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LEONARDO DAVID HISTÓRIA DO DIREITO – PERÍODO JOANINO Pré Joanino A vida em Portugal era semelhante à vida no Brasil. Quem nascia no Brasil era, para todos os efeitos, português. Entretanto, havia regras especiais que só eram aplicadas no Brasil, embora os dois ambientes fossem regidos pelas mesmas leis. Tais regras especiais eram de cunho limitativo, na medida em que regulava a liberdade dos cidadãos que residiam no Brasil. Essas limitações eram intelectuais, industriais e comerciais. Limitações intelectuais: compreendiam uma série de regras evitando a difusão de ideias separatistas e sediciosas, pois Portugal tinha receio de que o Brasil se tornasse independente. Para isso, regulava a entrada de informações na colônia; havia uma lista de livros que eram proibidos no Brasil, mas eram de livre circulação em Portugal. Havia, também, a proibição da impressão de qualquer tipo de livro no Brasil: os livros só poderiam vir de Portugal e que estivessem legalmente permitidos na colônia. E mais ainda, se alguém tivesse a posse das máquinas de impressão, isso configuraria no crime de lesa à majestade, pois só poderia imprimir em Portugal. Havia, também, a proibição de instalações do ensino superior no Brasil (ensino fundamental era permitido), pois esta só era possível em Portugal, a qual tinha a Universidade de Coimbra. Isso contribuiu para a difusão das ideias sediciosas no Brasil, pois os pais mandavam seus filhos para estudar na Europa, os quais tomavam conhecimento dos livros proibidos no Brasil. Isso explica as muitas revoltas ocorridas no Brasil com a presença das elites. Limitações industriais: no Brasil só poderia produzir produtos in natura; não era permitido nenhum tipo de manufatura na colônia. Limitações comerciais: impediam o livre comércio entre o Brasil e Portugal. O Brasil só importava para Portugal e só exportava para Portugal, num monopólio de exclusividade. Isto só poderia ser quebrado mediante permissão do Rei. Contudo, havia comércio de escravos entre Brasil e África. Nesse contexto, existiam reinos africanos com moedas, exércitos, conflitos geopolíticos, limitações geográficas, etc. Os povos africanos também costumavam escravizar seus inimigos da guerra. Os portugueses não os seqüestravam, como se é pensado, mas havia um comércio regular escravista assinado, por meio de tratados, com alguns reinos africanos que eram aliados de Portugal. *Essas limitações eram ditas como Pacto Colonial nas escolas. Período Joanino Tudo muda após a chegada da Família Real ao Brasil. Este não havia sido pensado para sediar a Coroa, nem tampouco a Coroa trouxe em sua bagagem um direito pronto para ingressar no Brasil. A construção deste iria se iniciar com a sua chegada em período marcado pela aceleração legislativa. Como, por exemplo, de imediato foi decretado a abertura dos portos, mediante a Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, pondo fim às limitações que antes eram impostas na colônia. Com o fim das limitações, a Família Real mandou criar a escola de cirurgia da Bahia, dando origem à primeira Faculdade de Medicina do Brasil. As impressões passaram a ser permitidas, entretanto havia ainda uma censura prévia antes da impressão, onde era LEONARDO DAVID necessário ter três licenças. Com o Alvará de 1º de abril de 1808, o Rei passou a estimular as iniciativas manufatureiras e industriais. Para isso, havia a política de exclusividade para compensar os investimentos: em um raio determinado ninguém podia criar uma indústria igual para não haver concorrência. A transferência da Corte ao Brasil impôs, ainda, a reprodução das velhas estruturas da metrópole, resultando em melhorias físicas, como, por exemplo, o calçamento das ruas, a iluminação pública e melhorias sanitárias. Foram feitas as grandes construções coloniais, custeadas pelos colonos. Constituição de 1824 Primeira constituição do Brasil, outorgada, dotava de contradições, visto que manteve elementos conservadores do período joanino com o incremento da modernidade. Para dizer que foi de caráter democrático, o Rei enviou o projeto às Câmaras, entretanto muitas reprovaram, o que caracterizou a imposição da Constituição. Art. 1: consolida a independência rebatendo possíveis conflitos posteriores com a Coroa. Esse artigo dava uma segurança aos cidadãos, visto que Pedro era o príncipe herdeiro de Portugal e imperador do Brasil, mas mesmo assumindo as duas coras, ele não poderia uni-las. Art. 3: qualificação da forma de governo no Brasil. Era monárquico, hereditário, constitucional e representativo. Monárquico, pois havia um monarca com qualidade distinta dos demais súditos, diferente da república; hereditário, pois a monarquia era passada para os primogênitos (nem toda monarquia é hereditária, visto que havia reinos eleitoreiros, vulgo os visigodos); constitucional, pois o soberano tem seus poderes limitados pela Constituição (oposto ao absolutismo); e representativo, pois o povo se faz representar em órgãos políticos (Câmara dos Deputados e Senado Federal). Essa foi a primeira fez que o povo teve o poder de legislar. Art. 4: indicação de qual seria a Família Real do Brasil, ou seja, qual será a família que herdará o trono. Art. 5: religião católica apostólica romana será a religião oficial do império. Ou seja, ela será oficial, mas as outras religiões serão permitidas em culto doméstico. Não é uma liberdade religiosa plena, pois eram proibidas manifestações das outras religiões publicamente. Entretanto, no período joanino, a religião católica era obrigatória, não dando espaço para as outras nem em culto doméstico. Art. 6: inventou a nacionalidade brasileira. “Jus sanguinis”, era o critério de sangue e o critério territorial, onde até hoje serve de critérios de nacionalidade. Antes quem nascia no Brasil era português. Iniciso I: tanto ingênuos quanto libertos eram cidadãos brasileiros; escravos não eram cidadãos. Inciso IV: cidadãos nascidos em Portugal ou colônias poderiam se converter à brasileiro desde que não tivesse lutado contra a independência. LEONARDO DAVID Art. 10: Brasil separado em Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador. O moderador não controlava todos os poderes, ele tinha limitações e a sua interferência nos outros três poderes só se dava por leis expressas na Constituição e, mesmo assim, pouco significativas. Art. 11 e 12: diz que o poder emana do povo. Pela primeira vez não vem de Deus e nem dos nobres. O art. 11 dizia que a Assembléia Geral representa a Nação e o art. 12 dizia que os poderes no império são delegações da Nação. Art. 13: o poder moderador poderia sancionar as leis do Legislativo. Art. 14: Assembléia Geral é um órgão bicameral (Câmara e Senado). Art. 15: atribuições da Assembléia Geral. Inciso VIII: tem a função de fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revogá-las. Tem a influência da França no Direito Brasileiro. Na prática, a Assembléia recusou a interpretação das leis, pois achava perda de tempo, cabendo ao Poder Executivo essa tarefa – inicialmente o imperador, posteriormente o parlamento. *ASSEMBLEIA GERAL: Composta pela Câmara dos Deputados, que tem deputados com cargos temporários, com mandatos de 4 anos, ou seja, grande rotatividade; e pelo Senado, que é uma câmara permanente com membros vitalícios, tornando um órgão mais estável. Dessa forma, tem maior prudência para dirigir a política. Família Real Não é exagerado supor que a história do direito brasileiro e a sua política seguiriam caminhos diferentes se a Família Real não viesse para as terras brasileiras. O seu período de estadia no Brasil foi dividido em duas épocas: antesde 1815 e depois de 1815. Antes de 1815 havia uma aceleração legislativa; predominância do direito público. A Família Real não trouxe um direito pronto para o Brasil em sua bagagem. A construção deste iria se iniciar com a sua chegada. De imediato, decretou a abertura dos portos, com a Carta Régia de 1808, que caracterizou a quebra do “pacto colonial” com Portugal. Decretou, ainda, a liberdade para indústrias nascentes, mediante o alvará de 1º de abril de 1808. A transferência da corte para o Brasil impôs a reprodução no Brasil das velhas estruturas da metrópole. Foi decretado a arrecadação de impostos de maneira geral e uniforme a todos os prédios urbanos situados ou não a beira mar. Geral, porque todos os súditos deveriam pagar sem distinção de classe, ordem ou raça; uniforme, pois estabelecia um critério idêntico a todos. Após 1815 houve o furor legislativo; a tentativa de aprimorar múltiplos setores do ordenamento jurídico. Sistema Eleitoral do Império O sistema eleitoral do império, regulado a partir do artigo 90 da Constituição, mostra uma eleição com caráter restritivo e censitário. Nesses artigos, a Constituição aborda que as LEONARDO DAVID eleições de deputados e senadores serão indiretas, no qual primeiro elege-se os eleitores de província, por meio da Assembleia Paroquial, da qual podem participar todos os cidadãos com direito a voto. Em seguida, esses eleitos votarão nos deputados e senadores. Além disso, os artigos e os seus incisos fazem restrições para a votação na Assembleia Paroquial (primária), como, por exemplo, menores de 25 anos, exceto bacharéis, religiosos, casados e militares (estes acima de 21 anos) não poderão votar, bem como os filhos famílias (todos os demais membros da família, como, por exemplo, esposa, irmãos que dependem economicamente do pater, filhos, etc.) também não poderão votar. Para finalizar, criados, religiosos que vivem em comunidades claustrais e indivíduos com renda menor que 100 mil reis anuais também eram vetados do voto na Assembleia Primária. Além das restrições ao voto, também havia restrições para se eleger aos cargos públicos. No caso dos eleitores de província, só podiam se eleger para esse cargo aqueles que podem votar nas eleições primárias, com exceção dos que possuem renda menor que 200 mil réis anuais, os libertos e os criminosos pronunciados em querelas e devassas. (Querélas por uma única pessoa, devassas por várias pessoas. Ex: inconfidência mineira). Para ser deputado, por sua vez, tinha que ter todas as características de um eleitor e, ainda, uma renda de 400 mil réis anuais. Vale ressaltar que estrangeiros naturalizados e não católicos não podiam valer-se deste cargo. Por fim, para ser senador, era necessário ser cidadão brasileiro, ter uma idade mínima de 40 anos e é preferível já ter feito serviços à pátria. Além disso, era necessário ter uma renda de pelo menos 800 mil réis anuais. *Os libertos, em regra, podiam se candidatar, mas normalmente seguia-se uma “escada política”, na qual os libertos eram vetados. Ou seja, dificilmente alguém conseguia se candidatar diretamente para senador. Poder Moderador Para começar, é preciso dizer que o poder moderador não foi ideia de Pedro. Foi uma criação de Beijamin, o qual designou de “poder real”, com o intuito de apaziguar a disputa entre os três poderes. Alguns artigos da Constituição tratavam do Poder Moderador. Neles estavam escrito que este poder é a chave da organização política, do equilíbrio entre os demais poderes. Dizia, também, que o imperador não está sujeito a responsabilidade alguma, caracterizando como um resquício do absolutismo e conservadorismo. Entretanto, vale ressaltar que a própria Constituição limita o poder do moderador e, sendo assim, ele não tem todo o poder que costuma-se achar que tem. Sendo assim, existiam hipóteses em que o moderador poderia interferir nos três poderes, como, por exemplo: - Nomeando os senadores (interferindo o Legislativo) - Convocando a Assembleia Geral excepcionalmente (interferindo o Legislativo) LEONARDO DAVID - Sancionando os decretos e resoluções da AG (interferindo o Legislativo) - Aprovando e suspendendo interinamente as resoluções dos conselhos (interferindo o Legislativo) - Prorrogando ou adiando a AG e dissolvendo a Câmara dos Deputados (interferindo o Legislativo) - Nomeando os Ministros do Estado (interferindo o Executivo) - Suspendendo os magistrados nos casos do art. 154 (interferindo o Judiciário) - Perdoando e moderando as penas (interferindo o Judiciário) - Concedendo anistia (interferindo o Judiciário) Poder Executivo O artigo 102 diz que o imperador é o chefe do Poder Executivo. Nomeia o Bispo e os seus benefícios. Dessa forma, Pedro vai passar a controlar a Igreja. Além disso, nome, também, os magistrados. O artigo 151, por sua vez, diz que o Poder Judiciário é independente. A justiça era prerrogativa do Rei, entretanto a Constituição de 1824 criou a independência do Poder Judiciário, onde, de um modo geral, o imperador não podia interferir nas decisões judiciais. O júri surge no Brasil na Constituição de 1824 como uma ideia modernizadora. O júri decide o fato e o juiz aplica o direito no processo civil e criminal, entretanto no processo civil não existiu. O júri eram os eleitores. O mais baixo eleitor tinha 100 mil réis. *Normalmente pobres eram os réus. Apenas o Poder Judiciário poderia demitir os juízes. O artigo 158 trata das relações com tribunais que havia nas províncias. As relações da Bahia e do RJ continuaram a existir, mas foram criadas outras relações, como em MA, PE, SP, etc. Entretanto nem todas as províncias receberam relações. Estas, que não tinham relações, manda sua segunda instância para relações mais próximas. Para julgar as causas em segunda e última instância, havia, nas províncias do Império, as relações. Estas seriam tribunais de recurso, portanto, e o processo morreria lá. Entretanto, os artigos 163 e 164 dizem que há um Supremo Tribunal de Justiça. *Não há contradições entre essas regras: STJ não é um Tribunal de cúpula, visto que não julgavam em última instância os processos. Caracterizava-se apenas por um Tribunal de Cassação, no qual tem poder de anular a decisão recorrida e remeter o processo a um novo julgamento por outra relação. Isso acontecia em duas situações: por nulidade manifesta, onde o erro procedimental é tão grave para o regular andamento do processo que ele justifica a LEONARDO DAVID anulação da decisão recorrida e o procedimento de um novo julgamento; e por injustiça notória, onde há um erro grave e evidente na aplicação do direito. Pela primeira vez há no Brasil o princípio da legalidade expresso. Por meio do artigo 179, onde há a declaração de direitos individuais, os quais só se aplicam aos ingênuos e aos libertos. Esse artigo assegurava que a lei era a única fonte do direito, entretanto na prática não era assim. Houve o fim da censura com Portugal oficialmente. Modificação do direito imperial Criou-se, inicialmente, o Conselho de Estado, no qual era uma instituição muito importante para o funcionamento do império. Tinha como função aconselhar o imperador na utilização do seu poder moderador. O Conselho de Estado emitia um parecer prévio que antecedia a manifestação do imperador. Veja que é recomendação, mas não vinculava o imperador. Ou seja, o imperador não tinha a obrigação de seguir a recomendação do Conselho. Era formado por homens notáveis. Não precisam ser bacharéis em direito, mas normalmente já tinham uma presença política muito forte. O Conselho do Estado aconselhava o imperador nos“negócios graves da administração”, como, por exemplo, assuntos econômicos, políticas externas, etc. Atuava, também, nos procedimento de interpretação das leis. *A Assembleia Geral tinha mais o que fazer, do que ficar ajudando os juízes na interpretação das leis. Os juízes mandavam as suas dúvidas ao Ministério da Justiça, que pertence ao poder executivo. O Ministério, então, recebe as dúvidas e separa as que são realmente dúvidas de interpretação da lei. A partir daí, encaminhava-as ao Conselho de Estado. Este, por sua vez, produzia um parecer que fazia uma proposta de interpretação da lei, na qual era enviada ao imperador. O imperador, então, aprovava ou devolvia ao Conselho de Estado, em caso de discordância, para que o Conselho fizesse outra proposta. Em caso de aprovação, emitia-se um aviso que era encaminhado ao consulente (pessoa que enviou a dúvida), comunicando-o qual foi a interpretação dada à lei. *O problema desse procedimento é que várias vezes as mesmas dúvidas eram perguntadas por pessoas diferentes. Por isso, o MJ passou a publicar o resultado das consultas na coleção de leis do império, onde qualquer um tinha acesso. Transformações no direito penal no império Publicado em 1830, vai tratar de forma semelhante os indivíduos, não mais de acordo com a qualidade da pessoa. A linguagem vai ser formal e objetiva e não mais teatral como era antes. Aboliu as penas cruéis, embora houvesse penas que hoje seriam consideradas muito graves. Ex: existia a pena de morte. Para o direito criminal, os escravos eram pessoas, portanto o Código Penal abrangia-os, mas o senhor poderia punir os seus escravos a seu critério. LEONARDO DAVID *Código de Processo Criminal de 1832 veio para modernizar o direito criminal. Surgiu aí o Habeas Corpus, que é uma solicitação de exame da situação de liberdade do indivíduo, facilitando o acesso à justiça para qualquer pessoa, visto que é um documento informal, no qual pode ser confeccionado por qualquer pessoa, mesmo aquelas que não tenham técnicas jurídicas. Trouxe regras provisórias para o processo civil (27 artigos), enquanto não saía o novo código. Vale lembrar que o novo código civil só foi sair na república, no ano de 1916. Entretanto, a vida cível não foi regida apenas por estes 27 artigos, visto que foram criadas novas leis ao longo desse tempo.
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