado Democrático de Direito (SILVA, 2001, p.1).
Sob tal enfoque, o Estado Democrático de Direito tem como função a disposição de valores democráticos aos quais devem ser respeitados. Esses valores estão positivados no texto da carta magna e irradiam para todo o ordenamento jurídico. É fato que a constituição de 1988 é posterior ao código penal e por isso responsável por mudanças substanciais nos tipos penais. Além da dignidade própria da pessoa humana, de sua composição física e psíquica, é importante ressaltar dentre os valores democráticos, a liberdade, como um bem caro para a sociedade e por isso merecedor de tutela penal. 
Tal bem jurídico encontra-se no texto normativo do código penal de 1940, no Título VI, capítulo I “Dos crimes contra a liberdade sexual”, podendo ser conceituada como um direito de expressar e exercer sua sexualidade, de forma livre conforme seus motivos, no sentido de que pode optar pela prática ou não do ato desejado, escolher quando e com quem terá suas relações sexuais. Sobre o tema, Nélson Hungria frisa:
A disciplina jurídica da satisfação da libido ou apetite sexual reclama, como condição precípua, a faculdade de livre escolha ou livre convencimento nas relações sexuais. É o que a lei penal, segundo a rubrica do presente capítulo, denomina de liberdade sexual. É a liberdade de disposição do próprio corpo no tocante aos fins sexuais. A lesão desse bem ou interesse jurídico pode ocorrer mediante violência (física ou moral) ou mediante fraude (1954, p.102).
Compreende-se assim que para a convivência social é necessário o respeito ao outro, em todos os aspectos inclusive em suas vidas sexuais. Por isso, o Estado como responsável por assegurar os bens jurídicos, que vão desde a esfera patrimonial até a sexual, deve criar meios para proteção da dignidade sexual das pessoas, resguardando de violências, grave ameaças ou exploração. Desse modo, é oportuno conceituar o estupro e embora seja um conceito variável entre as culturas, o comum entre as definições é a prática de um agressor invadir o corpo de outrem, sem o seu consentimento. Atualmente, encontra-se definido no art. 213 do código penal que diz: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”
O que se entende por estupro hoje no Brasil, é todo e qualquer ato, seja por meio de coito anal, vaginal, oral ou o algum toque que venha a ofender e ameaçar a liberdade sexual de alguém, mas devem-se atentar as novidades trazidas com o advento da Lei 12.015/12, conforme foi relatado no artigo ‘‘Novo tipo Penal de estupro: Formas típicas qualificadas e concurso de crimes’’:
Por sua vez, o novo tipo penal deve ser classificado como estupro comum, para distingui-lo da nova figura do estupro de pessoa vulnerável, devendo este ser visto como um tipo penal especialde estupro. O estupro comum apresenta-se em sua forma simples ou básica, nas formas típicas qualificadas pelo resultado prescritas nos parágrafos 1º e 2º, do art. 213, do CP. (LEAL; LEAL, 2012).
Além das mudanças descritas acima, anteriormente a lei n° 12.015/2009 o código penal, no art. 224, regulamentava a presunção de violência em relação aos menores de catorze anos, pessoas “alienadas” ou “débeis mentais” ou por quem não podia oferecer qualquer tipo de resistência. Este dispositivo trouxe muitos impasses, pois se começou a relativizar essa presunção de violência, levando a diversos questionamentos, como a relevância do consentimento da vítima para absolver o réu, assim como, seu histórico sexual.
 2 O CRIME DO ART. 217-A “ESTUPRO DE VULNERÁVEL” DECORRENTE DO ADVENTO DA LEI 12.015/2009 
Com o advento da lei n° 12.015/2009 houve a inclusão do tipo penal do art.217-A, denominado “Estupro de Vulnerável”. O dispositivo passou o enfoque para a dignidade sexual, e a exploração sexual de crianças e/ou adolescentes, independente de gêneros, diferente da redação anterior que estava em pauta apenas a sua liberdade sexual. Vale ressaltar que para a doutrina, vulnerável é aquele que de forma absoluta não tem discernimento suficiente para consentir com os atos. 
O Núcleo desse tipo penal está no verbo constranger, coagir ou obrigar a qualquer pessoa que com ela se pratique conjunção carnal ou atos libidinosos. A ação penal é pública incondicionada (Capez, 2014). Por Violência entende-se o emprego da força física. A grave ameaça é a iminente possibilidade de praticar o mal, seja físico ou psíquico, contra outrem. 
A conjunção carnal é a relação sexual entre homem e mulher. De acordo com Alberto Jorge Testa Woelfert “é a cópula pênis-vagina e tão somente esta. As outras cópulas não caracterizam conjunção carnal. Há necessidade de penetração”. Já ato libidinoso é tudo aquilo diverso da conjunção carnal. É toda conduta capaz de satisfazer a vontade sexual do sujeito ativo. Segundo Grecco, na expressão “outros atos libidinosos” estão contidos todos os atos de natureza sexual, que não a conjunção carnal, que tenha por finalidade satisfazer a libido do agente (GRECCO, 2011). 
Com as mudanças a Lei tem o menor de 14 anos como um vulnerável absoluto no caput do artigo 217-A onde não se exclui o crime se a vítima for do gênero masculino ou pelo seu histórico sexual. Assim sendo a vítima poderá ter sua vulnerabilidade em duas modalidades: absolutamente ou relativamente.  Segundo Nucci, “atenta-se para os termos de presunção de vulnerabilidade quando for absoluta, não há como se fazer prova ao contrário; já a presunção de relativa admite provar em contrário, logo, o acusado terá direito à defesa” (NUCCI, 2013). Para os adeptos da vulnerabilidade relativa é cabível analisar o histórico de vida da vítima, bem como a intenção do acusado. A respeito disso ocorreram divergências entre tribunais estaduais e o Supremo Tribunal de Justiça. Uma juíza do Tribunal Goiás absolveu o réu acusado de estupro de vulnerável, segundo ela a vítima já não era uma incapaz absoluta, tendo em vista que já se relacionou afetivamente com outros homens e consentia os atos. Como se pode constatar o histórico afetivo da vítima parece ser legítimo sempre que há de se justificar os atos de um réu. No entanto é importante frisar as idades, e que o fator de idade mínima para ter relações afetivas e sexuais tem um propósito, a vulnerabilidade do impúbere. Com isso tem-se um trecho da explicação da Juíza Placidina Pires: 
De fato, numa sociedade moderna, com o amadurecimento precoce dos jovens, resultante do maior acesso às informações de massa e ao conhecimento, inclusive de temas relacionados à sexualidade, que não são mais vistos como tabu, não se mostra razoável desconsiderar as particularidades de cada caso concreto, e partir de uma premissa absoluta de que o menor de 14 anos, tão somente em função de sua idade cronológica, não possui capacidade suficiente para consentir com a prática do ato sexual (PIRES, 2016). 
Esse julgado é contrário ao informativo 568 expedido pelo Superior Tribunal de Justiça, que teve como intenção a pacificação entre tribunais estaduais, onde estava sendo comuns decisões em que o réu, acusado de estupro de vulnerável, estava sendo absolvido com base em análises meramente subjetivas, como o passado sexual da vítima ou a intenção do próprio réu sobre os atos praticados contra o impúbere. No entendimento do STJ as experiências sexuais da vítima não constitui motivo para absolver o réu. 
Em virtude da alteração no Código Penal trazida pela Lei nº. 12.015/09 a corrente da presunção absoluta teve seus pontos de vista fortalecidos pelo legislador, pois este ao criar o novo tipo penal denominado estupro de vulnerável e revogar o art. 224-A prezou pela objetividade ao determinar no caput do art. 217-A que o sujeito passivo é o menor de 14 anos, não fazendo referência ao histórico de vida sexual da vítima, nem qualquer outra análise subjetiva que possa vir a absolver o réu.
Feitas as principais observações acerca do tema, o próximo estágio desse trabalho é analisar decisões judiciais sobre a temática. Esse momento é de suma importância tendo em vista que os julgados fixam uma linha de interpretação do texto penal, pois é o momento de aplicação da lei penal aos casos concretos. 
3. O STJ E A CARACERIZAÇAO DO CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL SEM CONTATO FÍSICO ENTRE AUTOR E VÍTIMA
Antes de tudo, é importante explicar que a jurisprudência é de suma valia no ordenamento jurídico brasileiro, tendo em vista que em países referentes à tradição romano-germânica, como é o caso do Brasil, essa é uma fonte secundária do direito que tem o poder de influenciar decisões judiciais futuras. Pode ser conceituada nas palavras de Diniz, como o conjunto de decisões uniformes e constantes dos tribunais, resultante da aplicação de normas a casos semelhantes, constituindo uma norma geral aplicável a todas as hipóteses similares ou idênticas. É o conjunto de normas emanadas dos juízes em sua atividade jurisdicional (Diniz, 1993).
	Nesse sentido, o capítulo visa mostrar decisões do Superior Tribunal de Justiça - STJ, sendo este a última instância da justiça brasileira para julgar casos infraconstitucionais, objetivando analisar controvérsias nas decisões relativas aos casos de estupro de vulnerável, onde a comunidade jurídica por vezes é surpreendida com decisões relativas a crimes sexuais praticados contra crianças e adolescentes que revelam uma tendência a absolvição dos acusados.
A variabilidade de decisões judiciais acerca desse tema ainda hoje é constante, pois há a necessidade de tribunais superiores voltarem à questão devido ao grande número de ocorrências. Esse número chega perto dos 537 mil estupros por ano, no Brasil, segundo levantamento Estupro no Brasil: Uma radiografia segundo os dados da Saúde, do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (IPEA). No entanto, o crime é um dos menos denunciados no país, uma estimativa de que apenas 10% dos casos cheguem à polícia, ou seja, 90% nem sequer são investigados. Contudo, os que chegaram a ser notificados em 2011 mostram que mais da metade tinha menos de 13 anos de idade (IPEA, 2014).
Os cumpridores da lei deveriam ser os responsáveis por dar mais tranquilidade aos ofendidos. Mas na prática o que se constata é que a maioria se sente constrangida com a forma como são abordados pelos agentes do Estado. Isso mostra que os órgãos de Justiça e seus complementares, bem como a sociedade, por vezes estão sendo falhos no cumprimento de seu papel. O qual, segundo o artigo 227 da Constituição de 1988 é o dever de se movimentar para assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, diversos direitos, entre eles o da dignidade, além de serem responsáveis por garantir que não sejam alvos de discriminação, exploração, violência ou crueldade.  
Nesse momento, faz-se importante ver uma decisão de 2014 que faz menção à palavra da vítima, onde nesse julgado recorrido ao STJ o réu foi absolvidopela ausência de provas. Não é de se estranhar que "os fatos eram nebulosos", pois o agente levou a vítima para um lugar ermo onde não se poderia ter prova testemunhal. Os ministros concordaram que a palavra da vítima é importante quando não se há outros meios de provas, mas ainda sim o recurso especial foi julgado improcedente mostrando que somente a palavra da vítima não tem força de incriminação. Vejamos:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. ABSOLVIÇÃO EM SEDE DE APELAÇÃO. RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA. EXAME APROFUNDADO DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. 1 - Em delitos sexuais, normalmente praticados na clandestinidade e sem testemunhas presenciais, a palavra da vítima é de extrema relevância, desde que corroborados pelos demais elementos probatórios. 2 - O acórdão absolutório destacou que "os fatos afiguram-se nebulosos", que "a prova é frágil", que "inexiste a requestada prova inconcussa para edição de sentença de natureza condenatória" e que "o toque sobre a roupa na parte pudica da ofendida até pode ser ocorrido, mas, nas circunstâncias, não se pode dizer que se deu com o escopo de desafogar a lascívia". 3 - Concluindo a instância ordinária, soberana na análise das circunstâncias fáticas da causa, em absolver o recorrido, o enfrentamento dessa conclusão exigiria revolvimento aprofundado da prova, vedado em recurso especial, a teor da Súmula n. 7 do STJ. 4 - Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no REsp: 1360940 SP 2013/0008364-1, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 04/09/2014,  T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/09/2014)
Nota-se ainda, que o réu foi absolvido também pelo entendimento do ministro Neri Cordeiro de que o toque sobre a roupa da criança não se deu com o intuito de desafogar lascívia, mesmo sendo na parte íntima e no momento em que não tinha ninguém por perto, circunstâncias que por si só não configura o delito. Sobre esse assunto, posteriormente, no ano de 2015 foi julgado o seguinte: 
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DECISÃO MONOCRÁTICA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. ESTUPRO DE VULNERÁVEL CONSUMADO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. FATOS INCONTROVERSOS NOS AUTOS. DESCLASSIFICAÇÃO PARA FORMA TENTADA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
- Não viola o princípio da colegialidade a apreciação unipessoal, pelo relator, do mérito do recurso especial quando obedecidos todos os requisitos para a sua admissibilidade, bem como observada a jurisprudência dominante desta Corte Superior e do Supremo Tribunal Federal. - Encontra-se consolidado, no Superior Tribunal de Justiça - STJ, o entendimento de que "o ato libidinoso diverso da conjunção carnal, que caracteriza o delito tipificado no revogado art. 214 do Código Penal, inclui toda ação atentatória contra o pudor praticada com o propósito lascivo, seja sucedâneo da conjunção carnal ou não, evidenciando-se com o contato físico entre o agente e a vítima durante o apontado ato voluptuoso" (ut, AgRg no REsp 1.154.806/RS, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, DJe de 21/03/2012).
- Impossibilidade de desclassificação do delito para a forma tentada, sob o argumento de menor lesividade da conduta, como procedeu o acórdão recorrido de modo contrário ao entendimento desta Corte Superior, não sendo o caso de reexame fático-probatório. Agravo regimental desprovido.
Observa-se que a sexta turma entende nesse julgado, como em outros, que o contato físico é importante para evidenciar e assim configurar o artigo 217-A do Código Penal brasileiro. Eis que surgiu uma decisão excepcional em 2015 tomada pela quinta turma do STJ, onde se discute algo inovador: a relevância do contato físico em crimes de estupro de vulnerável. Essa decisão é de extrema importância, pois pode vir a pacificar todos os tribunais estaduais em julgados do artigo 217-A. Vejamos a ementa: 
DIREITO PENAL. DESNECESSIDADE DE CONTATO FÍSICO PARA DEFLAGRAÇÃO DE AÇÃO PENAL POR CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL.
A conduta de contemplar lascivamente, sem contato físico, mediante pagamento, menor de 14 anos desnuda em motel pode permitir a deflagração da ação penal para a apuração do delito de estupro de vulnerável. A maior parte da doutrina penalista pátria orienta no sentido de que a contemplação lasciva configura o ato libidinoso constitutivo dos tipos dos arts. 213 e 217-A do CP, sendo irrelevante, para a consumação dos delitos, que haja contato físico entre ofensor e ofendido. No caso, cumpre ainda ressaltar que o delito imputado encontra-se em capítulo inserto no Título VI do CP, que tutela a dignidade sexual. Com efeito, a dignidade sexual não se ofende somente com lesões de natureza física. A maior ou menor gravidade do ato libidinoso praticado, em decorrência a adição de lesões físicas ao transtorno psíquico que a conduta supostamente praticada enseja na vítima, constitui matéria afeta à dosimetria da pena. (RHC 70.976-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik)
Os ministros da quinta turma demonstram um interesse na questão psicológica. A respeito disso há evidências de que o estuprador por vezes sente prazer na situação da qual a vítima está vulneravelmente exposta. A adrenalina, os sentimentos de submissão da vítima como medo, vergonha e negação também satisfazem a libido do agente ativo nos crimes contra a dignidade sexual. É um dever Constitucional que a sociedade tem em proteger as crianças e adolescente, possivelmente pensando em como os abusos sexuais afetam a psique e formação de um impúbere que o Superior Tribunal de Justiça decidiu por dar uma sentença mais severa aqueles que usam os menores para atingir seus objetivos. Vejamos alguns comentários feitos pelos ministros do Supremo Tribunal de Justiça. Para o ministro Ribeiro Dantas a situação denunciada pelo Ministério Público preenche os requisitos da legislação brasileira em seu artigo 217-A do código penal. O mesmo ministro também expõe que é indispensável não considerar que a vítima sofreu abalos emocionais. O ministro Jorge Mussi, embora ache que a situação é delicada e deve-se refletir se o contato físico é relevante ou não e diz que a denúncia apresentada pelo Ministério Público é válida e suficiente.
Essa decisão excepcional da qual originou este artigo foi fruto de um processo tramitado em segredo de justiça, o qual o acusado submeteu criança a tirar a roupa para contemplar o corpo da jovem mediante pagamento. Vale ressaltar que o elemento subjetivo é o animus do agente de praticar a conduta. Se a vontade de agente era satisfazer sua lascívia contemplando jovem nua, não há que se falar em absolvição do acusado, pois esse caso não poderia ser mais um dos que caem na esfera da impunidade.  
 CONCLUSÃO
Nesse processo, buscou-se demonstrar que o estupro é um crime reprovável e de grande gravidade principalmente quando se trata de pessoas vulneráveis. Para isso, foi demonstrada a ocorrência de casos em que não há a violência física, mas há inegável violência psíquica dos vulneráveis, que são chamados assim pelo fato de ainda não possuírem discernimento suficiente para decidir sobre atos relacionados à suas vidas sexuais e por isso devem ser protegidas pela lei e pela sociedade.
Nesse cenário, dois grandes problemas são constatados, a desproteção dos menores que estão sendo vitimas dessa modalidade de satisfação da libido e o número crescente de ocorrências, tendo em vista que a impunidade incentiva a pratica do crime. Por isso, destacou-se uma decisão excepcional onde o STJ julgou um caso concreto e decidiu que não há que se exigir, necessariamente, o contato físico entre agente e vítima para que o crime de Estupro de Vulnerável se configure. Ademais, essa decisão inovadora pode vim a pacificar que para agente ativo ser enquadrado no artigo 217-A do código penal o contato físico não será um fator dispensável, nem abolido, mas caminha-se para deixar de ser um fator decisivo. Assim, este artigo tem a finalidade, não de defender que em todos os casos o crime seja enquadro no estupro, mas sim que hajapunição justa nas vezes em que dignidade sexual do menor for atingida de maneira inquestionável. Com isso, objetiva-se uma punição correta usando o princípio da proporcionalidade, já que este obriga ao intérprete que faça uma valoração, como o próprio nome determina proporcional entre a gravidade da conduta, a lesão à vítima e às hipóteses abstratamente previstas em nossas leis. 
REFERÊNCIAS
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BOCHI Shirley B. B. e FIGUEIREDO, Karina. Violência sexual: Um fenômeno complexo. Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef, P.1-3. Diponivel em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/Cap_03.pdf>. Acesso em: 02/11/2016.
CAMARGO, Joaquim Augusto de. Direito penal brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Especial, Vol. VIII. 8°. Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.
Capez, Fernando. Curso de Processo Penal. p. 176. 19 edição, Editora Saraiva, 2014.
Comentários dos Ministros e advogado da decisão excepcional. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2016-ago-04/estupro-vulneravel-nao-exige-contato-entre-agressor-vitima>.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 5. Ed. São Paulo: Saraiva, 1993.
SILVA, Marco Antonio Marques da. Acesso à justiça penal e estado democrático de direito. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001, p.1.
HUNGRIA, Nélson, LACERDA, Romão côrtes de. Comentários ao código penal. Rio de Janeiro. Forense, 1954, v. VII, p.102.
GRECCO. Rogerio Grecco. Código Penal comentado. 5 edição. Editora Impetus, 2011.
_________. Levantamento Estupro no Brasil: Uma radiografia segundo os dados da Saúde, do Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea). <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/140327_notatecnicadiest11.pdf>. Acesso em: 28/10/2016
MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado, vol.3: parte especial. 6.ed. São Paulo: MÉTODO, 2016. 
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral : parte especial /Guilherme de Souza Nucci. – 9 ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2013.
LEAL, João José, LEAL, Rodrigo José. Novo tipo penal de estupro. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br:8080/portal/conteudo/novo-tipo-penal-de-estupro-formas-t%C3%ADpicas-qualificadas-e-concurso-de-crimes>. Acesso: 20/10/2016
STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL : AgRg no REsp 1360940 SP 2013/0008364-1. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25269592/agravo-regimental-no-recurso-especial-agrg-no-resp-1360940-sp-2013-0008364-1-stj>
PIRES, Placidina.  Juíza do Tribunal estadual de Goiás absolve réu de estupro de vulnerável. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2016-mar-05/juiza-goias-sexo-menina-13-anos-nao-estupro>
__________. Informativo 568. Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 26/8/2015, DJe 10/9/2015. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/>
WOELFERT, Alberto Testa. Introdução à medicina legal. 2º ed. Canoas: Ulbra, 2003, p. 94.

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