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Teoria Geral do Direito Internacional

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Teoria Geral do Direito Internacional
Prof(a) Sara Morgana Silva Carvalho Lopes
1. As relações internacionais observadas sob o prisma jurídico
	As relações internacionais são caracterizadas pela complexidade, abrangendo, hoje em dia, um rol variado de atores. Na doutrina tradicional, o relacionamento internacional envolvia apenas os Estados, mas isso ele também envolve as organizações internacionais, organizações não-governamentais (ONGs), empresas, os indivíduos, dentre outros.
	Com efeito, o DIP é o ramo da ciência jurídica que visa justamente a regular as relações internacionais com vistas a permitir a convivência entre os membros da sociedade internacional e a realizar certos interesses e valores aos quais se confere importância em determinado momento histórico.
1.1 Sociedade internacional x comunidade internacional
	É comum empregar indiscriminadamente os termos comunidade internacional e sociedade internacional. Todavia, a doutrina identifica diferenças entre as duas noções. 
A comunidade fundamenta-se em vínculos espontâneos, de caráter subjetivo, envolvendo identidade e lações culturais, emocionais, históricos, sociais, religiosos, familiares etc. Caracteriza-se também pela ausência de dominação, pela cumplicidade e pela identificação entre seus membros, cuja convivência é harmônica.
	Segundo entendimento doutrinário que prevalece, ainda não há uma comunidade internacional, visto que o que une os Estados são os seus interesses, inexistindo lações espontâneos. Há, contudo, quem defenda a existência de uma comunidade internacional, à luz de problemas globais, que se referem a todos os seres humanos, como a segurança alimentar, o meio-ambiente, desastres naturais etc.
A SOCIEDADE, por outro lado, apoia-se na vontade dos seus integrantes, que decidiram se associar para atingir determinados objetivos. Aqui, a vontade exerce papel decisivo, promovendo a aproximação.
Comunidade internacional
Sociedade internacional
Aproximação e vínculos espontâneos.
Aproximação e vínculos intencionais.
Aproximação por laços culturais, religiosos, linguísticos etc.
Aproximação pela vontade.
Identidade comum.
Objetivos comuns.
Ausência de dominação.
Possibilidade de dominação.
Cumplicidade entre os membros.
Interesse.
1.2 Globalização e sistema normativo internacional
	Cuida-se de expressão cujo conceito é impreciso e indiscriminado.
	Para PORTELA, a globalização consiste um processo de progressivo aprofundamento da integração entre as várias partes do mundo, especialmente nos campos político, econômico, social e cultural, com vistas a formar um espaço internacional comum, dentro do qual bens, serviços e pessoas circulem de maneira mais desimpedida possível.
	Cuida-se de fenômeno recorrente na histórica da humanidade. Contudo, na acepção mais comum na contemporaneidade, refere-se ao forte incremento no rito da integração da economia mundial nos últimos anos.
	Confiram-se suas características principais:
Aumento nos fluxos do comércio internacional e de investimento estrangeiro direto;
Acirramento da concorrência no mercado internacional;
Maior interdependência entre os países;
Expansão dos blocos regionais;
Redefinição do papel do Estado e de noções como a soberania estatal.
2. Conceito de direito internacional público (DIP)
	Conforme leciona Alberto do Amaral Júnior, o DIP é o ramo do direito que tem sido tradicionalmente entendido como o conjunto das regras escritas e não-escritas que regula o comportamento dos Estados. Trata-se de concepção que remonta à Paz de Vestfália, com ênfase nos estados.
	Melhor parece ser o entendimento de Celso de Albuquerque Mello, para quem o DIP é o conjunto de normas que regula as relações dos atores que compõem a sociedade internacional. Tais pessoas internacionais são os Estados, organizações internacionais, o indivíduo, empresas, organizações não-governamentais (ONGs) etc.
	O DIP é também chamado de Direito das Gentes, Direito Internacional e jus inter gentes.
3. Objeto do DIP
	Tradicionalmente, o objeto do DIP se restringia a limitar as competências de Estados e organizações internacionais, conferindo-lhes direitos e impondo-lhes obrigações, com vistas a reduzir a anarquia na sociedade internacional.
	Na atualidade, porém, o objeto do DIP vem-se ampliando, passando a incluir também a regulação da cooperação internacional, pautando o modo pelo qual os Estados, as organizações internacionais e outros atores deverão proceder para atingir objetivos comuns, normalmente ligados a problemas globais, como a proteção do meio ambiente, o a interesses regionais, a exemplo da integração regional.
	Em síntese, eis os objetivos do DIP:
Reduzir a anarquia na sociedade internacional e delimitar as competências de seus membros;
Regular a cooperação internacional;
Conferir tutela adicional a bens jurídicos aos quais a sociedade internacional decidiu atribuir importância;
Satisfazer interesses comuns dos Estados.
4. Fundamento do DIP
	O estudo do fundamento do DIP visa a determinar o motivo pelo qual as normas internacionais são obrigatórias. Vejamos as correntes que tratam do assunto.
Voluntarismo(corrente positivista)
Objetivismo
Carátersubjetivista, cujo elemento central é a vontade dos sujeitos do DIP. Os Estados e as organizações internacionais devem observar as normas do DIP porque expressaram livremente sua concordância em fazê-lo.
Sustenta que a obrigatoriedade do DIP decorre da existência de princípios, valores ou regras mais relevantes. Tais normas surgiriam da própria dinâmica da sociedade internacional, independentemente da vontade dos sujeitos, colocando-se acima da vontade dos Estados.
Vertentes:
AUTOLIMITACAO DA VONTADE: o Estado, por sua própria vontade, submete-se às normas do DIP e limita sua soberania;
VONTADE COLETIVA: o DIP nasce não da vontade de um ente estatal, mas da conjugaçãodas vontadesunânimesde vários Estados, formando uma só vontade coletiva;
CONSENTIMENTO DAS NAÇÕES: o fundamento do DIP é a vontade da maioria dos Estados de um grupo, exercida de maneira livre, massem exigência da unanimidade;
DELEGAÇÃO DO DIREITO INTERNO(OU “DIREITO ESTATAL INTERNO”): o fundamento do DIP é encontrado no ordenamento nacional.
Crítica: condiciona toda a regulamentação internacional à mera vontade dos Estados, normalmente vinculada a inúmeros condicionamentos
Vertentes:
JUSNATURALISMO: as normas internacionais impõem-se naturalmente, por terem fundamento na própria natureza humana;
TEORIAS SOCIOLÓGICAS: as normas internacionais têm origem em um fato social que se impõe aos indivíduos;
TEORIA DA NORMA-BASE DE KELSEN: o fundamento do DIP é a norma hipotética fundamental, da qual decorrem todas as demais, inclusive as de direito interno.
DIREITOS FUNDAMENTAIS: o DIP fundamenta-se no fato de os Estados possuírem direitos que lhe são inerentes e que são oponíveis em relação a terceiros.
Crítica: minimiza o papel da vontade.
Um posicionamento divergente é o de Dionísio Anzilotti, que fundamenta o DIP na regra pacta sunt servanda. Para ele, o DIP é obrigatório por conter normas importantes para o desenvolvimento da sociedade internacional, mas que ainda dependem da vontade do Estado para existir.
	Para PORTELA, o fundamento do DIP efetivamente inclui elementos voluntaristas e objetivistas. 
	Se ligue: o exercício da vontade estatal não pode violar o jus cogens, conjunto de preceitos entendidos como imperativos e que, por sua importância, limitam essa vontade, nos termos da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969 (art. 53).
Jus cogens (direito cogente) são as normas peremptórias ou imperativas do direito internacional, inderrogáveis pela vontade das partes. 
5.1 Características do DIP
	O DIP é marcado pela dicotomia entre relativização da soberania e a manutenção da importância. 
	Cuida-se de uma nova concepção de poder soberano, não mais entendido como absoluto, mas sim sujeito a limites jurídicos. O DIP é um direito de coordenação, em oposição ao direito interno, que é de subordinação.
Como não há um poder central responsável por essa tarefa, a construção do ordenamento jurídico é fruto de um esforço de articulação entre Estados e organizações internacionais, que celebram as normas internacionais.
	Para parte da doutrina, não existiria hierarquia entre as normas do DIP. Assim, um tratado entre dois entes não necessariamente teria de se conformar às normas de outros tratados firmados entre esses mesmos Estados. Todavia, tal característica não cobre todas as situações que ocorram na sociedade internacional. Com efeito, um tratado não pode estar em conflito com as normas do jus cogens. As normas de direito internacional global devem ser respeitadas. Além disso, é importante estar atento aos princípios do ordenamento jurídico internacional.
Outras característica do DIP é a fragmentação e heterogeneidade das normas. Vejamos a síntese das características do DIP:
Dicotomia entre a relativização da soberania nacional e a manutenção da sua importância;
Direito de coordenação;
Ausência de poder central;
Descentralização normativa;
Obrigatoriedade;
Possibilidade de sanções;
Inexistência de hierarquia;
Fragmentação;
Existência de mecanismos de jurisdição.
5.2 A cooperação internacional entre Estados
	Uma das mais evidentes vertentes do DIP é a regulamentação da cooperação internacional. Não se trata de um meio apenas para combater problemas, mas também um instrumento adicional, pelo qual os Estados podem promover seu desenvolvimento econômico e social. Ex.: mecanismos de integração regional.
	Além disso, a cooperação internacional permite regular a administração de áreas que não pertencem a nenhum Estado e que são do interesse de toda a humanidade, como o alto mar e o espaço extra-atmosférico.
	O objetivo aqui não é apenas manter a ordem, mas também um meio para que os Estados alcancem seus objetivos.
5.3 Jurisdição internacional
	Os entes que exercem a jurisdição internacional são normalmente criados por tratados, que definem suas competências e o modo de funcionamento. Podem ser judiciais, arbitrais ou administrativos, como as comissões encarregadas de monitorar o cumprimento de tratados.
	Pode haver órgãos com amplo escopo de ação, como a Corte Internacional de Justiça (CIJ), competente para conhecer de qualquer lide relativa ao Direito Internacional, e entes especializadas, como as cortes de direitos humanos. Além disso, a jurisdição pode abranger o mundo inteiro, como o Tribunal Penal Internacional (TPI), ou apenas o âmbito regional, como o Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul.
	Em princípio, os mecanismos de jurisdição internacional vinculam apenas os Estados que celebraram os tratados ou que aceitem se submeter às suas competências. 
	Além disso, em regra, as cortes internacionais não têm o poder de automaticamente examinar casos envolvendo um Estado, ainda que este seja parte do tratado. É o caso da CIJ, que só pode apreciar processo envolvendo um ente estatal se este aceitar os poderes desse órgão para julgá-lo em um caso específico, ou se o Estado tiver emitido prévia declaração de aceitação.
5.3.1 Meios judiciais
	Os mecanismos judiciais de solução de controvérsias funciona por meio de órgãos jurisdicionais em regra pré-existentes e permanentes.
	São relativamente poucas as cortes internacionais, as quais contam, ademais, com poderes muito limitados. Todavia, com a maior complexidade da vida internacional, começaram a aparecer tribunais internacionais, dentre os quais destacam-se 
a Corte Internacional de Justiça (CIJ) e o;
Tribunal Penal Internacional (TPI).
	Em todo caso, no atual estágio do desenvolvimento da sociedade internacional, a maioria das cortes internacionais só pode atuar com o consentimento expresso dos Estados, evidenciado quando estes criam tais órgãos, por meio de tratados, e/ou quando o ente estatal concorda em se submeter a processo nesses foros.
Atenção: é comum que os Estados, mesmo que sejam partes nos tratados que regulam o funcionamento das cortes internacionais, normalmente não possam ser julgados por tais foros se não houver uma manifestação de vontade adicional.
Corte Internacional de Justiça
Dados gerais
Criada em 1945, tendo sucedido a Corte Permanente de Justiça Internacional (CPJI), que funcionou entre 1922 e 1946. É sediada em Haia (Holanda) e é regida pelo Estatuto da CIJ.
	É o principal órgão jurisdicional da ONU.
	É formada por 15 (QUINZE) países, eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança da ONU, em votação na qual não pode haver veto, para um mandato de 9 (NOVE) ANOS, com direito à reeleição. 
Vejamos algumas observações importantes: 
a CIJ não é o único tribunal que pode existir dentro da ONU, não excluindo, portanto, a criação de outras cortes;
os magistrados são escolhidos não de acordo com um critério de repartição geográfica, mas sim de representatividade dos demais sistemas jurídicos mundiais;
em todo caso, não pode haver mais de um juiz com a mesma nacionalidade. Apesar disso, se um juiz tiver a mesma nacionalidade de uma parte, poderá atuar na questão, como também poderá se declarar impedido;
os Estados envolvidos em processos na CIJ têm direito a indicar um magistrado ad hoc de sua nacionalidade para atuar no feito quando não houver um juiz que seja seu nacional. Esse magistrado deve ser idealmente nomeado dentre candidatos a juiz permanente da CIJ e será investido em suas funções independentemente de votação da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança da ONU. 
Competência
RATIONAE PERSONAE
	Ao contrário dos órgãos jurisdicionais internos, a CIJ tem competência CONTENCIOSA E CONSULTIVA. 
	Muita atenção: somente ESTADOS PODEM SER JULGADOS PERANTE A CIJ! Pessoas naturais, empresas e ONGs não podem ser partes, nem mesmo os organismos internacionais podem.
	Em princípio, apenas aqueles entes estatais que sejam signatários do Estatuto da CIJ podem ser partes perante a Corte.
 Pergunta-se: Estados não signatários podem ser julgados? SIM. Estados que não sejam signatários ou mesmo partes da ONU também podem ser examinados em processos pela CIJ, dentro de parâmetros estabelecidos pelo Conselho de Segurança.
	Obs.: no que concerne à competência consultiva, a CIJ emite pareceres que podem ser solicitados pelos seguintes órgãos:
Assembleia Geral;
Conselho de Segurança da ONU;
Órgãos das Nações Unidas e entidades especializadas autorizadas pela Assembleia Geral. Ex.: Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC), Conselho de Tutela, Comitê Interino da Assembleia Geral, OIT, Organização para a Agricultura e Alimentação da ONU (FAO), UNESCO, OMS, etc.
Deste modo, a Carta da ONU e o Estatuto da CIJ não permitem que Estados solicitem pareceres à CIJ! Apesar disso, Estados podem ser admitidos a comparecer perante a Corte e apresentar exposições orais ou escritas.
Carta da ONU. Artigo 96. 1. A Assembléia Geral ou o Conselho de Segurança poderá solicitar parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça, sobre qualquer questão de ordem jurídica.
2. Outros órgãos das Nações Unidas e entidades especializadas, que forem em qualquer época devidamente autorizados pela Assembléia Geral, poderão também solicitar pareceres consultivos da Corte sobre questões jurídicas surgidas dentro da esfera de suas atividades.
RATIONAE MATERIAE
	A CIJ abrange todas as questões que as partes submetam, bem como todos os assuntos especialmente previstos na Carta das Nações Unidas ou em tratados e convenções em vigor. É geral. São exemplos: a interpretação de um tratado; qualquer ponto de Direito Internacional; violações de compromissos internacionais; reparações devidas pela ruptura de compromissos etc.
	Obs.: como não existe ainda um tribunal internacional de direitos humanos, nada impede que a CIJ examine questões envolvendo a aplicação de tratados de direitos humanos. Mas se ligue: ela apenas julgará ESTADOS.
Pergunta-se: a CIJ tem competência automática? NÃO! Ainda que seja parte do Estatuto da CIJ, o ente só pode ser obrigado a se submeter a processo na Corte com o seu consentimento.
Essa anuência pode ser manifestada das seguintes formas: a) previsão em tratado; b) decisão voluntária através de “compromisso”; c) aceitação, pelo Estado, da competência da CIJ para decidir acerca de processo contra si proposto por outro Estado; d) cláusula facultativa de jurisdição obrigatória.
O art. 36 do Estatuto da CIJ estabelece como meio de aceitar a competência a chamada CLÁUSULA FACULTATIVA DE JURISDIÇÃO OBRIGATÓRIA, a partir da qual o Estado fica sujeito a ser réu em qualquer processo na Corte, independentemente de novo consentimento posterior e independentemente de reciprocidade.
	Essa cláusula pode ser feita pura e simplesmente ou então sob condição de reciprocidade da parte, ou ainda por prazo determinado.
	Atenção: o Brasil ainda não aceita a cláusula facultativa de jurisdição obrigatória.
 Processo
	O processo é regulado pelos artigos 39 a 64 e é público, salvo quando as partes requeiram que o feito seja apreciado em segredo de justiça. Pode incluir ainda medidas cautelares. Ao final, a deliberação é feita por maioria de votos. A sentença é definitiva, inapelável e obrigatória.
	Apesar de não caber recurso, são cabíveis as seguintes medidas contra a sentença:
Pedidos de esclarecimentos;
Revisão da sentença, no prazo de até 10 (dez) anos depois, exigindo-se fato novo.
CIJ
TPI
15 juízes com mandato de 9 anos, c/ reeleição.
18 juízes, mandato de 9 anos, s/ reeleição.
Na CIJ há reeleição!
No TPI (18) não há reeleição!
Somente julga ESTADOS (mas eles não podem solicitar pareceres, e sim apenas as estruturas da ONU).
Somente julga PESSOAS FÍSICAS.
Outros tribunais
	Há outros tribunais conhecidos, como o TPI, que julga crimes de guerra, de genocídio, de agressão e contra a humanidade. 
Há também a Corte Europeia de Direitos Humanos, criada em 1959, com sede em Estrasburgo (França), que é um órgão do Conselho da Europa, e não da União Europeia.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos é outro tribunal importante.
Na União Europeia, há o Tribunal de Justiça, e no Mercosul o Tribunal Permanente de Revisão.
Há também o Tribunal Internacional do Direito do Mar, criado pela Convenção de Montego Bay, com sede em Hamburgo (Alemanha).
Por fim, a maioria dos órgãos internacionais ainda não permite que os sujeitos que não sejam Estados ou organizações internacionais participem de seus procedimentos. Há exceções, como a Corte Européia de Direitos Humanos, que permite que um indivíduo processe um Estado europeu, ou o TPI, que julga pessoas naturais acusadas de crime contra a humanidade.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos também pode receber reclamações diretas de indivíduos.
5.4 A sanção no DIP
	O DIP também inclui a possibilidade de aplicar sanções, embora, na prática, haja dificuldades. Tais dificuldades derivam da ausência de órgãos centrais encarregados da tarefa.
6. Direito internacional público e direito internacional privado
Direito internacional público
Direito internacional privado
 
Não é ramo do direito internacional público.
Abrange as relações interestatais e os conflitos entre soberanias. Em síntese: regula a sociedade internacional.
Regula conflito de leis no espaço, cuidando de estabelecer critérios para determinar qual a norma aplicável a relações privadas com conexão internacional.
As suas normas são estabelecidas pelos Estados e organismos internacionais, por meio de fontes do DIP (primordialmente tratados internacionais)
As suas normas podem se originar de fontes de direito internacional público, como os tratados, mas geralmente são preceitos de direito interno.
As suas normas são aplicáveis diretamente às relações internacionais e internas cabíveis, vinculando condutas.
Suas normas são meramente indicativas, apontando qual a norma, nacional ou estrangeira, que incide em caso de conflito de leis no espaço.
 
O controle de legalidade é atribuído ao judiciário de cada país.
As matérias de Direito Internacional Público e Direito Internacional Privado, apesar de possuírem nomes similares, chegam muitas vezes a tratar de temas completamente díspares. Em relação à definição das duas ciências, por exemplo, o DI Público reúne o conjunto de normas aplicáveis nas relações entre países, enquanto que o DI Privado entra em cena para lidar com questões relacionadas a particulares que tenham interesses em mais de um país. No DI Público, os sujeitos em questão serão os Estados e também as Organizações Internacionais, enquanto que no DI Privado as relações jurídicas orbitam entre particulares, mesmo nos casos onde o Estado ou Organização Internacional figure em meio a uma determinada lide.
Para explicar essa relação entre DIP(ÚBLICO) e o DIP(RIVADO) há uma corrente predominante, que privilegia a natureza da pessoa envolvida na relação jurídica, ou seja, baseia-se nas partes que compõem a relação jurídica, construindo um Direito Público como aquele que regula situações jurídicas figurando em uma parte o Estado, tornando o Direito Privado aquele que regulamenta situações jurídicas onde o Estado não seja parte ou então equiparado a um particular.
O DI Público vai regulamentar então, situações entre entes soberanos, estatais e públicos, enquanto que o DI Privado vai tratar de situações entre entes privados, jurisdicionados, ou ainda que públicos, que figurem na condição de particulares.
Como ocorrência flagrante vinculada ao DI Público pode-se citar, por exemplo, alguma questão originada da participação de Brasil e Paraguai na exploração da Usina Hidrelétrica de Itaipú, que foi construída por ambas as nações. Surgindo divergência, o caso seria resolvido aplicando-se regras de DI Público, pois se trata de interesses estatais, governamentais e nacionais representados nos dois lados.
Por outro lado, em um caso que trate do inventário de um falecido que tenha deixado vários bens em vários países cria problemas de DI Privado, pois o bem em questão está espalhado em mais de um país.
Atenção: determinadas situações podem ser reguladas pelas duas matérias, como as operações comerciais. Ex.: operação de exportação (podem incidir normas anti-subsídios do DIP e preceitos relativos a qual norma nacional tutelaria tais conflitos).
 
7. Direito internacional público e direito interno
	Em muitos casos, como no Brasil, as normas internacionais são incorporadas à ordem jurídica interna, facilitando sua aplicação nos territórios dos entes estatais. Entretanto, é possível que ocorram conflitos entre os preceitos de Direito Internacional e de Direito interno, suscitando a necessidade de definir qual norma deveria prevalecer. A questão é polêmica e passa pela análise de duas teorias.
7.1 Dualismo
	A teoria dualista parte da premissa de que o DIP e o Direito interno são dois ordenamentos jurídicos distintos e totalmente independentes. Assim, suas normas não entram em conflito. 
	Para o dualismo, o direito internacional dirige a convivência entre os Estados, enquanto o Direito interno disciplina as relações entre os indivíduos e entre estes e o ente estatal. Com isso, os tratados seriam apenas compromissos assumidos na esfera externa, sem efeitos no interior dos Estados.
	Além disso, a eficácia das normas internacionais não depende da compatibilidade com a norma interna.
	O dualismo vincula-se também à “teoria da incorporação” ou da “transformação de mediatização”, formulada por Paul Laband, pela qual um tratado poderá regular relações dentre do território de um Estado apenas se for incorporado ao ordenamento interno, por meio de um procedimento que o transforme em norma nacional. Assim, não há a aplicação imediata do tratado.
	Fala-se, ainda, na chamada teoria do dualismo moderado, pelo qual não é necessário que o conteúdo das normas internacionais seja inserido em um projeto de lei interna, bastando apenas a incorporação dos tratados ao ordenamento por meio de procedimento específico, distinto do processo legislativo comum. Aparentemente, o Brasil herdou características do dualismo moderado, já que o tratado somente se incorpora
ao ordenamento interno mediante decreto presidencial (ratificação).
7.2 Monismo
	A teoria monista defende que existe apenas uma ordem jurídica. Logo, as normas internacionais podem ter eficácia condicionada à harmonia do seu teor com o direito interno, e a aplicação das normas nacionais pode exigir que estas não contrariem os preceitos de Direitos das Gentes.
	Para definir qual norma deverá prevalecer, em caso de conflito, há duas vertentes:
Monismo com primazia do Direito Internacional (Kelsen)  Entende que o ordenamento jurídico é uno e o DIP é hierarquicamente superior. É também chamado de monismo radical. Essa teoria é a teoria adotada pelo DIP, conforme art. 27 da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969, conforme entendimento da Corte Internacional de Justiça (CIJ):
Artigo 27.º-Direito interno e observância dos tratados
Uma Parte não pode invocar as disposições do seu direito interno para justificar o incumprimento de um tratado. Esta norma não prejudica o disposto no artigo 46.º
 
Monismo com primazia do Direito Interno (ou nacionalista)  Fundamenta-se no valor superior da soberania estatal.
	No Brasil, vislumbram-se aspectos do dualismo e do monismo, de modo que, para PORTELA, não é possível afirmar que o Brasil adota uma corrente específica, recorrendo a elementos de ambas as teorias.
7.3 Outras possibilidades: a primazia da norma mais favorável
No âmbito do Direito Internacional dos Direitos Humanos, prevalece o princípio da primazia da norma mais favorável à vítima/ao indivíduo, pelo qual, em conflito entre normas internacionais e internas, deve prevalecer aquela que melhor promova a dignidade humana.
Dualismo
Monismo
Duas ordens jurídicas distintas e independentes.
Uma só ordem jurídica.
Impossibilidade de conflito.
Possibilidade de conflito.
Necessidade de incorporação.
 
Dualismo RADICALO conteúdo dos tratados deve ser incorporado ao ordenamento interno por lei interna;
Dualismo MODERADOA incorporação exige mera ratificação, com prévia aprovação do parlamento.
Monismo NACIONALISTAPrevalece a norma interna;
Monismo INTERNACIONALPrevalece a norma do DIP. É prevista na Convenção de Viena de 1969.
MONISMO INTERNACIONALISTA RADICAL: o tratado prevalece inclusive sobre a Constituição. A norma interna contrária é considerada inválida;
MONISTMO INTERNACIONALISTA MODERADO: o tratado prevalece, com mitigações, sendo possível eventual aplicação do direito interno, sem invalidade.
FONTES DO DIP
1. Conceito
	Fontes do Direito são os motivos que levam ao aparecimento da norma jurídica, bem como os modos pelos quais ela se manifesta. Vejamos:
Fontes materiais
Fontes formais
São os elementos que provocam o aparecimento das normas jurídicas. Ex.: II Guerra Mundial. São também os fundamentos sociológicos das normas internacionais, a sua base política, moral ou econômica.
São o modo de revelação e exteriorização da norma jurídica.
2. Fontes formais do DIP
As fontes formais do DIP surgiram ao longo da história e foram inicialmente consolidadas no art. 38 do Estatuto da CIJ. Este dispositivo traz uma lista exemplificativa, com as chamadas fontes estatutárias.
 2.1 O art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça
	Dispõe o citado dispositivo que são fontes do DIP: a) convenções; b) o costume internacional; c) os princípios gerais do direito; d) as decisões judiciais (jurisprudência), como meio auxiliar; e) a doutrina, como meio auxiliar. Além disso, através da expressão “ex aequo et bono”, permite a utilização da equidade como meio de solução de controvérsias.
OBS: PERCEBAM QUE A CIJ NÃO CITA OS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO INTERNACIONAL COMO FONTE.
Artigo 38
1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as controvérsias que sejam submetidas, deverá aplicar;
2. as convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
3. o costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita como direito;
4. os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas;
5. as decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior competência das diversas nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito, sem prejuízo do disposto no Artigo 59.
6. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um litígio ex aequo et bono, se convier às partes.
Obs.1: o Estatuto da CIJ emprega o termo “convenção” como sinônimo de tratado.
Obs.2: não existe hierarquia entre as fontes elencadas. Nem mesmo os tratados são hierarquicamente superiores, embora sejam a fonte mais empregada no DIP, em razão de seu caráter democrático. 
 
2.2 Outras fontes
	O Estatuto da CIJ não exclui a existência de outras fontes. São elas, dentre outras:
A analogia;
A equidade;
Os atos unilaterais dos Estados;
As decisões das organizações internacionais;
O jus cogens;
O soft law.
	Obs.1: o contrato internacional e a lex mercatória podem ser consideradas fontes do Direito Internacional Privado, mas não do Direito Internacional Público!.
 
2.3 Classificação
	A doutrina costuma classificar as fontes do DIP da seguinte forma:
2.3.1 Estatutárias x extra-estatutárias
Fontes estatutárias (Estatuto da CIJ)
Fontesextra-estatutárias
Tratados
Costume
Princípios gerais do Direito e princípios gerais do Direito Internacional
Jurisprudência
Doutrina
Atos unilaterais dos Estados
Atos unilaterais de organizações internacionais
Juscogens
Soft Law
2.3.2 Fontes principais e acessórias
Fontes principais
Fontes acessórias
Revelam o direito aplicável diretamente a uma relação jurídica
Ex.: todas as fontes formais, exceto a jurisprudência e a doutrina.
Contribuem para elucidar o conteúdo de uma norma e aplicá-la.
Ex.: doutrina e jurisprudência.
2.3.3 Fontes convencionais x não convencionais
Fontes convencionais
Fontesextra-estatutárias
Fruto do acordo de vontades. Ex.: tratados. Para parte da doutrina, os costumes também.
Fruto da evolução da realidade internacional. Ex.: todas as demais.
3. Tratado
	Tratado é o acordo escrito, concluído por Estados e/ou organizações internacionais com vistas a regular o tratamento de temas de interesse comum. Ganharam espaço a partir da Paz de Vestfália.
 4. Costume internacional
	Cuida-se da prática generalizada (elemento objetivo/volitivo), acrescida da convicção de que essa prática é juridicamente obrigatória (elemento subjetivo/psicológico). Essa prática não precisa ser unânime. Durante muito tempo, foi a principal fonte do DIP.
	Obs.1: conforme já caiu em prova do TRF2 (2011), o costume de determinada nação não pode ser usado na solução de conflitos internacionais. Ou seja, o costume deve ser internacional!
	Obs.2: existe a possibilidade de que um sujeito de DIP não reconheça expressamente um costume existente ou em gestação, traduzida pela figura do persistent objector. Muita atenção: esse princípio do OBJETOR PERSISTENTE já caiu em provas do CESPE!
	
O costume se extingue pelos seguintes meios:
Pelo desuso, quando determinada prática deixa de ser reiterada, generalizada e uniforme dentro de determinado grupo social, ou quando se perde a convicção acerca da obrigatoriedade;
Pelo aparecimento e afirmação de um novo costume que substitua o anterior;
Pela substituição do costume por tratado internacional.
5. Jurisprudência internacional
	A jurisprudência internacional origina-se especialmente de cortes internacionais, que começa a se difundir no cenário internacional, como a Corte Internacional de Justiça (CIJ), o Tribunal Penal Internacional (TPI) e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
	De acordo com o art. 38 do Estatuto da CIJ, a jurisprudência é apenas fonte auxiliar do DIP, contribuindo para a aplicação das normas jurídicas.
	Para MAZZUOLI, a jurisprudência não é fonte do direito, pois “não cria o direito, mas sim o interpreta mediante a reiteração de decisões no mesmo sentido”. Para PORTELA, as decisões criam
sim o direito, ainda que apenas para as partes em litígio.
6. Doutrina
	A doutrina é o conjunto dos estudos, ensinamentos, teses e pareceres dos estudiosos do DIP. Não cabe a ela regular diretamente condutas, não havendo vinculação. Trata-se de fonte auxiliar.
 7. Princípios gerais do direito
	Os princípios gerais do direito são normas de caráter mais genérico e abstrato que incorporam os valores que fundamentam a maioria dos sistemas mundiais. Ex.: proteção da dignidade da pessoa humana, pacta sunt servanda; boa-fé, devido processo legal, res judicata etc.
 
8. Princípios gerais do DIP
	Dentre os princípios gerais do DIP, destacamos: a soberania nacional; a não-intervenção; a igualdade jurídica entre os Estados; a autodeterminação dos povos; a prevalência dos direitos humanos; a cooperação internacional; a solução pacífica de conflitos; a proibição de ameaça ou de uso da força; e o esgotamento dos recursos internos antes do recurso a tribunais internacionais.
9. Analogia
	Trata-se da aplicação a determinada situação de fato de uma norma jurídica feita para ser aplicada a caso parecido ou semelhante.
	Para parte da doutrina, a analogia é fonte do Direito Internacional. Entretanto, para outra parte da doutrina de Direito em geral, a analogia é apena meio de integração do ordenamento.
 
10. Equidade
	A equidade consiste na aplicação de considerações de justiça a uma relação jurídica, quando não exista norma que a regule, ou quando o preceito cabível não é eficaz para solucionar, coerentemente e de maneira equânime, um conflito.
	O art. 38, parágrafo 2º, do Estatuto da CIJ consagra a equidade como ferramenta que pode levar à solução de conflitos internacionais.
	Mas atente: a equidade somente pode ser utilizada a partir da anuência expressa das partes envolvidas no litígio.
11. Atos unilaterais dos Estados
	Partindo-se da premissa voluntarista de que as normas de DIP se fundamentam no consentimento dos Estados e das organizações internacionais, os atos unilaterais de entes estatais não poderiam ser fontes de DIP.
	Entretanto, a dinâmica das relações internacionais revela que atos cuja existência tenha dependido exclusivamente da manifestação de um Estado terminam por influenciar as relações internacionais, gerando consequências jurídicas independentemente da aceitação ou envolvimento de outros entes estatais.
	Os atos unilaterais podem ser expressos (manifestam-se por declaração que adote a forma escrita ou oral) ou tácitos (configuram-se quando os Estados implicitamente aceitam determinada situação, normalmente pelo silêncio ou pela prática de ações compatíveis com o seu objeto). Vejamos alguns exemplos:
PROTESTO  Manifestação expressa de discordância quanto a uma determinada situação, destinada ao transgressor de norma internacional e voltada a evitar que a conduta objeto do protesto se transforme em outra;
NOTIFICAÇÃO  Ato pelo qual um Estado leva oficialmente ao conhecimento de outro ente estatal fato ou situação que pode produzir efeitos jurídicos, dando-lhe “a necessária certeza da informação”;
RENÚNCIA  É a desistência de um direito. A bem da segurança jurídica, deve ser sempre expressa, nunca tácita ou presumida;
DENÚNCIA  Ato pelo qual o Estado se desvincula de um tratado;
RECONHECIMENTO  Ato expresso ou tácito de constatação e admissão da existência de certa situação que acarrete consequências jurídicas. Ex.: reconhecimento de Estado e de governo;
PROMESSA  Compromisso jurídico de adoção de certa conduta;
RUPTURA DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS  Ato que suspende o diálogo oficial com um Estado nas relações internacionais.
12. Decisões das organizações internacionais
	As organizações internacionais, a exemplo da Organização das Nações Unidas – ONU, produzem atos que podem gerar efeitos jurídicos para o organismo que praticou e para outros sujeitos de DIP. São também denominados atos unilaterais de organizações internacionais.
	Tais decisões são reguladas pelas normas que regulam o funcionamento de tais entidades.
	Os atos podem ser internos (aplicando-se apenas ao funcionamento da entidade) ou externos (voltados a tutelar os direitos e obrigações de outros sujeitos de DIP).
	Obs.1: os organismos internacionais podem praticar os mesmos atos unilaterais que os Estados. Contudo, há decisões típicas de organizações internacionais, como os atos preparatórios da negociação de tratados, a convocação de reuniões internacionais, as recomendações e resoluções.
As resoluções podem ser:
IMPOSITIVAS/OBRIGATÓRIAS  Vinculam os sujeitos de DIP, a exemplo das recomendações da Organização Internacional do Trabalho – OIT e das decisões do Conselho de Segurança da ONU (v.g., Resol. N. 1.874/2009, que determina medidas voltadas a impedir a proliferação de armas nucleares, biológicas e químicas na República Popular Democrática da Coréia);
FACULTATIVAS  Têm caráter de recomendação, consistindo apenas em propostas de ação, possuindo força moral e política, mas não jurídica. Ex.: resoluções da Assembleia Geral da ONU.
	Obs.2: as resoluções deverão ser executadas no Brasil por meio de Decreto presidencial.
13. Normas imperativas: o jus cogens
	A norma de jus cogens é um preceito ao qual a sociedade internacional atribui importância maior e que, por isso, adquire primazia dentro da ordem jurídica internacional. Sua principal característica é a imperatividade de seus preceitos, ou seja, a impossibilidade de suas normas serem confrontadas ou derrogadas por qualquer outra norma internacional.
	Conforme art. 53 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, “É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional Geral”. 
	Para PORTELA, essa previsão é desproporcional, sem razoabilidade, por abrir a possibilidade de um tratado inteiro perder a validade quando apenas um de seus preceitos está em conflito com normas do jus cogens. Assim, entende que seria mais razoável que apenas a norma destoante tivesse sua aplicação afastada. Enfatiza, contudo, se tratar de um entendimento particular seu, que ainda não encontra respaldo em norma internacional diversa, nem na jurisprudência internacional.
	O rol das normas de jus cogens não é expressamente definido. A definição de seu conteúdo é fruto de um processo histórico, político e social.
	Dentre as normas de jus cogens, destacam aquelas voltadas a tratar de temas como direitos humanos, proteção ao meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável, paz e segurança, Direito de Guerra e Direito Humanitário, proscrição de armas de destruição em massa e direitos e deveres fundamentais dos Estados.
	Tais normas não se confundem com o Direito Natural, embora tenham clara inspiração jusnaturalista. Não se tratam de preceitos imutáveis, mas sim de princípios e regras que podem mudar no tempo e no espaço, impedindo-se o seu “engessamento”.
Caso ocorra conflito entre norma de tratado e preceito de jus cogens superveniente, o dispositivo convencional mais antigo é nulo a partir do aparecimento da norma cogente, nos termos do art. 64 da Convenção de Viena de 1969:
Artigo 64.º-Superveniência de uma norma imperativa de direito internacional geral (jus cogens) 
Se sobrevier uma nova norma imperativa de direito internacional, geral, qualquer tratado existente que seja incompatível com essa norma torna-se nulo e cessa a sua vigência. 
	Observe-se, portanto, que a superveniência de norma de jus cogens incompatível com o tratado gera a sua nulidade com efeitos ex nunc, não havendo retroatividade.
	Pergunta-se: as normas de jus cogens exigem consentimento dos Estados? Essa questão é polêmica. Para Seitefus, a norma cogente dispensa o consentimento dos Estados, o que lhe confere força erga omnes. PORTELA concorda. Para ele, condicionar a existência da norma à anuência de entes estatais tão díspares é pôr em risco valores essenciais para a convivência humana.
	Por fim, registre-se que tais normas não configuram uma verdadeira “constituição internacional”, não havendo
uma “ordem constitucional internacional”.
14. Soft law
	Trata-se de nova modalidade normativa, de caráter mais flexível. Em outras palavras, é um conjunto de regras cujo valor normativo seria limitado, seja porque os instrumentos que as contêm não são juridicamente obrigatórios, seja porque as disposições em causa, ainda que figurando um instrumento constringente, não criam obrigações de direito positivo ou não criariam senão obrigações pouco constringentes. São modalidades de soft law:
Normas, jurídica ou não, de linguagem vaga e conteúdo aberto, ou ainda de caráter principiológico ou genérico, impossibilitando a identificação de regras claras e específicas;
Normas que prevejam mecanismos de solução de controvérsias, como a conciliação e a mediação;
Atos concertados entre os Estados que não adquiram forma de tratados e que não sejam obrigatórios;
Atos das organizações internacionais que não sejam obrigatórios;
	Sua formação ocorre por meio de negociações entre os sujeitos de DIP ou dentro de órgãos técnicos das organizações internacionais. A elaboração de suas regras caracteriza-se por ser mais rápida. Em suma, inclui preceitos que ainda não se transformaram em normas jurídicas, ou cujo caráter vinculante é muito débil, ou seja, com graus de normatividade menores que os tradicionais. Têm caráter de meras recomendações, podendo, posteriormente, ser incorporadas a fontes tradicionais.
	Dentre outras modalidades de diplomas normativos que podem ser considerados soft law, se encontram: 
os acordos de cavalheiros (gentlemen’s agreementes);
 os acordos não vinculantes (non-binding agréments);
 os comunicados e declarações conjuntos;
 as atas de reuniões internacionais;
 os códigos de conduta;
 as declarações e resoluções não vinculantes de organismos internacionais etc.
	Exemplos relevantes de soft law são a Declaração Universal dos Direitos Humanos, as declarações de organismos internacionais relativos à saúde pública, as recomendações da OIT, a Lei Modelo de Arbitragem Internacional, a Carta Democrática Interamericana e a Declaração Sociolaboral do Mercosul.
1 – Em razão de sua natureza descentralizada, o direito internacional público desenvolveu-se no sentido de admitir fontes de direito diferentes daquelas admitidas no direito interno. Que fonte, entre as listadas a seguir, não pode ser considerada fonte de direito internacional:
A) Tratado.
B) Decisões de tribunais constitucionais dos estados.
C) Costume.
D) Princípios gerais do direito. 
1 - b
3 - De acordo com o Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, são fontes do direito internacional os tratados internacionais,
a) o costume internacional, os princípios gerais do direito, os atos unilaterais e as resoluções das organizações internacionais.
b) o costume, os atos unilaterais e a doutrina e a jurisprudência, de forma auxiliar.
c) o costume internacional, os princípios gerais de direito, as decisões judiciárias e a doutrina, de forma auxiliar, admitindo, inda possibilidade de a Corte decidir ex aequo et bono, se as partes concordarem.
d) o costume, princípios gerais de direito, atos unilaterais, resoluções das organizações internacionais, decisões judiciárias e a doutrina.
e) todas as assertivas anteriores estão incorreta
3 - c
4 – Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes:
A) às normas coletivas
B) às leis complementares
C) às emendas constitucionais
D) às leis ordinárias
E) nenhuma das alternativas acima
4 - c
Dadas as Assinale a alternativa correta. Considerando-se a relação de hierarquia existente entre os tratados internacionais e a Constituição Brasileira vigente: 
I. No sistema jurídico brasileiro, os tratados ou as convenções internacionais estão hierarquicamente subordinados à autoridade normativa da Constituição da República. Em consequência, nenhum valor jurídico terão os tratados internacionais que, incorporados ao sistema de direito positivo interno, transgredirem, formal ou materialmente, o texto da Carta Política. 
II. O Poder Judiciário dispõe de competência para, quer em sede de fiscalização abstrata, quer no âmbito do controle difuso, efetuar o exame de constitucionalidade dos tratados ou das convenções internacionais, salvo se já incorporados ao sistema de direito positivo interno.
III. Os tratados ou as convenções internacionais, uma vez regularmente incorporados ao direito interno, situam-se, no sistema jurídico brasileiro, nos mesmos planos de validade, de eficácia e de autoridade em que se posicionam as leis ordinárias, havendo, em consequência, entre estas e os atos de direito internacional público, mera relação de paridade normativa. 
IV. O primado da Constituição, no sistema jurídico brasileiro, é oponível ao princípio pacta sunt servanda, inexistindo, por isso mesmo, no direito positivo nacional, o problema da concorrência entre tratados internacionais e a Lei Fundamental da República, cuja suprema autoridade normativa deverá sempre prevalecer sobre os atos de direito internacional público.
V. Os tratados internacionais celebrados pelo Brasil – ou aos quais o Brasil venha a aderir – não podem versar matéria posta sob reserva constitucional de lei complementar. É que, em tal situação, a própria Carta Política subordina o tratamento legislativo de determinado tema ao exclusivo domínio normativo da lei complementar, que não pode ser substituída por qualquer outra espécie normativa infraconstitucional, exceto quanto aos atos internacionais já incorporados ao direito brasileiro. 
Estão corretas apenas as assertivas I, III e IV. 
c 
06 - Assinale a opção correta relativamente à fundamentação, às fontes e às características do direito internacional público
a) Admite-se a escusa de obrigatoriedade de um costume internacional se o Estado provar de forma efetiva que se opôs ao seu conteúdo desde a sua formação.
b) Não há previsão expressa de princípios gerais do direito internacional no Estatuto da CIJ.
c) O Estatuto da CIJ estabelece que as decisões proferidas pelas organizações internacionais sejam consideradas fontes do direito internacional público.
d) A corrente voluntarista considera que a obrigatoriedade do direito internacional deve basear-se no consentimento dos cidadãos.
e) O consentimento perceptivo da corrente objetivista significa que a normatividade jurídica do direito internacional nasce da pura vontade dos Estados.
6-b
7 - Essas normas não têm o mesmo grau de atribuição de capacidades nem são tão importantes quanto as normas restritivas, mas os Estados comprometem-se a cooperar e a respeitar os acordos realizados, sem submeter-se, no entanto, a obrigações jurídicas.
O fragmento de texto citado acima refere-se a:
a) costumes.
b) soft norms.
c) princípios gerais de direito.
d) umbrella conventions.
e) tratados.
7-b
8 – As normas de Direito Internacional Peremptório (JUS COGENS)
a) podem ser derrogadas por tratado;
b) só podem ser derrogadas por costume internacional;
c) pressupõem uma ordem pública internacional não disponível para os Estados individualmente;
d) não guardam qualquer relação com o conceito de obrigações erga omnes
8-c
9 - Relativamente à jurisprudência e à equidade, frente ao Direito Internacional Público, é correto afirmar que:
a) são por ele observadas;
b) não são por ele observadas,
c) somente não são observadas pela Corte Internacional de Haia;
d) somente são observadas pela Corte Internacional de Haia;
e) todas as assertivas estão incorretas.
9-a

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