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Intercultura Conferencia 11 Natalia Ramos CONPSI2013 (1)

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MOBILIDADES E INTERCULTURALIDADES NA CONTEMPORANEIDADE: 
DESAFIOS PARA A PSICOLOGIA E A INSERÇÂO SOCIAL 1 
Natália Ramos2 
 
Introdução 
A mobilidade é considerada símbolo da contemporaneidade e da modernidade, 
bem como um fator essencial do desenvolvimento humano (PNUD, 2004). A globalização, a 
urbanização e a mobilidade das populações aumentaram as deslocações e as mudanças 
espaciais, territoriais e identitárias e os contactos interculturais, contribuindo para a 
multiculturalidade e transnacionalidade das sociedades, para esbater as fronteiras e para a 
diversidade e heterogeneidade cultural e identitária. Nas últimas décadas do século XX, e 
início do século XXI, as questões da mobilidade, da gestão da diversidade cultural e da 
comunicação e relações interculturais vêm ganhando relevo nos vários setores da sociedade e 
em diferentes domínios científicos, nomeadamente da Psicologia, onde constituem um dos 
campos mais importantes em várias áreas psicológicas. Estas questões colocam desafios e 
oportunidades tanto aos migrantes, às minorias étnico-culturais e à sociedade em geral, como 
às políticas públicas e aos profissionais que trabalham nos diferentes setores de atividade, 
nomeadamente aos psicólogos, constituindo preocupação de muitos Estados e organismos, 
tais como: a Organização das Nações Unidas (ONU, 2006); a Organização das Nações Unidas 
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2001, 2005, 2007); a Organização para a 
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2012); o Conselho da Europa (CE, 
2001); o Alto Comissariado Para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI, 2010); a 
Organização Mundial de Saúde, 1983); a Associação Americana de Psicologia (APA, 2003). 
 A multiculturalidade, no sentido da coexistência numa mesma sociedade de várias 
culturas e etnias distintas, e o contacto intercultural, ou seja, o encontro de pessoas e de 
grupos diferentes do ponto de vista cultural, étnico ou linguístico, são elementos que vêm 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1Conferência realizada no 8º CONPSI, Fortaleza, maio de 2013. 
2Doutorada e Pós- Doutorada em Psicologia pela Universidade de Paris V, Sorbonne; Professora Associada da 
Universidade Aberta, Lisboa e Investigadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais 
(CEMRI), onde coordena o Grupo de Investigação: Saúde, Cultura e Desenvolvimento. E-mail: natalia@uab.pt 
 
 
	
  
 
	
  
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caracterizando cada vez mais o tecido educacional, social e profissional atual. A diversidade 
cultural integra, cada vez mais, todos os domínios da esfera pública, e esta diversidade deverá 
ser considerada, como destaca a UNESCO (2001) na Declaração Universal sobre a 
Diversidade Cultural, artigo 3, “uma das fontes de desenvolvimento, entendido não só como 
crescimento económico, mas, também, como meio de acesso a uma existência intelectual, 
afetiva, moral e espiritual satisfatória”. 
A valorização das trocas culturais e comerciais, as redes transnacionais, as novas 
formas de mobilidade e as novas configurações migratórias têm contribuído para o aumento 
da multi/interculturalidade, dos contactos interculturais e da complexidade da sociedade 
contemporânea e das relações interpessoais e intergrupais. No que diz respeito à migração, o 
desfasamento crescente entre níveis de desenvolvimento e entre estruturas demográficas de 
países ricos e pobres, as catástrofes ambientais, os conflitos étnicos, religiosos, políticos e 
armados, a globalização, a pobreza, o desejo de concretizar sonhos, de alcançar autonomia e 
independência financeira e o desenvolvimento de redes baseadas nos contatos históricos, 
familiares e culturais, têm gerado um número cada vez maior de indivíduos e grupos em 
mobilidade, de migrantes e refugiados. Estes fluxos migratórios e interculturais impregnam a 
vida quotidiana e as relações entre os indivíduos, os grupos, os Estados e as culturas, e 
originam modificações nos países de partida, e de chegada, constituindo também uma 
realidade cultural, psicossocial, educacional, laboral, sanitária, política e jurídica no contexto 
mundial e europeu. 
As problemáticas do domínio intercultural implicam aprender a viver, a 
comunicar e a trabalhar com o Outro, exigem competências de cariz psicológico, social, 
cultural, pedagógico e comunicacional, baseadas na experiência da alteridade e da diversidade 
e no equilíbrio entre o universal e o singular. O encontro intercultural constrói-se a partir das 
relações subjetivas que cada um desenvolve com a(s) sua(s) cultura(s), mas também a partir 
das interações entre os indivíduos e os grupos. Como destacam Touraine (1997) e Wiewiorka 
(1997) a cultura está no centro do que une e divide as sociedades contemporâneas, podendo 
estar na origem de diversos tipos de conflitos. 
 Nesse sentido, o Conselho da Europa (2001) acentua a necessidade de evitar os 
perigos e conflitos que podem resultar da marginalização daqueles que não possuem 
competências para viverem e comunicarem num mundo pluricultural, interativo e global. 
Torna-se necessário aprender a viver juntos, iguais e diferentes, conciliando a unidade e a 
diversidade dos indivíduos e das culturas, reconhecendo ao mesmo tempo, o pluralismo, o 
particularismo e o universalismo com a defesa de valores e direitos humanos universais 
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(Touraine, 1997; UNESCO, 2005, 2007). Do mesmo modo, a Associação Americana de 
Psicologia salienta a importância de integrar as questões da multi/interculturalidade e da 
diversidade na educação, formação, investigação, prática profissional e mudança 
organizacional, assim como a necessidade de produzir bases teórico-conceptuais e 
investigação empírica relevante neste domínio, tanto em Psicologia como em disciplinas 
relacionadas, que justifiquem e forneçam suporte às orientações e intervenções no âmbito da 
interculturalidade (APA, 2003). 
 Contudo, não é só importante desenvolver competências que permitem aos 
indivíduos de ultrapassar as dificuldades de interagir e comunicar em contexto intercultural, 
mas, sobretudo, é necessário compreender os processos e refletir nas competências e atitudes 
que permitem uma melhor vivência e gestão da experiência da diversidade cultural e das suas 
contradições, complexidades e conflitualidades. 
 Iremos debruçar-nos sobre algumas destas questões que se colocam na 
contemporaneidade, analisando igualmente processos, competências, estratégias e políticas 
que não só ajudem os profissionais, principalmente psicólogos que trabalham com migrantes e 
minorias étnico-culturais, a melhor intervirem neste domínio, como também promovam a 
coabitação e a comunicação em contexto de diversidade cultural e favoreçam o acolhimento, 
desenvolvimento, bem-estar e inserção social de todos, qualquer que seja a sua origem e 
identidade cultural. 
 
1.Paradigma Intercultural – Vertentes, Processos e Dinâmicas 
A gestão da mobilidade e da multi/interculturalidade implicam novo paradigma e 
reposicionamento metodológico, epistemológico e ético (Ramos, 2010, 2011, 2012) ao nível 
da intervenção, pesquisa e formação, assente em três vertentes estruturantes: 
Conceptual – As diferenças culturais são definidas, não como elementos 
objectivos com carácter estático, mas como, entidades dinâmicas, subjetivas e interactivas que 
se dão sentido mútuo. A abordagem intercultural constitui uma outra forma de analisar a 
diversidade cultural,não a partir das culturas consideradas como entidades independentes e 
homogéneas, mas a partir de processos e de interacções. 
Metodológica – A abordagem intercultural define-se como global, plural, 
multidimensional e interdisciplinar, de modo a dar conta das dinâmicas e da complexidade 
dos fenómenos sociais e de modo a evitar os processos de categorização. Trata-se para o 
investigador/interveniente de adquirir familiaridade com o universo social sobre o qual 
trabalha, de compreender as representações que o animam e de se interrogar de forma 
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reflexiva, não só sobre a cultura do Outro mas, também, e em primeiro lugar sobre a sua 
própria cultura. 
Ética – A perspectiva intercultural tem como objectivo o conhecimento das 
culturas, mas sobretudo, a relação entre elas e ao Outro, implicando uma atitude de 
descentração (Piaget, 1970). Envolve uma reflexão sobre a forma de respeitar a diversidade 
individual, social e cultural, de conciliar o universal e o particular, o global e o local, de 
adaptação à complexidade estrutural duma sociedade e à sua conflitualidade. 
Qualquer que seja o domínio de intervenção, os profissionais, em particular os 
psicólogos, são confrontados cada vez mais na sua prática com pessoas que nascem e crescem 
entre culturas diferentes, que vivem em contextos de mobilidade e interculturalidade. Esta 
situação interpela os psicólogos a interrogarem-se sobre: a influência da dimensão cultural no 
indivíduo; a unidade e diversidade do ser humano e a importância da universalidade e/ou da 
relatividade na estruturação psíquica; a relação com a alteridade; a complexidade dos 
processos de aculturação psicológica resultantes do encontro intercultural; e a identificação 
dos mecanismos psicológicos mobilizados pelos indivíduos para gerir a ansiedade e stresse 
originados pela mudança e adaptação cultural. 
Alguns especialistas e organismos nacionais e internacionais têm vindo a acentuar 
igualmente a necessidade de os profissionais dos diferentes domínios estarem atentos ao 
impacto dos seus estereótipos, preconceitos e comportamentos discriminatórios na 
comunicação e na intervenção, assim como a de terem em conta a diversidade individual, 
social e cultural dos seus utentes nas suas práticas profissionais e de adquirirem formação 
adequada no âmbito intercultural (Ramos, 2004, 2007a, 2008a, 2011; CE, 2001; APA, 2003; 
Stuart, 2004; Wade, 2005; Paillard, 2011). 
Com efeito, existe atualmente uma crescente preocupação com o facto de os 
serviços e profissionais que acolhem e prestam cuidados a indivíduos e grupos culturalmente 
diferentes encontrarem cada vez mais dificuldades face à diversidade cultural e não possuírem 
competências para responder às necessidades específicas destes. Neste sentido, acentua-se a 
necessidade de a formação dos profissionais, nomeadamente psicólogos, se preocupar em 
preparar estes para gerirem as problemáticas interculturais, ter em conta a relação entre 
cultura e psiquismo, assim como a importância da cultura e das mudanças culturais na 
compreensão do funcionamento do indivíduo e nas suas reorganizações psíquicas, identitárias 
e sociais. Esta formação deverá proporcionar um nível de análise e de intervenção que tenha 
em conta a singularidade do indivíduo, mas inserido num ou mais contextos culturais, os 
quais reenviam para questões de pertença e identidade plurais e complexas. Alguns autores 
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reconhecem a necessidade da implementação de programas de formação que incluam 
conteúdos culturais e desenvolvam competências interculturais (Sue et al., 1992, 2001; 
Tomlinson-Clarke, 2000; Ramos, 2001, 2004, 2008a,b, 2011, 2012 a, b; Ridley et al., 2003; 
Stuart, 2004; Paillard, 2011). 
A presença nos diferentes serviços educativos, sociais e de saúde de um número 
crescente de indivíduos oriundos de diversos universos culturais origina, nas instituições, nos 
profissionais e nessa população multicultural, uma variedade de problemas, tensões e 
conflitos, que podem expressar-se através de dificuldades de comunicação e compreensão, 
nomeadamente linguísticas, diferenças de valores, comportamentos e hábitos e problemas 
relacionais e interculturais. Esta situação: (i) exige sensibilidade e empatia para acolher e 
compreender as diferenças, sejam elas culturais, sociais, geracionais, sexuais, religiosas ou 
outras; (ii) implica desenvolver intervenções, integrando e valorizando os contextos sociais e 
ecológico-culturais dos indivíduos, assim como as culturas de origem; (iii) supõe dar-lhes 
oportunidades de contacto com a cultura de origem, língua, religião e história, no sentido da 
preservação e do desenvolvimento da sua identidade étnico-cultural; (iv) necessita incentivar 
o conhecimento e a valorização das diferentes culturas, evitando estereótipos, preconceitos, 
atitudes etnocêntricas, discriminatórias e racistas; (v) exige criar relações baseadas na 
empatia, respeito, confiança, diálogo, responsabilidade e disponibilidade; (vi) implica 
incrementar uma formação sólida dos profissionais, tanto da área da psicologia, como do 
domínio social, educacional, jurídico e da saúde, na temática das questões culturais, da 
educação, comunicação e psicologia interculturais (Samovar & Porter, 1988; Clanet, 1990; 
Ouellet, 1991; Berry et al.,1992; Ladmiral & Lipiansky, 1992). 
Uma formação dos profissionais que inclua conhecimentos culturais e 
desenvolvimento de competências interculturais poderá ajudar, igualmente, a reduzir as 
barreiras comunicacionais, sociais e culturais em contextos migratórios e interculturais, assim 
como, a tomar em conta não somente as referências culturais, que podem ser plurais e a partir 
das quais os indivíduos se estruturam, como também os processos psicológicos e 
interculturais que elas desencadeiam para gerir as situações de aculturação psicológica, ou 
seja, os processos, estratégias e mudanças psicológicas que o indivíduo enfrenta no encontro 
entre duas ou mais culturas, a sua cultura de origem e a de acolhimento (Berry, 1997; Ramos, 
2001, 2004, 2008a, b, 2010, 2012b, c); uma formação que favoreça a compreensão e gestão 
dos processos de interculturação, ou seja, o conjunto de processos psíquicos, relacionais, 
grupais e institucionais originados pelas interacções de grupos culturais diferentes ou 
reivindicando uma pertença a comunidades culturais diferentes, numa relação de trocas 
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recíprocas e numa perspectiva de salvaguarda de uma relativa identidade cultural dos 
parceiros em relação, reenviando à integração psíquica de uma pluralidade de referências 
culturais que se vão combinar e interagir umas com as outras e de relações terciárias e que não 
podem ser reduzidas a nenhum dos polos culturais em presença (Dasen, 1990), que podem ser 
dolorosas. Com efeito, em situações de mobilidade e mudança cultural, os indivíduos estão 
submetidos a imposições culturais que poderão ser contraditórias e incompreensíveis e são 
obrigados a fazer escolhas que podem ser fonte de dúvidas, tensões e conflitos interpessoais, 
intrafamiliares, intrapsíquicos e interculturais, geradores de sentimentos de insegurança, de 
culpabilidade, de angústia e de ansiedade, acentuados pelo medo de não reconhecimento, de 
discriminação e de exclusão. 
 
2. Contextos da Multi/Interculturalidade e Figuras do Outro e da Alteridade 
Tem-se vindo a assistir no mundo a uma intensificação da diversidade cultural e 
dos contactos interculturais, à diversificação da mobilidade e das categorias e sistemas 
migratórios e a uma afirmação de direitos e diferenças. No mundo aberto e plural 
contemporâneo, com a globalização, o turismo internacional, o surgimento de políticas 
migratórias em países que não possuíam as mesmas,o direito à mobilidade, gerido por uma 
governação mundial das migrações, as novas formas de mobilidade qualificada, os novos 
meios de comunicação (como os media, a internet), as facilidades de deslocação e os meios de 
transporte rápidos, o migrante, a diversidade cultural e o Outro têm hoje um outro estatuto e 
imagem. O Outro não está longínquo e distante, mas está mais próximo e presente no 
quotidiano e, ainda que nem sempre aceite e compreendido, coabita connosco e reclama 
respeito e direitos. Temos uma diversidade cultural multifacetada que encontramos no seio 
dos Estados, das cidades, no dia-a-dia, relacionada com a abertura ao mundo, a globalização, 
as transições demográficas, o envelhecimento populacional nos países desenvolvidos, a 
afirmação de direitos e a cidadania. Temos o estatuto do Outro no quadro das migrações, da 
globalização e da Convenção da UNESCO (2001, 2005, 2007), reconhecendo a igualdade das 
culturas e constituindo uma revolução democrática no plano internacional. 
A primeira figura do Outro e da diversidade cultural é o Migrante, os indivíduos 
continuando a migrar, dentro ou para fora dos seus territórios, por motivos económicos, 
sociodemográficos, políticos, laborais, familiares, académicos e científicos, de cooperação 
transnacional, de guerras e conflitos étnicos e religiosos, de desastres e catástrofes ambientais, 
ainda que sendo, muitas vezes, objeto de medos, preconceitos, discriminação, violência e 
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exclusão. Frequentemente, para diminuir o medo do Outro, por exemplo do migrante, evoca-
se a necessidade de reforçar a vigilância das fronteiras, ou mesmo de as fechar, de estabelecer 
fronteiras, separando os cidadãos dos invasores, dos estranhos, os nacionais dos migrantes. 
Muitas histórias de migração são marcadas pela exclusão ou pela assimilação, representando 
uma violência estrutural e estruturante. Esta violência faz-se acompanhar de dispositivos 
simbólicos que criam linhas de demarcação entre bons e maus, entre nós e os outros, e 
desenvolvem mecanismos de ocultação da violência e de inversão da causalidade, deslocando 
a culpa para as vítimas (Bochner, 1982; Camilleri, 1990; Grant, 1992; Farmer, 2003; Ramos, 
2001, 2004, 2008a, 2010; Santos, 2006). As sociedades ao definirem as suas “fronteiras” 
provocam os seus “estranhos”, os conflitos, a exclusão e a marginalização (Bauman, 1995, 
2005). 
A mobilidade populacional constitui um fenómeno importante no mundo, 
sobretudo na Europa, na Ásia e na América do Norte, registando-se perto de mil milhões de 
pessoas em situação de mobilidade no mundo (OCDE, 2012). Com efeito, as migrações têm 
vindo a aumentar, sejam as migrações permanentes (indivíduos que se instalam 
definitivamente num outro país ou região), as migrações temporárias (mudança de país por 
uma curta duração, por exemplo, funcionários e estudantes internacionais) ou ainda as 
migrações involuntárias (refugiados ou solicitadores de asilo). 
As migrações ocorrem sobretudo no interior dos países, estimando-se que haja 
aproximadamente, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU),740 milhões de 
migrantes internos; 240 milhões de migrantes internacionais, dos quais cerca de metade são 
mulheres (só na Europa as mulheres representam 53% dos migrantes); 14 milhões de 
migrantes devido à insegurança, a catástrofes ou a guerras; 33 milhões são crianças e jovens 
menores de 20 anos de idade, que migraram com as suas famílias ou sozinhos (por exemplo, 
em África, os migrantes com menos de 20 anos constituem o maior grupo da população total 
de migrantes (28%), na Ásia e na Oceânia 20%, e nos continentes americano e europeu 11%). 
(UNICEF, 2011, 2012; OCDE, 2012). Para além das crianças e jovens que migram, muitos 
outros são direta ou indiretamente afetados pela migração, inclusive as crianças e jovens que 
são deixados na região ou país de origem aos cuidados de parentes, vizinhos ou amas, quando 
um ou os dois pais emigram, sobretudo as mães. Esta situação implica novas configurações 
familiares, tem implicações psicológicas e sociais importantes, com impactos ao nível do 
desenvolvimento e da saúde das crianças e adultos, em particular das mães que partem e das 
crianças que ficam, os “órfãos” das migrações. 
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Os imigrantes irregulares fogem às estatísticas oficiais, mas os números 
conhecidos assinalam 30,8 milhões na União Europeia, 30,9 milhões nos EUA e 25,3 milhões 
na Ásia. Quanto às migrações forçadas de pessoas, geralmente tráfico de mulheres e crianças 
por redes internacionais ligadas ao crime, estas representam atualmente 12 milhões de pessoas 
(Eurostat e USCB, 2008). 
O número de migrantes internacionais triplicou em 40 anos, registando-se na 
década de 70 apenas 75 milhões. Só na União Europeia (UE), o número de migrantes 
provenientes de países extra europeus aumentou 75% desde 1980, sendo a Europa o 
continente que acolhe o maior número de migrantes no mundo. De 1990 a 2000 as migrações 
internacionais representaram nos países desenvolvidos 56% do aumento populacional e nos 
países em desenvolvimento 3%. Na Europa neste período as migrações representaram 89% do 
crescimento da população. Dos 28 países da União Europeia, é a Alemanha que acolhe o 
maior número de cidadãos estrangeiros, num total de 7,2 milhões, seguida da Espanha, com 
5,6 milhões, e do Reino Unido, com mais de quatro milhões. Em 2010, a China foi o principal 
país de origem dos migrantes que se deslocaram para os países da Organização para a 
Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE, 2012). 
Em Portugal, segundo os Censos de 2011, residiam em Portugal 394.496 
indivíduos de origem estrangeira, representando 3,7% do total de residentes do país. Mais de 
metade desta população estrangeira é constituída maioritariamente por mulheres (206.410), 
sendo os homens 188.086 e 51,6% reside na região de Lisboa. A maior comunidade 
estrangeira é a brasileira (28%), seguindo-se a cabo-verdiana (10%), a ucraniana (9%), a 
angolana (6,8%), a romena (6,2%) e os originários da Guiné-Bissau (4,1%) (INE, 2012). Já o 
Brasil, abriga 286.468 imigrantes internacionais, tendo o número de imigrantes a viver no 
Brasil aumentado 86,7% em dez anos. Do total de imigrantes internacionais, 174.597 
nasceram no Brasil, significando que 65,1% destes são os chamados imigrantes de retorno 
(IBGE, 2012). 
Outra figura da mobilidade e do Outro em aumento crescente é o turista 
internacional, significando um habitante em sete no planeta, tendo-se registado no mundo, em 
2012, cerca de mil milhões de turistas. 
A diversidade cultural está igualmente representada nos mais de 3 milhões de 
estudantes do ensino superior que se encontram fora dos seus países e que estão em aumento 
crescente, assim como os fluxos de trabalhadores qualificados. Em 2000, 11% dos 
enfermeiros e 18% dos médicos que trabalhavam nos países da OCDE eram de origem 
estrangeira. Com efeito, ao nível mundial tem aumentado a mobilidade qualificada e 
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estudantil, tendo o número de estudantes internacionais duplicado no seio dos países da 
OCDE, situando-se o aumento deste grupo em 41%, só entre 1999 e 2004. Na União 
Europeia, a mobilidade para fins educativos e de aprendizagem é um dos objetivos principais 
da Estratégia 2020 para o crescimento e o emprego, situando-se na base da iniciativa 
Juventude em Movimento, da Comissão Europeia. Na UE, o programa de mobilidade Erasmus 
já deu oportunidades a cerca de três milhões de estudantes universitários de frequentarem 
instituições de ensino superior de trinta e três países europeus, onde se inclui Portugal, e, no 
quadro do Erasmus Mundus, mais de 1 300 alunos de fora da Europa vieram estudar ao abrigo 
deste programa. Este aumentoda mobilidade internacional estudantil reforça a criação de um 
Espaço Europeu e Mundial de Ensino Superior e faz parte da estratégia da Comissão Europeia 
de proporcionar aos estudantes mais oportunidades para adquirirem competências através do 
estudo e da formação no estrangeiro, promovendo as competências interculturais, o 
desenvolvimento pessoal e a empregabilidade ao nível estudantil. 
 Outra figura do Outro e da alteridade está associada à cidade, à urbanização. Mais 
de metade da população mundial (65%), oriunda de diversos universos culturais e sociais, 
habita hoje em zonas urbanas e suburbanas, prevendo-se que, em 2030, as cidades do mundo 
em desenvolvimento acolham 80% do total da população, contribuindo as migrações para este 
aumento populacional. Com efeito, mais de 50% dos migrantes e refugiados em todo o mundo 
vivem em áreas urbanas, contribuindo para a diversidade cultural associada à urbanização 
(ACNUPR, 2009a,b). Em Portugal, a Área Metropolitana de Lisboa concentra mais de 50% 
da população imigrante. Neste sentido, o Conselho da Europa e a Comissão Europeia, 
insistem em que é necessário a gestão e organização intercultural dos espaços nas cidades 
multiculturais, promover a “Cidade Aberta e Intercultural” e acolher a diversidade cultural e 
as comunidades migrantes nas cidades ditas “globais” (Sassen, 2001), de modo a responder às 
caraterísticas e necessidades das populações e sociedades atuais. O acolhimento dos migrantes 
e a gestão da diversidade cultural nas zonas urbanas constitui uma das grandes preocupações 
atuais, tendo o Conselho da Europa e a Comissão Europeia lançado em 2008 - Ano Europeu 
do Diálogo Intercultural - o projeto “Cidades Interculturais”, tendo como objetivo: combater 
os preconceitos, a discriminação e promover a igualdade de oportunidades, adaptando as 
estruturas de gestão, as instituições e serviços às necessidades de todos os seus habitantes e 
cidadãos; desenvolver em cooperação com as empresas, a sociedade civil e os diferentes 
agentes públicos, um conjunto de políticas e atividades de modo a promover os contactos 
entre os diferentes grupos culturais, diminuir os conflitos e a violência e consolidar políticas 
públicas que tornem a cidade mais sustentável, atrativa, acolhedora e solidária para todos. 
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 Outra figura do Outro e da diversidade cultural são os cerca de 300 milhões de 
pessoas, distribuídas por mais de 70 países, que pertencem a grupos indígenas, representando 
cerca de 4 000 línguas. Na América Latina, por exemplo, os 50 milhões de indígenas 
constituem 11% da população da região (PNUD, 2004). Só no Brasil, vivem 896.900 índios 
(0,47% da população brasileira), divididos por 305 etnias e falantes de 274 línguas diferentes, 
segundo dados do Censo de 2010 (IBGE, 2012). 
Para a multiculturalidade da sociedade contribui também o grande número de 
ciganos, minoria étnica espalhada por diferentes países do mundo, nomeadamente pela 
Europa, onde constituem a maior minoria étnica neste continente (cerca de 11 milhões), com 
hábitos culturais próprios e enfrentando, em geral, condições sociais difíceis, maior 
mortalidade infantil e esperança de vida inferior ao resto da população. Só em Portugal 
estima-se que vivam entre 40 000 a 70 000 ciganos. No Brasil, os dados do Censo de 2010 
apontam para a existência de cerca de 800 000 ciganos neste país (IBGE, 2012). 
Também a União Europeia, projeto político que envolve 28 países e mais de 500 
milhões de habitantes com história e língua diferentes e com identidades sociais e culturais 
fortes, constitui um grande desafio político, cultural, educacional, comunicacional e, em 
particular, um desafio ao diálogo e gestão intercultural e à coabitação cultural e social. 
 
3. Alteridade, dinâmicas identitárias e relações interculturais 
A análise da dinâmica intercultural e da experiência subjetiva do contacto 
intercultural permite apreender as ambivalências e mecanismos adaptativos dos sujeitos 
confrontados com a diferença cultural e com as relações entre universos culturais diferentes, 
assim como a complexidade das reorganizações psíquicas e identitárias e dos processos e 
conflitos intrapsíquicos, intersubjetivos e interpessoais colocados em jogo nesta situação. O 
encontro intercultural inscreve-se num movimento de confrontação com a alteridade e é fonte 
de enriquecimento, desenvolvimento e criatividade, mas igualmente de ambivalências, crises, 
tensões e conflitos. Com efeito, no encontro intercultural, a separação, o fechamento sobre si 
mesmo, a idealização dos seus valores e a mitificação do seu grupo caminham paralelamente 
com a abertura ao Outro, à alteridade, à diversidade, que conduzem à construção de novas 
relações e à aprendizagem de novos modos de ser, de fazer e de pensar. 
O confronto com a alteridade, o encontro intercultural, as relações entre o Eu e o 
Outro, são influenciados por representações sociais, por estereótipos, preconceitos, projeções 
culturais, ideológicas e políticas e pelo etnocentrismo. O etnocentrismo, os estereótipos e os 
preconceitos constituem barreiras, filtros culturais à comunicação intercultural e estão na 
11	
  
	
  
origem de conflitos e incompreensão entre grupos minoritários e maioritários (Cohen-
Emerique, 1993; Ladmiral & Lipiansky, 1992). As relações entre indivíduos e grupos 
culturalmente diferentes originam um conjunto complexo de representações e processos 
psicológicos e sociais, tal como salienta Moscovici (2005, p. 56), ” Pessoas que pertencem a 
outras culturas nos incomodam, pois estas pessoas são como nós e, contudo, não são como 
nós; assim, nós podemos dizer que elas são “sem cultura”, “bárbaros”,” irracionais”, etc (…). 
O “não familiar” atrai e intriga as pessoas e comunidades (…) O medo do que é estranho (ou 
dos estranhos) está profundamente arraigado em cada um de nós”. 
Assim o Outro poderá ser visto como alguém a tolerar, como um sujeito pleno de um 
grupo social, como uma fonte social e cultural positiva, como um cidadão com direito à 
afirmação da diferença e à participação, ou como ameaça e fonte do mal e um sujeito a 
excluir, a discriminar ou a eliminar. Estes elementos vão ter importância quer na aceitação/ 
inclusão, ou na discriminação/exclusão da diferença, do estrangeiro; quer na anulação ou na 
valorização da identidade do Outro e da alteridade; quer na saúde e bem-estar ou no 
sofrimento e doença; quer nos conflitos decorrentes das relações entre maiorias e minorias, 
entre nacionais e migrantes ou na aceitação e diálogo intercultural; quer ainda na 
comunicação intercultural e nas práticas e atitudes dos profissionais e da população em geral. 
Estas representações, estas imagens deverão ser reconhecidas na sua subjetividade 
e objetividade, nas suas implicações individuais e coletivas, no espaço e no tempo, na 
experiência do Eu e do Outro. Deverão ser situadas nos contextos psico-socio-históricos de 
origem, nos contextos simbólicos e reais, implicando a análise das suas funções na identidade 
e alteridade, na dinâmica das relações entre os indivíduos, as culturas e as sociedades e, ainda, 
ao nível da coesão social e do desenvolvimento dos indivíduos e dos grupos. 
Os indivíduos em situação intercultural vão mobilizar recursos psíquicos e 
estratégias identitárias e adaptativas para enfrentarem as vulnerabilidades, conflitos, 
desigualdades e desequilíbrios introduzidos pela confrontação à alteridade e às numerosas 
readaptações, mudanças e acessibilidades. O processo de mobilidade e de encontro cultural 
implica processo complexo e contraditório, uma experiência de perda, rutura, mudança, 
descontinuidade, vivenciada pelo indivíduo de forma mais ou menos harmoniosa outraumatizante, segundo os recursos individuais e sociais, implicando uma adaptação social e 
psicológica à cultura de acolhimento, a um meio novo, desconhecido ou hostil. Esta adaptação 
vai depender de fatores múltiplos relacionados com aspetos específicos da aculturação 
psicológica. Berry (1997) identifica quatro estratégias de adaptação, de que resultam quatro 
modos de aculturação, segundo se dá ou não importância à manutenção, por um lado, da 
12	
  
	
  
identidade e da cultura de origem e, por outro lado, às relações com os outros grupos e com a 
sociedade de acolhimento: assimilação, marginalização, separação e integração. As 
numerosas mudanças envolvidas no processo migratório e de aculturação (temporais, 
espaciais, físicas, biológicas, sociais, culturais, psicológicas e políticas), a reelaboração de 
escolhas, o reajustamento de representações, valores, crenças e projetos de vida, para além de 
desencadearem aspetos positivos e criativos, poderão gerar conflitos intrapsíquicos e 
interpessoais, crises identitárias e dificuldades de adaptação. A coexistência de códigos 
culturais, por vezes, contraditórios e incompreensíveis e a impossibilidade de estabelecer 
mediações entre universos culturais diferentes, assim como a incapacidade de lidar com as 
exigências do ambiente e a ansiedade e conflitos decorrentes das decisões entre o que manter 
e abandonar da cultura de origem, poderão ter efeitos desorganizadores no comportamento e 
estar na origem de distúrbios psicopatológicos e stresse de aculturação (Berry, 1997; Grinberg 
& Grinberg, 1986; Ramos, 2001, 2004, 2008a, 2008b, 2009c). 
Para além de terem de enfrentar as mudanças e dificuldades de adaptação a uma 
nova cultura, meio ambiente, língua, trabalho e estilo de vida, os indivíduos em situação de 
mobilidade e interculturalidade são confrontados com outras práticas e regras sociais, 
educacionais e de cuidados, com questões de acessibilidade aos serviços e de integração e 
aceitação e, por vezes, com atitudes etnocêntricas e problemas relacionais e de comunicação, 
nomeadamente com os profissionais. Os profissionais que não possuem competências para 
trabalhar com estes indivíduos de diferentes universos culturais encontram eles próprios 
dificuldades de vários tipos e manifestam, frequentemente, insatisfação, comportamentos 
etnocêntricos e inadequados (Ramos, 2004, 2007b, 2012a,2012c). Com efeito, as relações 
interculturais implicam relações assimétricas entre grupos maioritários e minoritários, 
dominantes e dominados, autóctones e estrangeiros, conduzindo por vezes os profissionais a 
avaliar a cultura do Outro, do estrangeiro, através de uma hierarquização das culturas em 
presença, onde a cultura dos profissionais serve de referência e é considerada superior. Esta 
situação exige, por um lado, uma reflexão da parte dos profissionais sobre as relações que 
mantêm com essas populações, nomeadamente as suas relações e atitudes face à diferença, e, 
por outro, que se questionem enquanto sujeitos culturais sobre as suas representações, 
sistemas de valores, modelos sociais, familiares e educativos, os quais podem interferir na 
relação com o Outro, no confronto com a alteridade e na prática profissional. Esta atitude é 
indispensável na intervenção intercultural para que os profissionais possam refletir sobre o 
impacto das suas representações e ideologias e das suas reações face à alteridade (Devereux, 
1992); para conseguirem descentrar-se dos seus próprios modelos de referência (Piaget, 
13	
  
	
  
1970), aceitar o Outro e prevenir-se contra o etnocentrismo o qual é prejudicial na relação e 
comunicação com este; para não se confinarem a uma representação do Outro estereotipada, 
enraizada em preconceitos, desvalorizada, globalizante, simplificada ou idealizada, a qual vai 
interferir na relação e no trabalho com este. 
Para preparar os indivíduos para as relações interculturais, têm sido desenvolvidos 
diversos programas de formação e treino de competências interculturais, questão que 
analisaremos seguidamente. 
 
4. Formação e competências interculturais – Variáveis e dimensões 
As competências interculturais promovem a reflexão e a capacidade para colocar 
em prática atitudes e conhecimentos nas relações interculturais, ou seja, nas relações com 
indivíduos culturalmente diferentes. A competência intercultural implica que, num contexto 
de diversidade cultural, de interação e de coabitação intercultural, os indivíduos tenham 
consciência, capacitação e competências instrumentais que lhes permitam aceitar, dialogar e 
negociar com o Outro, fazerem-se compreender ao nível comunicacional, relacional e cultural 
nos vários sectores e níveis de intervenção, designadamente individual/interpessoal, grupal ou 
organizacional. As competências interculturais dão aos profissionais a capacidade para 
integrar a diversidade individual e cultural nas suas abordagens teóricas e práticas, tendo em 
vista um melhor desempenho profissional, a compreensão da alteridade e das relações entre o 
Eu e o Outro e facilitar as relações interculturais e a cooperação transnacional. As 
competências interculturais exigem o desenvolvimento de um conjunto diversificado de 
atitudes, valores, conhecimentos e aptidões básicas que capacitem os cidadãos e os 
profissionais para viver e trabalhar em contextos de diversidade cultural (Brislin &Yoshida, 
1994; Byram, 1997; Cohen-Emerique, 1999; Hall, 1978,a,b; Hoopes, 1980; Paillard, 2011; 
Ramos, 2001; Sue, 1992, 2001; 2007a, b, 2008a, 2009a, 2011, 2012a, 2012c; Weaver, 2008). 
A competência intercultural vai para além das competências individuais e comunicacionais, 
implicando igualmente programas, organizações, serviços e políticas culturalmente 
competentes e sensíveis às questões interculturais, pelo que os profissionais deverão saber 
utilizar, igualmente, estratégias e técnicas culturalmente apropriadas nas suas intervenções e 
nos processos de mudança organizacional, de modo a promoverem práticas organizacionais e 
de gestão culturalmente apropriadas. 
A cultura, através dos seus processos e especificidades, influencia a forma de 
pensar, sentir e agir numa sociedade cada vez mais multicultural, pelo que as competências 
14	
  
	
  
interculturais dos diferentes profissionais têm sido objeto de estudo, tanto nos EUA, como na 
União Europeia, e de recomendações de várias associações profissionais, nomeadamente da 
Associação Americana de Psicologia (APA). No que diz respeito aos contactos interculturais 
e às populações culturalmente diversas, a APA (2003) propõe um conjunto de recomendações 
aos psicólogos ao nível da educação, formação, investigação, prática profissional e mudança 
organizacional: 
 
Importância de os psicólogos reconhecerem que, enquanto seres 
culturais, desenvolvem crenças e atitudes, as quais podem influenciar 
negativamente as suas percepções e interações com indivíduos cultural 
e etnicamente diferentes; Importância do reconhecimento da 
sensibilidade, conhecimento e compreensão multicultural sobre as 
diferenças culturais e étnicas dos indivíduos; Importância de os 
psicólogos utilizarem os princípios da multi/interculturalidade e da 
diversidade na formação psicológica; Importância de os pesquisadores 
em psicologia terem competência para realizar investigações centradas 
em questões (inter)culturais com indivíduos de diferentes origens 
étnicas, linguísticas e culturais; Importância de os psicólogos 
desenvolverem estratégias e competências culturalmente adaptadas na 
sua prática clínica ou noutras atividades profissionais; Importância de 
os psicólogos utilizarem processos de mudança organizacional de 
modo a promover o desenvolvimento de práticas organizacionais 
culturalmente adequadas.Trabalhar, comunicar e viver em contexto multicultural exige o desenvolvimento 
de um conjunto diversificado de competências que podemos agrupar deste modo (Ramos, 
2001, 2007b, 2010, 2011, 2012a, 2012c): 
1) competências individuais, que favoreçam o conhecimento sobre si mesmo e sobre o 
comportamento humano em geral; que desenvolvam atitudes e comportamentos que 
promovam interações sociais harmoniosas entre os indivíduos, os grupos e as culturas; e que 
desenvolvam a autorreflexão, o autoconhecimento e uma atitude de descentração, a qual 
permitirá flexibilizar e relativizar princípios e modelos apresentados como únicos, universais 
ou superiores e evitar estereótipos, conflitos e comportamentos etnocêntricos, de intolerância 
e de discriminação; 
2) competências (inter)culturais, que promovam conhecimentos e aptidões para trabalhar com 
a diversidade cultural, sobretudo competências linguísticas, comunicacionais, culturais e 
pedagógicas, que facilitem, por um lado, o conhecimento das culturas, a comunicação 
intercultural e a consciencialização cultural e, por outro, que promovam estratégias e 
15	
  
	
  
intervenções culturalmente competentes e inclusivas e profissionais e cidadãos culturalmente 
sensíveis e implicados; 
3) competências de cidadania, que tornem possível o desenvolvimento de estratégias e 
políticas promotoras de participação e integração social, de igualdade de oportunidades e de 
direitos humanos, e promovam o funcionamento democrático e plural das sociedades, das 
organizações e dos serviços; 
4) competências tecnológicas, nomeadamente ao nível do domínio e utilização das técnicas 
audiovisuais e das novas tecnologias de informação e comunicação, e da internet, as quais 
vêm abrir fronteiras e oportunidades, favorecendo o conhecimento da diversidade cultural, a 
comunicação intercultural, a inclusão, a educação intercultural e transnacional, e viabilizar 
encontros virtuais que facilitam a transmissão e partilha de ideias, tradições culturais e 
recursos de informação e aprendizagem disponíveis em qualquer parte do mundo. 
A competência intercultural é concebida como um conjunto articulado de 
comportamentos, atitudes e políticas que se manifestam em diferentes situações, 
designadamente num serviço, organização ou entre os profissionais, os quais permitem 
intervir adequadamente em situações interculturais. Para Cross et al. (1989), a competência 
(inter)cultural poderá assim ser trabalhada ao nível de diferentes dimensões: 
individual/interpessoal, centrada nos profissionais; de serviço (educativo, social, de saúde…); 
e institucional/organizacional (escola, hospital, centro de saúde…). 
Já Sue et al. (1992) propõem um modelo de competência intercultural organizado 
em três dimensões, ou seja, consciencialização, conhecimento e competências: a dimensão da 
consciencialização diz respeito ao reconhecimento por parte do profissional das suas atitudes, 
valores e estereótipos em relação às minorias étnico-culturais, assim como da sua própria 
identidade cultural, com o objetivo de sensibilizar para a importância da autoconsciência 
cultural, da identidade cultural do Outro e para as suas limitações profissionais e 
competências para trabalhar com minorias; o conhecimento concerne o desenvolvimento da 
informação e compreensão que o profissional deverá ter sobre a diversidade cultural, sobre os 
grupos culturais com quem trabalha e sobre as influências culturais, sociais e políticas 
exercidas sobre esses grupos. É importante que os profissionais tenham um bom 
conhecimento sobre a sua cultura e tenham consciência da forma como a mesma, a par da sua 
experiência cultural e pessoal, afeta as suas conceções e estereótipos, os diferentes estilos de 
comunicação e o modo como este estilo comunicacional poderá facilitar ou dificultar a 
comunicação e a relação com os indivíduos de outras culturas e minorias; finalmente, as 
16	
  
	
  
competências dizem respeito a estratégias e técnicas específicas de avaliação e intervenção 
utilizadas no trabalho com grupos minoritários ao nível cultural. Acentua-se que haja uma 
familiarização dos profissionais com os contextos, a intervenção comunitária e a investigação 
intercultural, para que o conhecimento sobre os indivíduos e grupos culturalmente diferentes 
não seja apenas baseado na formação teórica e experiência profissional. 
No desenvolvimentodas competências interculturais e nas relações interculturais, 
é importante a tomada de consciência do grau de determinismo cultural dos comportamentos e 
é necessário desenvolver a consciencialização cultural. Esta constitui um processo de 
aprendizagem cultural, que visa desenvolver a capacidade de analisar o mundo do ponto de 
vista de uma outra cultura, bem como a aquisição das competências para reconhecer as 
diferenças e a pluralidade (Hoopes, 1980). 
É igualmente importante evitar julgamentos rápidos e superficiais, estereótipos, 
preconceitos e atitudes etnocêntricas, o que permitirá colocar-se no lugar do outro, de forma a 
tentar compreender as coisas do seu ponto de vista, o que permitirá a descentração. A atitude 
e a prática da descentração dão-nos a capacidade de relativizar e de visualizar uma situação 
através de várias perspetivas e de outros quadros de referência, ajuda cada um a adotar uma 
certa distância em relação a si mesmo e conduz à autorreflexão, constituindo uma das atitudes 
que todos os profissionais deverão trabalhar em permanência. A este nível revela-se também 
essencial combater o etnocentrismo, ou seja, a tendência para julgar os membros e costumes 
dos outros grupos, tendo como base os do seu grupo de pertença, os seus costumes, valores e 
tradições sendo, geralmente, considerados únicos, universais ou superiores aos do outro grupo 
(Ramos, 2001, 2010, 2011). 
Algumas aptidões individuais, comunicacionais e relacionais baseadas na empatia, 
disponibilidade, consciência, respeito mútuo, curiosidade, abertura de espírito, confiança, 
generosidade, reconhecimento do Outro, bem como a adaptabilidade, consciência cultural, 
autorreflexão e conhecimento dos seus preconceitos, estereótipos e atitudes discriminatórias e 
racistas, e dos outros grupos culturais, revelam-se importantes ao nível do desenvolvimento 
das competências interculturais e para a qualidade da intervenção nos diferentes domínios 
(Cohen-Emerique, 1993, 1999; Ladmiral & Lipiansky, 1992; Ramos, 2001, 2003, 2004, 
2009a, 2011, 2012c; Spitzberg & Chagnon, 2009; Sue et al, 1992). 
Outros autores sublinham ainda, algumas aptidões e atitudes a ter em conta neste 
âmbito: a consciência, o conhecimento e a informação sobre as culturas e as diferenças 
culturais; as atitudes em relação às diferenças culturais, nomeadamente os preconceitos, a 
idealização ou o “choque emocional” quando comunicam com pessoas de culturas diferentes; 
17	
  
	
  
as competências comportamentais (Brislin & Yoshida, 1994). Já Weaver (2008) acentua 
igualmente a importância da consciência crítica, da autoconsciência no desenvolvimento da 
competência intercultural, assim como certos valores e atitudes, nomeadamente a motivação 
para a aprendizagem, o sentido de justiça social e a humildade. 
Para preparar os profissionais para o trabalho com populações culturalmente 
diversificadas e favorecer os contactos interculturais, têm sido desenvolvidos diversos 
programas de formação e treino de competências interculturais, os quais são caracterizados 
por uma grande diversidade de conteúdos, estratégias e métodos, incluindo determinadas 
áreas, nomeadamente: aquisição de competências de comunicação intercultural; 
aprofundamento do conhecimento dos profissionais sobre os vários grupos étnico-culturais e 
sobre a história,costumes, valores e características culturais destes grupos; informação sobre 
a cultura de acolhimento e dos outros países e culturas; incremento da consciencialização de 
atitudes em relação às minorias étnico-culturais, ajudando na aceitação de comportamentos 
culturalmente diferentes ou considerados estranhos e na modificação de atitudes e 
comportamentos; compreensão dos mecanismos psicossociais e dos fatores sociopolíticos 
suscetíveis de originar a intolerância, a discriminação, o racismo e a xenofobia; 
desenvolvimento de formação sobre conceitos e métodos interculturais e sobre problemáticas 
migratórias, através de conteúdos multidimensionais; proporcionar informação e formação em 
relação à negociação de conflitos à escala nacional e internacional, de cariz psicológico, 
social, intercultural e político ou, ainda, sobre conflitos entre valores fundamentais (atentados 
aos direitos humanos, formas de discriminação e violência, etc.) (Brislin & Yoshida, 1994; 
Cohen-Emerique,1993, 1999; Demorgon, 2000; Filtzinger, 1999; Landis & Brislin, 1983, 
1993; Ramos, 2001, 2004, 2011, 2012a, 2012c; Rogers-Sirin, 2008; Weaver, 2008). 
As estratégias e técnicas utilizadas em programas de formação de competências 
interculturais são variadas e podem assumir diferentes modalidades, por exemplo de tipo 
cognitivo ou experiencial. Dispomos de programas de formação de competências que 
sublinham a aprendizagem de tipo cognitivo, tendo como objetivo fornecer informação 
adequada sobre as relações interculturais e sobre a cultura dos participantes, assim como 
sobre a cultura e história de outros grupos étnicos-culturais e países através de material visual, 
videográfico e/ou escrito. Existem igualmente outros programas de formação que valorizam a 
aprendizagem experiencial e que têm como fundamento o pressuposto de que a aprendizagem, 
a consciencialização e a sensibilização cultural são facilitadas quando se experiencia a cultura 
através de situações reais ou simuladas e com a utilização de diversas técnicas 
18	
  
	
  
designadamente: grupos de discussão, simulações, auto-reflexão, role-playing e imersão 
noutra cultura ou país. 
Alguns especialistas têm destacado os benefícios resultantes do treino e formação 
intercultural, nomeadamente: maior capacidade para lidar com as diferenças culturais; maior 
bem-estar e satisfação nas relações interculturais; diminuição do stresse e melhoria nas 
relações interpessoais e no trabalho com grupos heterogéneos e minorias; maior abertura ao 
mundo e à alteridade; maior capacidade para resolver conflitos e problemas que exigem a 
compreensão cultural e a relação com outras culturas; maior capacidade de adaptação à 
mudança (Brislin &Yoshida, 1994). 
 
Considerações Finais 
Para reforçar o apoio às questões da interculturalidade e da mobilidade das 
populações, nos países industrializados ou em desenvolvimento, é importante garantir que as 
políticas migratórias atendam, nomeadamente, aos princípios da Convenção Internacional dos 
Direitos da Criança e dos Direitos Humanos (ONU). É necessário desenvolver uma 
abordagem integrada, global e multi/interdisciplinar da mobilidade humana, baseada nos 
direitos humanos fundamentais e na formulação de políticas públicas adequadas. Esta 
abordagem deverá incluir e enfrentar as causas principais das migrações no país de origem, 
como, por exemplo, a pobreza, a exclusão, as desigualdades, a discriminação, a instabilidade 
social e política, e deverá integrar estratégias e políticas específicas dirigidas a esta população, 
tanto nos países de origem como nos países de acolhimento. 
É fundamental não só a existência de quadros legais que promovam os direitos e a 
integração dos migrantes e minorias étnico-culturais, mas é igualmente necessário promover 
uma educação e intervenção que favoreçam a inclusão e participação de todos os grupos e que 
contribuam para uma sociedade plural, intercultural e cosmopolita com capacidade de aceitar 
a alteridade e valorizar a interculturalidade e a mobilidade. É necessário que os profissionais 
reconheçam que as suas atitudes e crenças podem influenciar negativamente as suas 
perceções, relações e práticas com indivíduos de diferentes origens étnicas, linguísticas, 
sociais e culturais. É necessário que reconheçam, igualmente, a importância da sensibilidade, 
das competências interativas, da consciência cultural e compreensão multi/intercultural nas 
atividades e trabalho que prestam. É, ainda, importante que desenvolvam competências que 
promovam outras formas relacionais e comunicacionais, que não sejam marcadas por 
comportamentos de preconceito, estereótipo, exclusão e discriminação, mas que tenham em 
19	
  
	
  
conta a cultura, os modos de comunicação, os valores e as expectativas das populações a 
quem prestam cuidados, bem como o seu ambiente social e familiar. As organizações e os 
serviços de acolhimento e apoio deverão favorecer uma intervenção psicossocial e ecológico-
cultural, promover a inserção social dos indivíduos e grupos que acolhem e desenvolver a 
perceção das diferenças individuais e culturais, não como um problema, mas como 
oportunidade de enriquecimento, desenvolvimento e criatividade. 
É essencial desenvolver uma formação que explique e contribua para a 
compreensão da diversidade cultural e dos preconceitos e estereótipos socialmente 
construídos em relação às minorias e às diferenças religiosas, sociais, étnico/culturais, 
geracionais, sexuais e de género, assim como, dos procedimentos para combatê-los, de modo 
a favorecer a alteridade e as expetativas positivas em relação às minorias. A formação dos 
profissionais na área da interculturalidade deverá incrementar competências e práticas de 
formação e de intervenção que contribuam para o desenvolvimento e bem-estar individual e 
social, que favoreçam a promoção de práticas humanizadoras e emancipadoras a implementar 
no interior das relações interpessoais, intergrupais, institucionais e interculturais e ajudem na 
implementação de políticas públicas que promovam a dignidade humana, a inserção social, a 
igualdade de oportunidades, o diálogo intercultural e o acesso à cidadania de todos, em 
particular dos grupos minoritários. 
Estes objetivos são preocupação da UNESCO (2001), quando afirma, na 
Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, artigo 2, que 
 
em sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável 
garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com 
identidades culturais plurais, variadas e dinâmicas, assim como a sua 
vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a 
participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a 
vitalidade da sociedade civil e a paz. 
 
A pluralidade e a heterogeneidade do mundo contemporâneo exigem aprender a 
viver a multiplicidade de pertenças e de referências, não sob a forma de dicotomias, de 
exclusividade e de exclusão, mas de um modo plural, contínuo e complementar. O objetivo da 
interculturalidade não é a separação do universal e do particular, mas a reunião, ou seja, a 
organização de um contexto social e relacional integrativo que tenha em conta um processo 
dialético ligando o Eu e o Outro, a abertura ao mundo e o reconhecimento das identidades e 
da alteridade. 
20	
  
	
  
Na reflexão sobre as relações entre cultura, psiquismo e comportamentos, implica 
não adotar posições extremas, ou seja subestimar os efeitos da cultura sobre os 
comportamentos, sobrevalorizando a posição universalista e conduzindo à generalização dos 
comportamentos e conhecimentos adquiridos num contexto cultural particular a todos os 
contextos culturais (a Psicologia, em particular, tem de evitar cair nesta tendência); ou 
sobrevalorizara influência da cultura, considerando que tudo pode explicar-se através da 
cultura, correndo o risco de relativizar todos os comportamentos e sobrevalorizar a posição 
relativista, ignorando o carácter dinâmico das culturas, os múltiplos fatores intervenientes nos 
comportamentos (individuais, culturais, sociais, económicos e políticos) e os universais, os 
quais permitem reconhecermo-nos e identificarmo-nos ao Outro, ainda que diferente. 
A necessidade e a procura de serviços de apoio por parte de indivíduos originários 
da migração e de minorias étnico-culturais continuarão a aumentar em todo o mundo, sendo 
necessário desenvolver organizações, serviços e intervenções, assim como formar 
profissionais culturalmente competentes e sensíveis às questões da mobilidade e da 
diversidade cultural, e à coabitação e comunicação com o Outro. Os diversos profissionais, 
em particular os psicólogos, solicitados para responder às necessidades e acompanhamento de 
uma população cada vez mais multicultural, não podem ignorar no exercício das suas funções 
os contributos importantes de diferentes disciplinas, particularmente da(s) Psicologia(s) 
Intercultural(is), os quais promoverão a qualidade da sua intervenção e a satisfação e bem-
estar dessas populações, assim como a construção de uma sociedade plural, mais aberta e 
solidária, onde todos participem e dialoguem. 
Em contexto de encontro intercultural, um conhecimento aprofundado das 
relações entre cultura e indivíduo, entre cultura e Psicologia(s) e o desenvolvimento de 
competências interculturais constitui um desafio para os profissionais envolvidos, 
principalmente psicólogos que trabalham nos vários setores, nomeadamente social, 
educacional, laboral, organizacional, juridíco, clínico e da saúde, tanto ao nível nacional, 
como ao nível da cooperação internacional e da ajuda humanitária. O desenvolvimento de 
competências interculturais constitui, igualmente, uma exigência e responsabilidade ética, 
cívica, científica e profissional para fazer face à complexidade, heterogeneidade e diversidade 
individual e cultural do mundo atual, sendo fundamental para todos os que vivem na 
sociedade contemporânea, ou seja, os profissionais e os cidadãos em geral, pertencentes às 
minorias ou às maiorias. 
Para finalizar, colocamos a questão: Podemos viver num mundo monocultural, 
sem mobilidades, sem solidariedades e com fronteiras fechadas? Um mundo sem mobilidades, 
21	
  
	
  
sem solidariedades e com fronteiras fechadas, será um mundo mais pobre, fechado e isolado 
das relações interculturais e intercâmbios transnacionais e, portanto, condenado ao 
empobrecimento, ao envelhecimento e ao declínio; será um mundo mais desigual e inseguro, 
promotor de tensões, conflitos, exploração e tráfico humano, na origem de sofrimento, 
doença, exclusão e violência; será um mundo menos plural, menos interactivo e aberto à 
diversidade individual, social, cultural e à alteridade e, como tal, será um mundo menos 
desafiante e enriquecedor para o desenvolvimento humano, social, cultural e profissional, 
muito em particular para os Psicólogos e para a Psicologia. 
 
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