Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO ESCOLA POLITÉCNICA DE PERNAMBUCO PROJETO FINAL DE CURSO Gerenciamento de Demanda e Eficiência Energética em uma Indústria de Separação de Gases do Ar por CARLOS EDUARDO OLIVEIRA BARBOSA Recife, Junho de 2010. 2 UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO ESCOLA POLITÉCNICA DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA Gerenciamento de Demanda e Eficiência Energética na Separação de Gases do Ar por CARLOS EDUARDO OLIVEIRA BARBOSA Monografia apresentada ao curso de Engenharia Elétrica da Universidade de Pernambuco, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Engenheiro Eletricista. ORIENTADOR: EDUARDO HENRIQUE DINIZ FITTIPALDI Recife, Junho de 2010. © Carlos Eduardo Oliveira Barbosa, 2010 3 AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais e irmãos que sempre foram uma fonte de apoio e inspiração. Agradeço ao meu professor orientador Eduardo Henrique Diniz Fittipaldi pela oportunidade e pelo apoio ao longo do projeto. Aos amigos e engenheiros Bentto Fellipe e Romulo Rianzi pela ajuda na elaboração do estudo. Agradeço principalmente a Deus por todos os dias da minha vida. 4 Resumo da Monografia apresentada ao curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica de Pernambuco. Eficiência Energética na Separação de Gases do Ar CARLOS EDUARDO OLIVEIRA BARBOSA Recife, Junho de 2010 Orientador: Eduardo Henrique Diniz Fittipaldi Área de Concentração: Combate aos desperdícios de energia elétrica na indústria. Palavras-chave: Eficiência Energética, Separação dos Gases do Ar, Redução de Energia Elétrica na Indústria. Número de Páginas: 48. O presente projeto tem como objetivo estudar e apresentar a utilização da energia elétrica em uma unidade de separação de gases do ar com o intuito de diagnosticar e apresentar melhorias no consumo de forma economicamente viável tentando além de diminuir o gasto com a energia, elaborar estratégias para consumir menos e de forma mais inteligente. Para ser feito este trabalho, é necessário realizar o levantamento de carga da unidade, estudar o levantamento e fazer o diagnóstico propriamente dito explicitando os desperdícios no consumo de energia ou erro de contratação de energia e por fim, apresentar possíveis mudanças e o custo benefício para fazê-las. No final deste trabalho, após toda a analise realizada no campo e em literatura, foi encontrada uma solução que necessitava apenas de planejamento, sem investimento, do consumo ao longo ano, mas o melhor resultado obtido foi a redução de aproximadamente 20% do custo com a energia elétrica obtido pela mudança de nível de tensão de fornecimento da empresa de separação de gases. O tempo de retorno do investimento relacionado foi de 1 ano e 3 meses. 5 Abstract of Dissertation presented to UPE. Energy Efficiency in Air Gases Separation CARLOS EDUARDO OLIVEIRA BARBOSA June/2010 Supervisor: Eduardo Henrique Diniz Fittipaldi Area of Concentration: Tackling the waste of energy in industry. Keywords: Energy Efficiency, Air Gases Separation, Reduction in Electric Power Industry. Number of Pages: 48. This project aims to study and present the use of electricity in a air gas separation unit with the aim of diagnosing and show improvement in the consumption of an economically viable than trying to reduce spending on energy, develop strategies to consume less and smarter. To be doing this work, it must perform the lifting load of the unit, study the survey and make the proper diagnosis explaining the wasteful consumption of energy or error of contracting energy and finally, discuss possible changes and cost-effective to do them. At the end of this work, after all the analysis performed in the field and in literature, was found a solution that required only of planning, without investment, consumption throughout the year, but the best result was a reduction of approximately 20% of the cost the electrical energy obtained by changing the voltage level of the company's supply gas separation. The time of return of the investment was 1 year and 3 months. 6 LISTA DE SÍMBOLOS Simbologia Descrição °C Bar cv kWh Unidade de temperatura – Grau Celcius Unidade de Pressão Unidade de Potência – Cavalos a vapor Unidade de Energia – Quilowatt-hora kW Unidade de Potência – Quilowatt (Pa) kVA kVArh Unidade de Potência – Quilovolt-Ampere (Ps) Unidade de Potência – Quilovolt-ampere reativo hora kV TWh Unidade de Tensão – Quilovolts Unidade de Potência – Terawatt hora 7 LISTA DE ABREVIATURAS / SIGLAS Termo Descrição ABNT ACL ACR ANEEL CELPE CHESF COLDBOX Cold Box DCA Direct Contact Aftercooler EPE HSA HSV Associação Brasileira de Normas Técnicas Ambiente de Contratação Livre Ambiente de Contratação Regulada Agência Nacional de Energia Elétrica Companhia Energética de Pernambuco Companhia Hidroelétrica do São Francisco Caixa Fria Pós resfriamento de contato direto Empresa de Pesquisa Energética Horo-Sazonal Azul Horo-Sazonal Verde PPM PROCEL Parte por milhão Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica NBR VPSA Vacuum Pressure Swing Adsorption Norma Brasileira Regulamentadora Adsorção na pressão do vácuo 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1.1- Consumo de Energia Elétrica no setor industrial ............................... ................. 13 Figura 1.2- Evolução das vendas em relação à eficiência de motores na Europa . ................. 14 Figura 2.1- Promeira Fábrica de Oxigênio instalada no Brasil. .............................................. 20 Figura 2.2- Comparação entre motor standard e alto rendimento . ......................................... 27 Figura 2.3- Curva de comparação de rendimento entre motor standard x alto rendimento. ... 28 Figura 2.4- Curva de um motor em regime de trabalho contínuo S1............................... ...... 29 Figura 2.5- Curva de um motor em regime de trabalho com carga variável. ......................... 30 Figura 2.6- Curva de um motor em redime de trabalho com potência variável. ..................... 31 Figura 3.1- Esquema simplificado do processo de separação dos gases do ar . ...................... 34 Figura 3.2- Tanque de armazenamento e coluna de destilação ............................................... 34 Figura 3.3- Etapa de filtragem e compressão de uma unidade . .............................................. 35 Figura 3.4- Pré-resfriamento de uma unidade ......................................................................... 36 Figura 3.5- Vasos Pré-purificadores ........................................................................................ 37 Figura 3.5- Coluna de destilação. ............................................................................................ 39 Figura 4.1- Gráfico da carga instalada na unidade . ................................................................41 Figura 4.2- Representação gráfica do consumo de energia elétrica da unidade ...................... 42 Figura 4.3- Consumo médio da unidade................................................................................. 43 Figura 5.1- Relação de Consumo na ponta e fora ponta.......................................................... 45 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1.1 – Consumo de Energia Elétrica no País – EPE / Abril 2010..................................12 Tabela 3.1 – Temperaturas de ebulição em °C do O2, N2 e do Ar...........................................38 Tabela 4.1 – Carga Instalada na Unidade.................................................................................40 Tabela 4.2 – Consumo de energia elétrica mensal da unidade.................................................42 Tabela 5.1 – Levantamento contrato do subgrupo A3..............................................................46 Tabela 5.2 – Tarifas da Celpe (Horo-sazonal Azul) Subgrupo A3...........................................47 Tabela 5.3 – Tarifas da Celpe (Horo-sazonal Azul) Subgrupo A1...........................................48 Tabela 5.4 – Levantamento do contrato subgrupo A1..............................................................48 Tabela 5.5 – Comparação motor standard x alto rendimento...................................................52 10 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11 1.1 - Contextualização do assunto ........................................................................................ 11 1.2 - Motivação do Trabalho ................................................................................................. 15 1.3 – Objetivos do Trabalho ................................................................................................. 16 1.3.1 – Objetivo Geral ....................................................................................................... 16 1.3.2 – Objetivo Específico ............................................................................................... 16 1.4 – Metodologia Utilizada ................................................................................................. 17 1.5 – Organização do Trabalho ............................................................................................. 18 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 19 2.1 – Histórico ....................................................................................................................... 19 2.2 – Aspectos Tarifários – Conceitos Básicos ..................................................................... 20 2.3 – Motores de Alto Rendimento – Conceitos Bádicos ..................................................... 26 3. SEPARAÇÃO DOS GASES DO AR ................................................................................ 33 3.1 – Filtragem e Compressão .............................................................................................. 34 3.2 – Pré – Resfriamento ....................................................................................................... 35 3.3 – Purificação ou Pré – Purificação .................................................................................. 36 3.4 – Separação / Liquefação ................................................................................................ 37 3.5 – Separação / Liquefação (Destilação) ........................................................................... 37 4. CARGA TOTAL INSTALADA NA UNIDADE ............................................................. 40 4.1 – Levantamento da Carga Instalada na Unidade ............................................................. 40 4.2 – Contribuição dos Equipamentos no Consumo de Energia Elétrica ............................. 41 5. DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO ..................................................................................... 44 5.1 – Análise Tarifária e Estudo da Curva de Carga ............................................................. 44 5.1.1 – Características da Empresa ................................................................................... 44 5.1.2 – Estudo de Caso ...................................................................................................... 44 5.2 – Análise da troca dos motores existentes por motores de alto rendimento ................... 50 5.1.1 – Características da Empresa ................................................................................... 50 5.1.2 – Estudo de Caso ...................................................................................................... 50 6. VIABILIDADES ................................................................................................................. 53 6.1 – Viabilidade econômica e tempo de retorno do investimento ....................................... 53 7. CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS ................................................................... 55 7.1 – Conclusão ..................................................................................................................... 55 7.2 – Trabalhos Futuros ......................................................................................................... 55 8. ANEXOS ............................................................................................................................. 56 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 58 11 1. INTRODUÇÃO 1.1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DO ASSUNTO Qualquer atividade em uma sociedade moderna só é possível com o uso de uma ou mais formas de energia. A energia é empregada intensamente na sociedade em geral e em tudo o que se faz. Surge então a necessidade de utilizá-la de modo inteligente e eficaz. E entre as suas diferentes formas interessam em particular aquelas que são processadas pela sociedade e colocadas à disposição dos consumidores onde e quando necessárias e entre estas, cita-se a energia elétrica. Pode-se afirmar com segurança que a energia elétrica é vital ao bem-estar do ser humano e ao desenvolvimento econômico no mundo contemporâneo. A racionalização do seu uso possibilita melhor qualidade de vida, gerando consequentemente, crescimento econômico, emprego e competitividade. Uma Política de Ação referente à Eficiência Energética tem como meta o emprego de técnicas e práticas capazes de promover o uso “inteligente” da energia, reduzindo custos e produzindo ganhos de produtividade e de lucratividade, na perspectiva do desenvolvimento sustentável. Postergar parte do investimento no aumento da oferta de energia permite ao governo e ao empresário liberarem recursos para outras prioridades, sem perda de qualidade, segurança no abastecimento e com ganhos sociais e ambientais. Devido à crise econômica de 2009, o foco principal das empresas passou a ser a retenção de custos, e entre os vários custos gerenciáveis, seja a empresa do setor industrial ou comercial, a energia vem assumindo, cada vez mais, uma importância crescente, motivada pela redução de custos decorrentes do mercado competitivo, pelas incertezas da disponibilidade energética ou por restrições ambientais. De qualquer forma, seja qual for a motivação, promover a eficiência energética é essencialmente usaro conhecimento de forma aplicada, empregando os conceitos de engenharia, da economia e da administração aos sistemas energéticos. Apesar de esta crise ser recente, há anos que engenheiros, economistas e executivos envolvidos com o sistema energético têm sido frequentemente solicitados a conservar energia e reduzir desperdícios nos mais variados níveis de produção e consumo. São oportunas quaisquer medidas de redução de perdas e de racionalização técnico- 12 econômica dos fatores de produção, observando a importância que o suprimento de eletricidade e combustíveis apresentam em todos os processos produtivos. No decorrer deste trabalho serão mostradas algumas formas de se consumir energia de um jeito eficiente, que além de tornar cada vez mais eficientes as instalações, sistemas e equipamentos devem também, avaliar o montante de energia ou demanda energética necessária ao atendimento de suas necessidades atuais e futuras, bem como adquirir ou contratar no mercado essa disponibilidade energética. Essa aquisição pode ser feita através do Ambiente de Contratação Regulado (ACR) – consumo cativo ou do Ambiente de Contratação Livre (ACL) – consumo livre, ou ainda ocorrer totalmente ou parcialmente através da auto- produção de energia elétrica ou cogeração. A energia elétrica é amplamente utilizada independente do lugar, seja em uma residência, prédio comercial ou indústria de grande porte. Em relação a sua obtenção, hoje se tem vários meios de geração: hidrelétrica, térmica, eólica, termonuclear. No Brasil, as hidrelétricas respondem por 77,61% da capacidade instalada para geração de energia elétrica. A energia originada nas termelétricas representa 20,18% do total. As termonucleares são responsáveis por 2,20%. Os cenários acima descritos indicam que as termelétricas, de construção mais rápida, tendem a aumentar a sua participação na matriz brasileira, como uma forma de a oferta responder mais prontamente ao crescimento da demanda. Além de a energia hidrelétrica ser menos prejudicial ao meio ambiente, é um tipo de energia bastante eficiente, a sua eficiência é de aproximadamente 95%. O investimento inicial e os custos de manutenção são elevados, porém, o custo do combustível, que é a água, é nulo. A classe de maior consumo no Brasil é a industrial, como é mostrado na tabela 1.1. Com aproximadamente 43% no ano de 2009, segundo a tabela 1.1 de consumo de energia elétrica no Brasil fornecida pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). E dentro destes 43% consumidos pela indústria os motores são responsáveis por 55% como é mostrado na figura 1.1. Até o primeiro trimestre de 2010, em relação ao ano anterior, o consumo de energia elétrica cresceu em 9,3%, sendo que a indústria contribuiu com um crescimento de 13% em relação ao ano passado. 13 Tabela 1.1 – Consumo de energia elétrica do país – 2009 Consumo de Energia (GWh) Brasil 388.204 100,00% Residencial 100.638 25,92% Industrial 165.632 42,67% Comercial 65.567 16,89% Outros 56.368 14,52% Fonte: EPE – Abril 2010 Figura 1.1 – Consumo de Energia Elétrica no setor industrial. Fonte: Procel Em um estudo realizado na Europa, dos 1150 Tera Watt hora (TWh) consumidos em 2007 aproximadamente 680 TWh eram consumidos por sistemas motrizes, isto é, compressores, sistemas de refrigeração, bombas, ventiladores e outros equipamentos. A grande parte do consumo de motores eram motores de pequeno e médio porte (1,1 quilowatt (kW) a 11 kW). Tipicamente, motores elétricos são partes de sistemas motrizes, sendo responsáveis pela conversão eletromecânica. Portanto, o consumo de energia elétrica dos sistemas motrizes era correspondente ao consumo de energia dos motores elétricos. Assim como no Brasil, na Europa o motor elétrico é o mais importante tipo de carga na indústria. No Brasil, o motor consome cerca de 50% do total da indústria e na Europa esse número chega a 60%. Foi visto neste estudo que poderia ser obtida uma economia de mais de 25% com a eficiência energética em sistemas motrizes nas indústrias, esse número poderia ser conseguido com o uso de motores de alto rendimento, usando acionamentos de velocidade variável e otimizando os sistemas que incorporam os motores elétricos, incluindo componentes mecânicos e sistemas de distribuição. Em 1999, foi feito um acordo entre os fabricantes de motores e a comissão europeia 14 que representou aproximadamente 80% da produção de motores padrões. Os motores foram divididos em três categorias: EFF1 altamente eficiente, EFF2 eficiência moderada e EFF3 baixa eficiência. A meta do acordo era diminuir a comercialização de motores de baixo rendimento em 50% em relação ao ano de 1998. Em 2007, os EFF3 representavam apenas 2% das novas vendas no mercado e os EFF1 apareciam com 12%. As vendas de motores e a classificação de seu rendimento vêm sendo monitoradas e mostrou que nos anos mais recentes os motores de 4 e 2 polos trifásicos industriais na faixa de potência de 1 a 90 kW são os maiores responsáveis pelo grande consumo de energia e com esse acordo, os fabricantes de motores praticamente não vendem mais os de baixo rendimento. A figura 1.2 mostra o gráfico desta evolução da venda de motores em relação aos seus respectivos rendimentos. Figura 1.2 – Evolução das vendas em relação à eficiência dos motores na Europa Fonte: CEMEP No decorrer do trabalho será visto que em uma unidade separadora dos gases do ar o maior consumo de energia vem do uso dos compressores, sendo viável um estudo de caso para possivelmente efetuar a troca de seus motores pelos de alto rendimento. Este trabalho consiste em diagnosticar as condições de uso da energia elétrica em uma unidade separadora de gases do ar, mostrando os métodos utilizados para a eficiência energética e analisando possíveis melhorias para diminuição de custo de energia elétrica da unidade. 15 1.2 – MOTIVAÇÃO DO TRABALHO A produção de energia elétrica é, entre as atividades desenvolvidas pelo homem, uma das mais intensivas em recursos naturais, produzindo importantes alterações no ambiente, muitas vezes negativas. Considerando a importância crescente da energia para o bem estar da população e para continuidade das atividades econômicas, a busca por um desenvolvimento sustentável passa necessariamente pelo aumento da eficiência e conservação energética, aliadas ao uso de uma variedade de fontes renováveis o mais breve possível. A indústria de separação dos gases do ar é uma grande consumidora de energia elétrica devido ao seu processo ser eletrointensivo, isto é, requer uma grande quantidade de energia. Em um tipo dessa indústria são necessários poucos operadores devido ao seu sistema ser totalmente automatizado. A produção dos gases pode ser praticamente 100% operada remotamente sendo ela totalmente dependente da energia elétrica. Se ocorrer uma falha no fornecimento de energia, toda a indústria para e válvulas eletromecânicas normalmente abertas, com a falta de corrente em seu circuito fecham automaticamente para evitar a contaminação do produto. São duas matérias primas necessitadas para a separação dos gases do ar, o ar e energia elétrica, onde esta última representa um pouco mais de 60% do valor final do produto. Dentro desse aspecto da indústria é visto como a energia elétrica é importante neste tipo de indústria, o que leva ao constante monitoramento e avaliação de consumo de energia. Com a eficiência energética o meio ambiente sofre menos com a construção de novas fontes de energia como as hidrelétricas.Com o pensamento de consumir menos e de forma mais racional possível a energia elétrica, o crescimento do consumo será de forma mais lenta. Para que se consuma a energia elétrica com eficiência, são necessários estudo e desenvolvimento tecnológico de equipamentos e máquinas que estejam cada vez mais produzindo da mesma forma e consumindo cada vez menos. 16 1.3 – OBJETIVOS DO TRABALHO 1.3.1 – Objetivo Geral O presente projeto tem como objetivo geral apresentar as medidas tomadas em uma unidade de separação de gases do ar para uma eficiência energética que além de minorar o custo de energia elétrica aumente a produção de gases liquefeitos na planta. 1.3.2 – Objetivos Específicos O projeto tem os seguintes objetivos específicos: Apresentar as ações tomadas por uma unidade de separação de gases do ar para utilização da energia elétrica de forma eficiente; Apresentar formas de diagnósticos para o uso de energia elétrica deixando um conhecimento básico de como fazer um diagnóstico energético; Estudar possíveis alterações na planta para diminuir o gasto de energia sem perda de produção; Estimular a implantação de programas de gerenciamento energético em unidades industriais. 17 1.4 – METODOLOGIA UTILIZADA Foram usadas literaturas existentes que abordam esses temas para o aprofundamento teórico sobre o que é eficiência energética. Foram usados também, programas que auxiliam na interpretação dos casos. Dados coletados na unidade também fazem parte do escopo deste trabalho, porém os dados de consumo de energia elétrica e valores em reais do custo da energia elétrica foram estimados devido aos dados serem de natureza confidencial da empresa. O desenvolvimento da solução é concretizado a partir da realização de diagnósticos energéticos que constaram numa sequência de atividades, tais como: Estudo da curva de carga, que mostra o comportamento diário do consumo de potência elétrica em função do número de cargas ligadas e da potência consumida. Participação de cada segmento no consumo de energia elétrica. Estudo da tarifação, que é importante compreender a sua estrutura e como são calculados os valores de energia elétrica. É um parâmetro importante para a correta tomada de decisão em projetos envolvendo a conservação de energia. Envolvendo também a compra de energia no mercado livre. Estudo dos equipamentos, que é de fundamental importância para se obter resultados mais precisos de eficiência. No final deste projeto são apresentados os resultados obtidos e suas interpretações, definindo quais estudos em questão se aplicam ou não na eficiência energética, juntamente com a relação de custo-benefício. 18 1.5 – ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO O projeto será divido em cinco capítulos principais, serão eles: Capítulo 1 Introdução: Neste será apresentado a importância da eficiência energética perante toda a sociedade e o conceito de eficiência energética. Também foi falado neste capítulo sobre a motivação do trabalho, objetivos, metodologia utilizada. Capítulo 2 Histórico: É apresentado uma cronologia do começo da separação dos gases do ar. Capítulo 3 Separação dos gases do ar: Esta parte mostra o processo de separação na indústria, um breve passo a passo da produção do oxigênio, nitrogênio e argônio liquido à temperaturas criogênicas. Capítulo 4 Carga instalada total na unidade de separação dos gases do ar: Onde será mostrado o consumo estimado da unidade, o levantamento de carga, separados quais os equipamentos mais consumidores de energia elétrica. Capítulo 5 Diagnóstico Energético: Vão ser analisadas as condições de funcionamento da unidade em relação à eficiência energética propriamente dita. Apresentando quais medidas tomadas pela empresa para o melhor uso da energia elétrica sem deixar de atender o mercado. Capítulo 6 Viabilidades: Nesta etapa será analisada alguma possibilidade de melhoria juntando o aperfeiçoamento técnico da eficiência energética com o custo. Mostrará possíveis ideias a serem implantadas verificando o retorno do investimento se o houver. Capítulo 7 Conclusão e Trabalhos futuros: Com a finalização do estudo de eficiência, será apresentado um diagnóstico final com todas as etapas anteriores e possíveis estudos mais específicos para melhorar o uso da energia elétrica da unidade. 19 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 – HISTÓRICO Cronologia dos eventos históricos ligados à separação do ar atmosférico. 1862 - Alexander C. Kirk, um engenheiro escocês construiu a primeira máquina industrial para produção de ar frio. 1892 - James Dewar desenvolveu um recipiente isolado à vácuo para a estocagem de fluidos criogênicos. 1895 - Carl Von Linde desenvolveu (em escala industrial) e patenteou um processo de liquefação e separação de ar. 1902 - A produção de oxigênio puro e nitrogênio foi obtido de forma comercial, pelo filho de Carl Von Linde, Friedrich, utilizando processo de retificação. No mesmo ano, Georges Claude desenvolveu um sistema prático para liquefação do ar, através de uma máquina de expansão. Neste mesmo ano, ele fundou a l´Air Liquide para comercializar o seu sistema. 1910 - Linde AG desenvolveu a coluna dupla de separação de ar 1912 - Instalada a primeira planta de oxigênio no Brasil, no Rio de Janeiro, como mostrada na figura 2.1. Neste mesmo ano, a Linde Air Produtcs, nos Estados Unidos construiu sua primeira planta de separação de ar. 1930 - Iniciado o uso de bombas para oxigênio líquido. 1932 - A distribuição de produtos líquidos é iniciada nos Estados Unidos. 1937 - O uso de recipientes isolados a vácuo e perlita é iniciado, em escala comercial, nos Estados Unidos. 1948 - Iniciada a instalação de grandes plantas nos Estados Unidos. 1953 - A distribuição de produtos líquidos é iniciada no Brasil. 1970 - Iniciada a instalação de grandes plantas de oxigênio no Brasil. 1990 - Instalada nos EUA a primeira adsorção na pressão do vácuo (VPSA – Vacuum Pressure Swing Adsorption) – planta não-criogênica. 1994 - Instalada a primeira VPSA no Brasil. 20 Figura 2.1 - Primeira Fábrica de Oxigênio instalada no Brasil. 2.2 – ASPECTOS TARIFÁRIOS – CONCEITOS BÁSICOS Seguem adiante conceitos obtidos na resolução 456 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) que ajudam a entender da melhor forma este capítulo. Carga Instalada: soma das potências nominais dos equipamentos elétricos instalados na unidade consumidora, em condições de entrar em funcionamento, expressa em quilowatts (kW). Concessionária ou permissionária: agente titular de concessão ou permissão federal para prestar o serviço público de energia elétrica, referenciado, doravante, apenas pelo termo concessionária. Consumidor: pessoa física ou jurídica, ou comunhão de fato ou de direito, legalmente representada, que solicitar a concessionária o fornecimento de energia elétrica e assumir a responsabilidade pelo pagamento das faturas e pelas demais obrigações fixadas em normas e 21 regulamentos da ANEEL, assim vinculando-se aos contratos de fornecimento, de uso e de conexão ou de adesão, conforme cada caso. Consumidor livre: consumidor que pode optar pela compra de energia elétrica junto a qualquer fornecedor, conforme legislação e regulamentosespecíficos. Contrato de adesão: instrumento contratual com cláusulas vinculadas às normas e regulamentos aprovados pela ANEEL, não podendo o conteúdo das mesmas ser modificado pela concessionária ou consumidor, a ser aceito ou rejeitado de forma integral. Contrato de fornecimento: instrumento contratual em que a concessionária e o consumidor responsável por unidade consumidora do Grupo “A” ajustam as características técnicas e as condições comerciais do fornecimento de energia elétrica. Contrato de uso e de conexão: instrumento contratual em que o consumidor livre ajusta com a concessionária as características técnicas e as condições de utilização do sistema elétrico local, conforme regulamentação específica. Demanda: média das potências elétricas ativas ou reativas, solicitadas ao sistema elétrico pela parcela da carga instalada em operação na unidade consumidora, durante um intervalo de tempo especificado. Demanda contratada: demanda de potência ativa a ser obrigatória e continuamente disponibilizada pela concessionária, no ponto de entrega, conforme valor e período de vigência fixados no contrato de fornecimento e que deverá ser integralmente paga, seja ou não utilizada durante o período de faturamento, expressa em quilowatts (kW). Demanda de ultrapassagem: parcela da demanda medida que excede o valor da demanda contratada, expressa em quilowatts (kW). Demanda faturável: valor da demanda de potência ativa, identificado de acordo com os critérios estabelecidos e considerada para fins de faturamento, com aplicação da respectiva tarifa, expressa em quilowatts (kW). 22 Demanda medida: maior demanda de potência ativa, verificada por medição, integralizada no intervalo de 15 (quinze) minutos durante o período de faturamento, expressa em quilowatts (kW). Energia elétrica ativa: energia elétrica que pode ser convertida em outra forma de energia, expressa em quilowatts-hora (kWh). Energia elétrica reativa: energia elétrica que circula continuamente entre os diversos campos elétricos e magnéticos de um sistema de corrente alternada, sem produzir trabalho, expressa em quilovolt-ampère-reativo-hora (kvarh). Estrutura tarifária: conjunto de tarifas aplicáveis às componentes de consumo de energia elétrica e/ou demanda de potência ativas de acordo com a modalidade de fornecimento. Estrutura tarifária convencional: estrutura caracterizada pela aplicação de tarifas de consumo de energia elétrica e/ou demanda de potência independentemente das horas de utilização do dia e dos períodos do ano. Estrutura tarifária horo-sazonal: estrutura caracterizada pela aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica e de demanda de potência de acordo com as horas de utilização do dia e dos períodos do ano, conforme especificação a seguir: a) Tarifa Azul: modalidade estruturada para aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização do dia e os períodos do ano, bem como de tarifas diferenciadas de demanda de potência de acordo com as horas de utilização do dia. b) Tarifa Verde: modalidade estruturada para aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização do dia e os períodos do ano, bem como de uma única tarifa de demanda de potência. 23 c) Horário de ponta (P): período definido pela concessionária e composto por 3 (três) horas diárias consecutivas (17:30 às 20:30), exceção feita aos sábados, domingos e feriados nacionais, considerando as características do seu sistema elétrico. d) Horário fora de ponta (FP): período composto pelo conjunto das horas diárias consecutivas e complementares àquelas definidas no horário de ponta. e) Período úmido (U): período de 5 (cinco) meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras de dezembro de um ano a abril do ano seguinte. f) Período seco (S): período de 7 (sete) meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras de maio a novembro. Fator de carga: razão entre a demanda média e a demanda máxima da unidade consumidora, ocorridas no mesmo intervalo de tempo especificado. Fator de demanda: razão entre a demanda máxima num intervalo de tempo especificado e a carga instalada na unidade consumidora. Fator de potência: razão entre a energia elétrica ativa e a raiz quadrada da soma dos quadrados das energias elétricas ativa e reativa, consumidas num mesmo período especificado. Fatura de energia elétrica: nota fiscal que apresenta a quantia total que deve ser paga pela prestação do serviço público de energia elétrica, referente a um período especificado, discriminando as parcelas correspondentes. Grupo “A”: grupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em tensão igual ou superior a 2,3 kV, ou, ainda, atendidas em tensão inferior a 2,3 kV a partir de 24 sistema subterrâneo de distribuição e faturadas neste Grupo nos termos definidos no art. 82, caracterizado pela estruturação tarifária binômia e subdividido nos seguintes subgrupos: a) Subgrupo A1 - tensão de fornecimento igual ou superior a 230 kV; b) Subgrupo A2 - tensão de fornecimento de 88 kV a 138 kV; c) Subgrupo A3 - tensão de fornecimento de 69 kV; d) Subgrupo A3a - tensão de fornecimento de 30 kV a 44 kV; e) Subgrupo A4 - tensão de fornecimento de 2,3 kV a 25 kV; f) Subgrupo AS - tensão de fornecimento inferior a 2,3 kV, atendidas a partir de sistema subterrâneo de distribuição e faturadas neste Grupo em caráter opcional. Grupo “B”: grupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em tensão inferior a 2,3 kV, ou, ainda, atendidas em tensão superior a 2,3 kV e faturadas neste Grupo nos termos definidos nos arts. 79 a 81, caracterizado pela estruturação tarifária monômia e subdividido nos seguintes subgrupos: a) Subgrupo B1 - residencial; b) Subgrupo B1 - residencial baixa renda; c) Subgrupo B2 - rural; d) Subgrupo B2 - cooperativa de eletrificação rural; e) Subgrupo B2 - serviço público de irrigação; f) Subgrupo B3 - demais classes; g) Subgrupo B4 - iluminação pública. Iluminação Pública: serviço que tem por objetivo prover de luz, ou claridade artificial, os logradouros públicos no período noturno ou nos escurecimentos diurnos ocasionais, inclusive aqueles que necessitam de iluminação permanente no período diurno. Pedido de fornecimento: ato voluntário do interessado que solicita ser atendido pela concessionária no que tange à prestação de serviço público de fornecimento de energia elétrica, vinculando-se às condições regulamentares dos contratos respectivos. 25 Ponto de entrega: ponto de conexão do sistema elétrico da concessionária com as instalações elétricas da unidade consumidora, caracterizando-se como o limite de responsabilidade do fornecimento. Potência: quantidade de energia elétrica solicitada na unidade de tempo, expressa em quilowatts (kW). Potência disponibilizada: potência que o sistema elétrico da concessionária deve dispor para atender às instalações elétricas da unidade consumidora, segundo os critérios estabelecidos nesta Resolução e configurada nos seguintes parâmetros: a) unidade consumidora do Grupo “A”: a demanda contratada, expressa em quilowatts (kW); b) unidade consumidora do Grupo “B”: a potência em kVA, resultante da multiplicação da capacidade nominal ou regulada, de condução de corrente elétrica do equipamento de proteçãogeral da unidade consumidora pela tensão nominal, observado no caso de fornecimento trifásico, o fator específico referente ao número de fases. Potência instalada: soma das potências nominais de equipamentos elétricos de mesma espécie instalados na unidade consumidora e em condições de entrar em funcionamento. Subestação: parte das instalações elétricas da unidade consumidora atendida em tensão primária de distribuição que agrupa os equipamentos, condutores e acessórios destinados à proteção, medição, manobra e transformação de grandezas elétricas. Tarifa: preço da unidade de energia elétrica e/ou da demanda de potência ativas. Tarifa monômia: tarifa de fornecimento de energia elétrica constituída por preços aplicáveis unicamente ao consumo de energia elétrica ativa. 26 Tarifa binômia: conjunto de tarifas de fornecimento constituído por preços aplicáveis ao consumo de energia elétrica ativa e à demanda faturável. Tarifa de ultrapassagem: tarifa aplicável sobre a diferença positiva entre a demanda medida e a contratada, quando exceder os limites estabelecidos. Tensão secundária de distribuição: tensão disponibilizada no sistema elétrico da concessionária com valores padronizados inferiores a 2,3 kV. Tensão primária de distribuição: tensão disponibilizada no sistema elétrico da concessionária com valores padronizados iguais ou superiores a 2,3 kV. Unidade consumidora: conjunto de instalações e equipamentos elétricos caracterizados pelo recebimento de energia elétrica em um só ponto de entrega, com medição individualizada e correspondente a um único consumidor. Valor líquido da fatura: valor em moeda corrente resultante da aplicação das respectivas tarifas de fornecimento, sem incidência de imposto, sobre as componentes de consumo de energia elétrica ativa, de demanda de potência ativa, de uso do sistema, de consumo de energia elétrica e demanda de potência reativas excedentes. 2.3 – MOTORES DE ALTO RENDIMENTO – CONCEITOS BÁSICOS Motor elétrico de alto rendimento é um motor que possui rendimento superior ao motor standard, gera baixas perdas, reduz significativamente a elevação de temperatura com consequente aumento da vida útil. Esses motores são projetados para, fornecendo a mesma potência útil (na ponta do eixo) que outros tipos de motores, consumirem menos energia elétrica da rede (maior rendimento). Os motores de alto rendimento apresentam as seguintes características: Chapas metálicas de maior qualidade; Maior volume de cobre, o que reduz a temperatura de operação; Enrolamentos especiais, que produzem menos perdas estatóricas; Rotores tratados termicamente, reduzindo perdas rotóricas; 27 Altos fatores de enchimentos das ranhuras, que provêm melhor dissipação do calor gerado; Anéis de curto-circuito dimensionados para reduzir as perdas joule; Projetos de ranhuras do motor são otimizados para incrementar rendimento; A eficiência energética em motores é muito importante não só pelo falo já comentado anteriormente de representarem 55% do total consumido pela indústria no país, correspondendo a 24% do consumo global, como também porque promove a racionalização da produção e do consumo de energia elétrica, eliminando os desperdícios e diminuindo os custos. Portanto, na especificação de motores para novos empreendimentos deve-se sempre optar por motores de alto rendimento. É importante destacar que, tão importante quanto escolher um motor de alto rendimento, é necessário fazer seu correto dimensionamento. Os motores de alto rendimento são totalmente intercambiáveis com os da linha standard existentes no mercado, o que deixa a zero algum custo excedente na troca desses motores. A figura 2.2 mostra um exemplo de standard x alto rendimento de 20 cavalos a vapor (cv) de 4 polos e a 2.3 mostra um gráfico apresentando a diferença de rendimento entre os dois motores. Figura 2.2 – Comparação entre motor standard e alto rendimento 28 Figura 2.3 – Curva de comparação de rendimento entre motor standard x alto rendimento Além da utilização de um motor de alto rendimento, é fundamental uma especificação correta do motor para se obter a melhor performance no seu consumo de energia elétrica. Quando um motor trabalha de maneira constante, acionando uma carga constante durante muito tempo, diz-se que o motor está trabalhando no regime contínuo, denominado de S1 pela NBR 7410 da ABNT. Neste regime de trabalho o motor aciona uma carga constante durante um tempo suficientemente longo para ele atingir sua temperatura de equilíbrio térmico, está mostrado na figura 2.4. A partir daí, é comum seu funcionamento se prolongar por várias horas, dias, ou meses, sem interrupções. Os exemplos de máquinas que trabalham em regime S1 são os ventiladores, exautores, bombas centrífugas, compressores de ar, bombas de alimentação de caldeira a vapor entre outras. 29 Figura 2.4 – Curva de um motor em regime de trabalho contínuo S1 Para a escolha de um motor para acionar qualquer um desses tipos de máquinas é preciso conhecer, mesmo que aproximadamente, a potência requerida pela máquina. O motor, escolhido pelos catálogos dos fabricantes, deverá ter uma potência igual ou superior à potência requerida pela máquina, quando o acoplamento for direto. Se o acoplamento for efetuado por um redutor ou multiplicador de velocidades, a potência fornecida pelo motor deverá ser acrescida da perda no acoplamento. Mesmo naqueles casos em que a potência padronizada do motor, no catálogo, seja ligeiramente menor do que a da máquina, deve-se sempre escolher o motor de potência imediatamente acima da potência requerida da máquina, a menos que o motor possua Fator de Serviço (fator que multiplica a potência nominal do motor, dando-lhe condições de operar com sobrecarga contínua) maior que um. Com a escolha do motor sendo feita por estes critérios, a possibilidade de superaquecimento fica descartada, pois a elevação de temperatura máxima permitida para sua classe de isolamento térmico nunca será ultrapassada nas condições nominais de operação. Uma variação desse regime, que ocorre muito na prática, é o regime contínuo com carga variável, que é um regime de trabalho em a carga no eixo do motor é contínua, porém, varia ao longo do tempo. A velocidade do motor é considerada constante para todas as condições de carga. Um exemplo deste tipo de carga pode ser encontrado nas bombas que enchem os tanques criogênicos de armazenamento de produtos da unidade separadora de 30 gases. Neste caso o calculo da potência requerida torna-se um pouco mais complexo, não se devendo escolher a potência do motor pelo máximo valor da carga do diagrama, pois o motor funcionaria superdimensionado a maior parte do tempo, nem pelo menor valor, neste caso, ao contrário, ele funcionaria subdimensionado. No primeiro caso, teríamos um motor antieconômico, devido à potência sobrando no motor; no segundo, um motor cuja vida útil seria encurtada ou, devido ao aquecimento do enrolamento pela sobrecarga, um defeito por causa da destruição precoce do isolamento. A escolha pela potência média também não seria uma solução correta, pois não se estaria levando em consideração as perdas elétricas que poderiam provocar superaquecimento do motor durante os períodosem que ele funcionaria com carga maior que sua potencia nominal. A escolha da potência do motor para acionar uma máquina que opera com carga variável, pela média das potências requeridas durante o período de operação, só seria acessível quando as flutuações da carga fossem pequenas. A figura 2.5 mostra um diagrama de carga de uma máquina em que a carga varia de forma discreta, isto é, durante os períodos de operação ela se mantém constante. Nas máquinas reais isto pode não acontecer, durante os períodos podem ocorrer variações da carga de forma contínua. Porém, é sempre possível, por métodos aproximativos, transformar estas variações contínuas em variações discretas. Figura 2.5 – Curva de um motor em regime de trabalho contínuo com carga variável. Para especificar o motor adequado para realizar o acionamento desta máquina utiliza- se o método da corrente equivalente. É baseado no princípio do valor eficaz de uma corrente 31 variável, isto é, o calor produzido por uma corrente variável no tempo é igual ao calor produzido por uma corrente contínua equivalente. No caso de uma corrente alternada senoidal, i=Im sem ωt, o valor eficaz equivalente é igual a , sendo Im a amplitude senoidal da onda. Este valor é obtido a partir da expressão seguinte, sendo T o período da onda senoidal. Assim, sob o ponto de vista térmico, o motor estará corretamente escolhido se a sua corrente nominal for igual ou maior do que a corrente equivalente eficaz correspondente às variações da corrente requerida pelo motor durante o seu período de operação, isto é, In≥Ieq. Para o diagrama da figura 2.5, esta corrente equivalente será calculada conforme a equação seguinte. Pode-se escrever uma equação semelhante em que se substitui, no diagrama de carga, a corrente pela potência mecânica fornecida pelo motor, como está na figura 2.6. Figura 2.6 – Curva de um motor em regime de trabalho contínuo com potência variável. 32 Isto é possível porque, nos motores de indução, para variações da carga dentro de limites comparativamente próximos, o fator de potência e o rendimento permanecem praticamente constantes, o que permite estabelecer uma relação direta entre a corrente e a potência mecânica fornecida no eixo. O motor será então escolhido pelo método da potência equivalente, como indicado na expressão a seguir. Após o motor ter sido escolhido sob o ponto de vista térmico, deve-se verificar se ele atende aos requisitos de ordem mecânica, isto é, se o seu conjugado máximo é maior que o máximo conjugado exigido pela carga durante o período. O motor estará escolhido corretamente, sob o ponto de vista mecânico, se for observada a relação abaixo: Sendo PN a potência nominal do motor escolhido e Pmáx a máxima potência do diagrama de carga. λ é o fator de sobrecarga momentânea do motor escolhido, sendo um dado fornecido pelo catálogo do fabricante, normalmente expresso pela relação . Se a condição acima não for satisfeita, deve-se escolher um motor de potência imediatamente superior. 33 3. SEPARAÇÃO DOS GASES DO AR As plantas de separação de gases produzem nitrogênio, oxigênio e argônio usando apenas ar e energia elétrica como matérias primas. O processo de produção criogênica, usando a destilação de componentes a baixíssimas temperaturas, garante a pureza desejada. As etapas mais importantes da produção criogênica de gases do ar estão mostradas na figura 3.1 e são elas: 1. Filtragem e compressão do ar O ar é filtrado do meio ambiente e comprimido para gerar o fluxo do processo. 2. Pré-resfriamento O ar passará por trocadores de calor que irão “secar” o ar fazendo com que seja separada a água do ar. 3. Purificação Nesta etapa são removidos os contaminantes, incluindo vapor de água e CO2 (que irão formar blocos de gelo durante o processo de destilação) e hidrocarbonetos. 4. Destilação / separação dos componentes Trocadores de calor resfriam o ar a temperaturas criogênicas (aproximadamente a -185 ºC). Na coluna de destilação, os componentes do ar são separados pelo seu ponto de ebulição. 5. Armazenamento na forma líquida Neste processo os produtos estão livres de contaminação química ou biológica. Na figura 3.2 são mostrados tanques de armazenamento dos produtos no estado líquido a temperatura criogênica. 34 Figura 3.1 – Esquema simplificado do processo de separação dos gases do ar Figura 3.2 – Tanques de estocagem e coluna de destilação. 3.1 – FILTRAGEM E COMPRESSÃO Partículas suspensas são retidas por uma filtragem mecânica. O filtro é composto por uma manta com a finalidade de retirar impurezas sólidas do ar puxado para dentro do 35 processo como areia, folhas, qualquer material em suspensão no ar. Depois de filtrado, o ar é comprimido da pressão atmosférica e é elevado até a pressão de trabalho da coluna inferior que é aproximadamente de sete bar. O ar é comprimido em vários estágios inter-resfriados onde parte da umidade é removida antes de seguir para as etapas de pré-resfriamento e purificação. Na figura 3.3 são mostradas essas duas etapas iniciais do processo de separação de gases do ar. A compressão do ar, além de ajudar na remoção da umidade, fornece o head necessário para que a expansão do mesmo seja realizada fornecendo refrigeração à planta. Figura 3.3 – Etapa de filtragem e compressão de uma unidade 3.2 – PRÉ – RESFRIAMENTO Devido a compressão, a temperatura do ar é aumentada. Não é possível seguir para a etapa de purificação com a temperatura do ar alta, pois, nesta condição, há muita umidade em forma de vapor que não pode ser passado adiante, pois, em temperaturas criogênicas (abaixo de -150°C), o vapor se transformaria em pequenos pedaços de gelo obstruindo o processo, além de o vapor conter substâncias contaminantes para o processo. Portanto, é feito o resfriamento via resfriador (Chiller) quando a pressão do ar é de aproximadamente 7 bar ou via pós resfriamento de contato direto (DCA – Direct Contact Aftercooler), ilustrado na figura 3.4, quando a pressão do ar é mais elevada. Neste segundo caso, a elevação da pressão permite que, mesmo com um menor resfriamento, grande parte da umidade seja removida. A principal função desta etapa é de secar o ar fazendo com que as moléculas de águas que estão na forma de vapor de água se condensem para que possa ser feita a separação da água e do ar. 36 Figura 3.4 – Pré-resfriamento de uma unidade 3.3 – PURIFICAÇÃO OU PRÉ–PURIFICAÇÃO Nesta etapa são dois vasos que trabalham em escalas, a figura 3.5 exemplifica esses dois vasos, quando um está operando o outro está sendo limpo. Nos vasos purificadores encontra-se o molecular ativo, a primeira molecular, que são malhas que servem para reter hidrocarbonetos (componente que em contato com oxigênio líquido gera uma explosão), o restante da água que ainda tenha sobrado depois do pré-resfriamento e dióxido de Carbono (CO2) contido no ar, isto porque como foi dito anteriormente, a água no processo de separação congelaria e obstruiria o processo devido a sua temperatura de solidificação ser 0°C (zero grau Celcius) e a temperatura na separação (destilação) é de aproximadamente -180°C, o mesmo motivo para o CO2 quecongela na temperatura de -78°C e também obstruiria o processo, já o hidrocarboneto que é o contaminante mais grave, pois na coluna de destilação onde teremos oxigênio líquido, a reação destes dois elementos, hidrocarboneto e oxigênio líquido, causa uma combustão instantânea gerando uma explosão. Esses três contaminantes ficam absorvidos nas paredes do molecular ativo e na saída do vaso estará um ar purificado para seguir para a coluna de destilação. Por medida de segurança, após os pré-purificadores encontramos o analisador de CO2 como forma de garantia que o pré-purificador esteja funcionando corretamente. A especificação é de 2 parte por milhão (ppm) de CO2, caso passe deste valor o sistema automaticamente alerta o operador que deverá tomar ações para não por em risco a operação, se chegar a um valor de 10 ppm, a planta para automaticamente. A análise é feita apenas para DCA 37 o CO2 pelo fato de ser o elemento de maior dificuldade de apreensão do catalisador, garantindo que não está passando CO2 é certo de que não está passando nem umidade nem hidrocarbonetos. Após o analisador o ar chega à caixa fria (ColdBox). Figura 3.5 – Vasos Pré-Purificadores 3.4 – SEPARAÇÃO / LIQUEFAÇÃO O ar limpo e seco segue então para a cold box onde ficam as colunas de destilação e os trocadores, é onde o ar vai a temperatura criogênica propriamente dita. Nesta etapa, o ar é resfriado até aproximadamente seu ponto de liquefação no trocadores de calor múltiplos passes (PHX) , caso a planta possua vasos pré-purificadores, ou no trocadores de calor de passes reversíveis (RHX), neste caso, o resfriamento é feito juntamente com a remoção de contaminantes. O frio necessário ao processo pode ser obtido através de turbinas de expansão, liquefadores ou uma combinação de ambos. O liquefador é constituído de uma série de equipamentos como compressores, boosters, turbinas de expansão e trocadores de calor criogênicos com o objetivo de produzir líquido. Depois de resfriado, o ar segue para as colunas de destilação onde seus principais componentes são separados. A refrigeração necessária para o processo é obtida via turbina de expansão ou via liquefadores, dependendo do ciclo da planta. 3.5 – SEPARAÇÃO / LIQUEFAÇÃO (DESTILAÇÃO) A destilação é o processo pelo qual componentes de uma mistura que possuem 38 pressões de vapor diferentes são separados. A pressão de vapor de um líquido está associada a sua temperatura de ebulição, quanto maior a sua pressão de vapor menor a sua temperatura de ebulição e mais volátil é o líquido. Por exemplo: Em uma mistura de álcool com água à temperatura e pressão ambiente, o álcool tende a evaporar deixando somente a água no recipiente. Isto ocorre porque o álcool possui pressão de vapor maior do que a água (álcool é mais volátil). Se tiver outros componentes na mistura, os que tivessem maior pressão de vapor tenderiam a evaporar mais rápido. Em uma coluna de destilação possuímos diversos estágios (um em cima do outro) que funcionam como o exemplo citado. Os componentes mais leves tendem a subir para os estágios superiores enquanto que os componentes com pressão de vapor menor (menos voláteis) tendem a descer para os estágios inferiores. Uma coluna de destilação possui diversos pratos, como é mostrado na figura 3.6. Estes pratos possuem furos para que o vapor possa subir e dispositivos chamados de downcomers para que o líquido possa descer. Como se pode prever, cada prato ou cada estágio da coluna terá uma composição determinada e, por causa disso, uma pressão e temperatura diferente. O nitrogênio, por ser o componente mais volátil, como mostra a tabela 3.1, migrará para o topo da coluna e o oxigênio, como é o menos volátil ficará no fundo da coluna. Tabela 3.1 – Temperaturas de ebulição em °C do O2, N2 e do Ar. Pressão / Produto 1 bar 1,55 bar (Coluna Superior) 6,2 bar (Coluna Inferior) Oxigênio -183,0 -178,6 -162,3 Nitrogênio -185,9 -181,6 -164,4 Argônio -195,8 -191,9 -176,4 Como a temperatura de saturação do nitrogênio é menor do que a do oxigênio a mesma pressão, dizemos que a coluna está “esfriando” quando a concentração do nitrogênio (N2) aumenta. 39 O ar purificado e frio alimenta então as duas colunas de destilação onde ocorre efetivamente a separação de oxigênio, nitrogênio e argônio. Na coluna inferior, onde a pressão é mais alta, o líquido que vai se separando torna-se progressivamente rico em oxigênio, no fundo da coluna, enquanto o vapor que é retirado no topo da coluna fica cada vez mais rico em nitrogênio. Na coluna superior, de baixa pressão, o oxigênio proveniente do fundo da coluna inferior já purificado atinge cerca de 99.8%, sendo então retirado do processo e enviado para armazenamento. O nitrogênio com alta pureza, aproximadamente 5 ppm de oxigênio como impureza, é retirado do topo da coluna inferior. Entre as duas colunas de destilação há um trocador de calor denominado condensador principal que tem uma importante função no processo: nele, o oxigênio à baixa pressão da coluna superior é vaporizado, enquanto o nitrogênio vapor proveniente da coluna inferior, à alta pressão, é condensado. O nitrogênio líquido é assim usado como refluxo das colunas inferior e superior, o que é necessário para que ocorra a destilação. O argônio é separado aproximadamente no meio da coluna superior, mas não na pureza desejada. Para se obter argônio puro é necessário utilizar mais duas colunas de destilação: a coluna de argônio cru e a coluna de argônio refinado. Na coluna de argônio cru a corrente proveniente da coluna superior, que contém cerca de 10% de argônio é purificado a aproximadamente 97% de argônio, sendo o restante oxigênio e nitrogênio. O oxigênio é removido pela reação com hidrogênio em um forno catalítico, formando vapor d'água, retirado por secagem. O argônio entra então na coluna de argônio refinado, onde é retirado como produto. Figura 3.6 – Coluna de Destilação 40 4. CARGA INSTALADA TOTAL NA UNIDADE 4.1 – LEVANTAMENTO DA CARGA INSTALADA O conceito de Carga Instalada é a soma das potências de todos os equipamentos, que estejam em condições de funcionamento, instalados nas dependências da unidade consumidora, expressa em quilowatts (kW). Na indústria, os maiores consumidores de energia são os sistemas motrizes. Do total de energia consumida pela indústria no setor elétrico brasileiro, os motores representam cerca de 50% do total utilizado, segundo projeto realizado pelo Programa Nacional de Conservação de Energia elétrica (PROCEL) sob regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). A análise das soluções técnicas escolhidas para os projetos analisados aponta predominância de projetos para economia de eletricidade. Como exemplo, 19% das ações envolvem troca de motores, 20% envolvem melhorias em sistemas de iluminação e 8% envolvem melhorias em sistemas de ar comprimido. No caso de uma unidade separadora de gases do ar o consumo de energia praticamente se restringe ao consumo dos motores elétricos que acionam cargas mecânicas como bombas hidráulicas, compressores e ventiladores. Na tabela 4.1 está demonstrada a carga instalada na unidade sendo separada por tipo de equipamento e onde “outros” são as cargas da oficina, iluminação, sala de controle e departamento administrativo (consumo da iluminação e refrigeração das salas). No Anexo I está a planilha 8.1 com detalhamento da carga instaladana unidade. Tabela 4.1 – Carga instalada na unidade Potência Instalada (kW) BOMBAS 517,06 COMPRESSORES 10.796,75 AQUECEDORES 555,50 VENTILADORES 143,78 OUTROS 211,50 TOTAL 12.224,58 41 Figura 4.1 – Gráfico da carga instalada na unidade 4.2 – CONTRIBUIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS NO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA Feito o levantamento de carga, deverá ser feita agora a segregação da parcela que cada equipamento significa em relação ao consumo de energia elétrica mensal. Isto se deve para obter os pontos mais significativos do processo onde deverão ser trabalhados para obtenção de uma redução de consumo de energia considerável. Na figura 4.2 é mostrado o consumo mensal de energia elétrica em uma unidade separadora de gases do ar, observa-se que os compressores são os equipamentos que mais consomem energia da unidade totalizando 89% de toda energia fornecida para a unidade, seguidos por aquecedores com 5%, bombas com 3%, outros com 2% e ventiladores com 1%. 42 Figura 4.2 – Representação gráfica do consumo de energia elétrica da unidade Na tabela 4.2 é mostrado o consumo de energia elétrica mensal da unidade separadora de gases do ar com os seus equipamentos separados por quantidade de energia consumida. Tabela 4.2 – Consumo de Energia Elétrica mensal da unidade Parcela de Consumo Mensal de Energia Elétrica (Kwh/MÊS) BOMBAS 183.173,42 COMPRESSORES 6.116.173,50 AQUECEDORES 313.950,00 VENTILADORES 74.933,25 OUTROS 86.742,00 TOTAL 6.774.972,17 Na figura 4.3, é mostrado um gráfico com a média de consumo de energia elétrica do período de novembro de 2008 a outubro de 2009 dos equipamentos da unidade de separação dos gases do ar. A média foi de 6.371.904,98 kWh 43 Figura 4.3 – Consumo médio da unidade. 44 5. DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO Um diagnóstico energético a uma instalação ou a um setor da mesma assume particular importância, dado que, qualquer processo de gestão de energia terá necessariamente que começar pelo conhecimento da situação energética da instalação. O princípio é óbvio - para gerir é indispensável conhecer o objeto de gestão. O diagnóstico energético pode interpretar-se como uma radiografia ao desempenho energético de uma área específica de uma instalação consumidora, como por exemplo, ao sistema de ar comprimido ou ao sistema de iluminação. Através dele, avalia-se quanta energia é efetivamente consumida e de que forma é essa energia utilizada, estabelece-se os principais fluxos e identifica-se os setores ou áreas onde é prioritário atuar, seguindo-se a definição das economias de energia passíveis de implementar. 5.1 – ANÁLISE TARIFÁRIA E ESTUDO DA CURVA DE CARGA 5.1.1 – Característica da Empresa O fornecimento desta empresa é feito pela Companhia Energética de Pernambuco (CELPE) e seu contrato de fornecimento de energia elétrica é do grupo A / Subgrupo 3 (69 kV) com estrutura tarifária horo-sazonal azul. Como já foi dito, por motivo de confidencialidade dos números de consumo de energia elétrica, os valores aqui expressos são apenas estimativas obtidas pelo levantamento de carga feito na unidade. A demanda contratada na ponta pela empresa é de 8.000 kW (oito mil quilowatts) e fora da ponta de 10.000 kW (dez mil quilowatts) e seu consumo médio no período de novembro de 2008 a outubro de 2009 foi de 6.500.000 kWh (seis milhões, trezentos e setenta e um mil, novecentos e quatro quilowatts hora) por mês. 5.1.2 – Estudo de Caso A unidade não tem gerador pelo tamanho da sua carga instalada. Devido a isso, não pode evitar a utilização da energia no horário crítico que é o horário de ponta. Pode ser estudada a viabilidade de ser comprado um gerador para, no horário de ponta, suprir o 45 consumo de apenas uns equipamentos específicos com a finalidade de diminuir o consumo de energia elétrica e assim minimizar o valor pago pela tarifa nestas três horas do dia. A empresa usa de outro artifício para minimizar o consumo de energia no horário de ponta. A produção é automatizada para quando entrar neste horário, nem todos os equipamentos permaneçam ligados. Isto resulta em uma queda de produção e do consumo de energia elétrica pela unidade. Analisando a figura 5.1 em conjunto com a tabela 5.1, nota-se que fora do horário de ponta a planta se encontra em alta produção com todos os equipamentos em funcionamento e no horário de ponta a planta passa a utilizar um pouco mais de 60% de sua capacidade de produção. Com essa redução de 40% da utilização de energia em três horas por dia, a empresa chega a economizar R$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais) e evita consumir 2.500.000 kWh (dois milhões e quinhentos mil quilowatts hora) por ano e essa energia não consumida é no horário crítico de fornecimento. Este planejamento é elaborado para que ao mesmo tempo em que gaste menos energia não falte produto para o mercado, isto é possível devido aos grandes tanques de armazenamento dos produtos. Figura 5.1 – Relação de consumo na ponta e fora ponta 46 Tabela 5.1 – Levantamento do Contrato do Grupo A3 (69 kV) A empresa gasta anualmente R$ 20.791.674,45 (vinte milhões, setecentos e noventa e um mil, seiscentos e setenta e quatro reais e quarenta e cinco centavos). Deve ser feito primeiramente uma verificação no contrato de energia elétrica da empresa com a CELPE, isto é, fazer uma adequação tarifária com a finalidade de obter economia neste valor pago e transferir o gasto com energia elétrica para outras áreas. A empresa economizando na conta de energia elétrica poderá investir em novos equipamentos e novas tecnologias com o intuito de consumir menos energia. A primeira observação a ser feita vista a tabela 5.1 são os valores de demanda ultrapassada do contrato. Somando os valores das multas por ultrapassagem chega-se ao número R$ 371.892,10 (trezentos e setenta e um mil, oitocentos e noventa e dois reais e dez centavos) em 12 meses de análise. Para evitar o pagamento desta multa pode ser feito junto à concessionária uma adequação do valor da demanda nesses meses, no entanto em que a mesma seja comunicada pelo menos cento e oitenta dias antes do faturamento da conta de energia elétrica. Com esse ajuste efetuado, a empresa conseguiria uma economia anual de R$ 247.959,43 (duzentos e quarenta e sete mil, novecentos e cinqüenta e nove reais e quarenta e três centavos). Para obter essa economia não seria necessário investimento algum, apenas um planejamento adequado que previsse o consumo de energia nos três meses seguintes. Para o estudo de adequação tarifária foi elaborada, primeiramente, uma tabela com as tarifas cobradas no contrato de energia elétrica pela empresa concessionária no período em 47 que foi realizado o levantamento do consumo, de novembro de 2008 a outubro de 2009. A tabela 5.2 mostra os valores cobrados. Tabela 5.2 – Tarifas da CELPE (Contrato Horo-sazonal Azul) Subgrupo A3 TARIFAS SUBGRUPO A3 (69 kV) Ciclo Tarifa Consumo Ponta Tarifa Consumo Fora Ponta TarifaDemanda Ponta Tarifa Demanda Fora Ponta Tarifa Demanda Ultrapassagem na Ponta Tarifa Demanda Ultrapassagem Fora Ponta nov/08 0,31722 0,19284 36,06620 8,44599 108,19886 25,33798 dez/08 0,28644 0,17500 36,16618 8,46938 108,49854 25,40816 jan/09 0,28677 0,17520 36,20840 8,47927 108,62521 25,43782 fev/09 0,28216 0,17238 35,62607 8,34290 106,87823 25,02871 mar/09 0,28561 0,17449 36,06104 8,44476 108,18313 25,33430 abr/09 0,28548 0,17441 36,04532 8,44108 108,13598 25,32326 mai/09 0,33993 0,20617 47,53694 9,82323 142,61083 29,46971 jun/09 0,33107 0,20080 42,31319 8,48840 126,93959 25,46521 jul/09 0,33656 0,20413 47,06641 9,72600 141,19925 29,17802 ago/09 0,33613 0,20386 47,00573 9,71346 141,01719 29,14040 set/09 0,33646 0,20407 47,05291 9,72321 141,15875 29,16965 out/09 0,34406 0,20868 48,11555 9,94280 144,34667 29,82842 Segundo a resolução 456 da ANEEL quando a demanda contratada ou estimada pelo interessado, para fornecimento, for superior a 2.500 kW (dois mil e quinhentos quilowatts), o nível de tensão que pode ser aplicada nesse caso é igual ou superior a 69 kV. A unidade em estudo se encaixa nesse perfil. A fim de avaliar a adequação tarifária da unidade será feita uma estimativa do mesmo consumo de energia elétrica, com a mesma demanda contratada na ponta e fora da ponta para um contrato com a concessionária horo-sazonal azul no subgrupo A1 (230 kV). Para essa simulação foi montada a tabela 5.3 com as tarifas do contrato a ser testado pela unidade no período devido do levantamento do consumo. Além da tabela das tarifas, a tabela 5.4 mostra o importe anual estimado da conta de energia elétrica com o fornecimento da unidade pela concessionária em 230 kV. As tabelas 5.1 e 5.4 foram elaboradas por uma estimativa do consumo de energia da unidade levantado em campo, e o que mostram não são valores reais pagos pela empresa de separação de gases do ar à concessionária de energia elétrica. 48 Tabela 5.3 – Tarifas da CELPE (Contrato Horo-sazonal Azul) Subgrupo A1 TARIFAS SUBGRUPO A1 (230 kV) Ciclo Tarifa Consumo Ponta Tarifa Consumo Fora Ponta Tarifa Demanda Ponta Tarifa Demanda Fora Ponta Tarifa Demanda Ultrapassagem na Ponta Tarifa Demanda Ultrapassagem Fora Ponta nov/08 0,31722 0,19284 5,80026 0,00000 17,40078 0,00000 dez/08 0,28644 0,17500 5,81632 0,00000 17,44897 0,00000 jan/09 0,28677 0,17520 5,82311 0,00000 17,46935 0,00000 fev/09 0,28216 0,17238 5,72946 0,00000 17,18839 0,00000 mar/09 0,28561 0,17449 5,79941 0,00000 17,39825 0,00000 abr/09 0,28548 0,17441 5,79689 0,00000 17,39067 0,00000 mai/09 0,33993 0,20617 6,85308 0,00000 20,55925 0,00000 jun/09 0,33107 0,20080 6,67048 0,00000 20,31295 0,00000 jul/09 0,33656 0,20413 6,78525 0,00000 20,35575 0,00000 ago/09 0,33613 0,20386 6,77650 0,00000 20,32951 0,00000 set/09 0,33646 0,20407 6,78330 0,00000 20,34992 0,00000 out/09 0,34406 0,20868 6,93650 0,00000 20,89095 0,00000 Tabela 5.4 – Levantamento do Contrato do Grupo A1 (230 kV) Analisando a tabela 5.4 observa-se que o importe anual da conta de energia elétrica da unidade seria em torno de R$ 16.033.591,62 (dezesseis milhões, trinta e três mil, quinhentos e noventa e um reais e sessenta e dois centavos). Fazendo a diferença entre os importes do contrato atual da empresa (horo-sazonal azul subgrupo A3) e o contrato simulado (horo- sazonal azul subgrupo A1) é encontrada uma economia de aproximadamente R$ 4.758.082,83 (quatro milhões, setecentos e cinqüenta e oito mil, oitenta e dois reais e oitenta e três centavos). 49 O nível de tensão de fornecimento a um cliente nem sempre é o mais apropriado, quer porque o cliente incrementou significativamente o consumo inicial, quer porque o produto que fabrica exija uma melhoria na qualidade de serviço imposto pelo cada vez mais exigente mercado, que impõe produtos com qualidade cada vez maior e tempos de resposta cada vez mais curtos. O serviço de Mudança do Nível de Tensão é composto por: Estudo técnico-econômico da mudança de tensão de alimentação; Fornecimento de Postos de Transformação/Subestações; Execução de ramais de ligação à rede de distribuição / transmissão; Apoio no processo técnico-administrativo associado à mudança. Várias situações podem conduzir um cliente a sentir a necessidade de aumentar o nível de tensão de alimentação: Impossibilidade da rede de BT (Baixa Tensão) ou MT (Média Tensão) fornecer a potência necessária para cobrir as necessidades da instalação do cliente; Redução dos custos com energia elétrica (uma vez que quanto mais elevado o nível de tensão, mais baixa é a tarifa); Melhoria da qualidade de serviço (a qualidade da energia elétrica melhora com o aumento do nível de tensão; de acordo com o próprio Regulamento da Qualidade de Serviço, o número de interrupções por ano, bem como a sua duração, é maior na alimentação em BT e menor em MT e AT). Para a realização dessa mudança de tensão de fornecimento seria necessária uma subestação industrial de 230/69 kV 18 MVA com uma entrada de 230 kV e interligação com o setor de 69 kV já existente. Pesquisando em empresas responsáveis por este tipo de serviço foi avaliado o total da construção da nova subestação em aproximadamente R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais). 50 5.2 – ANÁLISE DA TROCA DOS MOTORES EXISTENTES POR MOTORES DE ALTO RENDIMENTO 5.2.1 – Características da empresa Na unidade existem vários motores para diferentes fins, compressores, ventiladores, bombas. Para avaliar a troca desses motores padrões por motores de alto rendimento, primeiramente é necessário saber a potência de todas as máquinas, no anexo 1 poderá ser vista uma tabela com todos os equipamentos, suas potências em kW, tempo de utilização diária, energia requerida no dia por equipamento e no mês por equipamento e total da unidade. Hoje são oferecidos no mercado motores de alto rendimento de 1 até 500 cv. Devido a esta restrição nem todos os motores poderão ser avaliados para a troca por terem sua potência nominal maior do que as ofertadas pelos fabricantes de motores de alto rendimento. 5.2.2 – Estudo de Caso Será adotado nesta etapa do trabalho, o rendimento de um motor de alto rendimento como sendo 91% e do motor standard padrão sendo 85%. Analisando os motores entre a faixa de 1 a 500 cv que são usados na unidade de separação de gases do ar, observa-se que na maioria são bombas com potências que variam de 3/4 cv até 250 cv. Na tabela 5.5, é mostrada economia de energia obtida com a troca de todos os motores standard por motores de alto rendimento. Verificou-se que houve uma economia de aproximadamente 329.767 kWh (trezentos e vinte e nove mil, setecentos e sessenta e sete quilowatts hora) por ano. Neste caso, o custo da substituição refere-se apenas à aquisição do motor de alto rendimento, uma vez que não haverá necessidade de adaptação pela utilização de carcaças normalizadas. A substituição dos motores resultou não somente na redução do consumo de energia elétrica, como também na redução da demanda contratada. O cálculo da economia em reais 51 foi feito por uma tarifa de consumo média do contrato atual da empresa que é o horo-sazonal azul subgrupo A3 (69 kV) utilizando a fórmula que segue.
Compartilhar