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A PENITENCIÁRIAFEMININA DE BOA VISTA SBS 2017

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Prévia do material em texto

* Acadêmica do 8º semestre do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de 
Roraima 
E-mail: evelynmoreira112@gmail.com 
** Acadêmico do 8º semestre do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de 
Roraima 
E-mail: fagneraugusto@outlook.com 
*** Acadêmica do 8º semestre do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de 
Roraima 
E-mail: victorialorencos@hotmail.com 
 
 
A PENITENCIÁRIA FEMININA DE BOA VISTA-RORAIMA COMO UMA 
INSTITUIÇÃO TOTALIZANTE 
 
 
Evelyn Carvalho Moreira* 
Fagner Augusto Camelo de Almeida** 
Victória Santos Lorenço e Silva*** 
 
 
RESUMO O sistema penitenciário regente hoje no Brasil é resultado dos 
processos de transformação do método de punição, que sofre relevantes 
mudanças desde o fim do século XVIII. A prisão tende punir a alma, retirando o 
que o indivíduo tem de maior valor: a sua liberdade. Contudo, como justificativa 
da sua função política-social, essa instituição coloca como sua, a função de 
reeducar e ressocializar os detentos, agora classificados como reeducandos. 
Nesse contexto, o presente artigo pretende fazer uma contextualização da 
penitenciária feminina da cidade de Boa Vista, localizada no estado de Roraima 
- conhecida como Penitenciária Agrícola do Monte Cristo – PAMC Anexo II – 
colocando-a em uma esfera de instituição totalizante, segundo os prismas de 
Erving Goffman e Michel Foucault. A pesquisa realizada parte das perspectivas 
da infraestrutura e dos projetos que são fornecidos na prisão, desde a sua 
própria estrutura quanto às condições que são dadas às reeducandas, como, 
por exemplo, a separação dos indivíduos e os cursos que lhes são oferecidos. 
Um outro ponto que relatamos no estudo realizado, são as questões sociais 
regentes dentro da instituição, a construção simbólica das reeducandas, as 
questões de gênero e as representações dentro desse espaço de convivência. 
 
 
Palavras-chaves: Penitenciária Feminina; Instituições Totalizantes; Mulheres; 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
No presente trabalho, procuraremos abordar o tema “A Penitenciária Feminina 
de Boa Vista – Roraima, como uma Instituição Totalizante”, para tal 
elaboração, fez-se necessário a realização de visitas à esse espaço, de modo 
2 
 
que foram efetuadas no período do mês de junho do ano de 2015. Mais 
concretamente, no desenvolvimento do artigo, foi observada a necessidade de 
sua subdivisão em tópicos, ordenados de tal maneira: Prisão: Uma Instituição 
Totalizante; Infraestrutura e Projetos; E para finalizar o estudo, a Questão 
Social. 
 Procuramos aqui, verificar como a penitenciária feminina de Boa Vista 
influencia as suas reeducandas, ou seja, a sua influência como instituição 
totalizante, e se, a mesma, pode e proporciona uma efetiva transformação do 
indivíduo. 
O artigo está organizado em três tópicos, já relatados acima. No tópico 
1, intitulado “Prisão: Uma Instituição Totalizante”, busca-se fazer um 
levantamento teórico, com base nos referentes sobre o assunto, Erving 
Goffman e Michel Foucault, para dar uma maior sustentação aos assuntos 
levantados na penitenciária e relatados no artigo; O tópico 2, “Infraestrutura e 
Projetos”, busca abordar o que, e as condições, do que é oferecido às 
reeducandas; E, por fim, no último e terceiro tópico, a “Questão Social” da 
prisão estudada, observando suas presentes questões de gênero, a 
reincidência e as representações dentro da instituição. 
Para a realização do nosso trabalho, fizemos uso de pesquisas 
bibliográficas para o levantamento do referencial teórico à embasar todo nosso 
estudo. Para a efetiva aplicação no contexto decidido à ser estudado, logo, a 
penitenciária feminina de Boa Vista, optamos por fazer visitas como meio da 
pesquisa de campo, e procuramos enriquecer nosso material com as 
entrevistas e questionários aplicados. 
 
2 PRISÃO: UMA INSTITUIÇÃO TOTALIZANTE 
 
No período final do século XVIII e começo do século XIX, iniciou-se a 
diminuição gradativa de espetáculos punitivos, assim, deixando de ser o corpo 
o principal alvo de repressão penal. A execução pública adquiriu cunho 
negativo, expondo os espectadores a atrocidades que queriam evitar, além de 
ser vista como incentivadora da violência. As punições por delitos passaram 
então a ser “(...) menos diretamente físicas, uma certa discrição na arte de 
fazer sofrer, um arranjo de sofrimentos mais sutis, mais velados e despojados 
de ostentação. ” (FOUCAULT, 2009, P.13). 
 A partir desse contexto, a pena passa a ter um procedimento 
burocrático, carregando as funções de corrigir e reeducar. O castigo, que agora 
era da alma e não mais do corpo, ganhou suavidade, mais respeito, 
humanidade e menos sofrimento. O suplício – tortura – não era mais aceito, 
sendo considerado pela população como vergonhoso e revelador da tirania, do 
“cruel prazer de punir”. A humanidade do indivíduo deveria ser respeitada 
enquanto lhe era aplicada a punição. “O castigo deve ter a ‘humanidade’ como 
‘medida’.” (FOUCAULT, 2009, P.72). 
3 
 
 Em meio a tal processo de reforma do sistema penal, o ato de punir não 
era mais considerado como vingança do soberano, e sim, como defesa da 
sociedade, de forma que o infrator passou a ser considerado como um inimigo 
comum de todos. Nesse momento, se fazia necessário punir suficientemente 
de modo que viesse a impedir a repetição do delito. 
 A individualização das penas começa a surgir como questão, de modo 
que se vê na sociedade a necessidade de classificar os crimes e castigos, 
levando em consideração as características únicas próprias de um que comete 
delito. Para Foucault, a pena deve ser responsável por transformar, modificar, 
estabelecer sinais e organizar obstáculos. 
 O pensador francês destaca a prisão como forma geral de castigo, para 
ele, a prisão é incompatível com a ideia de pena-efeito. 
 
“[...] o teatro punitivo onde a representação do castigo teria sido 
permanentemente dada ao corpo social, são substituídos por uma 
grande arquitetura fechada, complexa e hierarquizada que se integra 
no próprio corpo do aparelho do Estado.” (FOUCAULT, 2009, P.111) 
 
Podemos classificar a prisão como uma instituição totalizante segundo 
os conceitos de Erving Goffman: 
 
Uma instituição total pode ser definida como um local de residência e 
trabalho onde um grande número de indivíduos com situação 
semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável 
período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente 
administrada. (GOFFMAN, 1974, P. 11) 
 
 O modelo de penitenciária de Gand, citado por Foucault em seu livro 
“Vigiar e Punir”, se organizava envolta dos ditos imperativos econômicos, uma 
vez que constatou-se a ociosidade como causa geral da maior parte dos 
crimes. Dessa maneira, as prisões passaram a ter uma política de trabalho, 
tendo logo bons resultados como a diminuição de processos e formação de 
novos trabalhadores. O trabalho era obrigatório e em troca o detendo 
melhorava suas condições dentro e posterior à estada na instituição. Assim, 
“(...) a prisão constituirá um ‘espaço entre dois mundos’, um lugar para as 
transformações individuais que devolverão ao Estado os indivíduos que este 
perdera.” (FOUCAULT, 2009, P.119). 
 Depois disso, os ingleses colocaram o isolamento como condição de 
reeducação e correção. Para Goffman 
 
Seu ‘fechamento’ ou seu caráter total é simbolizado pela barreira a 
relação social com o mundo externo e por proibições a saída que 
muitas vezes estão incluídas no esquema físico - por exemplo, portas 
fechadas, paredes altas, arame farpado, fossos, água, florestas ou 
pântanos. (GOFFMAN, 1974, P.16) 
 
4 
 
 O encarceramentoentra no sistema civil e penal com a finalidade de 
transformar a alma e o comportamento do indivíduo, a sociedade teme ao 
sistema de funcionamento dessa instituição, se tornando instrumento de devida 
conscientização e aprendizado. O que se pretende não é apagar o crime, e sim 
evitar a sua reincidência, como foi dito anteriormente. A punição tem como 
objetivo transformar o culpado. 
 Para Foucault, a “arte de punir” não deve visar a repressão, ela deve 
normalizar de acordo com as cinco operações distintas por ele levantadas: 
relacionar desempenhos, diferenciar os indivíduos, medir e hierarquizar as 
capacidades, fazer funcionar a coação de maneira que trace o limite que define 
“a diferença entre todas as diferenças”. 
 A prisão é um castigo igualitário na sociedade. O tempo, ou a liberdade, 
que não pertence mais ao condenado, nos remete a ideia de que o delito lesou 
não somente a, ou as, vítimas, e sim toda a sociedade. 
 O pensador francês defende que a prisão deve cuidar e ter 
responsabilidade perante todas as esferas do indivíduo, seu corpo, trabalho, 
comportamento, moral etc. Não sendo assim, somente uma privação da 
liberdade. 
 Em busca de orientar na constituição de um bom sistema penitenciário, 
Foucault aponta as sete máximas universais da boa “condição penitenciária”, 
sendo elas: 
1. Princípio da Correção: A detenção deve ter como seu objetivo principal a 
recuperação e a reclassificação social do indivíduo; 
2. Princípio da Classificação: Deve haver separação dos indivíduos de 
acordo com a gravidade de seu delito, sua idade, as técnicas de 
correção a lhe ser aplicada, as fases de sua transformação etc; 
3. Princípio da Modulação das Penas: As penas devem se adequar e sofrer 
modificações de acordo com os resultados obtidos dos detentos, seus 
progressos ou recaídas; 
4. Princípio do Trabalho como Obrigação e Direito: O trabalho é parte 
responsável pela transformação dos detentos; 
5. Princípio da Educação Penitenciária: O ensino como responsabilidade 
do Estado para com os detentos; 
6. Princípio do Controle Técnico da Detenção: O controle penitenciário 
deve ser realizado por profissionais especializados, que tenham 
capacidade moral e técnica para contribuir com a reeducação do 
indivíduo; 
7. Princípio das Instituições Anexas: Dar assistência aos detentos durante 
e depois da pena, de modo que facilite a sua ressocialização. 
 O sistema penitenciário apresenta-se na verdade como o fiasco da 
justiça penal, apresentando uma série de argumentos em defesa dessa 
afirmativa, como a questão da não diminuição da taxa de criminalidade, na 
verdade, a população carcerária só aumenta dia após dia; A penitenciária é 
5 
 
uma verdadeira escola do crime, onde se misturam responsáveis pelos mais 
diversos tipos de delitos, dos mais graves aos mais brandos, fabricando assim, 
cada vez mais delinquente. 
 
 
3 INFRAESTRUTURA E PROJETOS 
 
O sistema prisional em Roraima é constituído de algumas unidades 
prisionais, a única que tem suporte ao público feminino é a cadeia feminina que 
é anexa à Penitenciaria agrícola de Monte Cristo (P.A.M.C.). A sua unidade 
tem capacidade para abrigar 72 pessoas detidas, sendo ela inaugurada no ano 
de 2005 para fazer a separação dos detentos dos sexos masculino e feminino. 
 No dia 20 de Junho de 2015, foi feita uma pesquisa em campo à 
população carcerária feminina, no dia estavam cerca de 114 reeducandas, 
dentre elas estavam 32 condenadas, 53 preventivadas (aguardando 
julgamento), 7 albergadas (estão sem emprego), 22 semi aberto, sendo que 
existem 11 foragidas da justiça e 57 em prisão domiciliar (Conforme dados 
informados por agentes penitenciários de plantão). 
 A unidade em questão apresenta sua segurança de forma primária, 
tendo pouco efetivo de agentes penitenciários e em seus arredores apenas 
cercas de proteção. Diferente de outras unidades do mesmo sistema, o seu 
apoio inicial é a PAMC (Penitenciaria Agrícola do Monte Cristo), por ser anexo 
a ela, a sua estrutura física não é muito boa e pode ser considerada precária, 
algumas reeducandas desse sistema em questão falam que já estiveram por 
várias vezes, engenheiros que avaliaram a estrutura e a condenaram por não 
dar segurança nem para os servidores e nem para sua população carcerária. 
 Na pesquisa foi constado que aproximadamente 90% das reeducandas 
foram condenadas ou aguardam sentença pelo Artigo 33 da Lei nº 11.343 de 
23 de agosto de 2006 que diz: 
 
“Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, 
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, 
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a 
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem 
autorização ou em desacordo com determinação legal ou 
regulamentar”. (FONTE: http://www.jusbrasil.com.br) 
 
 A unidade possui algumas salas onde durante o dia são ministrados 
cursos, palestras e onde também são dadas as aulas para possibilitar à elas 
que concluam o ensino fundamental e médio. Dentre os cursos, os 
profissionalizantes são oferecidos em parceria com o Sistema “S” SENAI 
(Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), SEST (Serviço Social do 
Transporte), SENAT (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), 
SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), SESC (Serviço Social do 
Comercio), SESI (Serviço Social da Industria) e também parceiros como IFRR 
6 
 
(Instituto Federal de Roraima) e a UFRR (Universidade Federal de Roraima). 
No período noturno, finais de semana e feriados as salas são utilizadas como 
alojamentos para as reeducandas que estão no regime semi aberto e 
albergadas. 
 Outras estruturas que a penitenciaria apresenta é uma biblioteca 
contendo grande acervo de livros didáticos, porém, a maioria é bem antigo não 
podendo ser descrito apto para uso didático e uma cozinha onde são 
promovidos cursos de panificação. Também são fornecidos outros cursos como 
de bijuteria em papelão e jornal e também hortifrúti orgânico em hortas. 
 Durante a semana, grupos religiosos vão a penitenciaria prestar seus 
serviços de fé ás reeducandas, cada igreja/congregação em um dia especifico 
em que podem ir até lá, sendo elas: A igreja Assembleia de Deus as 
Segundas-Feiras, A Igreja Católica às Terças-Feiras, A Igreja Cristo é Amor às 
Quartas-Feiras e A Igreja Universal às Sextas-Feiras. As reeducadas durante a 
semana têm um tempo em que podem ensaiar peças e músicas para serem 
apresentadas durante os cultos. 
O sistema de saúde dentro do regime penitenciário feminino é o mais 
precário possível, funcionários que deveriam fazer atendimento médico duas 
vezes por semana, estavam ausentes em vários momentos e que até o dia 20 
de junho de 2015, segundo as reeducandas, já se passavam mais dois meses 
desde o último atendimento médico. Quando se faz necessário, o atendimento 
médico as mesmas solicitam aos servidores que muitas vezes nem ligam para 
o SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e Corpo de Bombeiros, 
pois as agentes penitenciárias dizem que eles não vêm prestar o devido 
socorro, então elas têm que levar as reeducandas que precisam de 
atendimento médico nos seus veículos próprios, em virtude de as viaturas 
muitas das vezes não ter combustíveis ou a própria viatura está inoperante. 
Foi informado que a instituição tem uma estrutura para atendimento 
médico e odontológico, um dos parceiros na área da saúde é o posto médico 
do bairro Caranã, quando elas fazem a solicitação para consulta médica 
particular, elas precisam de uma solicitação do médico de forma antecipada. 
Um fator observado, foi de que é através da direção da penitenciária que elasdevem recorrer para consultas com médicos específicos, por exemplo, os 
ginecológicos, não estando asseguradas toda uma assistência médica 
especializada. As reeducandas disseram que na administração, perdem as 
guias de consultas e guia de remédios, comentando também a escarces de 
remédios que algumas de lá precisam de remédios e as que têm, são de 
familiares que levam em dias de visitas. Outro ponto que obtivemos 
conhecimento foi o qual a psicóloga que faz o atendimento a elas, nunca ter 
entrado no pátio da unidade, nem mesmo ter visitado as alas e as selas. 
 
 
 
 
7 
 
4 QUESTÃO SOCIAL 
Para Foucault, as prisões existem como um sistema punitivo, um 
sistema ou subsistema social do “sistema capitalista”. A prisão é um local de 
restrição de liberdade com a intenção de ressocialização dessas pessoas em 
indivíduos de temperamento doce e obediente. Mas o que se vê é um sistema 
de exclusão social, de confinamento e opressão. Essa instituição que deveria 
servir para ressocializar o indivíduo, na verdade ressocializar a princípio, para 
sobreviver dentro do próprio espaço prisional. Por que logo de início é preciso 
aprender a resistir com vida e longe de confusões, obedecer é a palavra de 
ordem, tanto do sistema prisional, quanto do “código dos presos”, normalmente 
aplicado por uma chefe interna entre elas. Reconhecer e obedecer as regras 
internas contribuem para uma rápida socialização entre as detentas e com os 
agentes prisionais. 
 Essas relações são cheias de simulações e armadilhas para os dois 
lados. Em relação aos agentes, eles aprendem a conhecer as regras internas e 
o jogo prisional na vivência do dia-a-dia e vão desenhando e construindo suas 
próprias leis internas. As reeducandas por sua vez, demonstram se sujeitar as 
regras. Essa rede de poder (existente dos dois lados) é alimentada e mantida 
por meio de concessões feitas nas duas mãos, de um lado os agentes e do 
outro as reeducandas. Ambos usam dessa negociação como forma de manter 
a paz interna, as concessões são a moeda de troca fornecida pelo sistema em 
troca da cooperação das detentas. 
 Michel Foucault afirma que a prisão se constitui numa “máquina 
abstrata” que opera tanto no domínio das ações discursivas como não 
discursivas. 
2.1 O presídio feminino de Boa vista- Questões de gênero 
 As grandes questões familiares continuam existindo mesmo dentro da 
prisão, questões relacionadas a saúde feminina, gravidez, etc. A reeducanda 
não conta com o apoio do companheiro, diferentemente do cenário prisional 
masculino. A grande maioria foi condenada ou processada por delitos 
associado ao tráfico de drogas. As detentas são, em maior número, mulheres 
jovens, de baixa escolaridade e de camadas sociais mais pobres da cidade. 
Essas características reforçam os problemas existentes antes de serem presas 
e depois no que tange a manutenção da família e os cuidados com os filhos. 
Algumas detentas vinculam sua detenção, e seu envolvimento no mundo 
do crime a influência de parceiros masculinos. Quando fazem isso, mesmo sem 
querer reforçam o que lhes é socialmente atribuído: mulheres são pessoas 
frágeis. 
8 
 
Observamos no local que as detentas cuidam de si e do espaço que elas 
têm como “casa”, mesmo que temporariamente. Há um cuidado com a 
aparência e com a decoração das camas evidenciando as características de 
gênero dentro do contexto de representação social que classificam as mulheres 
como vaidosas e seres que cuidam e zelam pela organização, decoração e 
limpeza do lar. Essas mulheres buscam tornar familiar e aconchegante o 
ambiente frio da prisão, daí os cuidados em arrumar para que se pareça com 
as suas casas. A "casa" é ainda, para algumas, o ultimo vestígio de identidade 
que as detentas tentam manter, seja pelos laços familiares (filhos/pais) ou pelo 
simples fato de remeter a uma época "antes de ser presa". Esse contexto as 
vezes nem real é. Porque algumas nunca tiveram casa ou família. Mas o 
exercício (as vezes memoria), de ter um lar, é relatado em cada depoimento. 
2.2 Reincidências x Mercado de Trabalho 
 A maioria das detentoras, cerca de 60% reincidem segundo dados da 
UNICEF. Isso demonstra que ainda falta políticas públicas voltadas para 
educação e trabalho. É sabido que a instituição que deveria ser um instrumento 
de ressocialização, as vezes acaba sendo uma escola para o crime. O Brasil 
convive com o abandono do sistema prisional. A instituição prisional brasileira 
busca reinserir na sociedade pessoas reabilitadas pelo sistema, mas como 
confiar em uma instituição que pouco oferece para que a situação seja 
revertida? Superlotação, espaços físicos depredados, alimentação precária e 
quase nenhum programa educacional ou profissional? 
A reincidência criminal está associada em grande parte a dificuldade da 
mulher se reinserir no mercado de trabalho. Uma ex-detenta sempre levará 
consigo a marca da desconfiança, o contexto da falta de qualificação e 
educação. O estigma de ex-presa e a falta de um programa efetivo de políticas 
voltadas para essas mulheres contribuem para a marginalização delas no meio 
social. O apoio da família é indispensável para a total reintegração dessas 
mulheres dentro da sociedade. 
A Holanda fechou 8 presídios em 2012 e a Suécia fechou 4 instituições 
prisionais nos últimos anos. Porque esses países conseguem fechar cadeias? 
E a população carcerária brasileira só vem aumentando nos últimos anos? 
O médico Dráuzio Varella vem comentando sobre o assunto dentro de 
seus livros sobre as prisões brasileiras. 
Na periferia de nossas cidades, milhões de crianças e 
adolescentes vivem em risco para a violência. São tantos 
que é de se estranhar... o número que envereda pelo 
crime...Nossa saída é oferece-lhes educação, qualificação 
9 
 
profissional, e trabalho decente, antes que sejam 
cooptados pelos marginais para trabalhar em regime de 
semiescravidão... O lema ‘lugar de bandido é na cadeia’ é 
vago e demagógico. (VARELLA, 2012) 
2.3 Goffman e a Representação do Eu 
 Em seu livro (A Representação do Eu na vida Cotidiana), Goffman trata 
das relações sociais entre os indivíduos, sendo essa uma característica de um 
determinado momento, em um determinado local em um grupo. As informações 
que se obtém de um determinado indivíduo, para Goffman, pode-se aguardar o 
que se espera dele e vice-versa. Nesse evento de interação, o indivíduo deverá 
se demonstrar e surpreender os seus observadores, que envolve as atividades 
de comunicação de expressão transmitida e emitida, sendo ela verbal ou não 
verbal, intencional ou não. 
Para Erving Goffman, os indivíduos podem influenciar pelas suas ações, 
por algumas vezes de forma teatral, esperando de seus observadores, a 
atenção de seu interesse, mas por outras vezes agirá de forma teatral sem ter 
consciência disto. Afirma também que certo indivíduo, possuindo essas 
características, deva ter um poder moral socialmente construído, possuindo-a 
ou mesmo simulando. 
2.4 A Representações no Espaço Prisional da cadeia feminina de Boa Vista-
RR 
Teoricamente, analisar as representações sociais na cadeia feminina de 
Boa Vista, permite-nos descobrir como socialmente esse mundo em que elas 
vivem, se constrói e se propaga dentro e fora da cadeia. A representação é 
construída cotidianamente, onde podem nortear o comportamento e as 
relações sociais. Somos então por ela, colocados em prática, como desenhar 
esses significados socialmente formados. Na sua construção de 
representação, podemos comentar de algumas formas, deste as noções 
midiáticas que elas possuem (Tv, jornais, internet e etc.) e também daquele 
momentoque são apreendidas pelos policiais que as pressionam de como é a 
vida na cadeia. 
No espaço prisional, podemos observar os objetos que as 
representações possuem, destes as relações, o espaço, o cenário em si. 
Explanar como essas mulheres que estão na prisão, vivem, é tentarmos 
perceber a vida delas nesse espaço, que envolve todo um contexto deste a 
punição e a sua reinserção social. A representação social sobre a prisão é de 
certa forma abstrusa, por que envolve todas as relações com as pessoas 
internas do espaço prisional, com os agentes penitenciários por exemplo, aos 
10 
 
seus visitantes/familiares e por fim as práticas construídas das representações 
do local e fora como instituição totalizante. 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O espaço prisional sofreu diversas transformações ao longo de seus, 
aproximadamente, 200 anos de existência. Passamos por processos de 
modificações das penas e hoje, a prisão é um dos instrumentos de 
penalização, porém, não é, e não deve ser essa a sua principal função. Com o 
passar dos anos, as sociedades se transformam, e com isso, é necessário que 
se atenda às suas demandas, sendo assim, hoje, necessitamos de que 
aqueles que são privados de sua liberdade passem por um processo de efetiva 
reeducação e ressocialização. 
 De acordo com nossas pesquisas, foi possível observar como o sistema 
prisional, de um modo geral e também na instituição feminina de Boa Vista, é 
falho e a sua precariedade estrutural. A unidade estudada não segue com rigor 
as sete máximas universais da boa condição penitenciária, citada por Foucault 
em seu livro Vigiar e Punir, e levantada por nós no primeiro tópico do presente 
artigo. A superpopulação carcerária atrapalha o trabalho dos agentes, e 
consequentemente, não conseguem tem um efetivo controle das reeducandas. 
A precariedade da infraestrutura, como a falta de esgotos, má qualidade da 
água e baixo nível de segurança, são elementos que nos reafirmam a falha 
desse sistema. Quando tratamos as questões sociais, o índice de reincidência 
é a maior prova de que as encarceiradas não são reeducadas da forma que 
deveriam, assim, podemos afirmar que a prisão não cumpre de fato a sua 
função na sociedade. 
 Portanto, urge a necessidade de repensar a instituição prisão, a sua 
funcionalidade e o retorno dado à toda sociedade, inclusive à carcerária. É de 
extrema importância que toda a comunidade acadêmica esteja atenta para 
esse assunto, uma vez que a partir dela, através de nossas pesquisas 
podemos, em uma perspectiva positiva, atentar todo o restante da nossa 
população e até mesmo nossos parlamentares. Dessa maneira, não 
esgotamos aqui a nossa pesquisa, o tema é de grande amplitude e 
complexidade, desejamos que nosso pequeno trabalho desperte curiosidade e 
novos olhares para enriquecimento acerca da temática. 
 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir – História das violências nas prisões, 
Tradução de Raquel Ramalhete, 13 ed., Vozes, Petrópolis, 1996. 
 
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. (Título Original: 
Surveiller et punir. Traduzido por Raquel Ramalhete). 37. ed. Petrópolis, RJ: 
Vozes, 2009. 
11 
 
 
GOFFMAN, Ervin. Manicômios, Prisões e Conventos. São Paulo. Editora 
Perspectiva, 1961. 
 
GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos, São Paulo, 
Perspectiva, 1974. 
 
VARELLA, Dráuzio. Estação Carandiru. São Paulo. Companhia das Letras, 
1999.

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