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TCC Rafael Dias

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ 
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CAMETÁ 
NÚCLEO UNIVERSITÁRIO SÉRGIO MANESCHY/MOCAJUBA 
FACULDADE DE LINGUAGEM 
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS LÍNGUA 
PORTUGUESA 
 
 
 
 
 
RAFAEL DUTRA DIAS 
 
 
 
 
Uma Análise do Discurso de Mocajubenses Acerca da 
Participação Feminina na Política Municipal de Mocajuba – 
Pará – Amazônia 
 
 
 
 
 
 
Mocajuba - PA 
2017 
RAFAEL DUTRA DIAS 
 
 
 
 
 
Uma Análise do Discurso de Mocajubenses Acerca da 
Participação Feminina na Política Municipal de Mocajuba – 
Pará – Amazônia 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Doriedson do Socorro Rodrigues. 
 
 
Trabalho de Conclusão de 
Curso apresentado ao Curso de 
Graduação em Letras, 
habilitação em Língua 
Portuguesa, da Faculdade de 
Linguagem, Campus 
Universitário do 
Tocantins/Cametá, Universidade 
Federal do Pará, como requisito 
parcial à obtenção do título de 
Licenciado em Letras Língua 
Portuguesa. 
 
 
 
Mocajuba - PA 
2017 
RAFAEL DUTRA DIAS 
 
 
 
 
Uma Análise do Discurso de Mocajubenses Acerca da 
Participação Feminina na Política Municipal de Mocajuba – 
Pará – Amazônia 
 
 
 
Banca examinadora: 
 
 
_____________________________________________________ 
Prof. Dr. Doriedson do Socorro Rodrigues (Orientador). 
UFPA, Campus de Cametá. 
 
 
_____________________________________________________ 
Prof. Eder Jacson Dias Pereira1 – Membro da Banca. 
 
_____________________________________________________ 
Prof. MSc. Psicólogo Carlos Alberto Amorim Caldas2 – Membro da 
Banca. 
 
 
 
 
 
Mocajuba – PA 
2017
 
1
 Mestrando PPGDUC/CUTINS/UFPA – Membro da Banca. 
2 CUTINS/UFPA – Membro da Banca. 
P á g i n a | iv 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho é dedicado aos 
meus pais, Raimundo Furtado 
Dias e Maria Antonete Dutra 
Dias, por serem os principais 
incentivadores dessa conquista; 
pelo suporte e também pela 
motivação que ambos deram e 
ainda dão a minha vida 
educacional. 
P á g i n a | v 
 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
―Mulheres na política: independente da 
sigla partidária também são exemplos de 
ousadia, superação e de transformação; e 
não devem servir de objeto, mas de 
inspiração e motivação, para os homens.‖ 
Sunamita de Carvalho 
 
P á g i n a | vi 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus, que me tem dado saúde, proteção e 
sustentação até aqui. 
 
À minha mãe, Maria Antonete, e ao meu pai, Raimundo Dias, que apesar de 
todas as dificuldades passadas, sempre apoiaram e priorizaram minha 
educação. 
 
Aos meus 7 irmãos: Reinaldo, Róbson, Rayane, Raisa, Railson, Raynara e 
Renata; pelos incentivos, direta e indiretamente, aos estudos. 
 
Ao meu colega e também amigo Elber José, que dedicou parte de seu tempo 
para me ajudar na realização desta pesquisa. Também não esquecendo os 
meus eternos colegas e amigos Artur Kléber e Deoclécio, que, apesar de 
sermos apenas três, juntos, formávamos uma verdadeira Equipe, o chamado 
―Trio ternura‖. Aos três, meu muito obrigado pelo companheirismo nesses 4 
anos de estudos. 
 
À minha amada companheira Bianca Carvalho, que sempre me apoiou e 
dedicou parte de seu tempo para me ajudar na realização dessa conquista. 
Meu muito obrigado! 
 
Ao meu orientador, Prof. Dr. Doriedson do Socorro Rodrigues, que com sua 
seriedade e competência, me ajudou a realizar este trabalho. 
 
Ao núcleo universitário Sérgio de Almeida Maneschy, de Mocajuba, por todo o 
apoio a mim concedido durante esses 4 anos de estudos e por ser o lugar onde 
pude estudar e concluir minha graduação. 
 
Enfim, aos meus amigos, colegas de curso e a todos que de forma direta ou 
indireta fizeram parte deste momento ímpar em minha vida. Meu muito 
obrigado a todos! 
 
P á g i n a | vii 
 
SUMÁRIO 
 
LISTA DE FIGURAS E TABELAS......................…………………............... Ix 
RESUMO.……………………………………………………………................. X 
ABSTRACT................................................................................................. Xi 
Introdução……………….....………………………….................... 12 
CAPÍTULO I – POLÍTICA E PARTICIPAÇÃO FEMININA: 
QUESTÕES TEÓRICAS............................................................. 
Introdução.................................................................................. 
18 
 
18 
1.1 Política: questões teóricas e importância para as 
construções do homem e da mulher....................................... 
18 
1.2 A mulher na política brasileira: uma caracterização.............. 20 
1.3 Gênero e política…………………………………………………… 33 
CAPÍTULO II – MOCAJUBA E A ANÁLISE DO DISCURSO: 
QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS…….....………….. 
37 
Introdução..................................................................................37 
1.1 Análise do discurso: considerações teóricas........................ 37 
1.2 O que é análise do discurso..................................................... 41 
1.3 Como se fazer análise do discurso.......................................... 45 
1.3.1 Metodologia em análise do discurso....................................... 51 
2.1 Mocajuba – Pa: universo populacional de homens e 
mulheres..................................................................................... 
54 
2.2 Mulheres na política mocajubense.......................................... 59 
2.3 Histórico político-participativo feminino mocajubense......... 61 
2.4 Considerações metodológicas................................................. 64 
CAPÍTULO III – O DISCURSO SOBRE A MULHER NA 
POLÍTICA MOCAJUBENSE....................................................... 
67 
Introdução.................................................................................. 67 
1.1 Entrevistas: análise e discussão............................................. 67 
2.1 Primeira pergunta...................................................................... 67 
2.2 Segunda pergunta..................................................................... 73 
P á g i n a | viii 
 
2.3 Terceira pergunta...................................................................... 78 
2.4 Quarta pergunta......................................................................... 82 
Considerações finais................................................................. 87 
Referências bibliográficas........................................................ 90 
Apêndice..................................................................................... 93 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
P á g i n a | ix 
 
LISTA DE FIGURAS E TABELAS 
 
Figura 1. Evolução de candidatura a deputada estadual, 1998-2014....... 26 
 
Figura 2. Evolução de candidatura a deputada federal, 1998-2014......... 26 
 
Figura 3. Evolução de candidatura a senadora, 1998-2014..................... 27 
Figura 4. Evolução de candidatura a governadora, 1998-2014................ 27 
 
Figura 5. A Análise do Discurso em meios aos estudos linguísticos........ 42 
 
Tabela 1. Quadro evolutivo de mulheres eleitas, para o congresso 
brasileiro, nas últimas décadas.................................................................. 
 
28 
 
Tabela 2. Participação feminina nos parlamentos unicamerais ou 
bicamerais no mundo................................................................................. 
 
29 
Tabela 3. Comparativo de filiados (2009-2015)......................................... 34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
P á g i n a | x 
 
RESUMO 
 
O presente estudo baseia-se em mostrar o que é política, seus conceitos, suas 
fundamentações teóricas e também a real situação da política brasileira e 
mocajubense, assim também como se fundamenta em demonstrar estudos de 
orientações teóricas e metodológicas da Análise do Discurso, a partir dos seus 
principais conceitos e procedimentos: sujeito, ideologia, discurso e 
interpretação; recorte, enunciado e trajeto temático. Para além desses 
conceitos e procedimentos, por meio da Análise do Discurso e, assim, da 
interpretação, dentro das aulas de língua portuguesa, este trabalho mostra 
como é possível formar cidadãos críticos, com condições para exercer 
plenamente sua cidadania. Sendo assim, este estudo também se restringe em 
evidenciar as análises, interpretações e discussões da pesquisa realizada com 
quatro cidadãos e cidadãs mocajubenses, de idades e escolaridades 
diferentes, e, dessa forma, revelar para um possível leitor os ideais desses 
entrevistados mocajubenses em relação à participação feminina na política 
deste município. Portanto, com a presente pesquisa apresentada, pôde-se 
afirmar que o olhar da população mocajubense sobre o papel da mulher na 
política da cidade de Mocajuba está efetivamente ativo. Pois, todos os 
entrevistados demonstram conhecimento e interesse acerca das perguntas 
realizadas, sempre respondendo com clareza e espontaneidade. Assim, isso 
demonstra que a população mocajubense de hoje, está participando mais da 
política local e, assim sendo, possui conhecimento acerca do universo político 
municipal, em geral. 
 
Palavras-chave: Estudo; Análise do Discurso; Participação Feminina. 
 
 
 
 
 
 
 
 
P á g i n a | xi 
 
ABSTRACT 
 
The present study is based on showing what is politics, its concepts, its 
theoretical foundations and also the real situation of Brazilian and Mocajuba 
politics, as well as how it is based on demonstrating studies of theoretical and 
methodological orientations of Discourse Analysis, from Of its main concepts 
and procedures: subject, ideology, discourse and interpretation; Clipping, 
statement and thematic path. In addition to these concepts and procedures, 
through Discourse Analysis, and thus of interpretation, within Portuguese 
language classes, this work shows how it is possible to form critical citizens, 
with conditions to fully exercise their citizenship. Thus, this study is also 
restricted in evidencing the analyzes, interpretations and discussions of the 
research carried out with four Mocajuba citizens, of different ages and 
schooling, and, thus, reveal to a possible reader the ideals of these 
Mocajubenses interviewees in relation to Participation in the politics of this 
municipality. Therefore, with the present research presented, it was possible to 
affirm that the Mocajuba population's view on the role of women in the politics of 
the city of Mocajuba is effectively active. For, all the interviewees demonstrate 
knowledge and interest about the questions asked, always responding with 
clarity and spontaneity. Thus, this shows that the population of Mocajuba today 
is participating more in local politics and, therefore, has knowledge about the 
municipal political universe, in general. 
 
Key words: Study; Speech analysis; Female participation. 
P á g i n a | 12 
 
Introdução 
 
O presente trabalho aborda o discurso sobre a participação feminina na 
política municipal mocajubense. Trata-se de pesquisa pautada na análise do 
discurso no sentido de se analisar, a partir de entrevistas junto a cidadãos 
desse município, a atitude para com a participação da mulher na política local, 
considerando que em 2016 elegera a sua primeira mulher na função de 
prefeita, além de em anos anteriores terem sido eleitas mulheres para a 
Câmara de Vereadores e Vice-Prefeita. Destaque-se que, na Microrregião 
Cametá, somente Mocajuba e os municípios de Baião e Oeiras do Pará já 
elegeram mulheres para o cargo maior da política municipal, enquanto que 
Cametá e Limoeiro do Ajuru até o presente momento não o conseguiram, bem 
como o município de Igarapé-Miri, embora este último já tenha tido uma mulher 
na condição de vice-prefeita. 
Em termos linguísticos, trata-se de pesquisa que busca propiciar uma 
objetivação de como é possível utilizar a análise do discurso para se realizar 
leituras de mundo, a partir da materialidade discursiva, no sentido de se 
apontar com isso elementos para o tratamento da leitura em sala de aula por 
meio dessa perspectiva de estudo dos significados e sentidos construídos via 
linguagem. 
Em termos teóricos, discutimos questões sobre política e gênero-política, 
além de categorias da análise do discurso, de modo a compreender também a 
participação feminina na política brasileira e, principalmente, na mocajubense, 
dando ênfase aos avanços alcançadosno decorrer dos anos, mais 
especificamente a partir da década de 1980 até o ano atual, em se tratando da 
cidade de Mocajuba. 
Com esta pesquisa, buscamos responder a indagações como: (i) qual a 
atitude dos mocajubenses para com a presença de mulheres na política local, 
com destaque para o cargo de prefeita, conforme a eleição de 2016?; (ii) que 
condições sócio-político-culturais podem explicar a presença de mulheres nas 
eleições 2016, já que a participação desse gênero foi maior que a de homens, 
pelo menos no que diz respeito ao cargo de prefeito (a), onde 60% desses 
P á g i n a | 13 
 
candidatos (as) eram mulheres, o que até então era algo incomum neste 
município? 
Em termos de importância da presente pesquisa, partimos do 
pressuposto de que este trabalho tem um papel de grande relevância para a 
compreensão do cenário político, social e educacional do município de 
Mocajuba, principalmente no que diz respeito à sociedade mocajubense em 
termos de população politicamente ativa e também em termos de investigação 
nesse âmbito de pesquisa. Pois este trabalho é pioneiro dentro dessa área de 
estudo, que envolve a Análise do Discurso e a participação Política feminina. 
Com os estudos dessa pesquisa busca-se contribuir com o município de 
Mocajuba, mais especificamente com sua população, para que ela possa ter 
acesso aos ideais de amostragem de parte de seus cidadãos e aos números 
que envolvem a participação de mulheres na política desta cidade. 
Isto posto, destaque-se que Santos e Macedo (s/d), ao tratarem sobre 
análise do discurso e política, explanam que, em um discurso envolvendo 
política, a aplicabilidade conceitual da Análise do Discurso torna-se notória e 
intrinsecamente ligada à comunicação de massa e relação com o poder, 
devendo-se em um discurso considerar o contexto de comunicação como parte 
essencial da formação discursiva3 entendida como tudo o que se é falado em 
qualquer discurso, inclusive o político. Semanticamente se faz necessário 
analisar os processos característicos de uma formação discursiva que devem 
dar conta da articulação entre o processo de produção de um discurso e as 
condições em que ele é produzido, o que se chama semântica discursiva4. 
Sendo assim, segundo Cardoso (2005), não se pode dizer que o 
discurso se confunde com a fala. Concebido fora da dicotomia saussuriana, 
como um terceiro elemento (nem a língua nem a fala), o discurso é fruto do 
reconhecimento de que a linguagem não deve ser buscada apenas na língua, 
mas num nível situado fora do polo da dicotomia língua/fala. 
 
3
 Processo da análise do discurso fundamental para a produção de sentidos. Relaciona-se com a ideologia, 
onde permite estabelecer regularidades no funcionamento do discurso. 
4
 Teoria do funcionamento material da língua na sua relação com ela mesma, isto é, uma sistematicidade 
que não se opõe ao processo língua/fala, mas que se articula sobre processos discursivos. 
P á g i n a | 14 
 
E é por esse motivo que o discurso é definido como um terceiro 
elemento, cabendo para análise do discurso a necessidade de distinguir o que 
é semântica discursiva de semântica linguística5. Esses fatores permitem 
que os estudiosos de comunicação política criem laços acadêmicos com os 
profissionais da área de AD, pois é por meio de seus conceitos teóricos, 
alinhavados com o processo de comunicação e marketing político, os clientes, 
no caso políticos assessorados, que também são amparados por essas 
características de expressão e comunicação perante seus pares (SANTOS e 
MACEDO, p.05, s/d). 
Então, para o universo político feminino, o estudo deste trabalho, além 
de ser relevante para pesquisas posteriores nessa área, é também de grande 
expressão para o âmbito populacional em geral do município em questão, pois 
é o precursor nesse sentido. 
Quanto à Análise do Discurso6 e sua relação com o ensino e a 
aprendizagem de língua portuguesa, entendemos que a Análise do Discurso 
para o desenvolvimento do ensino de Língua Portuguesa é de grande 
relevância, pois ela, a AD, apresenta, dentro de seu campo de estudo, 
processos para a compreensão e interpretação da linguagem por meio da 
leitura, ou seja, a linguagem apresenta um carácter formal, regidas por leis 
internas da língua, como conjunto de regras fonológicas, morfológicas e 
sintáticas, que propiciam o incentivo à leitura e, desse modo, a interpretação. 
Sendo assim, esses processos proporcionam dentro do ensino de língua uma 
grande contribuição para a aprendizagem dos alunos nas aulas de Língua 
Portuguesa (MAGALHÃES et al, 2007). 
Seguindo esses processos, segundo os Parâmetros curriculares 
Nacionais para o ensino médio, a Leitura e a Interpretação – este segundo, 
presente na AD como um dispositivo que tem como característica colocar o dito 
em relação ao não dito; o que o sujeito diz em um lugar, com o que é dito em 
outro lugar; o que é dito de um modo, com o que é dito de outro – são 
essenciais dentro da disciplina de Língua Portuguesa. É por meio da linguagem 
 
5
 Incide sobre a relação entre significantes, tais como palavras, frases, sinais e símbolos, e o que eles 
representam, a sua denotação. A semântica linguística estuda o significado usado por seres humanos para 
se expressar através da linguagem. 
6
 Maiores discussões sobre esse assunto melhor veremos no capítulo II deste trabalho. 
P á g i n a | 15 
 
que se permeia o conhecimento, as formas de pensar e se comunicar, e, 
assim, se contribui com o processo de leitura e interpretação (BRASIL, 2000). 
Desse modo, Brito (2010) relata que a leitura, assim também como a 
interpretação, é uma das atividades de grande relevância que existem dentro 
do universo do ensino de língua portuguesa; são portas para um bom 
rendimento e desenvolvimento educacional. Ler e, principalmente, interpretar o 
que se lê é uma das aprendizagens mais importantes na vida do ser humano, 
porque é a partir delas que se permite o acesso a todos os outros saberes. 
Todavia, partimos do pressuposto de que o ato da leitura vai muito mais 
do que simplesmente ler um artigo, um livro, um jornal. É necessário também 
que se saiba ler o que não está explícito nas frases e orações lidas nesses 
periódicos; tem que saber interpretar. Pois, hoje, ler e entender o que se lê se 
tornou uma necessidade para participar ativamente da sociedade, assim 
também como para desenvolver a capacidade verbal, além do fato de ser uma 
forma de adquirir novas ideias e experiências (BRITO, 2010). 
Sendo assim, é a partir desses pontos citados anteriormente que a 
Análise do Discurso contribui no ensino de língua portuguesa. Ou seja, é por 
meio da leitura e interpretação que as aulas de língua portuguesa podem se 
valer da AD, já que pelo menos um destes processos de ensino-aprendizagem, 
a interpretação, faz parte do campo de estudo da Análise do Discurso ―como a 
manifestação do inconsciente e da ideologia na produção de sentidos, e 
também na constituição dos sujeitos, ou seja, é a partir dela que um enunciado 
pode se tornar outro enunciado‖. Desse modo, a interpretação, assim como a 
leitura, são partes essenciais no ensino da disciplina de Língua Portuguesa 
(ORLANDI, 1998). 
Segundo Menegassi (1995), além da interpretação, outra etapa básica 
do processo de leitura, que contribui com as aulas de LP é a compreensão, que 
ocorre quando o leitor capta do texto as informações que ali se oferecem. 
Seria, na verdade, ―mergulhar‖ no texto e retirar dele suas ideias, suas 
temáticas principais. Já a Interpretação, para que ela ocorra, é necessário que 
a compreensãoa proceda, caso contrário, não há possibilidades de sua 
manifestação. Sendo assim, ela é considerada idiossincrática, pois depende de 
conhecimentos anteriores que o leitor possui. Na interpretação o leitor deve ser 
P á g i n a | 16 
 
consciente da polissemia textual, pois a interpretação pode ser dirigida ou não, 
ou seja, um texto pode ter uma interpretação clara ou pode ter variadas 
interpretações, o que pode ocasionar representações errôneas. 
Quanto à leitura, Brito (2010) relata que esse conceito na maior parte 
das vezes está relacionado com a decifração dos códigos linguísticos e sua 
aprendizagem. No entanto, não se pode deixar de levar em consideração o 
processo de formação social deste indivíduo, suas capacidades, sua cultura 
política e social. É por meio da leitura, compreensão e interpretação, que é 
possível formar cidadãos críticos dentro da disciplina de Língua Portuguesa, 
com condições para exercer sua cidadania, pois este indivíduo torna-se capaz 
de compreender o que se lê e manifestar-se diante de debates sociais usando 
sua própria voz, tomando consciência dos seus direitos e sabendo lutar por 
eles. 
Outrossim, ainda sobre os dois elementos do processo de leitura 
aludidos acima, Silva (1987) expõe que a interpretação difere da compreensão 
no sentido de ampliação de conhecimentos, no sentido de explicitação das 
possibilidades de significação de um objeto, projetadas pela compreensão; no 
entanto, são processos da leitura indispensáveis para o desenvolvimento de 
um aluno. Portanto, a Leitura e, a partir dessa, a Compreensão e Interpretação 
são processos essenciais dentro do ensino de LP. 
Em termos sociais e políticos, registre-se que a grande participação 
feminina nas eleições mocajubense 2016 e o resultado dela, tanto para o cargo 
a prefeito (a) como também para cargos de vereador (a), aguçou-me a 
curiosidade de pesquisar mais a fundo em relação a esse contexto social na 
cidade de Mocajuba-Pa, já que desde quando se iniciou o pleito eleitoral 
democrático nesse município, não se via um número tão expressivo de 
candidatos (as) desse gênero nas eleições, apesar do eleitorado feminino 
mocajubense ser praticamente igual ao masculino, e do eleitorado feminino 
nacional7, hoje, ser superior ao masculino, segundo dados do TSE (2016). 
Desse modo, com esta ideia de estudos, e em conformidade com o fato 
político-social citado anteriormente, as bases teóricas dessa pesquisa, entre 
 
7
 Eleitorado feminino mocajubense: 49,69%; Eleitorado feminino nacional: 53%. Fonte: TSE 2016. 
P á g i n a | 17 
 
outras obras e escritores do campo da Política e da Análise do Discurso (AD), 
são de autores como: Mário Sérgio Cortella, Kátia Regiane Santos e Roberto 
Macedo Paulo Bonavides, Glaci do Carmo Bren de Andrade, Dominique 
Maingueneau, Milton Milanez e Janaína de Jesus Santos, Fernanda Mussalim, 
Eni Puccinelli Orlandi e Vânia Maria Lescano Guerra. Além também dos livros 
organizado pelo Senado Federal, Mais Mulheres na Política, volume I e II. 
Em termos de objetivos, buscamos de forma geral demonstrar o que é 
política, a realidade da política brasileira e mocajubense em relação às 
mulheres; o que é e como se proceder diante da análise do discurso; assim 
também como Analisar a atitude presente nos discursos de integrantes da 
sociedade mocajubense acerca da participação feminina na política de 
Mocajuba-Pa. Especificamente, buscamos: (i) Verificar se há casos de algum 
tipo de preconceito em relação à presença de mulheres na política; (ii) 
Identificar elementos sócio-político-culturais que podem propiciar a baixa 
participação de mulheres na política mocajubense, em termos quantitativos; (iii) 
Investigar, na visão dos entrevistados, qual o motivo que propiciou a maior 
participação de candidatos do gênero feminino (60%), em relação a do gênero 
masculino, nas eleições a prefeito(a) de 2016. 
Estruturalmente o trabalho encontra-se dividido em três capítulos. No 
primeiro, abordamos aspectos teóricos sobre política e participação feminina, 
onde se fala do que seja política, de como vem se dando a participação da 
mulher na política brasileira e sobre gênero e política. No segundo capítulo, 
contextualizam-se questões teórico-metodológicas sobre a análise do discurso, 
abordando informações sobre a cidade de Mocajuba: sua população, histórico 
administrativo e político-feminino e seu universo de homens e mulheres. 
Também, ainda neste capítulo, fala-se sobre as considerações metodológicas 
da pesquisa. E finalmente, no terceiro e último capítulo, fazemos a análise das 
entrevistas dos quatro cidadãos mocajubenses, em relação à mulher na política 
mocajubense, articulando-as com a teoria do capítulo I. Em seguida, 
apresentamos as considerações finais. 
P á g i n a | 18 
 
CAPÍTULO I 
POLÍTICA E PARTICIPAÇÃO FEMININA: QUESTÕES TEÓRICAS 
 
Introdução 
 
O presente capítulo aborda, principalmente, questões teóricas sobre 
Política, relatando, a partir de trabalhos realizados, a definição do que seja 
política, origem e assuntos a ela relacionados. Neste capítulo também tratamos 
de assuntos históricos sobre a mulher na política brasileira, e, dessa forma, 
descrevendo a participação desse gênero no decorrer dos anos, além também 
de retratar o tema gênero e política, dentro do atual cenário brasileiro. 
 
1.1 Política: questões teóricas e importância para as construções do 
homem e da mulher 
 
Segundo estudos de Bedin (2001), a política é um dos principais pilares 
da sociedade contemporânea. Desde a chegada dos tempos modernos, 
juntamente com a democracia, é por meio dela que nós, homens e mulheres, 
também podemos exercer nossos direitos de cidadão e decidir o futuro da 
sociedade em que vivemos e, desse modo, até mesmo do mundo. A esse 
respeito, considere-se o disposto por Cortella e Janine Ribeiro (s/d): 
Na década de 1980 o continente americano quase inteiro 
tornou-se democrático. Antes, nas Américas a democracia 
estava nos seus três países mais ao norte e poucos mais; mas 
nos últimos 30 anos a América Latina se livrou de quase todas 
as ditaduras. Até então, só uma parte da Europa era 
democrática; aí, subitamente, a Europa de Leste também se 
democratizou. Caíram às ditaduras de direita na América 
Latina, caíram às ditaduras ditas de esquerda da Europa 
Oriental, e passamos a ter ao menos três continentes 
amplamente democráticos, incluindo a Oceania, e mais uma 
parte razoável da Ásia... A democracia não está mais 
concentrada no Atlântico Norte. Enfim, foi uma mudança 
politicamente radical. E, a partir disso, a política mundial teve 
um grande avanço. (CORTELLA e JANINE RIBEIRO, s/d, 
p.13). 
 
P á g i n a | 19 
 
Esse fato acima relatado por Cortella e Janine Ribeiro (s/d) demonstra 
que, com o avanço da democracia política pelo mundo e, dessa forma, sua 
chegada ao Brasil, marcada pela revolução de 1930 que acabou com a 
república velha, pode-se dizer, assim, que foi a partir daí, mais especificamente 
em 1934, com a conquista do direito ao voto e se candidatar, que as mulheres 
puderam exercer seus papéis como cidadãs brasileiras, de feto. Dessa forma, 
foi a partir desse ocorrido, que se viu provocar um corte profundo nas políticas 
desenvolvidas até então neste país e abriu-se um espaço de opções relativo à 
democracia e às políticas femininas neste país. (Mais Mulheres na Política, 
SENADO FEDERAL, 2015). 
 Em termos teóricos, Política, de acordo com Ferreira (2010), é um 
substantivo feminino, havendo, segundo esse autor, cinco (5) significados para 
caracterizá-la: 
 Ciência ou arte de governar; 
 Orientação administrativa deum governo; 
 Princípios diretores da ação de um governo; 
 Arte de dirigir as relações de um Estado com outro; 
 Conjunto dos princípios e dos objetivos que servem de guia a tomadas 
de decisões e que fornecem a base da planificação de atividades em 
determinado domínio. 
Com essas definições de Ferreira (2010) acima citadas, acerca da 
política, pretende-se mostrar nos parágrafos seguintes relações entre o que foi 
dito acima, com teorias de obras de outros autores que desenvolvem trabalhos 
na área política. 
Quanto à origem, segundo Anderson (1995), a palavra ―política‖ vem do 
vocábulo grego polis, que quer dizer cidade. Significava, para os gregos, a arte 
de governar a cidade. Pode ser definida como a luta pelo poder, ou seja, o jogo 
de forças para a conquista do poder ou para a permanência deste. No ano de 
1265 a palavra ―política‖ já era definida no idioma francês – politique – como 
―ciência do governo dos Estados‖ (ANDERSON, 1995, p. 09). 
No que diz respeito ao seu surgimento, a política surge na Grécia 
clássica, juntamente com a criação da polis, a cidade-estado, estabelecendo 
P á g i n a | 20 
 
as bases no mundo grego e, com o passar dos séculos, espalhou-se pelo 
mundo, estando presente nos grandes impérios mundiais, como o Inca, sendo 
considerada a arte da organização8. 
Destacamos ainda a relação da política com a palavra poder, uma vez 
que, desde a sua origem, quem detinha o poder sobre uma cidade ou nação 
podia se considerar político, aquele que possuía comando de governo, que 
tinha o domínio de poder sobre um determinado povo. Isso pode melhor ser 
observado na obra O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, onde ele demonstra 
como governar e se deter poder sobre um reino. Apesar de a obra ser 
destinada a príncipes, nela, temos a questão muito interessante da 
representação feminina no poder, não somente na efígie da deusa Fortuna, 
mas também em outras personagens que pontuam seus escritos políticos 
sobre a soberania do poder (PITKIN, 1984). 
Dessa forma, seguindo o raciocínio de Anderson (1995), hoje, em nossa 
sociedade, o estado é a instância, por excelência, do exercício do poder 
político, concentrando diversos poderes. A centralização e institucionalização 
desses poderes caracteriza o estado moderno, que é regido principalmente por 
intermédio da Política. Ou seja, o estado é uma ordem legal, uma associação 
que proporciona liderança Política, que mantém a ordem social e promove o 
bem-estar geral, sempre agindo, direta ou indiretamente, através da Política. 
Esta, pela qual, ―por muitos motivos exclui às mulheres do poder do estado, 
pela mulher se encontrar em larga desvantagem em sua participação, se 
comparado aos homens‖ (BOBBIO et al, 1998). 
 
1.2 A mulher na política brasileira: uma caracterização 
 
Aqui, pretende-se caracterizar o papel da mulher na política brasileira, 
desde quando se desencadeou mudanças na vida político-social desse gênero 
até a conquista dos muitos direitos, assim também como mostrar a situação de 
hoje da mulher na política brasileira, e como está sendo exercido seu papel de 
cidadã perante a política desse país. 
 
8
 Informações aqui presentes foram obtidas a partir do site: 
http://www.grupoescolar.com/pesquisa/origem-da-politica.html. Acesso em 22/06/2017. 
P á g i n a | 21 
 
Em se tratando da mulher na política do estado brasileiro, a Constituição 
Federal de 1988 estabelece como fundamentos do Estado Democrático de 
Direito a igualde entre os gêneros (inclusive política), a dignidade da pessoa 
humana e a cidadania, entre outros. Os direitos inerentes à cidadania são 
inclusive protegidos como cláusulas pétreas, no artigo 60, incisos II e IV, que 
estabelece que ―não será objeto deliberação a proposta de emenda tendente a 
abolir: o voto direto, secreto, universal e periódico; e os direitos e garantias 
individuais, os quais são privilégios cidadãos conquistados‖ (GROISSMAN e 
NUNES, 2014). 
Ao dissertar a respeito do conceito de cidadania, Marshall (1967) instrui 
que sua análise baseia-se mais pela história do que pela lógica, e, por esta 
razão, divide o conceito de cidadania, o qual as mulheres ainda hoje deixam de 
participar, em Três partes ou elementos, que chamou de civil9, político10 e 
social11. 
Sendo assim, segundo Avelar (2001), historicamente, a luta das 
mulheres por sua cidadania começou a desencadear, de fato, no início da 
década de 20, mais especificamente em 1922, com a Semana de Arte Moderna 
de São Paulo. Esse foi o primeiro passo para que as mulheres brasileiras 
começassem uma mudança político-cultural considerável, favorável a elas e a 
sua cidadania. Mas, primeiramente, as primeiras beneficiadas dessas 
mudanças foram principalmente àquelas que possuíam um maior recurso 
financeiro e grau de instrução alto, essas puderam usufruir de seus direitos de 
cidadã, com autonomia e independência. Sendo assim, consideremos o que diz 
Avelar (2001): 
No geral, os movimentos urbanos dos anos 1920 e 1930, em 
favor dos direitos políticos e de cidadã, deixaram claro que as 
conquistas femininas não implicaram alterar a estrutura da 
sociedade e da família. Frutos da ação de mulheres de classe 
alta e instruídas, os movimentos reiteravam a política 
conservadora da época, buscavam direitos e mais participação 
das mulheres (AVELAR, 2001, p. 18-19). 
 
 
9
 Composto dos direitos necessários à liberdade individual – liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, 
pensamento e fé, o direito à propriedade e o direito à justiça. 
10
 Por este, deve-se entender o direito de participar no exercício do poder político. 
11
 Refere-se a tudo o que vai desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito 
de participar, por completo, na herança social. 
P á g i n a | 22 
 
Isto posto, no que tange a esse assunto, Korber (2007) relata que os 
direitos políticos e o direito ao voto, apesar de tudo, foram conquistas das 
mulheres brasileiras reconhecido através do decreto do presidente Getúlio 
Vargas, em 24 de Fevereiro de 1932. Entretanto, o reconhecimento dessa 
conquista ficou restrito à legislação, uma que somente em 1946 as mulheres 
puderam efetivamente votar, por ocasião do término da ditadura de Getúlio 
Vargas. 
 Dessa forma, considere-se que, embora o termo cidadania envolva os 
sujeitos da sociedade como um todo, e apesar das conquistas femininas no 
decorrer dos anos de luta, partimos do pressuposto de que ao longo da história 
brasileira houve uma exclusão da figura feminina da participação Política. 
A esse respeito, considere-se que, na antiguidade, as comunidades 
eram matriarcais e homens e mulheres viviam em igualdade. A mulher era 
endeusada por gerar a vida. Posteriormente, com a fixação do homem na terra 
pela agricultura, criou-se o conceito de propriedade e a mulher passou a ser 
considerada como propriedade do homem. As religiões monoteístas criaram a 
concepção de um deus masculino, sendo que o homem, por ser sua imagem e 
semelhança, seria superior à mulher. Esta hierarquia, com base divina, resultou 
na criação de tabus que afastaram a divindade feminina pela fecundidade. Com 
estes argumentos, se naturalizou uma dominação que foi construída 
historicamente. Esta estrutura patriarcal permeou todas as relações sociais, de 
forma tão contundente que foi inclusive internalizada por algumas mulheres 
que reproduzem os argumentos dominadores. (MILES, 1989 apud 
GROSSMANN e NUNES, 2014). 
Groissmann e Nunes (2014) relatam que na Revolução Industrial inseriu-
se as mulheres no mercado de trabalho formal, com todasas mazelas que 
perduram até hoje como a dupla ou tripla jornada de trabalho, a remuneração 
inferior aos homens que desempenham as mesmas atividades e outras, mas 
começou a despertar nas trabalhadoras um novo olhar para além dos muros do 
lar. Esta inserção no mercado formal de trabalho possibilitou as mulheres 
condições para compreender o sistema opressor em que viviam e a questioná-
lo em busca de conquistar direitos, inclusive políticos. 
P á g i n a | 23 
 
Ainda assim, a distância que separa homem e mulher, politicamente 
falando, é a mesma que constitui a dinâmica do poder. Desse modo, não pode 
se conceber no terceiro milênio um estado democrático de direito que tenha 
restrições em relação à cidadania e aos direitos políticos de qualquer pessoa, 
como ainda há para mulheres. Sendo assim, não há como construir uma nova 
sociedade sem que mais da metade desta comunidade não participe deste 
processo. (GROSSMANN e NUNES, 2014). 
Todavia, embora esse processo de exclusão tenha ocorrido, havemos 
de considerar que no decorrer da história as mulheres lutaram e conseguiram 
espaço na política brasileira. 
Sobre essa situação entendemos que, no Brasil, a história mostra que a 
luta das mulheres para a conquista de muitos direitos, incluindo a participação 
política, se deu muito por meio do movimento feminista, que ao longo da 
história registra momentos importantes na luta das mulheres em busca da 
emancipação. Organizadas, as mulheres conquistaram direitos essenciais, 
como o acesso à educação, a liberdade para escolher a própria profissão, o 
direito de votar e de se candidatar. (Mais Mulheres na Política. 2ª edição. 
SENADO FEDERAL, 2015, p. 16). 
Para tanto, depois de todas essas lutas, somente em 1932 (e 
consolidado na constituição de 1934), há pouco mais de 80 anos, as mulheres 
brasileiras tiveram direito ao voto, com a reforma do Código Eleitoral. Mas este 
voto era restrito, somente mulheres casadas, essas com a autorização do 
marido, viúvas e solteiras que tivessem renda própria podiam votar. Apenas em 
1946 as mulheres tiveram acesso pleno ao voto, sem distinções com os 
homens. (TRE, 2014). 
Entretanto, em conformidade com dados do Senado Federal (2015), 
antes mesmo da conquista desse direito, um estado passou à frente na 
discussão sobre o voto feminino. Em 1927, o Rio Grande do Norte antecipou 
de forma pioneira o direito feminino ao voto. Lá foi registrada a primeira 
eleitora, Celina Guimarães Viana, que requereu o alistamento baseada no texto 
constitucional do estado que mencionava o direito ao voto, ―sem distinção de 
sexo‖. Em seguida, em 1929, o estado teve a primeira prefeita eleita da 
América do Sul, Alzira Soriano, na cidade de Lajes. O fato repercutiu no Poder 
P á g i n a | 24 
 
Legislativo federal, que chegou a discutir a validade da lei e da votação, mas 
não houve conservadorismo que resistisse à vontade e à grande mobilização 
das mulheres pela participação na vida política do país. E, assim, a lei estadual 
e a votação da prefeita obtiveram o respaldo do Congresso Nacional. 
A partir desses fatos, foi que outras eleitoras foram requerendo 
alistamento nos mais diversos estados brasileiros, conquistando o direito na 
prática. Diante da realidade, não restou ao poder público outra alternativa se 
não reconhecer o direito ao voto pelas mulheres, o que veio a ocorrer, de fato, 
em 1934. Em homenagem à data, a ex-presidente Dilma Roussef incluiu, em 
2015, no calendário oficial brasileiro, o Dia da Conquista do Voto Feminino no 
Brasil, comemorado a cada 24 de fevereiro. (Mais Mulheres na Política. 2ª 
edição. SENADO FEDERAL, 2015). 
Em relação a este fato, para Grossmann e Nunes (2014), é emblemático 
que a concessão do direito ao voto tenha ocorrido somente após a concessão 
de outros direitos. Os movimentos de mulheres forçaram a alterações em 
algumas estruturas, como as familiares e de propriedade, mas o direito ao voto 
foi o último a ser conquistado porque permitiria a participação mais ativa das 
mulheres na vida política e nas estruturas de poder. O direito básico de votar e 
ser votado, naquele momento, representaria a inserção no espaço público e na 
existência de vozes que dariam vazão aos anseios e pleitos das mulheres. 
Desse modo, deixar o ambiente doméstico e ingressar na esfera pública por 
excelência do poder político representava uma guinada fundamental para a 
mudança das regras da sociedade patriarcal, por isto da extrema resistência 
para esta concessão. 
Hoje, segundo o Senado Federal (2015), à mulher não cabe mais 
somente o papel de esposa, mãe e dona de casa, como coube durante um 
longo período de nossa história. Ampliou-se significativamente seu 
protagonismo na sociedade, entretanto a discriminação ainda perdura, o que 
faz com que elas sigam lutando pelos seus direitos e, sem dúvida, a grande 
batalha ainda está relacionada à ocupação de espaços de poder público. Em 
se tratando desse poderio, o espaço político é um domínio ainda ocupado 
hegemonicamente por homens, campo no qual não há representatividade 
feminina de fato, dada a exiguidade de posições efetivamente ocupadas por 
P á g i n a | 25 
 
mulheres. Em outras palavras, o poder sobre as decisões públicas, que deveria 
ser neutro em relação a gênero, é marcadamente masculino, o que resulta em 
pouca sensibilidade no mundo político diante de assuntos importantes para a 
qualidade de vida das mulheres. 
Dessa forma, a partir de todos esses fatos, as primeiras mulheres foram 
ganhando espaço no poder público e no cenário político brasileiro. Logo 
abaixo, listam-se as pioneiras dessas conquistas e seus alcances dentro do 
nosso país: 
NOME CARGO-CONQUISTA ANO 
Celina Guimarães Viana 1ª Eleitora do país – Mossoró-RN. 1927 
Joana Cacilda Bessa 1ª Vereadora eleita do país – Pau 
dos Ferros-RN. 
1928 
 Luísa Alzira Teixeira 
Soriano 
1ª Prefeita eleita do país – Lajes-
RN. 
1929 
Carlota Pereira de Queirós 1ª Deputada Federal eleita – São 
Paulo. 
1934 
Maria do Céu Fernandes de 
Araújo 
1ª Deputada Estadual eleita – Rio 
Grande do Norte. 
1934 
Eunice Mafalda Berger 
Michiles 
1ª Senadora Federal eleita – 
Amazonas. 
1979 
Iolanda Ferreira Lima 
Fleming 
1ª Governadora eleita do país 
(voto indireto) – Acre. 
1986 
Roseana Macieira Ferreira 
Araújo da Costa Sarney 
Murad 
1ª Governadora eleita do país 
(voto popular) – Maranhão. 
1994 
Dilma Vana Rousseff 1ª Mulher Presidente do Brasil. 2011 
Fonte: Mais Mulheres na Política. 2ª edição. SENADO FEDERAL, 2015. 
Entretanto, em relação ao passado de lutas, hoje, como podemos 
observar, as mulheres estão efetivamente mais participativas nas decisões 
P á g i n a | 26 
 
políticas do país, apesar dos inúmeros tabus ainda existentes e dessa 
participação ainda ser insatisfatória em relação ao gênero masculino. 
Contudo, em conformidade com os estudos do Senado Federal (2015), 
não se pode deixar de considerar que, embora os tabus e participação ainda 
não satisfatória, a participação política feminina no Brasil vem tendo um certo 
percentual de crescimento ao longo dos anos, destacando-se que a conquista 
do direito de votar e ser votada foi apenas o início de uma luta pela ampliação 
de espaços para as mulheres. No entanto, em qualquer aspecto avaliado, a 
conclusão é sempre a mesma: houve ganhos, mas em ritmo muito inferior ao 
desejado. As candidaturas de mulheres para cargos eletivos crescem, porém, 
em ritmo lento. Registra-se que muitas candidaturas femininas prestam-se 
somente para o preenchimento formal das vagas. 
Nos gráficos 1, 2, 3 e 4 a seguir, mostra-se a evolução das candidaturas 
de mulheresnos últimos anos para os cargos de deputada estadual, deputada 
federal, senadora e governadora, respectivamente: 
Gráfico 1: Evolução de Candidatura a Deputada Estadual, 1998-2014. 
 
Fonte: TSE/Data Senado (2014). 
Gráfico 2: Evolução de Candidatura a Deputada Federal, 1998-2014. 
P á g i n a | 27 
 
 
Fonte: TSE/Data Senado (2014). 
Gráfico 3: Evolução de Candidatura a Senadora, 1998-2014. 
 
Fonte: TSE/Data Senado (2014). 
Gráfico 4: Evolução de Candidatura a Governadora, 1998-2014. 
P á g i n a | 28 
 
 Fonte: TSE/Data Senado (2014). 
Dessa forma, com esses dados de candidaturas apresentados e 
avaliando-se o resultado das eleições nos últimos Trinta (30) anos, logo a 
seguir, constata-se um lentíssimo crescimento da participação das mulheres no 
Legislativo brasileiro. Na tabela 1, observa-se a progressão no Senado Federal 
e na Câmara dos Deputados: 
Tabela 1: Quadro evolutivo de mulheres eleitas, para o congresso, nas últimas 
décadas no Brasil. 
 
 
Fonte:http://www2.camara.leg.br/documentos-e-
pesquisa/fiquePorDentro/temas/mulheres_no_poder/copy_of_documento-de-referencia-da-
consultoria-legislativa-1 (consulta em 2 de janeiro de 2014) apud Mais Mulheres na Política, 
Senado Federal, 2015, p. 21. 
P á g i n a | 29 
 
 
Essa realidade, exposta por meio de estudos do Senado Federal (2015), 
está em completa dissonância com o papel e responsabilidades que as 
mulheres assumiram na sociedade. De acordo com os números do IBGE, as 
mulheres totalizam 51,3% da população, e formam, também, a maior parte do 
eleitorado: 52%, conforme levantamento feito, em 2014, pelo Tribunal Superior 
Eleitoral. Em números absolutos, isso significa que, das 142,8 milhões de 
pessoas habilitadas a votar no Brasil, até então, 74,4 milhões são mulheres. 
Além disso, dados da Pesquisa Nacional por Domicílio de 2012 mostram que 
elas estudam mais, são maioria nas universidades brasileiras e ocupam 41,9% 
dos postos de trabalho. Além disso, são as principais responsáveis pela 
manutenção financeira de mais de 38% das famílias brasileiras. (Mais Mulheres 
na Política. 2ª edição. SENADO FEDERAL, 2015, p. 21). 
Entretanto, apesar desses números, a presença percentual feminina no 
parlamento brasileiro, como podemos deduzir, ainda é vergonhosa. Comparado 
com seus vizinhos latino-americanos, por exemplo, o Brasil apresenta a 
penúltima pior situação, estando na 29ª posição, à frente apenas do Haiti. E 
está na 158ª posição entre os 188 países pesquisados em dezembro de 2014 
pela União Interparlamentar (IPU, na sigla em inglês). Conforme mostra a 
tabela 2, a seguir: 
Tabela 2: A participação feminina nos Parlamentos unicamerais ou bicamerais 
no Mundo. 
P á g i n a | 30 
 
Fonte: Woman in National Parliament, de fevereiro de 2015 apud Mais Mulheres na Política, 
Senado Federal, 2015, p. 22. 
Em comparação ao Brasil, a alta participação de mulheres na política 
nesses países que se encontram no topo dessa tabela, se dá por conta de leis 
específicas, que estabelecem uma porcentagem igualitária em relação à 
participação do gênero masculino nos pleitos eleitorais. 
Em conformidade com esse estudo do Senado Federal (2015), para 
termos uma ideia da baixa participação direta de mulheres nos parlamentos 
brasileiros, basta considerarmos que, sendo esse gênero a maioria do 
eleitorado em nosso país, hoje, até então, somente 10% do total de 
parlamentares da Câmara é do gênero feminino. No Senado, somente 16% das 
cadeiras são ocupadas por mulheres. Além disso, Onze partidos, dentre os 28 
que elegeram parlamentares para a Câmara dos Deputados, não contam com 
nenhuma mulher entre seus representantes. E Dezesseis estados brasileiros 
não contam com representação de nenhuma mulher no Senado Federal. 
P á g i n a | 31 
 
Por isso, a Reforma Política inclusiva, uma reforma que leva em conta 
políticas afirmativas e regras mais eficientes, que garanta condições efetivas de 
sucesso para as candidaturas femininas, que propicia maior presença no 
Parlamento, foi apresentada como proposta de emenda à Constituição 
instituindo a reserva de vagas destinadas às mulheres entre as cadeiras da 
própria Casa Legislativa. A proposta é de que, na próxima eleição (2018), 30% 
das vagas em disputa no Legislativo, dos Três níveis federativos, sejam 
destinadas às mulheres. Sabe-se que há um longo caminho a trilhar e, por isso, 
foi proposto que a reserva de vagas cresça de modo gradual, começando com 
30% e avançando mais Cinco pontos percentuais a cada eleição, até que 
chegue aos desejados 50%, que é o objetivo a ser alcançado, ou seja, a plena 
equidade. (Mais Mulheres na Política. 2ª edição. SENADO FEDERAL, 2015, p. 
09). 
Além disso, consoante o Senado Federal (2015), com essa proposta 
objetiva-se, também, que os recursos do Fundo Partidário incentivem os 
partidos a buscar uma maior bancada feminina. Dessa forma, também foi 
apresentado que, para financiar as campanhas das mulheres, os partidos 
destinem ao menos 30% dos recursos do Fundo Partidário. 
Isso tudo demonstra que essa luta é pelo aperfeiçoamento da 
democracia brasileira, pelo fortalecimento e equivalência da política neste país, 
no sentido de tornar o estado brasileiro mais representativo em se tratando da 
composição social de nosso povo. Isto posto, abaixo apresentamos o Ranking 
dos Estados brasileiros da participação política das mulheres para todos os 
cargos eletivos (Prefeitas, vereadoras, deputadas estaduais, deputadas 
federais, governadoras e senadoras.). 
 
P á g i n a | 32 
 
 Fonte: Mais Mulheres na Política. 2ª edição. SENADO FEDERAL, 2015. 
No ranking ilustrativo do Senado Federal (2015), com dados reunidos a 
partir de informações do Tribunal Superior Eleitoral e que se referem à situação 
verificada na apuração dos resultados eleitorais em 2014 e 2016, pode-se 
constatar que, com exceção de Rio Grande do Norte e Amapá, nenhum outro 
estado alcança a marca de 20% da participação política das mulheres para 
todos os cargos eletivos. E em todos os estados brasileiros as mulheres 
compõem mais de 50% do eleitorado. Trata-se de uma situação que precisa 
ser revertida urgentemente, em favor do próprio sistema representativo. 
Isto posto, estabelecida essa reflexão sobre a participação da mulher no 
cenário político brasileiro, há necessidade de se discutir a questão da relação 
gênero e política, a fim de se poder analisar a atitude de mocajubenses com 
relação á participação da mulher na política do município. 
 
P á g i n a | 33 
 
1.3 Gênero e política 
 
Para alguns teóricos da área política, o conceito de gênero refere-se aos 
traços culturais femininos que são construídos socialmente relacionados à base 
biológica. A diferença, portanto, é formada como categoria central de análise. 
As diferenças entre homens e mulheres são destacadas pela polaridade 
masculino e feminino, produção e reprodução, público e privado. O conceito de 
gênero quando enfatiza as relações sociais entre os sexos possibilita a 
compreensão desigual entre homens e mulheres, implicando como 
componente central à desigualdade de poder. (FARAH, 2004). 
Segundo Instituto Brasileiro de Administração Municipal, IBAM (2015), 
gênero, antes de tudo, não se refere exclusivamente às mulheres: trata-se de 
uma categoria emprestada da gramática e se refere ao masculino e ao 
feminino. Na realidade, refere-se à definição dos papéis sociais e sexuais 
desempenhados por mulheres e homens — e entre eles — em cada 
sociedade. É importante que fique claro que gênero é um conceito que se 
refere aos papéis atribuídos social e culturalmente aos sexos. As relações 
sociais são, antesde tudo, relações de poder — tratam-se de relações de 
disputa, de dominação e de opressão — estabelecidas tanto entre as classes 
sociais quanto entre mulheres e homens, brancos e não brancos, ou seja, entre 
quaisquer pessoas. 
Em 2015, o primeiro-ministro canadense, virou notícia por ter dividido 
igualmente os cargos ministeriais entre homens e mulheres. Quando 
questionado sobre o porquê dessa decisão, ele respondeu: Porque estamos 
2015. No Brasil, aparentemente, em se tratando da igualdade de gêneros na 
política-poder, ainda nem chegamos ao século XXI. Um exemplo de retrocesso 
nos direitos das mulheres foi a alteração do status da Secretaria Nacional de 
Políticas para as Mulheres, que deixou de ser um ministério e, agora, encontra-
se agora subordinada ao Ministério da Justiça (SANCHEZ, 2016). 
Em se tratando de Gênero e Política, segundo o livro Mais Mulheres na 
política, Senado Federal (2015), a equidade de gênero na política brasileira é 
questão vital posta na sociedade e debatida dentro dos poderes do governo, 
onde a representatividade das mulheres é ainda menor que o devido. As 
P á g i n a | 34 
 
barreiras e as lutas ainda persistem para se obter o objetivo que é a conquista 
da equidade de gênero na vida político-partidária brasileira. As mulheres, 
maioria na população e no eleitorado, ainda constituem uma escandalosa 
minoria nos quadros representativos do País. 
No entanto, o ritmo dos avanços vem sendo lento demais, não chegando 
a ultrapassar as barreiras mais fortes enfrentadas pela maior parte desse 
eleitorado em sua busca por inserção na política e nos poderes do governo; 
como demonstra a tabela a seguir, com o comparativo do número de filiados 
dos dois gêneros nos últimos anos. 
Tabela 3: Comparativo de filiados (2009–2015). 
 Fonte: DATASENADO/TSE, atualizada em abril de 2015. 
Como podemos observar, dos 15.321.181 de filiados do país, o número 
total de filiados do gênero feminino, com 44,32%, comparado ao masculino, 
que é 55,68%, ainda é muito inferior, por serem as mulheres a maioria do 
eleitorado brasileiro. Entretanto, o número de novos filiados mulheres, nesses 
últimos anos, vem crescendo em comparação com homens, tendo um 
acréscimo de 2,42%, contra 1,11% do gênero masculino. 
Contudo, um dos principais problemas normativos da representação 
política no país é a ameaça de desconexão entre o estado/política e os muitos 
que ele ou ela representa. Esse afastamento faz com que o eleitorado perca a 
P á g i n a | 35 
 
percepção de influência da participação em políticas públicas e de poder, 
voltadas aos grupos que compõem o mesmo, assim, podendo gerar o 
desafeiçoamento e a abstenção na participação política e, desse modo, nas 
decisões que o estado democrático nos proporciona (LIMA e SCHULZ, 2014). 
Para tanto, em relação a esse assunto, que é a abstenção, vejamos o 
que diz os estudos do Dicionário de política da UNB (1998): 
Para que o abstencionismo não cresça, é preciso que os novos 
eleitores tenham interesse pela atividade política, possuam boa 
informação política e se mantenham "eficazes", ou seja, 
capazes de influir no resultado das competições eleitorais. 
Como os indivíduos admitidos à participação eleitoral estão 
muitas vezes escassamente interessados na política, estão 
pouco informados e são "ineficazes" (homens antes excluídos 
por causa do seu analfabetismo, mulheres sem experiência 
política anterior, minorias subalternas — uma exceção, os 
jovens da década de 70, já "automobilizados", mas talvez em 
fase de refluxo, e com alto nível de instrução), a taxa de 
Abstencionismo crescerá (Dicionário de Política da UNB, p.14, 
1998). 
 
Os dados são concordes em indicar um Abstencionismo seletivo do 
eleitor que vota, em percentuais mais elevados, nas eleições consideradas 
mais importantes, mais nas eleições políticas, portanto, que nas administrativas 
(nos Estados Unidos, é maior a votação nas eleições presidenciais que nas do 
Congresso; na França, é maior no segundo turno, ou seja, no da decisão, que 
no primeiro). É o caso da Itália; mas aqui é preciso acrescentar uma 
participação em declínio, isto é, um crescente Abstencionismo nas consultas 
por referendum (de 11,9%, em 1974, a 18,8%, em 1978, e 20,4%, em 1981, 
com aumento também de cédulas brancas e nulas) (Dicionário de Política da 
UNB, 1998). 
Diante de tudo isso que podemos observar, a discussão sobre gênero e 
política se torna ainda mais relevante. As mulheres brasileiras apesar de 
comporem 51% da população e 52% do eleitorado, como já citado 
anteriormente, ocupam apenas 10% das cadeiras na Câmara dos Deputados e 
13% no Senado. A sub-representação das mulheres na política legislativa está 
diretamente relacionada às diversas formas de dominação masculina. Uma vez 
que elas não são formuladoras das políticas públicas e das leis que terão 
impacto direto em suas realidades concretas, acabam se tornando apenas 
P á g i n a | 36 
 
objetos. Isso quer dizer que por estarem ausentes dos espaços tradicionais de 
deliberação política elas não podem falar por si próprias. Quando apenas 
homens se reúnem para conversar sobre soluções para a cultura do estupro, 
por exemplo, percebemos o abismo existente entre as mulheres e a política 
institucional (SANCHEZ, 2016). 
Isto posto, segundo estudos do IBAM, para identificar e entender essas 
desigualdades entre mulheres e homens como parte estruturante das 
desigualdades políticas, é preciso utilizar uma categoria importante: a de 
gênero. Essa categoria permite compreender por que as mulheres vivenciam 
de forma tão diferenciada — e, muitas vezes, mais difícil — determinadas 
questões, se comparadas aos homens. Um aspecto importante é conhecer 
quais são as políticas públicas nacionais, estaduais e programas que possam 
ser aprimorados e mesmo acionados para enfrentar os problemas de gênero 
existentes na política brasileira, mas, principalmente, a partir dos recursos 
existentes, como acionar recursos para enfrentar desigualdades de gênero na 
política do país (INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL, 
IBAM, 2015). 
Pois assim, utilizando-se de ideias de Sanchez (2016), com o atual 
cenário político brasileiro, as chances de caminharmos no sentido de 
alcançarmos uma maior igualdade de gênero encontram-se de forma mais 
evidente fora da política tradicional do que dentro dela. 
Dessa forma, a partir de ações como a citada anteriormente, é preciso 
que gestores/as reconheçam a desigualdade de gênero presente na sociedade 
brasileira, percebendo como ela afeta política e socialmente as mulheres. Essa 
situação de vulnerabilidade pode e deve ser transformada a partir de ações 
conjugadas entre a Sociedade, poder Executivo, Legislativo e o Judiciário 
(SANCHEZ, 2016). 
P á g i n a | 37 
 
CAPÍTULO II 
MOCAJUBA E A ANÁLISE DO DISCURSO: QUESTÕES TEÓRICO-
METODOLÓGICAS 
 
Introdução 
 
O presente capítulo, o segundo deste trabalho, contextualiza questões 
sobre a Análise do Discurso, abordando questões teóricas, mostrando o que é 
e como se proceder diante da AD, assim também como nele se demonstra as 
questões metodológicas da Análise do Discurso. Desse modo, também se 
retrata neste capítulo questões sobre a cidade de Mocajuba, seu histórico, sua 
população, seu atual universo político de homens e mulheres, e seu histórico 
político em relação ao gênero feminino. 
 
1.1 Análise do discurso: considerações teóricas 
 
Primeiramente, para definirmos análise, em conformidade com Ferreira 
(2010), esta palavra pode indicar quatro significados: I) ação ou efeito de 
analisar; II) estudo pormenorizado de cada parte de um todo, para conhecer 
melhor sua natureza, suasfunções, relações, causas; III) crítica de uma obra e 
IV) decomposição de um todo nos seus elementos ou parte componentes. 
Esses conceitos acerca de análise serão úteis no estudo deste trabalho sobre 
análise do discurso. 
Para a área linguística, a análise, palavra de origem grega que significa 
dissolução, pode ser considerada uma prática e um campo da linguística e da 
comunicação especializado em analisar construções ideológicas presentes em 
um texto (AD). Dessa forma, pode-se dizer também que é o processo de 
decomposição de uma substância ou tópico complexo em seus diversos 
elementos constituintes, a fim de se obter uma melhor compreensão a seu 
respeito12. 
 
12
 Informações aqui presentes foram obtidas a partir do site: 
www.mec.gov.mz/POEMA/PO%20S5/51_a_anlise_das_tendncias.html. Acessado em: 05/07/2017. 
P á g i n a | 38 
 
Em relação à palavra discurso, segundo Ferreira (2010), têm-se cinco 
definições para essa palavra: I) exposição oral de um texto escrito que trata um 
ou mais assuntos e que é normalmente preparado e organizado com 
antecedência para ser proferido em público; II) exposição ou dissertação 
ordenada sobre um dado assunto; III) realização concreta e irrepetível da 
linguagem verbal, escrita ou oral, e em qualquer registro; IV) conjunto de 
palavras vãs e sem sentido e V) oração ou fala oratória. Algumas dessas 
definições serão usadas no decorrer deste capítulo, a respeito do que seja 
discurso. 
Segundo Orlandi (1998), a noção de discurso, em sua definição, 
distancia-se do modo como o esquema elementar da comunicação dispõe seus 
elementos, definindo o que é mensagem. Como devemos saber, esse 
esquema elementar se constitui de: emissor, receptor, código, referente e 
mensagem. Temos então que: o emissor transmite uma mensagem 
(informação) ao receptor, mensagem essa formulada em um código referindo a 
algum elemento da realidade – o referente. 
Assim, seguindo as ideias do parágrafo anterior, para a análise do 
discurso, não se trata apenas de transmissão de informação, nem há essa 
linearidade na disposição dos elementos da comunicação, como se a 
mensagem resultasse de um processo assim serializado: alguém fala, refere 
alguma coisa, baseando-se em um código, e o receptor capta a mensagem, 
decodificando-a. Na realidade, a língua não é só um código entre outros, não 
há essa separação entre emissor e receptor, nem tampouco eles atuam numa 
sequência em que primeiro um fala e depois o outro decodifica etc. Eles 
realizam ao mesmo tempo o processo de significação e não estão separados 
de forma estanque. Desse modo, diremos que não se trata de transmissão de 
informação apenas, pois, no funcionamento da linguagem, que põe em relação 
sujeitos e sentidos afetados pela língua e pela história, temos um complexo 
processo de constituição desses sujeitos e produções de sentidos, não 
meramente transmissão de informação (ORLANDI, 1998). 
O conceito de Discurso fundamenta-se, principalmente, como um 
conjunto de enunciados regulados numa mesma formação discursiva. Para 
Foucault, ―é um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas 
P á g i n a | 39 
 
no tempo e no espaço que definiram em uma época dada, e para uma área 
social, econômica, geográfica ou linguística dada, as condições da função 
enunciativa‖ (FOUCAULT, 1973, p.97). 
Isto posto, para Maingueneau (2004), no uso comum, chamamos de 
―discurso‖ os enunciados solenes, ou, pejorativamente, as falas 
inconsequentes. O texto pode igualmente designar qualquer uso restrito da 
língua: ―o discurso islâmico‖, ―o discurso político‖, ―o discurso administrativo‖, ―o 
discurso polêmico‖ ―o discurso dos jovens‖ etc. nesse emprego, ―discurso‖ é 
constantemente ambíguo, pois pode designar tanto o sistema que permite 
produzir um conjunto de textos, quanto o próprio conjunto de textos produzidos: 
―o discurso comunista‖ é tanto o conjunto de textos produzidos por comunistas, 
quanto o sistema que permite produzir esses textos e outros ainda, igualmente 
qualificados como textos comunistas. 
Para Santos e Macedo (s/d) o discurso é, pois, um lugar de 
investimentos sociais, históricos, ideológicos, psíquicos, por meio de sujeitos 
interagindo em situações concretas. E, segundo Fairclough (1992) apud Santos 
e Macedo (s/d), o discurso é uma extensão da língua falada em contraste com 
textos escritos como, por exemplo, artigos de jornais, revistas, anúncios, entre 
outros. 
Assim, ainda em conformidade com as ideias de Santos e Macedo (s/d), 
em outras palavras, ao mesmo tempo em que a linguagem é uma entidade 
formal, constituindo um sistema, e também atravessada por entradas subjetivas 
e sociais, o discurso é um objeto, ao mesmo tempo, linguístico e histórico; 
entendê-lo requer a análise desses dois elementos simultaneamente. 
Desse modo, Maingueneau, analisando as ideias bakthinianas, diz que 
para interpretar qualquer enunciado, é necessário relacioná-lo a muitos outros, 
pois ―cada gênero de discurso tem sua maneira de tratar a multiplicidade de 
relações interdiscursivas”. Por exemplo, um jornal não cita da mesma maneira, 
nem cita as mesmas fontes que uma propaganda de sabão em pó. Isso porque 
o discurso só adquire sentido se estiver inserido em um universo de outros 
discursos: quando classificamos um texto dentro de um determinado gênero 
estamos relacionando-o aos demais textos do mesmo gênero. Construindo-se, 
assim, um sistema de linguagem (MAINGUENEAU, 2000). 
P á g i n a | 40 
 
Assim, essas questões citadas anteriormente apontam para o fato de 
que, na constituição do sujeito do discurso, intervêm dois aspectos: primeiro, o 
sujeito é social, interpelado pela ideologia, mas se acredita livre, individual e, 
segundo, o sujeito é dotado de inconsciente, contudo acredita estar o tempo 
todo consciente. Afetado por esses aspectos e assim constituído, o sujeito 
produz ou reproduz o seu discurso (GUERRA, s/d). 
Logo, podemos dizer que o Discurso só é considerado Discurso 
enquanto remete a um ou mais de um sujeito, um eu, que se coloca como fonte 
de referências pessoais, espaciais e, ao mesmo tempo, indica que atitude está 
tomando em relação àquilo que diz e em relação ao seu co-enunciador. Ele 
indica, em particular, quem é o responsável pelo o que está dizendo 
(MAINGUENEAU, 2004). 
Foucault (1973) apud Guerra (s/d) relata que é na dispersão de textos, e 
não na unidade, que se constitui um discurso; a relação com as formações 
discursivas em suas diferenças é elemento fundamental que constitui o que 
estamos chamando de historicidade do texto. O sentido sempre pode ser outro 
e o sujeito, com suas intenções e objetivos, não tem o controle daquilo que 
está dizendo. Em relação ao discurso, a partir de tais premissas podemos 
chegar a duas ordens de conclusões: a) um sujeito não produz só um discurso; 
b) um discurso não é igual a um texto. 
Sendo assim, a partir dessas conclusões, a AD propõe a seguinte 
relação: remeter o texto ao discurso e esclarecer as relações deste com as 
Formações Discursivas, refletindo sobre as relações destas com a ideologia e a 
atividade verbal (FOUCAULT, 1973 apud GUERRA, s/d). 
Desse modo, a partir das afirmações de Maingueneau (2004), descreve-
se que conforme o discurso se refira à atividade verbal em geral ou a cada 
evento de fala, vemos cada vez mais frequente o uso desse termo no meio 
social e nas ciências da linguagem. A noção de ―discurso‖ é muito utilizada por 
ser o sintoma de uma modificação em nossa maneira de conceber a 
linguagem. Em grande parte, essa modificação resulta da influência das 
diversas correntes das ciências humanas reunidasfrequentemente sob a 
etiqueta da pragmática. 
P á g i n a | 41 
 
Assim, reunir o discurso sob o rótulo de práticas de linguagem, ciência 
humana – ou sob outro qualquer disponível – não o faz nem auto nem 
mutuamente explicável: o discurso ressoa como uma categoria muito ampla 
para prover uma explicação precisa para o funcionamento de ações, ainda que 
muitas das nossas ações possam ser admitidas como discursivamente 
resultantes (MARI et al, 2003). 
Em síntese, segundo Fernandes (2005), verifica-se que, para iniciar uma 
reflexão sobre o discurso, na perspectiva da Análise do Discurso, necessita-se 
buscar compreender conceitos como: Sentido: trata-se do efeito de sentido 
entre sujeitos em enunciação; nega-se a ideia de mensagem encerrada em si; 
contesta a imanência do significado; Enunciação: posição ideológica no ato de 
enunciar e que integra a enunciação, lugar sócio-histórico-ideológico de onde 
os sujeitos dizem e que marcam o momento e o ato de dizer; Ideologia: uma 
concepção de mundo do sujeito inscrito em determinado grupo social em uma 
circunstância histórica. Linguagem e ideologia são vinculadas, esta se 
materializa naquela. Ideologia é inerente ao signo em geral; Condições de 
produção: aspectos históricos, sociais e ideológicos que envolvem o discurso, 
ou que possibilitam ou determinam a produção do discurso; Sujeito 
discursivo: constituído na inter-relação social, o sujeito é polifônico e é 
constituído por uma heterogeneidade de discursos. 
Isto posto, esses conceitos estão inter-relacionados e se implicam na 
definição do que seja discurso, dentro do universo da Análise do Discurso 
(FERNADES, 2005). 
Portanto, segundo Maingueneau (2004), podemos dizer que o discurso é 
uma forma de ação sobre o outro (sujeito) e não apenas uma representação do 
mundo. Toda enunciação constitui atos que visam modificar uma situação 
linguística. Em outro nível, esses atos se integram em discursos de um gênero 
determinados, que visam produzir uma modificação nos destinatários. 
 
1.2 O que é análise do discurso 
 
Segundo Milanez e Santos (2009) a análise do discurso ―é um canteiro 
de diálogos e confrontos teóricos no qual pesquisadores podem falar de 
P á g i n a | 42 
 
lugares múltiplos sobre sujeitos discursivos‖. Parece-nos que essa inquietação 
é a movência para a busca de campos discursivos e a compreensão da 
existência histórica das pesquisas científicas, que coloca o sujeito no centro 
das atenções. Sabemos que esse sujeito é a elaboração, ao mesmo tempo, de 
uma força de controle e uma força criativa, mostrando que o homem não é livre 
para fazer o que quiser, que não pode livrar-se do outro para ser ele mesmo, 
mas que pode, simultaneamente, reinventar essa alteridade: uma fonte para 
acontecimentos que nunca se repetem. 
Agora, antes de começarmos de fato nossas discussões acerca da 
Análise do Discurso, importa que entendamos o seu status dentro dos estudos 
linguísticos. Para tanto, optamos por iniciar este estudo trazendo uma figura 
que permite visualizar o escopo da ciência linguística (WEEDWOOD, 2002). 
Figura 5: A Análise do Discurso em meio aos estudos linguísticos. 
 
Observando-se essa a figura, segundo Meurer e Dellagnelo (2008), se 
percebe que ela é composta por um núcleo, comumente referido como núcleo 
duro da ciência linguística, no qual estão dispostos os níveis de análise 
linguística, quais sejam: fonética, fonologia, sintaxe, morfologia, lexicologia e 
semântica; e por raios que determinam as disciplinas de estudos linguísticos, 
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dentre as quais, como mostra a figura, incluímos a Análise do Discurso, nosso 
principal objeto de estudos. 
Sendo assim, com base nessa relação da ciência linguística, a AD – 
muitas vezes considerada como simples concepções linguísticas – recusa as 
concepções de linguagem que a reduzem ora como expressão do pensamento, 
ora como instrumento de comunicação. A linguagem é entendida como ação, 
transformação, como um trabalho simbólico em ―que tomar a palavra é um ato 
social com todas as suas implicações, conflitos, reconhecimentos, relações de 
poder, constituição de identidade etc.” (ORLANDI, 1998). 
Para Maingueneau (1997), o lugar de uma disciplina desta natureza não 
estava previamente inscrito no campo do saber. A Análise do Discurso define 
um campo de problemas da linguagem sem remeter a uma disciplina conexa à 
linguística. É preferível interpreta-la, no interior de uma certa tradição, como o 
encontro de uma conjuntura intelectual do seu surgimento e de uma prática 
escolar. Assim sendo, a AD é interpelada no interior dessa conjuntura do seu 
surgimento, na década de 60, com a ―explicação de textos‖, que é a tal prática 
escolar, presente sob múltiplas formas em todo o aparelho de ensino. Ligado 
às teorias enunciativas, a AD ocupou uma boa parte do território liberado pela 
antiga filologia, porém com pressupostos teóricos e métodos totalmente 
distintos. Ela pode ser lida como uma reação sistemática àquela que procurava 
colocar em evidência. 
Já para Mussalim (s/d), falar em Análise do Discurso pode significar, em 
primeiro momento, algo vago e amplo, já que toda produção de linguagem 
pode ser considerada ―discurso‖. No entanto, a Análise do Discurso da qual 
estamos retratando neste trabalho trata-se do estudo de uma disciplina 
linguística de vertente francesa. 
Para Macedo e Santos (s/d), a Análise do Discurso, de origem francesa, 
que tem sua gênese na década de 60, com Michel Pêcheux, Jean Dubois e 
posteriormente, dando continuidade, com Dominique Maingueneau, surge em 
um contexto intelectual afetado por duas rupturas. De um lado, com o 
progresso da Linguística, era possível não mais considerar o sentido apenas 
como conteúdo. De outro, isso permitia a Análise do Discurso não visar o que o 
P á g i n a | 44 
 
texto quer dizer na realidade (posição tradicional da análise de conteúdo 
defronte a um texto), mas como um texto funciona. 
Sendo assim, é, pois, sob o horizonte comum de seus percursores – que 
partilham convicções sobre a luta de classes, a história e movimentos sociais – 
e de um momento de crescimento da Linguística – que se encontra em franco 
desenvolvimento e ocupa o lugar de ciência piloto – que nasce o projeto da 
Análise do Discurso (doravante AD). Assim, o projeto da AD se inscreve num 
objetivo político e interpretativo, e a Linguística oferece meios para abordar 
esses objetivos, por meio de conjunturas do estruturalismo (de vertente 
saussuriana) e de materialismos históricos como o marxismo e a psicanálise. 
Dessa forma, é nesse contexto que nasce o projeto da Análise do Discurso, 
com o estruturalismo e os materialismos históricos estabelecendo as bases 
para a gênese da AD (MUSSALIM, s/d). 
À vista disso, de acordo com Maingueneau (1997), se, já nos dias de 
hoje, a Análise do Discurso praticamente pode designar qualquer coisa (toda 
produção de linguagem pode ser considerada "discurso"), isto provém da 
própria organização do campo da linguística no decorrer dos anos de criação 
da AD. Este último, muito esquematicamente, opõe de forma constante um 
núcleo que alguns consideram "rígido" a uma periferia cujos contornos 
instáveis estão em contato com as disciplinas vizinhas (sociologia, psicologia, 
história, filosofia, etc.). A primeira região e dedicada ao estudo da "língua", no 
sentido saussuriano, a uma rede de propriedades formais, enquanto a segunda 
se refere à linguagem apenas à medida que esta faz sentido para sujeitos 
inscritos em estratégias de interlocução, em posições sociais ou em 
conjunturas históricas. O termo "discurso" e seu correlato "análise do discurso" 
remetem

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