Buscar

dano moral ambiental responsabilidade civil ambiental

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

���
LPO
Nº 70053290318
2013/Cível
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTALAÇÃO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO A CÉU ABERTO. CORSAN. RESPONSABILIDADE OBJETIVA POR VIOLAÇÃO DE NORMAS SANITÁRIAS. MAU CHEIRO. CONDIÇÕES INSALUBRES. DANO MORAL AMBIENTAL INDIVIDUAL. CONFIGURAÇÃO. manutenção do quantum.
- Serviço Público e Direito Subjetivo ao Saneamento Básico -
O direito público subjetivo ao saneamento básico decorre do próprio direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e do direito à saúde. Compreensão dos artigos 196 e 225 da Constituição Federal. A Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90) disciplina a saúde como direito fundamental, impondo ao Poder Público, incluídas aí as concessionárias de serviços públicos, o dever de redução de riscos de doenças e outros agravos, decorrentes da prestação do serviço. Ações destinadas a garantir às pessoas condições de bem-estar físico, mental e social. Conceito de cidade sustentável (Lei 10.257/01) relacionado com o direito ao saneamento ambiental e à infra-estrutura urbana.
- Responsabilidade Civil das Concessionárias de Serviços Públicos de Saneamento -
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Aplicação do artigo 37, §6º, da CF. Incidência dos artigos 14 e 22 do CDC. O dano ambiental individual caracteriza-se quando o interessado tem por finalidade direta a tutela de proteger a lesão ao patrimônio e demais valores as pessoas e, de forma mediata e incidental, o meio ambiente da coletividade. Lei 6.938/81. Arts. 2º, 3º e 14, §1º.
- Ato ilícito e dano ambiental individual -
A prova dos autos revelou que a empresa de saneamento não está prestando adequadamente o serviço público de tratamento de água no bairro Parque Marinha da cidade de Rio Grande. Dano consistente na sujeição dos moradores da área a uma série de transtornos, a exemplo do mau cheiro, insetos e exposição a condições insalubres. Dano moral individual relaciona-se com todo prejuízo não-patrimonial ocasionado ao indivíduo, em virtude de lesão ao meio ambiente.
- Quantificação do Dano Moral -
O valor a ser arbitrado a título de indenização por danos extrapatrimoniais deve refletir sobre o patrimônio da ofensora, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurídica ao resultado lesivo produzido, sem, contudo, conferir enriquecimento ilícito ao ofendido. Minoração do valor fixado no caso concreto.
- Juros Moratórios - 
Adotando a orientação do Eg. Superior Tribunal de Justiça, na Súmula 54, os juros moratórios devem incidir a partir do evento danoso. 
- Honorários advocatícios -
Manutenção da verba honorária fixada na sentença, já que de acordo com o previsto no art. 20, § 3°, do CPC e precedentes deste órgão sobre casos similares.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO NOS TERMOS DO ART. 557, §1º-A DO CPC.
	Apelação Cível
	Nona Câmara Cível
	Nº 70053290318
	Comarca de Rio Grande
	COMPANHIA RIOGRANDENSE DE SANEAMENTO - CORSAN 
	APELANTE
	NOEMIA DE NAZARE ROCHA ALVES 
	APELADO
DECISÃO MONOCRÁTICA
Vistos.
Trata-se de apelo interposto por COMPANHIA RIOGRANDENSE DE SANEAMENTO – CORSAN contra sentença que julgou parcialmente procedente a ação movida por NOEMIA DE NAZARE ROCHA ALVES, adotando o seguinte dispositivo sentencial:
“Diante do exposto: Afasto a preliminar de mérito suscitada na contestação e JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido, extinguindo o feito com resolução de mérito, com base no artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil, para CONDENAR a demandada a pagar à demandante o valor de R$5.000,00 (cinco mil reais), a título de indenização por danos extrapatrimoniais, corrigido monetariamente a partir desta data pela variação do IGPM, e acrescido de juros de 12% ao ano, a contar de 1º.04.2004 (data do início das operações na Estação de Tratamento de Efluentes, fl. 66), na forma do artigo 406 do Código Civil, c/c o artigo 161, §1º, do Código Tributário Nacional, e observado o teor da Súmula 54 do Superior Tribunal de Justiça. Por sucumbente, condeno a demandada ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios devidos aos procuradores da demandante, fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, forte no artigo 20, §3º, alíneas 'a' e 'c', do Código de Processo Civil. Publique-se. Registre-se. Intimem-se.”
A parte ré, em suas razões recursais, refere que o mau cheiro decorrente da atividade de tratamento de esgoto não é sentido desde 2006. Aduz que o valor indenizatório ultrapassou os limites razoáveis a uma justa indenização. Em relação ao caráter sancionatório do dano moral, assevera que já foi penalizada com as alterações que teve que realizar no sistema de tratamento de esgoto e com os demais compromissos assumidos no Termo de Ajustamento firmado com o Ministério Público. No tocante ao caráter reparatório, ressalta que o mau cheiro proveniente da estação de esgotos afetou os moradores por um curto período de tempo, até a mencionada alteração. Defende que a indenização deve ater-se à condição econômica das partes. Requer, ao final, o provimento do recurso para que seja julgada improcedente a demanda. Pugna, alternativamente, pela redução do quantum indenizatório e dos honorários advocatícios, bem como a incidência de juros de mora a contar do arbitramento do quantum indenizatório.
Foram apresentadas contrarrazões.
Vieram os autos conclusos.
É o relatório.
Decido.
I – PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE.
O recurso é tempestivo e está devidamente preparado. Presentes os demais pressupostos processuais, conheço do recurso.
II - CABIMENTO DA DECISÃO MONOCRÁTICA (ARTIGO 557 DO CPC).
O artigo 557 do Código de Processo Civil dispõe: 
Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
§ 1o-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
§ 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
O dispositivo supra é decorrência da própria concepção constitucional de acesso à Justiça e da duração razoável do processo (artigo 5º, LXXVIII, CF), configurando-se no direito público subjetivo do cidadão de obter a tutela jurisdicional adequada, conforme destaca Nelson Nery Júnior�. Em relação aos poderes que o texto atribui ao relator, vale referir:
“O art. 557 do CPC concedeu ao relator ‘os mesmos poderes conferidos ao colegiado: pode negar conhecimento ao recurso, inadmitindo-o; conhecendo-o; pode dar-lhe ou negar-lhe provimento’. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que o caput do dispositivo confere poderes ao relator para negar seguimento, monocraticamente, a recurso manifestamente sem perspectiva de êxito, o §1º-A concede poderes para que ele julgue o mérito recursal, dando provimento ao recurso”�.
Com efeito, perfeitamente cabível a aplicação do aludido artigo ao caso em tela, considerando a matéria veiculada no recurso e os diversos precedentes dos tribunais, razão pela qual de plano examino o recurso.
III – MÉRITO.
Tenho que o apelo da ré deve ser parcialmente provido, nos termos adiante analisados.
Do Serviço Público e o Direito Subjetivo ao Saneamento Básico.
A questão em exame relaciona-se com a constataçãoou não da prática de um ilícito civil por parte da CORSAN, decorrente da prestação de serviço público sanitário deficiente, capaz de gerar danos individuais. O direito público subjetivo ao saneamento básico universal pode ser compreendido a partir do direito à saúde e do direito ao meio ambiente. O artigo 225 da Constituição Federal disciplina:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
O artigo 196, por sua vez, normatizou no âmbito da Constituição Federal o direito à saúde:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Sobre a compreensão do direito à saúde, vale colacionar o seguinte entendimento, bastante útil para o caso em julgamento:
“Já para EXTRAPATRIMONIAIS, o núcleo central do conceito de saúde estaria na idéia de qualidade de vida que, para além de uma percepção holística, apropria-se dos conteúdos próprios às teorias política e jurídica contemporâneas, para ver a saúde como um dos elementos da cidadania, como um direito à promoção da vida das pessoas. Seria, então, um direito de cidadania, que projeta a pretensão difusa e legítima de não apenas curar e evitar a doença, mas de ter uma vida saudável, expressando uma aspiração de toda(s) a(s) sociedade(s) como direito a um conjunto de benefícios que fazem parte da vida urbana – isto –e, a vida na polis, na urbe.”�
Com efeito, o direito posto em questão neste feito relaciona-se não apenas com o dever jurídico de proteção ao meio ambiente, sob o viés da qualidade de vida dos cidadãos, mas também com o próprio direito à saúde. Considerando a data dos fatos narrados na petição inicial e que determinaram o ingresso desta ação de responsabilidade civil, não há como aplicar a Lei de Diretrizes Nacionais de Saneamento Básico, Lei nº 11.445/2007, importante documento legal sobre direito sanitário�.
De qualquer sorte, plenamente aplicável a Lei Orgânica da Saúde, Lei nº 8.080/90, com os seguintes dispositivos legais, importantes para verificar a ocorrência do ato ilícito:
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.
§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.
Art. 3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País.
Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social.
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
a) de vigilância sanitária;
(...)
§ 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo:
(...)
II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde.
Outrossim, também incide a normatização do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/01), especialmente o seguinte dispositivo:
Art. 2º. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;
Com efeito, a partir dos textos referidos, não há como dissociar o serviço público prestado pela CORSAN do dever jurídico de direcionar a execução do serviço para a conservação de um meio ambiente em condições adequadas ao bem estar dos cidadãos. É curial, portanto, coibir toda e qualquer prática que comprometa a saúde e a qualidade de vida da população�, seja com medidas jurídicas restritivas ou indenizatórias.
A Responsabilidade Civil das Pessoas Jurídicas de Direito Privado Prestadoras de Serviços Públicos de Saneamento.
A questão em julgamento refere-se à responsabilidade civil atribuída à COMPANHIA RIOGRANDENSE DE SANEAMENTO - CORSAN, sociedade de economia mista, prestadora de um serviço público.
No plano constitucional, a regra básica sobre a responsabilidade civil das pessoas jurídicas prestadoras de serviços públicos está no artigo 37, §6º, da CF:
“As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”
A questão, aliás, há algum tempo já é discutida no âmbito do Direito Administrativo, como refere Yussef Said Cahali:
“Tendo em conta, porém, e por primeiro, que o próprio Hely Lopes Meirelles, nas edições posteriores de sua obra( o acórdão cita a 2ª edição), evoluiu no sentido de admitir a responsabilidade objetiva da regra constitucional em casos de prestação de serviço público por entidades privadas de atribuição delegada ou cometida. E qualquer dúvida que pudesse remanescer estaria agora, definitivamente superada diante do amplo elastério do art. 37, §6º, da Constituição de 1988...”�
Desta forma, plenamente aplicável o dispositivo constitucional para as hipóteses de danos causados pelas pessoas jurídicas de direito privado, prestadoras de serviço público, como é o caso da CORSAN. 
Não obstante a previsão constitucional, os serviços públicos igualmente estão sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor, a exemplo do previsto no artigo 22, como segue:
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
Já o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor disciplina:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço,o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
Desta forma, para o fim deste feito, é crível sustentar que o serviço público prestado pela CORSAN deve ser eficiente e seguro, sendo que na hipótese de descumprimento destas obrigações deverá reparar os danos causados, na forma prevista no CDC.
Para o fim de delimitação da responsabilidade da CORSAN SUL, igualmente não se pode olvidar a regra do artigo 6º da Lei nº 8.987/95, segundo o qual:
“Art. 6º. Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
§1º. Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.”
A partir das alegações contidas na petição inicial, o caso em julgamento é típico de fato do serviço, em virtude de defeito de prestação. Como adverte Arnaldo Rizzardo:
“O serviço mal feito ou executado pode provocar acidentes externos ou fatos que causem danos à aqueles para quem foi prestado. A pessoa junto à qual se contrata o serviço o realiza com defeitos ou imperfeições tais que advém não apenas perigo, mas prejuízos, ofendendo, assim, o dever de segurança.
(...)
“A deficiente ou precária prestação de serviços é freqüente e comum, constituindo um dos fatores de constantes insatisfações e reclamações. Acontece em todos os campos de serviços, tanto os manuais como os intelectuais.”�
Portanto, a responsabilidade decorrente desta relação é objetiva, e aperfeiçoa-se mediante o concurso de três pressupostos: a) o fato do serviço; b) evento danoso, e; c) relação de causalidade entre o defeito do serviço e o dano.
A incidência ao caso da responsabilidade objetiva, no entanto, não importa dispensa de comprovação dos requisitos aludidos, pois indispensáveis para a possibilidade de obrigar o fornecedor ao pagamento de indenização.
A Lei Federal nº 6.938/81, nos seus artigos 2º e 3º disciplina:
Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
(...)
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
(...)
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: 
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
(...)
Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: 
(...)
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.”
Logo, é crível sustentar que o caso em exame trata do chamado dano ambiental individual, pois a pretensão indenizatória está relacionada com a qualidade de vida dos cidadãos, figurando a parte ré –CORSAN – como poluidora, responsável pelo pagamento de indenização a terceiros afetados pela sua atividade.
Do Ato Ilícito e do Dano Ambiental Individual.
Nos termos do que consta na petição inicial, a parte autora formulou pedido de indenização por danos extrapatrimoniais, decorrentes do mau cheiro e da proliferação de mosquitos causados pela instalação da Estação de Tratamento no bairro residencial Parque Marinha, na cidade de Rio Grande.
Não há dúvida, portanto, que não se questiona neste feito qualquer espécie de reparação coletiva ou difusa, mas de caráter individual. Aliás, sobre a configuração do dano ambiental individual, vale colacionar o entendimento de José Rubens Morato Leite:
“Com efeito, em vista do interesse individual próprio e do meio ambiente, a finalidade principal do interessado não tem por objetivo imediato a proteção do meio ambiente, que estará sendo tutelado, de forma indireta pela atitude do demandante, isto é, o interesse protegido, de forma direta, é a lesão ao patrimônio e demais valores das pessoas; e, de forma mediata e incidental, o meio ambiente da coletividade, contribuindo para a sua proteção e para o exercício indireto da cidadania ambiental. Porém, mesmo em vista da proteção ao interesse individual próprio, poderá o demandante valer-se do aparato específico do meio ambiente e fundar o seu pedido em responsabilidade objetiva, na forma do citado art. 14, §1º, da Lei n. 6.938, de 1981 e do art. 927, parágrafo único, do Novo Código Civil, provando que a sua lesão pessoal foi oriunda de um ato de poluição, degradação ambiental ou risco provocado pelo demandado.”�
No que tange à caracterização dos danos ambientais individuais, na mesma linha da sentença, vale referir o conteúdo do Termo de Ajustamento celebrado sobre a questão em exame, nos autos do Processo nº 023/1.05.0002589-1:
“I – Das Ações para o Equilíbrio Ecológico:
CLÁUSULA PRIMEIRA: A Acordante CORSAN assume as seguintes obrigações destinadas à manutenção e otimização do equilíbrio ecológico da área de implantação da Estação de Tratamento de Esgoto do Parque Marinha:
a) continuação da aplicação sistemática de agentes biocidas e combate ao mosquito na área da ETE Navegantes, e limpeza da vegetação das bacias de infiltração e monitoramento do surgimento de larvas;
b) elaboração de estudos e projetos técnicos para readequação da ETE Navegantes e execução das obras com a finalidade de alteração do sistema de tratamento, agregar tecnologia aumentando a capacidade quali-quantitativa, no que diz com o tratamento de efluentes;
c)obtenção de licenciamento junto à FEPAM para modificação do sistema de tratamento de efluentes da ETE Navegantes;
d) continuação da execução e manutenção da cortina vegetal da ETE Navegantes, nos termos do projeto original;
Parágrafo único – Em relação aos itens “b” e “c”, considerando serem obrigações de trato imediato, as mesmas exauriram-se pelo cumprimento. As relacionadas nos itens “a” e “d”, por serem de trato continuado, serão devidas enquanto perdurar a vigência da concessão da prestação de serviços de esgotamento sanitário à Acordante CORSAN.
II – Das Compensações Ambientais.
CLÁUSULA SEGUNDA – Com o objetivo de ser mantido o equilíbrio ecológico em razão da construção e da entrada em operação da ETE Navegantes, como medidas, a CORSAN assume neste ato as seguintes obrigações de fazer:
1. realizar o aterramento do banhado originado da extração de material para a construção de diques da ETE Navegantes;
2. realizar obra de cobertura das valas de escoamento pluvial do Parque Marinha, eliminando a possibilidade de lançamento de efluentes cloacais pelos seus moradores, conforme projeto encartado nos respectivos autos do expediente de Inquérito Civil nº 00852.00178/2007.”
Do Termo de Ajustamento aludido, são retirados elementos importantes para o deslinde deste feito, pois, de plano, parte-se do pressuposto segundo o qual a CORSAN faltou com seu dever jurídico, decorrente do próprio artigo 225 da Constituição Federal, de manter o equilíbrio ecológico da área de implantação da Estação de Tratamento de Esgoto do Parque Marinha.
Outrossim, os danos relatados pela parte autora na petição inicial ficaram evidentes, em virtude de algumas obrigações assumidas pela ré, como o combate ao mosquito na área da ETEe a necessidade de execução de obras com a finalidade de alteração do sistema de tratamento. O dano ambiental individual, desta forma, está devidamente comprovado. Diversos moradores já ingressaram com demandas similares, proferindo-se decisões similares ao seguinte precedente desta 9ª Câmara Cível:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CORSAN. INSTALAÇÃO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO A CÉU ABERTO. MAU CHEIRO. CONDIÇÕES INSALUBRES. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM. MANTIDO. 1. Prescrição Inocorrente. Infração continuada. 2. A demandada é pessoa jurídica de direito privado, criada por Lei para prestar serviço público saneamento, portanto, o regime jurídico de responsabilidade aplicável é objetivo. Incide na espécie o disposto no art. 37, § 6°, da Constituição Federal, combinado com o disposto no art. 22, § único, e art. 14, ambos do Código de Defesa do Consumidor. Despicienda a análise do elemento subjetivo da conduta. 3. Pressupostos da obrigação de indenizar configurados. A prova dos autos revelou que a empresa de saneamento não está prestando adequadamente o serviço público de tratamento de água no bairro Parque Marinha da cidade de Rio Grande. Cuida-se de um problema local, de amplo e notório conhecimento. Incidência do disposto no art. 334, inciso II, combinado com o art. 335, ambos do Código de Processo Civil. 4. Reconhecido o dano moral experimento pela parte autora, consistente na exposição a condições adversas de mau cheiro e insetos devido a funcionamento ineficiente da rede de esgoto ETE, cidade de Rio Grande. 5. Manutenção do valor arbitrado em primeiro grau, de R$ 5.000,00, levando-se em consideração, os transtornos sofridos, o caráter punitivo-pedagógico da reparação, bem assim os precedentes idênticos julgados por este Tribunal de Justiça. 6. Honorários advocatícios mantidos no valor determinado pelo magistrado a quo, uma vez que em concerto com os vetores do art. 20, § 3°, do CPC. PROVIDO PARCIALMENTE O APELO DA RÉ E NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO ADESIVO DOS AUTORES. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70039471248, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em 24/11/2010)
Há, pois, evidente dano ambiental individual, na moderna concepção de José Rubens Morato Leite:
“Da análise empreendida da lei brasileira, pode-se concluir que o dano ambiental deve ser compreendido como toda lesão intolerável causada por qualquer ação humana (culposa ou não) ao meio ambiente, diretamente, como macrobem de interesse da coletividade, em uma concepção totalizante, e indiretamente, a terceiros, tendo em vista interesses próprios e individualizáveis e que refletem no macrobem.”�
Corolário, aqui a responsabilidade civil decorre de dano ambiental de reparabilidade direta, relacionado a interesses próprios individuais e apenas reflexos com o meio ambiente, mas atinentes ao microbem ambiental.
Do Quantum Indenizatório dos Danos Extrapatrimoniais.
Na sentença, a ré foi condenada ao pagamento de indenização por danos extrapatrimoniais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). A parte ré, em seu apelo, pugna pela redução do quantum indenizatório.
Efetivamente, há grandes dificuldades para a quantificação dos danos extrapatrimoniais, o que não afasta o reconhecimento do direito. Analiso a questão, sem descurar do previsto no art. 944, caput, e seu parágrafo único do Código Civil.
O artigo 927 do Código Civil dispõe:
“Art. 927. Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”
Relativamente ao dano extrapatrimonial, também denominado pela doutrina e jurisprudência como dano moral, adota-se a concepção segundo a qual tais danos estão relacionados com: a) a esfera existencial da pessoa humana, causando prejuízos aos direitos de personalidade e, de forma mais ampla à tutela da pessoa humana; b) a esfera da socialidade da pessoa humana, afetando interesses transindividuais não patrimoniais, como os danos ao meio ambiente e c) a honra objetiva da pessoa jurídica, conforme Paulo de Tarso Vieira Sanseverino�. 
Na hipótese dos autos, entendo que os danos cuja reparação é reclamada por ambas as partes litigantes estariam relacionados com os direitos de personalidade e, de forma mais ampla, com a tutela da pessoa humana. Sobre sua caracterização, vale colacionar o entendimento de Maria Celina Bodin de Moraes que, adotando a expressão dano moral, assim estabelece a relação de tais danos com a tutela da pessoa humana:
“Assim, no momento atual, doutrina e jurisprudência dominantes têm como adquirido que o dano moral é aquele que, independentemente de prejuízo material, fere direitos de personalíssimos, isto é, todo e qualquer atributo que individualiza cada pessoa, tal como a liberdade, a honra, a atividade profissional, a reputação, as manifestações culturais e intelectuais, entre outros. O dano é ainda considerado moral quando os efeitos da ação, embora não repercutam na órbita de seu patrimônio material, originam angústia, dor, sofrimento, tristeza ou humilhação à vítima, trazendo-lhe sensações e emoções negativas.”�
No âmbito constitucional, não se pode olvidar que a Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso X, normatizou, de forma expressa, a proteção a alguns direitos da personalidade, erigindo à condição de invioláveis a intimidade, a vida privada e a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Trata-se de previsão inserida no Título dos Direitos e Garantias Fundamentais, ou seja, os bens jurídicos ali referidos são cruciais para o desenvolvimento do Estado Democrático. Portanto, é crucial investigar o bem jurídico ofendido pela conduta lesiva para a configuração do dano indenizável, pois nem todo prejuízo é passível de indenização.
Corolário, os bens jurídicos protegidos no artigo 5º e a reparação por danos extrapatrimoniais, relacionados com os direitos de personalidade, não são elementos isolados na Constituição Federal, mas conectados, por exemplo, com o princípio da dignidade humana, previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal e que foi definida assim por Ingo Wolfgang Sarlet:
“Assim sendo, temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo o qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar a promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.”�
Outrossim, a indenização por danos extrapatrimoniais, partindo desta pré-compreensão, segundo a qual, está interligada com a própria idéia de dignidade humana, insere-se nos fins da ordem econômica, pois no artigo 170 da Constituição Federal, está previsto como um dos seus objetivos assegurar existência digna a todos, além da defesa do consumidor (inciso V).
De qualquer sorte, apenas deve-se considerar como dano indenizável aquele considerado como dano injusto ou ilegítimo, ou seja:
“...não será toda e qualquer situação de sofrimento, tristeza, transtorno ou aborrecimento que ensejará a reparação, mas apenas aquelas situações graves o suficiente para afetar a dignidade humana em seus diversos substratos materiais, já identificados, quais sejam, a igualdade, a integridade psicofísica, a liberdade e a solidariedade familiar ou social, no plano extrapatrimonial em sentido estrito.”�
Há muito se tem dito que tal estimativa é dotada de dificuldades, o que não afasta o reconhecimento do direito. De qualquer sorte, apenas deve-se considerar como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que foge à normalidade, situação a ser verificada conforme a equidade, atentando-separa os próprios fins sociais a que se dirige a normatização da indenização por danos extrapatrimoniais e as exigências do bem comum (artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil).
Sobre o arbitramento do dano moral leciona Arnaldo Rizzardo�:
“Ao arbitrar o montante da reparação, o órgão judiciário deverá levar em conta que a indenização por dano moral visa duplo objetivo, no alvitre de Caio Mário da Silva Pereira�: “O fulcro do conceito ressarcitório acha-se deslocado para a convergência de duas forças: ‘caráter punitivo’, para que o causador do dano, pelo fato da condenação, se veja castigado pela ofensa que praticou; e o ‘caráter ressarcitório’ para a vítima, que receberá uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal sofrido...”
Parece crível, assim, a necessidade de utilizar o parâmetro da proporcionalidade, seja sobre o ponto de vista da proibição do excesso (Übermassverbot) ou da proibição da insuficiência (Untermassverbot). Logo, não se pode fixar um valor deficiente, em termos de satisfação da vítima e punitivo para o agente causador, bem como não há como ser excessivo de modo a aniquilar os bens e valores contrários.
Neste sentido, mais uma vez as palavras de Sérgio Cavalieri Filho:
“Em conclusão, após a Constituição Federal de 1988 não há mais nenhum valor legal prefixado, nenhuma tabela ou tarifa a ser observada pelo juiz na tarefa de fixar o valor da indenização pelo dano moral, embora deva seguir, em face do caso concreto, a trilha do bom-senso, da moderação e da prudência, tendo sempre em mente que se, por um lado, a indenização deve ser a mais completa possível, por outro não pode tornar-se fonte de lucro indevido”�
Ademais, no tocante ao quantum da indenização, vale referir recente decisão do Superior Tribunal de Justiça, cujo relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino considerou para o razoável arbitramento da indenização por danos extrapatrimoniais a reunião dos seguintes critérios: valorização das circunstâncias do evento danoso (elementos objetivos e subjetivos da concreção) e o interesse jurídico do lesado.
No voto proferido no Recurso Especial nº 959.780/ES, julgado em 26.04.2011, o Ministro explica com percuciência alguns parâmetros para a fixação do valor da indenização:
“Na primeira fase, arbitra-se o valor básico ou inicial da indenização, considerando-se o interesse jurídico lesado, em conformidade com os precedentes jurisprudenciais acerca da matéria (grupo de casos). Assegura-se, com isso, uma exigência da justiça comutativa que é uma razoável igualdade de tratamento para casos semelhantes, assim como que situações distintas sejam tratadas desigualmente na medida em que se diferenciam.
Na segunda fase, procede-se à fixação definitiva da indenização, ajustando-se o seu montante às peculiaridades do caso com base nas suas circunstâncias. Partindo-se, assim, da indenização básica, eleva-se ou reduz-se esse valor de acordo com as circunstâncias particulares do caso (gravidade do fato em si, culpabilidade do agente, culpa concorrente da vítima, condição econômica das partes) até se alcançar o montante definitivo. Procede-se, assim, a um arbitramento efetivamente equitativo, que respeita as peculiaridades do caso.
Ao pesquisar na jurisprudência desta Corte, encontrei precedentes que examinaram questão similar, fixando indenização por danos extrapatrimoniais. Nas Apelações Cíveis 70042559898, 70042981639, 70042774539, 70042434910, 70043557404 e 70042461434 da 9ª Câmara Cível, e 70044190700, 70044103182, 70041833070, 70041975228, 70038120192, da 10ª Câmara Cível, sempre considerando as peculiaridades do caso concreto.
Adotando este entendimento, considero as seguintes variáveis para a fixação do dano moral: 1) a configuração do ato ilícito decorrente de obra/serviço público; 2) a importância e a extensão do dano; 3) a ofensa à honra subjetiva dos autores; 3) a não contribuição destes para o ocorrido; 4) a situação econômica das partes.
Observadas as variáveis do caso concreto referidas, na medida em que o dano à honra subjetiva foi mediano, não havendo comprovação de outras consequências graves, e a situação econômica das partes, é viável a redução do valor fixado para R$ 3.000,00 (três mil reais) como valor definitivo da indenização por danos extrapatrimoniais, na medida em que se revela suficiente para atenuar as conseqüências da ofensa à honra da parte lesada, não significando, por outro lado, um enriquecimento sem causa, devendo, ainda, ter o efeito de dissuadir o réu da prática de nova conduta.
Termo de Incidência de Juros Moratórios
Nas ações de indenização por dano extrapatrimonial, o entendimento pacífico desta Câmara Cível era o de que o termo inicial dos juros moratórios deveria ser fixado a partir da data do julgamento no qual foi arbitrado o valor da condenação. Isto porque esta Câmara entende que não se justifica a incidência de juros moratórios a partir de momento anterior à própria determinação do valor da indenização, o que somente seria definido pela sentença ou acórdão que fixa o quantum indenizatório, na linha do entendimento jurisprudencial exposto no RESP n.º 903.258/RS.
No entanto, ao analisar o julgamento de inúmeros recursos especiais interpostos em contraposição a esse entendimento, esta Câmara inferiu que o Superior Tribunal de Justiça compreende que determinar o termo inicial dos juros moratórios a partir da fixação do quantum indenizatório contraria a Súmula 54 do STJ�. Em prol da estabilidade e segurança jurídica necessárias, revisamos o posicionamento anterior, para que seja aplicada a referida súmula.
No presente caso, como já explicitado acima, os danos causados pela parte ré tiveram início no ano de 2004 e findaram em setembro de 2009, devendo a parte autora comprovar que residia no bairro afetado durante esse período. Da análise dos documentos de fls. 31/36, aduzo que a parte autora reside no Parque Marinha desde o dia 06 de novembro de 2004, experimentando os danos decorrentes do ato ilícito a partir desta data. Dessa forma, devem fluir os juros moratórios desde o dia 06 de novembro de 2004, data em que comprovado residir a parte autora no local afetado.
Já a correção monetária incide a contar do arbitramento do quantum indenizatório, em conformidade com a Súmula 362 do STJ.
Honorários Advocatícios
A sentença condenou a demandada ao pagamento de honorários advocatícios fixados em 20% sobre o valor da condenação.
A questão dos honorários advocatícios vem disciplinada no artigo 20 do Código de Processo Civil, segundo o qual:
Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. 
§ 1º O juiz, ao decidir qualquer incidente ou recurso, condenará nas despesas o vencido. 
§ 2º As despesas abrangem não só as custas dos atos do processo, como também a indenização de viagem, diária de testemunha e remuneração do assistente técnico. 
§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: 
a) o grau de zelo do profissional; 
b) o lugar de prestação do serviço; 
c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. 
§ 4o Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior. 
§ 5o Nas ações de indenização por ato ilícito contra pessoa, o valor da condenação será a soma das prestações vencidas com o capital necessário a produzir a renda correspondente às prestações vincendas (art. 602), podendo estas ser pagas, também mensalmente, na forma do § 2o do referido art. 602, inclusiveem consignação na folha de pagamentos do devedor.
Portanto, nos termos do § 3º do dispositivo supra, os honorários advocatícios serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, observados os critérios descritos nas alíneas a, b e c do mesmo dispositivo legal.
Ao comentar o texto da lei processual, Celso Agrícola Barbi refere:
“...manda que seja atendido o grau de zelo profissional, o lugar de prestação do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o serviço. Apesar de não estar expressamente previsto na lei, é natural que seja considerada também a qualificação profissional do advogado. O item relativo ao lugar da prestação de serviço tem em vista o maior dispêndio de tempo e os incômodos com viagens, quando o advogado não residir na comarca. Não devem ser considerados aí os gastos de viagem, porque estas são incluídas nas despesas judiciais, na formão §2º, como vimos. O item referente à natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço, é o mais importante dos três. Na sua apuração, o juiz deve analisar as dificuldades nas questões de fato e de direito que a causa apresentar, o volume de atividade probatória desenvolvida pelo advogado(...)”�
No presente caso, observado o padrão adotado por esta Câmara em casos como o presente, obedecendo aos vetores estabelecidos pelo artigo 20, §3º, do CPC entendo que o valor equivalente a 20% sobre a condenação bem remunera o trabalho do profissional que atuou no feito e não se mostra exagerada, considerando as circunstâncias do caso concreto.
IV – DISPOSITIVO.
Ante o exposto, nos termos do art. 557, §1º-A do CPC, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso da ré, para minorar o quantum indenizatório para R$ 3.000,00 (três mil reais), e determinar que os juros moratórios sejam contados a partir do dia 06 de novembro de 2004, incidindo correção monetária pelo IGP-M a partir deste julgamento.
Intimem-se.
Diligências legais.
Porto Alegre, 11 de abril de 2013.
Des. Leonel Pires Ohlweiler,
Relator.
� Princípios do Processo Na Constituição Federal. 9ª ed. São Paulo: RT, 2009, p. 311.
� Cf. OLIVEIRA, Pedro Miranda de. Agravo Interno e Agravo Regimental. São Paulo: RT, 2009, p. 74.
� Cf. FIGUEIREDO, Mariana Filchtiner. Direito Fundamental à Saúde. Parâmetros para sua Eficácia e Efetividade. Porto Alegre: 2007, p. 81.
� Vale destacar que “o Direito Sanitário é o ramo do Direito que disciplina as ações e serviços públicos e privados de interesse à saúde, formado pelo conjunto de normas jurídicas – regras e princípios – que tem como objetivo a redução de riscos de doenças e de outros agravos e o estabelecimento de condições que assegurem o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde.”( cf. AITH, Fernando. Curso de Direito Sanitário. A proteção do Direito à Saúde no Brasil. São Paulo: Quartier Latin, 2007, p. 92.
� Cf. LUFT, Rosangela Marina. Marcos Legais e Institucionais para a Redefinição do Serviço Público de Saneamento Básico. In: Serviço Público. Direitos Fundamentais, Formas Organizacionais e Cidadania. Curitiba: JURUÁ, 2005, p. 213.
� Responsabilidade Civil do Estado. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 155.
� Responsabilidade Civil. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 417.
� Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. 2ª ed; São Paulo: RT, 2003, p. 138-139. No mesmo sentido, ver FREITAS, Vladimir Passos de. O Dano Ambiental Coletivo e a Lesão Individual. In: Desafios do Direito Ambiental no Século XXI: estudos em homenagem a Paulo Affonso Leme Machado. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 801: “A vítima direta do dano ambiental poderá reivindicar indenização independentemente de qualquer iniciativa no âmbito da ação civil pública. A propósito, o art. 14, §1º, da Lei nº 6.938, de 31.8.1981, é explícito ao mencionar ‘danos ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade’. E mais: o mesmo dispositivo claramente dispõe que a responsabilidade é objetiva – ou seja, aquele que sofre o prejuízo individual não terá que demonstrar culpa do causador do dano.”
� Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial, p. 104.
� Princípio da Reparação Integral. Indenização no Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 265. O autor adota esta concepção formulada por Judith Martins-Costa, Comentários ao Novo Código Civil: do Inadimplemento das obrigações. Rio de Janeiro: FORENSE, v. 5, comentários ao artigo 403, n. 2.1.2.2, p. 339. 
� Danos à Pessoa Humana. Uma Leitura Civil-Constitucional dos Danos Extrapatrimoniais. Rio de Janeiro: RENOVAR, 2009, p. 157.
� Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 4ª ed. 2006, p. 60.
� Cf. BODIN DE MORAES, Maria Celina. Danos à Pessoa Humana, p. 189.
� Ob cit., p. 229.
� Responsabilidade Civil, Rio de Janeiro, Forense, nº 45, p. 62, 1989.
� Programa de Responsabilidade Civil, p. 100.
� Súmula nº 54 do STJ - Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.
� Comentários ao Código de Processo civil, Vol. I, p.191.
�PAGE �2�

Outros materiais