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Profa.Raissa Fontelas R. Gambi CIÊNCIA E SOCIEDADE 28/03/12 Sociedade moderna ciência substituiu a religião como “mito fundamental” interpretação privilegiada do “real” discurso socialmente legítimo Cientistas não “pairam” sobre a sociedade inseridos em universos culturais e linguísticos específicos Objetos científicos são construídos socialmente definidos pelos sujeitos inseridos numa visão organizada do mundo, compartilhada CIÊNCIA E PODER Perspectivas extremas/dicotômicas Visão idealista (“ciência pura”) organizada por leis naturais imutáveis leva à descoberta/revelação das verdades utilização de métodos rigorosos discurso científico é absoluto Visão determinística (“ciência escrava”) totalmente determinada pelas condições econômicos e sociais mero reflexo dos jogos de poder CIÊNCIA E PODER Análise crítica da ciência ênfase na perspectiva histórica caráter precário, sempre em construção baseada em interpretações válidas num determinado período avanços realizados pelos questionamentos não aceitação das explicações instituição humana, marcada pelas particularidades históricas CIÊNCIA E PODER “Gradiente” entre os autores ligados à ciência (filósofos, sociólogos, historiadores) mais próximos da visão idealizada, da determinística ou da crítica. Importante não reduzi-la nem a uma atividade neutra, sem relação com o mundo externo, tampouco a um mero reflexo dos jogos de poder econômico e político Ciência – influencia e é influenciada pelo contexto histórico, social e econômico CIÊNCIA E PODER Nascimento da ciência moderna (séculos XVI e XVII) triunfos intelectuais (física e astronomia) principais contribuições: Galileu, Bacon, Descartes e Newton ruptura com a visão de mundo medieval confiança no conhecimento e domínio da natureza Revolução Científica deslocamento do homem do centro do universo crença na capacidade humana de conhecer e dominar a natureza Ascenção política e econômica de uma nova classe social: a burguesia RETOMANDO... Desenvolvimento do capitalismo fortalecimento das cidades e do comércio – processo de acumulação de capital baseado na propriedade privada e na divisão social do trabalho Condições para o seu desenvolvimento existência de capital acumulado contingente populacional disponível para a realização dos trabalhos (classe trabalhadora) IDADE MODERNA Mudanças sucessivas no processo de produção (a partir do século XVI) pouco a pouco vai sendo superado o limite físico humano da produção por meio do desenvolvimento das máquinas marcadas pelo progressivo aumento nas produções incremento das produções – vai depender cada vez mais do desenvolvimento da ciência Sistema doméstico para a manufatura e desta para o sistema fabril IDADE MODERNA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Manufatura Grande Indústria Processo de fabricação simples Processo complexo Ferramentas como extensão dos braços Máquina comanda braços Homem define ritmo Máquina define ritmo Trabalho em domicílio e familiar Concentração em fábricas Operários domiciliares Proletariado industrial Caráter individual da produção Caráter coletivo Tempos livres Disciplina das fábricas Organização do trabalho – manufatura para grande indústria Pensamento nos séculos XVIII e XIX (primeira metade) marcado pela ascenção econômica e política da burguesia reflexo dos interesses e necessidades desta classe processo de profissionalização da ciência e reformas educacionais principais valores: liberdade, igualdade e individualismo REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Ciência e Capitalismo nos primórdios, a ciência não possui custos, há somente a aplicação de um conhecimento disponível acumulado (física) progressivamente o capitalismo organiza e financia a ciência passagem de propriedade social para propriedade privada até a Revolução Industrial – pouca aplicação e utilidade prática da ciência no século XIX – exaustão das possibilidades tecnológicas da primeira Revolução Industrial e busca, por meio da ciência, de inovações REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Revolução Industrial – dois momentos Primeira Revolução Industrial (século XVIII) não foi produto direto de avanços científicos vínculo difuso e indireto com a Revolução Científica tecnologia principal – máquina a vapor passagem do sistema da manufatura para o fabril substituição das ferramentas manuais pelas máquinas principal país - Inglaterra Segunda Revolução Industrial (a partir de 1850) papel decisivo da ciência na promoção da inovação tecnologia principal – motor elétrico (combustão interna) principais país – Alemanha e EUA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Transformação da economia agrária em industrial Processo de avanços tecnológicos graduais e cumulativos: envolve a substituição de métodos já estabelecidos Caráter unívoco do movimento: a mudança gerava novas mudanças (exemplo: mina de carvão) Avanços materiais em 3 áreas principais: substituição das habilidades e dos limites humanos pelas máquinas força humana e animal substituída por energia de fonte inanimada (carvão) melhoria dos métodos de transformação/extração das matérias- primas PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Desenvolvimento tecnológico acompanhado de mudanças na organização do trabalho antes da divisão do trabalho – a profissão era o principal repositório do conhecimento técnico a base do conhecimento era a técnica profissional do ofício (singularidade do ofício) vínculo diário entre trabalho e ciência REVOLUÇÃO INDUSTRIAL inúmeras inovações/invenções mecânicas feitas pelos homens de ofícios James Watt – ofício era fazer instrumentos matemáticos, contribuiu para melhoria do motor a vapor Frank Whittle – armador de metal aeroviário, papel importante na invenção do jato John Harewood – relojoeiro, inventou o relógio automático REVOLUÇÃO INDUSTRIAL “Àquela altura, a meta parecia consistir menos em acelerar a máquina do que simplificar sua operação, para que uma só pessoa pudesse manejar mais unidades ao mesmo tempo: em 1833, um jovem com um assistente de 12 anos era capaz de operar 4 teares e produzir o equivalente a 20 vezes a produção de um trabalhador manual” (LANDES, 1994:91) Técnica (baseada nos ofícios) desenvolveu-se antes e como pré-requisito para a ciência grande contribuição da tecnologia do vapor para o desenvolvimento das ciências físicas profissão do engenheiro – advém do profissional do ofício REVOLUÇÃO INDUSTRIAL “Não conhecemos quem divulgou a expressão de que a invenção foi uma das mais nobres dádivas que a ciência já dera à humanidade. O fato é que a ciência ou os homens de ciência, jamais tiveram algo a ver com o assunto. Na verdade, não há máquina alguma nem maquinismo algum nos quais o pouco que os teóricos fizeram seja mais inútil. Ela surgiu, foi aperfeiçoada e aprimorada pelos mecânicos no trabalho – e só por eles” Robert Stuart Meikleham, 1824 – Descriptive History of the Steam Engine apud BRAVERMAN, 1987:139) Máquina a vapor – James Watt (1769) produto do trabalho de “práticos” e não de cientistas invenção fundamental – condensador separado (patente de Watt de 1769) necessidade de aumentar o volume de trabalho executado por insumo de energia antecedentes: “máquina de aquecer” – Thomas Savery (1698) “máquina atmosférica” – Thomas Newcomen (1705) Observações empíricas geraram grande desenvolvimento científico, sobretudo na área da termodinâmica REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Por que na Inglaterra? revolução política da burguesia no século XVII (Estado voltado para seus interesses) existênciade capital acumulado por meio do comércio numerosa classe trabalhadora (expulsa dos campos) abundância de matéria-prima desenvolvimento dos transportes (ferrovias) e de sistemas de comunicação a partir do século XVII investimento contínuo, público e privado, na ampliação do sistema fluvial e na construção de novas estradas e pontes. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Principais indústrias: têxtil, metalúrgica e química Indústria Têxtil acumulação prévia de experiência e de riqueza com o sistema doméstico de produção mais importante em termos do capital investido e nº de empregados aceleração de um estágio do processo de fabricação impunha desafios ao outro processo contínuo de ajustes e aperfeiçoamentos número de teares em 1813 = 2.400 / 1829 = 55.500 / 1850 = 250.000 força motriz – máquina a vapor fonte de energia: carvão mineral REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Indústria Siderúrgica menor participação que a indústria têxtil, porém forte desenvolvimento posterior invenções feitas por “práticos” entendimento do processo de transformação do minério em metal somente em meados do século XIX 1750 – Grã Bretanha importava 2 vezes mais ferro do que produzia 1814 – exporta 5 vezes mais do que importa maior usuário de energia a vapor, juntamente com a mineração REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Indústria Química desenvolvimento inicialmente atrelado às necessidades de outros ramos fabris maior aproximação com o conhecimento científico trabalho no laboratório pesquisa teórica e aplicada mais desenvolvida na Alemanha Censo Industrial da Inglaterra – 1851 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Indústria Química 9.172 operários Têxtil (algodão) 292.340 operários Têxtil (lã) 152.205 operários Indústrias de construção 390.000 operários Fonte: Landes, 1994 Século XVIII – mudanças importantes no ensino na Europa com a emergência do ensino técnico principais países: França e Alemanha ensino voltado para questões teóricas e problemas concretos utilização da linguagem científica ênfase no trabalho de laboratório candidatos: burguesia, dos ofícios, das camadas superiores do comércio contraposição ao ensino tradicional – foco na contemplação e voltado para as classes altas primeiras escolas de engenharia (França): Academia Real de Arquitetura/1671; Escola de Pontes e Estradas (1747) e Escola de Minas (1783) REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Processo de profissionalização da ciência final do século XVIII a início do XX passagem da esfera dos “amadores” e do conhecimento livre para uma organização estruturada, com altos financiamentos ritmos e formas diferentes entre os países e as áreas do conhecimento profissionalização precedida pela formalização da formação universitária Início do século XIX profissões científicas ainda não organizadas tal como conhecemos hoje fortemente associado ao desenvolvimento das universidades, que neste início ainda estavam orientadas para o saber clássico e contemplativo cientistas ainda eram amadores SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Final do século XIX grande mudança neste cenário pesquisa científica passa a demonstrar sua importância para a acumulação de capital desenvolvimento em quatro campos: eletricidade, aço, petróleo e motor a explosão (novas fontes de energia) aplicação sistemática e consciente da ciência na grande indústria grande modificação no papel da ciência íntima relação com a produção (depende das características físicas, químicas e biológicas dos materiais e dos processos) SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Papel central desempenhado pela ciência e pela tecnologia Caráter proposital e intencional da utilização da ciência Ciência como mercadoria e como propriedade privada Papel fundamental do aço e da indústria elétrica Produção de bens de produção SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
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