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AULA INTERRUPÇÃO TERAPÊUTICA DE GRAVIDEZ DE FETO ANENCÉFALO INTRODUÇÃO O processo teve início em 2004, quando a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde ingressou com um pedido no Supremo Tribunal Federal para que fosse esclarecido se estes profissionais (médicos e enfermeiros) estariam ou não proibidos de efetuar a interrupção terapêutica de gravidez de feto anencéfalo sem incorrer nas sanções penais pertinentes ao aborto. A anencefalia é um tipo de má-formação do feto, que ocorre 1 vez a cada 1.600 gestações (em média), segundo a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, caracterizando-se pela ausência de hemisférios cerebrais em virtude de um defeito de fechamento de tubo neural, ocasionando que fique exposto o tecido neural restante. Os fetos que chegam a vir à luz não têm testa (nem ossos nem pele), nem a área do cérebro responsável pelo pensamento e pela coordenação motora, nunca chegando a ganhar consciência. A anencefalia distingue-se da meroencefalia e da acrania, que são situações graves, mas não extremas como esta objeto do estudo.1 Em 2008, o STF realizou uma audiência pública para discutir o assunto, onde se inscreveram e se manifestaram dezenas de entidades religiosas, científicas e outras voltadas para defesa dos direitos femininos. A ação foi decidida pelo Supremo Tribunal Federal em 2012, com a relatoria do Ministro Marco Aurélio, prevalecendo por 8 votos a 2 que a interrupção terapêutica de gravidez de feto anencefálico não é aborto, sendo possível se assim desejar a gestante. 2. FUNDAMENTOS DA DECISÃO A decisão dos ministros tratou do próprio conceito do que seja VIDA, e a quem cabe defini-la, para efeitos jurídicos: a religião, a medicina ou o próprio direito. 1 Informações extraídas das páginas 113 e 114 do livro “Nos Limites da Vida”, Editora Lumen Juris, 2007, coordenado por Daniel Sarmento e Flávia Piovesan, em capítulo escrito por Maíra Costa Fernandes A religião foi considerada inapta para definir o conceito de vida, por ser princípio elementar do Estado Brasileiro a laicidade deste Estado, ou seja, sua neutralidade em relação às diversas religiões livremente professadas em nosso território. Entendeu a maioria dos Ministros que as diversas concepções religiosas sobre o início da vida, embora tenham aspirações abrangentes de explicação dos fenômenos, não podem ser impostas às parcelas da população que delas não comungam, pois se trata de uma questão de fé, inerentemente fora do campo do que pode ser demonstrado objetivamente. Daí que a base adotada pelos Ministros foi a posição da comunidade científica, entendida como opiniões lastreadas em fatos que podem ser demonstrados objetivamente. Esta, em sua quase unanimidade durante a audiência pública (a exceção foi a presidente da Associação dos Médicos Espíritas2) fixou que o conceito científico de VIDA HUMANA é a presença de atividade cerebral no ser, inexistente no feto anencefálico, que nunca chega a ter qualquer atividade neurológica, ainda que respire fora do corpo da mãe. Destacam-se nos argumentos dois médicos (o primeiro ex-Ministro da Saúde e o outro ex-Secretário da Saúde do Estado de São Paulo) – José Temporão e Aristodemos Pinnotti – que garantiram a absoluta segurança do diagnóstico da anencefalia no SUS. Os votos contrários deram-se sob fundamentos bastante distintos. O Ministro Lewandowski concluiu que apenas o Congresso Nacional poderia decidir sobre o tema. Já o Ministro Cezar Peluzo não conseguiu distinguir a interrupção de gravidez de fetos anencéfalos de um aborto, considerando que também eles seriam destinatários da dignidade da pessoa humana. Para saber mais: 2 Associação que embora traga o nome de uma fé religiosa no nome tentou argumentar do ponto de vista científico, como pode ser conferido no relatório do Ministro Marco Aurélio. Depoimento de quem já viveu a gravidez de um anencéfalo, vídeo gravado pelo Médico Dráuzio Varella: http://www.youtube.com/watch?v=YmAPrY8DnGc
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