Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hidrologia Ciência aplicada que estuda o ciclo da água na natureza Conheça quais são os processos que interferem na ocorrência e distribuição da água na atmosfera, na superfície terrestre e no subsolo. Introdução______________________________________ 3 Capítulo 1 Bacia Hidrográfica______________________________ 7 Capítulo 2 Precipitação e interceptação_____________________ 11 Capítulo 3 Evaporação, Transpiração e Evapotranspiração__ 22 Capítulo 4 Infiltração ______________________________________ 30 Capítulo 5 Águas Subterrâneas ____________________________ 35 Capítulo 6 Hidrograma ____________________________________ 39 Capítulo 7 Escoamento Superficial__________________________ 43 Capítulo 8 Fluviometria ____________________________________ 56 Capítulo 9 Modelos hidrológicos ___________________________ 61 Conteúdo Hidrologia 3 Introdução Este e-Book tem como objetivo ajudar o leitor a entender os fenômenos hidrológicos em uma bacia hidrográfica, decorrente da inter- relação entre precipitação, interceptação, evapotranspiração, infiltração, águas subterrâneas e escoamento superficial. Hidrologia é a ciência que trata da água, sua ocorrência, circulação e distribuição, suas propriedades físicas e químicas, e suas reações com o meio ambiente, incluindo suas relações com a vida (United States Federal Council of Science and Technology, Committee for Scientifc Hidrology, 1962). A hidrologia atua na quantificação dos volumes de água que, em diversas formas, encontram-se distribuídos pela superfície terrestre e que podem ser aproveitados pelo homem. Ocupa-se, também, da movimentação dessas massas de água que, num fluxo contínuo, deslocam-se de um lugar a outro facilitando seu uso, mas que, às vezes, podem causar grandes dificuldades e prejuízos à atividade humana. Por seu caráter abrangente, a Hidrologia utiliza como suporte outras ciências específicas, como a geologia, geografia, hidromecânica, estatística, computação, entre outras, além de física e matemática. Três grandes temas são tratados na Hidrologia: a medição, registro e publicação de informações básicas, como precipitação e vazão, a análise dessa informação para desenvolver e expandir as teorias fundamentais, e a aplicação dessas teorias e dados na solução de problemas reais. O que é Hidrologia? Hidrologia 4 Aplicações da hidrologia A água é um dos recursos naturais mais importantes para a vida humana. Este recurso é essencial, tanto para o suprimento de necessidades básicas, quanto para a realização de diversas atividades ligadas ao desenvolvimento humano. Muitas dessas atividades necessitam da hidrologia, por ser a ciência que trata da água e por estar voltada para os diferentes problemas que envolvem a utilização dos recursos hídricos, preservação do meio ambiente e ocupação da bacia hidrográfica. Algumas aplicações da hidrologia são: Saneamento - captação, represamento, abastecimento, diluição, manejo das águas pluviais, drenagem urbana; Planejamento e gerenciamento da bacia hidrográfica- planejamento e controle do uso dos recursos naturais; Geração de energia - a energia hidrelétrica constitui 65% de toda energia produzida no país. Depende da disponibilidade de água, da sua regularização por obras hidráulicas e o impacto das mesmas sobre o meio ambiente; Irrigação - a produção agrícola em algumas áreas depende essencialmente da disponibilidade de água. Transportes - drenagem de estradas, pontes, hidrovias, navegação; Recreação e preservação do meio ambiente; Produção e transporte de sedimentos; Preservação dos ecossistemas aquáticos. Em todas essas áreas de aplicação da hidrologia, é muito importante ter conhecimento sobre os principais elementos desta ciência, quais sejam: natureza, origem, estado, comportamento e as ofertas da água (SILVA, 2015). Os estudos hidrológicos visam à quantificação dos volumes de água. Portanto, para o dimensionamento de estruturas de drenagem, reservatórios, aproveitamento dos recursos hídricos, controle de inundações, irrigação e geração de energia hidráulica é necessário sempre a realização de estudos hidrológicos. Hidrologia 5 O que é Ciclo Hidrológico? O ciclo hidrológico é o fenômeno global de circulação fechada de água entre a superfície terrestre e a atmosfera, balanceado apenas em escala global e impulsionado fundamentalmente pela energia solar associada à gravidade e à rotação da terra (SILVEIRA, 1993). A água presente nos corpos d’água evapora pela ação dos raios solares. A transferência da água da superfície terrestre e dos oceanos para a atmosfera, passando do estado líquido ao estado gasoso, também ocorre pela transpiração das plantas, denominada evapotranspiração, e dos animais. Essa água retorna à superfície precipitando. Nos continentes, a água precipitada pode seguir diferentes caminhos: Infiltra no solo, podendo formar os aquíferos e alimentar rios e lagos; Congela, formando as camadas de gelo nas montanhas e geleiras; Evapora e evapotranspira, retornando novamente à atmosfera; Escoa sobre a superfície até alcançar os rios e oceanos; Condensa, dando origem às nuvens; Precipita, podendo ser carregada pelo vento e retornar à superfície em regiões distantes de onde evaporou. As principais parcelas do ciclo hidrológico são: a evaporação de superfícies líquidas; a precipitação; a evapotranspiração, que é a evaporação de água do solo e a transpiração dos seres vivos; a infiltração; e os escoamentos superficiais, subsuperficiais e subterrâneos. Hidrologia 6 Podemos analisar qualquer transformação dentro do ciclo hidrológico por meio da expressão: Etapas do ciclo hidrológico Hidrologia 𝑂 = 𝐸𝑡 + 𝑄𝑒𝑡 𝐼 = 𝑃𝑡 + 𝑄𝑎𝑡 Outra expressão, muito utilizada para análises futuras de variação de volume, é a seguinte: 𝑽𝒕+𝟏 = 𝑽𝟏 + 𝒅𝑸𝟏. 𝒅𝒕 + 𝒅𝑳𝟏. 𝑨 Onde: V = volume acumulado; dt = intervalo de tempo; dQ = balanço das vazões afluente e efluentes; dL = balanço das lâminas precipitada, evaporada, infiltrada e escoada na bacia hidrográfica; A = área da bacia hidrográfica. 𝑰 − 𝑶 = ∆𝑺 Onde: I “InFlow” – Entrada de água no volume de controle O “Outflow” – Saída de água no volume de controle ΔS – Variação da água no volume de controle Exemplo do uso da equação para a análise da demanda de água no Sistema Cantareira. Evolução do volume do sistema Cantareira em cenário pessimista para o ano de 2015. Fonte: http://goo.gl/aJwZUc 7 7 A delimitação de cada bacia hidrográfica é feita numa carta topográfica, seguindo as linhas das cristas das elevações circundantes da seção do curso d’água em estudo. Dessa forma, sob o ponto de vista topográfico, cada bacia é separada das restantes bacias vizinhas. Uma bacia hidrográfica, por sua vez, pode ser dividida em sub-bacias e cada uma das sub-bacias pode ser considerada uma bacia hidrográfica. Como delimitar uma bacia hidrográfica? Dentre as regiões de importância prática para a hidrologia, destacam-se as Bacias Hidrográficas (BH), devido à simplicidade que oferecem na aplicação do balanço de água, os quais podem ser desenvolvidos para avaliar as componentes do ciclo hidrológico para uma região hidrologicamente determinada. Uma bacia hidrográfica é limitada por divisores topográficos, que recolhe a precipitação, age como um reservatório de água e sedimentos, defluindo-os em uma seção fluvial única (exutório). http://goo.gl/IWNLxZ exutório Bacia Hidrográfica Bacias hidrográficas são porções da superfície terrestre que drenam águas superficiais e subsuperficiais, delimitadaspor divisores topográficos (ou divisores de águas). Capítulo 1 Hidrologia 8 As características físicas são importantes para o melhor conhecimento da bacia hidrográfica, possibilitando a comparação e transferência de dados de uma bacia monitorada para uma outra qualitativamente semelhante, onde faltam dados ou não é possível a instalação de postos hidrométricos (fluviométricos e pluviométricos). Área de Drenagem: Computada diretamente a partir de informações topográficas, é a superfície em projeção horizontal, delimitada pelo divisor de águas. Dado fundamental para o calculo das outras características físicas da bacia. É a área em que é captada a chuva, assim calculamos o volume de chuva que caiu sobre uma bacia multiplicando a altura de chuva pela área da bacia (Volume = Área x Altura). Forma da Bacia: Coeficiente de compacidade (Kc) é a relação entre o perímetro da bacia e a circunferência do círculo com área igual a da bacia Características Físicas de uma Bacia Hidrográfica 2 c Perimetro K r Onde: area r Este índice compara a bacia com um círculo da mesma área. Uma bacia compacta apresenta um índice de compacidade baixo (próximo de 1). Caso não existam fatores que interfiram, os menores valores de Kc indicam maior potencialidade de produção de picos de enchentes elevados. Fator de Forma (FF) é a relação entre a largura média da bacia (Lm) e o comprimento axial da bacia (L). O comprimento é medido seguindo o curso d’água mais longo da bacia e a largura média dividindo a área da bacia por esse comprimento. Lm FF L Area Lm L Esse fator dá alguma indicação sobre a tendência da bacia a produzir enchentes ou inundações, pois um fator de forma baixo (grande comprimento axial) reflete uma menor probabilidade de ocorrer uma chuva intensa que atinja toda a extensão da bacia, comparada com outra bacia da mesma área e menor comprimento axial (maior fator de forma). d - efeito da forma Q t Bacia radial Bacia alongada Radial Alongada Hidrologia Onde: 9 Sistema de Drenagem: O sistema de drenagem de uma bacia é constituído pelo rio principal e seus tributários; o estudo das ramificações e do desenvolvimento do sistema é importante, pois ele indica a maior ou menor velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. O padrão de drenagem de uma bacia depende da estrutura geológica do local, tipo de solo, topografia e clima. Esse padrão também influencia no comportamento hidrológico da bacia. Ordem dos cursos de Água: É uma classificação que reflete ao grau de ramificação dentro da bacia. d L D Area Quanto mais densa a rede de drenagem, mais rapidamente o volume precipitado escoará pela seção exutória de uma bacia hidrográfica. Características do relevo de uma Bacia: O relevo de uma bacia hidrográfica tem grande influência sobre os fatores meteorológicos e hidrológicos, pois a velocidade do escoamento superficial é determinada pela declividade do terreno, enquanto que a temperatura, a precipitação e a evaporação são funções da altitude da bacia. Comprimento do rio principal é aquele que drena a maior área no interior da bacia. O comprimento da drenagem principal é uma característica fundamental da bacia hidrográfica, porque está relacionado ao tempo de viagem da água ao longo de todo o sistema. Declividade da bacia (S): possui uma relação complexa com a infiltração, com o escoamento superficial, com a umidade do solo e a com contribuição do escoamento subterrâneo. Quanto maior a declividade, maior a variação nas vazões instantâneas (escoamento superficial mais acelerado). 𝑆 = ∆𝐼 𝑤𝑖 𝑎𝑖 𝑛𝐴 𝑛 𝑖=1 Onde: ΔI -diferença de altitude padrão entre 2 curvas de nível Wi - largura entre 2 curvas de nível, ao longo do rio ai – Área entre 2 curvas de nível n – Número de intervalos de curva de nível A – Área total da baciaDeclividade do curso d’água principal: Quanto maior a declividade dos cursos d’água, maior a velocidade de escoamento. Pode ser calculada de diferentes formas: S1 S2 S3 O valor de S2 é bem próximo de S3, que são bem diferentes de S1. Razão entre a desnível das cotas extremas e o comprimento horizontal (S1) Área sob o perfil = Área sob a Reta (S2) Princípio Cinemático (S3): o tempo de translação acumulado é igual ao tempo de translação com velocidade constante. Hidrologia Densidade de Drenagem: Densidade de drenagem (Dd) é a razão entre o comprimento total dos cursos d’água e a área de drenagem. 10 Uma das características mais importantes de uma bacia hidrográfica é o TEMPO DE CONCENTRAÇÃO (tc). O tempo de concentração de uma bacia hidrográfica é utilizado para estimar sua chuva crítica. Segundo o “Bureau of Reclamation of U.S.A ”, tempo de concentração (Tc) é o tempo necessário para que toda a área da bacia contribua para o escoamento superficial na seção de saída. Tempo de concentração O tempo de concentração (tc) é o tempo necessário para que a gota de chuva que caiu sobre a região mais distante do exutório leva para chegar até o exutório. Quando chove sobre uma bacia hidrográfica por um período maior que o tempo de concentração, toda a bacia contribui para o exutório, sendo alcançada a vazão máxima para essa chuva. Fatores que influenciam o tc: Forma da bacia Declividade média da bacia Comprimento e declividade do curso principal Tipo de cobertura vegetal Distância entre o ponto mais afastado da bacia e o exutório Condições de umidade do solo previamente ao início da chuva Equações para o cálculo do tc: Nome Equação Cinemática Califórnia Culverts Practice Dooge Kirpich George Ribeiro c L t v 0,385 3 57.c L t H 0,41 0,17 21,88.c A t S 0,77 0,385 3,989.c L t H 0,04 16. 1,05 0,2. . 100. c L t p S Onde: L - comprimento do rio principal da bacia (km) [m na Cinemática]; H - desnível entre o ponto mais elevado da bacia e o exutório (m) [km em Kirpich]. A - área de drenagem da bacia (km²); S - declividade média da bacia (m/m); ν - velocidade média do rio principal da bacia no estirão (m/s); P - percentagem da bacia com cobertura vegetal (entre 0 e 1). Hidrologia 11 Precipitação e interceptação As parcelas do ciclo hidrológico, referentes à precipitação e à interceptação representam o elo de ligação entre os fenômenos hidrológicos e o fenômeno do escoamento superficial Capítulo 2 Entende-se por precipitação, a água proveniente do vapor de água da atmosfera depositada na superfície terrestre sob qualquer forma: chuva, granizo, neblina, neve, orvalho ou geada. A chuva é o principal elemento da maioria dos estudos hidrológicos. A ocorrência da precipitação é um processo aleatório que não permite uma previsão com grande antecedência. Os problemas de engenharia estão relacionados a chuvas de grande intensidade e/ou volume e a ausência de chuva em longos períodos de estiagem. PRECIPITAÇÃO As principais características da precipitação são o volume total, a duração e a distribuição. A distribuição de uma chuva pode ser temporal ou espacial. Altura pluviométrica (P): espessura média da lâmina de água precipitada que recobriria a região atingida, admitindo-se que a água não infiltrasse, não evaporasse. É uma medida indireta do volume de chuva. Duração (t): intervalo de tempo durante o qual se considera a ocorrência de chuva. Expressa em minutos ou horas. Intensidade (i): relação entre a altura pluviométrica e a duração da precipitação. Expressa em mm/h ou mm/min. 1 TR P 1 TR f Método Califórnia Método Kimbal mf n 1 m f n Onde: m – posição do valor na amostra em ordem decrescente n – tamanho da amostra Hidrologia Frequência (f): nº de eventos iguais ou superiores a um evento considerado. Tempo de Recorrência ou Tempo de retorno (TR): inverso da probabilidade de um evento. 12 Processo de formação das precipitações Classificação das precipitações Chuvas convectivas São típicas das regiões tropicais. O aquecimento desigual da superfície terrestre provoca o aparecimento de camadas de ar com densidades diferentes, o que gera uma estratificação térmica da atmosfera em equilíbrio instável. Se esse equilíbrio, por qualquer motivo (vento, superaquecimento), for quebrado, provoca uma ascensão brusca e violenta do ar menos denso, capaz de atingir grandes altitudes. As precipitações convectivas são de grande intensidade e curta duração, concentradas em pequenas áreas (chuvas de verão). Chuvas orográficas Também chamadas de chuvas de relevo, por ocorrerem pela ação do relevo sobre o clima, resultam da ascensão mecânica de correntes de ar úmido horizontal sobre barreiras naturais, tais como montanhas. Assim, a umidade satura o ar ao redor e provoca fortes índices de precipitação, chamados de chuvas torrenciais. As precipitações da Serra do Mar são exemplos típicos de precipitações orográficas. As precipitações ocorrem pelo acúmulo de vapor d’água na atmosfera e sua condensação pelo resfriamento das massas de ar, a partir das nuvens. Para que ocorra o resfriamento do ar úmido, há necessidade de sua ascensão, que pode ocorrer devido aos seguintes fatores: ação frontal de massas de ar, convecção térmica ou relevo. A maneira com que o ar úmido ascende caracteriza o tipo de precipitação. Chuvas frontais Também chamadas de ciclônicas, são aquelas causadas pelo encontro direto entre duas massas de ar, sendo uma fria e seca e a outra quente e úmida. O ar frio, mais denso, tende a descer, enquanto o ar quente, menos denso, tende a subir. Quando essas duas massas de ar se encontram, o ar quente sobe para as camadas mais frias da atmosfera, onde ele perde temperatura e condensa-se, formando as chuvas. Formação das nuvens (microgotículas) Condensação do vapor d’água presente no ar atmosférico Ascensão das massas de ar Evaporação (estado líquido / estado vapor) Aglutinação (um milhão de microgotículas) Peso > Atrito (correntes de ar ascendentes) •Bergeron •Colisão-coalescência Precipitação Hidrologia 13 Medição de precipitação A chuva é representada como uma lâmina ou altura d’água (mm). Já a intensidade de chuva é a taxa instantânea de precipitação, ou seja, a altura no tempo (mm/h). Para medir a lâmina d’água utiliza-se aparelhos denominados pluviômetros ou pluviógrafos. Pluviógrafo Pluviômetro Pluviômetros São recipientes construídos para captar e armazenar as precipitações que ocorrem entre as medições. Existem vários modelos de pluviômetros em uso no Brasil, mas o mais comum é o modelo Ville de Paris. São instalados a 1,5 m do solo e 2 vezes distantes da altura entre o topo do aparelho e o topo da maior obstrução. Os pluviômetros não levam em conta a intensidade das precipitações. Pluviógrafos Os pluviógrafos, cujos registros permitem o estudo da relação intensidade-duração-frequência, são muito importantes para projetos de drenagem pluviais e de enchentes em pequenas bacias hidrográficas. Existem diversos modelos, sendo o mais comum o pluviógrafo de Cubas Basculantes, que é composto por 2 cubas articuladas por um eixo central, que recebem a precipitação uma de cada vez. Quando uma esvazia a outra começa a encher. Cada movimento das cubas basculantes computa uma lamina de precipitação (p. ex. 0,25 mm). Os pluviógrafos registram o tempo em que os movimentos ocorrem, assim como o número de movimentos. Hidrologia P – altura de chuva V – volume captado A – área de captação 14 Monitoramento hidrometeorológico no Brasil O tratamento dos dados de precipitação, para a grande maioria dos problemas hidrológicos, é estatístico. São geralmente registrados, armazenados e apresentados em forma de tabelas e/ou de bancos de dados. Para maior facilidade de comparação entre eles, recorre-se a representações gráficas. O Brasil dispõe de uma rede hidrometeorológica com mais de 15.000 estações hidrométricas, administradas por organismos federais, setoriais, estaduais e particulares, dentre as quais 4.543 representam a rede básica nacional em operação, de responsabilidade da Agência Nacional de Águas – ANA. A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) instala, opera e dá manutenção à rede básica nacional da ANA. Os dados coletados a cada mês são remetidos para o Sistema de Informações Hidrológicas da ANA, para serem disponibilizados ao usuário final. Nos pluviômetros da rede de observação mantida pela ANA, a medição da chuva é realizada uma vez por dia, sempre às 7h da manhã, por um observador que anota o valor lido em uma caderneta. Além da ANA, existem outras instituições e empresas que mantém pluviômetros, como o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), empresas de geração de energia hidrelétrica e empresas de pesquisa agropecuária. No banco de dados da ANA (www.hidroweb.ana.gov.br) estão cadastradas 15.622 estações pluviométricas de diversas entidades. O monitoramento hidrometeorológico no Brasil teve início no século 19. Era inicialmente realizado pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS) e pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Desde então, a Rede Hidrometeorológica do Brasil tem crescido, buscando ampliar o conhecimento hidrológico do país. O portal HidroWeb oferece um banco de dados com todas as informações coletadas pela rede hidrometeorológica e reúne dados sobre cotas, vazões, chuvas, evaporação, perfil do rio, qualidade da água e sedimentos. Por meio dessas informações, a Agência Nacional de Águas monitora eventos considerados críticos, como cheias e estiagens, disponibiliza informações para a execução de projetos, identifica o potencial energético, de navegação ou de lazer em um determinado ponto ou ao longo da calha do manancial, levanta as condições dos corpos d’água para atender a projetos de irrigação ou de abastecimento público, entre outros. Dados de precipitação Para saber mais sobre como obter dados de precipitação, leia os textos: • Como obter informações históricas sobre chuvas? • 5 páginas para obter informações hidrológicas Hidrologia 15 Valores proporcionais, alinham-se segundo uma reta; Série consistente; Confiável. Erros sistemáticos Mudança nas condições de observação Alteração climática Exige-se, pelo menos, 5 pontos sucessivos com a nova tendência É geralmente resultado da comparação de 3 postos com diferentes regimes pluviométricos, sendo incorreta toda associação que se deseja fazer entre os dados desses postos. Processamento de dados pluviométricos O objetivo de um posto de medição de chuvas é o de obter uma série, sem falhas, de precipitações ao longo dos anos. Em muitos casos, pode ocorrer a existência de períodos sem informações ou com falhas nas observações. As causas mais comuns de erros grosseiros nas observações são: preenchimento errado na caderneta de campo; soma errada do número de provetas, quando a precipitação é alta; valor estimado pelo observador, por não se encontrar no local da amostragem; crescimento de vegetação ou outra obstrução próxima ao posto de observação; danificação do aparelho; problemas mecânicos no registrador gráfico. Para a verificação da homogeneidade dos dados usa-se a curva dupla acumulativa ou curva de massa. Preenchimento de falhas Muitas vezes as estações pluviométricas apresentam falhas em seus registros devido à ausência do observador ou por defeito do aparelho. Um dos métodos para preenchimento de falhas consiste em: Escolhe-se, pelo menos, três estações localizadas o mais próximo possível, mas, dentro da mesma região meteorológica e aplicar a fórmula abaixo: Px - precipitação na estação em questão Pa,b,...,n - precipitação nas estações a, b,...,n Ma,b,...,n - média nas estações a, b,...,n Mx - média na estação em questão Verificação da homogeneidade dos dados Ano Média dos Postos Y Média dos Postos Yacumulado Posto Examinado X Posto Examinado Xacumulado 1965 22 22 30 30 1966 30 52 50 80 1967 60 112 70 150 1968 70 182 78 228 1969 86 268 83 311 1970 66 334 71 382 Hidrologia 16 Processamento de dados pluviométricos Verificação da homogeneidade dos dados São relacionados os totais anuais (ou mensais) acumulados em determinado posto e a média acumulada dos totais anuais (ou mensais) de todos os postos da região considerada homogênea sob o ponto de vista meteorológico. Caso seja possível ajustar uma reta isso significa que o ponto em questão é homogêneo em relação aos outros pontos da região. Duas possíveis formas de fazer a correção dos dados são: • Valores mais antigos para situação atual • Valores mais recentes para a condição antiga Onde: Pc – Precipitação acumulada ajustada à tenência desejada. Pa* - Valor da ordenada correspondente à interseção das duas tendências. Ma – Coeficiente angular da tendência desejada. Mo – Coeficiente angular da tendência a corrigir. Po – Valor acumulado a ser corrigido. Correção dos dados Precipitação média Métodos • Média Aritmética • Polígonos de Thiessen • Método das Isoietas Média Aritmética Basta somar os valores medidos em cada um dos postos dentro da bacia e dividir o resultado pelo número de postos. Recomenda-se a aplicação apenas em regiões planas onde os postos se encontram uniformemente distribuídos. Neste método, todos os pluviômetros têm a mesma importância. Polígonos de Thiessen O método consiste em atribuir um fator de peso aos totais precipitados em cada aparelho, proporcionais à área de influência dos mesmos. Essas áreas de influência (peso) são determinadas em mapas, unindo-se os postos adjacentes por linhas retas e, em seguida, traçando-se mediatrizes dessas retas, formando polígonos. Os lados dos polígonos são os limites das áreas de influência de cada posto. Leva em conta a não uniformidade na distribuição dos postos, atribuindo pesos proporcionais à área da região em que o aparelho se encontra. Não considera o relevo. Roteiro: 1. Traçar retas unindo os postos adjacentes; 2. Traçar retas perpendiculares a partir do ponto médio das retas traçadas anteriormente; 3. Computar a área da região de influência de cada posto; 4. Calcular. Onde: Pm = chuva média Pi = chuva no posto n = número de pluviômetros Hidrologia 17 Método das Isoietas Isoietas são curvas traçadas sobre mapas que representam linhas de igual precipitação. Seu traçado é semelhante ao das curvas de nível, onde a altura de chuva substitui a cota do terreno. A precipitação média sobre uma área é calculada ponderando-se a precipitação média entre isoietas sucessivas, normalmente fazendo a média dos valores de duas isoietas, pela área entre as isoietas, totalizando-se esse produto dividindo pela área total. Roteiro: 1. Localizar os postos e escrever ao lado de cada um o total precipitado dentro do intervalo de tempo analisado. 2. Esboçar as linhas de igual precipitação através de interpolações. 3. Sobrepor um mapa topográfico ao mapa das isoietas e ajustar as linhas segundo o relevo. 4. Computar a área da região entre as isoietas. 5. Calcular Chuvas intensas Fatores Climáticos As precipitações intensas são as principais causas de inundações e prejuízos, por isso merecem destaque especial em hidrologia. Normalmente, o transbordamento de rios, problemas de drenagem, alagamento de ruas, inundação de residências, escolas, entre outros, é um processo decorrente de uma chuva intensa. Assim, fica claro que no dimensionamento de obras de drenagem (pontes, bueiros, vertedores, etc.) deve analisar o comportamento das chuvas intensas em uma região, de forma a dimensionar estruturas que tragam segurança à população. Fonte: sobrevivendo.com.br Chuva em Santa Catarina/2008. Fonte: agenciabrasil.gov.br Hidrologia Precipitação média 18 Chuvas intensas Onde: i – Intensidade de chuva (mm/h) Tr – tempo de retorno (anos) t – duração (min) K, a, b, c – Parâmetros relativos ao regime pluviográfico local Intensidade, Duração e Frequência (IDF): • Maior o Tempo de Retorno, maior a Intensidade • Menor a Duração, maior a Intensidade • Equações I-D-F • Curvas I-D-F Curva IDF A curva IDF é obtida a partir da análise estatística de séries longas de dados de um pluviógrafo (mais de 15 anos, pelo menos). Essas curvas permitem a estimativa da altura pluviométrica associada a uma determinada frequência ou risco, para uma dada duração. Também permite que, para um dado evento com determinada duração, se possa estimar sua frequência, associada ao tempo de recorrência (ou tempo de retorno). No planejamento e gestão de recursos hídricos, assim como para o dimensionamento de estruturas hidráulicas, é preciso estimar a chuva associada a determinado risco, frequência ou tempo de retorno. As relações IDF também são chamadas de equação de chuvas intensas. A metodologia de desenvolvimento da curva IDF considera os seguintes passos: • Seleção das precipitações intensas mais características, entre as quais deverão estar as intensidades máximas referentes às diversas durações a serem analisadas. • Com base nesta série de tamanho N (número de anos), é ajustada uma distribuição de frequências que melhor represente a distribuição dos valores observados. • Ajuste das curvas de intensidade-duração para determinadas frequências através de anamorfoses (linearização da equação aplicando logaritmo) ou método dos mínimos quadrados. • O procedimento é repetido para diferentes durações de chuva e os resultados são resumidos na forma de um gráfico, ou equação, com a relação das três variáveis: Intensidade, Duração e Frequência (ou tempo de retorno). Leis da chuva Para um mesmo tempo de recorrência, quanto maior a duração da chuva, menor é a sua intensidade. Para uma mesma duração, quanto maior o tempo de recorrência da chuva, maior será a sua intensidade. A intensidade das precipitações é inversamente proporcional à sua área de precipitação. Em um determinado período chuvoso, as intensidades decrescem do núcleo da precipitação para sua periferia, segundo uma lei aproximadamente parabólica. Dentro do conceito de chuva intensa, deve ser lembrado que quanto mais curta a duração de uma precipitação, maior a chance de que ela tenha sido muito intensa, e que quanto mais frequente uma chuva maior é a probabilidade de sua ocorrência. Hidrologia 19 Chuvas intensas Curva IDF Exemplo: Curva IDF obtida a partir da análise dos dados de um pluviógrafo localizado no Instituto de Pesquisas Hidráulicas-IPH, em Porto Alegre. Onde: Pmax - Precipitação máxima, em mm t - duração da precipitação, em horas a; b; c - constantes para cada posto R - fatorde ajuste Onde: TR - tempo de recorrência, em anos α e β - valores que dependem da duração da precipitação γ - constante, adotada como 0,25 para todos os pontos Cada uma das linhas representa um Tempo de Retorno. No eixo horizontal estão as durações e no eixo vertical estão as intensidades. Observa-se que quanto menor a duração, maior a intensidade da chuva. Da mesma forma, quanto maior o Tempo de Retorno, maior a intensidade da chuva. As curvas IDF são diferentes em diferentes locais. Infelizmente não existem séries de dados de pluviógrafos longas em todas as cidades, assim, muitas vezes, é necessário considerar que a curva IDF de um local é válida para uma grande região do entorno. No Brasil existem estudos de chuvas intensas com curvas IDF para a maioria das capitais dos Estados e para algumas poucas cidades do interior. O estudo do professor Otto Pfafstetter, chamado “Chuvas Intensas no Brasil” foi o primeiro estudo de chuvas intensas publicado no Brasil e determinou gráficos que relacionam a intensidade, a duração e a frequência das precipitações ocorridas em 98 postos distribuídos geograficamente pelo país. Hidrologia Método do professor Otto Pfafstetter 𝑃𝑚𝑎𝑥 = 𝑅 ∙ 𝑎 ∙ 𝑡 + 𝑏 ∙ log 1 + 𝑐 ∙ 𝑡 𝑅 = 𝑇𝑅 ∙ α + β 𝑇𝑅 γ ∙ 20 A interceptação é a retenção de parte da precipitação acima da superfície do solo (Blake, 1975). Ocorre devido, principalmente, à vegetação e tende a retardar e reduzir o pico das enchentes. Varia com a intensidade da precipitação, com o tipo e com a densidade da vegetação, inclusive com as estações do ano. Os efeitos da interceptação são de retenção de um certo volume de água da precipitação, que logo se transforma em evaporação, ou acaba infiltrando, no caso de obstruções. INTERCEPTAÇÃO Interceptação na copa das árvores Interceptação vegetal Interceptação nos galhos e troncos Interceptação nas raízes e serapilheira recente Infiltração na matriz porosa No caso da cobertura vegetal, a capacidade de interceptação depende das características da precipitação (intensidade, duração, volume), das características da própria cobertura vegetal (vegetação de folhas maiores possuem maior capacidade de interceptação), das condições climáticas (quando há muito vento a capacidade de interceptação é menor), da época do ano (por exemplo, no outono a capacidade de interceptação é praticamente nula em árvores de folhas caducas), entre outros. Hidrologia Quanto mais intensa a precipitação, menor o volume interceptado. Quanto mais densa a vegetação, maior o volume retido. 21 A interceptação é um fenômeno mal conhecido e difícil de estudar. Alguns valores estimados para perdas por interceptação são: • prados (vegetação baixa), de 5% a 10% da precipitação anual; • em bosques espessos, cerca de 25% da precipitação anual. Pode-se dizer também que se a chuva é menor que 1mm, ela será interceptada em sua totalidade, e se é maior que 1mm, a interceptação vegetal pode variar entre 10% e 40%. A quantificação de perdas devido à interceptação vegetal pode ser feita através do monitoramento do dado de precipitação em uma região sem cobertura de vegetação e o monitoramento da precipitação que atravessa a vegetação (além de monitorar a água que escoa pelo tronco das árvores). A diferença do volume total precipitado e volume de água que atravessa a vegetação, considerando o volume escoado pelos troncos, fornece uma estimativa da interceptação do local. O volume armazenado nas depressões do terreno constitui-se em perdas, já que esse volume evapora se a depressão é impermeável, ou infiltra, caso seja permeável. Em áreas urbanas estima-se que o volume de água “perdido” por armazenamento em depressões seja da ordem de 5 a 8% da precipitação total. Interceptação vegetal Armazenamento em depressões Foto: Mário Dantas - http://cienciahoje.uol.com.br Hidrologia Foto: Mário Dantas -http://cienciahoje.uol.com.br 22 Evaporação, Transpiração e Evapotranspiração As parcelas do ciclo hidrológico referentes à evaporação, transpiração e evapotranspiração são os processos físicos responsáveis pela perda de água da superfície para a atmosfera Capítulo 3 A evaporação e a transpiração fazem parte do ciclo hidrológico e são os processos físicos responsáveis pelas perdas de água da superfície para a atmosfera. A água que deixa a superfície terrestre integra a atmosfera sob a forma de vapor. Evaporação é a perda de água pelas superfícies livres de rios, lagos, reservatórios e acúmulos de água na superfície. A transpiração consiste nas taxas ou parcelas hídricas que deixam a vegetação através de seu sistema radicular, xilema e estômatos presentes na superfície foliar (Silva, 2015). O processo de transpiração envolve a retirada da água do solo pelas raízes das plantas, o transporte da água através da planta até as folhas e a passagem da água para a atmosfera através dos estômatos da folha. A evapotranspiração é o nome que se dá aos processos de evaporação e transpiração integrados. A importância do processo de evapotranspiração permaneceu mal compreendido até o início do século XVIII, quando Edmond Halley provou que a água que evaporava da terra era suficiente para abastecer os rios, posteriormente, em forma de precipitação. Conhecer a perda d’água de uma superfície natural é de suma importância nos diferentes campos do conhecimento científico, especialmente nas aplicações da meteorologia e da hidrologia às diversas atividades humanas. Na hidrologia, o conhecimento da perda de água em rios, canais, reservatórios, bem como, a transpiração dos vegetais, é essencial no balanço hídrico de uma bacia hidrográfica. Para ocorrer a evaporação são necessárias duas condições: que a água líquida esteja recebendo energia para prover o calor latente de evaporação; que o ar acima da superfície líquida não esteja saturado de vapor de água. Hidrologia 23 Conceitos Evapotranspiração é a soma dos processos evaporação do solo e transpiração das plantas. Este termo foi utilizado por Thornthwaite, no início da década de 40, para expressar essa ocorrência simultânea (Carvalho e Silva, 2066). Existem conceitos distintos de evapotranspiração: Evapotranspiração Potencial (ETp) Transferência, sem restrição hídrica, de água para a atmosfera por evaporação do solo e por transpiração. Evapotranspiração Real (ETr) Transferência de água para a atmosfera por evaporação e transpiração que ocorre nas condições reais (existentes) da umidade do solo e da vegetação. Sempre menor ou igual a ETp. Evapotranspiração de Referência (ETo) Perda de água de uma extensa superfície cultivada com grama, com altura de 0,08 a 0,15 m, em crescimento ativo, cobrindo totalmente o solo e sem deficiência de água. Evapotranspiração Evaporação Superfície livre – lagos, reservatórios, oceanos... Superfície das vegetações – interceptação vegetal Solos Transpiração Plantas Fonte: adaptado de Silva (2015) Evapotranspiração: evaporação e transpiração. Hidrologia 24 Fatores intervenientes Radiação Solar Processo de evaporação requer energia para ocorrer. Essa energia vem do sol e varia com a latitude, com a rotação e com a translação da Terra. Varia também com a espessura da camada de nuvens. Regiões equatoriais recebem maior radiação solar e, consequentemente, apresentam maiores taxas de evaporação. Umidade relativa A umidade relativa do ar indica quão próximo o ar está da saturação, ao invés de indicar a real quantidade de vapor d’água no ar. Assim, quando a meteorologista afirma na televisão que a umidade relativa do ar é de 90%, ela quer dizer que o arcontém 90% da quantidade de água que ele é capaz de absorver naquela condição. Quanto mais quente fica o ar, mais água ele é capaz de “carregar”, assim uma mesma quantidade de água no ar pode fazer com que o ar tenha umidade relativa baixa para temperaturas mais elevadas ou fique saturado para temperaturas mais baixas. 1 0 0 Espaço Atmosfera Fluxo de calor latente Absorvida pelo ar e poeira Absorvida pelas nuvens Absorvida na superfície Emitida pela superfície Absorvida pelo vapor de H2O e CO2 Emitida pelo vapor de H2O e CO2 Fluxo de calor sensível Emitida pelas nuvens Ondas longasOndas curtas R a d ia ç ã o s o la r in c id e n te Superfície (Terra + Oceanos) S1 21 7 23 6 38 266 420 15 16 Hidrologia A evaporação ocorre de modo inversamente proporcional à umidade relativa do ar, ou seja, quanto maior a umidade relativa do ar, menor a evaporação. CURIOSIDADE: Outra grande influência da umidade relativa do ar é sensação térmica dos nossos corpos. Para sauna seca suportamos com facilidades temperaturas entre 60 a 80ºC, na sauna a vapor a temperatura geralmente se mantém em torno de 50ºC. 25 Fatores intervenientes Vento O vento renova o ar em contato com as massas de água ou com a vegetação, afastando do local as massas de ar que já tenham grau de umidade elevado. Tipo e condições do solo No processo de transpiração, a natureza do solo, o seu grau de umidade e a posição do nível do lençol freático influenciam a umidade do solo na zona ocupada pelas raízes dos vegetais. Quando o solo está úmido, as plantas transpiram livremente, e a taxa de transpiração é controlada pelas variáveis atmosféricas. Porém, quando o solo começa a secar, o fluxo de transpiração começa a diminuir. Tipo de vegetação A transpiração vegetal também depende do tipo de planta, do seu estágio de desenvolvimento (idade do vegetal) e do desenvolvimento das suas folhas. Hidrologia 26 Medição da evaporação Tanque Classe A A medição de evaporação no Tanque Classe A é realizada diretamente em uma régua, ou ponta linimétrica, instalada dentro do tanque, sendo que são compensados os valores da precipitação do dia. As medições são diárias. Por esta razão, o Tanque Classe A é instalado em estações meteorológicas junto com um pluviômetro. É necessário aplicar um coeficiente de redução aos dados de evaporação medidos no tanque, porque a água do reservatório normalmente está mais fria do que a água do tanque, que tem um volume pequeno e está completamente exposta à radiação solar. Evaporímetro de Piché São aparelhos em que se mede a evaporação através de um meio poroso, permanentemente saturado de umidade. A instalação e a operação são simples, mas as medições não são muito confiáveis. É formado por um tubo de vidro de aprox. 30cm de comprimento e 1cm de diâmetro, fechado na parte superior e aberto na inferior. A extremidade inferior é tapada, depois do tubo estar cheio com água destilada, com um disco de papel de feltro de 3cm de diâmetro umedecido. Hidrologia Assim, para estimar a evaporação em reservatórios e lagos costuma-se considerar que esta tem um valor de aproximadamente 60 a 80% da evaporação medida em Tanque Classe A, na mesma região. Depois, o disco é fixado com uma mola. O tubo é preso por uma argola a um gancho no interior de um abrigo meteorológico padrão. 27 Medição da evaporação Fórmula de Meyer: Onde: • E – evaporação (mm/d) • V9 – velocidade do vento à 9m de altura • c – 0,50 para lagos pequenos e rasos ou 0,37 para lagos maiores • es – pressão de saturação, à temperatura da água (mmHg) • ea – pressão de vapor, à temperatura da água (mmHg) Primeira Lei de Dalton: Onde: • E – evaporação (mm/d) • b – coef. empírico – pode ser substituído por expressões que representem a ação do vento • es – pressão de saturação, à temperatura da água (mmHg) • ea – pressão de vapor, à temperatura da água (mmHg) Fórmula do Lago Hefner: Onde: • E – evaporação (mm/d) • V4 – velocidade do vento à 4m de altura • es – pressão de saturação, à temperatura da água (mmHg) • ea – pressão de vapor, à temperatura da água (mmHg) Fórmulas Empíricas Hidrologia 28 Medição da evapotranspiração Lisímetros: estruturas enterradas constituídas de um reservatório de solo com um volume mínimo de 1m³, providas de sistema de drenagem e instrumentos de medição. Através de lisímetros pode-se medir tanto a ETR como a ETp. Para medir a ETp, promove-se a irrigação da cultura plantada no lisímetro. Onde: • ET – evapotranspiração • P – precipitação • D – drenagem • ΔR – variação no volume armazenado no lisímetro Medições diretas Método de Thornthwaite: Equação ajustada a partir de dados medidos em bacias nos EUA, onde predominam invernos com alta umidade e verões secos. Métodos que relacionam a evapotranspiração com a temperatura Onde: • ETP – evapotranspiração potencial para meses de 30 dias e comprimento de 12h (mm/mês) • T – temperatura média do ar • Fc – fator de correção da latitude • ti – temperatura do mês i Método de Jensen e Haise: Métodos que relacionam a evapotranspiração com a temperatura e a radiação solar Onde: • ETP – evapotranspiração potencial (mm/d) • T – temperatura do ar (ºC) • G – radiação incidente de onda curta (cal/cm².d) Hidrologia 29 Medição da evapotranspiração Combina radiação solar, umidade do ar, temperatura e ação do vento. Tem analogia com um circuito elétrico, sendo o fluxo evaporativo a corrente, a umidade relativa a diferença de pressão, e as resistências superficiais da vegetação e a aerodinâmica a resistência. Equação recomendada pela FAO para o calculo da Evapotranspiração de Referência. Onde: • E – taxa de evaporação da água (m/s) • λ – calor latente de vaporização (MJ/kg) • Δ – taxa de variação de pressão de saturação de vapor (kPa/Cº) • RL – radiação líquida na superfície (MJ/m².s) • G – fluxo de energia para o solo (MJ/m².s) • ρA – massa específica do ar (kg/m³) • ρW – massa específica da água (kg/m³) • CP – calor específico do ar úmido (MJ/kg.Cº) • es – pressão de saturação do vapor (kPa) • ed – pressão de vapor (kPa) • γ – constante psicrométrica (γ=0,66) (kPa/Cº) • rs – resistência superficial da vegetação (s/m) • Ra – resistência aerodinâmica (s/m) Método de Penmam-Montheith Hidrologia 30 Infiltração A Infiltração é o fenômeno de penetração da água nas camadas de solo próximas à superfície do terreno, em movimento descendente, através dos vazios, sob a ação da gravidade, até atingir uma camada suporte, que a retém, formando então a água do solo. Ou seja, é o processo pelo qual a água atravessa a superfície do solo. Capítulo 4 A infiltração é um processo que depende fundamentalmente da água disponível para infiltrar, da natureza do solo, do estado da sua superfície e das quantidades de água e ar, inicialmente presentes no seu interior. À medida em que a água infiltra pela superfície, as camadas superiores do solo vão umedecendo de cima para baixo, alterando grada- tivamente o perfil de umidade. Quando o aporte de água à superfície cessa, isto é, deixa de haver infiltração, a umidade no interior do solo se redistribui, evoluindo para um perfil de umidade inverso, com menores teores de umidade no nível próximo à superfície e maiores nas camadas mais profundas. Nem toda umidade é drenada para as camadas mais profundas do solo, já que parte é transferida para a atmosfera por evapotranspiração. Superfície do terreno Nível freático InfiltraçãoFluxo sub-superficial Fluxo subterrâneo Saída de água subterrânea Saída de água sub-superficial Umidade contida Zona de saturação Zona de transição Zona de transmissão Frente úmida Zona úmida P ro fu n d id a d e Hidrologia Normalmente, a infiltração decorrente de precipitações naturais não é capaz de saturar todo o solo, restringindo-se a saturar, quando consegue, apenas as camadas próximas à superfície, conformando um perfil típico onde o teor de umidade decresce com a profundidade. Enquanto há aporte de água, o perfil de umidade tende à saturação em toda a profundidade, sendo a superfície, naturalmente, o primeiro nível a saturar. 31 Fatores intervenientes no processo de infiltração Tipo de solo Altura de retenção superficial e espessura da camada saturada Grau de umidade do solo Ação da precipitação sobre o solo Capacidade de infiltração É a quantidade máxima de água que pode infiltrar no solo, em um dado intervalo de tempo, sendo expresso geralmente em mm/h. A capacidade de infiltração ou infiltração potencial é a taxa de infiltração que poderia ocorrer se houvesse disponibilidade de água sobre a superfície do solo. Assim sendo, a taxa de infiltração será, no máximo, igual a capacidade de infiltração. Uma curva de taxas reais de infiltração no tempo somente coincide com a curva das capacidades de infiltração de um solo quando o aporte superficial de água tem intensidade superior ou igual à capacidade de infiltração. Geralmente é expressa em mm/h. Taxa ou velocidade de Infiltração É definida como a lâmina de água (volume de água por unidade de área) que atravessa a superfície do solo, por unidade de tempo. A taxa de infiltração pode ser expressa em termos de altura de lâmina d’água ou volume d’água por unidade de tempo (mm/h). Onde: • TI = taxa de infiltração da água no solo (mm/h) • I = infiltração acumulada (mm) • T = tempo (h) Hidrologia Presença de ar Compactação devida à ação antrópica e aos animais Macroestrutura do terreno Cobertura vegetal Temperatura 32 Curva de infiltração potencial Como pode-se observar no gráfico da figura ao lado, a curva de variação da taxa de infiltração ao longo do tempo apresenta um decaimento até atingir um valor assintótico equivalente à condutividade hidráulica saturada (KSAT), que representa a camada superficial do solo (Miguez, et al., 2015). Essa curva é chamada de curva de infiltração potencial. Quando o solo atinge a sua capacidade de infiltração, ocorre o escoamento superficial, como mostra o gráfico abaixo. A taxa de escoamento superficial, em situações em que a intensidade da chuva é sempre maior que a curva de infiltração potencial, pode ser calculada pela diferença entre a intensidade de chuva e a taxa de infiltração potencial (Rubin, 1966). Nos casos em que a intensidade de precipitação varia em relação à curva de infiltração potencial, ou seja, em determinado momento a intensidade de precipitação está acima e em outros está abaixo da curva de infiltração, a taxa de infiltração real (que depende das características do solo e da distribuição temporal da chuva) será: • Igual à intensidade da chuva quando está for inferior à curva de infiltração potencial; ou • Igual à curva de infiltração potencial, quando a intensidade da chuva for superior à curva. Hidrologia 33 Estimativa da infiltração Medição direta – Infiltrômetros São aparelhos para determinação direta da capacidade de infiltração local dos solos. Os infiltrômetros de anel consistem de dois cilindros concêntricos, de chapa metálica, com diâmetros variando de 200 a 900mm, cravados verticalmente no solo de modo a restar uma pequena altura livre sobre este. Podem ser utilizados um ou dois tubos concêntricos. Equação de Horton A partir de experimentos de campo, Horton estabeleceu, para o caso de um solo submetido a uma precipitação com intensidade sempre superior a capacidade de infiltração, uma relação empírica para representar o decaimento da infiltração com o tempo, que pode ser representado da seguinte forma: Os cilindros são colocados no terreno, até uma profundidade maior ou igual à da penetração da água durante o ensaio, para evitar o erro causado pela dispersão lateral da água. Quando se utilizam dois tubos concêntricos, a água é adicionada nos dois compartimentos. A finalidade do cilindro externo é manter verticalmente o fluxo de água do cilindro interno. A cada passo de tempo, mede-se a altura da lâmina d’água dentro do cilindro. Onde: • t = tempo decorrido desde a saturação superficial do solo (hora) • I = taxa de infiltração no tempo t (mm/h) • Ii = taxa de infiltração inicial (mm/h) • Ib = taxa de infiltração mínima (assintótica)(mm/h) • K = constante de decaimento (hora-1) Para a utilização da equação de Horton, é necessário determinar os parâmetros a partir dos dados observados em ensaios de campo. O parâmetro k é obtido através do ajuste da equação aos pontos Ixt medidos em campo. Integrando a equação da taxa de infiltração ao longo do tempo, tem-se a equação de volume infiltrado: Hidrologia 34 Estimativa da infiltração Método do Índice Φ Esse método considera que existe uma infiltração constante ao longo do tempo, sendo, assim, um método muito simplificado. Para a aplicação do método, define-se inicialmente um volume correspondente à capacidade de armazenamento de água no solo, além de outras perdas. Divide-se esse valor pelo número total de intervalos de tempo com chuva, e esse valor corresponde ao índice φ. A precipitação que não infiltra é obtida da a partir da subtração do índice φ e da precipitação total. Quando o valor de φ for maior que a precipitação (P), deve-se distribuir a diferença entre os demais intervalos. No caso da existência de um hidrograma observado, pode-se proceder com a separação do escoamento superficial e subterrâneo, conforme será apresentado mais adiante. Uma vez conhecido o volume superficial escoado, também é conhecida a precipitação efetiva. E o índice φ pode ser determinado a partir desse resultado. Hietograma para determinação da precipitação efetiva através do índice Φ. Hietograma após determinação do índice Φ. Hietograma de precipitação efetiva após a separação do escoamento. Hidrologia Considere que em um determinado evento, o volume escoado superficialmente foi estimado em 13mm e o volume total precipitado foi de 32,5mm. A partir desse resultado, pode-se inferir que o total de perdas foi de 19,5mm. Assim, o índice φ resulta em 1,50mm/Δt (19,5mm / 13 intervalos de tempo de 30minutos). Exemplo 35 Águas Subterrâneas É toda água que se encontra abaixo da superfície da Terra, preenchendo os espaços vazios entre as rochas. Capítulo 5 Águas que atingem a superfície do solo a partir de precipitações, podem infiltrar-se por efeito de forças gravitacionais e de capilaridade. Seu destino será função das características do subsolo, do relevo do terreno e da ação da vegetação, configurando o que poderia denominar-se de fase subterrânea do ciclo hidrológico. A água, ao infiltrar, está sujeita, principalmente, às forças devidas à atração molecular; à tensão superficial ou efeitos de capilaridade e à atração gravitacional. Em função dessas forças, destacam-se duas zonas: Zona de aeração: os interstícios do solo são parcialmente ocupados pela água, enquanto o ar preenche os demais espaços livres (a água é usada pelas raízes das plantas). Zona saturada: a água ocupa todos os vazios e se encontra sob pressão hidrostática. Hidrologia Distribuição das águas abaixo dasuperfície do solo 36 AQUÍFEROS: Lençol subterrâneo estabelecido em uma formação suficientemente porosa, capaz de admitir uma quantidade considerável de água e permitir seu escoamento em condições favoráveis para utilização. De acordo com o armazenamento da água, os aquíferos podem ser: A q u í f e r o L i v r e Formação geológica de característica permeável, parcialmente saturada de água. Sua base é formada por uma camada impermeável como, por exemplo, a argila, ou pode ser semipermeável. Neste aquífero existe uma superfície livre de água que se encontra sob pressão atmosférica (superfície piezométrica). Em aquíferos livres, o nível da água varia segundo a quantidade de chuva. É o tipo mais comum e mais explorado pelos homens. Porém, são também os aquíferos que apresentam maiores problemas de contaminação. A q u í f e r o C o n f i n a d o Ocorre quando a água subterrânea está confinada sob uma pressão superior à pressão atmosférica, devido à existência de uma camada confinante impermeável acima do aquífero. Pelo fato de a água encontrar- se a uma pressão superior à atmosférica, quando se faz um furo para extração, a água sobe até a superfície piezométrica, dando origem a um poço artesiano. Quanto ao tipo de rocha armazenadora, os aquíferos podem ser: A q u í f e r o s P o r o s o s Esses tipos de aquíferos apresentam espaços vazios de pequenas dimensões (poros), por onde a água circula. Estão associados a rochas do tipo sedimentares consolidadas, solos arenosos e sedimentos inconsolidados. Representam o grupo de aquíferos mais importantes, devido ao grande volume de água que armazenam e também por serem encontrados em muitas áreas. A q u í f e r o s F r a t u r a d o s o u F i s s u r a d o s São caracterizados por possuírem fraturas abertas que acumulam água. Estas fraturas representam o resultado de alguma deformação sofrida por uma rocha quando esta é submetida a esforços tensionais de natureza diversa. Os aquíferos fraturados estão associados a rochas do tipo ígneas e metamórficas. A q u í f e r o s C á r s t i c o s São formados em rochas carbonáticas. As fraturas presentes neste tipo de aquífero podem atingir dimensões maiores, devido à dissolução do carbono pela água. Assim, podem formar grandes rios subterrâneos. Hidrologia 37 Formas de ocorrência da água subterrânea Descarga natural Fontes Descarga de base de rios e lagos Descarga em Mares Evapotranspiração Descarga das águas subterrâneas Rio contribui para freático. Geralmente são rios intermitentes. Rio recebe contribuição do freático. Geralmente são rios perenes. Hidrologia Captação Poços de bombeamento (principalmente) Valas de drenagem Galerias de drenagem Poços radiais Conforme contribuam para o lençol subterrâneo, os rios podem ser classificados em influentes e efluentes. 38 Aquíferos do Brasil A q u í f e r o G u a r a n i (antigo Botucatu) Principal reserva subterrânea de água doce da América do Sul e um dos maiores sistemas aquíferos do mundo. Ocupa uma área total de 1,2 milhão de km² na Bacia do Paraná e parte da Bacia do Chaco- Paraná. Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total) abrangendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A q u í f e r o A l t e r d o C h ã o Descoberto em abril de 2010, é o maior aquífero do mundo em volume d’água. Ele é duas vezes maior em volume de água que o aquífero Guarani (86 mil km³ contra 46 mil km³). Está localizado sob os estados do Amazonas, Pará e Amapá. Hidrologia 39 Hidrograma O hidrograma é a representação gráfica da variação da vazão (Q) ao longo do tempo (minutos, horas, dias). Capítulo 6 Costuma-se representar um hidrograma em escala gráfica, colocando no eixo das abscissas o tempo, e no eixo das ordenadas o valor correspondente de vazão. A área da bacia hidrográfica define a potencialidade hídrica da mesma. Bacias hidrográficas maiores normalmente apresentam hidrogramas com vazões maiores que bacias hidrográficas menores, para um mesmo evento de chuva. Fatores que influenciam a forma do hidrograma: Área da bacia hidrográfica Relevo, densidade de drenagem, declividade do rio/bacia hidrográfica e forma Condições de superfície do solo e constituição geológica do subsolo Modificações artificiais no rio Característica da precipitação Q t Área da bacia hidrográfica Relevo, densidade de drenagem, declividade do rio/bacia hidrográfica e forma Bacias hidrográficas íngremes e com boa drenagem têm hidrogramas mais “rápidos”, geralmente com pouco escoamento de base. Bacias hidrográficas muito planas, com grandes áreas de extravasamento, tendem a amortecer o escoamento e reduzir o pico das vazões. Quanto à forma, pode-se dizer que bacias hidrográficas com forma aproximadamente circular antecipam o pico das cheias e, normalmente, as vazões de pico são maiores que em bacias de forma alongadas. Hidrologia 40 Cobertura vegetal – tende a retardar o escoamento e aumentar as perdas por interceptação e evapotranspiração. Sua substituição por superfícies impermeáveis diminui consideravelmente a infiltração no solo, podendo agravar os problemas com cheias. Constituição geológica do subsolo – em regiões em que o solo é pouco profundo, existe uma baixa capacidade de armazenamento de água no solo e os hidrogramas apresentam picos rápidos e vazões mais elevadas, quando comparados com regiões onde a constituição geológica permite armazenar grande quantidade de água no solo. Condições de superfície do solo e constituição geológica do subsolo Modificações artificiais no rio Quando são realizadas obras de canalização, geralmente o pico das vazões e a velocidade de escoamento é aumentada. No caso da construção de reservatórios para a regularização de vazões, amortecimento de ondas de cheias, entre outros fins, o pico das vazões é amortecido, e a velocidade do escoamento é reduzida. Hidrologia 41 O processo de urbanização altera significativamente as parcelas do ciclo hidrológico, tendendo a diminuir a retenção superficial e a infiltração, aumentar a evaporação e os escoamentos superficiais e agravar as cheias. Modificações artificiais no rio - Urbanização Hidrologia A retenção natural desempenha importante papel no resultado da relação chuva x volume superficial. Atua facilitando a infiltração e promove o retardamento da elevação do nível das águas nas calhas dos rios e a redução dos volumes disponíveis para os escoamentos superficiais. Essas alterações podem ser dramáticas, verificando-se numa bacia urbanizada, para os casos extremos, um aumento do pico da cheia que pode chegar a ser 6 vezes maior do que o pico desta mesma bacia em condições naturais (Leopold, 1968). Grande enchente Pico maior e mais rápido Pequena enchente Aumento do volume Pico menor e menos rápido Recessão gradualMaior escoamento De base V A Z Ã O TEMPO Antes da urbanização Depois da urbanização SEMADS, 2001 42 Em geral, chuvas que deslocam-se de jusante para montante geram hidrogramas com picos menores, e em alguns casos com dois picos. As chuvas convectivas, de grande intensidade e distribuídas numa pequena área, podem provocar as grandes enchentes em pequenas bacias, não sendo tão importantes no caso de grandes bacias hidrográficas. No caso de grandes bacias, as chuvas frontais são as mais importantes. Característica da precipitação A forma e os componentes do hidrograma O hidrograma é o resultado do comportamentohidrológico de uma bacia hidrográfica. Nele estão contidos todos os efeitos dos fatores geológicos, geomorfológicos e climatológicos da região, bem como os efeitos da cobertura vegetal e da urbanização que se observa na bacia. O hidrograma também é afetado por alguns fatores hidrometeorológicos, tais como a intensidade, duração, distribuição espacial, distribuição temporal e direção de deslocamento das chuvas. O hidrograma é, pois, o resultado, ao longo do eixo dos tempos, de todo esse complexo comportamento hidrológico e hidrodinâmico da bacia hidrográfica que o forma. Hidrologia Quando a precipitação é constante e a capacidade de infiltração e retenção é superada, após atingido o tempo de concentração da bacia há uma estabilização do valor da vazão de pico. Quando cessa a precipitação, o hidrograma entra em período de recessão. O hidrograma de uma chuva isolada apresenta 3 pontos notáveis, determinando 4 partes distintas para análise. 1º trecho: Até t1, representa o escoamento de base antes do início da chuva. A partir desse instante, inicia-se a chuva e, dependendo da capacidade de infiltração do solo e da intensidade da precipitação, pode haver infiltração de toda a chuva sem que qualquer escoamento superficial ocorra. 2º trecho: Em t1’, a capacidade de infiltração do solo iguala-se à intensidade de chuva e inicia-se um excedente de água sobre a superfície (escoamento superficial). Esse escoamento cresce rapidamente de valor produzindo o ramo ascendente do hidrograma no intervalo (t1’-t2), num processo em que cada vez mais área da bacia contribui para seu exutório. Ao final do ramo ascendente, no instante t2, o hidrograma atinge seu pico. A forma e os componentes do hidrograma 3º trecho: O período de recessão do hidrograma, no intervalo (t2-t3) representa o esvaziamento gradual da calha fluvial e nesse período os escoamentos sub-superficiais e a vazão de base assumem maior significado na composição do hidrograma total. 4º trecho: Último trecho, após t3, caracterizado pelo trânsito do escoamento base, em geral com valor superior ao trecho inicial devido à elevação do nível do lençol, produzido pela recarga do aquífero. 43 Método Racional Escoamento Superficial Fase do ciclo hidrológico que trata da ocorrência e transporte da água na superfície terrestre. Capítulo 7 Uma vez que a precipitação de projeto, associada a um determinado tempo de retorno, já tenha sido definida, e as perdas já tenham sido estimadas de tal maneira a determinar a precipitação efetiva, o passo seguinte é transformar essa chuva efetiva em escoamento, ou vazão. Essa transformação pode ser realizada mediante diferentes métodos. O método mais simples de aplicação é o Método Racional. O método racional engloba todos os processos físicos envolvidos em apenas um coeficiente; é apropriado apenas para obter a vazão máxima em bacias pequenas. Princípios: Considera a duração da chuva igual ao tempo de concentração; Adota o coeficiente de runoff ou de escoamento superficial C, no qual são computadas todas as perdas. Onde: • i = intensidade de precipitação (mm/h) • A = área da bacia hidrográfica (km²) • C = coeficiente de escoamento (adimensional) • Q = vazão máxima (m³/s) Hidrologia 44 Método Racional A intensidade da precipitação depende dos seguintes fatores: Equação IDF característica da região. Tempo de concentração: para a estimativa da intensidade da precipitação, é necessário conhecer o tempo de concentração da bacia, já que o mesmo é considerado igual à duração da precipitação. Tempo de retorno (TR): o TR utilizado para o dimensionamento de obras de microdrenagem varia de 2 a 10 anos. Para dimensionamento de redes de macrodrenagem costuma-se utilizar tempos de retorno de 20 anos ou mais, sendo atualmente muito utilizado o tempo de 25 anos, recomendado pelo Ministério das Cidades. O coeficiente de escoamento utilizado no método racional depende das seguintes características: Tipo de solo; Cobertura vegetal; e Tipo de ocupação. Os coeficientes de escoamento recomendados pela prefeitura de São Paulo, para as superfícies urbanas, estão apresentados na tabela abaixo. Hidrologia Fonte: Wilken, 1978. Zonas C Edificação muito densa: Partes centrais, densamente construídas de uma cidade com ruas e calçadas pavimentadas. 0,70 – 0,95 Edificação não muito densa: Partes adjacentes ao centro, de menos densidades de habitações, mas com ruas e calçadas pavimentadas. 0,60 – 0,70 Edificação com poucas superfícies livres: Partes residenciais com construções cerradas, ruas pavimentadas. 0,50 – 0,60 Edificação com muitas superfícies livres: Partes residenciais com ruas macadamizadas ou pavimentadas. 0,25 – 0,50 Subúrbios com alguma edificação: Partes de arrabaldes e subúrbios com pequena densidade de construção. 0,10 – 0,25 Matas, parques e campos de esportes: Partes rurais, áreas verdes, superfícies arborizadas, parques ajardinados, campos de esporte sem pavimentação. 0,05 – 0,20 45 Método Racional Coeficiente de runoff (C) Método do SCS (Soil Conservation Service, EUA) Este método é muito usado no Brasil e no exterior, e tem a vantagem de dispor de grande quantidade de trabalhos relativos ao ajuste de seu principal parâmetro, denominado Curve Number (CN), em função de quatro tipos diferentes de solo e de diversos padrões de ocupação do mesmo. O método também permite a correção do CN de acordo com as condições de umidade do solo anteriores à ocorrência da chuva. A desvantagem deste método também reside na falta de uma base física mais consistente para a representação da infiltração. Equação do SCS: Onde: • P = precipitação acumulada • Ia = lâmina de abstração inicial • Q = chuva efetiva acumulada • S = armazenamento máximo de água na camada superficial do solo Hidrologia 46 Método do SCS (Soil Conservation Service, EUA) Tipos de solos: Solo A: solos que produzem baixo escoamento superficial e alta infiltração. Solos arenosos profundos. Solo B: solos menos permeáveis do que o anterior, solos arenosos menos profundos do que o tipo A e com permeabilidade superior à média. Solo C: solos que geram escoamento superficial acima da média e com capacidade de infiltração abaixo da média, contendo porcentagem considerável de argila e pouco profundo. Solo D: solos pouco profundos contendo argilas expansivas e com muito baixa capacidade de infiltração, gerando a maior proporção de escoamento superficial. Método do SCS Hidrologia 47 Hidrograma Unitário (HU) Introduzido por Leroy K. Sherman, em 1932, considera a área da bacia hidrográfica e a intensidade da chuva, assim como o Método Racional. A declividade e características fisiográficas da bacia hidrográfica em estudo também são consideradas, embora não seja explicitado. É o hidrograma do escoamento direto, causado por uma chuva efetiva unitária (por exemplo, uma chuva de 1mm ou 1 cm). O método considera que a precipitação efetiva e unitária tem intensidade constante ao longo de sua duração e distribui-se uniformemente sobre toda a área de drenagem. Onde: • P = volume de chuva efetiva; • Q = vazão de escoamento superficial. Princípio de superposição: As vazões de um hidrograma de escoamento superficial, produzidas por chuvas efetivas sucessivas, podem ser encontradas somando as vazões dos hidrogramas de escoamento superficial correspondentes às chuvas efetivas individuais. Hidrologia Princípio de linearidade: Para uma chuva efetiva de uma dada duração, o volume de chuva, que é igual ao volume escoado superficialmente, é proporcional à intensidade dessa chuva. Como os hidrogramas de escoamento superficialcorrespondem a chuvas efetivas de mesma duração e têm o mesmo tempo de base, considera-se que as ordenadas dos hidrogramas serão proporcionais à intensidade da chuva efetiva. 48 Hidrograma Unitário (HU) A aplicação dos princípios de linearidade e superposição levam à definição da chamada equação de convolução discreta. Onde: • Qt = vazão do escoamento superficial no intervalo de tempo t; • h = vazão por unidade de chuva efetiva no HU; • Pef = precipitação efetiva do bloco i; • k = número de ordenadas do HU, que pode ser obtido por k=n-m+1, onde m é o número de pulsos de precipitação e n é o número de valores de vazão do hidrograma. Limitações: A chuva efetiva tem uma intensidade constante dentro da duração efetiva. Essa condição exige que as chuvas sejam de curta duração, já que a taxa de chuva efetiva seria maior e aproximadamente constante no tempo, produzindo um hidrograma melhor definido, com pico único e tempo de base curto. A chuva efetiva está uniformemente distribuída através de toda a área de drenagem. Em virtude dessa condição, a área de drenagem não deverá ser muito grande. Caso seja necessário trabalhar em bacias hidrográficas grandes, a mesma deverá ser subdividida em sub-bacias de modo que se cumpra essa suposição. O tempo de base do hidrograma de escoamento superficial, resultante de uma chuva efetiva, de uma dada duração, é constante. Para que o comportamento da bacia hidrográfica seja considerado linear, é necessário assumir que os hidrogramas de escoamento superficial, gerados por chuvas efetivas de igual duração, têm o mesmo tempo de base, independentemente da intensidade das chuvas efetivas. Esta consideração se estende também ao tempo de pico. O HU de uma duração determinada é único para uma bacia hidrográfica e não varia no tempo. As características do rio não devem ter mudanças e a bacia hidrográfica não deve possuir armazenamentos apreciáveis (sem reservatórios). Hidrologia 49 Hidrograma Unitário (HU) Para determinar o HU em uma bacia hidrográfica, é necessário dispor de registros de vazão e precipitação simultâneos. Recomenda-se procurar no histórico eventos causados por chuvas que tenham uma duração entre 1/3 a 1/5 do tempo de concentração. Calcular o volume de água precipitado sobre uma bacia hidrográfica, que é dado por: • Vtot = volume total precipitado sobre a bacia; • Ptot = precipitação total; • A = área de drenagem da bacia. Fazer a separação do escoamento superficial, onde para cada instante t a vazão que escoa superficialmente é a diferença entre a vazão observada e a vazão de base: Determinar o volume escoado superficialmente, calculando a área do hidrograma superficial, que pode ser obtida conforme: • Qe = vazão que escoa superficialmente; • Qobs = vazão observada no posto pluviométrico; • Qb = vazão base, extraída do gráfico. • Ve = volume escoado superficialmente; • Qei = vazão que escoa superficialmente; • Δt = intervalo de tempo de dados. Determinar o coeficiente de escoamento • Ve = volume escoado superficialmente; • Vtot = volume total precipitado sobre a bacia. Determinar a chuva efetiva, multiplicando-se a chuva total pelo coeficiente de escoamento • Pef = precipitação efetiva; • C = coeficiente de escoamento; • Ptot = precipitação total 6.Determinar as ordenadas do HU • Qu = ordenada do hidrograma unitário; • Pu = chuva unitária (10mm, 1mm); • Pef = precipitação efetiva; • Qe = ordenada do hidrograma de escoamento superficial. Hidrologia 1 2 3 4 5 6 Etapas: 50 Hidrograma Unitário (HU) - Exemplo Magalhães (1989) apresenta um exemplo do funcionamento de uma bacia hipotética sujeita a hietogramas efetivos que reproduzimos integralmente a seguir. Seja uma bacia hidrográfica impermeável, com exutório em e, conforme desenho esquemático abaixo. A área total da bacia é de 4.000m², dividida em quatro subáreas (B1, B2, B3 e B4), cada uma com 1.000m². As quatro linhas limítrofes das áreas Bi (i=1 a 4), são isócronas de 4, 3, 2 e 1 horas, respectivamente, sendo, portanto, o tempo de concentração da bacia igual a 4 horas. ed d` ’ c c`ba a` B1 B2 B3 B4 b` A) Sobre essa bacia, considere precipitar uma chuva, uniformemente distribuída, de duração de 1 hora e intensidade constante de 10mm/h. Monta-se o hidrograma da subárea B4. A ascenção começa em t = 0, hora do inicio da chuva, e irá até t=1h, quando termina a chuva. Uma vez que a duração da chuva é igual ao tempo de concentração da subárea, a vazão do pico será igual ao produto da intensidade pela área , isto é, 10m³/h. Para essa bacia hidrográfica, a ascensão é igual à recessão. Como o tempo base da hidrógrafa é a soma do tempo de concentração e do tempo de duração da chuva, o tempo base para o hidrograma de B4 será de 2 horas. Raciocínio similar pode ser feito às outras três subáreas, com a necessidade de defasamento de 1 hora para cada bacia, de modo que seja alcançado o exutório. O hidrograma da bacia será a soma dos triângulos isósceles, apresentando um tempo base de cinco horas (tc + td = 4 + 1) e um pico achatado de 10 m³/h por três horas. Hidrologia 51 Hidrograma Unitário (HU) - Exemplo B) Para podermos perceber a influência do tempo de duração da chuva na forma do hidrograma, considere precipitar sobre a bacia o mesmo volume de chuva durante 4 horas. A intensidade será então de 2,5mm/h. Como a duração da chuva é igual ao tempo de concentração da bacia, o pico será dado pelo produto da intensidade pela área, isto é, 10 m³/h. O ramo ascendente inicia-se em t = 0, hora do início da chuva, e termina em t = 4, hora do término da chuva. O tempo base do hidrograma será de oito horas. Podemos, também, montar o hidrograma da bacia como sendo a soma dos hidrogramas das subáreas. Vejamos, pois, o caso da subárea B4. A ascensão inicia-se em t = 0 e vai ate t = 4, mas como em t = 1 todas as subáreas já está plenamente contribuindo, não há elevação do valor da vazão após t = 1. Durante uma hora após o termino da chuva temos a fase da recessão. Similarmente teríamos os hidrogramas de B3, B2 e B1, com início em t = 1, t = 2 e t = 3, respectivamente. C) Para verificar a influência da distribuição espacial da chuva na forma do hidrograma, façamos precipitar uma tempestade de uma hora de duração e com o núcleo em B4, de tal modo que as intensidades em cada subárea sejam; IB4 = 17,5 mm/h, IB3 = 12,5 mm/h, IB2 = 7,5 mm/h e IB1 = 2,5 mm/h. O hidrograma da subárea B4 será um triangulo isósceles, iniciando-se em t = 0 e com pico de 17,5m³/s em t = 1. Aqueles referentes às subáreas B3, B2 e B1 serão similarmente construídos. O hidrograma total apresentara um pico elevado, logo após o início da chuva, e uma forma assimétrica. Hidrologia 52 Hidrograma Unitário Sintético do SCS (HUS-SCS) A situação mais frequente, na prática, é o da inexistência de dados históricos. Os hidrogramas unitários sintéticos foram estabelecidos com base em dados de algumas bacias e são utilizados quando não existem dados que permitam estabelecer o HU. Os métodos de determinação do HUS baseiam-se na utilização de características físicas da bacia e tem permitido estimar o HU para um local sem dados observados. Hidrograma Unitário Sintético do SCS ou Triangular O hidrograma formado com o uso deste método foi desenvolvido a partir de bacias agrícolas dos Estados Unidos e tem forma triangular. Para a determinação do hidrograma unitário triangular, deve-se inicialmente determinar alguns parâmetros, conforme roteiro a seguir: 1.Determinar o tempo de concentração (tc) da bacia hidrográfica. 2.Determinar o parâmetro tp (horas): • Δt = intervalo de tempo de simulação, obtido a partir da precipitação (h); • tc = tempo de
Compartilhar