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Linguagem Comunicacao 2sem 2017 Versão Final

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1 
 
 
 
Centro Universitário de Patos de Minas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Patos de Minas, agosto de 2017 
 
2 
 
 
Professores de 
Linguagem e Comunicação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Centro Universitário de Patos de Minas 
 
3 
 
Caros alunos, 
 
Linguagem e Comunicação está presente nos 
primeiros semestres de quase todos os cursos de 
graduação deste país – isso mostra sua importância 
na formação profissional de qualquer estudante. 
Infelizmente, os anos anteriores de formação 
escolar não foram suficientes para o aprimoramento 
de muitas habilidades linguísticas. O acadêmico 
tem, na faculdade, uma das últimas oportunidades 
para desenvolver sua capacidade de expressão por 
meio da língua, seja na modalidade falada, seja na 
modalidade escrita. Se perdida essa oportunidade, 
ou mal aproveitada, poderá sofrer punições 
principalmente no mercado de trabalho, caso 
consiga ingressar-se nele. 
Sabemos que, no nosso dia-a-dia, não 
comunicamos por meio de palavras – elas existem 
apenas no dicionário. Comunicamos, sim, por meio 
de textos. Nossas relações pessoais ou profissionais 
realizam-se por meio de textos que (co)produzimos 
com nossos semelhantes. Tecemos ideias, tecemos 
compromissos. Sem o domínio eficiente da língua, 
sem o domínio da feitura de textos, não 
conseguiremos nos mover neste mundo 
marcadamente tecnológico. Marcadamente sem 
fronteiras. Marcadamente informativo. Mundo de 
exigências, então! 
Nosso papel no curso escolhido por vocês, 
caros alunos, é contribuir para que a formação de 
vocês esteja, também, respaldada pelas exigências 
deste mundo em que informações, que são textos 
circulantes, são extremamente necessárias para o 
desempenho profissional. Mesmo que, no futuro 
profissional, vocês não precisem escrever textos, 
não precisem ministrar palestras ou seminários, a 
desenvoltura linguística poderá lhes garantir 
possibilidades de crescimento ininterrupto, já que 
irão (co)produzir textos menos formais em suas 
relações. Não há profissional isolado; há, sim, 
aquele que tece conhecimentos, que troca ideias, 
que comunica achados e os compartilha. E isso é o 
que nós chamamos de produção de textos. 
Produzir um texto falado ou escrito é uma 
atividade que se aprende, por ensaio e erro. Não é 
privilégio de poucos, mas direito de todos. Na 
nossa disciplina Linguagem e Comunicação, 
possibilitamos a vocês mecanismos de compreensão 
de textos, nos aspectos linguístico, argumentativo e 
expressivo, para que desenvolvam suas habilidades 
de interação. Neste mundo sem limites para a troca 
de informações – vocês sabem o que a tecnologia 
pode fazer –, a partilha de textos, ou com amigos, 
ou com colegas de profissão, pode ser, também, o 
percurso para uma vida feliz e realizada. Sem 
textos, não há amigos, não há profissionais, não há 
homens. 
Esperamos – e acreditamos nisto – que a 
prática de textos seja um instrumento-chave na 
participação da vida social, profissional e 
intelectual. Oferecer, portanto, a vocês 
instrumentos para capacitá-los nessa empreitada é 
nosso dever! 
 Os professores 
4 
 
Sumário 
 
CARTA AOS ALUNOS ............................................................................................................ 
 
03 
NOSSO MAIOR DIREITO ............................................................................................................ 05 
 
PLANO DE ENSINO ............................................................................................................... 
 
06 
01 LEITURA ANALÍTICA ........................................................................................... 08 
1.1 Decodificação, cognição e ação social .......................................................................... 08 
1.1.1 Ler e escrever; pensar e existir ........................................................................................ 09 
1.1.2 Analfabetismo emocional ............................................................................................. 10 
1.2 Etapas para leitura analítica ............................................................................... 11 
1.2.1 Esquema para leitura analítica ......................................................................... 12 
1.2.1.1 Textos e atividades ................................................................................................. 13 
 
02 
 
PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DE TEXTOS .................................................................. 
 
15 
2.1 Opinição e informação ............................................................................................ 15 
2.1.1 Textos e atividades ................................................................................................. 15 
2.2 Intertextualidade ................................................................................................... 17 
2.2.1 Textos e atividades ................................................................................................. 17 
 
03 
 
TEXTO E SUA TEXTUALIDADE ............................................................................. 
 
21 
3.1 Coerência e coesão textual ....................................................................................... 21 
3.1.1 Textos e atividades ................................................................................................. 26 
3.2 Parágrafo isolado e no texto...................................................................................... 35 
3.2.1 Textos e atividades ................................................................................................. 36 
3.3 Sugestão de atividades ............................................................................................. 43 
 
04 
 
INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS ................................................................................. 
 
48 
4.1 Pressupostos e subentendidos .................................................................................... 48 
4.1.1 Textos e atividades ................................................................................................. 50 
4.1.2 Sugestão de atividade .............................................................................................. 52 
 
05 
 
ARGUMENTAÇÃO .............................................................................................. 
 
55 
5.1 Recursos da argumentação ....................................................................................... 58 
5.2 Falácias da argumentação ......................................................................................... 59 
5.3 Textos e atividades ................................................................................................. 60 
5.4 Sugestão de atividades ............................................................................................. 64 
 
06 
 
GÊNEROS TEXTUAIS ACADÊMICOS ...................................................................... 
 
65 
6.1 Esquema ............................................................................................................. 65 
6.1.1 Textos e atividades ................................................................................................. 67 
6.1.2 Sugestão de atividade .............................................................................................. 69 
6.2 Resumo .............................................................................................................. 69 
6.2.1 Textos e atividades ................................................................................................. 70 
6.2.2 Sugestão de atividade ..............................................................................................71 
6.3 Resenha .............................................................................................................. 74 
6.2.1 Textos e atividades ................................................................................................. 75 
6.2.2 Sugestão de atividade .............................................................................................. 77 
 
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 
 
 80 
5 
 
Nosso maior direito 
Você já pensou na maravilha que é 
pensar? Poder pensar? Por que maravilha? Nem 
sei como explicar, mas ter consciência de que 
se está pensando é extraordinário; quantas 
vezes na vida você se deu conta de que estava 
pensando e na liberdade que se tem quando se 
pensa? 
Pensar nos leva de um deserto na 
Mongólia ao palácio de um rei, do sofrimento 
mais doloroso à mais escandalosa das 
felicidades, do ódio à paixão, da descrença à 
mais profunda fé, até da doença à saúde -e vale 
o vice-versa. 
Pensar: o maior privilégio que alguém 
pode ter. As guerras, as revoluções, as obras de 
arte, os filmes, os livros, tudo, absolutamente 
tudo, só existe porque um dia, em algum lugar, 
um homem pensou, e há quem afirme que a 
força do pensamento pode até fazer com que as 
coisas aconteçam. Todas não sei, mas algumas, 
com certeza. 
É divertido pensar; quando se pensa não 
há censura, nada é pecado, proibido ou contra a 
lei. Talvez seja, verdadeiramente, a única 
liberdade total que se tem. 
Muitas pessoas talvez nunca tenham 
prestado atenção em seus próprios 
pensamentos: pois deviam. Essa prática pode 
ser melhor do que muitos filmes e muita 
conversa fiada, mas difícil, para quem não está 
acostumado. Você sabia que há muita gente que 
passa a vida inteira sem se dar conta do 
privilégio que é poder pensar? 
Uma maravilha e também um perigo: 
basta que se fique "pensativa" para que alguém 
pergunte "o que você tem? Está pensando em 
quê?" 
Nada desestabiliza mais um grupo do 
que perceber que uma das pessoas está longe, 
pensando. 
Pensar é perigoso; é pensando que se 
descobre que a vida não está boa mas que pode 
mudar, que o país vai bem mas poderia ir 
muito melhor, é pensando que se pode 
transformar nossa vida e o mundo. 
Nelson Mandela disse que tinha 
saudades do tempo que passou na prisão, 
porque preso ele tinha tempo para pensar. No 
nosso dia a dia, quando sobra um momento 
para se estar só, inventa-se imediatamente 
alguma coisa para fazer, para evitar o perigo 
maior que é pensar. 
Ninguém – ou pouquíssimas pessoas- 
está completamente feliz com sua vida pessoal, 
seus amores, seu trabalho. Mas durante a 
novela ninguém está pondo em questão se 
poderia fazer alguma coisa para ser mais feliz. 
Será que os altos homens de negócios já 
pararam para pensar se vale a pena trabalhar 
tanto, se não têm nem tempo para gastar o 
dinheiro que já têm? E para que mais dinheiro? 
Para ter mais cinco pares de sapato, três bolsas, 
12 camisetas? É muito bom ter um carro do 
ano, mas se ele fosse de 2007 seria tão 
diferente? 
E essa mania de acumular, para deixar 
uma herança para os filhos, isso no fundo é um 
problema político. Todos sabemos que em 
alguns países a educação, a saúde e a 
aposentadoria são garantidas para toda a 
população, que sem precisar se preocupar tanto 
com o futuro, vive mais feliz -com menos 
frescuras, mas com mais alegria. 
Está vendo no que dá, pensar? 
Pensar é perigoso e subversivo, e uma 
coisa é certa: quem não pensa apenas faz o que 
os outros mandam: usam a bolsa da mesma 
grife porque inventaram, começaram a fumar e 
deixaram de fumar porque inventaram, e 
correm o risco de votar errado porque 
inventaram que quem tem carisma pode ser um 
bom presidente. 
Quem não pensa não escolhe, e são as 
escolhas que podem mudar. 
 
(LEÃO, Danuza. Nosso maior direito. Folha de S. Paulo, São 
Paulo, 25 julho 2010, p. C2) 
 
6 
 
 
 
Centro Universitário de Patos de Minas 
 
 
PLANO DE ENSINO 
ANO LETIVO PERÍODO CARGA HORÁRIA 
2017 2º Semestral: 80h – Semanal: 4h 
Identificação da disciplina: Linguagem e Comunicação 
 
 
EMENTA 
 
A noção de linguagem como interação e o domínio de mecanismos linguísticos (gramaticais) e discursivos que 
permitam ao usuário da língua não só a leitura eficiente de textos variados, mas também a produção deles, a 
fim de que possa interagir e atuar sobre o(s) outro(s), social e profissionalmente. 
 
OBJETIVO GERAL 
 
 Ler e produzir textos de maneira eficiente, considerando o interlocutor, o contexto de produção, a 
circulação e o papel dos textos numa dada comunidade. 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
 
 Aplicar as etapas para uma leitura analítica em atividades de leituras acadêmicas e profissionais. 
 Reconhecer não só a diferença entre opinião e informação, mas também o processo intertextual na 
produção e na recepção de textos. 
 Dominar mecanismos linguísticos que permitam a leitura e a produção de textos com coesão e 
coerência e com progressão e articulação. 
 Detectar informações implícitas para desenvolver a leitura eficiente de textos diversos. 
 Compreender textos nos aspectos linguísticos, argumentativos e expressivos para desenvolver 
habilidade de interação por meio da língua. 
 Produzir textos que possibilitem uma participação social e profissional efetiva. 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
 
1 ETAPAS PARA LEITURA ANÁLITICA 
1.1 Análise textual 
1.2 Análise temática 
1.3 Análise interpretativa 
 
2 PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DE TEXTOS 
2.1 Opinião e informação 
2.2 Intertextualidade 
 
03 TEXTO E SUA TEXTUALIDADE 
3.1 Coerência textual 
3.2 Coesão referencial 
3.3 Coesão sequencial 
 
4 INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS 
4.1 Subentendidos 
4.2 Pressupostos 
 
5 ARGUMENTAÇÃO 
5.1 Recursos argumentativos 
5.2 Falácias da argumentação 
 
6 GÊNEROS TEXTUAIS ACADÊMICOS 
6.1 Esquema 
6.2 Resumo 
6.3 Resenha 
 
 
7 
 
ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS 
 
Os discentes farão leituras de textos variados e de fontes diversas, selecionados pelo professor, voltados, direta 
ou indiretamente, à área de atuação escolhida, com a finalidade de reconhecer, de interpretar e de analisar os 
apontamentos teóricos feitos nas aulas. Será contemplada também a produção de textos a partir das leituras 
recomendadas. 
 
METODOLOGIA 
 
Para que se alcancem os objetivos propostos nas aulas de Linguagem e Comunicação, serão adotados os 
seguintes procedimentos didático-metodológicos: aulas expositivas, estudos de textos, debates, apresentação 
de seminários, oficinas de leitura e produção de textos. 
 
RECURSOS DIDÁTICOS 
 
Coletânea de textos e atividades, quadro, giz, textos selecionados de revistas, jornais e livros, datashow, vídeo, 
salas de computadores e outros recursos necessários ao desenvolvimento das aulas. 
 
AVALIAÇÃO 
 
Do discente: a avaliação, que consiste em um processo contínuo e permanente, será concebida e utilizada nesta 
disciplina como elemento constitutivo do processo ensino-aprendizagem que permite identificar, qualitativa e 
quantitativamente, os avanços e as dificuldades na concretização dos objetivos propostos. No decorrer do 
semestre letivo, serão distribuídos 100 (cem) pontos, da seguinte forma: 
 
1. Quarenta (40) pontos distribuídos pelo docente da disciplina, por meio da realização de provas e/ou outras 
atividades de avaliação. 
2. Vinte (20) pontos distribuídos pelo professor orientador do Projeto Integrador; 
3. Vinte (20) pontos atribuídos na Avaliação Colegiada (AC), elaborada pelo professor da disciplina, sob 
supervisão do Núcleo Docente Estruturante (NDE), considerando-se a ementa trabalhada durante o semestre; 
4. Vinte (20) pontos atribuídos na Avaliação Integradora(AVIN), considerando-se as ementas de todas as 
disciplinas trabalhadas durante o semestre. 
 
Do docente: os alunos avaliarão o desempenho e a atuação do professor por meio de instrumento elaborado pela 
CPA. 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
 
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. 4. ed. São Paulo: Parábola, 2008. 
FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristovão. Oficina de texto. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2011. 
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 17. ed. São Paulo: Ática, 2007. 
 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
 
DISCINI, Norma. Comunicação nos textos: leitura, produção, exercícios. São Paulo: Contexto, 2010. 
GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever aprendendo a pensar. 27. ed. atual. 
Rio de Janeiro: FGV, 2011. 
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual. 22. ed. São Paulo: Contexto, 2012. 
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz C. A coerência textual. 18 ed. São Paulo: Contexto, 2012. 
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 2. ed.São Paulo: Parábola, 2008. 
 
HABILIDADES E COMPETÊNCIAS 
 
Elaborar sínteses; comunicar-se eficientemente nas formas escritas, oral e gráfica; ler e interpretar textos; 
analisar e criticar informações; extrair conclusões por indução e/ou dedução; estabelecer relações, 
comparações e contraste em diferentes situações; detectar contradições; argumentar coerentemente.
8 
 
Capítulo 1 
 
1 Leitura analítica 
 
Neste capítulo, você vai refletir sobre a 
importância da leitura na formação de um 
cidadão. Para isso, num primeiro momento, você 
vai ler textos que abordam a temática da leitura. 
Num segundo momento, você irá conhecer as 
etapas para uma leitura analítica, as quais podem 
contribuir para o seu aprimoramento como 
leitor. Antes de prosseguir, reflita sobre as 
seguintes perguntas: a) qual a importância da 
leitura, escrita e interpretação de textos?; b) 
quais tipos de texto você costuma ler?; c) quais 
tipos de texto você acha necessário ler?; d) você 
sabe o que é um texto científico e/ou 
acadêmico?; e) qual(is) estratégia(s) de leitura, 
escrita e interpretação você acha que deve(m) 
fazer parte da rotina de estudos acadêmicos? 
 
1.1 Decodificação, cognição e ação social 
 
A leitura já foi considerada apenas como 
uma atividade mecânica de decodificar palavras, 
ou de extrair sentidos que supostamente estariam 
prontos no texto. Ao se pensar desse modo, a 
crença era a de que, para se tornar um leitor 
competente, bastava aprender a ler nos anos 
iniciais de escolaridade e depois o aluno já saberia 
ler qualquer texto. 
Hoje já se sabe que a leitura é uma 
atividade complexa, em que o leitor produz 
sentidos a partir das relações que estabelece entre 
as informações do texto e seus conhecimentos. 
Leitura não é apenas decodificação, é também 
compreensão e crítica. Isso significa que o bom 
leitor precisa realizar essas ações sobre o texto. A 
decodificação é uma parte da leitura, na qual o 
leitor, basicamente, junta letras e forma sílabas; 
junta sílabas e forma palavras e junta palavras 
para formar frases. No processo de leitura, à 
medida que informações de um texto vão sendo 
decodificadas e o leitor consegue estabelecer 
relações entre essas informações e os seus 
conhecimentos prévios, unidades de sentido vão 
sendo construídas. Ou seja, a compreensão se 
processa. Ao compreender o texto, o leitor é 
capaz de apreciar o que ele diz, é capaz de se 
posicionar, é capaz de realizar a crítica ao que é 
dito. 
A leitura é tanto uma atividade cognitiva 
quanto uma atividade social. Como atividade 
cognitiva, pressupõe que, quando as pessoas 
leem, estão executando uma série de operações 
mentais (como perceber, levantar hipóteses, 
localizar informações, inferir, relacionar, 
comparar, sintetizar, entre outras) e utilizam 
estratégias que as ajudam a ler com mais 
eficiência. Como atividade social, a leitura 
pressupõe a interação entre um escritor e um 
leitor, que estão distantes, mas que querem se 
comunicar. Fazem isso dentro de condições 
muito específicas de comunicação, pois cada um 
desses sujeitos (o escritor e o leitor) tem seus 
próprios objetivos, suas expectativas e seus 
conhecimentos de mundo. 
É importante que estejamos conscientes 
de que a leitura pode ser ensinada por meio de 
estratégias que ajudam o leitor a ler melhor. É 
importante também que o leitor leia com 
objetivos determinados. Isto é, ler para interagir 
com um autor à distância por meio do texto 
escrito, buscando prazer, ou distração, ou 
informação, ou conhecimento. Há grandes 
vantagens em se pensar a leitura desse modo. A 
principal delas é a de mostrar que existem formas 
para aumentar a competência em leitura ao longo 
da vida, isto é, que o ensino de leitura não é uma 
etapa pontual que se esgota apenas na 
alfabetização. É um aprendizado contínuo. 
 
(BICALHO, Delaine Cafiero. Disponível em: 
<http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/
leitura>.Com adaptações). 
9 
 
1.1.1 Ler e escrever; pensar e existir 
 
Muita gente escreve perguntando como 
se faz para escrever bem. Parece que, além do 
1% de inspiração que está no DNA de qualquer 
aspirante a Shakespeare, o que é determinante 
são os 99% de transpiração. O que, em matéria 
de escrita, só significa uma coisa: ler. 
Ler é fundamental. Não só por uma série 
de razões práticas — aumenta o vocabulário, o 
conhecimento geral, a capacidade de expressão e 
a probabilidade de sucesso com as mulheres —, 
mas especialmente por despertar áreas 
adormecidas do cérebro. Ler a boa literatura 
assim como entrar em contato com artes plásticas 
ou música ativa a imaginação, a capacidade de 
abstração. Mas, mais importante, ler desenvolve 
a única capacidade realmente importante nessa 
vida, que é a de pensar. 
Passando um certo ponto de leitura, a 
estupidez fica impossível. Você não pode ler 
Marx e Smith e concordar com ambos sem se 
questionar sobre qual dos modelos econômicos 
faz mais sentido. O mesmo vale para Platão e 
Maquiavel quando se fala dos governantes; Sun 
Tzu e Gandhi sobre a guerra; Hobbes e Thoreau 
sobre obediência civil; Freud, Jung, Santo 
Agostinho e Paulo Coelho no que diz respeito à 
espiritualidade etc. A lista é infinita: para cada 
aspecto mais ínfimo da vida humana, há uma 
multidão de opiniões diferentes e, quando você 
entra nelas, é impossível que o seu cérebro, 
enferrujado por horas e horas de baboseira 
televisiva, não pegue no tranco e comece a 
trabalhar. Só há três dificuldades nesse processo. 
A primeira é gostar de ler. Quem lê por 
obrigação não passa de algumas dezenas de livros 
e nunca entende o prazer que é a leitura. Essa 
ideia de que literatura é algo enfadonho é, claro, 
herança de todos os professores limitados que lhe 
mandaram ler porcaria no colégio e depois 
fizeram provas ou pediram “fichas de leitura” em 
que você, como papagaio, teve de repetir a 
história para provar que leu. Duas dicas: 
primeiro, leia o que lhe interessa, não espere o 
professor lhe pegar pela mão; segundo, lute 
contra a mediocridade dos seus professores, exija 
tratamento de ser pensante. 
A segunda dificuldade é saber o que ler. 
Lembro-me de ficar lendo as pessoas que eu 
admirava ou tinha respeito na minha infância para 
ver o que elas liam ou recomendavam e aí tentava 
ler o mesmo. Acabei lendo “O Nascimento da 
Tragédia”, de Nietszche, com uns 14 anos, 
achando que a tragédia mencionada era alguma 
hecatombe; nem ideia da tragédia grega, Sofócles 
ou Ésquilo. Ou seja, não dá certo. Outro 
caminho é ler os clássicos, aquilo que todo 
mundo já disse que é bom, de Homero a Proust. 
Mas não adianta dar caviar para quem 
nunca comeu lambari. Vai encher o saco. 
Comece lendo coisas que lhe interessem e que 
prendama atenção, aos poucos você acaba 
migrando para a boa literatura, por causa das 
citações, referências e tal. Só não vá para aquela 
areia movediça de esoterismo, autoajuda e 
romance “melacueca”, que porcaria vicia. 
Por último, “há uma pedra no meio do 
caminho”. Acontece para muitos de, depois de 
ler meia dúzia de livros, achar que o seu lado da 
moeda é o único e rejeitar todo o resto como 
mentira. É a arrogância típica do “imbecil”. 
Cuidado para passar essa fase. Quanto mais se lê, 
mais se nota que se sabe pouco, quase nada. E 
que pouco na vida é imutável, definitivo, 
inquestionável. O que importa é desenvolver a 
capacidade de pensar e de julgar por si só. Até 
para entender que tudo o que está escrito acima 
pode não passar da mais absoluta idiotice. 
 
(IOSCHPE. Gustavo Disponível em: 
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/folhatee/fm01039921.htm> 
Data de publicação: 1º março 1999. Com adaptações). 
 
 
1. A leitura desenvolve o pensamento. Você concorda com esse posicionamento do autor? Por quê? 
2. Há um limite de livros a serem lidos por um cidadão? Por quê? 
3. De que maneira um cidadão pode se tornar um leitor autônomo? 
 
 
10 
 
1.1.2 Analfabetismo emocional 
 
 
Há os que não conseguem decifrar a 
língua escrita, são os analfabetos. Outros 
entendem apenas textos simples, são os 
analfabetos funcionais. Falarei do que chamo de 
analfabeto emocional. É aquele que sabe ler, mas 
é presa das emoções para entender o texto, em 
vez de usar a razão. Faz uma leitura "criativa", 
embalada pelo sentimento e pela paixão. Decifra 
o texto por via de uma reação pura e espontânea, 
ignorando os estreitamentos de significado, 
impostos pelo sentido rigoroso das palavras 
escritas. A fim de ilustrar, utilizarei as cartas dos 
leitores acerca do meu ensaio "Os legisladores e 
o Verbo Divino" (12 de dezembro). Isso, por 
duas razões. Primeiro, por revelar-se uma boa 
amostra de leitura emocional. Segundo, porque 
muitas cartas são de professores e há uma 
corrente pedagógica pregando o subjetivismo e a 
liberdade do leitor para entender o texto como 
quiser. Será que alguns estariam ensinando tal 
estilo de leitura a seus alunos? 
Como várias interpretações se 
deslocaram do que está escrito, vale resumir o 
ensaio: 1) Pesquisas se somam, mostrando que o 
número de alunos em sala de aula não tem 
correlação com o nível de aprendizado; 2) 
Portanto, não há base científica para uma lei 
nacional inventando um número-limite de alunos 
por sala; 3) Vários fatores determinam qualidade, 
mas, segundo as pesquisas, o tamanho das classes 
não é decisivo; 4) Há situações em que classes 
pequenas se justificam – inclusive por exigência 
do método empregado –, mas isso tem de ser 
demonstrado, casa a caso. O ensaio causou a 
"indignação" de vários leitores. Entendamos, as 
emoções fazem parte da vida. Mas podem estar 
no lugar certo ou errado. Insisto, antes da fúria, 
é preciso usar razão para entender o que está 
sendo dito. Faltou a muitos leitores (mas não a 
todos), a disciplina de seguir o raciocínio, 
entendendo a lógica do argumento. Por isso, 
discordam do que não está escrito. 
Diante de uma pesquisa (no caso, 
centenas), devemos sempre aplicar a dúvida 
sistemática de Descartes. Encontramos erro 
lógico no argumento? Encontramos falhas 
metodológicas na comprovação empírica? 
Modelo errado, dados errados? Se não 
conseguimos identificar falhas, acabou a 
munição. Gostando ou não, somos obrigados a 
engolir as conclusões da pesquisa. O debate 
científico não é minha opinião contra a sua, 
minha teoria contra a sua, mas sim minha 
evidência contra a sua. Vale o que revela o 
mundo real. 
"Reputo como inválidos seus 
argumentos". A frase ilustra a confusão entre 
pesquisa científica e opinião. Vale "o que eu 
acho", "o que eu vivi", "o que eu sei". A 
observação pessoal é vista como sendo mais 
definitiva do que pesquisas submetidas ao duro 
crivo da ciência. Se fosse assim, por que fazer 
pesquisas rigorosas? Afinal, a pesquisa é para 
eliminar subjetivo, as ambiguidades e o 
particularismo dos casos. Busca-se nela decifrar 
as grandes forças em jogo, não os detalhes de 
cada situação. Várias cartas julgaram irrealistas os 
exemplos oferecidos. É o mesmo engano. Se o 
convencimento fosse pelos exemplos, para que 
pesquisa? O papel dos exemplos é facilitar a 
compreensão, é dar concretude. Não 
demonstram rigorosamente nada. Houve 
atribuições de culpa à falta de disciplina, ao calor, 
à desmotivação de alunos e professores, à 
promoção automática e a outras moléstias do 
cotidiano de uma escola. Mas ao se apontarem 
esses fatores, implicitamente, fica reforçada, e 
não negada, a tese do ensaio sobre a falta de 
centralidade do tamanho das classes. 
Para terminar, fui bombardeado com o 
clássico argumentum ad hominem, comum 
nesses debates. Em vez de se apontarem erros, 
denuncia-se o autor. Vejamos algumas farpas: 
economistas sucumbem à "retórica mercantilista 
ou a exercícios de adivinhação levianos"; "Dos 
seus escritórios com ar condicionado (...) fica 
mais fácil ter uma visão turva da realidade"; 
"Com certeza, o senhor nunca viu de perto 
escola pública" (não é verdade, mas no caso é 
irrelevante). Ora, uma característica essencial de 
um estudo científico é que sua validade não 
depende de quem o realizou, mas de ser 
metodologicamente inexpugnável. 
 
 (CASTRO, Cláudio de Moura. Analfabetismo emocional. 
Veja, 02 fevereiro 2013, p. 22). 
11 
 
 
1. O que é, na perspectiva de Castro, analfabetismo emocional? 
2. Por que as cartas dos professores são uma “boa amostra de leitura emocional”? 
3. O leitor dispõe de uma liberdade que permita a ele ler os textos como quiser? Comente. 
 
 
1.2 Etapas para uma leitura analítica 
 
O ato da leitura é, inquestionavelmente, 
o principal canal de aprendizagem no ambiente 
acadêmico. Por mais que se discuta, reflita, 
debata, escreva, sempre as referências partem do 
universo dos livros. Mesmo que investiguemos 
fenômenos sociais ou naturais (que podem ser 
observados no “livro” da vida ou da sociedade), 
não podemos prescindir dos textos, sob risco de 
um empirismo vulgar. 
Embora seja tão crucial, a leitura não é 
encarada por muitos como algo natural, já 
assimilado ao longo de suas trajetórias no ensino 
secundário. A consequência da falta de 
familiaridade com leituras é a dificuldade que as 
exigências trazem quando o estudante chega à 
universidade. Tais dificuldades podem ser 
vencidas com muita disciplina. 
Para orientar estudantes a “esmiuçarem” 
um texto, Antonio Joaquim Severino (2002) 
sistematizou um método de leitura, chamado de 
método de leitura analítica. Os passos por ele 
propostos contribuem em muito para uma 
proveitosa compreensão e assimilação dos textos. 
Analisar é, como define René Descartes 
em o Discurso do Método, “dividir cada uma das 
dificuldades que devesse examinar em tantas 
quantas partes quanto possível e necessário para 
resolvê-las”. Aplicando ao contexto usado por 
Severino, a leitura analítica avança por etapas 
sucessivas (processos lógicos) até a compreensão 
global de uma unidade de leitura. As referidas 
etapas são a análise textual, a análise temática e a 
análise interpretativa. 
A primeira etapa, a análise textual, nada 
mais é do que a busca de uma visão geral do 
texto, mediante uma leitura rápida e atenta dos 
elementos mais importantes. Neste momento, o 
leitor deve buscar esclarecimentos sobre palavras 
desconhecidas, fatos, doutrinas e autores citados 
no texto e sobre os quais ele não possua 
conhecimento. Isso será fundamental para o 
entendimento da posição do autor e o contexto 
por ele tratado. A análise textual culminará em 
uma esquematização do texto, o que ajudará na 
formulação de uma visão de conjunto. 
O procedimento lógico decorrenteda 
análise textual é a análise temática. Esta consiste 
em compreender a mensagem do autor, com a 
identificação do tema abordado na unidade de 
leitura, do problema colocado pelo autor e sua 
tese. Trata-se de identificar o caminho seguido 
pelo raciocínio do autor entre ideias principais e 
secundárias. 
A análise interpretativa da unidade de 
leitura decorrerá das etapas anteriores. Nela o 
leitor deve exercer uma atitude crítica com 
relação às posições do autor, verificando a 
coerência da argumentação, originalidade do 
tratamento do problema, profundidade da 
análise, alcance das conclusões do autor e suas 
consequências. 
Para que você possa compreender 
melhor como se processa essas etapas, atente-se 
no esquema a seguir. 
 
(Disponível em: 
<http://metodologiadapesquisa.blogspot.com.br/2009/03/leitura
-analitica.html>. Com adaptações). 
 
12 
 
1.2.1 Esquema para leitura analítica 
 
LEITURA ANÁLITICA 
 
 
Análise 
textual 
 Análise 
temática 
 Análise 
interpretativa 
 
 
 
Leitura de 
reconhecimento 
 Identificação do 
tema-problema 
 Interpretação das 
ideias do autor 
 
 
 
Identificação da 
 unidade do texto 
 Sequências das ideias 
do autor 
 Leitura das 
 entrelinhas 
 
 
 
 
 
Vocabulário, crenças 
do(s) autor(es), fatos e 
dados do(s) autor(este) 
 Outros temas 
paralelos ao tema 
central 
 
 
 Crítica do texto lido 
 
 
 
Juízo crítico 
Esquema de leitura analítica 
Fonte: Severino (2000, p. 64) 
 
O leitor, ao fazer uma leitura analítica 
e reflexiva, deve observar o contexto em que o 
texto está inserido, isso facilita a compreensão 
da abordagem feita. 
Eis algumas dicas para que se realize 
uma leitura eficaz, conforme Silva (2003): 
 
1. Tenha sempre um objetivo definido. Para 
que você está lendo? Qual o propósito de sua 
leitura? 
2. Respeite seu ritmo de leitura. Saiba que, 
com o tempo, você vai ganhando a velocidade, 
à medida que vai aumentando seu hábito de ler. 
3. Caso haja palavras desconhecidas no texto, 
recorra ao dicionário para orientá-lo. 
4. Procure saber um pouco da biografia do 
autor, como um indicativo para perceber a 
visão dele. 
5. Analise as partes do texto e faça sempre a 
junção delas. 
6. Saiba fazer uma triagem do que esteja lendo 
e perceba sua aplicabilidade no momento. 
7. Procure compartilhar suas leituras para 
reforçar seu processo de aprendizagem. 
8. Aplique os conhecimentos adquiridos com a 
leitura, caso seja possível, e isso contribuirá 
para reforçar todo o processo de aprendizagem 
do assunto lido. 
9. Evite sublinhar um texto na primeira leitura. 
Faça, primeiramente, uma leitura de 
reconhecimento e, em seguida, realizae um 
leitura reflexiva. 
10. Anote e/ou transcreva do texto as partes 
que poderão ser úteis na elaboração de seus 
textos. Não se esqueça de anotar os dados para 
fazer as referências bibliográficas.
13 
 
1.2.1.1 Textos e atividades 
 
1. Leia, com atenção, o texto a seguir para responder ao que se pede. 
 
Língua e poder 
 
“A terapia teve um efeito idiossincrático 
com prognóstico favorável em caso de pronta 
supressão”. Essa frase, enigmática para os não-
iniciados nas sendas médicas, não significa 
muito mais do que “o remédio teve efeito 
contrário, mas não causará problemas se for 
suspenso logo”. 
Esse é um dos exemplos de jargão que 
consta da reportagem sobre linguagens técnicas 
publicada na semana passada no caderno 
Sinapse. O jargão é de fato inevitável, mas isso 
não significa que ele deva ser empregado em 
todas as ocasiões. Com efeito, toda profissão, 
do telemarketing à física de partículas, acaba 
por desenvolver um vocabulário específico, 
muitas vezes impenetrável para o leigo. Não 
apenas neologismos são criados como palavras 
comuns podem ter sua significação alterada. 
Em alguns casos, trata-se de uma 
necessidade. O jargão, no mínimo, economiza 
palavras, concentrando carga informativa em 
termos específicos. Quando um médico fala em 
“miocardiopatia idiopática”, ele está na verdade 
dizendo um pouco mais do que apenas 
“problemas cardíacos de causa ignorada”. No 
subtexto, um outro médico compreenderá que 
o paciente sofre de moléstia cardíaca de origem 
desconhecida e para a qual já foram descartadas 
as causas que mais comumente provocam 
doenças do coração. 
Em determinadas áreas científicas, os 
próprios objetos de estudo não passam de 
jargão. É o caso, por exemplo, da linguística, 
com seus morfemas, sintagmas e lexemas, e da 
física de partículas, com seus quarks, glúons e 
léptons. limite, sem o jargão, os fenômenos 
estudados não podem nem ser enunciados. 
Reconhecer a importância e a 
necessidade do jargão em certas situações não 
significa chancelar seu uso indiscriminado. Um 
médico ou um advogado que se dirijam a seus 
clientes em linguagem técnica incompreensível 
estão, na verdade, atendendo muito mal ao 
consumidor, que deve ter, em todas as 
ocasiões, acesso a uma explicação completa de 
sua situação em linguagem acessível. 
Infelizmente, as coisas nem sempre se 
passam assim. Desde que o mundo é mundo, 
profissionais de uma determinada área tendem 
a unir-se para manter sua arte impenetrável 
para o público em geral e, assim, aumentar seu 
poder. Não foi por outra razão que os escribas 
do antigo Egito complicaram 
desnecessariamente a escrita hieroglífica: era 
uma forma de conservarem e até de ampliarem 
sua posição hierárquica. Os tempos e as ciências 
mudaram, mas o princípio de complicar para 
valorizar-se permanece em vigor. 
Não devemos, é claro, ser ingênuos e 
acreditar que poderemos promover a plena 
igualdade através da língua. Democracia é, 
antes de mais nada, a arte de negociar, de 
aplicar o bom senso na solução de problemas. 
Nesse sentido, o bom profissional é aquele 
capaz de comunicar-se no melhor jargão com 
seus colegas, mas que consegue, sem grandes 
perdas, fazer-se entender pelo leigo. Os que 
ostensivamente abusam da linguagem técnica 
tendem a ser os menos capazes, os que mais 
precisam afirmar-se para não perder poder. 
(Folha de S. Paulo, 20 junho 2003) 
 
 
1. Proponha uma leitura analítica do texto. 
2. O jargão, nas mais diversas profissões, pode ser considerado fator de exclusão? Por quê? 
3. O sucesso profissional está ligado ao domínio da linguagem técnica? Por quê? 
 
 
2. Leia, com atenção, o texto a seguir para responder ao que se pede. 
14 
 
Órfãos da profissão 
 
“Setenta milímetros? Deve ser próximo de 7 
centímetros, não é?” 
Com uma chave de fenda estreita, o pintor 
raspava pingos de tinta em um rodapé de granito. 
Primeiro, a tinta não deveria pingar; segundo, o 
rodapé deveria estar protegido com fita gomada; 
terceiro, usava a ferramenta errada. 
O jovem instalava drywall, cortando placas 
com uma serra de metal (sem o arco). Ferramenta 
errada! 
O marceneiro esqueceu um formão na minha 
casa. Era de má qualidade e estava malcuidado. 
As peças de madeira que comprei não foram 
aplainadas e lixadas, como combinado. Não eram nem 
retangulares nem da mesma bitola. Uma se estreitava 
ao final, e a metade delas, por empenadas, era 
inservível. Quem comprar madeira tem ínfimas 
chances de que as navalhas da plaina da serraria 
estejam afiadas e sem cicatrizes de pregos esquecidos 
nas tábuas. 
Para controlar uma luminária com dois 
interruptores, ensinei ao eletricista como era a 
ligação. 
A parede ficou impecável, mas, como o 
pedreiro não sabia ler planta, foi erguida no lugar 
errado. 
O serralheiro não veio, como prometeu, pois 
apareceu outra obra que não queria perder. 
Eis uma colagem do que vemos em um amplo 
segmento de nossa mão de obra. Em suma, falta 
profissionalismo em todos os azimutes. De que falo? O 
profissionalsério: 
 Conhece e domina os gestos e técnicas da sua 
profissão, tendo disso muito orgulho; 
 Possui e usa a ferramenta certa, cuidando dela 
com desvelo e competência (sobretudo na 
afiação!). Aliás, ama suas ferramentas; 
 Prepara gabaritos e apoios ou constrói 
ferramentas, para facilitar o trabalho; 
 É um crente na religião da qualidade, sendo o 
fiscal mais impiedoso do seu próprio 
desempenho; 
 Cumpre com dedicação as obrigações 
assumidas (horários, orçamentos etc.). 
Se são escassos os verdadeiros profissionais, 
por alguma razão há de ser. Para entender, 
exploremos as três maneiras clássicas de prepará-los. 
O aprendiz e seu mestre: vem da época 
medieval a tradição do mestre que recebe jovens, para 
ensinar-lhes a profissão. Até hoje esse método dá 
certo, seja com o futuro pedreiro, seja com o 
doutorando. 
No interiorzão de Minas, havia uma oficina 
mecânica cujos 120 funcionários tinham padrão de 
qualidade europeu, embora houvessem aprendido lá 
mesmo. 0 segredo é que, por muitas décadas, foram 
aprendizes do Chico Alemão, exímio mecânico, do 
checo Jan Hasek e do Fritz Boetger ("Botija"), 
engenheiro em um estaleiro de submarinos na 
Alemanha. O exemplo mostra, justamente, uma 
condição pétrea: o mestre tem de ser um profissional 
competente. Se não for, o aprendiz aprende errado ou 
não aprende, como nos casos citados no início. 
Sobretudo na construção civil, quem mais sabe ainda 
sabe pouco. O jovem não tem com quem aprender 
certo, nem os gestos da profissão nem os valores do 
profissionalismo. 
Cursos de formação profissional: o Senai é 
uma fórmula de sucesso, havendo sido a matriz de 
formação dos nossos melhores profissionais. Mas seu 
alcance é insuficiente. As empresas maiores sugam 
avidamente seus graduados, sobrando pouco para as 
pequenas. 
Muitos dos outros cursos que andam por aí 
são desconectados dos reais empregos. Ou têm 
instrutores que não dominaram a profissão, às vezes, 
por se lhes exigirem excessivos diplomas. Em muitos 
casos, são curtos demais — na Alemanha, a 
aprendizagem dura 3,5 anos. 
Autodidatismo: é possível aprender por conta 
própria, observando, praticando, lendo, olhando 
vídeos. Porém, a capacidade de autoaprendizado é 
profundamente determinada pelo nível de educação. 
Mais aprende sozinho o ofício quem mais aprendeu na 
escola. Como nossa gente estudou pouco e aprendeu 
menos ainda, é limitado o uso dessa fórmula. Além 
disso, faltam bibliotecas para facilitar tais aprendizados 
— menos mal que se democratizam o santo Google e 
a mágica do YouTube. 
Uma exagerada proporção da nossa força de 
trabalho é órfã da boa formação profissional, seja desta 
ou daquela modalidade. Como podemos reclamar que 
trabalham mal, se não tiveram a mais remota chance 
de aprender certo? Como vituperar contra a nossa 
baixa produtividade, se não preparamos os 
profissionais? 
 
(CASTRO, Cláudio de Moura. Órfãos da profissão. Veja, 10 
dez. 2014. p. 26).
 
1. Proponha uma leitura analítica do texto a seguir. 
2. Escreva um parágrafo de 7 a 10 linhas em que você se posiciona sobre formação profissional. 
15 
 
Capítulo 2 
 
2. Produção e recepção de textos 
 
2.1 Opinião e informação 
 
 Alguns teóricos da linguagem 
consideram que, na era da informação, tudo é 
texto. Um slogan de uma campanha política, 
uma música, um gráfico, um discurso oral, 
uma placa de trânsito, enfim, os mais variados 
arranjos organizados com o propósito de 
informar, comunicar, veicular sentidos são 
textos. Assim, um texto é não exclusividade da 
palavra. O texto é determinado pela finalidade 
comunicativa. E não faltam meios e recursos, 
nesta época em que vivemos, para a produção e 
circulação de textos dos mais diversos e 
diferentes possíveis. 
Conforme, Nicola, Florina e Ernani 
2002), o falante, ao realizar um ato de 
comunicação verbal, escolhe, seleciona palavras 
para depois organizá-las e combiná-las, 
conforme a sua vontade. Esse trabalho de 
seleção e combinação não é aleatório, mas está 
diretamente ligado à intenção do produtor do 
texto, ou informar ou opinar, por exemplo. 
 
2.1.1 Textos e atividades 
 
Texto 1: 'Espero que meu filho esteja vivo', diz mãe na porta de presídio no RN 
 
Dezenas de familiares aguardam 
informações sobre presos em frente à 
Penitenciária de Alcaçuz, na região 
metropolitana de Natal, onde acontece uma 
rebelião desde a tarde deste sábado (14) e pelo 
menos 26 detentos foram mortos, segundo o 
governo do Estado. 
Os clima é de tensão e nervosismo no 
local. Um helicóptero sobrevoou o presídio 
durante a madrugada, enquanto policiais e 
bombeiros faziam ronda ao redor da unidade. 
Do lado de fora, é possível escutar barulho de 
tiros, bombas e gritos dos presos. 
Até o começo da madrugada, a Polícia 
Militar ainda não havia entrado no presídio e o 
motim continuava em andamento. Todos os 
presos deixaram as celas e ocuparam a área dos 
pavilhões. 
Zélia de Melo, 44, espera por notícias 
do filho, Diego, 26, condenado por a seis anos 
de prisão por tráfico de drogas –falta um ano 
para ele ser solto, segundo a mãe. 
"Espero que esteja vivo. Só vou sair 
daqui quanto tiver informações", afirma. Ela 
diz que bloqueadores de celular não impedem 
contato com os presos. Detentos repassam 
informações para as famílias, segundo pessoas 
no local. Durante todo o dia, familiares 
compartilhavam fotos e vídeos do massacre. 
Eliana da Costa, 30, estava preocupada 
com o marido, Leonardo Caldeira. Pai de dois 
filhos, Leonardo foi condenado a 12 anos e 10 
meses por tráfico de drogas –ele já cumpriu 
dois anos da pena. 
"Aqui fora do presídio a gente só 
recebe notícia ruim. Espero que ele esteja vivo, 
eu vou esperar a madrugada toda por notícias". 
Eliana diz que o marido estava no pavilhão, 3, 
que ela suspeita que não tenha sido alvo do 
confronto. 
O conflito começou por volta das 17h. 
A rebelião foi motivada por uma briga nos 
pavilhões 4 e 5 do presídio envolvendo facções: 
segundo o governo, entre membros do PCC 
(Primeiro Comando da Capital) e do Sindicato 
do Crime. Houve uma invasão de um pavilhão 
por presos inimigos, o que deu início ao 
motim. O governo diz que a rebelião está 
restrita a esses dois pavilhões e não houve 
fugas. 
16 
 
A Penitenciária de Alcaçuz abriga 
atualmente 1.083 presos, mas tem capacidade 
para apenas 620, segundo dados da Secretaria 
de Justiça. O presídio fica no município de 
Nísia Floresta, a 25 km de Natal. 
Há relatos de presos decapitados e de 
brigas em diversos pavilhões do presídio. 
Segundo policiais no local, a intervenção 
acontecerá ao amanhecer. Esposas de detentos 
temem que o número de mortos cresça durante 
a madrugada. 
 
(Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano>). 
 
Texto 2: "Cría cuervos..." 
 
As rebeliões em presídios, com cenas 
de cefalectomia e cardiectomia, surpreendem 
pela carga de violência, mas não por terem 
ocorrido. Elas são o resultado lógico de décadas 
de descaso para com a política penitenciária. 
"Descaso" talvez não seja a melhor 
palavra. Se o sistema tivesse sido desenhado 
com o propósito explícito de criar poderosas 
organizações criminosas rivais fadadas a se 
enfrentar, dificilmente os projetistas poderiam 
ter sido mais eficientes do que foram nossas 
autoridades. 
O primeiro passo é construir as cadeias, 
preferencialmente pouco funcionais e bem 
desconfortáveis. O segundo é ir trancafiando 
nelas legiões crescentes de pessoas, sem 
observar lotações máximas e sem nenhum 
critério de separação dos presidiários por 
periculosidade ou mesmo por condenação – 
cerca de 40% dos presos no Brasil são 
provisórios. 
Encontramos aqui um mecanismo de 
"feedback" positivo. Quanto mais gente é 
presa, mais insuportáveis se tornam as 
condições na cadeia.A certa altura, o melhor 
meio de um recém-ingresso sobreviver no 
sistema é jurar obediência às organizações 
criminosas que, no vácuo da inação estatal, 
conseguem impor alguma ordem ao caos. Isso 
significa que, quanto mais prendemos (e quanto 
piores forem as cadeias), mais fortalecemos 
PCCs, CVs, FDNs etc. 
Como as prisões (e mesmo o crime nas 
ruas) ficam mais fáceis de administrar quando 
há poucos bandidos fazendo as vezes de 
soberano hobbesiano, os sindicatos de 
delinquentes foram tolerados pelo Estado e se 
expandiram até que o confronto entre 
organizações rivais ficou inevitável. 
Desarmar essa bomba vai ser trabalhoso 
e passa, a meu ver, pelo resgate da noção de 
direito penal mínimo. Precisamos encarcerar 
muito menos gente, legalizando o que não 
precisa ser crime, como o uso de drogas, e 
substituindo as penas de prisão por pecuniárias 
e de restrição de direitos. Sem isso, não vai dar 
certo. 
 
(SCHWARTSMAN, Hélio. "Cría cuervos...". Disponível em: 
<http://www1.folha.uol.com.br>) 
 
Texto 3: [Charge] 
 
 
 
(Disponível em: <http://iramdeoliveira.blogspot.com.br/2017/01/em-alcacuz.html>). 
 
17 
 
1. Com que intenção cada texto foi produzido? 
2. A que recursos o autor do Texto 1 recorreu para que, no seu texto, predominasse a informação? 
3. Embora a opinião seja predominante no Texto 2, percebe-se nele informação. Identifique uma 
informação (fato) e mostre sua importância na formação da opinião do autor do texto. 
4. Para compreender o Texto 3, é necessário que o leitor disponha de informações factuais. Que 
informações são essas e como elas são apresentadas pelo chargista? 
 
2.2 Intertextualidade 
 
 Podemos dizer que textos são reuniões 
de várias vozes: polifonia. Isso significa dizer 
que os textos possuem uma multiplicidade de 
vozes que os atravessam por meio de uma voz 
privilegiada – a do locutor principal – que vai 
incorporando as outras. Essas vozes podem 
aparecer no texto de maneira explícita ou 
implícita. Um exemplo do primeiro caso é a 
citação no texto de ideias de outra pessoa. Um 
exemplo do segundo caso é a introdução no 
texto de ideias ou conceitos que fazem parte do 
senso comum, como afirmar que “televisão faz 
mal à saúde”. 
 Nenhum texto se produz no vazio ou se 
origina do nada. Todo texto se alimenta, de 
modo claro ou subentendido, de outros textos. 
Um, ao retomar outro, tanto pode reiterar ou 
subverter as ideias presentes no texto 
“original”. O autor utiliza-o com o objetivo de 
apoiar ou de dizer algo totalmente diferente do 
que foi dito em outro texto, de criticar um 
ponto de vista, uma visão de mundo. 
 Para Nicola, Florina e Ernani (2002), o 
conhecimento das relações entre os textos – e 
os textos utilizados como intertexto – é um 
poderoso recurso de produção e apreensão de 
significados. Quando um determinado autor 
recorre a outros textos para compor os 
próprios, certamente tem um motivo muito 
claro – a construção de significados específicos 
(crítica, reflexão, releitura, entre outras 
questões). Percorrer o caminho inverso, ou 
seja, buscar esse motivo e reconstruir o 
processo de produção leva a desvendar tais 
significados, pois um texto completa outro, 
lança luz sobre o outro. É o exercício da leitura 
que irá garantir tudo isso. 
 
2.2.1 Textos e atividades 
 
1. Leia, com atenção, o texto seguinte para responder ao que se pede. 
 
Sem adjetivos 
 
“Eu sabia que estava com um cheiro de 
suor, de sangue, de leite azedo. Ele [delegado 
Fleury] ria, zombava do cheiro horrível e mexia 
em seu sexo por cima da calça com olhar de 
louco.” 
De Rose Nogueira, jornalista em São 
Paulo. Da ALN, foi presa em 1969, semanas 
depois de dar à luz. 
“No quinto dia, depois de muito 
choque, pau de arara, ameaça de estupro e 
insultos, abortei. Quando melhorei, voltaram a 
me torturar.” 
De Izabel Fávero, professora de 
administração em Recife. Da VAR-Palmares, 
foi presa em 1970. 
“Eu passei muito mal, comecei a 
vomitar, gritar. O torturador perguntou: 
‘Como está?’. E o médico: ‘Tá mais ou menos, 
mas aguenta’. E eles desceram comigo de 
novo." 
De Dulce Chaves Pandolfi, professora 
da FGV-Rio. Da ALN, foi presa em 1970 e 
serviu de “cobaia” para aulas de tortura. 
18 
 
“Eu não conseguia ficar em pé nem 
sentada. As baratas começaram a me roer. Só 
pude tirar o sutiã e tapar a boca e os ouvidos.” 
De Hecilda Fontelles Veiga, professora 
da Universidade Federal do Pará. Da AP, foi 
presa em 1971, no quinto mês de gravidez. 
“Eu era jogada, nua e encapuzada, como 
se fosse uma peteca, de mão em mão. Com os 
tapas e choques elétricos, perdi dentes e todas 
as minhas obturações.” 
De Marise Egger-Moellwald, socióloga, 
mora em São Paulo. Do então PCB, foi presa 
em 1975. Ainda amamentava seu filho. 
“Eu estava arrebentada, o torturador 
me tirou do pau de arara. Não me aguentava 
em pé, caí no chão. Nesse momento, fui 
estuprada.” 
De Gilze Cosenza, assistente social 
aposentada de Belo Horizonte. Da AP, foi 
presa em 1969. Sua filha tinha quatro meses. 
Trechos de 27 depoimentos de 
sobreviventes, intercalados às histórias de 45 
mortas e desaparecidas no livro “Luta, 
Substantivo Feminino”, da série “Direito à 
Verdade e à Memória”. Será lançado na PUC-
SP hoje, a seis dias do 31 de março. 
 
(Eliane Cantanhêde, Folha de S. Paulo, 25 março 2010, p. A2. 
Opinião). 
 
 
 
 
1. Esse texto apresenta unidade temática. Qual? O que assegura essa unidade? 
2. Que efeito produz a identificação das mulheres citadas? 
3. No último parágrafo, em virtude da posição dos termos sintáticos que compõem o primeiro 
período, há um absurdo. Escreva o período para que o texto fique claro. 
 
 
2) Leia, com atenção, os textos a seguir para responder ao que se pede. 
 
I – Os três macacos sábios 
 
 
A escultura Sanzaru, OS TRÊS 
MACACOS, - do Santuário de Toshogu, 
localizado na cidade de Nikko, Japão - é uma 
das mais famosas do templo Nikko Toshogu, o 
Templo do Xogum divinizado (Ieyasu 
Tokugawa). 
O três macacos são conhecidos como 
“Os Três Macacos Sábios” e significam: “não 
veja o mal, não ouça o mal, não fale o mal”. 
Seus nomes são: “Mizaru”, o que cobre os olhos 
e não vê o mal; “Kikazaru” o que cobre os 
ouvidos e não ouve o mal; e “Iwazaru”, o que 
cobre a boca e não fala o mal. 
Segundo alguns autores, haveria um 
quarto macaco, chamado Shizaru, com as mãos 
sobre o abdômen para lembrar “não faça o 
mal”. E embora não haja comprovação, eles 
teriam sido levados ao Japão por um monge 
budista chinês no século VIII. 
Dizem que o Mahatma Gandhi 
carregava uma gravura dos Três Macacos Sábios 
em suas viagens para lembrá-lo constantemente 
dos três segredos da Sabedoria: “não ouça o 
mal, não veja o mal, não fale o mal”." 
 
(Disponível em: <http://expiracaoeinspiracao.blogspot.com>. 
Acesso em 18 julho 2011) 
 
19 
 
II. [Charge] 
 
 
www.google.com.br/imagens 
 
 
III. [Capa de Veja] 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
IV. Nem tudo se pode ver, ouvir ou dizer 
 
 
Um músico me escreve contando que 
pertence a uma grande orquesta, mas não tem 
prazer no trabalho por causa dos colegas. Não 
suporta o despotismo, a vaidade, a prepotência, 
a arrogância e a mania de grandeza de alguns. 
O convívio com “egos inflados” é 
demasiadamente penoso, e ele me pergunta o 
que fazer. 
Eu, que sempre faço a apologia do ato 
generoso da escuta, sugiro ao músico que faça 
ouvidos moucos. Lembro que ele tem o 
privilégio de escutar os sons mais sutis e sabe 
ouvir o silêncio. Não precisa dar ouvidos ao 
que não interessa. Inclusive porque egos 
inflados estão em toda parte e a luta contra eles 
não leva a nada. Evitar a luta de prestígio é um 
bem que nós fazemos a nós e aos outros. 
Para viver,nem tudo nós podemos ver, 
escutar ou dizer. Isso é representado, desde a 
Antiguidade, pelos três macacos da sabedoria. 
Cada um cobre uma parte diferente do rosto 
com as mãos. O primeiro cobre os olhos, o 
segundo, as orelhas e o terceiro, a boca. A 
representação é originária da China. Foi 
introduzida no Japão, no século VIII, por um 
monge budista. A máxima que ela implica é 
“não ver, não ouvir e não dizer nada de mau”. 
Foi adotada por Gandhi, que levava sempre 
consigo os três macaquinhos, o cego, o surdo e 
o mudo – Mizaru, Kikazaru e Iwazaru. 
Eles ensinam a não enxergar tudo o que 
vemos, não escutar tudo o que ouvimos e não 
dizer tudo o que sabemos. Noutras palavras, 
ensinam a selecionar e a conter-se. Isso é 
decisivo para uma atitude construtiva, mas não 
é fácil. Somos impelidos a focalizar o que nos 
prejudica – impelidos por um gozo masoquista 
ao qual temos de nos opor continuamente. Só a 
consciência disso permite não sair do caminho 
em que a vida desabrocha. 
Seleção e contenção tornam a existência 
mais fácil. Desde que não sejam um efeito da 
repressão, como na educação tradicional, e sim 
do desejo do sujeito – um desejo vital de se 
opor às forças do inconsciente que podem nos 
fazer mal. Isso implica a humildade de aceitar 
que o inconsciente existe e nós não somos 
donos de nós mesmos. 
A ideia não é nova. Data da descoberta 
da psicanálise por Freud, no fim do século XIX, 
mas continua a ser ignorada porque é difícil nos 
livrarmos do ego. Sobretudo numa sociedade 
como a nossa, que tanto valoriza, e que não 
condena a vaidade, a prepotência, a arrogância. 
Pelo contrário, estimula-as para se perpetuar. 
 
 
(MILAN, Bety. Nem tudo se pode ver, ouvir ou dizer. Veja, 
12 janeiro 2011. p. 92. A autora é e psicanalista e escritora). 
 
 
 
 
 
 
1. Com intenção cada um desses textos foi produzido? 
2. Como entender o processo intertextual instaurado na produção desses textos? 
3. Comente: não há texto isolado; o que há é uma imensa rede de textos. 
 
 
 
21 
 
Capítulo 3 
 
03 Texto e sua textualidade 
 
Não adianta saber que escrever é 
diferente de falar. É necessário preocupar-se 
com o sucesso dos objetivos da produção 
textual, como a interação entre o produtor do 
texto e o seu receptor. Para que se tenha êxito 
nesse processo, deve-se construir um todo 
significativo. É preciso, portanto, recorrer a 
elementos que auxiliem na ligação das partes, 
na construção da coerência, entre outros. 
Neste capítulo, você terá acesso, num 
primeiro momento, a uma questão 
fundamental quando se fala de textos, que é a 
coerência. Num segundo momento, será 
abordado outro fator que contribui para o 
sucesso da produção de textos, que é a coesão. 
Por último, será vista a construção do 
parágrafo e sua articulação no texto. 
 
 
3.1 Coerência e coesão textual 
 
Como vimos anteriormente, os textos 
são veiculadores de intenções. Essas intenções 
ou propósitos do autor de um texto somente 
terão sentido se houver uma organização 
harmônica das ideias apresentadas. Podemos 
dizer, portanto, que um texto não é um 
aglomerado de frases, mas um todo organizado 
capaz de manter contato com seus leitores, 
agindo sobre eles. Dizer que um texto é uma 
organização de sentido é dizer que ele é 
coerente. 
A coerência é resultante da não-
contradição entre os segmentos textuais e da 
adequação entre o que está na materialidade 
textual e o contexto extraverbal. No primeiro 
caso, um segmento é pressuposto para o 
seguinte e assim sucessivamente. No segundo, 
o que é dito no texto deve estar em harmonia 
com o nosso conhecimento de mundo, sobre o 
que é permitido ou não em determinadas 
situações – que inclui nosso conhecimento 
sobre tipo e gêneros textuais. Assim, há uma 
transmissão e uma recepção de uma linha de 
pensamento. 
Fiorin e Savioli (2007) identificam três 
níveis em que a coerência deve ser observada: 
narrativo, figurativo e argumentativo. No 
primeiro, a coerência está na decorrência lógica 
das ações e de suas relações com os 
personagens que as praticam. No segundo, a 
coerência está na articulação harmônica entre o 
que é descrito (as figuras), com base na relação 
de significado que mantém entre si. No 
terceiro, a coerência está na apresentação 
concatenada de uma ideia que será defendida, 
de argumentos que sustentam essa ideia e do 
remate dado pela conclusão. 
Seria incoerente uma fala de um 
conferencista como esta: 
 
As empresas brasileiras têm produzido muito 
e gerado postos de trabalho. Os empresários apostam 
numa nova forma de garantir a fidelidade de seus 
colaboradores por meio da divisão dos lucros. Os 
colaboradores da base da hierarquia, em virtude de 
suas ocupações, não puderam participar dessa 
divisão. 
 
Além de um preconceito com alguns 
trabalhadores, o raciocínio lógico instaurado 
inicialmente nos leva a pensar que todos os 
trabalhadores teriam parte nos lucros, o que 
não ocorre. A fala do conferencista é, pois, 
incoerente. 
Há certa confusão entre os termos 
coerência e coesão. Enquanto a coerência se 
refere à unidade de sentido e, por isso, é de um 
nível profundo, a coesão é a ligação, a relação, 
a conexão entre as palavras, expressões, frases 
ou parágrafos do texto. Os elementos coesivos 
assinalam a conexão entre partes do texto. 
 
22 
 
A palavra texto, na sua etimologia, vem 
do latim textum, que significa tecido, 
entrelaçamento. Produzir um texto é o mesmo 
que praticar a ação de tecer, entrelaçar 
unidades e partes com a finalidade de formar 
um todo. Desse modo, podemos falar em 
textura de um texto, que é a rede de relações 
coesivas. 
São muitos os mecanismos de coesão 
textual. Nesta seção, vamos estudar alguns. 
Esperamos que, a partir desse estudo, você 
esteja apto a não só perceber outros em suas 
leituras, mas também a recorrer a outros em 
sua produção textual. Escolhemos um editorial 
da revista Veja (27 abril 2006, p. 9) para 
demonstração do que consideramos um texto 
bem tecido. Destacamos apenas alguns recursos 
coesivos para estudo e para demonstração da 
continuidade textual. 
 
O Brasil tem jeito 
 
Desde a volta da democracia, em 1985, 
o país tem passado por uma série de escândalos na 
esfera institucional (1). No Poder Executivo (2), 
houve o impeachment de um presidente e, 
recentemente, a demissão de ministros 
envolvidos em esquemas ilícitos. No Legislativo 
(3), por seu turno (4), ainda se escutam os ecos 
do mensalão e não empalideceram as imagens 
dos “anões” da Máfia do Orçamento sendo 
banidos da vida pública. Agora, com a Operação 
Hurricane (furacão, em inglês), deflagrada pela 
Polícia Federal para prender os integrantes de 
uma quadrilha que explorava o jogo de caça-
níqueis, chegou a vez de (5) o Judiciário (6) ter 
exposta a sua banda podre (7). Três 
desembargadores foram presos e um ministro do 
Superior Tribunal de Justiça (8) está afastado das 
suas funções. Pesa sobre esses togados (9) a 
acusação de venda de liminares. Com tais 
instrumentos jurídicos (10), os exploradores do jogo 
(11) conseguiam manter em funcionamento 
milhares de casas ilegais de jogatina, dotadas de 
máquinas manipuladas para lesar o jogador. Há 
indícios de que pode haver ainda (12) outros 
altos integrantes do Judiciário (13) comparsas 
dessa máfia (14). 
A sucessão de escândalos de corrupção no 
Brasil costuma provocar nos cidadãos a impressão de 
que o país não tem jeito (15). É como se a 
desonestidade fosse parte inextirpável do 
caráter nacional. Compreende-se que os 
ânimos se arrefeçam, mas (16) é preciso 
enxergar o fenômeno (17) de um ângulo mais 
amplo. Em primeiro lugar (18), os escândalos só 
vêm à tona graças ao bom funcionamento das 
instâncias responsáveis pela fiscalização do poder 
(19) – entre asquais a imprensa livre, a polícia 
e, ressalte-se (20), a imensa maioria dos integrantes 
do Poder Judiciário (21). Em segundo lugar (22), a 
cada quadrilha estourada, a cada esquema 
desvendado, dá-se um passo a mais para a 
depuração das instituições. Por isso (23), pode-
se analisar a operação da Polícia Federal ora em 
curso (24) como uma contribuição ao 
aprimoramento da Justiça (25), cuja (26) 
distribuição igualitária e eficiente é um dos 
pilares das sociedades abertas e modernas. A 
continuar por esse caminho (27), o Brasil tem jeito 
(28), sim. 
 
No quadro abaixo, encontram-se os comentários acerca dos elementos de coesão destacados no texto. 
 
 
(1) Embora essa “série de escândalos” esteja indefinida, é a expressão desencadeadora da organização 
do texto. 
(2) O autor apresenta, sem comentários, o primeiro dos três poderes institucionais e, a partir daí, 
dois escândalos aí ocorridos. 
(3) O autor apresenta, sem comentários, o segundo dos três poderes institucionais. 
(4) Essa expressão marca a passagem para a apresentação dos escândalos no Legislativo. Não há 
comentários acerca desses escândalos. 
 
23 
 
(5) Essa expressão marca a passagem para a apresentação do escândalo no Judiciário. No meio da 
expressão é apresentado o escândalo aí ocorrido. 
(6) Essa expressão apresenta o terceiro dos três poderes, que é o Judiciário. 
(7) Refere-se “quadrilha que explorava o jogo de caça-níqueis”, que, por sua vez, antecipa a “banda 
podre” do Judiciário. 
(8) Refere-se a “banda podre”, identificando-a. 
(9) Refere-se a “três desembargadores” e a “um ministro”. 
(10) Refere-se a “liminares”. 
(11) Refere-se aos envolvidos no escândalo que pagaram pelas liminares. 
(12) Elemento que mostra a inclusão de membros do Judiciário no escândalo. 
(13) Refere-se aos desembargadores e ao ministro, além de deixar marcado o envolvimento de outros 
integrantes do Judiciário. 
(14) Refere-se a “banda podre”, já detalhada anteriormente. 
(15) Recupera “uma série de escândalos na esfera institucional” do primeiro parágrafo para o articular 
com o segundo e para acrescentar que o Brasil não tem jeito. 
(16) Conector que opõe a impressão de que o Brasil não tem jeito a um novo modo de “ver” os 
escândalos, anunciando-se um otimismo. 
(17) Refere-se aos escândalos na esfera institucional. 
(18) Expressão que fragmenta, num primeiro momento, a noção “amplo”, anteriormente 
apresentada. 
(19) Essas “instâncias” são apresentadas a seguir, após um travessão, destacando-se o Judiciário. 
(20) Operador que enfatiza a ideia seguinte. 
(21) Opõe-se a “banda podre” do primeiro parágrafo, assinalando o otimismo do autor. 
(22) Expressão que fragmenta, num segundo momento, a noção “amplo”, anteriormente apresentada. 
(23) Conector responsável por encaminhar o fechamento da questão de que o Brasil tem jeito. 
(24) Refere-se a “Operação Hurricane”, no primeiro parágrafo. 
(25) Refere-se ao Poder Judiciário. 
(26) Refere-se a “Justiça”. 
(27) Expressão que abre a conclusão subjetiva do autor. “Esse caminho” refere-se ao fato de que, se os 
esquemas são desvendados, há depuração das instituições. 
(28) Recupera o título do título do texto, deixando explícito o otimismo do autor. 
 
 
 Você percebeu que um texto não é 
simplesmente um conjunto de frases aleatório. 
A nossa experiência como falante não é a de 
formar frases; a nossa experiência é a de 
produzir textos a todo momento. A análise e a 
leitura do texto O Brasil tem jeito mostraram o 
papel dos mecanismos de coesão, que é, de 
acordo com Antunes (2005, p. 47), criar, 
estabelecer e sinalizar os laços que deixam os 
vários segmentos do texto ligados, articulados, 
encadeados. Portanto, a função da coesão é a 
de promover a continuidade do texto, a 
sequência interligada de suas partes, para que 
não se perca o fio de unidade que garante sua 
interpretabilidade. 
Quando lemos o primeiro parágrafo do 
texto O Brasil tem jeito, temos a impressão – ou 
somos levados a isso – de que o Brasil não tem 
jeito. São mencionados vários escândalos nos 
poderes constitutivos de nosso país. Na 
transição para o segundo parágrafo, o autor 
retoma a “série de escândalos” do primeiro 
parágrafo para, além de dar continuidade ao 
seu texto, fazê-lo progredir noutra direção, 
que é a de nos levar a acreditar que o Brasil tem 
jeito. No interior de cada parágrafo, são feitas 
retomadas e antecipações, além de se deixarem 
explícitas algumas conexões. Tudo isso para 
garantir não só a continuidade do texto, mas 
também o sucesso de sua interpretabilidade. 
 
24 
 
Há dois tipos de coesão: a referencial e 
a sequencial. O primeiro tipo se caracteriza por 
substituições de um elemento por outro e por 
reiterações de elemento do texto. O segundo 
tipo se refere ao desenvolvimento 
propriamente dito, ora por procedimentos de 
manutenção temática, como emprego de 
termos pertencentes ao mesmo campo 
semântico, ora por meio de processos de 
progressão temática, que podem realizar-se por 
meio da satisfação de compromissos textuais 
anteriores ou por meio de novos acréscimos ao 
texto. 
Quando vamos escrever um texto nos 
baseamos em quatro elementos centrais: a 
repetição, a progressão, a não-contradição e a 
relação. Todas essas partes compõem o texto, 
relacionando-se com o que já foi dito ou com o 
que se vai dizer. Vejamos o que quer dizer cada 
um desses elementos. 
 
Repetição – Ao longo de um texto coerente, ocorrem repetições, retomadas de 
elementos. Essa retomada é normalmente feita por pronomes ou por palavras e expressões 
equivalentes ou sinônimas. Também podemos repetir a mesma palavra ou expressão, o 
que deve ser feito com cuidado, a fim de que não seja prejudicado. 
 
Progressão – Num texto coerente, devemos sempre acrescentar novas informações ao 
que já foi dito. A progressão complementa a repetição: esta garante a retomada de 
elementos passados; aquela garante que o texto não se limite a repetir indefinidamente o 
que já foi colocado. Dessa forma, equilibramos o que já foi dito com o que se vai dizer, 
garantindo a continuidade do tema e a progressão do sentido. 
 
Não-contradição – Num texto coerente, não devem surgir elementos que contradigam 
aquilo que já foi considerado falso, ou vice-versa. Esse tipo de contradição só é tolerado se 
for intencional. Não se deve confundir a não-contradição com o contraste, pois a 
aproximação de idéias e fatos contrastantes é um recurso muito freqüente no 
desenvolvimento da argumentação. 
 
Relação – Num texto coerente, os fatos e conceitos devem estar relacionados. Essa 
relação deve ser suficiente para justificar sua inclusão num mesmo texto. Para que se avalie 
o grau de relação dos elementos que vão construir o texto, é importante organizá-lo 
esquematicamente antes de escrever. Feito o esquema, é importante observar se a 
aproximação das idéias é realmente eficaz. 
 
Esses quatro itens (repetição, 
progressão, não-contradição e relação) podem 
ajudar a avaliar o grau de coesão dos textos. A 
configuração final do texto depende ainda de 
outros fatores, como o canal de comunicação, 
o perfil do receptor e as finalidades pretendidas 
pelo emissor. Todos esses fatores afetam 
diretamente as feições do texto que se pretende 
bem-sucedido. Nas atividades a seguir, você 
verá, de modo operacional, os tipos de coesão 
mencionados e esses elementos centrais de 
avaliação dos textos. 
Para finalizar essa seção, apresentamos 
uma lista de operadores argumentativos – essa 
lista de operadores é apenas uma sugestão, uma 
vez que eles não se esgotam nos exemplos 
apresentados. Esses operadores argumentativos 
são essenciais tanto na leitura quanto na 
produção de textos. Eles servem para orientar 
a sequência discursiva, estabelecendo relações 
entre os segmentos do texto: orações de um 
mesmo período, períodos, sequênciastextuais, 
parágrafos ou partes de um texto. É importante 
lembrar que num texto, principalmente de 
natureza argumentativa, o uso de operadores 
mostra a capacidade do produtor de 
apresentar, de defender e de refutar 
argumentos.
 
 
 
25 
 
1. Operadores argumentativos conjuntivos 
 
Aditivos Adversativos Alternativos Conclusivos 
e 
nem 
mas... também 
senão também 
não ainda 
como também 
bem como 
que (entre verbos) 
não só... mas também 
mas 
porém 
todavia 
contudo 
no entanto 
entretanto 
não obstante 
ou...ou 
ora...ora 
quer...quer 
seja...seja 
nem...nem 
já...já 
logo 
pois (depois do verbo) 
portanto 
por conseguinte 
por isso 
assim 
então 
Explicativos Causais Comparativos Concessivos 
que 
porque 
pois (antes do verbo) 
porquanto. 
porque 
pois (que) 
porquanto 
como [= porque] 
já que 
uma vez que 
 visto que 
visto como 
que, 
na medida em que 
que 
do que 
qual (depois de tal) 
 quanto (depois de tanto) 
como 
assim como 
bem como 
como se 
que nem. 
embora 
conquanto 
ainda que 
mesmo que 
posto que 
bem que 
se bem que 
apesar de que 
nem que 
que 
Condicionais Conformativos Consecutivos Finais 
se 
caso 
quando 
contanto que 
salvo se 
sem que 
dado que 
desde que 
a menos que 
a não ser que 
conforme 
como (conforme) 
segundo 
consoante 
de acordo com 
em conformidade com 
que (combinado com tal, 
tanto, tão ou tamanho) 
de forma que 
de maneira que 
de modo que 
de sorte que. 
para que 
a fim de que 
porque (para que) 
que 
Proporcionais Temporais Locativos Integrantes 
à medida que 
ao passo que 
à proporção que 
enquanto 
quanto mais... (mais) 
quanto mais... (tanto 
mais) 
quanto mais... (menos) 
quanto mais... (tanto 
menos) 
quanto menos... (menos) 
quanto menos... (tanto 
menos) 
quanto menos... (mais) 
quanto menos... (tanto 
mais) 
quando 
antes que 
depois que 
até que 
logo que 
sempre que 
assim que 
desde que 
todas as vezes que 
cada vez que 
apenas 
mal 
 
onde 
donde (de + onde) 
que 
se 
 
26 
 
2. Outros operadores argumentativos 
 
Realce, inclusão, 
adição 
Negação, oposição Afeto, afirmação, 
igualdade 
Exclusão 
além disso 
ainda 
demais 
ademais 
também 
vale lembrar 
outrossim 
agora 
de modo geral 
por iguais razões 
em rápidas pinceladas 
inclusive 
até 
em outras palavras 
além desse fator 
não obstante isso 
inobstante isso 
de outra face 
ao contrário disso 
qual nada 
por outro lado, 
por outro enfoque 
diferente disso 
de um lado 
de outro enfoque 
diversamente disso 
felizmente 
infelizmente 
ainda bem 
obviamente 
em verdade 
realmente 
em realidade 
de igual forma 
do mesmo modo que 
da mesma sorte 
de igual forma 
no mesmo sentido 
semelhantemente 
bom é 
interessante se faz 
só 
somente 
sequer 
exceto 
senão 
apenas 
excluindo 
tão-somente 
salvo 
Enumeração, 
distribuição, 
continuação 
Retificação, 
explicação 
Fecho, conclusão Posicionamento de 
autoria 
em primeiro lugar 
a princípio 
em seguida 
depois (de) 
finalmente 
em linhas gerais 
no geral 
aqui 
neste momento 
desde logo 
de resto 
em última análise 
no caso em tela 
por sua vez 
a par disso 
outrossim 
nessa esteira 
por seu turno 
no caso presente 
antes de tudo 
isto é 
por exemplo 
a saber 
de fato 
em verdade 
aliás 
ou antes 
ou melhor 
melhor ainda 
como se nota 
como se viu 
como se observa 
com efeito, como vimos, 
por isso 
a nosso ver 
como vimos 
Destarte 
Dessarte 
em suma 
em remate 
em última análise 
concluindo 
por fim 
finalmente 
por tais razões 
pelo exposto 
por tudo isso 
em razão disso 
enfim 
posto isso 
assim 
consequentemente 
A nosso ver.. 
Vale advertir que.. 
É necessário que... 
É bom ressaltar que.... 
É preciso focalizar.... 
É válido destacar que 
É fundamental que ... 
 
 
 
 
3.1.1 Textos e atividades 
 
 
1) Nesse texto, há um caso de incoerência argumentativa. Identifique-a. 
 
Embora existam políticos competentes e honestos, preocupados com as legítimas causas 
populares, os jornais, na semana passada, noticiaram casos de corrupção comprovada, praticados por 
um político eleito pelo povo. Isso demonstra que o povo não sabe escolher seus governantes. 
 
27 
 
2) Identifique pelo menos uma incoerência no texto a seguir. 
 
Durante sua carreira de goleiro, 
iniciada no Comercial de Ribeirão Preto, sua 
terra natal, Leão, de 51 anos, sempre impôs 
seu estilo ao mesmo tempo arredio e 
disciplinado. Por outro lado, costumava ficar 
horas aprimorando seus defeitos após os 
treinos. Ao chegar à seleção brasileira em 
1970, quando fez parte do grupo que 
conquistou o tricampeonato mundial, Leão não 
dava um passo em falso. Cada atitude e cada 
declaração eram pensadas com uma 
racionalidade típica de sua família, já que seus 
outros dois irmãos, Edmílson, 53 anos, e 
Édson, 58, são médicos. (Correio Popular, Campinas, 
20 out. 2000 - com adaptações) 
3) Leia o texto para responder ao que se pede. 
 
Árvore ameaça cair em praça do Jardim 
Independência – Um perigo iminente ameaça a 
segurança dos moradores da rua Tonon 
Martins, no Jardim Independência. Uma 
árvore, com cerca de 35 metros de altura, que 
fica na Praça Conselheiro da Luz, ameaça cair a 
qualquer momento. Ela foi atingida, no final de 
novembro do ano passado, por um raio e, 
desde este dia, apodreceu e morreu, a árvore, 
de grande porte, é do tipo Cambuí e está muito 
próxima à rede de iluminação pública e das 
residências. “O perigo são as crianças que 
brincam no local”, diz Sérgio Marcatti, 
presidente da associação do bairro. (Juliana 
Vieira, Jornal Integração). 
 
a) O que pretendia afirmar o presidente da associação? 
b) O que afirma, literalmente? 
 
4) Por que as frases abaixo são ambíguas? 
 
a) A cantora deixou a plateia emocionada. 
b) O pai proibiu o filho de sair de seu carro. 
c) O médico examinou o paciente preocupado. 
d) A mãe procurou o brinquedo do filho em seu quarto. 
e) Crianças que recebem leite materno frequentemente são mais sadias. 
f) No site “namoro” é possível conhecer muitas pessoas sem nenhum compromisso. 
g) Não se eliminará o crime com burocratas querendo satisfazer o apetite por sangue do público. 
h) Andando pela zona rural do litoral norte, facilmente se encontram casas de veraneio e moradores de 
alto padrão. 
i) Atendimento preferencial para idosos, gestantes, deficientes, crianças de colo (Placa sobre um dos 
caixas de um banco). 
j) Uma pesquisa com 600 crianças e adolescentes mostra que a publicidade tem função pedagógica – e 
prova que a garotada vê comerciais com um inteligente ceticismo. 
 
5) O texto a seguir é uma reprodução de uma placa de aviso afixada nas bombas de 
etanol dos postos de combustíveis. Identifique a incoerência presente nesse aviso. 
 
 
28 
 
 
 
 
6) Leia, com atenção, texto a seguir para preencher o quadro. Na coluna de coesão 
referencial, escreva o referente ao qual o termo ou expressão destacada faz alusão. Na 
coluna da coesão sequencial, diga o valor semântico do conector destacado. 
 
Cerveja preta aumenta o leite? 
 
Não. APESAR DA antiga crença de 
que beber cerveja preta aumenta a quantidade 
de leite em mulheres grávidas, não existem 
estudos que comprovem o fato. E, na 
realidade, qualquer tipo de bebida alcoólica é 
contra-indicada nessa situação. Num estudo 
feito em 1993, a cientista americana Julie 
Mennella acompanhou lactantes que ingeriram 
bebidas alcoólicas E encontrou indícios de que 
elas produziam menos leite. 
Ninguém sabe ao certo

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