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O Empirismo de Locke, Berkeley e Hume

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O Empirismo de Locke, Berkeley e Hume
Críticas às teses cartesianas
Thomas Hobbes apresentou diversas objeções à abordagem cartesiana, dentre elas a de que a inferência que Descartes faz da proposição ‘sou uma coisa que pensa’ para a proposição ‘sou pensamento’ é inválida: embora a primeira seja verdadeira, a segunda não segue logicamente dela.
A abordagem de Hobbes tem viés fisicalista, buscando explicar os processos mentais em continuidade aos processos físicos que existem fora de nossos corpos, que seriam origem dos processos mentais. Tal perspectiva será adotada pelos três empiristas que estudaremos.
Além disso, retomam as críticas apresentadas à metafísica aristotélica e medieval por Francis Bacon.
Origem e relação das ideias
Locke critica a doutrina das ideias inatas de Descartes: se existissem tais ideias, todas as pessoas deveriam ter as mesmas ideias sobre determinados assuntos, o que não parece ser o caso.
Ideia = tudo aquilo que está presente ao entendimento, i.e., tudo aquilo a que a mente se aplica ao pensar.
Assim, não podem existir ideias as quais não temos consciência.
Embora muito limitado, tal modelo do intelecto se mostrou uma alternativa útil ao racionalismo e foi posteriormente aperfeiçoado por Berkeley, Hume e o próprio Kant.
Origem e relação das ideias
Se não existem ideias inatas, como chegamos às ideias que temos?
Locke pressupõe a mente como uma folha em branco no qual a experiência vai imprimindo suas marcas.
A experiência tem um caráter duplo, pois tanto as percepções das coisas fora de nós quanto as percepções que temos do funcionamento interno de nossos próprias mentes podem ser origem de ideias.
Assim, todas as ideias são produzidas por sensação ou reflexão.
Além da contemplação atual de uma ideia, a memória é uma forma de retenção de ideias, que nos permite reviver percepções que tivemos outrora.
Origem e relação das ideias
Locke também distingue entre ideias simples e complexas: as ideias fornecidas pela experiência são simples, mas o entendimento é capaz de formular ideias complexas a partir das simples. 
P. ex.: a ideia de uma montanha de ouro pode ser formulada a partir das ideias simples de montanha e de ouro, embora a experiência não seja origem de tal ideia.
Há também as ideias de relações e o poder de abstração, que produz as ideias gerais.
P. Ex.: as ideias de montanha, vale, ilha, nos levam a ideia de acidente geográfico.
Qualidades primárias e secundárias
Qualidades primárias (ou originais) dos corpos são aquelas que não se pode deles separar, como solidez, extensão, formato e mobilidade.
As qualidades secundárias (ou sensíveis) são também produzidas em nós pelos corpos, mas não podem ser atribuídas a eles propriamente, como cores, sons, gostos, etc.
A diferença fundamental entre elas é que as primárias pertencem aos corpos quer os percebamos ou não, ao passo que as secundárias são aquelas produzidas em nós pelos corpos, mas que estão apenas na mente.
Qualidades primárias e secundárias
Além das qualidades primárias e secundárias, Locke fala de um terceiro tipo de qualidade, que denomina poderes.
Também não podem ser atribuídas aos corpos, mas dependem das qualidades primárias deles, permitindo-lhes agir sobre outros corpos.
Se em virtude das qualidades primárias um corpo age sobre um terceiro, e este que produz em nós ideias diferentes daquelas que produzia antes, então temos esse terceiro tipo de qualidades, percebidas por mediação. Ex. Calor do sol sobre pedaço de cera.
O ponto importante é que os corpos fora de nós são capazes de produzir certas ideias que não trazem conhecimento do que os corpos são em si mesmos, mas apenas como eles agem sobre nós. Assim, a mente conhece apenas suas próprias ideias.
Fenomenalismo
Berkeley leva ás últimas consequências a noção de que algumas propriedades dos corpos não pertencem a eles mesmos, mas às ideias que eles provocam em nós (fenômeno);
Defende um ponto de vista idealista e fenomenalista.
“Ser é ser percebido.”
Toda realidade é mental – as coisas materiais só existem quando percebidas por uma mente.
Não podemos perceber as qualidades primárias de um corpo independentemente de suas qualidades secundárias.
Fenomenalismo
Embora sirva para apoiar a posição filosófica de que só podemos conhecer o que está presente ao entendimento, essa doutrina recoloca o problema de distinguir ficção de realidade.
Como eu sei que as coisas continuam existindo quando ninguém as percebe?
Fenomenalismo
Embora sirva para apoiar a posição filosófica de que só podemos conhecer o que está presente ao entendimento, essa doutrina recoloca o problema de distinguir ficção de realidade.
Como eu sei que as coisas continuam existindo quando ninguém as percebe?
Deus está permanentemente percebendo todas as coisas.
É possível distinguir ficção de realidade pelo caráter involuntário das ideias que temos.
Causalidade e hábito
Hume: nossas percepções são de dois tipos:
Impressões - são nossas percepções mais fortes e vivazes – sensações internas e externas (visão, paladar, amor, desejo,...)
Ideias – são cópias das impressões, por isso mais fracas e tênues.
As ideias ou pensamentos se dão quando, pela memória, recordamos alguma impressão, ou, pela imaginação, a antecipamos.
As impressões nos dão as ideias simples, que podem ser combinadas pelo entendimento.
Devemos perguntar: De que impressões a ideia x deriva? Ou, se deriva de outras ideias, de que impressões essas últimas derivam?
Causalidade e hábito
Segundo Hume, há três princípios de associação de ideias:
Semelhança (quando olhamos para um retrato de uma pessoa, ou uma caricatura, etc.)
Contiguidade (quando falamos em um dia da semana, podemos pensar no dia anterior ou posterior, etc.)
Causação (quando vemos uma pessoa se machucar, associamos a dor que irá sentir)
Além disso, há dois tipos de objetos de conhecimento:
Relações de ideias (as verdades são alcançadas apenas pelas operações do entendimento, independem do que existe no mundo – p.ex. as verdades matemáticas e lógicas). Devemos apenas evitar contradições.
Questões de fato – diz respeito ao mundo - seu contrário é sempre possível (p.e.x o sol irá nascer amanhã)
Causalidade e hábito
O ponto principal de Hume é que todos os nossos raciocínios sobre questões de fato estão baseados no princípio da causalidade.
A relação causa e efeito é o único modo pelo qual podemos ir além do que está imediatamente dado pelos sentidos ou presente na memória. Todo nosso conhecimento do mundo depende dessa relação e devemos, portanto, investigar sua fundamentação.
Nossas expectativas e predições se baseiam na ideia de que o que ocorreu no passado continuará a ocorrer no futuro (o sol irá aquecer, a água irá saciar a sede, etc.)
O poder causal e a relação entre dois objetos se dá através da experiência, pela observação de uma conjunção constante entre dois eventos A e B. 
Causalidade e hábito
Se em questões de fato o contrário é sempre possível, que fundamento nossas conclusões sobre tais assuntos pode ter?
Hume sustenta que não há nenhum fundamento racional em nossas inferências desse tipo, não temos nenhuma garantia que o curso da natureza não irá se alterar.
Esse é o famoso problema da indução, que por muitos é chamado de problema de Hume.
Através da observação de casos particulares em que duas coisas estão correlacionadas, não podemos concluir seguramente que elas sempre estarão correlacionadas dessa maneira. 
A experiência só nos dá conjunções constantes entre objetos, mas não relações necessárias entre eles.
Causalidade e hábito
Se adotarmos uma posição empirista, segundo a qual todo conhecimento de questões de fato provém da experiência, então o próprio princípio de uniformidade da natureza também deriva dela e não pode, portanto, fundamentar o restante do conhecimento que temos dos fenômenos naturais.
Princípio do hábito (costume): a natureza nos constituiu de tal forma que somos levados a adquirir crenças causais quando nos deparamos com repetições na experiência. 
Causalidade
e hábito
O hábito é uma espécie de instinto essencial para a sobrevivência e conservação da espécie humana (assim como de outros animais), e pressupõe uma harmonia pré-estabelecida entre o curso da natureza e o curso de nossas ideias. 
Assim como a natureza nos ensinou a utilizar nossos membros sem conhecermos nada sobre nervos e músculos, do mesmo modo, colocou em nós uma espécie de instinto que nos permite conhecer adequadamente os objetos à nossa volta independentemente de nossa vontade e da própria razão.
A posição de Hume é naturalista no sentido de que o hábito é um fenômeno que conhecemos através do seu efeito em nós, se tornando uma questão de fato. 
Ceticismo Mitigado
Além de naturalista, a teoria de Hume possui caráter falibilista.
Ceticismo Mitigado: posição segundo a qual podemos aceitar as aparências, inclusive as boas hipóteses que as explicam, mas não de uma forma dogmática, como certezas ou verdades incontestáveis, mas apenas como boas explicações.
Uma explicação falível e provisória, mas razoável e plausível do intelecto humano.
Hume se opôs fortemente à qualquer tipo de metafísica, inclusive à tentativa de Descartes de fundamentar a ciência empírica na metafísica.

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