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1 MOBILIDADES E INTERCULTURALIDADES NA CONTEMPORANEIDADE: DESAFIOS PARA A PSICOLOGIA E A INSERÇÂO SOCIAL 1 Natália Ramos2 Introdução A mobilidade é considerada símbolo da contemporaneidade e da modernidade, bem como um fator essencial do desenvolvimento humano (PNUD, 2004). A globalização, a urbanização e a mobilidade das populações aumentaram as deslocações e as mudanças espaciais, territoriais e identitárias e os contactos interculturais, contribuindo para a multiculturalidade e transnacionalidade das sociedades, para esbater as fronteiras e para a diversidade e heterogeneidade cultural e identitária. Nas últimas décadas do século XX, e início do século XXI, as questões da mobilidade, da gestão da diversidade cultural e da comunicação e relações interculturais vêm ganhando relevo nos vários setores da sociedade e em diferentes domínios científicos, nomeadamente da Psicologia, onde constituem um dos campos mais importantes em várias áreas psicológicas. Estas questões colocam desafios e oportunidades tanto aos migrantes, às minorias étnico-culturais e à sociedade em geral, como às políticas públicas e aos profissionais que trabalham nos diferentes setores de atividade, nomeadamente aos psicólogos, constituindo preocupação de muitos Estados e organismos, tais como: a Organização das Nações Unidas (ONU, 2006); a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2001, 2005, 2007); a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2012); o Conselho da Europa (CE, 2001); o Alto Comissariado Para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI, 2010); a Organização Mundial de Saúde, 1983); a Associação Americana de Psicologia (APA, 2003). A multiculturalidade, no sentido da coexistência numa mesma sociedade de várias culturas e etnias distintas, e o contacto intercultural, ou seja, o encontro de pessoas e de grupos diferentes do ponto de vista cultural, étnico ou linguístico, são elementos que vêm 1Conferência realizada no 8º CONPSI, Fortaleza, maio de 2013. 2Doutorada e Pós- Doutorada em Psicologia pela Universidade de Paris V, Sorbonne; Professora Associada da Universidade Aberta, Lisboa e Investigadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), onde coordena o Grupo de Investigação: Saúde, Cultura e Desenvolvimento. E-mail: natalia@uab.pt 2 caracterizando cada vez mais o tecido educacional, social e profissional atual. A diversidade cultural integra, cada vez mais, todos os domínios da esfera pública, e esta diversidade deverá ser considerada, como destaca a UNESCO (2001) na Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, artigo 3, “uma das fontes de desenvolvimento, entendido não só como crescimento económico, mas, também, como meio de acesso a uma existência intelectual, afetiva, moral e espiritual satisfatória”. A valorização das trocas culturais e comerciais, as redes transnacionais, as novas formas de mobilidade e as novas configurações migratórias têm contribuído para o aumento da multi/interculturalidade, dos contactos interculturais e da complexidade da sociedade contemporânea e das relações interpessoais e intergrupais. No que diz respeito à migração, o desfasamento crescente entre níveis de desenvolvimento e entre estruturas demográficas de países ricos e pobres, as catástrofes ambientais, os conflitos étnicos, religiosos, políticos e armados, a globalização, a pobreza, o desejo de concretizar sonhos, de alcançar autonomia e independência financeira e o desenvolvimento de redes baseadas nos contatos históricos, familiares e culturais, têm gerado um número cada vez maior de indivíduos e grupos em mobilidade, de migrantes e refugiados. Estes fluxos migratórios e interculturais impregnam a vida quotidiana e as relações entre os indivíduos, os grupos, os Estados e as culturas, e originam modificações nos países de partida, e de chegada, constituindo também uma realidade cultural, psicossocial, educacional, laboral, sanitária, política e jurídica no contexto mundial e europeu. As problemáticas do domínio intercultural implicam aprender a viver, a comunicar e a trabalhar com o Outro, exigem competências de cariz psicológico, social, cultural, pedagógico e comunicacional, baseadas na experiência da alteridade e da diversidade e no equilíbrio entre o universal e o singular. O encontro intercultural constrói-se a partir das relações subjetivas que cada um desenvolve com a(s) sua(s) cultura(s), mas também a partir das interações entre os indivíduos e os grupos. Como destacam Touraine (1997) e Wiewiorka (1997) a cultura está no centro do que une e divide as sociedades contemporâneas, podendo estar na origem de diversos tipos de conflitos. Nesse sentido, o Conselho da Europa (2001) acentua a necessidade de evitar os perigos e conflitos que podem resultar da marginalização daqueles que não possuem competências para viverem e comunicarem num mundo pluricultural, interativo e global. Torna-se necessário aprender a viver juntos, iguais e diferentes, conciliando a unidade e a diversidade dos indivíduos e das culturas, reconhecendo ao mesmo tempo, o pluralismo, o particularismo e o universalismo com a defesa de valores e direitos humanos universais 3 (Touraine, 1997; UNESCO, 2005, 2007). Do mesmo modo, a Associação Americana de Psicologia salienta a importância de integrar as questões da multi/interculturalidade e da diversidade na educação, formação, investigação, prática profissional e mudança organizacional, assim como a necessidade de produzir bases teórico-conceptuais e investigação empírica relevante neste domínio, tanto em Psicologia como em disciplinas relacionadas, que justifiquem e forneçam suporte às orientações e intervenções no âmbito da interculturalidade (APA, 2003). Contudo, não é só importante desenvolver competências que permitem aos indivíduos de ultrapassar as dificuldades de interagir e comunicar em contexto intercultural, mas, sobretudo, é necessário compreender os processos e refletir nas competências e atitudes que permitem uma melhor vivência e gestão da experiência da diversidade cultural e das suas contradições, complexidades e conflitualidades. Iremos debruçar-nos sobre algumas destas questões que se colocam na contemporaneidade, analisando igualmente processos, competências, estratégias e políticas que não só ajudem os profissionais, principalmente psicólogos que trabalham com migrantes e minorias étnico-culturais, a melhor intervirem neste domínio, como também promovam a coabitação e a comunicação em contexto de diversidade cultural e favoreçam o acolhimento, desenvolvimento, bem-estar e inserção social de todos, qualquer que seja a sua origem e identidade cultural. 1.Paradigma Intercultural – Vertentes, Processos e Dinâmicas A gestão da mobilidade e da multi/interculturalidade implicam novo paradigma e reposicionamento metodológico, epistemológico e ético (Ramos, 2010, 2011, 2012) ao nível da intervenção, pesquisa e formação, assente em três vertentes estruturantes: Conceptual – As diferenças culturais são definidas, não como elementos objectivos com carácter estático, mas como, entidades dinâmicas, subjetivas e interactivas que se dão sentido mútuo. A abordagem intercultural constitui uma outra forma de analisar a diversidade cultural,não a partir das culturas consideradas como entidades independentes e homogéneas, mas a partir de processos e de interacções. Metodológica – A abordagem intercultural define-se como global, plural, multidimensional e interdisciplinar, de modo a dar conta das dinâmicas e da complexidade dos fenómenos sociais e de modo a evitar os processos de categorização. Trata-se para o investigador/interveniente de adquirir familiaridade com o universo social sobre o qual trabalha, de compreender as representações que o animam e de se interrogar de forma 4 reflexiva, não só sobre a cultura do Outro mas, também, e em primeiro lugar sobre a sua própria cultura. Ética – A perspectiva intercultural tem como objectivo o conhecimento das culturas, mas sobretudo, a relação entre elas e ao Outro, implicando uma atitude de descentração (Piaget, 1970). Envolve uma reflexão sobre a forma de respeitar a diversidade individual, social e cultural, de conciliar o universal e o particular, o global e o local, de adaptação à complexidade estrutural duma sociedade e à sua conflitualidade. Qualquer que seja o domínio de intervenção, os profissionais, em particular os psicólogos, são confrontados cada vez mais na sua prática com pessoas que nascem e crescem entre culturas diferentes, que vivem em contextos de mobilidade e interculturalidade. Esta situação interpela os psicólogos a interrogarem-se sobre: a influência da dimensão cultural no indivíduo; a unidade e diversidade do ser humano e a importância da universalidade e/ou da relatividade na estruturação psíquica; a relação com a alteridade; a complexidade dos processos de aculturação psicológica resultantes do encontro intercultural; e a identificação dos mecanismos psicológicos mobilizados pelos indivíduos para gerir a ansiedade e stresse originados pela mudança e adaptação cultural. Alguns especialistas e organismos nacionais e internacionais têm vindo a acentuar igualmente a necessidade de os profissionais dos diferentes domínios estarem atentos ao impacto dos seus estereótipos, preconceitos e comportamentos discriminatórios na comunicação e na intervenção, assim como a de terem em conta a diversidade individual, social e cultural dos seus utentes nas suas práticas profissionais e de adquirirem formação adequada no âmbito intercultural (Ramos, 2004, 2007a, 2008a, 2011; CE, 2001; APA, 2003; Stuart, 2004; Wade, 2005; Paillard, 2011). Com efeito, existe atualmente uma crescente preocupação com o facto de os serviços e profissionais que acolhem e prestam cuidados a indivíduos e grupos culturalmente diferentes encontrarem cada vez mais dificuldades face à diversidade cultural e não possuírem competências para responder às necessidades específicas destes. Neste sentido, acentua-se a necessidade de a formação dos profissionais, nomeadamente psicólogos, se preocupar em preparar estes para gerirem as problemáticas interculturais, ter em conta a relação entre cultura e psiquismo, assim como a importância da cultura e das mudanças culturais na compreensão do funcionamento do indivíduo e nas suas reorganizações psíquicas, identitárias e sociais. Esta formação deverá proporcionar um nível de análise e de intervenção que tenha em conta a singularidade do indivíduo, mas inserido num ou mais contextos culturais, os quais reenviam para questões de pertença e identidade plurais e complexas. Alguns autores 5 reconhecem a necessidade da implementação de programas de formação que incluam conteúdos culturais e desenvolvam competências interculturais (Sue et al., 1992, 2001; Tomlinson-Clarke, 2000; Ramos, 2001, 2004, 2008a,b, 2011, 2012 a, b; Ridley et al., 2003; Stuart, 2004; Paillard, 2011). A presença nos diferentes serviços educativos, sociais e de saúde de um número crescente de indivíduos oriundos de diversos universos culturais origina, nas instituições, nos profissionais e nessa população multicultural, uma variedade de problemas, tensões e conflitos, que podem expressar-se através de dificuldades de comunicação e compreensão, nomeadamente linguísticas, diferenças de valores, comportamentos e hábitos e problemas relacionais e interculturais. Esta situação: (i) exige sensibilidade e empatia para acolher e compreender as diferenças, sejam elas culturais, sociais, geracionais, sexuais, religiosas ou outras; (ii) implica desenvolver intervenções, integrando e valorizando os contextos sociais e ecológico-culturais dos indivíduos, assim como as culturas de origem; (iii) supõe dar-lhes oportunidades de contacto com a cultura de origem, língua, religião e história, no sentido da preservação e do desenvolvimento da sua identidade étnico-cultural; (iv) necessita incentivar o conhecimento e a valorização das diferentes culturas, evitando estereótipos, preconceitos, atitudes etnocêntricas, discriminatórias e racistas; (v) exige criar relações baseadas na empatia, respeito, confiança, diálogo, responsabilidade e disponibilidade; (vi) implica incrementar uma formação sólida dos profissionais, tanto da área da psicologia, como do domínio social, educacional, jurídico e da saúde, na temática das questões culturais, da educação, comunicação e psicologia interculturais (Samovar & Porter, 1988; Clanet, 1990; Ouellet, 1991; Berry et al.,1992; Ladmiral & Lipiansky, 1992). Uma formação dos profissionais que inclua conhecimentos culturais e desenvolvimento de competências interculturais poderá ajudar, igualmente, a reduzir as barreiras comunicacionais, sociais e culturais em contextos migratórios e interculturais, assim como, a tomar em conta não somente as referências culturais, que podem ser plurais e a partir das quais os indivíduos se estruturam, como também os processos psicológicos e interculturais que elas desencadeiam para gerir as situações de aculturação psicológica, ou seja, os processos, estratégias e mudanças psicológicas que o indivíduo enfrenta no encontro entre duas ou mais culturas, a sua cultura de origem e a de acolhimento (Berry, 1997; Ramos, 2001, 2004, 2008a, b, 2010, 2012b, c); uma formação que favoreça a compreensão e gestão dos processos de interculturação, ou seja, o conjunto de processos psíquicos, relacionais, grupais e institucionais originados pelas interacções de grupos culturais diferentes ou reivindicando uma pertença a comunidades culturais diferentes, numa relação de trocas 6 recíprocas e numa perspectiva de salvaguarda de uma relativa identidade cultural dos parceiros em relação, reenviando à integração psíquica de uma pluralidade de referências culturais que se vão combinar e interagir umas com as outras e de relações terciárias e que não podem ser reduzidas a nenhum dos polos culturais em presença (Dasen, 1990), que podem ser dolorosas. Com efeito, em situações de mobilidade e mudança cultural, os indivíduos estão submetidos a imposições culturais que poderão ser contraditórias e incompreensíveis e são obrigados a fazer escolhas que podem ser fonte de dúvidas, tensões e conflitos interpessoais, intrafamiliares, intrapsíquicos e interculturais, geradores de sentimentos de insegurança, de culpabilidade, de angústia e de ansiedade, acentuados pelo medo de não reconhecimento, de discriminação e de exclusão. 2. Contextos da Multi/Interculturalidade e Figuras do Outro e da Alteridade Tem-se vindo a assistir no mundo a uma intensificação da diversidade cultural e dos contactos interculturais, à diversificação da mobilidade e das categorias e sistemas migratórios e a uma afirmação de direitos e diferenças. No mundo aberto e plural contemporâneo, com a globalização, o turismo internacional, o surgimento de políticas migratórias em países que não possuíam as mesmas,o direito à mobilidade, gerido por uma governação mundial das migrações, as novas formas de mobilidade qualificada, os novos meios de comunicação (como os media, a internet), as facilidades de deslocação e os meios de transporte rápidos, o migrante, a diversidade cultural e o Outro têm hoje um outro estatuto e imagem. O Outro não está longínquo e distante, mas está mais próximo e presente no quotidiano e, ainda que nem sempre aceite e compreendido, coabita connosco e reclama respeito e direitos. Temos uma diversidade cultural multifacetada que encontramos no seio dos Estados, das cidades, no dia-a-dia, relacionada com a abertura ao mundo, a globalização, as transições demográficas, o envelhecimento populacional nos países desenvolvidos, a afirmação de direitos e a cidadania. Temos o estatuto do Outro no quadro das migrações, da globalização e da Convenção da UNESCO (2001, 2005, 2007), reconhecendo a igualdade das culturas e constituindo uma revolução democrática no plano internacional. A primeira figura do Outro e da diversidade cultural é o Migrante, os indivíduos continuando a migrar, dentro ou para fora dos seus territórios, por motivos económicos, sociodemográficos, políticos, laborais, familiares, académicos e científicos, de cooperação transnacional, de guerras e conflitos étnicos e religiosos, de desastres e catástrofes ambientais, ainda que sendo, muitas vezes, objeto de medos, preconceitos, discriminação, violência e 7 exclusão. Frequentemente, para diminuir o medo do Outro, por exemplo do migrante, evoca- se a necessidade de reforçar a vigilância das fronteiras, ou mesmo de as fechar, de estabelecer fronteiras, separando os cidadãos dos invasores, dos estranhos, os nacionais dos migrantes. Muitas histórias de migração são marcadas pela exclusão ou pela assimilação, representando uma violência estrutural e estruturante. Esta violência faz-se acompanhar de dispositivos simbólicos que criam linhas de demarcação entre bons e maus, entre nós e os outros, e desenvolvem mecanismos de ocultação da violência e de inversão da causalidade, deslocando a culpa para as vítimas (Bochner, 1982; Camilleri, 1990; Grant, 1992; Farmer, 2003; Ramos, 2001, 2004, 2008a, 2010; Santos, 2006). As sociedades ao definirem as suas “fronteiras” provocam os seus “estranhos”, os conflitos, a exclusão e a marginalização (Bauman, 1995, 2005). A mobilidade populacional constitui um fenómeno importante no mundo, sobretudo na Europa, na Ásia e na América do Norte, registando-se perto de mil milhões de pessoas em situação de mobilidade no mundo (OCDE, 2012). Com efeito, as migrações têm vindo a aumentar, sejam as migrações permanentes (indivíduos que se instalam definitivamente num outro país ou região), as migrações temporárias (mudança de país por uma curta duração, por exemplo, funcionários e estudantes internacionais) ou ainda as migrações involuntárias (refugiados ou solicitadores de asilo). As migrações ocorrem sobretudo no interior dos países, estimando-se que haja aproximadamente, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU),740 milhões de migrantes internos; 240 milhões de migrantes internacionais, dos quais cerca de metade são mulheres (só na Europa as mulheres representam 53% dos migrantes); 14 milhões de migrantes devido à insegurança, a catástrofes ou a guerras; 33 milhões são crianças e jovens menores de 20 anos de idade, que migraram com as suas famílias ou sozinhos (por exemplo, em África, os migrantes com menos de 20 anos constituem o maior grupo da população total de migrantes (28%), na Ásia e na Oceânia 20%, e nos continentes americano e europeu 11%). (UNICEF, 2011, 2012; OCDE, 2012). Para além das crianças e jovens que migram, muitos outros são direta ou indiretamente afetados pela migração, inclusive as crianças e jovens que são deixados na região ou país de origem aos cuidados de parentes, vizinhos ou amas, quando um ou os dois pais emigram, sobretudo as mães. Esta situação implica novas configurações familiares, tem implicações psicológicas e sociais importantes, com impactos ao nível do desenvolvimento e da saúde das crianças e adultos, em particular das mães que partem e das crianças que ficam, os “órfãos” das migrações. 8 Os imigrantes irregulares fogem às estatísticas oficiais, mas os números conhecidos assinalam 30,8 milhões na União Europeia, 30,9 milhões nos EUA e 25,3 milhões na Ásia. Quanto às migrações forçadas de pessoas, geralmente tráfico de mulheres e crianças por redes internacionais ligadas ao crime, estas representam atualmente 12 milhões de pessoas (Eurostat e USCB, 2008). O número de migrantes internacionais triplicou em 40 anos, registando-se na década de 70 apenas 75 milhões. Só na União Europeia (UE), o número de migrantes provenientes de países extra europeus aumentou 75% desde 1980, sendo a Europa o continente que acolhe o maior número de migrantes no mundo. De 1990 a 2000 as migrações internacionais representaram nos países desenvolvidos 56% do aumento populacional e nos países em desenvolvimento 3%. Na Europa neste período as migrações representaram 89% do crescimento da população. Dos 28 países da União Europeia, é a Alemanha que acolhe o maior número de cidadãos estrangeiros, num total de 7,2 milhões, seguida da Espanha, com 5,6 milhões, e do Reino Unido, com mais de quatro milhões. Em 2010, a China foi o principal país de origem dos migrantes que se deslocaram para os países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE, 2012). Em Portugal, segundo os Censos de 2011, residiam em Portugal 394.496 indivíduos de origem estrangeira, representando 3,7% do total de residentes do país. Mais de metade desta população estrangeira é constituída maioritariamente por mulheres (206.410), sendo os homens 188.086 e 51,6% reside na região de Lisboa. A maior comunidade estrangeira é a brasileira (28%), seguindo-se a cabo-verdiana (10%), a ucraniana (9%), a angolana (6,8%), a romena (6,2%) e os originários da Guiné-Bissau (4,1%) (INE, 2012). Já o Brasil, abriga 286.468 imigrantes internacionais, tendo o número de imigrantes a viver no Brasil aumentado 86,7% em dez anos. Do total de imigrantes internacionais, 174.597 nasceram no Brasil, significando que 65,1% destes são os chamados imigrantes de retorno (IBGE, 2012). Outra figura da mobilidade e do Outro em aumento crescente é o turista internacional, significando um habitante em sete no planeta, tendo-se registado no mundo, em 2012, cerca de mil milhões de turistas. A diversidade cultural está igualmente representada nos mais de 3 milhões de estudantes do ensino superior que se encontram fora dos seus países e que estão em aumento crescente, assim como os fluxos de trabalhadores qualificados. Em 2000, 11% dos enfermeiros e 18% dos médicos que trabalhavam nos países da OCDE eram de origem estrangeira. Com efeito, ao nível mundial tem aumentado a mobilidade qualificada e 9 estudantil, tendo o número de estudantes internacionais duplicado no seio dos países da OCDE, situando-se o aumento deste grupo em 41%, só entre 1999 e 2004. Na União Europeia, a mobilidade para fins educativos e de aprendizagem é um dos objetivos principais da Estratégia 2020 para o crescimento e o emprego, situando-se na base da iniciativa Juventude em Movimento, da Comissão Europeia. Na UE, o programa de mobilidade Erasmus já deu oportunidades a cerca de três milhões de estudantes universitários de frequentarem instituições de ensino superior de trinta e três países europeus, onde se inclui Portugal, e, no quadro do Erasmus Mundus, mais de 1 300 alunos de fora da Europa vieram estudar ao abrigo deste programa. Este aumentoda mobilidade internacional estudantil reforça a criação de um Espaço Europeu e Mundial de Ensino Superior e faz parte da estratégia da Comissão Europeia de proporcionar aos estudantes mais oportunidades para adquirirem competências através do estudo e da formação no estrangeiro, promovendo as competências interculturais, o desenvolvimento pessoal e a empregabilidade ao nível estudantil. Outra figura do Outro e da alteridade está associada à cidade, à urbanização. Mais de metade da população mundial (65%), oriunda de diversos universos culturais e sociais, habita hoje em zonas urbanas e suburbanas, prevendo-se que, em 2030, as cidades do mundo em desenvolvimento acolham 80% do total da população, contribuindo as migrações para este aumento populacional. Com efeito, mais de 50% dos migrantes e refugiados em todo o mundo vivem em áreas urbanas, contribuindo para a diversidade cultural associada à urbanização (ACNUPR, 2009a,b). Em Portugal, a Área Metropolitana de Lisboa concentra mais de 50% da população imigrante. Neste sentido, o Conselho da Europa e a Comissão Europeia, insistem em que é necessário a gestão e organização intercultural dos espaços nas cidades multiculturais, promover a “Cidade Aberta e Intercultural” e acolher a diversidade cultural e as comunidades migrantes nas cidades ditas “globais” (Sassen, 2001), de modo a responder às caraterísticas e necessidades das populações e sociedades atuais. O acolhimento dos migrantes e a gestão da diversidade cultural nas zonas urbanas constitui uma das grandes preocupações atuais, tendo o Conselho da Europa e a Comissão Europeia lançado em 2008 - Ano Europeu do Diálogo Intercultural - o projeto “Cidades Interculturais”, tendo como objetivo: combater os preconceitos, a discriminação e promover a igualdade de oportunidades, adaptando as estruturas de gestão, as instituições e serviços às necessidades de todos os seus habitantes e cidadãos; desenvolver em cooperação com as empresas, a sociedade civil e os diferentes agentes públicos, um conjunto de políticas e atividades de modo a promover os contactos entre os diferentes grupos culturais, diminuir os conflitos e a violência e consolidar políticas públicas que tornem a cidade mais sustentável, atrativa, acolhedora e solidária para todos. 10 Outra figura do Outro e da diversidade cultural são os cerca de 300 milhões de pessoas, distribuídas por mais de 70 países, que pertencem a grupos indígenas, representando cerca de 4 000 línguas. Na América Latina, por exemplo, os 50 milhões de indígenas constituem 11% da população da região (PNUD, 2004). Só no Brasil, vivem 896.900 índios (0,47% da população brasileira), divididos por 305 etnias e falantes de 274 línguas diferentes, segundo dados do Censo de 2010 (IBGE, 2012). Para a multiculturalidade da sociedade contribui também o grande número de ciganos, minoria étnica espalhada por diferentes países do mundo, nomeadamente pela Europa, onde constituem a maior minoria étnica neste continente (cerca de 11 milhões), com hábitos culturais próprios e enfrentando, em geral, condições sociais difíceis, maior mortalidade infantil e esperança de vida inferior ao resto da população. Só em Portugal estima-se que vivam entre 40 000 a 70 000 ciganos. No Brasil, os dados do Censo de 2010 apontam para a existência de cerca de 800 000 ciganos neste país (IBGE, 2012). Também a União Europeia, projeto político que envolve 28 países e mais de 500 milhões de habitantes com história e língua diferentes e com identidades sociais e culturais fortes, constitui um grande desafio político, cultural, educacional, comunicacional e, em particular, um desafio ao diálogo e gestão intercultural e à coabitação cultural e social. 3. Alteridade, dinâmicas identitárias e relações interculturais A análise da dinâmica intercultural e da experiência subjetiva do contacto intercultural permite apreender as ambivalências e mecanismos adaptativos dos sujeitos confrontados com a diferença cultural e com as relações entre universos culturais diferentes, assim como a complexidade das reorganizações psíquicas e identitárias e dos processos e conflitos intrapsíquicos, intersubjetivos e interpessoais colocados em jogo nesta situação. O encontro intercultural inscreve-se num movimento de confrontação com a alteridade e é fonte de enriquecimento, desenvolvimento e criatividade, mas igualmente de ambivalências, crises, tensões e conflitos. Com efeito, no encontro intercultural, a separação, o fechamento sobre si mesmo, a idealização dos seus valores e a mitificação do seu grupo caminham paralelamente com a abertura ao Outro, à alteridade, à diversidade, que conduzem à construção de novas relações e à aprendizagem de novos modos de ser, de fazer e de pensar. O confronto com a alteridade, o encontro intercultural, as relações entre o Eu e o Outro, são influenciados por representações sociais, por estereótipos, preconceitos, projeções culturais, ideológicas e políticas e pelo etnocentrismo. O etnocentrismo, os estereótipos e os preconceitos constituem barreiras, filtros culturais à comunicação intercultural e estão na 11 origem de conflitos e incompreensão entre grupos minoritários e maioritários (Cohen- Emerique, 1993; Ladmiral & Lipiansky, 1992). As relações entre indivíduos e grupos culturalmente diferentes originam um conjunto complexo de representações e processos psicológicos e sociais, tal como salienta Moscovici (2005, p. 56), ” Pessoas que pertencem a outras culturas nos incomodam, pois estas pessoas são como nós e, contudo, não são como nós; assim, nós podemos dizer que elas são “sem cultura”, “bárbaros”,” irracionais”, etc (…). O “não familiar” atrai e intriga as pessoas e comunidades (…) O medo do que é estranho (ou dos estranhos) está profundamente arraigado em cada um de nós”. Assim o Outro poderá ser visto como alguém a tolerar, como um sujeito pleno de um grupo social, como uma fonte social e cultural positiva, como um cidadão com direito à afirmação da diferença e à participação, ou como ameaça e fonte do mal e um sujeito a excluir, a discriminar ou a eliminar. Estes elementos vão ter importância quer na aceitação/ inclusão, ou na discriminação/exclusão da diferença, do estrangeiro; quer na anulação ou na valorização da identidade do Outro e da alteridade; quer na saúde e bem-estar ou no sofrimento e doença; quer nos conflitos decorrentes das relações entre maiorias e minorias, entre nacionais e migrantes ou na aceitação e diálogo intercultural; quer ainda na comunicação intercultural e nas práticas e atitudes dos profissionais e da população em geral. Estas representações, estas imagens deverão ser reconhecidas na sua subjetividade e objetividade, nas suas implicações individuais e coletivas, no espaço e no tempo, na experiência do Eu e do Outro. Deverão ser situadas nos contextos psico-socio-históricos de origem, nos contextos simbólicos e reais, implicando a análise das suas funções na identidade e alteridade, na dinâmica das relações entre os indivíduos, as culturas e as sociedades e, ainda, ao nível da coesão social e do desenvolvimento dos indivíduos e dos grupos. Os indivíduos em situação intercultural vão mobilizar recursos psíquicos e estratégias identitárias e adaptativas para enfrentarem as vulnerabilidades, conflitos, desigualdades e desequilíbrios introduzidos pela confrontação à alteridade e às numerosas readaptações, mudanças e acessibilidades. O processo de mobilidade e de encontro cultural implica processo complexo e contraditório, uma experiência de perda, rutura, mudança, descontinuidade, vivenciada pelo indivíduo de forma mais ou menos harmoniosa outraumatizante, segundo os recursos individuais e sociais, implicando uma adaptação social e psicológica à cultura de acolhimento, a um meio novo, desconhecido ou hostil. Esta adaptação vai depender de fatores múltiplos relacionados com aspetos específicos da aculturação psicológica. Berry (1997) identifica quatro estratégias de adaptação, de que resultam quatro modos de aculturação, segundo se dá ou não importância à manutenção, por um lado, da 12 identidade e da cultura de origem e, por outro lado, às relações com os outros grupos e com a sociedade de acolhimento: assimilação, marginalização, separação e integração. As numerosas mudanças envolvidas no processo migratório e de aculturação (temporais, espaciais, físicas, biológicas, sociais, culturais, psicológicas e políticas), a reelaboração de escolhas, o reajustamento de representações, valores, crenças e projetos de vida, para além de desencadearem aspetos positivos e criativos, poderão gerar conflitos intrapsíquicos e interpessoais, crises identitárias e dificuldades de adaptação. A coexistência de códigos culturais, por vezes, contraditórios e incompreensíveis e a impossibilidade de estabelecer mediações entre universos culturais diferentes, assim como a incapacidade de lidar com as exigências do ambiente e a ansiedade e conflitos decorrentes das decisões entre o que manter e abandonar da cultura de origem, poderão ter efeitos desorganizadores no comportamento e estar na origem de distúrbios psicopatológicos e stresse de aculturação (Berry, 1997; Grinberg & Grinberg, 1986; Ramos, 2001, 2004, 2008a, 2008b, 2009c). Para além de terem de enfrentar as mudanças e dificuldades de adaptação a uma nova cultura, meio ambiente, língua, trabalho e estilo de vida, os indivíduos em situação de mobilidade e interculturalidade são confrontados com outras práticas e regras sociais, educacionais e de cuidados, com questões de acessibilidade aos serviços e de integração e aceitação e, por vezes, com atitudes etnocêntricas e problemas relacionais e de comunicação, nomeadamente com os profissionais. Os profissionais que não possuem competências para trabalhar com estes indivíduos de diferentes universos culturais encontram eles próprios dificuldades de vários tipos e manifestam, frequentemente, insatisfação, comportamentos etnocêntricos e inadequados (Ramos, 2004, 2007b, 2012a,2012c). Com efeito, as relações interculturais implicam relações assimétricas entre grupos maioritários e minoritários, dominantes e dominados, autóctones e estrangeiros, conduzindo por vezes os profissionais a avaliar a cultura do Outro, do estrangeiro, através de uma hierarquização das culturas em presença, onde a cultura dos profissionais serve de referência e é considerada superior. Esta situação exige, por um lado, uma reflexão da parte dos profissionais sobre as relações que mantêm com essas populações, nomeadamente as suas relações e atitudes face à diferença, e, por outro, que se questionem enquanto sujeitos culturais sobre as suas representações, sistemas de valores, modelos sociais, familiares e educativos, os quais podem interferir na relação com o Outro, no confronto com a alteridade e na prática profissional. Esta atitude é indispensável na intervenção intercultural para que os profissionais possam refletir sobre o impacto das suas representações e ideologias e das suas reações face à alteridade (Devereux, 1992); para conseguirem descentrar-se dos seus próprios modelos de referência (Piaget, 13 1970), aceitar o Outro e prevenir-se contra o etnocentrismo o qual é prejudicial na relação e comunicação com este; para não se confinarem a uma representação do Outro estereotipada, enraizada em preconceitos, desvalorizada, globalizante, simplificada ou idealizada, a qual vai interferir na relação e no trabalho com este. Para preparar os indivíduos para as relações interculturais, têm sido desenvolvidos diversos programas de formação e treino de competências interculturais, questão que analisaremos seguidamente. 4. Formação e competências interculturais – Variáveis e dimensões As competências interculturais promovem a reflexão e a capacidade para colocar em prática atitudes e conhecimentos nas relações interculturais, ou seja, nas relações com indivíduos culturalmente diferentes. A competência intercultural implica que, num contexto de diversidade cultural, de interação e de coabitação intercultural, os indivíduos tenham consciência, capacitação e competências instrumentais que lhes permitam aceitar, dialogar e negociar com o Outro, fazerem-se compreender ao nível comunicacional, relacional e cultural nos vários sectores e níveis de intervenção, designadamente individual/interpessoal, grupal ou organizacional. As competências interculturais dão aos profissionais a capacidade para integrar a diversidade individual e cultural nas suas abordagens teóricas e práticas, tendo em vista um melhor desempenho profissional, a compreensão da alteridade e das relações entre o Eu e o Outro e facilitar as relações interculturais e a cooperação transnacional. As competências interculturais exigem o desenvolvimento de um conjunto diversificado de atitudes, valores, conhecimentos e aptidões básicas que capacitem os cidadãos e os profissionais para viver e trabalhar em contextos de diversidade cultural (Brislin &Yoshida, 1994; Byram, 1997; Cohen-Emerique, 1999; Hall, 1978,a,b; Hoopes, 1980; Paillard, 2011; Ramos, 2001; Sue, 1992, 2001; 2007a, b, 2008a, 2009a, 2011, 2012a, 2012c; Weaver, 2008). A competência intercultural vai para além das competências individuais e comunicacionais, implicando igualmente programas, organizações, serviços e políticas culturalmente competentes e sensíveis às questões interculturais, pelo que os profissionais deverão saber utilizar, igualmente, estratégias e técnicas culturalmente apropriadas nas suas intervenções e nos processos de mudança organizacional, de modo a promoverem práticas organizacionais e de gestão culturalmente apropriadas. A cultura, através dos seus processos e especificidades, influencia a forma de pensar, sentir e agir numa sociedade cada vez mais multicultural, pelo que as competências 14 interculturais dos diferentes profissionais têm sido objeto de estudo, tanto nos EUA, como na União Europeia, e de recomendações de várias associações profissionais, nomeadamente da Associação Americana de Psicologia (APA). No que diz respeito aos contactos interculturais e às populações culturalmente diversas, a APA (2003) propõe um conjunto de recomendações aos psicólogos ao nível da educação, formação, investigação, prática profissional e mudança organizacional: Importância de os psicólogos reconhecerem que, enquanto seres culturais, desenvolvem crenças e atitudes, as quais podem influenciar negativamente as suas percepções e interações com indivíduos cultural e etnicamente diferentes; Importância do reconhecimento da sensibilidade, conhecimento e compreensão multicultural sobre as diferenças culturais e étnicas dos indivíduos; Importância de os psicólogos utilizarem os princípios da multi/interculturalidade e da diversidade na formação psicológica; Importância de os pesquisadores em psicologia terem competência para realizar investigações centradas em questões (inter)culturais com indivíduos de diferentes origens étnicas, linguísticas e culturais; Importância de os psicólogos desenvolverem estratégias e competências culturalmente adaptadas na sua prática clínica ou noutras atividades profissionais; Importância de os psicólogos utilizarem processos de mudança organizacional de modo a promover o desenvolvimento de práticas organizacionais culturalmente adequadas.Trabalhar, comunicar e viver em contexto multicultural exige o desenvolvimento de um conjunto diversificado de competências que podemos agrupar deste modo (Ramos, 2001, 2007b, 2010, 2011, 2012a, 2012c): 1) competências individuais, que favoreçam o conhecimento sobre si mesmo e sobre o comportamento humano em geral; que desenvolvam atitudes e comportamentos que promovam interações sociais harmoniosas entre os indivíduos, os grupos e as culturas; e que desenvolvam a autorreflexão, o autoconhecimento e uma atitude de descentração, a qual permitirá flexibilizar e relativizar princípios e modelos apresentados como únicos, universais ou superiores e evitar estereótipos, conflitos e comportamentos etnocêntricos, de intolerância e de discriminação; 2) competências (inter)culturais, que promovam conhecimentos e aptidões para trabalhar com a diversidade cultural, sobretudo competências linguísticas, comunicacionais, culturais e pedagógicas, que facilitem, por um lado, o conhecimento das culturas, a comunicação intercultural e a consciencialização cultural e, por outro, que promovam estratégias e 15 intervenções culturalmente competentes e inclusivas e profissionais e cidadãos culturalmente sensíveis e implicados; 3) competências de cidadania, que tornem possível o desenvolvimento de estratégias e políticas promotoras de participação e integração social, de igualdade de oportunidades e de direitos humanos, e promovam o funcionamento democrático e plural das sociedades, das organizações e dos serviços; 4) competências tecnológicas, nomeadamente ao nível do domínio e utilização das técnicas audiovisuais e das novas tecnologias de informação e comunicação, e da internet, as quais vêm abrir fronteiras e oportunidades, favorecendo o conhecimento da diversidade cultural, a comunicação intercultural, a inclusão, a educação intercultural e transnacional, e viabilizar encontros virtuais que facilitam a transmissão e partilha de ideias, tradições culturais e recursos de informação e aprendizagem disponíveis em qualquer parte do mundo. A competência intercultural é concebida como um conjunto articulado de comportamentos, atitudes e políticas que se manifestam em diferentes situações, designadamente num serviço, organização ou entre os profissionais, os quais permitem intervir adequadamente em situações interculturais. Para Cross et al. (1989), a competência (inter)cultural poderá assim ser trabalhada ao nível de diferentes dimensões: individual/interpessoal, centrada nos profissionais; de serviço (educativo, social, de saúde…); e institucional/organizacional (escola, hospital, centro de saúde…). Já Sue et al. (1992) propõem um modelo de competência intercultural organizado em três dimensões, ou seja, consciencialização, conhecimento e competências: a dimensão da consciencialização diz respeito ao reconhecimento por parte do profissional das suas atitudes, valores e estereótipos em relação às minorias étnico-culturais, assim como da sua própria identidade cultural, com o objetivo de sensibilizar para a importância da autoconsciência cultural, da identidade cultural do Outro e para as suas limitações profissionais e competências para trabalhar com minorias; o conhecimento concerne o desenvolvimento da informação e compreensão que o profissional deverá ter sobre a diversidade cultural, sobre os grupos culturais com quem trabalha e sobre as influências culturais, sociais e políticas exercidas sobre esses grupos. É importante que os profissionais tenham um bom conhecimento sobre a sua cultura e tenham consciência da forma como a mesma, a par da sua experiência cultural e pessoal, afeta as suas conceções e estereótipos, os diferentes estilos de comunicação e o modo como este estilo comunicacional poderá facilitar ou dificultar a comunicação e a relação com os indivíduos de outras culturas e minorias; finalmente, as 16 competências dizem respeito a estratégias e técnicas específicas de avaliação e intervenção utilizadas no trabalho com grupos minoritários ao nível cultural. Acentua-se que haja uma familiarização dos profissionais com os contextos, a intervenção comunitária e a investigação intercultural, para que o conhecimento sobre os indivíduos e grupos culturalmente diferentes não seja apenas baseado na formação teórica e experiência profissional. No desenvolvimentodas competências interculturais e nas relações interculturais, é importante a tomada de consciência do grau de determinismo cultural dos comportamentos e é necessário desenvolver a consciencialização cultural. Esta constitui um processo de aprendizagem cultural, que visa desenvolver a capacidade de analisar o mundo do ponto de vista de uma outra cultura, bem como a aquisição das competências para reconhecer as diferenças e a pluralidade (Hoopes, 1980). É igualmente importante evitar julgamentos rápidos e superficiais, estereótipos, preconceitos e atitudes etnocêntricas, o que permitirá colocar-se no lugar do outro, de forma a tentar compreender as coisas do seu ponto de vista, o que permitirá a descentração. A atitude e a prática da descentração dão-nos a capacidade de relativizar e de visualizar uma situação através de várias perspetivas e de outros quadros de referência, ajuda cada um a adotar uma certa distância em relação a si mesmo e conduz à autorreflexão, constituindo uma das atitudes que todos os profissionais deverão trabalhar em permanência. A este nível revela-se também essencial combater o etnocentrismo, ou seja, a tendência para julgar os membros e costumes dos outros grupos, tendo como base os do seu grupo de pertença, os seus costumes, valores e tradições sendo, geralmente, considerados únicos, universais ou superiores aos do outro grupo (Ramos, 2001, 2010, 2011). Algumas aptidões individuais, comunicacionais e relacionais baseadas na empatia, disponibilidade, consciência, respeito mútuo, curiosidade, abertura de espírito, confiança, generosidade, reconhecimento do Outro, bem como a adaptabilidade, consciência cultural, autorreflexão e conhecimento dos seus preconceitos, estereótipos e atitudes discriminatórias e racistas, e dos outros grupos culturais, revelam-se importantes ao nível do desenvolvimento das competências interculturais e para a qualidade da intervenção nos diferentes domínios (Cohen-Emerique, 1993, 1999; Ladmiral & Lipiansky, 1992; Ramos, 2001, 2003, 2004, 2009a, 2011, 2012c; Spitzberg & Chagnon, 2009; Sue et al, 1992). Outros autores sublinham ainda, algumas aptidões e atitudes a ter em conta neste âmbito: a consciência, o conhecimento e a informação sobre as culturas e as diferenças culturais; as atitudes em relação às diferenças culturais, nomeadamente os preconceitos, a idealização ou o “choque emocional” quando comunicam com pessoas de culturas diferentes; 17 as competências comportamentais (Brislin & Yoshida, 1994). Já Weaver (2008) acentua igualmente a importância da consciência crítica, da autoconsciência no desenvolvimento da competência intercultural, assim como certos valores e atitudes, nomeadamente a motivação para a aprendizagem, o sentido de justiça social e a humildade. Para preparar os profissionais para o trabalho com populações culturalmente diversificadas e favorecer os contactos interculturais, têm sido desenvolvidos diversos programas de formação e treino de competências interculturais, os quais são caracterizados por uma grande diversidade de conteúdos, estratégias e métodos, incluindo determinadas áreas, nomeadamente: aquisição de competências de comunicação intercultural; aprofundamento do conhecimento dos profissionais sobre os vários grupos étnico-culturais e sobre a história,costumes, valores e características culturais destes grupos; informação sobre a cultura de acolhimento e dos outros países e culturas; incremento da consciencialização de atitudes em relação às minorias étnico-culturais, ajudando na aceitação de comportamentos culturalmente diferentes ou considerados estranhos e na modificação de atitudes e comportamentos; compreensão dos mecanismos psicossociais e dos fatores sociopolíticos suscetíveis de originar a intolerância, a discriminação, o racismo e a xenofobia; desenvolvimento de formação sobre conceitos e métodos interculturais e sobre problemáticas migratórias, através de conteúdos multidimensionais; proporcionar informação e formação em relação à negociação de conflitos à escala nacional e internacional, de cariz psicológico, social, intercultural e político ou, ainda, sobre conflitos entre valores fundamentais (atentados aos direitos humanos, formas de discriminação e violência, etc.) (Brislin & Yoshida, 1994; Cohen-Emerique,1993, 1999; Demorgon, 2000; Filtzinger, 1999; Landis & Brislin, 1983, 1993; Ramos, 2001, 2004, 2011, 2012a, 2012c; Rogers-Sirin, 2008; Weaver, 2008). As estratégias e técnicas utilizadas em programas de formação de competências interculturais são variadas e podem assumir diferentes modalidades, por exemplo de tipo cognitivo ou experiencial. Dispomos de programas de formação de competências que sublinham a aprendizagem de tipo cognitivo, tendo como objetivo fornecer informação adequada sobre as relações interculturais e sobre a cultura dos participantes, assim como sobre a cultura e história de outros grupos étnicos-culturais e países através de material visual, videográfico e/ou escrito. Existem igualmente outros programas de formação que valorizam a aprendizagem experiencial e que têm como fundamento o pressuposto de que a aprendizagem, a consciencialização e a sensibilização cultural são facilitadas quando se experiencia a cultura através de situações reais ou simuladas e com a utilização de diversas técnicas 18 designadamente: grupos de discussão, simulações, auto-reflexão, role-playing e imersão noutra cultura ou país. Alguns especialistas têm destacado os benefícios resultantes do treino e formação intercultural, nomeadamente: maior capacidade para lidar com as diferenças culturais; maior bem-estar e satisfação nas relações interculturais; diminuição do stresse e melhoria nas relações interpessoais e no trabalho com grupos heterogéneos e minorias; maior abertura ao mundo e à alteridade; maior capacidade para resolver conflitos e problemas que exigem a compreensão cultural e a relação com outras culturas; maior capacidade de adaptação à mudança (Brislin &Yoshida, 1994). Considerações Finais Para reforçar o apoio às questões da interculturalidade e da mobilidade das populações, nos países industrializados ou em desenvolvimento, é importante garantir que as políticas migratórias atendam, nomeadamente, aos princípios da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e dos Direitos Humanos (ONU). É necessário desenvolver uma abordagem integrada, global e multi/interdisciplinar da mobilidade humana, baseada nos direitos humanos fundamentais e na formulação de políticas públicas adequadas. Esta abordagem deverá incluir e enfrentar as causas principais das migrações no país de origem, como, por exemplo, a pobreza, a exclusão, as desigualdades, a discriminação, a instabilidade social e política, e deverá integrar estratégias e políticas específicas dirigidas a esta população, tanto nos países de origem como nos países de acolhimento. É fundamental não só a existência de quadros legais que promovam os direitos e a integração dos migrantes e minorias étnico-culturais, mas é igualmente necessário promover uma educação e intervenção que favoreçam a inclusão e participação de todos os grupos e que contribuam para uma sociedade plural, intercultural e cosmopolita com capacidade de aceitar a alteridade e valorizar a interculturalidade e a mobilidade. É necessário que os profissionais reconheçam que as suas atitudes e crenças podem influenciar negativamente as suas perceções, relações e práticas com indivíduos de diferentes origens étnicas, linguísticas, sociais e culturais. É necessário que reconheçam, igualmente, a importância da sensibilidade, das competências interativas, da consciência cultural e compreensão multi/intercultural nas atividades e trabalho que prestam. É, ainda, importante que desenvolvam competências que promovam outras formas relacionais e comunicacionais, que não sejam marcadas por comportamentos de preconceito, estereótipo, exclusão e discriminação, mas que tenham em 19 conta a cultura, os modos de comunicação, os valores e as expectativas das populações a quem prestam cuidados, bem como o seu ambiente social e familiar. As organizações e os serviços de acolhimento e apoio deverão favorecer uma intervenção psicossocial e ecológico- cultural, promover a inserção social dos indivíduos e grupos que acolhem e desenvolver a perceção das diferenças individuais e culturais, não como um problema, mas como oportunidade de enriquecimento, desenvolvimento e criatividade. É essencial desenvolver uma formação que explique e contribua para a compreensão da diversidade cultural e dos preconceitos e estereótipos socialmente construídos em relação às minorias e às diferenças religiosas, sociais, étnico/culturais, geracionais, sexuais e de género, assim como, dos procedimentos para combatê-los, de modo a favorecer a alteridade e as expetativas positivas em relação às minorias. A formação dos profissionais na área da interculturalidade deverá incrementar competências e práticas de formação e de intervenção que contribuam para o desenvolvimento e bem-estar individual e social, que favoreçam a promoção de práticas humanizadoras e emancipadoras a implementar no interior das relações interpessoais, intergrupais, institucionais e interculturais e ajudem na implementação de políticas públicas que promovam a dignidade humana, a inserção social, a igualdade de oportunidades, o diálogo intercultural e o acesso à cidadania de todos, em particular dos grupos minoritários. Estes objetivos são preocupação da UNESCO (2001), quando afirma, na Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, artigo 2, que em sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais plurais, variadas e dinâmicas, assim como a sua vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz. A pluralidade e a heterogeneidade do mundo contemporâneo exigem aprender a viver a multiplicidade de pertenças e de referências, não sob a forma de dicotomias, de exclusividade e de exclusão, mas de um modo plural, contínuo e complementar. O objetivo da interculturalidade não é a separação do universal e do particular, mas a reunião, ou seja, a organização de um contexto social e relacional integrativo que tenha em conta um processo dialético ligando o Eu e o Outro, a abertura ao mundo e o reconhecimento das identidades e da alteridade. 20 Na reflexão sobre as relações entre cultura, psiquismo e comportamentos, implica não adotar posições extremas, ou seja subestimar os efeitos da cultura sobre os comportamentos, sobrevalorizando a posição universalista e conduzindo à generalização dos comportamentos e conhecimentos adquiridos num contexto cultural particular a todos os contextos culturais (a Psicologia, em particular, tem de evitar cair nesta tendência); ou sobrevalorizara influência da cultura, considerando que tudo pode explicar-se através da cultura, correndo o risco de relativizar todos os comportamentos e sobrevalorizar a posição relativista, ignorando o carácter dinâmico das culturas, os múltiplos fatores intervenientes nos comportamentos (individuais, culturais, sociais, económicos e políticos) e os universais, os quais permitem reconhecermo-nos e identificarmo-nos ao Outro, ainda que diferente. A necessidade e a procura de serviços de apoio por parte de indivíduos originários da migração e de minorias étnico-culturais continuarão a aumentar em todo o mundo, sendo necessário desenvolver organizações, serviços e intervenções, assim como formar profissionais culturalmente competentes e sensíveis às questões da mobilidade e da diversidade cultural, e à coabitação e comunicação com o Outro. Os diversos profissionais, em particular os psicólogos, solicitados para responder às necessidades e acompanhamento de uma população cada vez mais multicultural, não podem ignorar no exercício das suas funções os contributos importantes de diferentes disciplinas, particularmente da(s) Psicologia(s) Intercultural(is), os quais promoverão a qualidade da sua intervenção e a satisfação e bem- estar dessas populações, assim como a construção de uma sociedade plural, mais aberta e solidária, onde todos participem e dialoguem. Em contexto de encontro intercultural, um conhecimento aprofundado das relações entre cultura e indivíduo, entre cultura e Psicologia(s) e o desenvolvimento de competências interculturais constitui um desafio para os profissionais envolvidos, principalmente psicólogos que trabalham nos vários setores, nomeadamente social, educacional, laboral, organizacional, juridíco, clínico e da saúde, tanto ao nível nacional, como ao nível da cooperação internacional e da ajuda humanitária. O desenvolvimento de competências interculturais constitui, igualmente, uma exigência e responsabilidade ética, cívica, científica e profissional para fazer face à complexidade, heterogeneidade e diversidade individual e cultural do mundo atual, sendo fundamental para todos os que vivem na sociedade contemporânea, ou seja, os profissionais e os cidadãos em geral, pertencentes às minorias ou às maiorias. Para finalizar, colocamos a questão: Podemos viver num mundo monocultural, sem mobilidades, sem solidariedades e com fronteiras fechadas? Um mundo sem mobilidades, 21 sem solidariedades e com fronteiras fechadas, será um mundo mais pobre, fechado e isolado das relações interculturais e intercâmbios transnacionais e, portanto, condenado ao empobrecimento, ao envelhecimento e ao declínio; será um mundo mais desigual e inseguro, promotor de tensões, conflitos, exploração e tráfico humano, na origem de sofrimento, doença, exclusão e violência; será um mundo menos plural, menos interactivo e aberto à diversidade individual, social, cultural e à alteridade e, como tal, será um mundo menos desafiante e enriquecedor para o desenvolvimento humano, social, cultural e profissional, muito em particular para os Psicólogos e para a Psicologia. Referências Bibliográficas Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (2009a). UNHCR Policy on Refugee Protection and Solutions in Urban Areas. 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