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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA RURAL DISCIPLINA: Hidrologia e climatologia (ENR 5512) Balanço hídrico climatológico Prof. Rosandro Boligon Minuzzi www.labclimagri.ufsc.br E-mail: rbminuzzi@cca.ufsc.br Telefone: 3721-5484 “Balanço hídrico climatológico” Hidrologia e climatologia (ENR 5512) – Prof. Rosandro B. Minuzzi 2 1. Introdução Para estudar o ciclo da água em uma cultura de maneira geral é necessário considerar o balanço hídrico. Este não é nada mais que o somatório das quantidades de água que entram e saem de um elemento de volume do solo e, num dado intervalo de tempo, o resultado é a quantidade líquida de água que nele permanece (água armazenada). Do ponto de vista do engenheiro aqüicultor, o balanço hídrico é fundamental, pois ele permite auxiliar na elaboração de planos ou projetos aqüícolas, como construções de barragens, açudes (dimensões, profundidade, local, etc) entre outras formas para criadouro de peixes, sabendo em quais épocas há excesso ou déficit de água no solo, pois parte do abastecimento de água dos reservatórios provém do solo de forma superficial ou subterrânea. Figura 1. Algumas ilustrações indicando as formas de escoamento que servem para abastecer rios, lagos, açudes, etc. 2. Tipos e aplicações de balanço hídrico 2.1. Balanço hídrico climatológico - Disponibilidade hídrica regional: caracterização e a comparação climática regional quanto à disponibilidade hídrica média do solo. - Caracterização de secas: identificação e caracterização de períodos de secas. 3. Elementos do balanço hídrico Como a chuva é expressa em milímetros (mm), isto é, em litro (ou quilograma) de água por metro quadrado de superfície, para facilitar a contabilidade do balanço hídrico, adota-se também uma área superficial de 1 m² para o volume de controle. Portanto, o volume de controle torna-se uma função apenas da profundidade do sistema radicular das plantas, caso haja plantas na área de estudo. Admite-se que esse volume de controle seja representativo de toda a área em estudo, e no “Balanço hídrico climatológico” Hidrologia e climatologia (ENR 5512) – Prof. Rosandro B. Minuzzi 3 caso do balanço hídrico climatológico, essa área é aquela representada pelo ponto de medida dos elementos meteorológicos, principalmente a chuva. Genericamente, o balanço hídrico de uma área vegetada pode ser representado por: ENTRADAS SAÍDAS P = Precipitação I = Irrigação O = Orvalho Ri = Escoamento superficial (Run in) DLi = drenagem lateral AC = Ascensão capilar ET = Evapotranspiração Ro = Escoamento superficial (Run off) DLo = Drenagem lateral DP = Drenagem profunda Figura 2. Representação esquemática dos fluxos do balanço hídrico (Fonte: Pereira et al., 2002). Chuva e orvalho dependem do clima da região, enquanto que as demais entradas dependem do tipo de solo e de relevo. O orvalho representa uma contribuição máxima de 0,5 mm/dia em locais úmidos, ou seja, uma contribuição pouco significativa em termos de abastecimento de água no solo. A água cedida à superfície do solo pela chuva é função da intensidade e duração. Além desses dois parâmetros, é também função da textura do solo, profundidade da camada impermeável e inclinação da superfície. a) se a inclinação do solo for muito acentuada e a intensidade pluviométrica elevada, a duração da chuva deixa de ser fator importante, pois neste caso, o escoamento superficial é o que mais ocorre. b) quando a inclinação do solo é suave e a intensidade da chuva é baixa, a duração da chuva passa a ser fator primordial no abastecimento de água no solo. As entradas e saídas do escoamento superficial e drenagem lateral tendem a se compensar, desde que, a superfície externa do volume de controle não seja muito grande. Drenagem profunda e ascenção capilar representam, respectivamente, saída e entrada de água pela área inferior do volume de controle. A drenagem profunda expressa o excesso de água que penetrou no volume pelas chuvas e/ou irrigação. Quanto mais profundo o volume de controle, menor a drenagem profunda e maior a ascenção capilar. “Balanço hídrico climatológico” Hidrologia e climatologia (ENR 5512) – Prof. Rosandro B. Minuzzi 4 O volume de controle é determinado pelo conjunto solo-planta-clima. Se o solo é profundo e a demanda atmosférica é alta, as raízes se aprofundam na procura de mais água para atender a demanda. Nessa situação, as plantas investem na formação do sistema radicular como modo de garantir sua sobrevivência. No entanto, se a demanda atmosférica for baixa, um volume menor de solo será suficiente para atendê-la. A ascensão capilar (AC), que ocorre em períodos secos, e a drenagem profunda (DP), que ocorre em períodos extremamente chuvosos, podem ser determinados utilizando-se conhecimentos de física dos solos. 4. Balanço hídrico climatológico (BHC) No caso do balanço hídrico climatológico, desenvolvido por Thornthwaite & Mather (1955), determinamos a variação de água no solo, sem irrigação (I= 0). Outra simplificação, para fins práticos, é considerar desprezível a ascensão capilar (AC= 0). A contabilização do BHC pode ser feita tanto na escala diária como em escalas maiores como a mensal, utilizando-se valores médios de vários anos (normal climatológica). 4.1. Determinação da capacidade máxima de água disponível (CAD) Como o BHC desenvolvido por Thornthwaite & Mather (1955), é mais utilizado para fins de caracterização da disponibilidade hídrica de uma região em bases climatológicas e comparativas, a seleção da CAD é feita mais em função do tipo de cultura ao qual quer aplicá-lo do que do tipo de solo. Assim, pode-se adotar valores de CAD entre 25 e 50mm, para hortaliças; entre 75 e 100mm, para culturas anuais; entre 100 e 125mm, para culturas perenes; e entre 150 e 300mm, para espécies florestais. Quando desconsidera-se uma cultura específica no cálculo do balanço hídrico climatológico, utiliza-se a CAD=100mm. Uma vez que o objetivo seja determinar o armazenamento de água no solo (ARM) sem compará-lo com outros locais ou para uma cultura “não padrão” (que não seja grama), pode-se determinar o CAD por meio da seguinte expressão: )( 10 .).( mm HDaPMPCCCAD −= em que, CC= umidade do solo à capacidade de campo (% peso); PMP= umidade do solo ao ponto de murcha permanente (% peso); Da= densidade aparente do solo (g/m³); H= profundidade efetiva (concentra cerca de 80% das raízes) do sistema radicular da cultura (cm). Importante saber: Capacidade de campo (CC%): limite superior da CAD, é o máximo que um solo armazena de água sem que haja perdas por percolação. Ponto de murcha permanente (PMP%): limite inferior da CAD, representa a percentagem de água “Balanço hídrico climatológico” Hidrologia e climatologia (ENR 5512) – Prof. Rosandro B. Minuzzi 5 que o solo ainda conserva quando as plantas mostram os primeiros sinais de murchamento permanente, ou seja, representa o teor de umidade do solo, em que abaixo dele a planta não conseguirá retirar água do solo, na mesma intensidade que ela transpira. As grandezas CC, PMP e Da são características do solo e devem ser determinados em laboratório de física dos solos competente. Exemplo 1: Determinar CAD de um solo, sabendo-se que CC= 35% em peso, PMP= 20% em peso, Da= 1,2 g/cm³ e H= 80 cm. mmCAD 144 10 80.2,1).2035( = − = 4.2. Elaboração do balanço hídrico climatológico Sendo um balanço hídrico para fins climatológicos e uma cultura de referência (grama), consideramos no exemplo a seguir o CAD= 100mm e dados meteorológicosmédios de 1961 a 1990 (30 anos). Importante: usar sempre números inteiros, fazendo-se aproximações nos cálculos. 1. ETo → a evapotranspiração de referência pode ser estimada por qualquer método, principalmente, se considerarmos que, neste caso, a escala é mensal. 2. P → preencher com alturas pluviométricas médias mensais. 3. P-ETo → diferença entre as colunas P e ETo, mantendo-se o sinal positivo ou negativo. Valor positivo indica chuva em excesso, e valor negativo representa retirada de água do solo nos meses secos quando o solo apresenta armazenamento restrito de água. 4. NegAc → denomina-se negativo acumulado ao somatório da seqüência de valores negativos de P-ETo. NegAc=(P-ETo)i + NegAci-1 quando, (P-ETo)< 0 = CAD ARMCADNegAc ln. quando, (P-ETo)≥ 0 5. ARM → representa o armazenamento de água no solo. Logicamente, o valor do ARM nunca deve ultrapassar ao da CAD. As colunas do NegAc e do ARM devem ser preenchidas simultaneamente. Quando houver valor negativo na coluna P-ETo, deve-se iniciar o preenchimento da coluna do NegAc por este período (mês), após um período de valores positivos de P-ETo. Nesse primeiro mês o Negativo Acumulado será igual a P-ETo. Se o próximo período (mês) também apresentar valor negativo de (P-ETo), “Balanço hídrico climatológico” Hidrologia e climatologia (ENR 5512) – Prof. Rosandro B. Minuzzi 6 acumula-se o valor do Negativo Acumulado com o valor do mês. Simultaneamente deve-se ir obtendo os valores do Armazenamento. )( . CAD NegAc eCADARM = quando, (P-ETo)< 0 1)( −+−= ii ARMEToPARM quando, (P-ETo)≥ 0 6. ALT → representa a variação do armazenamento do período em questão (mês) em relação ao do período anterior. ALT= ARMi - ARMi-1 7. ETR → representa a evapotranspiração real, aquela que realmente ocorre independente da disponibilidade de água no solo. ETR=ETo quando (P-ETo)≥ 0 ETR=P+│ALT│ quando (P-ETo)< 0 8. DEF → representa a deficiência hídrica, ou seja, a falta de água no solo. DEF=ETo-ETR 9. EXC → representa o excedente hídrico, ou seja, quando a quantidade de água ultrapassa o valor da CAD e, este excesso, se perde por drenagem profunda (percolação) e/ou escoamento superficial. EXC=0 quando ARM<CAD EXC=(P-ETo)-ALT quando ARM=CAD Exemplo 2: considere o balanço hídrico climatológico com a CAD= 100mm. “Balanço hídrico climatológico” Hidrologia e climatologia (ENR 5512) – Prof. Rosandro B. Minuzzi 7 Aferição dos cálculos: ∑P= ∑ETo+∑(P-ETo) ∑P= ∑ETR+∑EXC ∑ETo= ∑ETR+∑DEF ∑ALT=0 EXERCÍCIOS: 1.Com dados climáticos mensais de 1961-1990 e considerando a CAD=100mm, realize o balanço hídrico abaixo e faça os testes de aferição. ETo(mm) P(mm) P-ETo Neg.Ac ARM(mm) ALT(mm) ETR(mm) DEF(mm) EXC(mm) Jan 110 70 Fev 98 92 -6 -88 41 -3 95 3 0 Mar 105 90 -15 -103 36 -5 96 9 0 Abr 90 120 Mai 78 135 Jun 75 140 65 0 100 0 75 0 65 Jul 65 128 63 0 100 0 65 0 63 Ago 63 105 Set 70 102 Out 98 100 Nov 114 98 Dez 115 89 Soma 1081 1269 2. A figura abaixo, mostra a média climática mensal da precipitação (P) e da evapotranspiração de referência (ETo) para um determinado local. Baseado nas informações da figura: a) indique o mês de início e de final do período seco e do período chuvoso da localidade. 0 20 40 60 80 100 120 140 160 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez (m m ) Eto P 3. Na realização de um balanço hídrico climatológico para a grama, foram encontrados os seguintes valores para um determinado mês: Armazenamento (ARM)= 114mm, Deficiência hídrica (DEF)= 14mm e Excesso hídrico (EXC)= 0mm. Aponte o(s) erro(s) encontrados nesses valores, e explique o por quê? Bibliografia recomendada: PEREIRA, A.R.; ANGELOCCI, L.R.; SENTELHAS, P.C. Agrometeorologia: fundamentos e aplicações práticas. Editora Agropecuária, 478p. 2002 PEREIRA, A.R.; VILLA NOVA, N.A.; SEDIYAMA, G.C. Evapo(transpi)ração. FEALQ, 183p. 1997.
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