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FERNANDA HERBELLA ALGEMAS E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Fundamentos jurídicos do uso de algemas MESTRADO EM DIREITO UNIFIEO - Centro Universitário FIE0 Osasco-SP 2005 UNIFIEO - CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM DIREITO ALGEMAS E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Fundamentos jurídicos do uso de algemas FERNANDA HERBELLA Orientador: Prof. Dr.Paulo Salvador Frontini Dissertação apresentada a Banca Examinadora da UNIFIEO - Centro IJniversitário FIEO, para a obtenção do título de mestre em Direito, tendo como linha de pesquisa Direitos ~undarnentais em sua Dimensão Material e área de concentração Afirmação Histórica, Problematização e Atualidade dos Direitos Fundamentais. UNIFIEO - Centro Universitário FIEO Osasco - SP 2005 BPaN d x AMINADoRk Ao meu marido Roberto, amado companheiro, meu maior incentivador. Aos meus pais, responsáveis por tanto amor em meu coração Ao meu orientador, que com carinho, e dedicação esteve pronto a aconselhar. AGRADECIMENTOS Ao meu amigo, colega de mestrado, solidário 2s dores do cirduo trabalho policial, Marco Antonio Basso, minha gratidão. Aos meus colegas policiais, que com a pratica e experiência colaboraram para a realização deste trabalho, minha gratidão. "Mesmo que me tapem a boca, amarrem- me as mãos, acorrentem-me os pés. meu coração gritará por liberdade. y 9 (Inscrição deixada no monumento dedicado ao genocídio urmênio- Estação Arméniu do Metrô) RESUMO Em nossa abordagem partimos da história da humanidade, que há quatro mil anos já praticava a contenção das mãos humanas, para, através de minucioso estudo, apartarmos à atualidade das algemas. No mundo jurídico brasileiro, leis e normas, de alguma forma, regularam essa matéria até o tempo presente, em que apenas a Lei de Execução Penal, prevê, literalmente, o assunto. Trata-se, no entanto, de norma contida e carecedora de regulamentação. O Código de Processo Penal permite o uso da força, o que nos levou não só à análise da legislação brasileira, mas à busca de informaçties sobre as normas internacionais aplicáveis ao tema. Seu uso, pelo poder de polícia e demais poderes correlatos, deve se nortear pelos princípios da necessidade e proporcionalidade, para que não se viole o direito constitucionalmente grafado a imagem, coibindo-se, por todas as maneiras, os excessos que desse uso possam advir, haja vista que se o uso desnecessário e cruel das algemas é perpetrado, com ele algema-se além da liberdade a dignidade da pessoa humana e nesse sentido é concluído nosso trabalho. ABSTRACT Historically, mankind has been containing the hands for 4 thousand years. This was the point we have begun the research and have brought the history until nowadays. There are some Brazilian laws regarding the use of handcuffs. But nowadays, solely the punishment system legislation mentions literally the use of handcuffs, although it still needs another rule to regulate it. The Code of Criminal Procedure allows the use of the force so it was the reason we analysed not only the brazilian legislation but also the international rules related to the subject. When the Police use the handcuffs following the principles of the proporcionality and necessity, the police power is practiced. But it is not allowed to violate the constitutional law of the image, e.g., and the abuses must be avoid. When handcuffs are unnecessary and cruelly used, one's liberty and dignity are handcuffed as well. Our study makes sense in this way, as this use of handcuffs should not be allowed by the State. ................................ I . EVOLUÇÃO HIST~RICA DAS ALGEMAS 05 1 Etimologia ................................................................................ 05 . . . 2 Algemas na Histona ..................................................................... 08 2.1 Origem ............................................................................... O8 ....................................................... 2.2 Evolução e suas espécies 12 ......................................... . 11 ALGEMAS NO SISTEMA JUR~DICO 22 . . . ................................................................... 1 Histonco Legislativo 22 ..................................... 2 Da previsão legal no Sistema Brasileiro 35 ............................................... 2.1 Do Código de Processo Penal 35 2.1.1 Da busca pessoal ......................................................... 43 2.1.2 Da Condução Coercitiva ............................................ 45 ....................... 2.1.3 Lei 9.099195 e a prisão em flagrante 47 2.2 Do Código de Processo Penal Militar .................................. 53 ... 3.3 Da Lei de Execução Penal - Lei no 7.2 10, de 1 1.07.1984 60 ...................................................... 2.3.1 Dos projetos de lei 63 ........................... 2.4 Do Estatuto da Criança e do Adolescente 68 2.5 Da Lei de Segurança da Agua e do Ar ............................... 70 2.6 Do Decreto Estadual Paulista - Decreto no 1 9.903 de 3 011 01 1 950 ....................................... 72 ............................ 2.6.1 Da Resolução SSP 4 1, de 02.05.83 78 2.6.2 Da Lei Orgânica . da Polícia Civil e Portaria DGP 28 de 19.10.94 ................................. 78 ............................ 2.7 Da Resolução SAP-026, de 04.05.2001 79 ....................... 2.8 Regras Mínimas para Tratamento de Presos 81 ..................... 111 . O USO DE ALGEMAS E SUA PROBLEMÁTICA 85 1 Do direito à imagem ................................................................. 85 ............................................... 2 Da integridade física e da tortura 95 3 Das algemas no tribunal do júri e em audiências ...................... 104 4 Do abuso de autoridade e do constrangimento ilegal ............... 109 ......... IV . FUNDAMENTOS JURÍDICOS'DO USO DE ALGEMAS 118 1 Do poder de policia ................................................................... 118 ................... 2 Do uso de algemas e dignidade da pessoa humana 126 A falta de legislação e conseqüentemente a doutrina a respeito do tema nos fazem refletir e nos motivam a detalhar o uso de algemas no sistema brasileiro. A escolha do tema e sua relevante repercussão no âmbito do direito pátrio, em que ainda há lacunas a serem preenchidas, de forma a atender os princípios constitucionais vigentes no âmbito da dignidade humana, reveste- se de vital importância, e por vezes conflita, fiente aos altos índices de periculosidade, decorrente da violência local e global em expansão, tornando, ainda, mais necessário o estudo acurado da matéria, por todos os estudiosos e operadores do direito, entre os quais nos incluímos. Para tanto, valemo-nos do método de pesquisa científica, coletando e sistematizando todas as informações jurídicas e sociais necessárias ao embasamento do assunto, que permitam a necessária reflexão sobre o uso das algemas, e suas implicações nas figuras relacionadas à função, tema, este, decorrente da irrewvel situação fatica atual, que expande, para além das fronteiras nacionais, conceitos, princípios e direitos que tendem a vigorar de maneira unívoca, na tentativa de uniformização entre povos e países. Tratamos da evolução histórica, ressaltando que as algemas já estavam presentes e eram usadas pela humanidade há quatro mil anos. O destino e finalidades para o seu uso divergiam, e nossa abordagem indica que se para alguns era meio de condução a sacrificios, de empreender tortura, para outros era a grilheta, validada até os dias atuais, destinada ao necessário ato de precaver, na condução e transporte de criminosos. Verificamos que, no dia a dia, fomos e estamos expostos, em razão do exercício do trabalho policial, a situações que merecem profunda reflexão acerca do algemamento de conduzidos i Delegacia de Polícia. Dúvidas, e por vezes questionarnentos, surgiram, colocando-nos em situapões de dificil solução a merecer urgência na decisão coerente, motivando-nos a pensar e a dissertar sobre o tema. Constatamos que, quando da fonnaç50 de um policial, seja ele civil, militar ou federal, muito se aprende em relação a como se algemar. Constatamos, ainda, que matérias de policiamento especializado e de táticas policiais despendem horas nos cursos de fonnaçfio para demonstrar a forma cometa e segura de se algemar, porém, de forma insuficiente e lecionado quando se algemar, podendo, assim, por completo desconhecimento do direito, haver irreparáveis abusos no momento em que se aprisiona e oprime qualquer ser humano. Em nosso estudo apuramos que o estatuto processual, em nenhum de seus artigos faz referência expressa A palavra algema, reservando-nos apenas dois artigos que justificam o seu uso. A Lei de Execução Penal, portanto, é a única lei de âmbito nacional que prevê, expressamente, o uso de algemas, mas até hoje carece de regulamentação por projeto de lei, em trâmite. No Estado de São Paulo, o Decreto no 19.903, de 30 de outubro de 1950, regulou de certa forma o uso de algemas. Nosso estudo abrangeu, com mais afinco, as normas que de alguma forma se referem ao tema e principalmente i problemática em relação ao uso das algemas. O confronto existente entre o poder de polícia, a lei processual e os abusos que podem ocorrer em relação à imagem da pessoa, quando exposta algemada, a integridade flsica e por fim o constrangimento ilegal e o abuso de autoridade, que podem sobrevir ao -ato de algemar, foram temas detalhados no presente trabalho. Uma das preocupações pertinentes foi a assertiva de ocorrência de violação ao principio da dignidade da pessoa humana, quando do uso desnecessário das algemas. Finalmente, por entendermos que a dignidade não pode mais ser aviltada pelo poder estatal, quando se enfatiza em nível mundial o respeito aos direitos da pessoa humana, tomando inaceitável a conduta abusiva fundada no aspecto negativo do poder de mando, concluímos nosso trabalho nesse sentido. CAPITULO I EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS ALGEMAS O presente capítulo visa demonstrar a etimologia da palavra algema, e de suas variantes, da qual é possível se depreender verdadeiro uso do instrumento tão só pelo seu significado literal. Demonstra, ainda, a origem daquele instrumento, a razão de sua criação e sua evolução de uso, que deixou de ter significados anteriormente atribuídos, bem como sua própria evolução estrutural e material. 1 Etimologia Manietar deriva do latim manus atar, ou prender as mãos. 1 O nome grilhões vem do espanhol grillos. Grilhetas é um diminutivo de grilhões. I Otavio A. P. de Queiroz. Dicionario Latim Português, p. 240. Já algema vem do árabe al-jèmme ou al-jemrna 2, que significa pulseira, sendo uma herança da ocupação árabe da Península ~bérica.' O termo tornou-se comum a partir do século XVI ', embora grilhaes, ou simplesmente ferros, fossem também fiequentemente usados. Hoje 6 o termo mais usado e sempre no plural, já que visa conter as duas mãos e nesse sentido define o Dicionário Aurélio: - "Algema: cada uma de um par de argolas metálicas, com-fechaduras, e ligadas entre si. us. para prender alguém pelo pulso. (Mais us. No plural.)." Embora se possa usar grilhões ou algemas indiferentemente, a figuração de cada termo diverge. Pelos valores culturais a elas agregados, com base real em seu uso, os grilhões incorporaram uma imagem negativa de punição e suplício, ausente nas algemas, já que eram mais usados especificamente nos tornozelos. Para alguns, os grilhões eram usados para jungir os presos pelos tornozelos. 5 2 Francisco da Silveira Bueno. Grande Dicionário Etimológico, p. 166. Revista Carta Capital On Line . Disponível na Internete em 01.02.2005. .<hao://www.ibg£org.br/index.~h~?data%5Bid secao%5D=lO&data%SBid materia%5D=245> Sergio Marcos de Moraes ~itombo. Emprego de algemas, p. 275. 5 Padre Antonio Vieira. Sermão de S.Pedro, Nolasco, pregado na cidade de São Luk do Maranhão, in Sermões. V. IID04. Lisboa. Miguel Deslandes. 16826 22 1 apud Sergio Marcos de Moraes Pitombo. Emprego de algemas, p. 275. Padre Antonio Vieira bem -mostra a específica usança dos ferros: "resgatam-nos com os seus próprios ferros, passando as algemas às suas mãos e os grilhões a seus pés (...)". (grifos nossos) A própria palavra cadeia vem de catena, que significa corrente em latim.' Do dicionário Aurélio, tem-se por sinônimo a "sucessão de anéis ou de elos de metal ligadas uns aos outros; corrente, grilhta". Bepreende-se que, na verdade, todos os termos são sinônimos. Em inglês usa-se o termo handcufs para as algemas e leg irons ou leg cufs para as peças destinadas a jungir os tornozelos de presos. O nome handcufl vem do antigo anglo-saxáo hand cop 8 , que significa prender as mãos. Dai também surgem os termos que designam Policiais, cop nos EUA e copper no Reino Unido. 6 Ibidem. 7 Otavio A. P. de Queiroz. Dicionário Latim Português, p.46. 8 Disponível em <htto://www.handcuffs.orrr/strand 1894>, acesso dia 23.12.2004. The word "handcuff' is a popular comption of the Anglo-Saxon "handcop," i.e., that which "cops" or catches" the hands". 2 Algemas na História 2.1 Origem A prática de se limitar os movimentos de alguém através da contenção de suas mãos e de seus pés perde-se nas brumas do tempo. Relevos mesopotâmios já mostravam, 4.000 anos atrás, prisioneiros com mãos atada^.^ Uma cultura totalmente separada, pré-incaica, de 100 a 700 d.C, deixou extensa arte, especialmente em cerâmica, mostrando indivíduos com as mãos amarradas as costas. ' O Nesse caso, o objetivo parece ter sido o de preparar vitimas para sacrifícios rituais. Por boa parte da História registrada foi mais comum o uso de cordas ou couros para tal função, pois metais eram raros e caros. Era, portanto, mais conveniente usá-los em armas ou ferramentas diversas do que em simples imobilizadores. << . . 1 e <httI>://www.earth-histow.com/Sumer/sumer-dumuzid-&eam.htm - acessados em 12.12.2004. Samuel Noah Kramer. Mesopotâmia: o berço da civilização. URNS. Edward McNall. História da Civilizaçtio Ocidental, A própria história, trazida pela mitologia grega, nos mostra o uso de algemas. Conta a lenda mitológica que Sisifo comentava muito sobre a vida das pessoas. Certa vez proferiu injúrias contra a pessoa de Zeus, dizendo que ele havia se apaixonado e fugido com a filha de Asopus. Zeus, por sua vez, pediu a Hades que punisse severamente Sísifo e o levasse para o inferno. Quando Hades chegou para cumprir o pedido de Zeus, Sísifo viu que Hades carregava um par de algemas. Sisifo, então, pediu a Hades que lhe mostrasse como as algemas funcionavam. Enquanto Hades inocentemente colocava as algemas no punho para demonstrar, Sísifo as fechou e o manteve algemado em sua própria casa, pois enquanto Hades permanecesse preso ninguém morreria pois ele era o deus do Inferno. 1 1 A principal vantagem de tais implementos era a possibilidade de usos múltiplos. A maneira habitual de se remover cordas das mãos ou pés de alguém era cortando-as. ' I < h t t o : l l l i b ~ . t h i n k a u e s t . o r r l J O O 2 3 5 6 F l t ~ s o n . h t m - acesso 10.09.2004. < http:llwww.mythweb.com/encyclgalleryisishc.htmom Bulfinch. O livro de Ouro da Mitologia, p. 226 e 32 1. Mesmo baratas e fáceis de repor, elas tinham seus problemas. . Podiam ser rompidas pelos próprios prisioneiros, tendiam a produzir ferimentos por abrasão ou por aperto excessivo, o que nem sempre era uma preocupação para os captores, e assim ofereciam pouca segurança. Já os grilhões eram mais dificeis de remover e prendiam de modo firme os pulsos ou tornozelos dos cativos. Podiam ser ligados entre si por barras metálicas ou correntes, fornecendo graus variados de imobilização a quem os utilizasse. Para as pernas era geralmente preferido o uso de correntes, longas o suficiente para permitir algum tipo de passo, ainda que curto. Os prisioneiros também podiam ser ligados, entre si, por correntes, As vezes até por grilhões de pescoço. Um problema convencional da maioria dos grilhões era o diâmetro fixo de suas grilhetas, peças de seção circular ou retangular, que, efetivamente, prendiam os pulsos ou tornozelos. Isso significava que, para pessoas com pulsos ou mãos mais finos que a média, era necessário ter grilhetas de menor diâmetro, as quais, caso fossem usadas numa pessoa de físico mais robusto, poderiam produzir desconforto, dor e danos graves, ou serem impossíveis de aplicar. Daí resultava a necessidade de se dispor de grilhetas de diversos diâmetros. As algemas foram evoluindo, em sua forma, e sendo cada vez mais utilizadas por diversas outras sociedades. * A Bíblia traz inúmeras referências que demonstram como eram utilizadas as algemas, já confeccionadas em metal, sendo que se nomeava, indistintamente, aos termos grilhões, cadeias e algemas. 12 Desses grilhões foi se aperfeiçoando o instrumento contentar das mãos até os presentes modelos, modernos e sofisticados, das algemas, que passaram a ser usadas por todas as outras sociedades e estão presentes até a atualidade, sem qualquer indício de abolição. 12 "Timóteo 2, 1 : 16, (...) porque muitas vezes me deu ânimo e nunca se envergonhou das minhas algemas." "Timóteo 2, 2:9, pelo qual estou sofrendo at6 algemas, como malfeitor; contudo, a palavra de Deus não está algemadan. "Lucas 8:29, E embora procurassem conserva-lo preso com cadeias e grilhões (...)". "Marcos 5:3, o qual vivia nos sepulcros, e nem mesmo com cadeias alguém podia prende-10" . "Marcos 5:4, porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram quebradas por ele e os grilhóes despedaçados (...)". "Atos 12:6, (...) naquela mesma noite Pedm dormia entre dois soldados, acorrentado com duas cadeias, e sentinelas a porta guardavam o cárcere". "Atos 12:7, (...) Então as cadeias cairam-ihe das mãos". "Atos 20:23, (...) me assegurava que me esperam cadeias e tribulações". "Atos 26:29, (...) por6m todos os que hoje me ouvem se tomassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias". "Atos 28:20, (...) porque, é pela esperança de Israel que eu estou preso com esta cadeia". - (grifas nossos) 2.2 Evolução e suas espécies. Diversos tipos de algemas foram criados. Além daquele com duas grilhetas, unidas por uma corrente ou uma barra, surgiu também a fiwa-de- oito.13 - Era formada por duas peças de metal, com uma dobradiça de um lado e a fechadura do outro. Cada peça assemelhava-se a um algarismo 3 e, quando fechada, a algema parecia um algarismp 8, dai o nome. Os pulsos do prisioneiro eram colocados juntos e a algema fechada sobre eles. Como não havia distância, entre os pulsos, maior do que a junção central entre as metades, essa algema provocava muito desconforto, e mesmo 14 dor, aos imobilizados. Ela podia ser aplicada à fkente ou às costas. Outro modelo foi chamado de cifrão ou mesmo dólar. Consistia numa barra de ferro ou aço, levemente curva, com outra barra, na forma da letra S, presa a um eixo central. Abrindo-se a algema, um pulso do prisioneiro era colocado acima e o outra abaixa da barra principal, fechando-se o S. 13 disponível em C hm://www .handcuffs.bz/Historv o f Handcuffs.shtml>, acesso dia 23.12.2004. l4 < htt~://~~~.o~tfo.o~dliterat~~e/~d1/0/0/2/10020/10020-h/~37~ 1 2 .html~ O conjunto realmente parecia um cifrão. Os problemas de desconforto assemelhavam-se aos da figura-de-oito. Um aspecto comum a todas as antigas algemas metálicas era o fato de que tinham de ser transportadas, normalmente, fechadas. Para abri-las era necessário o uso de uma chave, que também era usada para travá-las em tomo dos pulsos dos prisioneiros. * Isso tomava seu uso, especialmente em atividades de tipo policial como a apreensão de criminosos agressivos, dificil e mesmo perigoso para os encarregados das detenções. Adicionalmente, as fechaduras, em si mesmas, ofereciam pouca segurança, podendo, com facilidade, ser clandestinamente abertas pelos prisioneiros. Um modelo tinha estrutura básica em forma de U. Do centro da curva projetava-se um corpo de parafuso, dividindo o espaço em dois. Os pulsos do prisioneiro eram colocados de cada lado do parafuso, ao qual era aplicada uma porca do tipo borboleta. Essa borboleta era girada até se obter a necessária constrição dos pulsos que impedisse a retirada das mãos do detido, sendo a borboleta fixada a uma das barras laterais por um cadeado que passava por um orifício em uma de suas asas, as quais tinham envergadura suficiente para cobrir todo o espaço entre as barras laterais. ' Era um instrumento que trazia ao detido as mesmas inconveniências da figura-de-oito 16, em termos da posição forçada dos pulsos. Sua aplicação resultava mais rápida, haja vista que a borboleta podia ser girada com bastante velocidade. Mesmo assim, o detido precisava colaborar, mantendo as mãos na posição enquanto a borboleta era apertada, ou o policial encarregado precisava lutar com uma das mãos para girar a borboleta, ou, ainda, contar com reforços. Para melhor ajuste nos pulsos de prisioneiros, e uso mais rápido, foram criados diversos dispositivos. Um deles era basicamente uma corrente fina ou cabo, cordas-de piano, de aço. Podia ser aberto com uma manopla em cada ponta, ou fechado com uma única manopla. Ao deter um criminoso, o policial ou agente penitenciário passaria a corrente ou cabo em torno de um ou ambos os pulsos do indivíduo a ser conduzido, torcendo o conjunto pelas manoplas. Desse modo, os pulsos ficavam.firmemente presos. Qualquer tentativa de fuga, luta ou resistência, era contida torcendo-se mais as manoplas, o que infligia dor ou ferimentos no prisioneiro. Isto era conhecido como ligotte, cabriolet ou twister. " Surgiram também instrumentos para detenção rápida que consistiam de uma única grilheta, unida a algum tipo de manopla. Designados nippers em inglês, Vorjührzange ou Schliesszange em alemão, seu emprego era no controle imediato de detidos. A grilheta era aberta e fechada por simples sistema mecânico, sem chaves, e permitia controlar um dos braços do detido de forma mais firme e "< hffD://www.handcuffS.org>, disponível em 18.0 1.2005. positiva do que simplesmente segurando-o com uma das mãos. Desse modo o detido podia ser conduzido com mais segurança, sem o uso de algemas.'* Os aspectos que precisavam ser resolvidos eram o de bom ajuste nos pulsos do capturado e o de rápida e segura aplicação das algemas. Um dos principais motivos de seu uso era, e é, reduzir a resistência do detido, trazendo mais segurança ao agente da detenção e mesmo ao detido. Ora, as algemas em uso pelo último quartel do Século XIX dificilmente cumpriam tais missões. Algemar alguém podia representar uma luta renhida para forçar a submissão do indivíduo, ao mesmo tempo em que o agente abria as grilhetas e as aplicava aos pulsos do detido. Na década de 1880 começaram a surgir algemas realmente ajustáveis, nos Estados Unidos. '' < httD://www.handcuff~.ore/strand 1894/index.html>, disponivel em 18.0 1.2005. Seu funcionamento baseava-se numa catraca dentro do mecanismo e em dentes, num dos lados do semi-arco móvel, que imobilizavam o pulso do detido. A catraca só operava para um lado, permitindo assim que o semi-arco fosse introduzido no mecanismo e prendendo cada dente sucessivamente, até se atingir um perfeito ajuste. 19 Isso permitia deter pessoas com quaisquer diâmetros de pulsos, com um único par de algemas práticas e fáceis de usar. Elas podiam ser transportadas abertas e rapidamente aplicadas ao prisioneiro. Tal tipo de algemas foi rapidamente copiado nos dois lados do Atlântico, embora tipos anteriores continuassem em produção e uso. Uma desvantagem ainda apresentada era que o semi-arco fixo era sólido. A única forma, portanto, de fechá-las era tê-las abertas, tanto sendo assim transportadas, quanto necessitando da chave para destravá-las antes do USO. 19 Manual Operacional do Policial Civil : doutrina, legislação e modelos, p. 195. Apenas por volta de 1920 .começaram a surgir algemas de tipo mais moderno. Nessas, o semi-arco fixo é duplo, formado por duas peças de metal recurvo por entre as quais a parte movel, dentada, pode passar. "Cada uma delas possui uma parte movel, dentada, que, ao ser introduzida no corpo da algema, passa por uma catraca que não permite que se abra, salvo através do uso da chave. 7 9 20 8 A grande vantagem é que tais algemas podem ser transportadas convenientemente fechadas, de modo compacto, e rapidamente aplicadas aos pulsos do detido. Para isso basta encostar a parte móvel ao pulso e empurrá-la. Ela então passará pela catraca, girando em tomo da dobradiça oposta ao mecanismo e, automaticamente, entrará novamente na catraca. Basta então, ao policial, manobrá-la para obter o ajuste correto. Também por essa época surgiram as algemas com travas. 20 Ibidem, mesma pagina. O principal objetivo da trava é impedir que, uma vez obtido o ajuste, as algemas sejam mais apertadas do que o necessário nos pulsos do detido. 21 Essa providência evita ferimentos desnecessários, protegendo tanto o detido quanto o policial. Por um lado, não é justificável apertar demais as algemas até produzirem ferimentos externos, ou internos, nos pulsos ou mãos do detido. Por outro, tornou-se impossível, ao prisioneiro, ferir-se propositalmente com o fim de acusar o seu captor de submetê-lo a maus tratos. Adicionalmente, a trava pode tomar mais dificil abrir as algemas com chaves falsas ou outros instrumentos. Uma variante em algemas é aquela para polegares. 22 Aparelhos desse tipo foram usados durante a Inquisição, especificamente como instrumentos de tortura, com o fim de quebrar e inutilizar dedos de pessoas acusadas de bruxaria e outras supostas negativas práticas. 23 2' < hftD://www.r~~~i.c~m.br/al~ema> acesso em 15.1 1.2004. 22 Manual Operacional do Policial C'ivil : doutrina, legislação e modelos, p. 195. 23 Franco Gentili. Tortura: instrumentos medievais, p. 24. Seu propósito é evitar que. alguém, contido por algemas nos pulsos, manobre gamas e outros instrumentos, na tentativa de abrir ilegalmente o equipamento. Algemas de polegar só podem ser usadas em conjunto com algemas de pulso, pois seu emprego isolado pode facilmente levar a ferimentos e fraturas graves. Importante é ressaltar que os vários tipos de algemas não se sucederam, no tempo, regularmente. Conviveram e ainda convivem entre si. Algemas sem travas ainda são estranhamente compradas por policiais e outros agentes da Lei e da Ordem, que deveriam saber serem elas inadequadas. Hoje há algemas que são recobertas por camadas de polietileno, para evitar qualquer lesão na pessoa que está sendo contida. Ainda não são, no entanto, fabricadas no Brasil, o que inviabiliza o seu uso pelas policias brasileiras. Há também algemas de uso apenas emergencial, tais como fitas plásticas de grande dureza material, que funcionam como lacres e, uma vez empregadas, não mais podem ser reutilizadas 24, pois necessitam de um alicate de corte para serem partidas. A polícia norte americana utiliza esse tipo de algemas descartáveis para a contenção de pessoas não violentas. 25 No Brasil, são usadas, apenas, para casos em que as algemas disponíveis não sejam suficientes para a contenção de um grande número de pessoas, ou ainda, em que, devido a problema de obesidade ou outros impedimentos físicos, não permitam o uso das tradicionais algemas metálicas. 24 Manual Operacional do Policial Civil : doutrina, legislação e modelos, p. 195. 25 ~http;//txt.estado.com.br/edicao/es~ecial/wtc/wtc7.htmI>, acesso dia 20.07.2004, referente a noticia publicada no dia 1 I de setembro de 2002. As algemas, como instrumento restritivo da liberdade humana, devem estar previstas no ordenamento jurídico para que, legalmente, sejam usadas. Algumas leis, ainda que não expressamente, regulam o emprego de algemas. Esse capitulo visa, portanto, demonstrar as leis e demais normas jurídicas que estejam relacionados de alguma forma com o tema. 1 Histórico Legislativo A prisão e as penas de encarceramento, como hoje as conhecemos, são invenção recente. Antes disso, criminosos, em sua maioria, eram mantidos presos apenas enquanto aguardavam julgamento ou a execução das sentenças, geralmente pecuniárias, de trabalhos forçados, castigos físicos ou morte por suplício. 26 A tortura era um método aceito, e mesmo recomendado, para se obter informações sobre o crime e o acusado. L . . . L , < Além das formas conhecidas de imposição de sofrimento, grilhões e correntes eram empregados como meios de provocar dores e desconfortos. Exemplificando, os grilhões, cujas grilhetas eram unidas por barras, mantinham os braços ou pernas do prisioneiro sempre numa dada posição, pelo tempo desejado, até por meses, causando dores, problemas neurais e circulatórios, e até inutilização ou perda de membros. Mesmo aqueles ligados por correntes traziam mais uma dificuldade para os prisioneiros, restringidos em seus movimentos, ou ainda ligados as paredes dos cárceres. 27 A despeito de todas as penas e sofrimentos empregados, foi editado por D. Pedro, enquanto Príncipe Regente, um decreto a 23.05.1 82 1 . 26 Michel Foucault. Vigiar e Punir : nascimento daprisão, p. 33 e ss. 27 Franco Gentili. Tortura : instrumentos medievais, p. 24. Esse decreto distanciava-se. da realidade da época e SERGIO MARCOS DE MORAES PITOMBO, assim o comenta: "Na Exposição de Motivos verberam alguns governadores, juízes criminais e magistrados, os quais violando o Sagrado Depósito da Jurisdição, que se lhes confiou, mandam prender por meio arbitrário e antes da culpa formada, pretextando denúncias em segredo, suspeitas veementes e outros motivos horrorosos à humanidade, para impunemente conservar em masmorras, vergados com o peso de ferros, homens que se congregam convidados pelos homens que se congregam convidados pelos bens, que lhes oferecera a Instituição das Sociedades Civis, o primeiro dos quais é, sem dúvida, a segurança individual (...)." 28 Prossegue, o autor, ponderando sobre as prisões, que jamais deveriam servir com o objetivo de flagelo a quem quer seja, posto sua finalidade ser única e exclusivamente a de guardar pessoas. Assim, considerando-se a finalidade das prisões, o uso de correntes, algemas, grilhões e outros ferros, utilizados para o martírio, estariam, implicitamente, abolidos, sobretudo quando se verifica que nas prisões estão contidos homens ainda não julgados por sentença final. Entende, no entanto, que, apenas em casos gravissimos, os delinquentes possam ser mantidos incomunicáveis, sem que com isso venham a sofrer quaisquer espécies de tormentos e desde que Ihes sejam assegurados locais arejados e cômodos. 29 - 28 Emprego de algemas, p. 275. I9 Ibidem, mesma página Mesmo, porém, com leis e decretos formalmente instituídos, faziam-se letras mortas, sem aplicação ou efetividade. Assim, diversas penas privativas da liberdade incluíam o uso de ferros para conter os prisioneiros. Desde a Antiguidade, os condenados as galés 'O eram obrigados a remar em navios mercantes ou de guerra e agrilhoados a seus bancos, de molde a deles se arrancar relutante lealdade. . Caso o navio, em que estivessem, fosse posto a pique, certamente se afogariam. Era, portanto, de seu alto interesse obedecerem com eficiência a todas as ordens recebidas. No Brasil, "a legislação penal do Império, em certos pontos, dominada ainda pelos preceitos bárbaros do direito medieval, conheceu a pena de galés." 3' 30 <http://www.unb. br/fd/colunas Prof/carlos mathiaslanterior 1 6. htrn, http://www.almg.gov. br/escolalegis/ HistotiaDaLegislacaoBrasileiraSobreCrianEAdolescentes doc acessado dia 12.12.2004. Carlos Fernando Mathias de Souza. 5 1 Herotides da Silva Lima. O emprego de algemas, p. 37. Os condenados a penas de galés ficavam sujeitos, pelo Código Criminal do Império de 1830, em seu artigo 44, a andar com calcetas no pé e correntes de ferro, juntas ou separadas, e a empregar-se em trabalhos públicos da Província onde houvesse sido cometido o delito, a disposição do Governo. Referido diploma legal não sujeitava, porém, as mulheres, os menores de vinte e um e os maiores de sessenta anos. 32 O réu escravo e condenado a açoites, no entanto, depois destes era trazido por seu senhor "com um ferro pelo tempo e maneira que o juiz o i1 33 designar . O Código de Processo Criminal do Império autorizava também, "o executor da ordem de prisão a empregar o grau de força necessária para efetuar a prisão, justificando mesmo O uso de armas, para defesa própria, considerando-se justificável o ferimento ou a morte do réu (artigo 180). ,, 34 j2 Essa separação por castas já era vista nas Ordenações, no Título CXX, "que os Fidalgos de Solar, ou assentados em nossos Livros, e os nossos Desembargadores, e os Doutores em Leis, ou em Canones, ou em Medicina, feitos em Studo universal per exame, e os Cavaleiros Fidalgos, ou confirmados per N6s, e os Cavalleiros das Ordens Militares de Christo, Santiago e Aviz, e os Scrivães de nossa Fazenda e Carnera, e mulheres dos sobreditos em quanto com elles forem casadas, ou stiverem viuvas honestas, não sejão presos em ferros, senão por feitos, em que mereção morrer morte natural. ou civil." . . " Luis Guilherme Vieira. Algemas: uso e abuso. Acesso em 0 1.2.2005. <htt~://www.direitosfundamentais.com.brhtmVcolaborador algemas.asp> " Ibidem. A Lei 26 1, de 03.12.1 84 1, que impôs reforma ao Código de Processo Criminal do Império, deixou intocável esse artigo que autorizava o emprego de força. Enquanto ainda vigorava o Código, foi editado um Decreto de no 4.824, de 22 de novembro de 1871, que regulamentava a Lei no 2.033, de 20 de setembro de 187 1. Referido decreto, em seu artigo 28, vedava expressamente o deslocamento de presos com ferros, algemas ou cordas, salvo o caso extremo de segurança, que deveria ser justificado pelo condutor, sob pena de multa. Foi assim, nesse sentido, que São Paulo editou, anos após, o Decreto no 4.405-A, de 17 de abril de 1928, instituindo o "Regulamento Policial do Estado de São Paulo", e prevendo nos artigos 419 e 420, do Livro IV, Polícia Judiciária, Titulo I, Da prisão, Capitulo I, Das formas de prisão, que: Artigo 419, in verbis - Nenhum preso poderá ser conduzido com ferros, algemas ou cordas, salvo o caso extremo de segurança que deverá ser justificado pelo condutor e, quando não justifique, além das penas em que incorrer, será multado na quantia de 10$000 a 50$000, pela autoridade a quem for apresentado o mesmo preso. Artigo 420, in verbis - Se o.preso não obedecer, procurar evadir-se, ou resistir, o agente da autoridade tem o direito de empregar o grau de força necessária para efetuar a prisão. A edição desse decreto limitador do transporte do preso teve suas raizes inspiradas no Decreto de 30 de setembro de 1693, de Portugal, que previa que o réu não deveria ser carregado de ferro senão em crime gravíssimo. E assim, foi a justificativa quando da edição de referido Decreto: "Por ser informado que nas cadeias no Limoeiro, desta cidade, se põem ferros a algumas pessoas, que a elas vão sem justa causa e as metem em prisões mais apertadas do que pedem as culpas porque foram presas; e que ainda com algumas se passa ao excesso de serem maltratadas e castigadas. Hei por bem que 0s escravos que forem às cadeias por ordem de alguns dos julgadores; e por casos leves ou só por requerimento de seus senhores não sejam molestados com ferros, nem metidos em prisões mais apertadas, que aquelas que bastarem para segurança; porque s6 naqueles casos de crimes graves, que pedirem segurança pela qualidade da culpa, ou da prisão, ou em casos cometidos nas mesmas cadeias a que os ferros servem de penas, se poderá usar deles contra tais escravos; ou outras quaisquer pessoas livres, e se lhes não poderá dar outro algum castigo mais, do que aquele, que pelas leis for permitido, por não ser justo que esteja no arbítrio de um julgador mandar prender alguma por respeitos particulares e que na prisão seja vexada com ferros com o rigor da prisão, ou algum gênero de castigo. Ao regedor da Justiça hei por muito recomendar a observância deste decreto; e contra os carcereiros, que o contrário permitirem, ou fizerem, se mandará proceder com a demonstração de castigo que for justo. Lisboa, a 30.9.1693." 35 35 in Sergio Marcos de Moraes Pitombo. Emprego de algemas, p. 275. Com o tempo, a pena de galés foi comutada em serviço a ser realizado em obra pública j6, pois essa previsão já se encontrava no próprio decreto instituidor. Assim, os condenados empregados em obras públicas e serviços externos normalmente usavam grilhões, para embaraçar tentativas de fuga e evidenciar sua condição ao povo: "A preocupação em utilizar esses condenados nos trabalhos públicos era grande pois se encontram, ao longo de 1830, vários documentos trocados entre a vice-presidência da província e a Câmara sobre o número de galés na Cadeia, as correntes e outros apetrechos necessários para o trabalho nos logradouros, a questão da escolta (RGCSP, Registro Geral da Câmara de São Paulo, 1830). Dos cerca de 70 presos da Cadeia, havia neste ano 19 gales. sendo 7 com penas perpétuas e 12 temporárias." 37 A pena de galés há muito estava instalada no direito pátrio. Assim, "a pena de galés, que já se encontrava no Livro V das Ordenações Filipinas, 9, 38 passou para o direito do Império e foi aplicada durante muito tempo . Essa pena era aplicada aos crimes de pirataria, insurreição, perjúrio, homicídio, roubo, latrocínio, etc. 39 " Candido Mendes de Almeida. Código Phillipino ou Ordenações e Leis do Reino de Portugal, p. 13 19 a ud Femando Salla. As Prisões em São Paulo, p. 33, "Femando Salta. As Prisões em Siio Paulo, p. 54. Luiz Carlos Rocha. Pratica Policial, p. 94. 39 Herotides da Silva Lima. O emprego de algemas, p. 38. Dessa forma, essa pena acabou por ser abolida do sistema normativo 1 brasileiro, através de um Decreto, editado pelo governo Provisório, tendo ~ recebido o no 774, em 20 de setembro de 1890. O fim dessa pena muito deve à revolta dos tratadistas de que esse tipo de pena não propiciava nenhum tipo de regeneração, muito pelo contrário, apenas propiciava ainda mais a degradação do homem. Nesse sentido, portanto, a supressão foi confirmada no artigo 72, parágrafo 20, da Constituição de 1 89 1. 40 Porém, como exceção, ainda, as algemas, cordas e grilhões continuavam a ser usados. Assim: "a lei, porém, mesmo diante dessa abolição, teve de prover a casos excepcionais, como o da indisciplina dos presos, que pode ensejar a sua colocação a ferros, consoante o art. 49 do Regulamento dos Carcereiros e que mnbérn fora autorizado pelo regulamento da Casa de Correção do Distrito Federal (dec.8.626 de 13-1 0-1 9 10) dispondo sobre a imposiçfio de ferros no caso de extrema necessidade (art. 79, no 6)." 4' Conforme anteriormente dito, o Código de Processo Penal Imperial autorizava o uso da força e conseqüentemente o uso de algemas. Assim caminhou esse Código até a discussão para a elaboração de um novo Código 40 Ibidem, mesma pagina. 4 ' Ibidem, p. 39. de Processo, que será analisado no. próximo capítulo, que se destina à análise do ordenamento jurídico atual. FERNANDO SALLA" ensina que a Lei Imperial de 01 de outubro de 1828 estabelecia: "4 Comissões da Câmara Municipal por ano de inspeção de prisões civis, militares e eclesiásticas, com no mínimo 5 membros". Prossegue, referindo-se ao relatório de agosto de 183 1, que indicava: ''0 olhar da comissão capta O que chamou de dois instrumentos 'do detestável despotismo': um tronco na enxovia grande e uma corrente de 'pezo (sic) enorme [que] não serve para prender mas sim para matar os homens'. Tudo indica que 0s dois instrumentos eram usados frequentemente para punir presos que se embriagavam e, portanto, constituíam fonte de 'arbitrariedade de algumas authoridades (sic)."' Faz constar, ainda, o relatório de uma Comissão que, em 1833, indicou, de maneira inédita, a necessidade de circundar as prisões com um muro, de forma tal a constituir um pátio interno, mediante a justificativa que, embora a necessidade de luz natural e ar fizessem com que as janelas das cadeias permanecessem abertas para a ma, era necessário promover o isolamento tanto do espaço físico prisional, como dos próprios presidiários, em relação ao 42 As Prisões em São Paulo, p. 48-5 1. meio externo que os circundava, até mesmo para que se elidisse .as fugas, 43 garantindo-se, dessa forma, maior segurança. Em paralelo àquelas medidas, acima melhor descritas, para o isolamento do mundo exterior, aquela Comissão propôs também a construção de um local em que o preso estivesse incomunicável. Assim de maneira concatenada previam, os integrantes da comissão, o isolamento do preso, também dentro da própia entidade prisional, de acordo com a natureza do crime ou necessidade de se manter a ordem interna da Casa. Referência importante, pois, está no fato de entender, aquela Comissão, que era mais apropriado se isolar 0s presos do que carregá-los a ferros, preocupando-se em restringir o uso de algemas e correntes, concedendo-lhes relativa liberdade de movimentos, ainda que dentro do cerceamento 44 representado pela própria vida carcerária. Em 1769, a Câmara, através de d 0 ~ ~ n I e n t o prÓpI"i0, refere-se a um certo Pedra José de Azevedo, para atuar no cargo de carcereiro, indicando, outrossim, um mestre pedreiro atuando como fiador dos ferros e apetrechos 43 Ibidem, p. 52-53. 44 Ibidem, mesmas páginas recebidos para uso na movimentação de presos, que já eram julgados fora das prisões, o que denota, a época, organização mais especializada para os centros prisionais de São Paulo. 45 Refere-se, ainda, FERNANDO SALLA 46, sobre a Casa de Correção, criada em 1855, com o objetivo de "recuperar presos", sendo que: "(,..) o regulamento da Casa de Correção previa o hcionamento de uma Comissão Inspetora de cinco membros nomeados pelo governo. O seu artigo 1 1 3 determinava-lhe as competências, que nCio eram poucas: realizava a primeira classificação do condenado quando este dava entrada no presídio; resolvia se a algum preso deveria Ipôr-se ferros', em razão de reiterada quebra das normas e aplicação de punições; podia revogar ou modificar penas disciplinares impostas pelo diretor, quando não estivessem de acordo com o regulamento (...)." Prossegue, todavia: l l ~ a s , ao lado desse variado leque de atribuições, o próprio regulamento previa que o diretor tivesse, igualmente, uma ampla margem de poder, apesar da submissão formal prevista a Comissão Inspetora. Exemplo disso está contido no artigo 11 5 , onde se determina que 'o Director é o Chefe do Estabelecimento, com subordinação a Comissão Inspectora, mas poderá dirigir-se immediatamente ao Governo, Chefe de Policia e mais ~uctoridades. 0s quaes em sua correspondencia com o Director usarão de Oficias e requisições, e não de portarias ou ordens. "' 45 ACSP. 1769: 474. Atas da Câmara da Cidade de São Paulo e Regulamento Policial do Estado de São Paulo. Livro w. Policia Judiciária. Titulo 1- Da P ~ S ~ O Capitulo 1. Das ~OITIMS de prisão: in Femando Salia. As prisões em São Paulo, p. 55. 46 As prisões em São Paulo, p. 69-70. Observamos, assim, que se configura, sobretudo no período do Segundo Império, importante mudança no sistema de uso das algemas, retomado, em seu emprego punitivo, aos já presos. O regulamento da Casa de Correção de São Paulo, em seu artigo 46, preceitua que os presos estavam sujeitos às seguintes penas disciplinares: trabalho solitário e de tarefa; restrição alimentar ou jejum a pão e água; cela escura; transferência de uma classe mais favorecida para outra mais austera e 'tferros, no caso de extrema necessidade, e por ordem da Comissão Inspectora". 47 Vê-se que a decisão do USO de ferros era da administração da Casa de Correção, no rol de punições aos presos tidos como refiatários à vida em reclusão. Tanto assim o era que, já ao tempo do Império, a lei processual penal dispunha no artigo 180 que, se o réu não obedecer e procurar se evadir, o executor tem direito de empregar 0 grau de força necessário para efetuar a prisão, ainda que de forma implícita, mediante o uso de algemas. 47 Regulamento da Casa de Correção de Sgo Paulo, art 46, p. 205, in Femando Salla, As prisões em Paulo. p. 69 e ss. 2 Da previsão legal no Sistema Brasileiro. 2.1 Do Código de Processo Penal Quando da elaboração de um Código de Processo Penal, despontado em meados de 1935, previa o Projeto expressamente em seu artigo 32: Artigo 32, in verbis - É vedado o USO de força ou emprego de algemas, ou de meios análogos, salvo se o preso resistir ou procurar evadir-se. E o artigo 33, complementava: Artigo 33, in verbis - NO caso de resistência, o executor e as pessoas que o auxiliarem podem usar dos meios indispensáveis a sua defesa, lavrando- se o respectivo auto, na qual será a occurrência, com a subscripção de duas testemunhas. Porém, esse projeto não ProsPerou, explicando JOSÉ FREDERICO MARQUES, que: "A Constituição promulgada com o golpe de Estado de 10.1 1.37 impediu que a aprovação. e discussão do projeto V~CENTE RÁo fossem levados avante. 9, 48 Outro projeto de relevância que foi apresentado, porém, sem ter prosperado foi o de HELIO TORNAGHI, apresentado no Ciclo de Conferências sobre o Anteprojeto do Código de Processo Penal Brasileiro, por ele realizado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 49 Assim: ~ r t . 453, in verbis - Não será permitido o emprego da força, salvo a indispensável no caso de desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência por parte de terceiros, 0 executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para vencê-la e para defender- se. De tudo se lavrará auto, subscrito pelo executor e por duas testemunhas. Até o caput do artigo não havia muita inovação, que ficou a cargo de seu tj 1 O: 48 Tratado de Direito Processual P e d , 5 83. 49 Sala Jogo Mendes Júnior da Faculdade de Direito da Universidade de Si40 Paulo. Realizado de oumbro de 1964 a janeiro de 1965. Imprensa Oficial do Estado, São Paulo 1966. Parágrafo Primeiro: É permitido o emprego de algemas e .de outros utensílios destinados à segurança, desde que não atentem contra a dignidade ou a incolumidade fisica do preso. Esse parágrafo recebeu severas críticas, em virtude da grande margem de discncionariedade que estava fornecendo à possibilidade de usos de materiais diversos para se efetuar a condenação. Não há como nâo se ponderar a crítica feita por BASILEU GARCIA, a respeito do assunto. "0 Anteprojeto declara que é permitido empregar algemas e outros utensílios destinados à seguranç% desde que não atentem contra a dignidade ou a inco~umitiade fisica do preso (art.453, $19. A rubrica desse texto é 'Algemas etc.'. Eu votaria pela redução do enunciado a sua parte inicial, permitindo tão só o emprego de algemas e, assim, suprimindo aquela imponderável 'etc', que aumenta desnecessariamente OS métodos de contenção do preso". 50 Esse argumento foi rebatido pelo próprio autor do anteprojeto: ''dir-se-á que em certos casos não se acham algemas à disposição do autor da captura, e ele terá que recorrer a outros meios- Quando tal aconteça, respondo, ninguém, o censurará por isso." 5 1 Basileu Garcia. Preservação da liberdade do Anteprojeto de Código de Processo Penal, separata da Revista da Faculdade de Direito da Usp, ano LX 9 Sgo Paulo 1965, $6' pp. 136 e 137, apud Sergio Marcos de Moraes Pitombo. Emprego de algemas. Revista dos Tribunais. Ano 74. v. j92. Helio Tomaghi. in Ciclo de Conferência sobre 0 Anremero do Cúdigo de Processo P e d &&leiro, p. 105. . .. Ressaltamos que o nossa Código de Processo Penal, .datado de 03.10.1940, foi aprovado sem, contudo, prever expressamente sobre o USO das algemas, hoje escorado no artigo 284 desse diploma legal. Artigo 284, in verbis - Não será permitido o emprego de força salvo a indispensável no caso de resistência ou tentativa de fuga do preso. O artigo 292 do diploma vigente também se expressa sobre a força como meio de vencer a resistência: v Artigo 292, in verbis - Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência a prisão em flagrante ou determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para ~ ~ n c e r a resistência, do que tudo se lavrará auto, subscrito também por duas testemunhas. A lei, nesse caso foi hcunosa quanto aos meios contentares da força, motivando vários doutrinadores a criticarem-na, tentando de alguma firma suprir aquela lacuna deixada pelo próprio legislador. Assim, escreveu SERGIO MARCOS DE MORAES PITOMBO: "É certo que a lei não pode ser casuística e fez bem em conter uma norma geral. Mas a respeito da permissgo de algemas e do uso de armas teria sido conveniente que ela dispusesse. A delicadeza do legislador, que d o se atreve a falar em cadeias ou em grilhões, o escrúpulo de não reviver passadas vergonhas, estaria a salvo e não impediria de regular o emprego de outros meios que, na realidade, são usados." 52 O Desembargador HEROTIDES DA SILVA LIMA, com segurança e propriedade disserta sobre a lei processual vigente: "A lei proscreve como regra o uso da fôrça (sic), isto é o de meios coercitivos para executar a pisgo. Mas como a execução, deixa ao executor a faculdade de empregar a fôrça (sic) necessária e adequada às circunstâncias, ao momento, à pessoa, quando se ihe oponham ameaças e violências, ou haja tentativa de fuga, daí surgindo a possibilidade de recorrer às algemas, comentes, cordas, laços, camisas de fôrça (sic), para impedir que a reação triunfe- Pode até mesmo acontecer que a aplicação desses meios extremos seja ne~esshria para garantir a vida do pdprio preso, que pelos seus atas de resistência pode dificultar a pronta rernoq&o do local onde sua vida corra perigo, facilitando o aliciamento de pessoas e recwsos com fim de vingança e represália." j3 Explicita, o autor, que a palavra h, utilizada pelo Código de Processo Penal, no artigo 284, não significa apenas capacidade física, pois se assim o fosse o legislador tena aberto a possibilidade de embate entre o agente autorizado que, predominantemente, se valeria de sua capacidade fisica para dominar o preso, com ele medindo forças. 52 53 Emprego de algemas, RT 5921275, P. 275. O emprego de algema, p. 39 e ss. Temos, por óbvio, que a acepção da palavra força, usada no dispositivo legal, tem sentido geral e amplo, para estabelecer domínio necessário para deter a possível insubordinação ou tentativa de fuga. Ao agente caberá estabelecer o quantum e a espécie de força a ser utilizada, proporcionalmente A gravidade da reação que necessite ser estancada, objetivando que não seja possibilitada a fbga e que a resistência seja revertida, com a finalidade de não ser, ele próprio, atacado na qualidade de executor de uma ordem, OU ter* escarnecida a autoridade, que lhe foi conferida, para tal. 54 Nesse mesmo sentido, é O desabafo de HELIO TORNAGM: ''Tena sido bom que, ao permitir 0 emprego da força, o Código houvesse deixado claro o que Pensa 0 legislador sobre o uso de certos meios Poderia dizer-se, dos arts. 284 e 292, o que um escritor francês afirmou acerca do Cede d'Instruction Criminelle, ao tratar exatamente do mesmo assunto, isto é, que eles lançam a dúvida sobre um ponto, o qual, mais que qualquer outro, necessita de certeza. Dessa forma, a lei, em lugar de dar respostas, faz perguntas e, em vez de ensejar soluç(jes, oferece problemas! E permitido o uso de algemas, de grilhoes e de grilheta~, de comentes, cadeias e fenos? Pode. o executor, lançar mHo de m a s , especialmente das de fogo, que vão aicançar o capturado ao longe?"' 54 Ibidem, mesma pagina. 55 Imtituições de Processo Penal, P 233. 41 O próprio autor responde as indagações referidas, da seguinte forma: "Dir-se-á: as grílhas e outros utensílios semelhantes desapareceram, não havendo por que lembrá-los. Mas a verdade é que o uso de algemas começa a generalizar-se entre nós, e no interior não é desconhecido o emprego de cordas para amamar 0s presos (...). É certo que a lei n8o pode ser casuística e fez bem em conter uma norma geral. Mas a respeito da permissão de algemas e do uso de armas teria sido conveniente que ela dispusesse. A delicadeza do legislador, que não se atreve a falar em cadeias ou em grilhões, o escnípulo de não reviver passadas vergonhas, estaria a salvo e não impediria de regular o emprego de outros meios que, na realidade, são usados. Diante dos arts. 284 e 292, parece não haver dúvida de que, se com as algemas o executor da prisão pode vencer a resistência, ele está autorizado a usá-las." A força poderá ser usada, como já dito, para vencer a fuga do preso. Nesse caso, não é apenas do legalmente preso que se fala. FERNANDO DA COSTA TOLJNNHo FILHO exemplifica: "Assim, se a policia vai prender alguém e este corre, para evitar a prisão, pode o executor, inclusive, usar da força necessária para evitar a fuga, disparando- ,> 57 lhe, por exemplo, um tiro na Perna- Se a ~olicia pode responder tentativa de fuga daquele que ainda viri a ser usando da força necessária, inclusive disparando tiros em áreas 56 Ibidem, mesma página. 57 Processo Penal, p. 42 1 . não letais e sim paralisantes, não há dúvida, da possibilidade, de que o algemamento daquele que resiste 6 prisão se toma legitimo e necessário. A justificação do uso da força é definida por LUIZ FLAVIO GOMES, como: "~ndispensabilidade da medida, necessidade do meio e justificação teleológica ('para' a defesa, 'para' vencer a resistência) são os três requisitos essenciais que devem estar presentes concomitantemente para justificar o uso da força fisica e também, quando o caso (e com muito mais razão), de algemas. Tudo se resume, conseqüentemente, no princípio da proporcionaljdade, que exige adequação, necessidade e ponderação na medida e vale no Direito processual penal por força do art. 3" do CPP". 0 momento em que deve ser usada a força, e O quanto de força pode ser deve ser definido pelo próprio policial. Nesse sentido: 6 b ~ policial é que há de sentir, no momento grave de reaçgo, qual a ,titude e natureza da força a usar. Assim, para evitar que a resistência vingue, a pessoa do Policial seja atingida e a fuga ocorra, a lei autoriza, se o emprego de meios, como o de algemas." 5Y Nesse mesmo sentido, ainda, é que 0s policiais americanos recebem 0s ensinamentos, a saber: 58 LuiZ FlBvio Gomes. 0 uso de algemas no nosso pais está devidamente disciplinado? Jus Navigandi, Teresina, a. 6, 56, abr. 2002. Disponível em: <hf3D://www 1 .ius.com.br/doutnna/texto.asD?id=2g21> Acesso em 0 1 março de 2005. 59 Luiz Carlos Rocha. Prática Policial, P. g4 e "0 policial que estiver efetuando a prisão deve considerar as circunstâncias que levaram à prisão, a atitude da pessoa presa, a idade, o sexo, a saúde da pessoa antes do algemamento. Deve ser reconhecido, pelo policial, que a segurança é a principal preocupação." 60 0 Artigo 284, inserido no Titulo IX, Da Prisão e da Liberdade Provisória, disposto no Capítulo 1 que trata Das Disposições Transitórias, preceitua, portanto, o uso de algemas em todos os casos de prisão, em que tenha o agente resistido ou tentado a fuga, quer seja prisão em flagrante ou qualquer outra prisão de caráter cautelar, OU ainda para o transporte de sentenciados. 2.1.1 Da busca pessoal O artigo 244 do Código de Processo Penal autoriza busca pessoal, independente de mandado judicial quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida, ou de objetos, ou papéis que constituam o corpo de delito- Como a busca pessoal poderá ser efetuada quando houver suspeita de que a pessoa esteja na posse e uso de arma de fogo, a busca, nesse caso, 60 Furllelon Police Depariment poli^ Manual> p. 61. "The m s t h g offcer should consider the circumstances leadhg to the m s t , the attitude of the -sted penon, the age, sex, and health of the Penon before handcuffing. It must be recognired that officer mfev ir the primary concem." devera se revestir de cautela e zelo pelo policial, pois sua integridade física poderá estar em risco. Caso a pessoa resista, ainda que apenas haja forte suspeita de que o fará, deve-se algemá-la, para se evitar possível combate ou grave resistência. N ~ O basta qualquer busca pessoal, das rotineiras abordagens para averiguação, para se justificar o algemamento há que haver fundada suspeita de arma de fogo ou comportamento q e d i o e resistente à essa mesma busca. Nesse sentido, é o ensinamento aos policiais do Estado de São Paulo, "A imobilização da pessoa sobre a qual se fará a busca, normalmente, faz-se necessári% de um lado Para garantir a segurança do policial civil, de outro para preservar a própia integridade do suspeito sujeito à revista, evitando-se, assim, eventual fuga. Por isso, em sendo necessatio, a contenção da pessoa far-se-á com o USO de algemas. Frise-se ue sua $1 só e possível quando 0 suspeito opõe-se a ordem legal." 61 Manual OPeraCjOnal do Policial Civil : doutrina. legislação e modelos, p. 194. 2.1.2 Da Condução Coercitiva . Há previsão legal para condução coercitiva da testemunha, do ofendido, do indiciado ou acusado e até mesmo do perito. Diz-se na linguagem forense, 9, 62 "condução debaixo de vara . O artigo 218, do Código de Processo Penal, autoriza a conduçgo coercitiva da testemunha que, regularmente intimada, deixa de comparecer sem motivo justificado. O juiz poderá, assim, requisitar ê autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja c ~ ~ ~ d u z i d a por oficial de justiça que poderá solicitar o auxilio da força pública. Auxilio da força pública deve ser entendido, hoje, como a Polícia Militar. 0 dispositivo do artigo 455, 5 1°, assemelha-se ao anteriormente nlencbnado. A condução ainda seri possivel, Para o próprio ofendido que não comparecer, segundo O artigo 210, parágrafo único, para O acusado, conforme artigo 260 e ainda para 0 perito , de acordo com 0 artigo 278, todos do Código de Processo Penal. Julio Fabbrini Mirabete. Código de Processo Penal Interpretado : referências doutrinárias, indicaç&s legais, resenho j~ris~rudencial, P- 27O. Impossível falar em condução coercitiva, sem comentar sobre.0 uso de algemas. Tem-se com a condução coercitiva a possibilidade de trazer a pessoa que resiste em comparecer em juizo OU em Delegacias de Polícia, permitindo, de certa forma, o uso da força, incluindo-se na utilização da força o uso de algemas. Inviávef seria a condução forçada de alguém que resistisse, sem o uso de algemas, legitimando assim o seu uso. por óbvio, se o mandado de condução coercitiva e a presença de oficiais e policiais bastarem para que a pessoa, a ser conduzida, entenda a gravidade de sua recusa e concorde, prontamente, em acompanhar 0s policiais, as algemas, nesse caso, tomam-se desnecessárias. Caso contrário, devem ser utilizadas, para garantir a própria integidade fisica do conduzido e para garantir a presença do requisitado no Fórum ou em Delegacias de Policia. Ocorre, no caso da condução coercitiva, um caso sui generis, de certo modo a testemunha sofie m a reshção em seu direito ambulatório, sem, contudo, lhe ser imposta pnsão. Não se enquadra nenhum tipo de prisão para a condução coercitiva, principalmente por a prisão importar uma privação da liberdade mediante clausura, o que não ocorre na condução.63 Dessa forma, assim como na busca pessoal, poderá se legitimar o uso de algemas, sem, contudo, se estar diante de um caso típico de prisão. 2.1.3 Lei 9.099/95 e a prisão em flagrante A Lei no 9.099195, instituidora dos Juizados Especiais, trouxe, em seu art. 62, a definição de infiações de menor potencial ofensivo: Artigo 62, in verbis - Consideram-se infiações penais de menor potencial ofensivo, para 0s efeitos desta Lei, as contravenções penais e 0s crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuando-se os casos em que a lei preveja procedimento especial. Em 200 1, foi editada a Lei 1 0.259, criando também em âmbito federal os Juizados Especiais. A essa lei aplica-se, no que "50 ~onflitar, a Lei 9.099195. 63 Femando da Costa Tourinho Filho. Processo Penal, p. 320. A inovação trazida por essa. lei, em seu parágrafo único do artigo 2', foi a ampliação das infrações de menor potencial ofensivo para as que não tenham pena máxima superior a dois anos, ou multa. Ainda que haja divergência, a situação é hoje quase pacifica, já que a junspnidência predominante é no sentido da aplicação da nova lei também aos delitos de âmbito estadual, já que como lei benéfica teve poder ampliativo. A Lei 9.099195 prevê em seu artigo 69: Artigo 69, in verbis - A aut~ridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e 0 encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vitima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários. 64~esse sentido é a posição do STJ -RESP 636701 1 SP, Rei. Ministro FELIX FISCHER RECURSO ESPECIAL 2004/0034885-7 PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 10, $ 1°, 111, DA LEI No 9.437197. AMPLIAÇÃO DO ROL DOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. ART. 61 DA LEI No 9.099195 DERROGADO PELO UNICO DO ART. 2" DA LEI No 10.259/2001. TRANSAÇÃO PENAL. RETRoATIVIDADE DA LEI MAIS BENIGNA. RESp 6 134921 SP; RECURSO ESPECIAL 200310 79945-5 Rei. Ministro J O S ~ ARNALDO DA FONSECA (1 106) RECURSO ESPECIAk PENAL. PENAL. LEI No 10.259/01 E LEI NO 9.099195. DERROGAÇÃO. AMPLIAÇAO DO ROL DOS CRIMES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. ~ROCEDIMENTO ESPECIFI~O. sUSPENsAO CONDI CIO^^^ DO PROCESSO. ART. 89 DA LEI 9099195. INICIATIVA DA PROPOSTA. DIVERGENCIA. PROV~IENTO PARCIAL. "Consoante precedentes firmados por este Tribunal, 0 artigo 2 0 * ~ a r z i ~ f o bico, da Lei 10.259/0 1, ao defmir as infiações de menor potencial com0 ~C?ndo crimes a que a lei ~0mine Pena m8xima niio superior a 02 (dois) anos ou multa, derrogou o artigo 61, da Lei na'' 9.099'959 ampliando, destarte, o conceito de tais times tambem no âmbito dos Juizados Estaduais. De igual sorte, tambdm restou derrogada a última parte do disposto no art. 6 1 & Lei no 9.099195 - excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial - de modo que na0 há mais p m que 0s delitos que se submetam ao procedimento especifico sejam julgados pelos Juizados Especiais Criminais." A primeira celeuma existente quanto ao tema é a dimensão do conceito de autoridade prevista no caput do artigo 69 da Lei. l a posição: Qualquer agente policial, ou policial de rua, é autoidade policial. za posição: A autoridade policial é somente o Delegado de Polícia. 3a posição: A expressão autoridade policial compreende todas as autoidades reconhecidas por lei.65 O parágrafo único desse mesmo artigo dispõe, in verbis: Ao autor do fato que, após a lavratura do temo, for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança- Então, compreende-se que 0 "parágrafo único do artigo 69 dispensa da prisão em flagrante e da fiança o autuado que, após a lavratura do terno indicado no caput, for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir compromisso de a ele comparecer-" 66 Quanto ao flagrante de infrações de menor potencial ofensivo trazido por essa lei: 6s D~~~~~ li^^^ de Jesus. Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada, p. 52. 66 *da pellegnni ~n~~~~ a Juimdo~ Especiais Criminai : comenrários 6 Lei 9.099, de 26.09 1995, p. 100. "fala-se, portanto, em .flagrante sem prisão, ou prisão em flagane, simplesmente a indicar a condução à autoridade policial mais próxima para efeito de documentação de informações havidas, liberando-se, em seguida, o acusado. Essa condução à presença da autoridade d o deixa de possuir a característica fisica de atividade de prisão, mas, a rigor, é mero exercício administrativo de poder de polícia, sem conotação, enquanto apenas levada do acusado à autoridade policial, de atividade persecutóna. NO caso brasileiro, realizada a atividade de documentaç&o que preserva os elementos 'flagrantes' da infração penal, impõe-se a solma, sem 'prisão em flagrante', decorrente da soltura, tratando-se de infraçho de que o acusado se livra solto. (...) O acusado pode permanecer em liberdade, mediante compromisso de comparecimento aos atos do processo." 67 A problemática existente em tomo dessa lei e do uso de algemas está: 1) ~ t é que o autor da infkção de menor potencial ofensivo não assuma formalmente, perante a autoridade, o compromisso de comparecer em juizo está em estado de flagrância, ainda que, conforme acima delineado, ao estado de flagrante não se imponha prisão. 2) 0 s policiais de ma, que são 0s primeiros avisados para o pronto atendimento da ocorrência, por ausência e desnecessidade de formação acadêmica técnico-jurídica para 0 desempenho de suas fungões, não são tecnicamente capazes de distinguir se um crime é OU não de menor potencial ofensivo e, dessa forma, de pronto algemam 0 autor para garantir que não haja fuga e ainda para conduzi-lo à presença da autoridade. fl ~ á ~ i ~ ~ ~ ~ d n ~ h i e Sidnei Beneti. Juizador especiais Civeis e Climinois, p. 126- 127. 3) Ainda que a própria definição exprima, em sua natureza, a falta de periculosidade do autor que praticou um desses tipos de crime, há, por necessário, o uso de algemas. 4) Ainda que processualmente a lei distinga e dose o grau de ofensividade, não deve O crime por isso ser tratado com desprezo e o autor ignorar qualquer ordem OU &amado Delegacia de Polícia. Existem infiações de menor potencial ofensivo que para a sociedade são pouco lesivos, porém acarretam gande e irreparável prejuízo ê vítima. Tem-se, então, por conclusão, que a regra, em virtude da baixa peiculosidade dos crimes, deve ser a de não algemamento do autor desses crimes, porém, em casos esporádicos tem-se o ato de algemar como legítimo, analisando-se caso a caso. Sem dúvida, o ato de algemar, diante de um crime de pena máxima de até dois anos, ou contravenções penais, em que não haja resistência, ou tentativa de fuga, e O autor Prontamente assuma O compromisso de comparecer em juizo, parece desnecessário- ~~~~d~ do acionamento da policia e da Pronta resposta aguardada pela vítima, impossível, as partes encontram-se fora de controle emocional, informar e deixar, naquele momento, que o autor decida acerca de sua prisão. Muitas vezes, com a chegada da policia, as ofensas, ameaças, ou lesões, por exemplo, ainda se perpetram. Nesses casos, muitas vezes são os autores conduzidos algemados, até que a Autoridade Policial, tecnicamente preparada, possa informar a vítima sobre a sua possível representação e ao autor sobre a sua decisão de aceitar, ou não, que compareça em juizo, para se livrar, assim, de prisão em flagrante. . Para mais uma vez ilustrar 0 uso de algemas em infiações de menor potencial ofensivo, sem que, com isso, cometam, Os policiais, abuso de autoridade, imagine-se que um policial na ma é aviltado em relação à sua profissão, dessa forna, inegavelmente, O crime de desacato, Quando o policial se aproxima do autor, nlais ofensas são proferidas e em proporções cada vez maiores. Nesse caso, impossível seria para o policial explicar ao autor que sua atitude configura infração de menor potencial ofensivo, e, nesse caso, deve se fazer acompanhar pelo policial para que, ele própio, decida acerca de sua prisão. Por óbvio, aqueles que vêem cotidianamente o exemplo acima, sabem que seria uma hipótese utópica tamanha urbanidade. Deixar o policial, por outro lado, que as ofensas prossigam e virar as costas, representará um desprestigio ao Estado, já que o atingido não foi a própria pessoa do policial, além de uma sensação de impunidade. Essa, portanto, não pode ser a atitude correta. Assim, a melhor resposta encontrada pelo policial, sem dúvida, sena o algemamento e sua condução coercitiva a Delegacia, ate que o autor decida sobre sua própria liberdade. Nesse caso, inegável seria a legitimidade da ação e ausência de dolo pelo policial do crime de abuso de autoridade. 2.2 Do Código de Processo Penal Militar O Código de Processo Penal Militar foi instituído através do Decreto- lei no 1.002/69 e traz em Seu artigo 234, e $ 1°, regulação especifica sobre o uso de algemas. Artigo 234, in verbis - O emprego da força só 6 permitido quando indispensável, no caso de desobediência, resistência OU tentativa de fuga. Se houver resistência da parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para vencê-la ou para defesa do executor e auxiliares seus, inclusive a prisão do ofensor. De tudo se lavrará auto, subscrito pelo executor e pelas testemunhas. 0 captrt de referido artigo, acima, traz em seu bojo o mesmo sentido do preceituado pelo Código de Processo Penal, permitindo em certos casos o uso da força. Já o seu parágrafo primeiro complementa o artigo: Ps~grafo Primeiro - 0 emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de fbga ou de agressão da parte do preso, e de modo algum nos presos a que se refere 0 art. 242. Artigo 242, in verbis - Serão recolhidos a quartel ou a prisão especial, disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão, antes de condenação irrecodvel a) 0s ministros de Estado; b) 0s ou interventores de Estados, ou Temtónos, o prefeito do Distito Federal, seus respectivos secretários e chefes de Polícia; c) os membros do Congresso Nacional, dos Conselhos da União e das Assembléias Legislativas dos Estados; d) os cidadãos inscritos no Livro do Mérito das ordens militares ou civis reconhecidas em lei;. e) os magistrados; f) 0s oficiais das Forças Armadas, das Policiais e dos Corpos de Bombeiros, Militares, inclusive 0s da reserva, remunerada ou não, e os reformados; g) os oficiais da Marinha Mercante Nacional; h) os diplomados por faculdade ou instituto superior de ensino nacional; i) 0s ministros do Tribunal de Contas; j) 0s ministros de confissão religiosa. Prevê ainda, que essas pessoas não deverão ser algemadas. Profissional e doutrinador da área jurídico-militar ensina, que ocorrer alguma das hipóteses nlencionadas, que justifique o seu emprego, a 9, 68 escolta deverá redobrar a sua cautela- 68 José da Silva Loureiro Neto. Lições de processo penal militar, p. 77 A prisão especial aplicada também em crimes comuns, já que o Código de Processo Penal elenca pessoas que terão direito à prisão especial, recebeu durante muito tempo severas criticas. Não deixou, porém, de existir, apenas teve ampliado seu rol. Sobre essa celeuma que hoje não mais existe, se manifestou FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO: "Em rigor, deveria ser estendida a t0da.s as pessoas que fossem presas Ante a impossibilidade, por falta de recursos e estmtura, limitou-se o legislador a distinguir certas pessoas em vista da sua escolaridade e das fwições que exercem no meio social. Não se trata de privilégio, como se propaga pela imprensa, mas de uma homenagem em rado das funções que certas pessoas desempenham no cenário j ud i i da nossa terra, inclusive O grau de escolaridade." 69 Assim, hoje não mais se discute a quesao da prisão especial e, conseqüentemente, o USO de algemas no direito militar, já que se escoram no mesmo artigo legal. O Código de Processo Penal Militar só deve ser aplicado para os procedimentos em casos de crimes militares, previstos no Código Penal Militar. . 69 Femando da costa Tourinho Filho. Manual de Processo Penal, p . 574-575 Assim, esse privilégio de não algemamento para alguns elencados na lei castrense só seria possível quando essas pessoas taxadas cometessem algum crime militar. Tem-se a possibilidade, ainda que pequena, de um civil praticar um crime essencialmente militar que ocorrerá "somente contra as Forças Amadas" 'O e, nesse caso, tratando-se de uma das pessoas elencadas no já citado artigo 242, com base no artigo 234, §I0, do CPPM, não seria em hipótese alguma algemada. Toma-se incoerente Uma dessas Pessoas elencadas não ser algemada quando cometer um crime militar e sofrer algemamento ao cometer um crime comum, ainda que aquele de maior gravidade. Assim, que, como 0 ordenamento jurídico não prevê qualquer dessas hipóteses, ainda que 0 seja em legislação essencialmente militar, ser aplicada por analogia, confomie autoriza a Lei de Introdução ao Código Civil em seu artigo 4'9 e estendido esse rol privilegiado para casos de cometimento de crime já que o espírito de criação -- 70 A I ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ Henriques da Costa. Manual Prático de Pofi~iaJudiciária Militar Ed.,Suuprema C ~ [ [ ~ ~ ~ , p. 22, desse artigo, e também da prisão especial, o permitiria. Nesse sentido, cita-se acórdão do estado do Rio Grande do Sul: "existe permissibilidade para uso das aludidas pulseiras, proibindo-se, contudo, sejam usadas, em qualquer hipótese, em pessoas que gozam do direito a prisão especial, o que, por isso só, demonstra a juridicidade da aplicação do mesmo princípio à lei processual comum, isto ngo somente em razão da Lei de Introdução ao Código Civil, referente à analogia (afi.40), mas também do principio da integração das leis (analogia legis), denominado heterointegração, forma heterogènea de integração de uma noma com outra, ainda que de estatutos diferentes." " ISSO, porém, não é O que ocorre. 0 s policiais devem tomar todas as cautelas necessárias para com aquele que assume a condição de preso e, para evitarem fuga e autolesões, acabam algemando qualquer uma das pessoas elencadas, até por conta do desconhecimento dessa possibilidade trazida essencialmente pela analogia- A midia nos trouxe, recentemente, casos de algemamento de juizes, por exemplo João Carlos da Rocha Mattos e Nicolau dos Santos Neto, que desfilaram pelas &meras nacionais utilizando algemas. 0 juiz Rocha Mattos impetrou Habeas Corpus no Supremo Tribunal de Justiça, a utilização de em si, porém, não foi trazida a possibilidade dessa aplicação, por analogia da legislação castrense, e o julgamento do referido HC assim foi concluído. "O uso de algemas pelos agentes policiais não pode ser coibido, de forma genérica, porque algemas são utilizadas, para atender a diversos fins, inclusive proteção do próprio paciente, quando, em determinado momento, pode pretender autodestruição. " 72 A imprensa publicou noticia imbuída de certa ironia, em virtude do não algemamento do ex-senador Luiz Estevão: 73 ' ' ~ 6 há ~ r n s de pessoas que não Usam algemas ao serem detidas por policiais. Isso aconteceu no ano passado, com O senador cassado Luiz Estevão, que pediu aos delegados da Polícia Federal que o prenderam para d o usar algemas e foi atendido prontamente." Diante da de aplicação de analogia trazida, mal sabia a imprensa que ele estava apenas utilizando um direito que lhe podena ser conferido. por fim, recomendam conceituados doutinadores da área militar que : 72 HC 355401SP. RELATOR ~ o s é Arnaido da Fonseca. t5 - Quinta Tuma, data do julgamento 05.08.2004. daia da publicaqão DJ 06.09.2004, P. 00285. . 7; Jornal - O mado de São Paulo: "Governo quer resmngir Liso de algeITlaSn. Edson Luiz 18 de abri] de 200 1. "0 critério da razoabilidade deve ser empregado também quanto 'a utilização de algemas e ararnas. Sempre será verificada a quesao relativa a indispensabilidade da medida da tomada pela autoridade militar. Antes de tudo, a razoabilidade se compreende como uma atitude de bom senso." 74 2.3 Da Lei de Execução Penal - Lei no 7.2 1 0, de 1 1.07.1984 O artigo 199 da Lei no 7.2 10, de 1 1.07.1984, que instituiu a Lei de Execução Penal no sistema brasileiro prevê: Artigo 199, in verbis - 0 emprego de algemas será disciplinado por decreto federal. A Exposição de Motivos dessa Lei, publicada no Diário do Congresso Nacional de 1' de julho de 1983 7 5 , justificava a necessidade de referido artigo, que por aquele projeto receberia o número de 198 e não o atual 199, dado através de alterações, quando da votação: **igo 176, in verbis - A segurança pública e individual é comprometida quando as fugas ou as tentativas de fuga se manifestem, principalmente fora dos limites fisicos dos estabelecimentos prisionais, 74 cláudi0 ~ ~ i , , ~ i ~ ~ ~ l e Nelson ~oldibelli. ,!&menros de Direito Processual Militar, p. I 05, 75 1, ano XXXVJJJ, Suplemento "B" ao no8O.- C â ~ a r a dos Deputados. Projeto de Lei 1657 de 1983. Mensagem
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