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PSICOLOGIA DA SAÚDE / material online de aulas 01 a 10

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PSICOLOGIA DA SAÚDE * * * Aula 1
INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DA SAÚDE
As origens da Psicologia
Há mais de dois mil anos, a atenção dos filósofos se voltou para o funcionamento do psiquismo, quando se impuseram a buscar revelar os processos subjetivos, a memória, a aprendizagem e a razão.
Desde então, a explicação destes fenômenos é objeto de um constante movimento de acumulação e mudança de paradigmas
As origens da Psicologia
Há mais de dois mil anos, a atenção dos filósofos se voltou para o funcionamento do psiquismo, quando se impuseram a buscar revelar os processos subjetivos, a memória, a aprendizagem e a razão.
Desde então, a explicação destes fenômenos é objeto de um constante movimento de acumulação e mudança de paradigmas.
Os filósofos clássicos, para conduzir esta análise, pensaram, primeiramente, como a subjetividade se constitui, como se pensa, como podemos entender a dimensão, ou como eles gostavam de intitular, da alma.
Assim, aparecem nesta dimensão distintas explicações, portadoras de um tipo de abordagem própria de cada uma
Filosofia Clássica
Podemos revisitar o século V a.C. para acompanharmos por um breve momento como a Filosofia Clássica já se preocupava em entender a natureza humana, nosso próprio comportamento, a natureza e os atos humanos.
São justamente os filósofos gregos como Platão e Aristóteles que tratam das primeiras tentativas de sistematizar o “estudo da alma", da psyché, que em grego significa “alma”.
Sócrates, por exemplo, buscava traçar o limite entre os instintos e a razão.
Assim, aparece neste lugar descontínuo do pensamento grego a razão como a própria essência do homem, a consciência.
Platão, por sua vez, procurou definir um lugar para a razão. Descrevia então o corpo como sede da alma.
Áristóteles 
A noção de uma continuidade entre corpo e alma toma um lugar importante na Filosofia Clássica com Aristóteles. 
De forma inovadora, esse filósofo já antecipava o olhar holístico postulando que alma e corpo estão associados.
ATENÇÃO Veremos como esta continuidade nos ajudará a pensar as estratégias de intervenção da prática do cuidado. 
Interrogações sobre a memória, a aprendizagem, os sonhos e até sobre a Psicopatologia – questões que vieram ocupar a Psicologia Moderna – já eram colocadas pelos filósofos gregos. 
Afinal, você já deve estar se perguntando: o que separa a Filosofia da Psicologia? 
O que separa as ficções dos fatos?
Avance para tela seguinte e vamos continuar nosso estudo sobre a psicologia.
A PSICOLOGIA COMO CAMPO DO SABER
No movimento de transformações desde a Filosofia até a Psicologia Moderna, vemos que o saber da Psicologia não se fecha em uma única teoria sobre a subjetividade, muito menos em uma única área de atuação.
Filosofia >----------------------------------------------------------------------------------------------Psicologia 
Assim, um conhecimento histórico desta diversidade pode ajudar-nos a relacionar a diversidade de ideias, teorias e projetos de pesquisa da Psicologia no seu percurso histórico e na prática da interdisciplinaridade. 
Não é demais, entretanto, lembrar que todas as explicações sobre a subjetividade são discursos históricos e constituem, antes de tudo, hipóteses de trabalho. São teorias.
Definição de teoria
Teorias, por sua vez, são formações discursivas, não são traduções literais dos fatos. São as teorias, entretanto, que nos ajudam a orientar nossa prática.
Uma teoria é um conjunto de convenções. 
 São hipóteses a respeito de uma realidade não predeterminada pela natureza ou pelos dados empíricos. 
Trata-se de uma construção explicativa sobre a estrutura de um dado fenômeno.
A observação dos dados empíricos por si nada dizem a respeito de sua natureza e podem ser utilizados de forma diferente por diferentes esquemas teóricos.
Nessa perspectiva, uma teoria é uma escolha convencional; e não algo necessário, inevitável ou preestabelecido pelas relações empíricas.
Segundo Myers (2006), uma boa teoria ajuda-nos a organizar observações. Como o campo da Psicologia, sobretudo o da Psicologia Clínica, é o que mais nos concerne na prática do cuidar, faz-se necessário abordar, de passagem, o que é uma teoria.
As construções teóricas
Não basta uma teoria ser atraente: ela deve ser útil. Uma teoria útil organiza eficazmente uma série de observações e relatos e faz pressuposições claras para inferir aplicações práticas.
No decorrer de seu aparecimento no mundo, a Psicologia estabeleceu parcerias e mantém um vinculo constante com a prática.
Myers define as boas teorias como “a capacidade de organizar e estabelecer relações, de implicar hipóteses que oferecem predições testáveis e aplicações práticas”.
Então, qual é o campo da Psicologia moderna? 
Como a Psicologia responde às questões que vão desde a psicopatologia das doenças mentais até o horizonte das perturbações afetivas, da somatização, até os transtornos de ansiedade?
Psicologia Clínica
 A Psicologia que queremos enfatizar é a clínica, que concerne à relação interdisciplinar que mantém com o campo da saúde mental em geral, e com o campo do cuidado em particular.
Não devemos esquecer que os psicólogos jamais apreendem diretamente a subjetividade, e que o sujeito que tratamos não pode ser reduzido somente ao somatório de suas expressões ou de seus sintomas, muito menos à soma de seus comportamentos. 
O que está por trás da soma dos comportamentos é o que deve ser trabalhado pelo psicólogo, para que se revele o sentido da palavra do sujeito.
O que, na interdisciplinaridade entre Psicologia e disciplinas da área da saúde, pode auxiliar no entendimento do sofrimento? 
Uma das contribuições relevantes é a afirmação de que os atos do sujeito não são um simples comportamento, mas têm uma significação.
 O sujeito com o qual a Psicologia lida não é um ser estático e acabado, mas está em permanente estado de construção.
As psicoterapias funcionam? 
A que se propõe a clínica das diferentes abordagens psicoterapêuticas? 
Como as premissas das psicoterapias podem ser usadas no processo de curar? 
Qual é a lógica e funcionamento das clinicas psicoterapêuticas?
Veja como estamos progredindo na nossa aula. Avance a tela e vamos desvendar ainda mais os segredos da psicologia.
O processo de cuidar
Segundo a Enciclopédia Britânica, a clínica é um conjunto organizado de serviços e práticas, oferecendo um diagnóstico terapêutico ou tratamento preventivo.
Esse conceito é usado para designar todas as atividades da clínica geral ou somente uma divisão particular do trabalho.
 Enfim, a clínica é toda uma inteira atividade de serviços organizada para atender aos sujeitos que a procuram, seja com sofrimento físico ou mental.
 Nesta perspectiva, o campo da clínica é aquele que se ocupa do sofrimento considerado individualmente. 
Em outras palavras, trata-se de dispensar aos sujeitos atenção terapêutica ao sofrimento, que muitas vezes ultrapassa a dimensão do puramente somático.
Como as psicoterapias entendem, por exemplo, o sintoma?
 As psicoterapias tomam o sintoma como o que é da ordem da narrativa, como o sujeito fala de suas doenças, como ele a sente. 
É justamente nesta perspectiva que os sintomas podem ser interpretados. 
Eles não são somente o indício de que algo não vai bem, mas sim, que têm um sentido que pode ser traduzido e conscientizado.
Diversidade da clínica
Veremos como cada abordagem terapêutica pensa a condução do tratamento e o papel do psicoterapeuta.
Nas várias abordagens clínicas, haverá sempre uma possibilidade de reorganização do aparente caos e da desestruturação do sofrimento mental – sejana vertente da ressignificação para a Psicanálise e para a Terapia Humanista Existencial, seja na vertente de um reaprendizado para a Terapia Cognitivo-Comportamental.
A clínica autoriza, portanto, o saber sobre o individual. A clínica surge quando o saber tem como objeto o sujeito. 
A clínica das diferentes abordagens é, portanto, o ponto de partida de um trabalho terapêutico.
 Em outras palavras, a clínica é a possibilidade de considerar-se que, entre a doença e o sintoma, há um sujeito. 
Esta perspectiva clínica abre também a possibilidade da elaboração de teorias sobre as causas do sofrimento mental e o desenvolvimento de uma prática que permita maior autonomia e uma nova possibilidade de encarar a existência e modificar a forma do sujeito interpretá-la.
A teoria freudiana
Você já ouviu falar em Darwin, Copérnico e Freud?
O que eles têm em comum é que, de suas teorias, nasceram o que descrevemos anteriormente como teorias, que modificaram a forma de se pensar o centro das coisas.
 Depois deles, o centro do homem como a criação divina, a Terra como o centro do universo e a consciência como o centro da razão sofreram um deslocamento.
Darwin: o centro do homem como a criação divina Copérnio: A terra como centro do universo Freud: a consciência como o centro da razão sofreram um deslocamento.
Depois de Freud, a consciência já não é mais o central no homem: o que determina o sujeito é o inconsciente.
 Freud sustentou que o psiquismo não estava centrado em uma consciência, mas sim estruturado em torno do esquecimento, e este provocava efeitos na vida do sujeito. 
Esta é uma postulação que nos permitirá mais adiante retomar a lógica das doenças psicossomáticas.
O inconsciente O que, anal , é o inconsciente? Qual a relação do sujeito com o que o determina? Qual é , anal , a ruptura que a teoria freudiana faz com os outros saberes? 
É justamente o conceito de inconsciente que fundamenta e delimita o campo específico da teoria freudiana. Quais são então as implicações para a teoria e para a prática com o sujeito e seu sofrimento?
 Como vale para todas as teorias, a teoria freudiana formula hipóteses sobre os fenômenos que encontra em sua prática clínica.
A implicação do encontro com o inconsciente é que este conceito rompe com o indivíduo totalizado da razão e da consciência. Assim, o sujeito pode , por uma razão que lhe é desconhecida – ou seja, inconsciente – , não querer tomar o medicamento ou não ter aderência ao tratamento proposto pelo profissional de saúde. 
O entendimento desta lógica inconsciente ajudará o profissional do a formar estratégias úteis para conduzir o paciente no processo de curar. campo de saúde 2 O inconsciente: sentido e história
O conceito de inconsciente faz emergir, no lugar de individuo biológico, um sujeito histórico, constituído no lugar de sua dimensão na significação e no sentido. 
Trata-se de uma forma singular de inscrição de uma memória esquecida no inconsciente que pode ser reestruturada e ressignificada.
A clínica psicanalítica e seu conceito de cura são centrados na noção de que o falar tem efeitos terapêuticos. É por isso que a Psicanálise privilegia a forma como o sujeito narra seu sintoma. 
É nesta perspectiva que o sujeito do inconsciente deve ser entendido: no sentido que ele dá à sua historia
Os objetivos da Clínica 
 Dizer que o sujeito com o qual lidamos na clínica é um sujeito atravessado pela linguagem e pelo sentido que imprime em sua realidade é tomar o corpo também na dimensão da linguagem.
 A incidência da linguagem no corpo transforma o corpo biológico em um corpo idealizado, representado.
Esta noção é importante, pois nos permitirá mais à frente buscar entender certos sintomas que implicam o corpo de uma forma radical, como na anorexia e nas doenças psicossomáticas
A Terapia Humanista Existencial O que é o ser, qual o seu sentido e qual a sua verdade? 
É dessas questões da Ontologia e da Filosofia existencial que surge uma psicoterapia: a Terapia Humanista Existencial.
 Para você entender como funciona esta terapia, devemos conhecer alguns conceitos da Filosofia existencial, fonte teórica da prática clínica da Terapia Existencial.
O existencialismo evidencia que o ser humano não tem uma substância; é sim, pura liberdade de escolha.
O ponto de partida de toda existência humana é o que o filósofo Heidegger denomina o ser no mundo, um ser sem uma essência prévia, que cria e inventa sua própria existência.
A singularidade O existencialismo coloca a experiência vivida como fundamental. 
Esta forma de ver o ser humano implica que o ser humano é entendido não como determinado, mas com as inúmeras possibilidades do “vir a ser”, que a pessoa é singular, livre e responsável por sua existência.
Na perspectiva da terapia humanista existencial, há dois conceitos chaves:
>A liberdade de criar um modo de existir, singular, provindo de uma escolha; > A responsabilidade por suas escolhas.
ATENÇÃO São justamente os valores que acabamos de ver que serviram para fundar uma prática terapêutica que acabou por ser denominada terapia existencial.
O papel do terapeuta é ajudar a pessoa na experiência de sua existência.
A Liberdade ... 
Na perspectiva existencialista, não há, propriamente falando, desajustes, pois todo modo de existir é uma escolha da qual o sujeito é responsável.
 O desajuste é o resultado de uma escolha própria e singular. Se somos o produto de nossa própria criação, se somos livres para escolher e, apesar de tudo, temos sintomas como ansiedade e depressão, é porque nem todas as nossas escolhas são sábias.
ATENÇÃO A transformação significa que o sujeito poderá sempre fazer novas escolhas, pois há sempre múltiplas possibilidades.
Os objetivos da terapia O principal objetivo da terapia é propiciar uma maximização da autoconsciência e favorecer um aumento do potencial de escolha do cliente para descobrir-se, autocriar-se e aceitar os riscos de suas próprias escolhas e se tornar responsável por elas, aceitando a liberdade.
Estas noções são importantes para o profissional de Saúde, que ouve um sujeito singular que subjaz a doenças e cujas posições subjetivas vão além de seus sintomas físicos e cuja reação à doença é proveniente também de uma escolha.
Terapia Cognitivo-ComportamentalA forma como interpretamos o nosso mundo influencia nosso comportamento? Todo comportamento é adaptativo? 
Há uma forma de medir a eficácia de uma terapia?
Se a teoria freudiana supõe que há um sujeito do inconsciente, se a Terapia Humanista Existencial supõe que há um sujeito livre e responsável por suas escolhas, a Terapia Cognitivo-Comportamental baseia-se em um sujeito que possui crenças que influenciam seus comportamentos.
As crenças centrais As crenças são estruturas cognitivas dentro do pensamento, cujo conteúdo pode ser positivo ou negativo.
Na maioria das vezes, as crenças são positivas. Mas há crenças negativas, disfuncionais, que podem estar ativadas continuamente, ou serem ativadas em momentos de aflição psicológica. Os estados de depressão podem ser explicados justamente quando determinadas crenças negativas são ativadas. O indivíduo começa a ver o mundo sem cores, sem motivação. Para ele, o mundo é hostil e as outras pessoas não são confiáveis. 
São as crenças disfuncionais sobre si mesmo e sobre o mundo que impedem um comportamento adaptativo. A crença é um “saber” que o indivíduo pensa ser verdade sobre si mesmo e sobre o mundo. 
A terapia consistiria em trabalhar diretamente sobre a modificação desta crença central, para aliviar uma depressão atual, por exemplo, bem como para ajudar a prevenir episódios futuros.
A terapia cognitiva comportamental se propõe breve, estruturada e eficiente. O tratamento consiste na busca de produzir uma mudança cognitiva no pensamento e no sistema de crenças do paciente, visando promover uma mudança emocional e comportamental duradoura. 
O objetivo da clínica A terapia cognitivo-comportamental tem um forte foco nos problemas atuais e nas situações específicas que causam aflições nas pessoas. 
O trabalho visa a obter resultados em tempo limitado. Esta ênfase em um tempo limitado, com o foco nas situações específicas, pode ser de grande utilidade na busca de elaborar um plano de ação interdisciplinar, para maximizar a participação do paciente em seu próprio processo de ativar crenças positivas a respeito de seu estado de saúde.
Atividade Proposta: Como vimos em nossa aula, na perspectiva existencialista não há desajustes, pois todo modo de existir é uma escolha da qual o sujeito é responsável. Sabendo disso, conceitue a transformação do sujeito e explique por que o desajuste é resultado de uma escolha própria e singular.
R:A transformação significa que o sujeito poderá sempre fazer novas escolhas, pois há sempre múltiplas possibilidades. O desajuste é o resultado de uma escolha própria e singular. Se somos o produto de nossa própria criação, se somos livres para escolher e, apesar de tudo, temos sintomas como ansiedade e depressão, é porque nem todas as nossas escolhas são sábias.
SIÍNTESE DA AULA: Nesta aula, você: *Entendeu os fundamentos filosóficos da Psicologia; *Aprendeu que as teorias organizam os dados da realidade e servem pra orientar nossa prática; *Analisou as principais abordagens clínicas que podem ajudar você no processo de cuidar.
 PSICOLOGIA DA SAÚDE *** Aula 2
SAÚDE COMO QUALIDADE DE VIDA
	Objetivo desta aula:
		Ao do coConceito de saúde
 final Nessta aula, o aluno será capaz de:
1- Reconhecer a importância do direito à saúde para o homem;
2- Analisar a interseção entre o sujeito normal e o patológico;
3- Reconconhecer a qualidade de vida como um fator subjetivo e a autonomia do sujeito com o qual lidamos.
Contribuições da Psicologia Já que estamos tratando da interdisciplinaridade entre Psicologia e as disciplinas da Área de Saúde, quais contribuições a Psicologia tem para oferecer, para auxiliar no processo de cuidar?
Primeiramente, discutiremos as implicações do conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), depois enfocaremos o conceito de normal e o conceito de sujeito.
 Esta sequência visa o entendimento das nuances do conceito de qualidade de vida. Buscaremos relacionar a singularidade do sujeito e sua inserção numa história, e finalmente procuraremos pontuar as aproximações possíveis entre a Psicologia e disciplinas do Campo da Saúde.
Ou seja, ajudar cada profissional de Saúde a apropriar-se de uma forma de cuidar que não desconsidere a existência de um sujeito que se expressa através do seu próprio sentido.
Definição da OMS A Organização Mundial de Saúde (OMS) (1947, p. 1) define saúde como:
“um estado total de bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença”. Tomaremos essa definição da OMS como uma bússola, pois o conceito da perfeita saúde e bem-estar total soa como uma utopia, como um ideal que pode parecer inatingível. Entretanto, pode servir como um norte para o profissional de Saúde orientar suas ações. 
Lunardi (1999) mostra que, no exercício da Enfermagem, é necessário pensar o conceito de saúde, para que ele não seja usado de forma linear, nem se torne um dogma.
Doença, saúde e normalidade A orientação dada por Lunardi na tela anterior, nos serve como ponto de partida para uma reflexão: 
A própria definição do que é saúde ou doença implica o conceito de normalidade? 
Este conceito não é linear e tem desdobramentos segundo as várias perspectivas em que é abordado.
Para entender o processo que se dá entre o indivíduo e seu padecimento, as reflexões sobre o normal e o patológico nos ajudarão a delimitar o lugar do sujeito e sua interpretação, o sentido que ele dá ao seu padecimento.
Entender como a subjetividade influencia a percepção do sofrimento ajuda o profissional de Saúde a criar estratégias para ajudar seu paciente a melhorar sua qualidade de vida.
Como o profissional pode entender o indivíduo e seu sofrimento? Como pode buscar trabalhar operacionalmente estes conceitos no processo de cuidar? Como utilizar o conceito holístico para orientar sua prática?
Nossa aula está cada vez mais interessante, avance para tela seguinte e vamos descobrir esses questionamentos.
O sujeito: limite entre o normal e o patológico
É Canguilhem (1999 p. 90), filósofo e médico francês, quem nos ajudará a encaminhar estas questões. Ele nos dá uma contribuição de uma forma muito fecunda na problematização da relação entre o normal e o patológico.
 Ele mostra como esta divisão não é externa ao próprio sujeito, que é subjetiva e não objetivável por um critério imperativo de saúde válido igualmente para todos.
O filósofo destaca aautonomia do ser humano e mostra uma subjetividade atuante em jogo, tanto no que é saúde como no que é doença.
 Para ele, os desvios mentais só ocorrem referidos à saúde. “A saúde é o silêncio dos órgãos”, ressalta (1999, p. 90).
 Essa afirmação lembra que a saúde só é revelada quando há perturbação, quando não há mais silêncio dos órgãos, mas quando eles “falam”.
Isto quer dizer que não há “normal” ou “anormal” em si, mas que ambos estão intimamente relacionados, porque o normal só é revelado quando há perturbação na saúde, isto é, quando há infrações à norma.
O caráter dito utópico que é criticado na definição de saúde da OMS aqui pode ser encarnado em uma relação do sujeito consigo mesmo.
Nesta perspectiva, só podemos nos referir, então, a um estado de saúde normal depois de uma perturbação da consciência concreta da vida.
 O que quer dizer que a doença não é uma substância em si, definível, mas que aponta para uma normalidade, e não o contrário.
Singularidade do sujeito Essa forma de colocar a relação intrínseca entre a normalidade e seu contrário aponta para a singularidade do sujeito, pois a norma não é geral, mas diz respeito a uma relação do sujeito consigo mesmo.
O que queremos ressaltar com esta contribuição é que a norma é individual. 
Ou seja, só se poderia falar de desvio da norma referindo-se a um estado anterior de um mesmo indivíduo.
Esta é uma indicação muito importante, para que o profissional de Saúde seja advertido de que a norma de saúde é aplicável de modo dogmático e categórico, mas que a avaliação da qualidade de vida decorre da singularidade de cada indivíduo.de do sujeito 
 Anomalia e “normalidade” Assim, o máximo de bem-estar desejável de ser alcançado como um direito inalienável do homem, definido no conceito de saúde da OMS, pode ser entendido, nos termos de Canguilhem, como uma máxima que diz respeito ao indivíduo.
Isso porque a vida é uma potência dinâmica de superação. Neste sentido, as anomalias, tanto somática quanto psíquica, devem ser sentidas diferentemente. 
A anomalia só pode ser considerada por referência a um estado prévio de um mesmo indivíduo.
Embora o conceito de saúde proposto pela OMS se pareça como uma máxima universal no que nos concerne aqui, trata-se de um “normal” que não é correlativo a um conceito social. 
Ou seja, uma norma social não é válida para analisar o que é um desvio em termos individuais. 
A anomalia só pode ser considerada por referência a um estado prévio de um mesmo indivíduo.
 Embora o conceito de saúde proposto pela OMS se pareça como uma máxima universal no que nos concerne aqui, trata-se de um “normal” que não é correlativo a um conceito social. 
Ou seja, uma norma social não é válida para analisar o que é um desvio em termos individuais. 
Diminuição da atividade A diminuição da atividade, mesmo com comportamentos possíveis menos variados, não é vivenciada pelo indivíduo como um déficit.
Atuar numa perspectiva de que o sujeito é sua própria medida dá um saber ao profissional de Saúde para ajudar os indivíduos a encontrar outra qualidade de vida, nova, diferente, mas que o ajude no processo criativo de seu existir.
O essencial, para um indivíduo que passou por uma experiência de enfermidade, é poder sair de uma situação onde se defrontava com a impotência
É poder avaliar positivamente sua vida como uma qualidade, e não como um déficit, pois embora o indivíduo possa não se avaliar da mesma forma que em seu estado anterior, o novo estado pode ainda ser percebido pelo sujeito como um ganho.
Aquilo com que o profissional de Saúde lida, na sua prática, é também com uma subjetividade que vivencia seu próprio “estado de bem-estar”.
Falaremos mais sobre o sentimento de bem-estar quando abordarmos o conceito de qualidade de vida.
Adaptação a novas situações O que está sendo ressaltado é a capacidade do indivíduo de se adaptar a novas situações, e não uma medida de seu rendimento.
O “normal” e o “anormal” devem ser definidos de modo mais fino de acordo com as normas individuais, e não levando em conta o que pode ser definido em relação a uma norma social.
O que buscamos ressaltar na relação entre o conceito de saúde universal da OMS e o sujeito em sua singularidade é que o universal da saúde precisa ser encarnado na percepção que o sujeito tem de sua própria posição na vida.
Nesta perspectiva, o que pode provir disto de utilidade para o processo de cuidar? 
Como o profissional de Saúde deve entender o sentido de estado de saúde, ou de ser saudável? 
Como atingir as metas do processo de cuidar sem desconsiderar a subjetividade?
 O que há de relevante nestes comentários é que a questão da representação da saúde é subjetiva. A saúde é vivenciada como possibilidade de o indivíduo dar sentido à sua condição humana.
O profissional de Saúde e o conceito da OMS 
Lunardi (1999) problematiza de forma extremamente interessante o uso que o profissional de Saúde pode fazer da máxima do conceito de saúde da OMS.
Saber que a forma como o indivíduo vivencia sua própria doença de forma singular é um fator de extrema importância, que deve ser levado em conta pelo profissional de Saúde no processo de cuidar, ajudando na recuperação e manutenção da qualidade de vida.
A arte de cuidar do profissional de Saúde pode encontrar subsídios nesses conceitos para promover ações de saúde, uma vez que sua atuação está direta e indiretamente relacionada tanto com o bem-estar físico como mental do indivíduo.
Nesta perspectiva, cabe destacar como podemos situar o sujeito e sua história.
Ela enfatiza que há um limite entre a utopia da saúde perfeita e a vontade dos sujeitos. Em suas palavras: (...) A questão da saúde, na vida, assim como o direito (e o dever?) ou não à vida, à saúde, ao corpo, à felicidade, à satisfação das necessidades dos sujeitos, o direito de ser o que se é, são questões que podem ou não estar perpassando muitas das práticas dos profissionais que atuam na área de saúde e agem em nome da defesa da saúde das pessoas.
O conceito de sujeito e a singularidade Em que o conceito de sujeito em sua singularidade pode auxiliar o profissional de Saúde a entender o conceito de qualidade de vida? 
Parece ser interessante e necessário trazer este conceito para que possamos compreender a necessidade de tomar o indivíduo como sua própria referência.
Ao focalizar o conceito de normal, nos questionamos sobre a externalidade do conceito. 
O conceito de sujeito coloca a pessoa como central no processo de interpretar seu mundo e vivenciar seus sintomas.
Reconhecer a especificidade do que a Psicologia clínica entende como sujeito ajudará o profissional de Saúde a apropriar-se do conceito de saúdee de qualidade de vida não como dogmas, mas como horizontes na construção de estratégias de ação de promoção e manutenção da saúde que concerne à arte de cuidar. Para melhor situar o conceito de qualidade de vida, deve-se entender o caráter subjetivo que está subjacente à enfermidade-doença. 
Nesta perspectiva, entender o caráter histórico e biográfico do sujeito nos auxiliará a entender suas interpretações do que é bem-estar e qualidade de vida.
Para a Psicologia clínica, o psiquismo é fundamentalmente histórico. Não há, propriamente falando, uma natureza imutável no conceito de sujeito.
Origem no sentido A Psicologia clínica concebe um sujeito cuja “origem se define no sintoma como a colocação em palavras de seu sofrimento” ( Delgalarrondo, 2000).
O que está colocado pela Psicologia clínica é, justamente, um sujeito que tem sua origem no sentido. Na perspectiva do sentido, o sujeito é pensado como um ser que interpreta à sua maneira os fatos que vivencia.Os psicólogos jamais apreendem diretamente a subjetividade, mas os atos dos sujeitos que têm uma significação singular, que se expressam muito além da soma de seus sintomas.
 Spink (2003) enfatiza que cabe à Psicologia recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a história de sua sociedade.
Produtor da realidade
Spink mostra que o indivíduo está sempre em estrita relação com o seu meio social, mas que ele é produtor da realidade, e que o sujeito como produto e produtor da realidade social está em contínuo processo de conhecimento (p. 41).
É desta forma, proposta pelo autor, que devemos entender que os atos e os pensamentos de um sujeito não são um comportamento sem significação.
 Se não podemos apreender diretamente a subjetividade, o acesso que temos a ela é através de atos e do sentido que o sujeito constrói constantemente em interação com a cultura.
SÍNTESE DA AULA
Nesta aula, você:
Entendeu como a saúde é uma qualidade essencial ao homem;
Analisou as controvérsias geradas pelo conceito de saúde;
Aprendeu que a saúde mental está incluída no conceito de saúde com o conceito de sujeito produtor de sua história;
Entendeu como aplicar os conceitos no processo de cuidar para criar estratégias na promoção, prevenção, reabilitação e recuperação.
Aula 3: PSICOSSOMÁTICA
Objetivo desta aula:
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
Conhecer o conceito de Psicossomática e sua história;
2- Reconhecer o indivíduo como um ser integral;
3- Analisar as contribuições da Psicanálise e da Psicofísica no entendimento das doenças psicossomáticas.
INTROCUÇÃO
Nesta aula, vamos ver a história do desenvolvimento do conceito de Psicossomática, até o seu conceito atual.
Discutiremos ainda o conceito de Psicossomática, que abrange toda e qualquer doença e a necessidade de uma interdisciplinaridade imposta pela incidência de fatores sociais e psicológicos sobre o corpo.
Bons estudos!
Primórdios da Psicossomática
Sintomas físicos podem ser causados pela mente? 
Qual é a inter-relação entre corpo e mente? 
Como se pode cuidar de um paciente cujo sintoma físico é causado por um conflito psíquico?
Essas questões intrigam os profissionais de saúde, e têm atualmente respostas diferentes, mas acompanham aqueles que se dedicam ao cuidar desde a era Clássica.
Vimos, na primeira aula, como Aristóteles entendia a noção de uma continuidade entre corpo e alma (psyché).
 Vimos também como a noção holística do homem é anunciada por Aristóteles que, de forma inovadora, já antecipava o olhar holístico, que veio a desembocar na Psicossomática dos dias atuais.
A forma de entender a Psicossomática evoluiu ao longo da história deste conceito. 
Mas as referências ao fenômeno de uma causa psíquica para uma enfermidade física vêm desde as concepções da Medicina grega antiga.
 Vamos ver como se deu essa evolução.
Medicina separada da religião
Houve um período da História da Medicina que coincidiu, na Grécia clássica, com a de outras áreas de saber, que não mais buscavam explicar os fenômenos humanos naturais por uma concepção mágica ou mística.
Hipócrates é considerado o pai da Medicina, por tê-la estabelecido como uma disciplina e por tê-la fundado como profissão separada da religião. 
Para ele, a causa das doenças não é uma punição dos deuses, mas um desequilíbrio nos humores corporais, em consequência das disposições naturais do temperamento do indivíduo, das influências do meio ambiente e das ações atuais do paciente.
Contribuições de Hipócrates 
Você vê alguma semelhança com o que já vimos na aula anterior sobre saúde integral proposta pelo conceito de saúde e qualidade de vida da OMS? As postulações de Hipócrates já não mostravam algo do conceito atual de saúde?
 Segundo Mello Filho (2002), a frase de Hipócrates “nada ao acaso, nada a ser visto do alto” (p.14) evidencia a “preocupação com a escuta do paciente, seus hábitos e suas condições de vida”. 
Como médico integral, preocupando-se tanto com as doenças físicas como com as mentais, esse estudioso deixou várias contribuições que nos ajudarão a entender a evolução da história da Psicossomática, e contribui muito para a visão integral do homem.
Alternância psicossomática
Uma das grandes contribuições que Hipócrates nos deixou é hoje descrito como alternância psicossomática, que intriga os médicos ainda hoje. Segundo esse conceito, o surgimento de uma doença física pode aliviar o quadro de um conflito mental.
Clique no foco da dor:
Atualmente, o conceito de alternância psicossomática permite entender o suceder abrupto de uma situação psíquica e somática sucedendo a outra (Mello Filho, 2002).
 Essa alternância explica os casos de remissão de sintomas físicos quando surge um conflito mental e seu desaparecimento quando surge uma doença somática.
Na próxima aula, veremos como geralmente os pacientes que desenvolvem doenças autoimunes, como colite ulcerativa, parecem não ter um conflito psíquico.
Pensadores fundamentais para a Psicossomática
Outros pensadores tiveram papel fundamental na história da Psicossomática
Dilthey (Mello Filho-2002), quando propõe a separação das ciências naturais das humanas, diz que esta se baseia na relação de sentido e significação, e com isto, redimensiona a Psicologia. 
Agora os fenômenos psicológicos podem ser compreendidos, permitindo com isto que o rigor da ciência possa valer também para a Psicologia.
Freud, por sua vez, evidencia que as manifestações dos seres humanos, os sonhos e os atos dos sujeitos têm um sentido.
 Na sua escuta da histeria de conversão, Freud percebeu que não havia nenhum órgão afetado quando apresentavam analgesias, paralisias e cegueira, mas os sintomas no corpo eram traduções simbólicas de lembranças recalcadas, e que as histéricas “sofriam de reminiscências” (Freud, 1893-1895).
Conceitos da Psicossomática 
O que é Psicossomática? Qual a importância deste saber para o profissional de Saúde? O que é somatizar? 
José Melo Filho:
A evolução dos modelos de compreensão do processo saúde-doença passou de uma etiologia linear – componente emocional para a determinação da doença para modelos multicausais e integrais, que consideram que todas as doenças são também determinadas por aspectos psicológicos e sociais que determinam sua evolução (Mello, 2011, p. 535).
 Segundo Mello Filho (2010), a Psicossomática não é só uma ciência interdisciplinar que integra Psicologiae Medicina para o estudo de efeitos de fatores sociais e psicológicos sobre o corpo e o bem-estar dos indivíduos.
É, sobretudo, uma atitude, uma ideologia e uma prática da Medicina integral.
 Vejamos as palavras de Mello sobre a Psicossomática:
 “Psicossomática, em síntese, é uma ideologia sobre a saúde, o adoecer e sobre as práticas de Saúde. É um campo de pesquisas sobre esses fatos e, ao mesmo tempo, uma prática – a prática de uma Medicina integral” (p. 29).
Doença psicossomática
No processo de cuidar do profissional de Saúde, a doença psicossomática deve ser vislumbrada de forma integral em função da pessoa que adoece, pois em sua singularidade, cada um adoece de sua própria maneira.
Assim, o termo psicossomático, que foi inicialmente usado para se referir apenas a algumas doenças cuja relação entre corpo e mente se mostrava muito evidente, passou atualmente a ser usado para “... toda e qualquer doença e tendência atual é unitária” (Mello, 2002, p.21).
O que quer dizer que a doença é sempre vivenciada no registro do sentido e da significação. 
Esta atitude pode e deve também ser adotada pelo profissional de Saúde no processo de cuidar.
Clique aqui e leia mais sobre a psicossomática.
Visão integral do ser humano A Psicossomática não é propriamente uma especialidade médica, mas uma forma de os profissionais de saúde buscarem uma visão do ser humano de forma integral, sem a dicotomia entre corpo e mente. 
O ser humano é analisado inserido em um contexto cultural, relacional, social e familiar. Uma perspectiva que nos lembra a nossa aula 2, que ecoa o conceito de saúde da OMS. 
É nesta perspectiva que o que profissional de saúde encontra, em seu processo de cuidar, antes de tudo uma pessoa que apresenta uma doença, mas que apresenta uma forma singular de vivenciar seu próprio ser e o mundo que a rodeia. 
A enfermidade, neste sentido, “é a expressão de um tropeço existencial, uma disfunção no processo de viver...” (Mello 202 p.21). 
A psicossomática evidencia que os processos biológicos e mentais e físicos são simultâneos e que podem se exteriorizar tanto no registro mental quanto no registro físico” (Mello, 2002, p. 21). Mas, além desta simples relação causal, a Psicossomática é, sobretudo, uma visão integral do ser humano. É a concepção atual de que toda doença humana é psicossomática.
Não é um exagero dizer que toda e qualquer doença é psicossomática? – você deve estar se perguntando. Como podemos entender esta proposição? 
2 Se a incidência da doença é num ser total, constituído por um soma (corpo) e uma subjetividade que são radicalmente inseparáveis, separar corpo de mente é uma forma artificial de considerar o ser que adoece?
Não parece então evidente que sempre há uma influência na mente de quem apresenta uma doença e um adoecer psíquico se apresenta necessariamente correlacionado com processos bioquímicos? 
A orientação atual da pesquisa psicossomática é de uma possível influência da mente tropeço existencial, uma disfunção no processo de viver. (Mello, 2002, p. 21).
O profissional de Saúde na Psicossomática
A complexidade e a integralidade dos sujeitos que têm doenças psicossomáticas acabam por impor um trabalho que pode ser exercido não só pelos médicos, mas por todos os profissionais de Saúde. 
Não devemos esquecer que a concepção psicossomática partiu de uma posição unidirecional psique-soma, inicialmente formulada para outra posição adotada pela Psicossomática atual de tomar os fenômenos relacionados ao adoecer em seu conjunto (Mello, 2002).
Então, qual deve ser o papel do profissional de Saúde neste contexto interdisciplinar? 
Não se espera que ele seja também psicólogo, mas que possa se tornar um observador qualificado, para desenvolver uma nova atitude no processo de cuidar.
Devemos, para isso, levar em conta as relações humanas no cuidar.
É a experiência clínica que pode nos ensinar a ampliar nossos horizontes e apreender as relações dos fenômenos psicossomáticos com as significações do sujeito no contexto atual das relações doença-família e médico-paciente, da qual trataremos na aula 7.
 Por enquanto, visitaremos algumas contribuições que nos ajudarão a entender como foram formuladas algumas das teorias a respeito da possível relação entre o somático e o psíquico.
O que a Teoria Psicanalítica pode nos ensinar sobre a relação mente corpo?
Embora outros psicanalistas tenham trazido enormes contribuições para o entendimento dos fenômenos psicossomáticos, vamos nos limitar neste contexto a ressaltar algumas contribuições de Freud, que nos ajudarão a entender como foi formulada a relação corpo-mente pela Teoria Psicanalítica.
Toda a teorização de Freud surgiu da prática clínica com as histéricas, que apresentavam inexplicáveis sintomas no corpo por uma causa orgânica.
 Outro exemplo que nos foi legado por Freud foi sua postura de escuta da biografia de seus pacientes. 
Criticando a sugestão, Freud afirma que aquele que usa da sugestão peca por "não ceder à palavra ao paciente” (1923).
Diante dessas evidências, Mello (2002) ressalta (p.23) que “... o pensamento de Freud foi eminentemente psicossomático desde o início”.
 Talvez o tema que podemos destacar como relevante para o estudo da Psicossomática, ainda nos dias atuais, é o conceito de pulsão.
Clique aqui e conheça sobre a Força Pulsional.
A pulsão e o corpo erógeno Freud postula que a pulsão é uma força somática que exige ser significada. Ela vem do corpo, mas porque somos também seres psicossociais esta força deve ser e é moldada pela cultura, ela deve ser interpretada nos moldes estabelecidos pela cultura. Então, o corpo, representado por esta exigência que Freud chama de pulsional, liga-se com a mente, como já vimos no registro do sentido e da significação, pela linguagem. A interpretação da exigência pulsional passa pela mediação da linguagem. 
A pulsão constrói um circuito da satisfação mediado pela linguagem, pela ordem simbólica. 
É justamente a linguagem que permite a inscrição da força pulsional no registro da significação, sistema de nomeação e interpretação. Ou seja, em um sistema de sentido. 
É nesse percurso que a força pulsional se inscreve no universo simbólico através dos seus destinos. Um destes destinos é o sujeito do inconsciente.
Mediante a transformação da força pulsional, o corpo biológico passa a ser um corpo erógeno, pulsional, e se constituirá na própria história no sujeito (Mello, 2002, p. 24). 
É o trabalho de transformação e de simbolização da força pulsional que dará um novo ordenamento do corpo em diversas organizações sexuais (anal, oral e fálica).
Sintomas simbolizariam conflitos
Outra contribuição que Freud nos legou foi no campo da significação, ao afirmar que os sintomas têm um sentido que simbolizam um conflito, um desejo inconsciente que não pôde ser traduzido em palavras e que, uma vez traduzidos em palavras, são passíveis de remissão.
Assim, o estudo do psiquismo abandona o campo da representação da consciência, passando a afirmar, através do conceito de inconsciente, que a maior parte de nossa vida mental é regida pelos desejos e conflitos inconscientes, permanentemente influenciando nossas atitudes e ações.
É dessa perspectiva que podemos entender uma doença psicossomática: um discurso sem palavras, um sintoma físico que é a simbolização de um processo de pensamento do qual não temos consciência.
As contribuições da Psicofisiologia
Enquanto os psicanalistas tentavam entender os fenômenos psicossomáticos no registro do sentido e da significação, os psicofisiologistas também deram contribuições que permitiram elucidar os mecanismos de interação psicofísica nos níveis fisiológico e bioquímico, usando a experimentação.
Mello (2002) mostra a importância do trabalho de Cannon, que contribuiu para a Psicofísica com seu clássico trabalho sobre as modificações fisiológicas produzidas pela “secreção adrenalínica de emergência”, subjacentes aos estados de fome, medo, dor e raiva. 
O trabalho pioneiro de Cannon influenciou as descobertas da Psicofísica,que é o estudo das interações entre estados mentais e processos fisiológicos. 
Os psicofisiologistas começaram a buscar relacionar os estados mentais às modificações no corpo.
 Wolf e Wolf (Mello, 2002) constataram a íntima relação que guardava o funcionamento global dos órgãos 
de determinados pacientes com os mais diversos estados emocionais.
Processo de reação do organismo
Selye (Mello, 2002) confirma experimentalmente que qualquer vivente tem tendência a desenvolver de forma uniforme e inespecífica, anatomofisiologicamente aos vários estresses aos quais se vê submetido.
 Esse autor denomina o processo de reação do organismo, buscando respostas adaptativas de síndrome-adaptação, distinguindo três fases: Alarme, Contrachoque e Defesa
Alarme, também denominado choque, iniciado por uma descarga adrenérgica: taquicardia, diminuição do tônus muscular e temperatura, hipercalcemia, entre outras;
Segue-se a esta fase o contrachoque, quando as reações humorais e neurovegetativas são modificadas por uma hiperatividade do córtex suprarrenal.
Se o agente estressante continuar com sua atuação, o organismo entra em uma fase de defesa, onde há uma permanente hiperatividade corticossuprarrenal, e uma fase de esgotamento, consequência da falha dos mecanismos adaptativos a estímulos permanentes e excessivos.
**As “doenças de adaptação” são as que Selye denomina de resultantes do uso excessivo dos mecanismos de defesa. 
A úlcera péptica, certas formas de artrite, hipertensão arterial e lesões miocardiais são algumas destas resultantes.
 Com a Psicanálise, vimos como o sofrimento de uma vivência pode ser expressada simbolicamente no corpo, e como a Psicofísica entende alguns mecanismos que interrelacionam corpo e mente.
A Psicossomática hoje
Clique no médico:
É importante ressaltar que perceber o que não é falado diretamente, e que aparece no corpo, não é tarefa fácil. 
Dar a palavra ao sujeito, na prática do dia a dia, não é fácil.
 Esperamos que este percurso pela Psicossomática dê a você um modelo de assistência integral, com a possibilidade de desenvolver uma ideologia que o ajude na elaboração de um novo modelo no processo de cuidar.
No exercício a seguir, você vai encontrar nos itens de resposta uma série de definições sobre psicossomática, assunto que vimos nesta aula.
Quer fazer um teste para ver se você é capaz de perceber quais são as definições certas para cada conceito?
Nesta aula, você:
Entendeu o conceito de Psicossomática;
Aprendeu a evolução do conceito de Psicossomática, desde a época Clássica até a conceituação atual;
Conheceu algumas contribuições para o desenvolvimento da visão integral do ser humano.
  AULA 4 - O SUJEITO PSICOSSOMÁTICO
Objetivo desta aula:
Ao final dessa aula, você será capaz de:
Reconhecer o conceito de sujeito como um ser integral;
Entender o sujeito e seus determinantes: a disposição somática do sujeito e sua história;
- Analisar os possíveis mecanismos que explicariam as interações da mente com o corpo.
Fonte: No vídeo indicado a cena do filme Tropa de Elite, onde o personagem de Wagner Moura sofre com sintomas psicossomáticos.
Introdução
Nesta aula, abordaremos a visão da Psicossomática moderna, que se afasta da visão da dicotomia entre corpo e mente para retornar ao ser humano em sua totalidade.
Discutiremos o conceito de estruturação do sujeito psicossomático e as possíveis causas e mecanismos que buscam explicar a interação entre o somático e as histórias de vida desse sujeito.
Bons estudos!
Caso M
O caso ao lado nos dá a possibilidade de refletir sobre a relação entre mente e corpo e buscar entender como esta interação está mediada pela história de vida do sujeito.
M., casada, com três filhos, apresenta um quadro de lúpus, já com indícios de neuropatia.
Essa paciente é muito tensa e insegura com a doença, com a vida e com o marido, principalmente por ser este um homem branco, e ela, uma pessoa “de cor”... Sua mãe era “preta, feia e pobre”, e viveu amasiada com seu pai, “branco, rico e alemão”...
Em uma quarta gestação, resolveu fazer um aborto. Consumado este, começou a se sentir deprimida, “sentindo frio no corpo todo”. 
Essa depressão continuou com o início do quadro lúpico, que a substituiu (Mello, 2002, p. 115).
M. constrói sua visão de mundo a partir de sua história, mas essa história vem também inscrita em seu corpo.
 Nosso corpo é capturado em um mundo simbólico, criado por nós como sujeitos, assim como nossas vivências e nosso ambiente.
 Nessa perspectiva, o somático se organiza simbolicamente no corpo, que passa a ser também a sede das significações não expressas em palavras pelo sujeito.
 Na aula passada, mostramos alguns modelos explicativos desde fenômeno, relação do somático com o psíquico, às vezes difícil de entender.
O somático e o psíquico
Mello (2002) mostra a importância de algumas teorias explicativas para o fenômeno psicossomático. Vamos retomar algumas conceituações da aula passada, para buscar entender como alguns teóricos têm pensado o sujeito e sua relação com o corpo.
 Começaremos pelo modelo proposto por Freud para entender os fenômenos conversivos na histeria. Na aula passada, mencionamos que o corpo de que se trata para o sujeito não é um corpo biológico.
Agora partiremos do conceito proposto por Freud de uma erotização do corpo. 
Esta deve ser entendida como uma desnaturalização do corpo, isto é, o corpo biológico passa a ter também uma dimensão simbólica.
Clique aqui e conheça mais sobre o pensamento psicossomático de Freud.
Pensamento psicossomático de Freud
Muitos teóricos contribuíram para o entendimento de mecanismos que pudessem explicar a relação entre aspectos mentais e físicos. Mello (2002) atribui a Freud um pensamento eminentemente psicossomático. 
Foi a partir da prática clínica que Freud construiu os conceitos de pulsão e inconsciente, que enlaçam corpo e mente. Suas formulações sobre como o corpo interage com a mente foram baseadas “(...) em um incalculável número de observações e experiências (...)” (Freud, 1923, p. 139). 
Assim, a partir de sua escuta clínica e diante do fenômeno da histeria de conversão, que intrigava os médicos da época, Freud propôs um modelo para o entendimento da relação entre corpo e mente. 
Vamos buscar explicar esta relação a partir de um exemplo bem simples de entender. Inicialmente, no nascimento, o bebê é um corpo que depende dos cuidados de outra pessoa.
No princípio da vida, a mãe que cuida do bebê passa a interpretar suas necessidades, dando-lhes um sentido, através dos cuidados dispensados. Assim, o corpo biológico vai sendo introduzido na dimensão do sentido. É por isto que os choros dos nossos bebês não são apenas gritos. Eles já têm um significado: “está molhado”, “está com fome”, “está com sono”. Assim, este “outro”, que é a mãe, vai introduzindo sentidos e significados à vida desse serzinho
Aqui poderíamos dizer que estamos no registro do biopsíquico. Isto quer dizer que nós seres humanos saímos, desde nossos primeiros dias de vida, do biológico, e entramos no registro da história e da biografia. Escrevemos parte de nossa história de vida também no nosso corpo.
Nesta perspectiva é que podemos agora entender como nosso corpo é representado em nossa subjetividade e passa a poder também simbolizar. 
Melhor dizendo, passa a somatizar, ou seja, expressar um conflito ou sofrimento mental no somático (corpo).
Podemos aqui evocar novamente o caso de M. já citado: a culpa de ter feito um aborto, uma possível causa de uma depressão, se expressa em seu corpo de forma radical, com o lúpus.
Estruturação biopsicossocial do sujeito
Abram Eksterman explicita muito apropriadamente esta estruturação biopsicossocial do sujeito humano, e revela como o corpo é representado na nossa mente:
corpo terá assim de se adaptar àquele mundo particular, criado pelo próprio indivíduo e pela sua cultura, que passa a ser sua única realidade.
 Assim, pois, não existe ambiente natural para o homem, porque, para ele, a natureza foi convertida em “mundohumano” por seus próprios processos mentais (Mello, 2011, p. 95).
A história do sujeito e suas interações com o meio cultural criam como que um “envelope”, que define um espaço psíquico interno. A partir desse espaço psíquico, o indivíduo passa a entender o mundo que o circunda e reagir a ele de forma singular.
As doenças psicossomáticas são a forma radical de se expressar com o corpo.
 Em sua prática, os profissionais de saúde são desafiados a tratar desses pacientes, que podem ser denominados “somatizadores” (Mello, 2011).
 É justamente para auxiliar no cuidado dessas pessoas que o profissional de saúde precisa entender esse sujeito psicossomático.
A estruturação do sujeito e seus mecanismos de defesa
Como surge a incidência de um sofrimento mental no corpo? Quem é esse sujeito que simboliza seus conflitos mentais com uma inscrição no corpo? Quem é esse sujeito que somatiza? Por que M. desenvolve lúpus quando fica deprimida?
Os sentimentos de medo, desamparo, vergonha e culpa são significados profundamente simbólicos, que podem levar um sujeito a adoecer.
Vimos, no caso de M, como sua situação de vida, sua biografia, seus conflitos com sua cor e com sua mãe, a quem ela culpava por ter lhe deixado de herança a cor, a feiura e a pobreza foram o pano de fundo para a depressão e seu substituto: a doença somática, que veio a se instalar depois de um aborto, evento estressor desencadeante.
É desse sujeito, com sua história, que vive sua culpa, seu desamparo, seus conflitos no corpo que precisamos tratar no cotidiano de nossa prática de cuidar.
ATENÇÃO
Como já pontuamos, são muitos os fatores de desencadeamento das doenças psicossomáticas. 
Enfatizamos que estes fatores estão relacionados com a forma como o sujeito se relaciona com o mundo externo (social) e com seu mundo interno (biopsiquíco).
Hipóteses para as manifestações somáticas
É no sentido de apreender a lógica de funcionamento desta interação corpo e mente que vamos apresentar algumas hipóteses.
 Essas hipóteses têm ajudado as equipes interdisciplinares a entender alguns possíveis mecanismos psíquicos que podem influenciar o desencadeamento e a manutenção de algumas manifestações somáticas de causas orgânicas totalmente desconhecidas.
Modelo do método catártico
O modelo do método catártico nos ajudará a entender essa interrelação, mente e corpo. 
O sintoma conversivo surge no momento em que o sujeito não pode colocar em palavras os afetos que, sem expressão na fala, retornam no corpo.
Com o conceito de inconsciente, todo comportamento humano não é mais da ordem de uma biologia, mas sim da ordem do sentido.
É justamente por esse motivo que o fenômeno da doença não deve ser compreendido como um fenômeno isolado, mas como um elo nas vivências do sujeito.
A hipótese de que somos determinados por nossos pensamentos inconscientes demonstra que os sintomas tomas seu sentido a partir de desejos e significados.
Estes, por sua vez, são traduções em palavras do que é somático, assim substituindo por símbolos o que seriam nossas necessidades mais básicas.
Pulsões
Freud denomina as necessidades básicas de pulsões. São pulsões, e não instintos, pois todo e qualquer ser humano é um ser biopsicossocial desde o seu nascimento: somos multiplamente determinados pela nossa biologia, nossa cultura e nossa família.
É neste sentido que devemos tomar a linguagem como o que faz o enlace do corpo com a mente: falamos e vivenciamos nosso sintoma.
Assim, os afetos inconscientes que não encontram um sentido na fala inscrevem-se no corpo. 
Este mecanismo é bem exemplar no caso de M. A nefrite lúpica aponta para um substrato inconsciente de sua relação primordial com sua mãe (Mello, 2004).
 Este deslocamento é simbólico: o lúpus simboliza um conflito.
 
Bilogia
 Família Cultura 
Para lidar com as exigências da vida, e ao mesmo tempo satisfazer se8s desejos inconscientes, o sujeito precisa dar conta destes afetos.
Assim, cria mecanismos de defesa, para evitar um sofrimento insuportável e procurar uma adaptação possível.
Estes mecanismos servem para evitar conflitos ou para mantê-los em um grau mínimo, para evitar gerar ansiedade.
Assim é que todos nós criamos uma estratégia de lidar com as exigências da vida: algumas delas incidem no corpo, como no caso de M.
Estratégias disfuncionais
São, entretanto, defesas inconscientes, dos quais o sujeito não tem conhecimento. Os sintomas psicossomáticos são estratégias disfuncionais, desenvolvidas pelos sujeitos no seu vivenciar. Nesta perspectiva, a cura do sintoma passaria pela fala.
Quando o sujeito coloca em palavras seu sintoma, há uma remissão, e o sintoma pode ser modulado. 
Por isso, o profissional de saúde tem um compromisso também com o vivenciar daquele de quem cuida.
 Desta forma, a escolha do órgão onde a doença se instala também teria uma significação afetiva.  M., por exemplo, reclamava que o lúpus a deixava “feia”, palavra que vinha na sua fala com a cor e a pobreza da mãe.
Personalidade superindependente
Franz Alexander (Mello, 2004), que fez importantes estudos e entrevistas com portadores de distúrbios funcionais digestivos, mostrou que o simbolismo é universal no comportamento humano.
Mostrou ainda que há um sentimento universal de dependência em todo ser humano, o que ele definiu como fundamental e que gera um conflito na vida adulta, vivido entre abandonar a dependência e ser independente.
Este conflito, desencadeado por uma situação externa, é típico da personalidade que ele denomina “superindependente”, e que são, segundo Alexander, os sujeitos que desenvolvem processos ulcerosos.
Vimos alguns fatores individuais que constituem a dimensão propriamente subjetiva desse sujeito que chamamos de psicossomático. 
Sabemos, entretanto, que esse sujeito é um sujeito total, e que é também determinado socialmente, e que a explicação de seus possíveis determinantes é sempre multifatorial.
 Agora passaremos a examinar os determinantes sociais: nossa herança cultural e nossa herança familiar.
Os determinantes sociais
Já enfatizamos os aspectos individuais do sujeito, mas estes aspectos não são suficientes para uma explicação multidimensional da saúde. No processo de cuidar, estamos também lidando com determinantes culturais, familiares e sociais.
 Assim, os pacientes podem apresentar ao profissional de saúde sua forma singular de lidar com sua doença, mas também a cultura na qual vive e o discurso de sua família moldam a apresentação de seu sofrimento para o profissional de saúde (Mello, 2011, p. 536).
Por que as pessoas apresentam queixas físicas no contexto da saúde, quando seu sofrimento é subjetivo? 
A herança familiar é só genética? Herdamos os símbolos e significados de nossos pais? 
As normas sociais interferem nos nossos sintomas?
 Estas perguntas têm intrigado os psicólogos há muito tempo.
A dimensão integral do sujeito psicossomático
O sujeito psicossomático deve ser entendido na sua dimensão biopsicossocial.
 Embora seus sintomas se expressem no corpo, há uma multiplicidade de fatores etiológicos, como:
1.As disposições somáticas, que permitem a tomada de partes do corpo para simbolizar um sofrimento mental;
2.As disposições somáticas, que permitem a tomada de partes do corpo para simbolizar um sofrimento mental;
3.Fatores familiares, que nos oferecem padrões, estratégias para aliviá-lo da pressão ou para obter atenção.
Finalmente, o que tem a fazer o profissional de saúde? 
Não parece ser somente um trabalho sobre o corpo no processo de cuidar. 
Por isso, é de utilidade para esse profissional desenvolver uma forma de cuidar em uma experiência integrada. 
Um cuidado desenvolvido no sentido de criar formas de cuidado para ajudar seu paciente a modular e compreender os fatores emocionais e afetivos que são vividos no corpo.
Atividade porposta:
Leia novamente o caso de estudo em nossa aula e explique por que M. desenvolve lúpus quando fica deprimida?
R: Vimos,no caso de M, como sua situação de vida, sua biografia, seus conflitos com sua cor e com sua mãe, a quem ela culpava por ter lhe deixado de herança a cor, a feiura e a pobreza foram o pano de fundo para a depressão e seu substituto: a doença somática, que veio a se instalar depois de um aborto, evento estressor desencadeante.
É desse sujeito, com sua história, que vive sua culpa, seu desamparo, seus conflitos no corpo que precisamos tratar no cotidiano de nossa prática de cuidar
Aula 5 ESTESSE E SUA IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
Objetivo da aula
 Ao final dessa aula, você será capaz de:
Reconhecer o conceito de estresse e suas implicações;
2- Entender como o estresse pode afetar a saúde;
3- Discriminar suas faces positiva e negativa;
4- Analisar a relação entre estresse e história do sujeito;
5- Entender os mecanismos do estresse e buscar lidar com as situações estressantes no processo de cuidar.
Fonte: Jornal hoje
Introdução
Nesta aula, vamos analisar as fases do estresse, para entendermos como os fatores estressantes influenciam nosso organismo e como nossa história de vida nos predispõe a lidar com eles de maneira singular.
Nas situações específicas do profissional de saúde, é possível aprender a lidar com o estresse reestruturando nossos pensamentos e nos dirigindo às fontes externas que causam o estresse para a resolução do problema.
Bons estudos!
Estresse e suas implicações na saúde
Vamos começar esta aula com um estudo de caso:
Depois de deixar seu filho na escola... 
Miriam corre para pegar a condução que a levará ao trabalho, mas o ônibus não pára.
A espera pelo outro ônibus é de mais 40 minutos.
A chegada ao hospital acontece mais tarde que o começo de seu plantão. Seu supervisor chama sua atenção.
Atrasada de novo, Miriam?
Ela mal acaba de chegar e já tem que atender uma emergência na UTI.
Os familiares do Sr. R. estavam ansiosos por sua chegada, querendo saber sobre o estado de seu pai, pois o Sr. R. é um paciente crítico, que requer atenção constante e demanda seus cuidados imediatos.
As atividades de um profissional de saúde são consideradas muito estressantes devido a vários fatores: o relacionamento com outras unidades e supervisores, com o funcionamento adequado da unidade, com atividades relacionadas à administração de pessoal, com a assistência prestada ao paciente, e finalmente, com as condições de trabalho para o desempenho das atividades. (Rev. esc. infere. USP v.34 n.4 São Paulo dez. 2000).
Todas essas demandas geram estresse.
 Afinal, o que é o estresse? 
Por que o estresse tornado crônico diminui a qualidade de vida das pessoas? 
Como cada pessoa reage às situações estressantes que encontram na sua vida cotidiana? 
Como lidar com o estresse para manter e melhorar a qualidade e vida?
 É o que veremos nesta aula.
Conceito de estresse
Segundo Myers:
O estresse é um conceito não muito bem definido, que descreve ameaças ou desafios que as pessoas costumam enfrentar no seu dia a dia e sua reação aos fatores estressantes.
ATENÇÃO
Podemos, então, entender o estresse não como uma simples resposta a um estímulo, mas como um processo: os fatores estressantes são os acontecimentos imprevistos aos quais reagimos física e emocionalmente por um lado e, sobretudo, a forma como lidamos com os fatores estressantes, por outro. 
Os psicólogos definem o estresse como o “processo pelo qual avaliamos e lidamos com as ameaças e desafios do ambiente” (Myers, 2006, p. 363).
Fatores estressantes
O que a Psicologia da Saúde evidencia é que a importância maior ou menor dos fatores estressantes depende da forma como nós os avaliamos, colocando a avaliação do sujeito como o fator essencial no desencadeamento do estresse.
 Logo, não há fatores estressantes, independentemente de como os avaliamos. A avaliação que fazemos dos estressores é também função de nossa história. Vamos retomar este ponto mais adiante.
Neste sentido, há muitos fatores estressantes, em nova vida moderna, que podem ser percebidos como um desafio a superar, uma meta a alcançar. 
Neste caso, os efeitos do estresse são positivos: eles são motivadores e fazem com enfrentemos e superemos nossos problemas.
O processo do estresse
 O médico Hans Selye (1936-1976, in: Myers, p. 363) ajudou a tornar o estresse um conceito importante tanto na Medicina como na Psicologia.
Suas pesquisas levaram à descoberta de que a reação adaptativa do corpo era geral, uma vez que qualquer trauma, físico ou mental, independentemente de sua característica, desencadeia uma reação ao estresse, que incide no corpo de maneira generalizada. 
A essa reação adaptativa geral do corpo ao estresse, Selye deu o nome de Síndrome de Adaptação Geral (SAG).
Fases do estresse
Vamos acompanhar a descrição que Selye faz das três fases que se seguem a um evento traumático: diante de um trauma físico ou emocional, reagimos através de uma súbita ativação do sistema nervoso simpático.
Reação de alarme
Assim, o coração dispara, o sangue é enviado para os músculos esqueléticos e todos os nossos recursos estão mobilizados. 
Esta é a fase de reação de alarme.
Reação de resistência
Nosso organismo entra na fase de resistência, quando estamos prontos para combater o desafio: temperatura, pressão e respiração permanecem em níveis elevados, e os hormônios fluem subitamente em nossa corrente sanguínea.
 Esta é uma fase importante, que pode nos colocar em alerta. Por exemplo: para fugirmos de um perigo iminente.
Reação de exaustão
Porém, se ela for persistente, pode acabar esgotando as resistências do corpo e levar à terceira fase: a da exaustão.
 Nesta fase, nós nos tornamos mais vulneráveis às doenças, e corremos risco de vida nos casos mais extremos.
Face positiva e negativa do estresse
Se a face positiva do estresse é um conjunto de reações físicas que leva à adaptação, a inadaptação é uma resposta inadequada e excessiva e constitui as doenças que são denominadas doenças de adaptação.
 Se formos submetidos a um estresse excessivo, nos tornamos vulneráveis aos sintomas e doenças físicas. Guilherme está tão ocupado no escritório que não tem tempo nem para um café. 
Ele poderia estar irritado diante desse evento estressante, mas avaliou a situação de forma positiva.
Não percebe a hora passar e quando se dá conta já está na hora de ir para casa.
O que Selye descobriu é que a maneira com que nos sentimos estressados depende grandemente da forma com que avaliamos os eventos com os quais nos defrontamos. 
As características de nossa subjetividade, o somatório de nossas experiências passadas é nossa forma singular de respondermos as situações estressantes.
Campos (in: Mello, 2011), em um levantamento de trabalhos de pesquisa que apontam para possíveis relações entre estresse e doença, demonstra que parece haver uma evidência de que as pessoas submetidas a uma carga excessiva de fatores estressantes acabam apresentando sintomas físicos.
Situações estressantes x situações percebidas como estressantes
Para diferenciar os fatores intrínsecos e extrínsecos que estão em jogo na relação entre estresse e doença, Campos propõe a distinção entre situações estressantes e situações percebidas como estressantes (Mello, 2011, p.322).
 Esta diferenciação nos ajudará a entender os fatores psicológicos que podem levar as pessoas a perceber os eventos positiva ou negativamente.
É neste sentido que as estratégias de enfrentamento das situações percebidas como estressantes podem ser “moderadas ou hipertrofiadas”, em função da história de vida da pessoa, e se constituir numa forma de adaptação e desafio ou em forma de ameaça e falta de controle e vulnerabilidade.
ATENÇÃo
É neste sentido que as estratégias de enfrentamento das situações percebidas como estressantes podem ser “moderadas ou hipertrofiadas”, em função da história de vida da pessoa, e se constituir numa forma de adaptação e desafio ou em forma de ameaça e falta de controle e vulnerabilidade.
O que fica evidente nesta afirmação é que o somatório das situações estressantes pode ter efeitosdiferentes em indivíduos diferentes. 
O fator estressante não vem sozinho; é preciso um sujeito que o interprete como positivo ou negativo.
 Por exemplo: de sua forma singular, Miriam pode considerar um desafio dar conta de todas as demandas que lhe são impostas na sua profissão, ou pode avaliar que não conseguirá lidar com tantas demandas ao mesmo tempo.
As condições de estresse
Afinal, por que nos estressamos? Em quais condições nos estressamos? Quais situações nos levam a perceber os eventos de nossas vidas como estressantes ou como desafios?
 Há várias razões para nos sentirmos estressados. Os pesquisadores apontam para três tipos de estresse que se apresentam e contra os quais concentramos nossas reações:
Primeira situação
A primeira situação que provoca estresse se apresenta em forma de catástrofes naturais.
Diante dos desastres naturais, das catástrofes de grande magnitude, nós todos nos sentimos ameaçados. 
Verificou-se que as pessoas que são vítimas destes desastres sofrem influências significativas em sua saúde.
Avaliação de um evento como estressante
Então, o que faz com que um evento seja realmente estressante?
Um evento se torna mais ou menos estressante quando temos a crença de que podemos controlá-lo. 
Isto porque a percepção de situações como mais ou menos estressantes vem do nosso sentimento de controle percebido.
Esse controle é muito importante na avaliação que fazemos das mudanças de vida e das demandas do cotidiano.
Todos os eventos inevitáveis de nossas vidas se tornam muito mais estressantes quando avaliados como negativos e incontroláveis. 
A percepção de que não temos controle sobre a situação que vivenciamos pode nos tornar mais vulneráveis às doenças.
O profissional de saúde e o estresse
Se na sociedade moderna precisamos trabalhar, lidar com as relações interpessoais, com a hierarquia e com as doenças, como o profissional de saúde pode desenvolver estratégias para lidar tanto com os fatores estressores do meio ambiente quanto com suas percepções sobre as situações do cotidiano em sua prática de cuidar ?
Interação da natureza: Na interação da natureza e intensidade do agente estressante;
Interação interna: Na avaliação interna do indivíduo que “quantifique e qualifique o agente estressor e de uma decisão interna do indivíduo quanto ao modo de enfrentar o problema”.
Conceitos opostos à vulnerabilidade
Vimos que as pessoas se sentem mais vulneráveis quando percebem que não têm controle da situação.
 No polo oposto deste conceito de vulnerabilidade, temos dois conceitos que determinam a capacidade de uma pessoa para agir positivamente nos “desdobramentos emocionais e comportamentais de seu sofrimento” (Mello, 2011, p. 481).
 Esses conceitos são muito importantes quando buscamos formas de lidar com o estresse. São eles:
Resiliência
A resiliência é a capacidade de uma pessoa de adaptar-se a eventos negativos sem que sofra maiores danos e o conceito.
 Ela nos ajuda a determinar o potencial de cada pessoa de agir positivamente no enfrentamento das situações, emoções e nas ações que decorrem da forma como enfrentamos os acontecimentos “adversos e indesejáveis”;
Coping
O coping (lidar com) nos ajuda a lidar com as situações estressantes de forma positiva, aumentando nossa qualidade de vida.
Como lidar com o estresse: 
estratégias Enfocaremos agora este conceito importante que explicita as formas de lidar e que pode ajudar você a criar estratégias para lidar com o estresse. Coping é uma palavra do inglês, que significa “lidar com”.
 A literatura, entretanto, continua usando o termo em inglês. Vejamos como podemos entender e utilizar este conceito na invenção de novas formas de lidar com o estresse. 
É essencial a compreensão dos estilos e das estratégias de coping, para podermos distinguir o que está relacionado às nossas características e o que se refere às estratégias que podemos inventar para lidar com o estresse a que estamos submetidos. 
Os autores mostram que, no que se refere ao estilo do coping, o que está em jogo são as características relacionadas à personalidade. 
Entretanto, as estratégias de coping se referem às ações cognitivas ou de comportamento que cada sujeito escolhe quando enfrenta um evento particular de estresse. 
Para ajudar o entendimento de como podemos lidar com o estresse, é importante ressaltar que há vários estilos de coping. E estes estilos se relacionam com dois modelos de personalidade:  As que têm uma atitude ativa de buscar equacionar aproximar-se do problema;  O modelo de personalidade de evitação. 
Esta diferenciação pode ajudar você compreender como reage frente a situações estressantes. 2 Voltando ao caso de Miriam, do começo desta aula... 
O conhecimento que pode se desenvolver de sua história de reações frente aos eventos estressantes pode ajudá-la a encontrar estratégias novas para lidar com situações presentes de forma inventiva.
Estratégias do coping 
Como já mencionamos, as estratégias do coping diferem do estilo. Da mesma forma, é importante lembrar que estas estratégias referem-se a ações, comportamentos e pensamentos que podemos usar para lidar com um evento estressante. 
Segundo Folkmam e Lazarus (1980-citado por Antoniazzi, Del Aglio e Bandera), as estratégias se modificam a partir de sua função. No processo de coping, podemos nos concentrar mais na emoção. 
Este processo pode ser definido como “um esforço para regular o estado emocional que é associado ao estresse... são dirigidos ao nível somático ou em nível de sentimentos tendo por objetivo alterar estado emocional do indivíduo” (p.284). 
Esta estratégia promove uma redução da sensação física sentida como desagradável.
Dirigindo o foco para o problema
A outra estratégia de lidar com os fatores estressantes é dirigida não para uma modificação interna nos nossos sentimentos e pensamentos, mas por dirigir o foco para o problema.
Diferentemente da estratégia de coping, focada na regulação interna para evitar uma situação desagradável, a estratégia de focalizar no problema leva a pessoa a dirigir-se à fonte externa que está provocando o estresse.
No caso de Miriam, por exemplo, uma atitude focada no problema seria de atuar, no caso da cobrança de seu supervisor, buscando estratégias de negociação para resolver um possível conflito interpessoal.
Miriam estaria usando a estratégia focalizada na emoção e nos seus sentimentos, podendo sair para tomar um café, por exemplo.
ATENÇÃO
Para finalizar, é importante entender a relação que o coping tem com a história de vida da pessoa. 
Todos nós temos uma história de aprendizado de como reagimos aos fatores estressores, mas podemos desenvolver estratégias novas para lidarmos com as situações de vida estressantes, sem nos tornarmos vulneráveis.
Comportamento flexível e proposital
O conceito de coping nos ajuda a utilizar tanto estratégias para lidarmos com nossos sentimentos e emoções como para tentarmos modificar nosso meio ambiente, focando no problema; buscando negociar, por exemplo. O processo de coping não é a repetição de respostas estereotipadas, mas um comportamento flexível e proposital, visando a um movimento inventivo, voltado para o futuro.
Para colocarmos estes conceitos em uma situação prática, retornemos à nossa personagem, Miriam:
Embora sua história molde sua personalidade e sua forma de lidar com os fatores estressantes, ela pode a cada momento redefinir o fator estressante atual e reinventar, a cada nova demanda, uma forma adaptativa às imposições de seu meio ambiente.
O estresse pode ser inevitável na nossa vida moderna, mas podemos inventar estratégias inventivas para lidar com situações estressantes do nosso cotidiano no nosso processo de cuidar.
O objetivo do coping harmoniza com os objetivos da Psicologia da Saúde, que visa dar uma contribuição não só para “promover o tratamento da doença, mas também a doção de estratégias que ajudem a prevenir a doença e aumentar o bem-estar” (Myers, 2006, p. 372).
Atividade Proposta
A partir das questões levantadas nos vídeos,

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