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Manual de Urgência/Emergência – Modelo Trauma ATLS 
 
Serviço de Cirurgia Geral e Aparelho Digestivo – HUJBB/UFPA 
 
4 
 
PRIMEIRO ATENDIMENTO – AVALIAÇÃO INICIAL 
 
Objetivos: 
 Identificar as prioridades e seqüência do primeiro atendimento. 
 Descrever os exames primários e secundários. 
 Identificar os dados da história e do acidente. 
 Demonstrar as técnicas de reanimação inicial. 
 Utilizar a seqüência adequada das prioridades no atendimento simulado. 
 
Introdução: 
O tratamento do paciente traumatizado requer, sem perda de tempo, acesso as lesões e 
início do suporte de vida. Para isso é necessário uma abordagem sistematizada que é denominada 
Avaliação Inicial e inclui: 
 Preparação 
 Triagem 
 Exame Primário (ABCs) 
 Reanimação 
 Medidas auxiliares ao exame primário 
 Exame Secundário – Cabeça – dedo do pé 
 Monitorização e reavaliação 
 Cuidados definitivos 
Os exames primário e secundário devem ser repetidos com freqüência para 
acompanhar a evolução e indicar necessidade de intervenção, tão logo necessário. Este curso tem 
por objetivo apresentar uma seqüência de atendimento de forma organizada e didática, porém na 
prática clínica muitos desses passos são simultâneos. 
 
I – Preparação: 
A preparação inclui dois momentos: o pré-hospitalar e o hospitalar 
A fase pré-hospitalar deve ser estruturada e entrosada de tal maneira que a fase 
hospitalar seja comunicada sobre o paciente antes de sua chegada, afim de que a equipe possa se 
preparar e verificar se tem condições de suprir as necessidades do paciente. Logo, o pré-hospitalar 
Manual de Urgência/Emergência – Modelo Trauma ATLS 
 
Serviço de Cirurgia Geral e Aparelho Digestivo – HUJBB/UFPA 
 
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deve levar o paciente, não para o hospital mais próximo, mas para aquela que tem condições de 
atender suas necessidades. 
A fase hospitalar tem que ter planejamento para o atendimento do paciente, bem com 
os recursos necessários para suprir as necessidades do paciente. A equipe de saúde deve ter 
treinamento adequado e ter rotinas de atendimento para pacientes politraumatizados. Não se deve 
esquecer das medidas de proteção individual padrão. 
 
II – Triagem: 
 A triagem tem como objetivo principal avaliar e identificar os pacientes que podem 
ser atendidos na Instituição e verificar os recursos disponíveis para esse atendimento. 
Principalmente em condições de vitimas múltiplas e situações de desastre e catástrofes. 
 
III – Exame Primário: 
Em pacientes politraumatizados deve-se estabelecer uma seqüência para o atendimento 
e tratamento. Deve-se fazer o exame primário rápido, reanimação das funções vitais, o exame 
secundário e o inicio do tratamento definitivo. Este processo constitui-se o ABC do trauma. 
A – Vias Aéreas com cuidados da coluna cervical 
B – Respiração e ventilação 
C – Circulação com controle da hemorragia 
D – Incapacidade, estado neurológico 
E – Exposição e controle da hipotermia 
Durante o exame primário as situações de risco de vida devem ter sua identificação e o 
tratamento iniciados, simultaneamente. 
As prioridades são aqui apresentadas em seqüência didática, porém na prática estas 
etapas são simultâneas. Nos pacientes pediátricos as prioridades são as mesmas do paciente adulto. 
 
A – Vias Aéreas com controle da Coluna Cervical: 
O primeiro passo no exame primário é a avaliação das vias aéreas para garantir-se sua 
permeabilidade. Durante a rápida avaliação deve-se identificar sinais de obstrução das vias aéreas, 
diagnosticar a presença de corpos estranhos e fraturas de face, mandíbula, traquéia, laringes e 
demais condições que podem levar a obstrução. 
Manual de Urgência/Emergência – Modelo Trauma ATLS 
 
Serviço de Cirurgia Geral e Aparelho Digestivo – HUJBB/UFPA 
 
6 
As manobras para assegurar a permeabilidade das vias aéreas devem ser feitas com 
proteção da coluna cervical. Para isto são recomendadas as manobras de “levantamento do queixo” 
(Chin Lift) e de “anteriorização da mandíbula” (Jaw Thrust). Ao lado disto deve-se tomar grande 
cuidado com a movimentação excessiva da coluna cervical. Com base na história deve-se suspeitar 
da perda da integridade da coluna cervical, lembrando sempre que um exame neurológico isolado 
não exclui lesão cervical. Deve-se obter uma radiografia lateral da coluna cervical por inteiro. 
Mesmo esta radiografia não exclui providenciar imobilização da coluna cervical com colar semi-
rígido. Caso seja necessária a retirada do colar cervical, um dos membros da equipe deve 
providenciar a imobilização manual, mantendo alinhada a cabeça e pescoço. O colar cervical deve 
ser mantido até que se possa excluir lesão cervical. 
 
Importante: Todo paciente politraumatizado, principalmente aqueles que apresentam nível de 
consciência alterada ou em trauma fechado acima da clavícula, deve-se suspeitar da existência de 
lesão cervical. 
Ciladas: 1 – Corpo estranho 
 2 – Fraturas 
 3 – Lesão cervical 
 
B – Respiração: 
Para uma boa ventilação precisa-se, além da patência das vias aéreas, de uma adequada 
troca de gases em nível alveolar. Uma boa ventilação está na dependência dos pulmões, parede 
torácica e diafragma. Estes componentes devem ser examinados rapidamente. 
O tórax deve ser exposto e inspecionado quanto a expansão, deformidades, ferimentos, 
escape anormal de gás. Ausculta para verificar chegada de ar aos pulmões. A percussão pode 
revelar presença de ar ou sangue no tórax. 
As lesões que podem de imediato alterar a respiração são: pneumotórax hipertensivo, 
tórax instável com contusão pulmonar e pneumotórax aberto. Lesões menos graves, hemotórax, 
pneumotórax simples, fraturas de costelas e contusões pulmonares podem comprometer a 
ventilação de forma mais leve. 
Ciladas: 1 – Pneumotórax hipertensivo 
 2 – Tórax instável com contusão pulmonar 
 3 – Pneumotórax aberto 
Manual de Urgência/Emergência – Modelo Trauma ATLS 
 
Serviço de Cirurgia Geral e Aparelho Digestivo – HUJBB/UFPA 
 
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C – Circulação com controle da hemorragia: 
1 – Volume sangüíneo e débito cardíaco: 
A hemorragia é a causa mais freqüente de óbito no período pós-trauma. Toda 
hipotensão em pacientes traumatizados deve ser considerada hipovolêmica até prova em contrário. 
É necessária uma avaliação rápida do estado hemodinâmico do paciente traumatizado, 
para isto lança-se mão de três elementos que fornecem informações preciosas em poucos 
segundos: o nível de consciência, cor da pele e pulso. 
 
 Nível de Consciência: 
Com a diminuição do volume sangüíneo há prejuízo da perfusão cerebral alterando o 
nível de consciência, apesar de eventualmente haver pacientes conscientes com grandes perdas 
sangüíneas. 
 
 Cor da Pele: 
Paciente com pele rósea na face e extremidades raramente terá hipovolemia. Ao 
contrário de pele acinzentada na face e esbranquiçada nas extremidades. 
 
 Pulso: 
Pulso central de fácil acesso (femural ou carotídeo) deve ser examinado de ambos os 
lados. Pulso rápido e filiforme são normalmente sinais de hipovolemia. Pulso irregular representa 
sinal de alerta cardíaco. Ausência de pulso sem manifestação local significa necessidade de ação 
imediata de reanimação. 
 
 2 – Sangramento: 
Hemorragias externas graves são identificadas e controladas no exame primário. O 
melhor controle desta hemorragia faz-se com compressão manual. Os torniquetes não devem ser 
utilizados por causarem lesão tecidual e isquemia distal. 
Sangramentos no tórax, abdome, ao redor das fraturas podem ser responsáveis por 
perdas sangüíneas importantes. 
Ciladas: Hipovolemia devido a: 
1 – Lesões abdominais e torácicasManual de Urgência/Emergência – Modelo Trauma ATLS 
 
Serviço de Cirurgia Geral e Aparelho Digestivo – HUJBB/UFPA 
 
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2 – Fraturas de fêmur e bacia 
3 – Comprometimento arterial e venoso 
 
D – Incapacidade – Avaliação Neurológica: 
 Maneira simples de avaliar o nível de consciência é o AVDI: 
A – Alerta 
V – Resposta a estímulos verbais 
D – Resposta a estímulo doloroso 
I – Inconsciente 
A escala de Glasgow que é rápida e simples deve ser realizada, sendo a mais realizada, 
pois não permite tecer prognósticos. 
Ciladas: 1 – Trauma craniano 
 2 – Choque 
 3 – Alteração da consciência por álcool e drogas – este é diagnóstico de exclusão. 
 
E – Exposição – Controle de Hipotermia: 
Despir o paciente, de preferência cortando as vestes e prevenir a hipotermia utilizando 
cobertores. Realizar rolamento do paciente para avaliar o dorso. 
 
IV – Reanimação: 
A – Vias Aéreas: 
O Chin Lift e Jaw Thrust na maioria dos casos são suficientes. 
Se o paciente está inconsciente a utilização da Cânula de Guedel é mandatória. Se não 
houver melhora, cabe avaliar a necessidade de intubação orotraqueal. 
Entende-se por via aérea definitiva, a presença de um tubo alocado na traquéia com um 
“cuff” insuflado, podendo a mesma ser obtida por via cirúrgica ou não. 
O controle definitivo de pacientes que tiveram comprometimento das vias aéreas, que 
tem problemas ventilatórios ou estão inconscientes, é a entubação endotraqueal, não se esquecendo 
o controle da coluna vertebral. 
Um dos sinais mais freqüentes de hipóxia é a agitação psico-motora, que impede a 
intubação orotraqueal nos pacientes conscientes. Nestes casos deve-se usar a seqüência rápida de 
intubação. 
Manual de Urgência/Emergência – Modelo Trauma ATLS 
 
Serviço de Cirurgia Geral e Aparelho Digestivo – HUJBB/UFPA 
 
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Caso a entubação esteja contra indicada ou não acessível por dificuldades técnicas, 
deve-se adotar uma via aérea cirúrgica. 
 
B – Respiração / Ventilação / Oxigenação: 
Para uma ventilação e oxigenação adequadas são necessárias condições adequadas de 
troca gasosa. Onde pode ser necessário realizar drenagem torácica. 
O pneumotórax hipertensivo deve ser imediatamente tratado por descompressão 
torácica. 
Todo paciente traumatizado necessita de oxigenioterapia suplementar. 
Como adjuntos à abordagem das vias aéreas usa-se a oximetria de pulso, capnógrafo. 
A gasometria arterial, também é de grande valor na monitorização dos padrões ventilatórios dos 
pacientes. 
 
C – Circulação: 
Dois cateteres de grosso calibre devem ser inseridos preferencialmente em veias 
periféricas de membros superiores. Uma vez puncionada, deve-se colher sangue para tipagem 
sangüínea, prova cruzada, exames laboratoriais necessários e teste de gravidez em todas as 
mulheres em idade fértil (reprodutiva). 
Deve-se iniciar a administração vigorosa de líquidos e a melhor solução é o Ringer 
Lactado. A infusão deve ser rápida em volume de até 2-3 litros. 
O choque na maioria das vezes é hipovolêmico. Caso não haja resposta à infusão 
rápida de Ringer Lactado, a administração de sangue pode ser necessário. O choque hipovolêmico 
não deve ser tratado com vasopressores, esteróides ou bicarbonato de sódio. 
Como prevenção da hipotermia recomenda-se o aquecimento dos líquidos que serão 
infundidos nos pacientes. 
A monitorização eletrocardiográfica é mandatória. Arritmias taquicardias 
inexplicáveis, fibrilação atrial, extrassístoles ventriculares podem representar contusão cardíaca. 
Bradicardia, condução aberrante ou extrassístoles deve-se pensar em hipóxia ou hipoperfusão. 
 
D – Sondas Urinárias e Gástricas: 
1 – Sondas Urinárias: 
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 Um bom indicador da volemia é o débito urinário. A sonda vesical está indicada em 
todos os pacientes traumatizados, excetuando-se quando há suspeita de lesão uretral que deve ser 
suspeitada quando há sangue no meato urinário, hematoma em períneo e próstata alta ao toque 
retal. 
2 – Sonda Gástrica: 
Deve ser utilizada no intuito de diminuir a distensão gástrica e os riscos de aspiração. 
Em caso de suspeita de fratura da lâmina crivosa a sonda deve ser introduzida por via oral (fratura 
de face). 
 
E – Monitorização: 
A avaliação da melhora clínica do paciente deve ser quantificada através de parâmetros 
fisiológicos como F.R., pulso, TA, gasometria arterial, temperatura e débito urinário. 
A oximetria de pulso é método eficaz na monitorização. O oxímetro mede a saturação 
da hemoglobina pelo oxigênio utilizando método colorimétrico, mas não mede a PaO2. 
 
F – Necessidade de Transferência: 
O médico que está atendendo ao paciente deve estabelecer da necessidade ou não de 
transferência. Importante: o médico atendente deve se comunicar com o médico que irá receber o 
paciente. 
Não deve o médico que transfere ou o que recebe, delegar a qualquer pessoa os 
procedimentos técnicos da transferência. 
 
V – Radiografias: 
Devem ser feitas de maneira racional para não prejudicar a reanimação do paciente. 
Em pacientes com trauma multissistêmico deve-se utilizar 03 radiografias: 
1 – Coluna Cervical 
2 – Rx Tórax AP 
3 – Pelve AP 
Posteriormente, complementa-se com quantas radiografias forem necessárias. 
 
 
 
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VI – Exame Secundário: 
Só deve-se iniciar o exame secundário quando estiver completado o exame primário 
(ABCDE), iniciado a reanimação e revisto o ABCDE. 
O exame secundário é realizado no sentido cabeça ao dedo do pé. Neste exame deve 
estar incluído a escala de Glasgow. O resumo do exame secundário é – “ tubos e dedos em todos 
os orifícios”. 
 
A – História: 
Breve história com dados importantes deve ser pesquisado em pacientes traumatizados 
para memorizar utilizamos a sigla AMPLA. 
A – Alergia 
M – Medicamentos de uso habitual 
P – Passado médico 
L – Líquidos e alimentos ingeridos 
A – Ambiente relacionado ao trauma 
 
O trauma é classificado em dois grupos – fechado e penetrante. 
1 – Trauma fechado ou contuso – colisões, quedas, relacionados ao trabalho. 
Nos acidentes automobilísticos informações sobre: uso de cinto de segurança, 
deformação do volante, ejeção da vítima do veículo o que aumenta as lesões graves. 
2 – Trauma penetrante – armas de fogo, arma branca, objetos perfurantes estão 
aumentando. Informações sobre tipo de projétil, calibre, distância do disparo são dados 
importantes. 
3 – Queimaduras – isoladas ou acompanhadas por trauma fechado ou penetrante, a 
presença de lesões por inalação são todos dados importantes para o tratamento destes pacientes. 
 
B – Exame Físico: 
1 – Cabeça – toda a cabeça e couro cabeludo devem ser palpados para descobrir 
lacerações, fraturas ou contusões. 
Cuidado com os olhos, presença de lentes, lesões penetrantes, exame de acuidade 
visual e tamanho da pupila deve ser realizado. 
Manual de Urgência/Emergência – Modelo Trauma ATLS 
 
Serviço de Cirurgia Geral e Aparelho Digestivo – HUJBB/UFPA 
 
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2 – Face – os traumatismo maxilo-faciais podem ter seu tratamento postergado sem 
riscos, desde que não estejam associados a obstrução de vias aéreas. 
 
3 – Coluna Cervical – todos os pacientes com trauma craniano e maxilo-facial 
devem ser considerados como potenciais de lesão da coluna cervical, até que se possa excluir a 
lesão após radiografias. 
Devemos fazer exame de inspeção, palpação e ausculta do pescoço. 
As carótidas devemser palpadas e auscultadas. A presença de sopros e frêmitos 
levantam suspeitas de lesão carotídeas. 
Cuidados extremos se deve ter com a retirada de capacete de motociclistas em 
suspeita de lesão cervical. 
Fendas penetrantes que ultrapassam a platisma representam indicação de exploração 
cirúrgica. 
 
4 – Tórax – a inspeção da face anterior e posterior é imprescindível para identificar 
lesões como pneumotórax aberto, segmentos instáveis, contusões e hemorragias de parede 
torácica. A palpação deve incluir clavícula, esterno e todas as costelas. A ausculta por vezes é 
prejudicada pelos ruídos ambientais. Bulhas cardíacas abafadas e pressão de pulso diminuída 
indicam tamponamento cardíaco que também é suspeitado, junto com pneumotórax hipertensivo, 
quando há distensão das veias do pescoço. 
 
5 – Abdome – o diagnóstico específico do órgão lesado não é tão importante, 
quanto a identificação da lesão e a indicação de correção cirúrgica. O exame abdominal deve ser 
repetido várias vezes, pois os achados abdominais podem mudar. 
Paciente com hipotensão inexplicáveis, lesões neurológicas, alterações do sensório 
por álcool e drogas com exame abdominal duvidoso, são candidatos a lavagem peritoneal. 
 
6 – Períneo / Reto / Vagina – devem ser examinados a procura de contusões, 
hematomas, lacerações e sangramento uretral. 
O toque retal é parte importante do exame secundário, bem como nas mulheres o 
toque vaginal é mandatório. 
 
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7 – Sistema Músculo – Esquelético – inspeção para observar contusões e desvios. 
À palpação pesquisar dor nos ossos e crepitação ajuda a identificar fraturas ocultas. Compressão 
das cristas ilíacas anteriores e da sínfese púbica pode sugerir fratura pélvica. 
Atentar fortemente para palpação de pulso periférico e síndrome compartimental. 
 
8 – Sistema Nervoso – a aferição da escala de coma de Glasgow facilita a 
identificação precoce das alterações no estado neurológico do paciente. Nos pacientes com lesões 
neurológicas é necessário um parecer precoce do neurocirurgião. 
 
VII – Reavaliação: 
O paciente deve ser reavaliado constantemente para assegurar que fatos novos não 
passam despercebidos. 
O alivio da dor é parte importante no manuseio do paciente. O uso de opiáceos 
freqüentemente é necessário o que é um complicador dos exames subseqüentes. 
A monitorização contínua dos sinais vitais e débito urinário é parte importante da 
conduta. O débito urinário desejável no adulto é de 50 ml/h. Nas crianças com mais de 1 ano 
devemos manter o débito urinário de 1 ml/Kg/h. 
 
VIII – Evidências Forenses: 
A equipe de atendimento deve preservar todas as evidências. 
Os itens tais como: roupa, balas, facas, etc., devem ser guardados para a polícia. As 
determinações laboratoriais de nível de álcool ou drogas é sumamente pertinente. 
 
IX – Cuidados Definitivos: 
 Uma vez que o paciente seja estabilizado do ponto de vista hemodinâmico, ou atingir o 
mínimo de condições clínicas para sua transferência. A transferência do paciente deve ser para um 
hospital que tenha condições e recursos para resolver suas necessidades. 
O tratamento definitivo pode ser para outro hospital ou para setor que possa dar 
continuidade a seu tratamento (centro cirúrgico). 
 
 
 
Manual de Urgência/Emergência – Modelo Trauma ATLS 
 
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Resumo: 
 Realizar o exame primário e secundário. 
 Realizar os procedimentos necessários para estabilização do paciente. 
 Realizar a seqüência do ABCDE. 
 Transferência para tratamento definitivo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Manual de Urgência/Emergência – Modelo Trauma ATLS 
 
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VIAS AÉREAS – VENTILAÇÃO 
 
Objetivos: 
 Avaliar a permeabilidade da via aérea. 
 Demonstrar os procedimentos de estabilização da via aérea. 
 Definir via aérea definitiva. 
 Estabelecer a necessidade de entubação ou de via aérea cirúrgica. 
 
Introdução: 
Ao abordar um paciente traumatizado, o primeiro passo é verificar se faz-se necessário 
viabilizar uma via aérea adequada, verificando-se em seguida os cuidados com a ventilação, para 
que as trocas gasosas se façam, no mínimo necessário, para manter o paciente vivo. 
Lembre-se sempre que “quem não respira, não vive”. 
Não esqueça, ao atender o paciente, dos cuidados básicos necessários de proteção do 
socorrista, como o uso de luvas e máscara. 
Ao abordar o paciente, os cuidados com as vias aéreas e ventilação são: 
1. Verificar se o paciente está com a via aérea pérvia e ventilando adequadamente. 
2. Se há algum sinal de obstrução proceder à manobras de elevação do mento ou anteriorização 
da mandíbula, procedendo se necessário à retirada de corpos estranhos ou aspiração de 
secreções, não esquecendo dos cuidados de proteção da coluna cervical. 
3. Se for necessário, nos casos que o paciente não consiga manter espontaneamente uma via 
aérea ou ventilação adequadas, executar os procedimentos para abordagem da via aérea e 
ventilação, que são: 
A. Inserção de Cânula Orofaríngea (Cânula de Guedel). 
B. Inserção de Cânula Nasofaríngea. 
C. Ventilação sem Intubação. 
D. Intubação Orotraqueal. 
E. Intubação Nasotraqueal. 
F. Instalação de Via Aérea Cirúrgica - Cricotiroidostomia por Punção, Cricotiroidostomia 
Cirúrgica e Traqueostomia. 
 
Manual de Urgência/Emergência – Modelo Trauma ATLS 
 
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Durante a avaliação das vias aéreas deve-se proceder a um rápido exame do paciente 
chamado de Avaliação em 10 segundos. 
Essa avaliação é realizada da seguinte forma: o médico se apresenta para o paciente, 
pergunta pelo seu nome e o que ocorreu. 
Caso o paciente tenha condições de responder a sua interpelação e prestar atenção a 
suas perguntas significa que: via aérea encontra-se pervea, há o mínimo de reserva respiratória e 
hemodinâmica para a resposta, e há o mínimo de nível de consciência. 
Defini-se via aérea definitiva como sendo um tubo na traquéia com cuff insuflado, 
conectado a um fonte de oxigênio. Essa via aérea definitiva pode ser: intubação orotraqueal, 
intubação nasotraqueal, cricotireoidostomia cirúrgica e traqueostomia. 
Em caso de necessidade de intubação, se o paciente encontra-se agitado e há 
dificuldade para realizar a intubação, pode-se lançar mão de um procedimento chamada de 
seqüência de intubação rápida. 
Esse procedimento é realizado com uso de succnil colina na dose de 1 a 2 mg/kg, 
associado a um benzodiazepínico. Esta manobra permite o relaxamento da musculatura do 
paciente, facilitando a intubação. Porém, é necessário que quem realizar o procedimento tenha 
habilidade em realizar a cricotireoidostomia. 
 
Descrição dos procedimentos para se manter uma via aérea patente: 
Inserção de Cânula Orofaríngea: 
1. Medir o tamanho da cânula adequada, que corresponde à distância que vai do centro da boca 
até o ângulo da mandíbula. 
2. Abrir a boca do paciente pela elevação do mento. 
3. Inserir um abaixador de língua o mais posterior possível, com cuidado para não provocar 
engasgo. 
4. Inserir a cânula posteriormente, deslizando-a delicadamente sobre a língua, até que a aba da 
cânula fique sobre os lábios do paciente. Após isto retirar o abaixador de língua. 
5. Pode-se inserir a cânula sem abaixador, em adultos, preferencialmente nos casos em que não 
haja fratura dos ossos da faceou suspeita de fratura do palato, introduzindo-se a cânula em 
direção a este, girando em sentido posterior a 180
º
 após a introdução, deslizando-a. 
6. Ventilar o paciente com máscara de bolso ou ambú e mascara. 
 
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Inserção de Cânula Nasofaríngea 
1. Examinar as fossas nasais para verificar se não há obstrução (pólipos, fraturas, hemorragias). 
2. Selecionar a cânula de tamanho adequado. 
3. Lubrificar a cânula com lubrificante hidrossolúvel ou água. 
4. Colocar a ponta da cânula na narina e direcioná-la posteriormente e em direção à orelha. 
5. Introduzir delicadamente a cânula pela narina até a hipofaringe com um discreto movimento de 
rotação, até que a base fique apoiada na narina. 
6. Ventilar o paciente com máscara de bolso ou ambú e máscara. 
 
Ventilação com Máscara Facial de Bolso 
 Esta técnica é utilizada com uma pessoa e a máscara deve possuir válvula unidirecional, para 
não haver refluxo de secreções. 
1. Conectar a fonte de oxigênio à máscara, com fluxo máximo possível. 
2. Colocar a máscara na face do paciente, exercendo pressão com as duas mãos, para que não 
haja escape de ar, utilizando as manobras de elevação do mento ou anteriorização da 
mandíbula. 
3. Insuflar pelo bocal, observando o movimento torácico o paciente. 
4. Ventilar a cada 5 segundos. 
 
Ventilação com Ambú e Máscara 
 Esta técnica é utilizada com duas pessoas. 
1. Conectar o oxigênio ao ambú com fluxo máximo possível, conectando em seguida o ambú à 
máscara. 
2. Um socorrista coloca a máscara de maneira adequada, observando as manobras para 
permeabilizar a via aérea. 
3. O outro socorrista manipula o ambú com as duas mãos. 
4. Verifica-se a eficiência da ventilação através do movimento torácico e ventila-se a cada 5 
segundos. 
 
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Intubação Orotraqueal no Adulto 
1. Verificar se as manobras de ventilação são adequadas, a disponibilidade de um aspirador 
funcionante, se o “cuff” da sonda funciona (enche e esvazia) e se o laringoscópio funciona 
(conecta-se a lâmina no cabo e verifica-se se a luz acende). 
2. Um assistente imobiliza o pescoço e a cabeça, sem hiperextender ou hiperfletir. 
3. Segura-se o laringoscópio com a mão esquerda, introduzindo-o pelo ângulo direito da boca, 
deslocando a língua com a lâmina para o lado esquerdo. 
4. Visualiza-se a epiglote e as cordas vocais. 
5. Inserir delicadamente a sonda endotraqueal na traquéia, sem aplicar pressão sobre os dentes ou 
partes moles da boca. 
6. Insuflar o “cuff’ até que haja uma vedação adequada (não hiperinsuflar). 
7. Conferir a posição da sonda com ambu, visualizando a expansão torácica e ascultando em 
seguida ambos os pulmões. 
8. Se a intubação não for conseguida em alguns segundos, parar, ventilar e reiniciar o 
procedimento. 
9. Fixar adequadamente a sonda de modo que não haja risco de deslocamento, caso seja 
necessário deslocar ou transportar o paciente. 
10. Se estiverem disponíveis conectar o oxímetro de pulso e capnógrafo e povidenciar a 
radiografia do tórax. 
 
Intubação Nasotraqueal no Adulto 
 Este tipo de intubação está contra- indicada em pacientes com fraturas de base de crânio ou em 
apnéia. 
1. Verificar se a ventilação está adequada, o “cuff” e a imobilização do pescoço. 
2. Se o paciente estiver consciente borrifar anestésico e vasoconstritor, se inconsciente borrifar 
apenas vasoconstritor. 
3. Lubrificar a sonda, introduzir delicadamente no nariz, direcionando-a inicialmente para cima e 
depois posteriormente e para baixo até a nasofaringe, posicionando-a em seguida 
posteriormente ao faringe. 
4. Neste ponto deve-se tentar identificar o fluxo de ar, avançando a sonda até supostamente a 
entrada da traquéia, onde o fluxo é mais perceptível. Perceber o momento da inspiração e neste 
 
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introduzir a cânula na traquéia. Pode-se associar uma leve pressão sobre a cartilagem tireóide. 
Insuflar o “cuff”. 
5. Se não obtiver sucesso em alguns segundos, reiniciar o procedimento. 
6. Fixar em seguida a sonda e se estiverem disponíveis conectar capnógrafo e oxímetro de pulso e 
providenciar a radiografia do tórax. 
 
Complicações das Intubações 
1. Insucesso do procedimento ou intubação esofágica, levando a morte. 
2. Intubação seletiva. 
3. Aspiração de vômitos. 
4. Pneumotórax. 
5. Luxação ou fratura da mandíbula, lesão de partes moles ou arrancamento de dentes. 
6. Laceração e/ou hemorragia de vias aéreas. 
7. Agravamento de lesões cervicais. 
8. Ruptura do “cuff”. 
 
Observação: na criança executa-se somente intubação orotraqueal, observando-se os mesmos 
cuidados e técnicas na intubação do adulto. Nas crianças menores, onde não houve ainda completo 
desenvolvimento das cartilagens traqueais, utiliza-se cânulas sem “cuff”. 
 
Cricotireoidostomia por Punção 
1. Prepara um tubo de oxigênio com duas saídas ou intermediar um “Y” de plástico ou de vidro, 
conectando a uma fonte de oxigênio. 
2. Preparar um jelco 12 ou 14 para punção conectado a uma seringa de 5 ou 10cc. 
3. Fazer assepsia da face anterior do pescoço, palpar a membrana cricotireóidea, estabilizar a 
traquéia com o polegar e indicador de uma das mãos. 
4. Puncionar na linha média, fazendo um ângulo de 45º com a pele caudalmente, aspirando à 
medida que a agulha avança, até que se aspire ar. 
5. Recuar a seringa com a agulha do jelco, introduzindo sua parte plástica (cateter), tomando 
cuidado para não penetrar na parede posterior. 
 
 
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6. Conectar a extensão de oxigênio ao cateter, ventilando intermitentemente na proporção de 1:4 
segundos, fechando o orifício na extensão de oxigênio. Fixar imediatamente o cateter. Pode-se 
manter a ventilação cerca de 30 a 45 minutos. 
7. Observar a insuflação dos pulmões e ascultar o tórax. 
 
Complicações: 
1. Insucesso no procedimento. 
2. Asfixia, aspiração. 
3. Perfuração esofágica. 
4. Hematoma. 
5. Enfisema subcutâneo ou mediastinal. 
 
Cricotoreoidostomia Cirúrgica 
1. Fazer assepsia da face anterior do pescoço. 
2. Identificar a membrana cricotireoidea e fixar a traquéia com os dedos médio e polegar da mão 
esquerda. 
3. Fazer uma incisão transversa na pele sobre a membrana e aprofundar a incisão cuidadosamente 
através dela. 
4. Inserir o cabo do bisturi na incisão e girá-lo 90º ou intriduzir uma pinça hemostática para abrir 
a via aérea. 
5. Introduzir uma cânula de traqueostomia ou um tubo orotraqueal e em seguida insuflar o “cuff”. 
Fixar a sonda. 
6. Ventilar o paciente, observando a expansão torácica e ascultar os pulmões. 
 
Complicações: 
1. Insucesso no procedimento. 
2. Aspiração de sangue. 
3. Falso Trajeto. 
4. Hemorragia. 
5. Laceração do esôfago. 
6. Laceração da traquéia. 
 
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7. Lesão de cordas vocais. 
8. Enfisema subcutâneo ou mediastinal. 
 
Observação: a Traqueostomia é um procedimento cirúrgico complicado e de demorada execução, 
sendo uma conduta de exceção, para médicos habilitados. 
 
 
 
Resumo:. 
 Via aérea é a primeira prioridade no tratamento. 
 Estabilizar e manter a via aérea deve ser realizada imediatamente. Realizar os meios de manter a via aérea, inclusive intubação. 
 Se necessário seqüência rápida de intubação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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TRAUMA ABDOMINAL 
 
Objetivos: 
 Revisar a anatomia do abdome. 
 Avaliar o trauma abdominal. 
 Demonstrar os procedimentos para avaliar o trauma abdominal. 
 Avaliar as indicações de laparotomia. 
 
Introdução: 
O advento da arma de fogo e o transito automobilístico elevaram o número de 
pacientes politraumatizados exigindo, pela equipe de saúde, um amplo e eficaz atendimento do 
paciente. Porém, a lesão intra-abdominal não diagnosticada continua sendo causa freqüente de 
morte evitável em trauma no tronco. Logo, qualquer doente com trauma contuso ou penetrante em 
tronco deve ser considerado como portador em potencial de lesão abdominal. 
 
Anatomia do Abdome: 
 Externa: 
Abdome Anterior: área delimitada superiormente pela linha transmamilar, inferiormente 
pelos ligamentos inquinais e sínfise púbica e lateralmente pelas linhas axilares anteriores. 
Flancos: compreendido pelas linhas axilares anteriores e posteriores, desde o 6º espaço 
intercostal até as cristas ilíacas. 
 Dorso: delimitado pelas linhas axilares posteriores, ponta das escapulas e cristas ilíacas. 
 
 Interna: 
Cavidade Peritoneal: podendo ser dividida em superior, contendo a região tóraco-
abdominal com o diafragma, estômago baço, fígado e cólon transverso e inferior com o delgado e 
sigmóide. 
Cavidade Pélvica: contem reto, bexiga, vasos ilíacos e genitália interna 
Espaço Retroperitoneal: tendo a aorta abdominal, cava inferior, duodeno, pâncreas, rins, 
ureteres, cólon ascendente e descendente. Lesões nesta área são de difícil diagnóstico e escapam 
ao LPD. 
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Mecanismo de Trauma: 
 Trauma Contuso: 
Causados por impacto direto, levando a compressão ou esmagamento, podendo 
ocasionar ruturas com posterior hemorragia ou peritonite. Outro tipo de lesão são as causadas por 
desaceleração com deslocamento desigual de orgãos +/- fixos, onde podem ocorrer lacerações dos 
ligamentos de suporte (fígado e baço). 
 
 Trauma Penetrante: 
Causam lesões por corte ou laceração, onde os projeteis de alta velocidade transferem 
energia cinética às vísceras provocando efeito de cavitação temporária podendo causar lesões mais 
graves. 
 
Avaliação: 
Diante de um trauma abdominal, há necessidade de se identificar se a causa da 
hipotensão é abdominal. Em pacientes estáveis, a observação com reavaliações freqüentes ajudará 
a determinar a provável lesão. 
 
 História: 
Em trauma fechado é fundamental a obtenção de informações. Em acidentes 
automobilísticos de como ocorreu, velocidade, condições do automóvel, estado do paciente ao ser 
resgatado, tipo de colisão, uso de medidas de segurança. 
No trauma penetrante, informações como tipo de arma, distância, número de facadas 
ou tiros, a quantidade de sangue no local e as condições do doente no local são muito importantes. 
 
 Exame Físico: 
Deve ser meticuloso e sistemático com registro de todos os dados. 
Inspeção: ver todo o abdome anterior, posterior e períneo, observando a presença de 
abrasões, ferimentos, contusões, corpos estranhos, evisceração. 
Ausculta: pesquisar ruídos hidroáereos. 
Percussão: pesquisar timpanismo, macicez ou dor. 
Palpação: pesquisar irritação peritoneal. 
 
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Em ferimentos penetrantes pode ser optar pela exploração digital local do ferimento, 
porém, em ferimentos acima do rebordo costal é contra-indicada a exploração devido ao risco de 
pneumotórax. 
Deve ainda ser testada a estabilidade pélvica na suspeita de fratura de bacia. 
É tempo importante e fundamental no exame do abdome a avaliação do pênis, períneo 
e reto. Deve-se pesquisar sangue no meato urinário, hematomas no períneo, sangue ou próstata 
elevada ao toque retal, além de avaliar o tônus do esfíncter. Em mulheres, o toque vaginal é 
importante para avaliação de ferimentos ou fraturas. A avaliação da região glútea deve ser 
realizada pela possibilidade de lesão do reto em sua porção pélvica. 
 
 Sondagens: 
Faz parte do exame como meios adjuvantes de diagnóstico e monitorização. A 
sondagem gástrica tem a finalidade de descomprimir o estômago e remover seu conteúdo, além de 
diminuir o risco de aspiração. Não esquecer que em suspeita de fratura de face é contra-indicada a 
sondagem naso-gástrica e que a mesma deve ser feita por via oro-gástrica. 
O cateterismo vesical tem a finalidade de aliviar a retenção urinária, bem como servir 
de parâmetro de reposição volêmica adequada como índice de perfusão renal. Não esquecer de 
avaliar pênis, períneo e reto antes da sondagem vesical. 
 
 Coleta de sangue e urina: 
Deve ser solicitado laboratório e tipagem com prova cruzada e -hcg nas mulheres. A 
urina deve ser encaminhada para determinação de drogas e teste de gravidez. 
 
Exames Complementares: 
 Radiológicos: 
No trauma contuso a rotina radiológica (coluna cervical, tórax e bacia). Em pacientes 
estáveis pode-se lançar mão do raio-x de abdome em pé e deitado. 
No trauma penetrante, paciente instável, não há necessidade de raio-x. Em pacientes 
estáveis, com lesões em transição tóraco-abdominal está indicado exames radiológicos de acordo 
com a lesão possível. 
 
 
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Exames contrastados são indicados em pacientes estáveis que necessitam de 
elucidação diagnóstica, principalmente em suspeita de trauma do trato urinário. 
Exames contrastados do trato digestivo são indicados na suspeita de lesão 
retroperitoneal devido ser de difícil avaliação. 
 
 Lavado Peritoneal Diagnóstico: 
Método invasivo, de rápida execução e sensibilidade de 98%. É indicado em: 
modificação do estado de consciência, alterações da sensibilidade, lesão de estruturas adjacentes, 
achados duvidosos no exame físico, previsão de longa perda de contato com o doente. 
Sua contra-indicação absoluta está na vigência de indicação absoluta de laparotomia, 
como no caso de trauma penetrante com evisceração. Como contra-indicações relativas estão: 
obsidade mórbida, gestação, cirrose avançada, coagulopatia, cirurgia previa. 
 
 Ultrassonografia: 
Exame que tem sensibilidade, especificidade e acuraria semelhante ao LPD. Fatores 
que dificultam sua utilização são: a obesidade, enfisema subcutâneo, intervenções abdominais 
prévias. 
Entre as suas desvantagens estão o fato do ultrassom ser operador dependente. Entre as 
suas vantagens estão o fato de ser um procedimento não invasivo, de baixo custo e que pode ser 
realizado em vários momentos, além de visualizar retroperitonio. 
 
 Tomografia Computadorizada: 
Indicada apenas em pacientes hemodinamicamente estáveis e de preferência normais. 
Ajuda na avaliação de lesões em órgãos específicos, retroperitoneais e pélvicos, entre eles o 
pâncreas. 
Entre suas desvantagens está o fato de ser um exame demorado, o que obriga a ser 
realizado em pacientes com o mínimo de estabilidade hemodinâmica, a necessidade de um técnico, 
que nem sempre está de plantão. Entre sua vantagens está o fato de atingir órgãos retroperitoniais e 
avaliação de trauma pancreático. 
 
 
 
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Indicações de Laparotomia: 
 Evisceração. 
 Pneumoperitonio ao raio-x. 
 Instabilidade hemodinâmica. 
 LPD ou US fast positivos. 
 Peritonite. 
 Evidencia de lesão abdominal em exames complementares. 
 
Resumo: 
 Trauma abdominal, a consulta com o cirurgião deve ser precoce. 
 No trauma fechado pode-se lançar mão do LPD, US e TC conforme necessidade. 
 Avaliar a necessidade de exames complementares. 
 Identificar as indicações de laparotomia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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TRAUMA TORÁCICO 
 
Objetivos: 
 Identificar as lesões com risco iminente de vida. 
 Identificar as lesões com potencial de risco de vida. 
 Demonstrar os procedimentos para estabilizar o paciente. 
 Identificar a necessidade de toracotomia de urgência. 
 
Introdução: 
A rápida expansão no conhecimento dos efeitos fisiopatológicos da biocinética do 
trauma, o avanço tecnológico no tratamento intensivo do politraumatizado aliado ao refinamento 
da técnica operatória, tornaram-se perfeitas combinações na abordagem terapêutica atual das 
lesões torácicas. 
Hoje, cerca de 25% das mortes por trauma, são de natureza torácica e três aspectos 
clínicos são tidos como questões vitais: insuficiência respiratória, choque hipovolêmico e 
tamponamento cardíaco. Assim, jamais poderia ser deixado de lado, este relevante capítulo da 
traumatologia. 
Como cerca de 85% dos pacientes precisam de toracotomia, por isso, este tema tem 
papel relevante na formação médica geral, principalmente àqueles que venham a trabalhar em 
plantão de emergência. 
 
Lesões com Risco Iminente de Vida: 
 Obstrução da Via Aérea: 
Trauma na parte superior do tórax pode resultar em luxações ou em fratura-luxações 
que podem levar a lesão da via aérea. 
O reconhecimento da obstrução da via aérea deve ser realizada de maneira rápida 
através de sinais como: estridor, modificação na qualidade da voz e sinais óbvios de trauma na 
base do pescoço. 
O tratamento deve ser instituído de imediato através do restabelecimento da via aérea, 
seja desobstruindo-a, seja através da intubação do paciente. Dependendo da gravidade pode-se ate 
partir para uma via aérea cirúrgica. 
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 Pneumotorax Hipertensivo: 
Lesão que ocorre devido a entrada de ar para o espaço pleural sem a saída do mesmo 
(sistema unidirecional). Esse mecanismo unidirecional leva a um colapso do pulmão afetado e 
desvio do mediastino, levando a uma diminuição do retorno venoso e comprimindo o pulmão 
contra-lateral, levando ao quadro de insuficiência respiratória, que se não tratada de maneira 
eficaz, pode levar a morte do paciente. 
A causa mais freqüente de pneumotórax hipertensivo é a ventilação mecânica com 
pressão positiva quando de lesão em parênquima pulmonar não diagnosticado precocemente. 
O diagnostico do pneumotórax hipertensivo é de caráter clínico e não radiológico. 
Sinais e sintomas presentes são: insuficiência respiratória, enfisema subcutâneo, desvio de 
traquéia, turgescência jugular, hipertimpanismo à percussão, murmúrio vesicular ausente a 
ausculta torácica, hipotensão, taquicardia. 
O tratamento imediato do pneumotórax hipertensivo exige descompressão imediata 
com inserção de um cateter calibroso a nível do 2º espaço intercostal na direção da linha 
hemiclavicular do lado afetado. Após o alivio do pneumotórax pode-se proceder a drenagem 
torácica e/ou radiografia. 
 
 Pneumotorax Aberto: 
Trata-se de um ferimento na parede torácica que tenha, no mínimo, 2/3 do diâmetro da 
traquéia. Essa lesão leva a um estado de hipoxia devido ao ar sair pelo local do ferimento, não 
chegando oxigênio em quantidade suficiente ao lado são. 
O tratamento do pneumotórax aberto deve ser iniciado com a oclusão do ferimento 
com um curativo em C, ou seja, fechado em três pontas afim de que, durante a inspiração não haja 
entrada de ar pelo ferimento, e durante a expiração, o ar presente no espaço pleural saia para o 
meio ambiente. 
Após esse procedimento realiza-se a drenagem torácica e em seguida o fechamento do 
ferimento da parede torácica. 
 
 
 
 
 
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 Tórax Instável com Contusão Pulmonar: 
Lesão que ocorre quando um segmento da parede torácica não tem continuidade óssea. 
Isso ocorre quando da fratura de 2 ou mais costelas com fraturas cominutivas, onde um segmento 
do tórax fica “solto”, levando a respiração com movimento paradoxal. 
Esta situação leva a restrição respiratória devido a dor provocada pelo trauma, que, 
quando associado à contusão pulmonar, piora o quadro de hipoxia do paciente. 
O tratamento necessita de pronto reconhecimento do quadro clínico, através do 
movimento paradoxal. O tratamento inclui: analgesia, oxigenação suplementar e, se necessário, 
intubação com ventilação positiva, além da drenagem torácica, se necessário. 
A reposição volemica deve ser cuidadosa, pois a área de contusão pulmonar, 
dependendo da extensão, pode levar a um quadro de edema agudo de pulmão. 
 
 Hemotorax Volumoso: 
O hemotórax volumoso é uma entidade clínica que leva a um estado de choque 
hipovolêmico, com todos os sinais e sintomas de choque. È definido quando a drenagem torácica 
tem volume de 1.500 ml ou mais de sangue, ou quando há drenagem de sangue de 200 ml/h em 
duas a quatro horas pós drenagem. 
A causa mais freqüente do hemotórax volumoso é a lesão de grandes vasos. 
Não há turgescência jugular e na ausculta o murmúrio vesicular está ausente, na 
percussão há macicez. 
O tratamento do hemotórax volumoso inicia-se com a drenagem torácica, reposição 
volemica agressiva, o que pode inclui transfusão sangüínea. Nesta situação vale lembrar da 
possibilidade de auto transfusão, já realizada em alguns serviços. 
Nesses casos é obrigatória a avaliação do cirurgião para definir a necessidade de 
toracotomia de urgência. 
 
 Tamponamento Cardiaco: 
Entidade clínica geralmente resultante de ferimento penetrante no tórax com lesão do 
miocárdio. Como o saco pericárdico é uma serosa de tecido inelástico, pequenas quantidades de 
sangue entre o coração e o saco pericárdico levam a restrição da contratilidade miocárdica, 
levando a diminuição do retorno venoso, diminuição do debito cardíaco e conseqüentemente sinais 
e sintomas de choque hipovolêmico. 
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O diagnostico do tamponamento cardíaco é difícil. A tríade de Beck, caracterizada por 
abafamento de bulhas, hipotensão arterial e turgescência jugular, é difícil de ser encontrada, muitas 
vezes, só sendo suspeitada a lesão miocárdica, quando de ferimentos em precórdio. 
Entre os meios de diagnostico pode-se lançar mão do ultrassom (ecocardiograma), 
afim de se visualizar se há a presença de liquido em saco pericárdico. 
Uma vez diagnosticado o tamponamento cardíaco, há a necessidade de tratamento 
imediato, através da pericardiocentese. Para a realização da pericardiocentese é necessário a 
monitorização cardíaca do paciente. 
Deve-se consultar um cirurgião precocemente para que possa ser realizada a 
toracotomia de urgência. 
 
 Toracotomia na Sala de Urgência:Procedimento realizado na sala de urgência, onde, um cirurgião experiente, realiza 
uma toracotomia, acessa o tórax e clampeia a aorta, abre o saco pericárdico e realiza massagem 
cardíaca direta. Procedimento que deve ser realizado apenas por profissional experiente, onde 
mesmo assim o índice de insucesso é alto, ficando seu uso extremamente restrito. 
 
 Lesões Torácicas com Potencial de Risco de Vida: 
Trata-se de lesões torácicas que podem ser identificadas no exame primário, 
podendo ser tratadas no exame primário, ou após realização de radiografias para sua 
confirmação ou durante o exame secundário. Porém, são lesões que se não diagnosticadas e 
tratadas podem levar a risco iminente de vida. São elas: 
1. Pneumotorax simples: cujo o diagnóstico pode ser confirmado pelo raio-x e o tratamento 
realizado a qualquer momento do atendimento do paciente, porém se não tratado, pode evoluir 
par pneumotórax hipertensivo. 
2. Hemotorax: onde a causa mais comum é a laceração pulmonar ou ruptura de vaso intercostal. 
Seu diagnostico é confirmado pelo raio-x e o tratamento realizado pela drenagem torácica. 
3. Contusão Pulmonar: lesão de padrão pneumônico ao raio-x, que deve ser monitorizada através 
de radiografias. 
 
 
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4. Lesão de árvore traqueo-bronquica: incomum, porém fatal, se não suspeitada. Chama a 
atenção quando da drenagem torácica, há escape de ar persistente e sem melhora clínica ou 
radiológica do pneumotórax, podendo ser necessário um segundo dreno torácico até a 
avaliação do cirurgião. 
5. Rutura de Aorta: suspeitada quando de raio-x de tórax há alargamento do mediastino. Lesão 
que deve ter alto índice de suspeição, consulta com cirurgião precoce e tomografia helicoidal 
do tórax. 
6. Hérnia diafragmática: ocorre quando da rutura do diafragma. Em casos duvidosos pode lançar 
mão de contraste ou sonda gástrica com radiografia posterior para confirmação da lesão. 
7. Ferimento transfixante do mediastino: lesão com grande potencial de risco de vida. 
Procedimento a ser executado deve ser a drenagem torácica bilateral, tomografia do tórax e 
consulta precoce com o cirurgião. 
 
Resumo: 
 Identificar lesões com risco de vida. 
 Realizar os procedimentos de estabilização do paciente. 
 Identificar lesões com potencial de risco de vida. 
 Realizar as radiografias necessárias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CHOQUE 
 
Objetivos: 
 Definir o estado de choque. 
 Reconhecer um paciente em estado de choque. 
 Instituir o tratamento do choque. 
 Diferenciar os demais tipos de choque. 
 
Introdução: 
Durante o atendimento de um paciente traumatizado, tem-se por obrigação reconhecer 
a presença da síndrome clínica do choque. 
O diagnóstico inicial é baseado na avaliação clínica com presença de perfusão orgânica 
e de oxigenação tecidual inadequada. 
Definindo o choque como uma anormalidade do sistema circulatório, que resulta em 
perfusão orgânica e tecidual inadequadas, também se transforma em instrumento operacional para 
o diagnóstico e tratamento. Sendo importante identificar a provável causa do choque. 
Nos pacientes traumatizados está diretamente relacionado com o mecanismo de lesão. 
A grande maioria dos pacientes está em hipovolemia, mas o choque cardiogênico ou o 
pneumotórax hipertensivo podem ser a causa, e devem ser considerados nos pacientes com trauma 
torácico. 
O choque neurogênico resulta de lesão extensa do sistema nervoso central ou da 
medula; esse tipo de choque não resulta de trauma de crânio isolado. 
As vítimas de lesão de medula podem apresentar inicialmente choque por 
vasodilatação e hipovolemia relativa. 
O choque séptico nos pacientes traumatizados só ocorre quando existe contaminação 
por conteúdo séptico e também tenha ocorrido uma demora no primeiro atendimento. 
O médico tem a responsabilidade de reconhecer de imediato o estado de choque e 
iniciar simultaneamente o tratamento. A hemorragia é a causa mais comum de choque no paciente 
traumatizado. 
 
 
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Fisiologia Cardiáca: 
Existem três componentes da fisiologia cardíaca importante para a compreensão do 
choque: Pré-carga, Bomba, Pós-carga. 
A pré-carga está representada pela capacitância venosa, pelo estado da volemia e pela 
diferença entre a pressão venosa sistêmica média e pela pressão do átrio direito. 
A bomba está representada pela contratilidade miocárdica para manter o sistema em 
atividade. 
A pós-carga é a resistência vascular sistêmica (periférica) 
As respostas circulatórias precoces à perda sanguínea constituem-se em mecanismos 
de compensação e dependem de progressiva vasoconstrição cutânea, muscular e visceral para 
preservar o fluxo para os rins, coração e cérebro. Na maioria das vezes a taquicardia representa o 
mais precoce sinal circulatório mensurável no choque, como resposta compensatória para 
preservar o débito cardíaco. A liberação de catecolaminas endógenas aumenta a resistência 
vascular periférica. Outros hormônios com propriedades vasoativas também são liberados 
(histamina, bradicinina, betaendorfinas). Os mecanismos de compensação têm ação por período 
limitado, atuando mais ativamente na fase inicial do choque. 
O tratamento inicial do choque é dirigido no sentido de restabelecer a perfusão 
orgânica e celular com sangue adequadamente oxigenado. No choque hemorrágico significa 
aumentar a pré-carga ou restabelecer o volume sangüíneo adequado, mais do que restabelecer a 
pressão arterial ou a freqüência cardíaca do paciente. Os vasopressores estão contra-indicados no 
tratamento inicial do choque hemorrágico. A presença de choque num paciente traumatizado exige 
a participação imediata de um cirurgião qualificado. 
 
Avaliação Inicial: 
O colapso circulatório estabelecido caracterizado por perfusão inadequada da pele, dos 
rins e do sistema nervoso central, é facilmente reconhecido. Após avaliação e tratamento das vias 
aéreas e respiração, é fundamental a avaliação cuidadosa das condições circulatórias para 
identificar precocemente o choque. Confiar exclusivamente na pressão sistólica como indicador de 
choque, resultará no reconhecimento tardio do estado de choque, pois os mecanismos 
compensatórios mantém a pressão sistólica até uma perda de 30% da volemia. Tem-se que dirigir a 
atenção para a freqüência cardíaca, freqüência respiratória, perfusão cutânea e a pressão de pulso 
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(diferença entre as pressões diastólica e sistólica). Consequentemente, todo paciente traumatizado 
que está frio e taquicárdico está em choque. 
Considera-se taquicardia uma freqüência superior a 160 na infância, e 140 na criança 
pré-escolar, 120 na puberdade e acima de 100 no adulto. Os pacientes mais velhos podem não 
exibir taquicardia, devido a limitação da resposta cardíaca ao estímulo das catecolaminas ou à 
utilização de medicamentos do tipo propranolol. A redução da pressão de pulso sugere perda 
sangüínea significativa e ativação dos mecanismos compensatórios. 
 
Etiologia: 
 Choque Hemorrágico: 
A hemorragia é a causa mais comum de choque após trauma, além do mais, a maioria 
dos estados de choque não hemorrágico responde parcial ou transitoriamente à reposição 
volêmica. Portanto,uma vez identificado o estado de choque, o tratamento é iniciado como se o 
paciente estivesse hipovolêmico. Entretanto, assim que o tratamento é instituído, é importante 
identificar o pequeno número de pacientes em que o choque é causado por outra etiologia, e o 
grupo maior no qual um fator secundário complica o choque hipovolêmico/hemorrágico. Isso é 
verdadeiro para os pacientes com trauma acima do diafragma, quando o choque cardiogênico e o 
pneumotórax hipertensivo são causas potenciais de choque. A suspeita e a observação cuidadosa 
da resposta do paciente ao tratamento inicial costumam permitir ao médico reconhecer e tratar 
todas as formas de choque. 
 
 Choque não-hemorrágico: 
 Choque Cardiogênico: 
A disfunção miocárdica pode ocorrer por contusão miocárdica, tamponamento 
cardíaco, por embolia gasosa, ou, mais raramente por infarto agudo do miocárdio associado ao 
trauma. A contusão miocárdica não é incomum no trauma fechado do tórax com desaceleração 
brusca. Todo paciente com trauma fechado do tórax necessita de monitoração eletrocardiográfica 
contínua para determinar a presença de arritmias ou de traçados sugestivos de lesão. Os níveis de 
CPK e os isótopos específicos raramente têm algum valor no diagnóstico ou tratamento do 
paciente na sala de emergência. O ultra-som pode ser utilizado no diagnóstico de tamponamento 
ou de ruptura valvular, mas freqüentemente não é prático ou acessível de imediato no serviço de 
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emergência. A contusão miocárdica pode constituir-se uma indicação para monitorização precoce 
da pressão venosa central durante a reposição volêmica. 
O tamponamento cardíaco é mais comum no ferimento penetrante de tórax. Ocorre 
raramente no trauma fechado. Taquicardia, bulhas abafadas, veias do pescoço dilatadas e 
ingurgitadas com hipotensão que não responde à reposição volêmica sugerem tamponamento 
cardíaco. O pneumotórax hipertensivo pode simular o tamponamento cardíaco. A inserção correta 
de uma agulha alivia temporariamente essas duas condições que ameaçam a vida. 
 
 Pneumotórax Hipertensivo: 
O pneumotórax hipertensivo ocorre quando se forma um mecanismo valvular que 
permite a entrada de ar no espaço pleural, mas não ocorre sua saída. A pressão intrapleural 
aumenta progressivamente, causando colapso total do pulmão e desvio do mediastino para o lado 
oposto com subsequente diminuição do retorno venoso e redução do débito cardíaco. O 
pneumotórax hipertensivo é uma verdadeira emergência cirúrgica e requer diagnóstico e 
tratamentos imediatos. A presença de enfisema subcutâneo, a ausência de murmúrio vesicular, o 
som hiper-timpânico à percussão, o desvio da traquéia e a insuficiência respiratória aguda fazem o 
diagnóstico e autorizam a descompressão torácica sem esperar a confirmação radiológica. 
 
 Choque Neurogênico: 
Lesões cranianas isoladas não causam choque. A presença de choque num paciente 
com trauma de crânio indica a necessidade de pesquisar outra causa de choque. Uma lesão 
medular pode provocar hipotensão por perda do tônus simpático, que acentua o efeito 
fisiopatológico da hipovolemia que por sua vez acentua o efeito fisiopatológico da denervação 
simpática. O quadro clássico do choque neurogênico caracteriza-se por apresentar hipotensão sem 
taquicardia e sem vasoconstrição cutânea. Pulso fino não é visto no choque neurogênico Os 
pacientes portadores de trauma medular freqüentemente têm trauma concomitante no tronco. O 
paciente com suspeita de choque neurogênico deve ser tratado inicialmente como se estivesse 
hipovolêmico. 
O insucesso no restabelecimento da perfusão ou da pressão com a reposição volêmica 
podem indicar a presença de hemorragia contínua ou de choque neurogênico. A monitoração da 
pressão venosa central pode auxiliar no tratamento desse problema. 
 
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 Choque Séptico: 
Choque por infecção imediatamente após o trauma é incomum. Esse problema pode 
ocorrer se a chegada do paciente ao serviço de emergência demorar várias horas. O choque séptico 
ocorre particularmente nos pacientes com ferimentos penetrantes de abdome com contaminação 
peritonial por conteúdo intestinal. Os pacientes sépticos que estão hipovolêmicos são de difícil 
diferenciação daqueles em choque hipovolêmico (taquicardia, vasoconstrição cutânea, diminuição 
do débito urinário, diminuição da pressão sistólica e pulso fino). Pacientes sépticos com volume 
normal tem discreta taquicardia, pele rósea e quente, pressão sistólica próxima do normal e pulso 
cheio. 
 
 Choque Hemorrágico no Paciente Traumatizado: 
A hemorragia é a causa mais comum de choque no paciente traumatizado. As respostas 
circulatórias iniciais à perda de sangue são compensatórias. É o caso de progressiva vaso 
constrição cutânea, muscular e visceral, para preservar o fluxo sangüíneo dos rins, coração e 
cérebro. A taquicardia é o sinal circulatório mensurável mais precocemente. 
A perfusão e oxigenação inadequadas das células promovem um mecanismo 
compensatório que é o metabolismo anaeróbio, que resulta na produção de ácido láctico e acidose 
metabólica. No choque prolongado, a parede da célula perde a capacidade de manter os gradientes 
elétricos, ocorrendo edema celular, levando à lesão e à morte da célula e consequentemente ao 
edema tecidual, agravando o impacto global da perda sangüínea e da hipoperfusão preexistente. A 
administração de soluções eletrolíticas isotônicas ajuda a combater esse processo. 
 
Reposição de Volume: 
A hemorragia é definida como uma perda aguda de sangue. O volume sangüíneo de 
um paciente adulto normal corresponde a aproximadamente 7% do peso corporal. No paciente 
com 70 quilos temos aproximadamente 5 litros de sangue circulante. Nas crianças o volume 
sangüíneo é de 8 a 9% do peso corporal (80 a 90 ml/kg). 
 
 
 
 
 
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Classificação das Hemorragias: 
 CLASSE I – Exemplificada pela condição de doador de sangue 
 CLASSE II – Representada pelo choque não complicado, mas no qual a reposição de 
cristalóide se faz necessária. 
 CLASSE III – É um quadro mais complicado no qual é necessária a reposição de, no 
mínimo, cristalóides e possivelmente sangue. 
 CLASSE IV – É um evento pré-terminal e, necessita de medidas urgentes para evitar a 
morte do paciente. 
Existem fatores que podem acentuar ou atenuar a resposta fisiológica do paciente, e 
que podem alterar profundamente a dinâmica vascular clássica que são:- idade do paciente, 
gravidade do trauma, intervalo de tempo entre a lesão e o início do tratamento, reposição volêmica 
pré-hospitalar. 
É perigoso aguardar que o paciente traumatizado se enquadre em uma classificação 
fisiológica precisa antes de iniciar uma terapia agressiva. A reposição volêmica agressiva deve ser 
iniciada precocemente, tão logo se tornem suspeitos ou aparentes sinais e sintomas de perda 
sangüínea, sempre que possível antes que a pressão arterial se reduza ou não possa ser medida. 
 
 Hemorragia Classe I: (Perda até 15% volemia) 
Os sintomas clínicos apresentados são mínimos, pode ocorrer discreta taquicardia, não 
ocorre alteração na pressão arterial, na pressão de pulso ou na freqüência respiratória. Em 
pacientes saudáveis essa perda volêmica não exige reposição. O reenchimento capilar e outros 
mecanismos compensatórios restabelecem o volume circulatório em 24 horas. 
 
 Hemorragia Classe II: (Perdade 15 a 30% volemia) 
No homem de 70 kg, essa porcentagem representa de 750 a 1.500 ml de sangue. Os 
sintomas clínicos incluem taquicardia (FC acima de 100 bat/min), taquipnéia e diminuição da 
pressão ou amplitude de pulso (diferença entre pressão sistólica e diastólica), que está relacionado 
com o aumento do componente diastólico que é devida a elevação das catecolaminas que 
produzem elevação da resistência periférica. Como a pressão sistólica muda pouco no início do 
choque hemorrágico, é mais importante avaliar a pressão de pulso do que a pressão sistólica. Pode 
ocorrer alterações sutis a nível do sistema nervoso central ( ansiedade, a qual pode ser expressa por 
medo ou hostilidade). A diurese está pouco afetada (débito urinário de 20 a 30 ml/h). A maioria 
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desses pacientes acaba necessitando de transfusão sangüínea, mas pode ser estabilizado 
inicialmente com a reposição de outros tipos de fluídos. 
 
 Hemorragia Classe III: ( Perda 30 a 40% volemia) 
Existe uma perda de volume aproximado de 2.000 ml no adulto podendo ser 
devastador. Os pacientes apresentam perfusão inadequada, com presença de taquicardia 
significativa, taquipnéia, alterações significativas do estado mental e queda da pressão sistólica. 
Estes pacientes quase sempre requerem transfusão, é importante lembrar que esses sintomas 
podem resultar da perda de volume menor de sangue combinada com perda de outros líquidos. A 
decisão de transfusão é baseada na resposta do doente à reposição líquida inicial e no estado de 
perfusão e da oxigenação tecidual. 
 
 Hemorragia Classe IV: (Perda superior a 40% volemia) 
Esta perda volêmica constitui uma ameaça imediata à vida. Os sintomas incluem 
taquicardia acentuada, diminuição significativa da pressão sistólica e da pressão de pulso (ou 
pressão diastólica não mensurável). O débito urinário é desprezível e o nível de consciência está 
notadamente deprimido, a pele está pálida e fria. Os pacientes exigem transfusão rápida e 
intervenção cirúrgica imediata. As perdas volêmicas superiores a 50% determinam inconsciência, 
ausência de pulso e de pressão. 
 
Alterações Hidroeletrolíticas Secundarias a lesão de partes moles: 
Lesões extensas de partes moles e as fraturas comprometem o estado hemodinâmico de 
duas maneiras. A primeira é a perda de sangue no local da lesão, principalmente nos casos de 
extensas fraturas. Vários litros de sangue podem ser acumulados num hematoma de retroperitônio 
associado a fratura pélvica. 
O segundo fator que deve ser considerado é o edema que obrigatoriamente ocorre nas 
partes moles traumatizadas, que está relacionada à extensão das partes moles lesadas e consiste de 
líquido extracelular. Sendo o plasma parte do líquido extracelular, essas alterações têm um 
impacto significativo no volume circulatório. De modo geral a redução do volume plasmático 
corresponde a 25% do volume de líquido translocado. 
 
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Diagnóstico e Tratamento: 
 Abordagem Inicial do Choque Hemorrágico: 
 Exame Físico: 
Nas situações de emergência o diagnóstico e o tratamento devem ser realizados em 
rápida sucessão, logo o exame físico é dirigido para o diagnóstico imediato das lesões que 
ameaçam a vida e inclui a avaliação do ABC. Os sinais vitais, o débito urinário e o nível de 
consciência são medidas importantes, assim que as condições do doente permitirem é realizado um 
exame mais pormenorizado. 
 
 Vias aéreas e respiração: 
Estabelecimento de uma via aérea pérvia, para permitir ventilação e oxigenação 
adequadas, é a prioridade número um. Fornecimento suplementar de oxigênio através de sistema 
com máscara e reservatório é usado para manter os níveis de pressão parcial de oxigênio arterial 
entre 80 e 100 mmHg. 
 
 Circulação: 
Controlar a hemorragia externa, estabelecer acesso venoso adequado, avaliar perfusão 
tecidual. 
O restabelecimento da perfusão tecidual determina a quantidade de reposição líquida 
necessária. 
 
 Exame Neurológico: 
Um breve exame neurológico dever ser realizado para determinar o nível de 
consciência, a movimentação ocular e a resposta da pupila, a função motora e a sensibilidade. 
Esses dados são úteis na avaliação da perfusão cerebral, no acompanhamento da evolução de 
distúrbios neurológicos e na avaliação da futura recuperação. 
 
 Exposição: 
Depois de realizadas as manobras prioritárias de reanimação, o paciente deve ser 
completamente despido e cuidadosamente examinado, como parte da pesquisa de lesões 
associadas. Ao despir o doente é essencial a prevenção de hipotermia iatrogênica. 
 
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 Dilatação Gástrica: 
A dilatação gástrica ocorre freqüentemente no trauma e pode ser causa de hipotensão 
inexplicada. Essa entidade torna o choque de difícil tratamento e, no paciente inconsciente, 
acarreta um significativo risco de aspiração – complicação potencialmente fatal. A sonda deve ser 
bem posicionada, e conectada a um sistema de aspiração para funcionar adequadamente. 
 
 Sonda Urinária: 
A descompressão vesical permite avaliar presença de hematúria e também realizar 
monitoração da perfusão renal, através do débito urinário. Sangue no meato uretral, hematoma de 
períneo ou próstata não palpável no homem são contra indicações à inserção de sonda trans-
uretral. 
 
 Acesso Vascular: 
O acesso vascular deve ser obtido imediatamente. A melhor forma é através da 
colocação de dois catéteres intravenosos periféricos (calibre mínimo #16 “gauge”) antes de se 
considerar qualquer possibilidade de inserção de uma via central. A Lei de Poiseuille estabelece 
que o fluxo é proporcional a quatro vezes o raio do cateter e inversamente proporcional ao seu 
cumprimento. Portanto, para infusão volêmica grande e rápida devemos usar catéteres 
intravenosos periféricos curtos e calibrosos. 
Os locais mais adequados para acesso venoso periférico em um adulto são: 
a) Acesso percutâneo, periférico em veia do braço ou antebraço. 
b) Dissecção de veia superficial do braço ou veia safena. 
 
Quando circunstâncias impedirem o uso de veias periféricas, o acesso venoso central 
estará indicado, utilizando catéteres calibrosos, introduzidos pela técnica de Seldinger. 
Em crianças menores de 6 anos, antes de proceder o acesso venoso central, deve ser 
tentada a punção intra-óssea. 
Após conseguir o acesso venoso, colhemos amostras de sangue para exames 
laboratoriais, que incluem tipagem sangüínea e prova cruzada, estudos toxicológicos, e teste de 
gravides em todas as mulheres em idade fértil. Pode-se determinar os valores dos gases arteriais 
pela gasometria. 
 
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Quando realiza-se a inserção de cateter na subclávia ou jugular interna, deve-se 
solicitar uma radiografia de tórax para documentar o posição do cateter e avaliar a presença de 
pneumotórax. 
 
 Reposição Volêmica Inicial: 
Na reanimação inicial utiliza-se soluções eletrolíticas isotônicas para promover a 
expansão intravascular transitória e contribuir para estabilização do volume vascular. A Solução 
de Ringer lactato é as escolha inicial. A solução salina fisiológica é a segunda escolha. 
O volume líquido inicial é administrado tão rapidamente quanto possível. A dose 
habitual é de um a dois litros no adulto, e de 20 ml/Kg emcrianças. 
O volume total de líquidos e de sangue necessário para reanimação é difícil de ser 
previsto pelo exame inicial do doente. Uma maneira grosseira de determinar o volume aproximado 
de cristalóide a ser reposto de imediato é a reposição de cada ml de sangue perdido pôr três ml de 
solução cristalóide, permitindo assim a restauração do volume plasmático perdido para os espaços 
intersticial e intracelular. O mais importante é avaliar a resposta a reposição inicial e o 
comportamento da perfusão orgânica e da oxigenação. 
 
Avaliação da reposição volêmica e da perfusão orgânica: 
 Generalidades: 
A normalização da pressão sangüínea, da pressão e da freqüência do pulso são sinais 
favoráveis e indicam que a circulação está se restabelecendo. Entretanto, não fornecem 
informações a respeito da perfusão orgânica. A melhora da pressão venosa central e da circulação 
cutânea são evidências importantes da normalização da perfusão, mas são difíceis de quantificar. 
O débito urinário pode ser quantificado e a resposta renal ao restabelecimento da perfusão é 
razoavelmente confiável (se não usar diuréticos). Por essa razão, o débito urinário é um dos 
principais índices de recuperação e de resposta por parte do paciente. Mudanças na pressão venosa 
central podem fornecer informações adicionais importantes, justificando o risco de punção venosa 
central nos casos complexos. A medida das funções das câmaras cardíacas esquerdas (obtidas com 
cateter de Swan-Ganz) está raramente indicada no tratamento do paciente traumatizado no serviço 
de emergência. 
 
 
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 Débito Urinário: 
Pode ser utilizado como monitor do fluxo renal. A reposição adequada de volume deve 
restabelecer o débito urinário no paciente adulto em 50 ml/hora. Para pacientes pediátricos o 
débito urinário adequado é de 1 ml/Kg/h, e para as crianças menores de um ano de idade devem 
ser mantidos 2 ml/Kg/h. 
A incapacidade de manter o débito urinário sugere reanimação inadequada. Nesta 
situação, torna-se necessária uma reposição volêmica adicional e, devem-se tomar ulteriores 
medidas diagnósticas. 
 
 Equilíbrio ácido-básico: 
Pacientes com choque hipovolêmico precoce tem alcalose respiratória devido a 
taquipnéia. A alcalose respiratória dá lugar à acidose metabólica leve nas fases precoces do choque 
e não necessita de tratamento. A acidose metabólica grave pode surgir quando o choque é 
prolongado ou profundo. 
A acidose metabólica decorre do metabolismo anaeróbio, devido à perfusão tecidual 
inadequada, e a sua persistência reflete habitualmente a reposição volêmica inadequada. A acidose 
persistente, em paciente normotérmico em choque, deve ser tratada com aumento da infusão 
líquida e não por bicarbonato de sódio intravenoso, exceto se o pH estiver abaixo de 7,2. 
 
Decisões baseadas na resposta do doente a reposição volêmica: 
A resposta do doente à reposição volêmica inicial é a chave para determinar a 
terapêutica subsequente. Observando-se a resposta à reposição volêmica inicial podemos 
identificar os pacientes cuja a perda de sangue foi maior do que a estimada, e aqueles com 
sangramento persistente. Além do que, tal observação limita a probabilidade de transfusão 
excessiva ou desnecessária naqueles pacientes nos quais o estado circulatório inicial não refletia a 
perda real de sangue. É importante distinguir o paciente que está “hemodinamicamente estável” 
daquele que está “hemodinamicamente normal”. O doente hemodinamicamente estável pode 
apresentar taquicardia, taquipnéia e oligúria persistentes que claramente demonstram estar ele 
hipoperfundido e insuficientemente expandido. Em contraste, o doente hemodinamicamente 
normal é aquele que não exibe nenhum sinal de perfusão tecidual inadequada. O padrão de 
resposta pode ser dividido em três categorias: 
 
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 Resposta rápida à reposição volêmica inicial: 
Pequeno grupo de doentes responde rapidamente à reposição volêmica inicial rápida, 
“em bolo”, e permanece estável e hemodinamicamente normal quando a reposição inicial é 
completada e a velocidade de infusão é reduzida para níveis de manutenção. Esses pacientes 
tiveram uma perda pequena da volemia (inferior a 20%). Para esse pequeno grupo de pacientes 
não está indicado administração adicional de soros ou a infusão imediata de sangue. Sangue tipado 
e com prova cruzada deve ser mantido disponível. Durante a avaliação e o tratamento iniciais, é 
necessária uma opinião cirúrgica. 
 
 Resposta transitória à reposição volêmica inicial: 
A maioria dos doentes responde à reposição inicial rápida, “em bolo”. Entretanto, em 
alguns pacientes, a medida que se reduz a velocidade de infusão, a perfusão periférica piora, 
indicando que o estado circulatório está deteriorando, o que significa sangramento persistente ou 
reanimação inadequada. A maioria desses doentes teve perda sangüínea inicial estimada entre 20 a 
40% do volume sangüíneo. Nestas condições estão indicados a administração contínua de líquidos 
e o início de transfusão sangüínea. A resposta à administração de sangue pode identificar os 
pacientes que estão sangrando e necessitam de rápida intervenção cirúrgica. 
 
 Resposta mínima ou ausente à reposição volêmica inicial: 
Essa resposta ocorre numa porcentagem pequena, porém, significativa, de pacientes 
traumatizados. A falta de resposta à administração adequada de cristalóides e de sangue indica a 
necessidade de intervenção cirúrgica para controlar uma grande hemorragia. Em casos raros, uma 
resposta inadequada pode ser devida à falência de bomba, resultante de contusão miocárdica ou de 
tamponamento cardíaco. O diagnóstico de choque não hemorrágico deve ser lembrado nesse grupo 
de pacientes. A monitorização da pressão venosa central ajuda a diferenciar as várias etiologias do 
choque. 
 
Reposição de sangue: 
A decisão de iniciar a transfusão baseia-se na resposta do paciente de acordo com o 
que foi descrito. 
 
 
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A maioria dos bancos de sangue fornece apenas componentes sangüíneos (papa de 
hemácias, plasma fresco congelado, plaquetas). 
A reposição volêmica, em si, pode ser obtida com cristalóides, com a vantagem 
adicional de contribuir para a restituição dos volumes intersticial e intracelular. 
O objetivo da transfusão sangüínea é restabelecer a capacidade de transporte de 
oxigênio do volume intravascular. 
Quando não está disponível sangue tipo específico, está indicado o uso de papa de 
hemácias tipo O, para pacientes com hemorragia exsanguinante. 
Para as perdas sangüíneas que ameaçam a vida, o uso de sangue tipo especifico, sem 
provas cruzadas, é preferível ao uso de sangue tipo O. Para prevenir sensibilizações e futuras 
complicações, prefere-se o uso de glóbulos Rh negativos, particularmente em mulheres em idade 
fértil. 
Na fase de reanimação de pacientes traumatizados pode e deve ser evitada a 
hipotermia iatrogênica, sendo a maneira mais eficiente e fácil prevenir a hipotermia é transfundir o 
volume maciço de cristalóide aquecido a 39 graus centígrados. O sangue, plasma e soluções 
contendo glicose não podem ser aquecidos em forno de microondas. 
 
 Autotransfusão: 
A coleta do sangue para autotransfusão deve ser considerada em qualquer hemotórax 
volumoso, utilizando-se tubos de drenagem de tórax que permitam a coleta estéril, a 
anticoagulação feita com solução de citrato

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